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Análise dos Artigos 146 a 149-A do Código Penal

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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
ANÁLISE TIPOLÓGICA 
ARTIGO 146 A 149-A DO CÓDIGO PENAL
Joyce Soares da Cruz
Luiz Ricardo Gonçalves Nunes
Rebeca da Silva Medeiros
Thaísa Rosa Ferreira
Yasmim Gonçalves Silva
Professor: Laerte Mazargão
SÃO PAULO, SETEMBRO
2018
SUMÁRIO
Artigo 146 do Código Penal............................................................................03
Artigo 147 do Código Penal............................................................................08
Artigo 148 do Código Penal............................................................................11
Artigo 149 do Código Penal............................................................................15
Artigo 149-A do Código Penal…….………………………………..…………….19
Bibliografia…………………………..………………………………………………23
Artigo 146 Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Sujeito ativo
Pode ser praticado por qualquer pessoa. Entretanto, se o agente for funcionário público no exercício de suas funções, ocorrerá outro tipo penal: art. 3º da Lei de Abuso de Autoridade ou arts. 322 ou 350 do CP.
Sujeito passivo
Pode ser qualquer pessoa que tenha capacidade de determinação. As crianças de pouca idade e os doentes mentais não têm vontade própria e, por isso, não podem ser sujeito passivo do presente crime
	
Objeto jurídico
A liberdade de pensamento, de escolha, de vontade e de ação.
 Objeto Material
A Pessoa que é forçada a fazer ou deixar de fazer algo por violência ou grave ameaça
Tipo objetivo
A conduta tem seu núcleo no verbo constranger, que significa coagir, compelir, forçar, obrigar alguém a fazer ou deixar de fazer algo que por lei não está obrigado. Há primeiramente a ação de constranger realizada pelo coator, a qual é seguida pela realização ou abstenção de um ato por parte do coagido. A ação de constranger deve ser ilegítima, ou seja, o coator não deve ter o direito de exigir da vítima a realização ou abstenção de determinado comportamento.
Para a tipificação do crime de constrangimento ilegal, é, ainda, necessário que o agente force a vítima a realizar ou deixar de realizar a conduta pelo emprego de violência, grave ameaça ou qualquer outro meio que lhe reduza a capacidade de resistência.
	
Elemento subjetivo do crime
O dolo, que, nesse crime, significa a vontade de empregar a violência ou grave ameaça e a consciência de que a ação ou omissão pretendidas são ilegítimas.
Não basta, entretanto, o dolo consistente na vontade de coagir para que o crime em análise se configure, pois é necessário um fim especial de agir, que se consubstancia na vontade de obter a ação ou omissão indevida, ou seja, que a vítima faça o que a lei não determina ou não faça o que ela manda. Ausente essa finalidade especial, o crime poderá ser outro, conforme for empregada ameaça ou violência física (crimes de ameaça, vias de fato, lesões corporais).
Não há previsão legal da modalidade culposa do crime de constrangimento ilegal.
Classificação doutrinária
Simples quanto à objetividade jurídica, comum quanto ao sujeito ativo, de ação livre e comissivo quanto aos meios de execução, material e instantâneo quanto ao momento consumativo e Doloso quanto ao elemento subjetivo 
Tentativa
É possível quando o agente emprega a violência, grave ameaça ou a violência imprópria e não obtém, por circunstâncias alheias à sua vontade, a ação ou omissão da vítima.
Consumação
A consumação só ocorre quando a vítima, coagida, faz o que o agente mandou que ela fizesse, ou deixa de fazer o que ele ordenou que não fizesse. Trata-se de crime diferenciado, na medida em que a consumação do crime se dá no momento da ação ou omissão da vítima. Não se trata, portanto, de crime de mera atividade, ou seja, não basta o simples ato de constranger outrem mediante o emprego de violência ou grave ameaça. O tipo penal exige que a ação ou omissão desejada pelo agente seja realizada pela vítima. Nada impede, contudo, que essa realização se dê apenas de forma parcial 
Causas de aumento de pena
Concurso de agentes: Exige-se que pelo menos quatro pessoas tenham se reunido e tomado parte em atos de execução do delito. A lei, portanto, pressupõe a existência de, ao menos, quatro co-autores, pois apenas estes realizam ato executório. Ademais, o texto legal exige que se reúnam para a realização desse tipo de ato. Dessa forma, se apenas duas pessoas realizarem atos executórios, contando com a colaboração de dois partícipes, que incentivam a prática do delito, haverá crime de constrangimento legal simples.
Emprego de armas: Como o texto legal não estabeleceu qualquer ressalva, o aumento deverá ser aplicado, quer se trate de armas próprias, quer de armas impróprias. As primeiras são aquelas fabricadas para servir mesmo como meio de ataque ou de defesa — armas de fogo, punhais, espadas etc. Já as armas impróprias são objetos feitos com outra finalidade qualquer, mas que também possuem poder vulnerante (de matar ou ferir), e, por isso, também provocam maior temor à vítima — facas de cozinha, navalhas, foices, tesouras etc.
Autonomia do crime de lesões corporais
Caso a violência empregada para a prática do constrangimento ilegal provoque lesões corporais, ainda que leves na vítima, o agente responderá pelos dois crimes.
Excludentes de tipicidade
Intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida e Coação exercida para impedir suicídio. 
Ambas as hipóteses estão acobertadas pela excludente do estado de necessidade de terceiro.
Ação Penal
Pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal. Mesmo nas figuras qualificadas, em que a pena máxima não supera dois anos.
AMEAÇA DE DIVULGAÇÃO DE IMAGENS ERÓTICAS – CRIME DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL
Prática constrangimento ilegal o sujeito que, na relação de afeto, obriga sua parceira a lhe encaminhar fotos e vídeos íntimos sob a ameaça de divulgar publicamente as imagens anteriormente recebidas.
Condenado em Primeira Instância pela prática do crime previsto no art. 146, caput, do Código Penal (constrangimento ilegal) c/c os arts. 5º, II, e 7º, II, III e V, da Lei Maria da Penha, o réu interpôs apelação para requerer sua absolvição ou, subsidiariamente, a redução da pena ao mínimo legal. Sustentou a inexistência de dolo em sua conduta, uma vez que as conversas mantidas pelo aplicativo Whatsapp eram consentidas e até incentivadas pela vítima. Para a Relatora, entretanto, o dolo do apelante em constranger a vítima é inequívoco. Destacou que o próprio réu confirmou em Juízo ter ameaçado enviar fotos da vítima para amigos e familiares dela, caso não recebesse novas imagens. A Desembargadora esclareceu que, com tal conduta, o réu constrangeu sua parceira a fazer algo não determinado pelo ordenamento jurídico, caracterizando, assim, o tipo penal previsto no art. 146, caput, do CP. Desta feita, por entender que o consentimento da vítima em manter as conversas e até mesmo em encontrar o apelante não tem o condão de afastar a consumação do constrangimento, a Turma confirmou a sentença. 
 Artigo 147 Ameaça
A fim de analisar tipologicamente o artigo 147 do código penal referente ao crime de ameaça que se restringe a ameaçar alguém por palavra, escrito, gesto ou qualquer outro meio simbólico de causar-lhe mal injusto e grave, a ameaça impede que a vítima siga suas atividades rotineiras com calmaria, na medida em que o indivíduo ameaçado, passa a estar apreensivo e com temor de que o mal prometido venha a ocorrer. Na ameaça diferente do crime de constrangimentoilegal, a vítima não é obrigada a fazer ou deixar de fazer o que por lei não estaria obrigada; ela unicamente sofre um constrangimento através da coação que sofreu.
A conduta típica é ameaçar, ou seja, intimidar, prometer ou anunciar causar mal injusto e crítico. O mal anunciado deve ser grave, devendo se referir a algo de importância para vítima, como um bem jurídico a vida etc. Também é necessário que este seja injusto, isto é, contrário ao ordenamento jurídico, ou não será considerado ameaça, a existência de injustiça é essencial para que seja considerado crime de ameaça. Assim como é necessário que promessa seja passiva de efeito, motivo pelo qual não há crime se não houver maneira de cumpri-la.
A ameaça pode ser realizada mediante “palavras” na estada da vítima, por gravação, telefone, etc. Por “escrito”, através de carta, bilhete, e-mail, mensagem de texto, etc. Por “gestos” apontar arma, fazer sinal de arma com as mãos, passar o dedo no pescoço simulando degolamento, etc. Ou, por qualquer meio simbólico como enviar pequeno caixão para a vítima, enviar faca dentro de uma caixa de presente, pendurar caveira na porta da casa da vítima, etc.
Classificação doutrinária
Direta: Ocorre quando a ameaça é feita diretamente a vítima, por exemplo, Joana diz a Maria que irá matá-la, fazendo com que a promessa chegue até Maria por um dos quatro meios citados acima.
Indireta: Quando a ameaça e feita a um terceiro que seja querido da vítima, por exemplo, dizer a mãe que irá sequestrar o seu filho. 
Explícita: Quando o indivíduo não deixa qualquer dúvida quanto a sua intenção de intimidar a vítima, deixando clara a sua intenção se intimida-la, ocorre quando, por exemplo, quando ele aponta uma arma para a vítima.
Implícita: Embora não seja claro o indivíduo dá a entender por gestos ou palavras a intenção de causar mal a vítima, dizendo, por exemplo, que quem age de determinada forma com ele não costumam sobreviver.
Pedro Lenza, em sua doutrina, fala que a “ameaça condicionada” trata-se de um tema ainda controvertido na doutrina, se há crime de ameaça quando o agente condiciona a promessa de mal à vítima a um evento. Ele entende que sim, a menos que o evento esteja relacionado a algum ato ou omissão imediato por parte da própria vítima. Nesse caso, trata-se de constrangimento, como por exemplo, dizer a vítima, que se ela for embora será morta, então ela deixará de ir por medo, portanto é constrangimento ilegal. Entretanto, se a promessa for condicionada a evento futuro e certo, ocorrerá o crime de ameaça, como por exemplo, “se chover, eu vou te matar”. Da mesma forma há crime de ameaça se o condicionante não diz respeito a vítima, “se o meu time perder eu vou te matar”. Já “Nelson Hungria”, faz a seguinte ressalva: “a ameaça pode ser condicional, mas nem por isso se identifica com a tentativa de constrangimento ilegal, nesta, há o propósito de intimidação como meio compulsivo para uma determinada ação ou abstenção do paciente, ao passo que na ameaça condicional o principal fim do agente não deixa de ser simples incutimento de medo.”
Também há controvérsias no que se trata de “promessa de mal atual ou futuro”, para alguns autores só existe crime de ameaça se o mal prometido for atual e para outros se o mal for futuro. Para Fernando Capez, o crime de ameaça pode ocorrer em ambos os casos, o agente tanto pode apontar uma arma para a vítima e dizer que irá matá-la (mal atual), quanto mandar um bilhete dizendo que quando a encontrar virá a matá-la (mal futuro).
Sujeitos do delito
Ativo: A ameaça é crime comum, sendo assim, qualquer pessoa poderá figurar no polo ativo deste delito;
Passivo: A ameaça necessita de capacidade de discernimento da conduta do agente, desta forma as pessoas jurídicas, crianças e os loucos não poderão figurar no polo passivo do delito de ameaça ou seja, segundo Lenza, a ameaça apenas se figura desde que a pessoa possa compreender o significado da mesma.
 
Observação: Quando a ameaça é realizada contra autoridades governamentais cuja cargo e/ou função sejam presidenciáveis, por exemplo, Presidente da República, Presidente do Senado, Presidente da Câmara dos Deputados, Presidente do STF, constituirá crime contra a Segurança Nacional (Lei nº 7.170, de 14.12.1983, art. 28).
 
Tentativa e Consumação
Consuma-se a ameaça no instante em que o sujeito passivo toma conhecimento do mal prenunciado, independente de sentir-se ameaçado ou não.
A tentativa é admissível quando se trata de ameaça realizada por meio escrito. É possível nos casos de ameaça feita por carta ou pela remessa de fita com gravação ameaçadora pelo correio que não chegam ao destinatário, ou pelo envio de mensagem de texto que não chega à pessoa pretendida por erro de endereçamento do número telefônico.
Elemento Subjetivo
A ameaça é configurada apenas a título de dolo, direto ou eventual. Consiste na vontade de intimidar o sujeito passivo – ameaçar alguém de causar-lhe mal injusto ou grave. Nessa etapa e, segundo a doutrina de Fernando Capez, “não é necessário que o agente queira no íntimo concretizar o mal prometido: basta a vontade de ameaçar” desde que exista um fim especial de ação consistente na vontade de intimidar, incutir medo na vítima, de cercear a sua liberdade psíquica, etc.
Ação penal
Pública condicionada à representação.
TJ-RS- Recurso crime RC 71007391212 RS (TJ-RS)
Data de publicação: 23/04/2018
Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. AMEAÇA. ART 147, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. SENTENÇA CONDENATÓRIA REFORMADA. Devido às versão apresentadas não virem a ser confirmadas, de forma segura, por qualquer outro elemento de prova, e a tal se aliando, ainda, a existência de desavenças anteriores entre as partes, tenho como estabelecida dúvida insuperável, que deve ser solvida em favor do acusado. RECURSO PROVIDO. (Recurso Crime Nº 71007391212, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais, Relator: Luiz Antonio Alves Capra, Julgado em 09/04/2018)
Encontrado em: Turma Recursal Criminal Diário da Justiça do dia 23/04/2018- 23/04/2018 Recurso Crime RC
Artigo 148 Sequestro e cárcere privado
Sujeito Ativo
Por ser crime comum, será o sujeito ativo qualquer pessoa humana que praticar a conduta descrita no tipo penal.
Sujeito passivo
Qualquer pessoa humana, independentemente de sua condição física ou intelectual, será o sujeito passivo o titular do bem jurídico protegido pelo tipo penal incriminador que foi violado.
Objeto Jurídico
A liberdade individual de locomoção.
Objeto material
A pessoa que sofreu a privação da liberdade.
Elemento objetivo do tipo
A conduta típica é privar alguém de sua liberdade física perdurando o lapso temporal razoável. A pena é de reclusão, de (1) um a (3) três anos. Essa privação se dá por qualquer meio, como por exemplo a violência. Podendo ser executado mediante deslocamento, levar a vítima para local diverso, ou retenção, mantendo a vítima no local onde se encontra. A doutrina distingue sequestro do cárcere privado, havendo no primeiro enclausuramento em lugar aberto, porém impossível de deixá-lo e no segundo há confinamento em lugar fechado.
Cumpre ressaltar que em regra o crime é cometido comissivamente, entretanto, excepcionalmente, poderá ser praticado por omissão.
Elemento subjetivo do crime
É o dolo, portanto, a vontade livre e consciente do agente em agir, ou seja, de privar a vítima de sua liberdade. Salienta-se que o erro de tipo exclui o dolo.
Classificação doutrinária
Objeto jurídico simples; sujeito ativo comum; meios de execução livre e comissivo ou omissivo; momento consumado material e permanente; elemento subjetivo doloso.
Tentativa
É admissível a tentativa, na forma plurissubsistente, quando o agente inicia o ato executório, mas não consegue manter a vítima privada de sua liberdade por tempo jurídica e razoavelmente relevante.
Consumação
Ocorre com a perda da liberdade de ir e vir por tempo juridicamente relevante, sendo assim, manter alguémem seu poder por alguns minutos não configura crime, salvo se a intenção era que permanecer com a vítima, mas foi impedido, verificando-se a tentativa.
Forma qualificadora
De acordo com o parágrafo primeiro (§1º), a pena passa a ser de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, se:
A vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 anos.
O crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital.
A privação da liberdade dura mais que 15 dias.
O crime é cometido contra menor de 18 anos.
O delito é praticado com fins libidinosos.
Crime qualificado pelo resultado
Conforme parágrafo segundo (§2º), havendo grave sofrimento físico ou psicológico que acarreta no trauma maior do que já lhe apresentou a perda da liberdade de ir e vir, a pena será de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
Se tratando de único crime e estando presente alguma das hipóteses previstas no § 1º e também no § 2º deste artigo, não poderá ser aplicada cumulativamente, sendo aplicado a pena prevista no § 2º, pois é maior.
Ação Penal
Pública incondicionada.
PENAL. RECURSO ESPECIAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. CONSTRANGIMENTO ILEGAL (ART. 146 DO CP). CÁRCERE PRIVADO (ART. 148 DO CP). PRIVAÇÃO DA LIBERDADE. VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA E FÍSICA. 1. A conduta típica do crime do art. 148 do CP consiste na restrição (parcial ou total) da liberdade de locomoção de alguém. Os meios para isso são o sequestro (retirar a vítima de sua esfera de segurança para restringir sua liberdade) e o cárcere privado (colocação em confinamento). O elemento comum é a restrição à liberdade da vítima, bastando para a configuração do crime em questão que a vítima não tenha a faculdade de dirigir sua liberdade, sendo desnecessária a privação total de sua liberdade, ou seja, que fique totalmente impossibilitada de se retirar do local em que foi confinada. 2. No presente caso, ficou comprovado que a vítima, apesar de possuir a chave do portão de sua residência, estava impedida de sair de casa em razão da violência física e psicológica exercida pelo seu marido, ora réu, uma vez que, conforme constatado pelos depoimentos presentes no acórdão recorrido, tinha um temor absoluto e insuperável do que poderia acontecer se desobedecesse às ordens do acusado. 3. O dolo do réu encontra-se configurado na vontade de privar a vítima de sua liberdade de se locomover, empregando violência psicológica e física para impedi-la de sair de sua residência, anulando sua a capacidade de autodeterminação, mesmo esta tendo a chave do local. Assim, o constrangimento, exercido mediante violência e ameaças, tinha como objetivo privar sua liberdade de locomoção e de autodeterminação, o que configura o delito previsto no art. 148 do CP. 4. Recurso especial provido para reconhecer a prática do delito previsto no art. 148 do Código Penal e determinar o retorno dos autos ao Tribunal a quo para que proceda à necessária dosimetria da pena.
(STJ - REsp: 1622510 MS 2015/0325507-2, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de Julgamento: 01/06/2017, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 09/06/2017).
Artigo 149 Redução a condição análoga à de escravo
Sujeito Ativo
Pode ser qualquer pessoa, haja vista que somente quando houver uma relação de trabalho entre o agente e a vítima é que o delito poderá se configurar. Sujeito ativo é o empregador que utiliza a mão de obra escrava.
 
Sujeito passivo
Pode ser também qualquer pessoa vinculada a uma relação de trabalho. Sujeito passivo é o empregado que se encontra numa condição análoga à de escravo.
 
Objeto Jurídico
A liberdade de autodeterminação, consistente do direito de ir, vir e permanecer, ou seja, é o direito da pessoa humana em não ser submetida à servidão e ao poder de fato de outrem. 
 
Objeto material
É a pessoa humana reduzida à condição semelhante à de escravo, em razão da conduta criminosa do agente.
 
Tipo objetivo
Se protege a liberdade da vítima, que se vê, dada a sua condição análoga à de escravo, impedida do seu direito de ir, vir, ou mesmo permanecer onde queira. 
 Muitos, ao ler a palavra escravo, se recordam da época das correntes, senzalas, etc., porém hoje o trabalho escravo nos mostra novas características, como por exemplo a proibição direta ou indireta do direito de ir e vir. Outros exemplos são: a vida, a saúde, bem como a segurança do trabalhador, além de sua liberdade.
Elemento subjetivo do crime
O crime é punido exclusivamente a título de dolo, consistente na vontade livre e consciente de exercer o domínio sobre a vítima, por meio das condutas incriminadas no tipo penal, suprimindo-lhe a liberdade de fato. Nas figuras equiparadas do § 1º (incisos I e II), exige-se, além do dolo, um especial fim de agir, representado pelas expressões: “com o fim de retê-lo no local de trabalho”.
Não se admite a modalidade culposa de redução a esta condição por conta da ausência de previsão legal.
Classificação doutrinária
Crime próprio quanto ao sujeito ativo e passivo; doloso; comissivo ou omissivo impróprio; de forma vinculada; permanente; material; monossubjetivo; plurissubsistente.
 
Tentativa
Em razão de trata-se de crime plurissubsistente, a tentativa é possível.
 
Consumação
Ocorre no momento em que o sujeito reduz a vítima a condição análoga à de escravo, por meio de uma das condutas previstas taxativamente no tipo penal. Trata-se também de crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo, enquanto a vítima estiver privada de sua liberdade de autodeterminação, possibilitando, assim, a prisão em flagrante do agente a qualquer momento.
 
Forma qualificadora
O §2º do art. 149 do Código Penal prevê o aumento de metade da pena se o crime for cometido:
contra criança ou adolescente;
por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
 
Crime qualificado pelo resultado
O art. 149 do Código penal prevê uma pena de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, além da pena correspondente à violência, tanto para as hipóteses previstas em seu caput como naqueles elencados pelo §1º, vale dizer, nos casos em que há o cerceamento do uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador com o fim de retê-lo no local de trabalho, bem como quando o agente mantém vigilância no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador com o fim de retê-lo no local de trabalho.
 
Ação Penal
	Pública incondicionada.
	
Vistos, etc.Cuida-se de recurso extraordinário criminal, interposto com fundamento na letra “a” do inciso III do art. 102 da Constituição Republicana, contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Acórdão cuja ficou assim redigida, na parte que interessa (fls. 73):“PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO CRIMINAL. CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO. CRIME CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL. REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO (ART. 149, CP). COMPETÊNCIA. JUSTIÇA ESTADUAL.(...).”2. Pois bem, a parte recorrente sustenta ofensa aos incisos IV e VI do art. 109 da Constituição Federal.3. A seu turno, a Procuradoria-Geral da República, em parecer da lavra do Subprocurador-Geral Mario José Gisi, opinou pelo provimento do recurso.4. Tenho que o apelo extremo merece acolhida. Isso porque o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 398.041, sob a relatoria do ministro Joaquim Barbosa, por maioria de votos, assentou a competência da Justiça Federal para processar e julgar o crime de redução a condição análoga à de escravo .5.(artigo 149 do Código Penal) Naquele julgamento, ressaltei que não se pode ver o tema da organização do trabalho dissociado do tema da dignidade da pessoa humana. Mais: afirmei que a organização do trabalho é projeção do princípio da dignidade da pessoa humana e, no contexto temático da organização do trabalho, não se pode esquecer o protagonista central das atividades laborais que, para a Constituição, é o trabalhador, no caso, reduzido a condição análoga à de escravo.6. Decisões no mesmo sentido: REs 499.143, sob a relatoriado ministro Sepúlveda Pertence; 507.110, sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes; e 508.717, sob a relatoria da ministra Cármen Lúcia.Isso posto, dou provimento ao recurso, para reconhecer a competência da Justiça Federal.Publique-se.Brasília, 18 de junho de 2008.Ministro CARLOS AYRES BRITTO Relator.
Artigo 149-A Tráfico de pessoas
Sujeito Ativo
Qualquer pessoa pode praticar a infração penal prevista no art. acima mencionado, sendo, portanto, considerado um delito comum, que não exige qualquer qualidade especial do sujeito ativo.
Sujeito passivo
Da mesma forma acima mencionada ocorre no sujeito passivo. Vale ressaltar que, em muitos casos, a vítima do tráfico de pessoas não se considera com esse status, uma vez que, em muitos casos, por mais que seja explorada, sua situação ainda é melhor do que aquela que vivia anteriormente. 
Objeto Jurídico
A liberdade da vítima, bem como a sua vida ou integridade física.
Objeto material
A pessoa, sobre a qual recai a conduta do agente.
Tipo objetivo
O artigo 149 – A, CP é um crime de ação múltipla, conteúdo variado ou tipo misto alternativo, pois contempla vários núcleos verbais, sendo eles: agenciar, aliciar, recrutar, transferir, comprar, alojar ou acolher.
 
Elemento subjetivo do crime
Os comportamentos previstos no tipo penal deste artigo somente podem ser praticados dolosamente, não havendo previsão para a modalidade de natureza culposa.
Porém, a prática dos verbos deve se dar mediante meios especialmente elencados na norma: grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso.
 
Classificação doutrinária
Crime comum quanto ao sujeito ativo e passivo; doloso; formal; comissivo; de forma livre; instantâneo; permanente; monossubjetivo; plurissubsistente; transeunte.
 
Tentativa
Em razão de trata-se de crime plurissubsistente, a tentativa é possível.
 
Consumação
Pelo que se depreende na redação típica, estamos diante de um crime formal, de consumação antecipada, não havendo, portanto, necessidade de que a vítima seja, efetivamente, traficada, ou seja, removida ou levada para algum outro lugar para que o crime se configure, bastando que o agente tão somente atue com uma das finalidades exigidas pelo tipo penal do artigo.
Forma qualificadora
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência);
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência);
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência);
IV - adoção ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência);
V - exploração sexual. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência);
Pena de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência).
Crime qualificado pelo resultado
Conforme parágrafo primeiro (§1º) o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las; contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência; o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional, a pena é aumentada de um terço até a metade.
No que tange o parágrafo segundo (§2º) a pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização criminosa.
Ação Penal
APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO INTERNO DE PESSOA PARA FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL (ART. 231-A DO CP) E AMEAÇA (ART. 147 DO CP). RECURSO DA DEFESA. ALEGADA INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. PEDIDO DE RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO EM RELAÇÃO AO CRIME DE AMEAÇA. DECRETAÇÃO DE OFÍCIO DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE EM RELAÇÃO AO CRIME DO ART. 231-A DO CP. LEI N. 13.344/16. NOVO TIPO PENAL QUE ESTABELECE COMO ELEMENTARES DO CRIME A VIOLÊNCIA, GRAVE AMEAÇA, FRAUDE OU ABUSO. EXPLORAÇÃO, NO CASO, REALIZADA COM O CONSENTIMENTO VÁLIDO DAS VÍTIMAS. ABOLITIO CRIMINIS. CRIME DE AMEAÇA. FLUÊNCIA DO DECURSO DO PRAZO PRESCRICIONAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE RECONHECIDA.
Com o advento da Lei n. 13.344/16, que estabelece novo tipo penal de tráfico de pessoas (art. 149-A CP), a violência, grave ameaça, fraude ou abuso, passaram a constituir elementares do tipo primário, de sorte que a exploração sexual realizada com o consentimento válido das vítimas passou a ser atípico. É possível reconhecer-se a continuidade normativo-típica apenas em relação a imputação de tráfico de pessoa para fim de exploração sexual quando houve emprego de violência, grave ameaça ou fraude, circunstâncias que constituíam causas de aumento de pena e estavam previstas no revogado art. 231-A, § 2º, IV, do CP.
Bibliografia
Manual de Direito Penal, 6º edição, Guilherme de Souza Nucci.
Curso de Direito Penal, Volume 2, Parte Especial, Editora Saraiva, Fernando Capez.
Direito Penal Esquematizado, 1º edição, Victor Eduardo Rios Gonçalves, Coordenador Pedro Lenza, Editora Saraiva.
Curso de Direito Penal - Parte Especial. Volume II: Volume 2 - 15ª edição.
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