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Renata Bittar Medicina UNIT NEOPLASIAS E CICLO CELULAR - Ao longo do ciclo celular, existem momentos, denominados pontos de checagem (“checkpoints”), em que mecanismos celulares avaliam as condições da célula, antes de iniciar a fase seguinte. É nesses pontos que a célula “decide” se completa a divisão ou se interrompe o processo e, dependendo das condições, a alternativa pode ser até a apoptose (morte celular programada) que leva uma célula danificada ao suicídio. - Nessas interrupções, são feitos reparos em DNAs eventualmente danificados, evitando que moléculas lesadas sejam duplicadas e transmitidas às células- filhas. - Estudos recentes, feitos com células de mamíferos, detectaram uma proteína denominada p53, que participa da interrupção do ciclo celular. Foi constatado que essa proteína é produzida em grande quantidade sempre que moléculas de DNA são danificadas. - No caso de esses danos serem muito grandes, essa proteína ativa a apoptose da célula danificada. Se a proteína p53 não funcionar corretamente, células com o DNA danificado podem se multiplicar e se transformar, eventualmente, em células cancerosas. - Assim sendo, o câncer não é mais frequente graças à proteína p53, que desencadeia a apoptose das células portadoras de DNA lesado, as quais poderiam originar tumores malignos. - Em 50% dos tumores humanos, observa- se mutações no gene que codifica essa proteína. - O principal ponto de checagem, denominado Ponto de Restrição (ponto de checagem G1), indicado na figura abaixo pelo número 1, ocorre no final do período G1, antes de iniciar o período S. - Nesse momento, a célula verifica, fundamentalmente, se o tamanho que atingiu está adequado, se o meio extracelular se encontra ideal à proliferação e se o DNA não está danificado. -Se as condições não estão adequadas, o ciclo celular não prossegue, e a célula assume um estado pausado ou quiescente denominado G 0, em vez de seguir para o período S, podendo permanecer nesse estado por longo tempo sem se dividir. - Estando as condições ideais, a célula entra na fase S e, em seguida, no período G2. Nesse período, um pouco antes de a célula iniciar a divisão (indicado na figura pela letra M), ocorre um outro ponto de checagem (ponto de Renata Bittar Medicina UNIT checagem G2), indicado na figura número 2, no qual tem lugar nova verificação quanto ao crescimento da célula e à correta replicação do DNA. - Tendo havido crescimento adequado e correta duplicação do DNA, tem início a divisão celular. - Se, por outro lado, as condições não são satisfatórias, a prófase não é iniciada, e a divisão não se processa. - Um terceiro ponto de checagem, denominado ponto de checagem da mitose, indicado na figura pelo número 3, ocorre durante a divisão celular, entre o término da metáfase e o início da anáfase. - Ele tem por objetivo detectar defeitos na formação do fuso mitótico (fuso de divisão ou acromático) e na adesão dos cinetócoros aos microtúbulos. - Dessa forma, as células só entram em anáfase, via de regra, quando todos os cinetócoros se encontram perfeitamente ligados aos microtúbulos do referido fuso. Durante o ciclo celular, enzimas e proteínas devem ser ativadas e desativadas em determinadas fases... CICLINAS - São proteínas reguladas através de ciclos de síntese e degradação = UBIQUITINAÇÃO. G1 S G2 M Renata Bittar Medicina UNIT CDK e CDI - Cinases dependentes de Ciclina e forma os COMPLEXOS CICLINA-CDK. - Complexo estimula a síntese de mais complexos. - As ciclinas sozinhas não conseguem ativas a CDK. - A CDK precisa sofrer processos de fosforilação e desfosforilação em sítios específicos para se tornar ativa, através da ligação com as Ciclinas. - Fosforilação = realizada por cinases. -Desfosforilação = realizada por fosfatases. Se o complexo ciclina-CDK é necessário para a progressão do ciclo celular, como parar o ciclo celular em alguma fase? - Através da inibição das CDKs pelas CKIs/p53, que pode ocorrer na presença de dano celular ou alterações ambientais desfavoráveis. - É um mecanismo citoprotetor e citostático. - Os inibidores de CDK são as principais proteínas efetores da parada do ciclo celular. Quais são as mutações encontradas nos cânceres? Superexpressão de Ciclinas Redução de CDKi - Consequência disso: as células “burlam” a parada do ciclo celular. - As Ciclinas estão associadas à RESISTÊNCIA TUMORAL e FORMAÇÃO DE METÁSTASES. - Os níveis tumorais de ciclinas são um fator prognóstico. - As Ciclinas e as CDKs são os alvos terapêuticos para diminuir a sua atividade, aumentar a sua degradação e diminuir a sua atividade. - As CDKs, através da ligação com as Ciclinas, atuam no ciclo celular de várias formas: Desmantelamento da membrana nuclear Condensação da cromatina Indução da replicação do DNA Montagem dos fusos mitóticos - A transição entre as fases do ciclo celular é regulada por diferentes complexos ciclina/CDK - A proteína CDK1 regula a mitose. - Os checkpoint regulam a ação das CDKs. Renata Bittar Medicina UNIT PONTOS DE CHECAGEM E PROTEÍNAS O primeiro ponto de controle vem logo após o ponto de restrição ainda em G1. Em linhas gerais, pode-se dizer que este ponto de controle possui três funções: 1) verificar as condições do meio, buscando fatores externos que induzam o progresso do ciclo celular (como o Fator de Crescimento Epitelial, por exemplo) 2) conferir se a célula já cresceu o suficiente 3) revisar o material genético em busca de possíveis danos. Este ponto é controlado principalmente pelo meio e depende da capacidade de indução que este exerce³. Estão envolvidas diretamente neste ponto de controle as proteínas do complexo CDK2-Ciclina E que foram sintetizadas ainda no decurso do Ponto de Restrição. Logo após a mitose aumenta a expressão da ciclina E, esta ciclina se unirá à CDK 2 formando o complexo ativo conhecido como Fator Promotor da Fase S (FPS)5. FPS só é ativo sobre cromossomos pré- replicativos, chamados assim por possuírem sobre cada origem de replicação um complexo multiproteico chamado Pre-Replicativo. Este complexo é composto pelo Complexo de Reconhecimento de Origem de Replicação (ORC) e pela proteína Cdc6, que insere sobre as origens de replicação as proteínas de manutenção de minimicrossomos (MCM). As origens de replicação sobre cada laço de cromatina se caracterizam por possuir uma sequência comum denominada Sequência de Replicação Autônoma (ARS)5. A velocidade de progressão através da fase G1 é determinada por um balanço entre CDKs e CDIs. Em um determinado ponto, na fase G1 pré-R, a atividade do complexo ciclina D-CDK4/6 é suficiente para ultrapassar os efeitos inibitórios dos guardiões p16, p21 e p27, levando a hiperfosforilação da proteína Rb e à dissociação do complexo Rb-E2F. O E2F liberado estimula a expressão de c-myc e induz as ciclinas E e A, que também podem ser induzidas por myc. À medida que a célula entra em S, o nívelde ciclina E diminui assim a célula completa essa fase (S). Os freios moleculares envolvidos neste ponto de controle são p53 (um fator de transcrição) e p21 (uma CIP). O p53 é um dos mais conhecidos supressores tumorais, geralmente se encontra dentro da célula, porém é muito instável porque fica unido a uma outra proteína chamada Mdm2, que funciona como um marcador para que p53 se degrade. Mas havendo uma lesão no material genético, enzimas específicas entram em ação para separar a Mdm2 do p53. Separado de seu marcador, p53 não se degrada e permanece na célula, aumentando assim a sua concentração, isso estimula a síntese de p21 a qual se une a CDK2 e Ciclina E, inibindo então a ação deste complexo. A consequência dessa cadeia de acontecimentos é a parada do ciclo celular em G1. Durante as fases G1 e G2 o maquinário celular verifica a integridade do material genético e, uma vez detectados defeitos no DNA, um sinal é disparado a fim de manter a célula num estado estacionário no qual ela tentará corrigir os erros encontrados. Esse mecanismo depende da proteína p53, sendo ela, por esse motivo, considerada a guardiã do genoma. Renata Bittar Medicina UNIT No início do ciclo mitótico, o gene p53, através do seu fator de transcrição, ativa o gene p21, induzindo à síntese da proteína p21. Esta inibe a ação de CDKs (quinases dependentes de ciclina), pois se une ao complexo CDK2-ciclina, o que bloqueia a inativação de Rb e, assim, promove a parada do ciclo celular em G1, a fim de que o DNA danificado possa ser reparado. Também o processo de reparo é dependente de p53, pois esta proteína é responsável pela ativação do gene GrowthArrest DNA DamageInducille (GADD-45) que atua corrigindo a lesão no DNA. Quando o reparo é finalizado, a proteína p53 é então degradada pela ação de uma outra proteína, a MDM-2, codificada pelo gene mouse Double minute 2 (mdm-2). A p53 se separa do promotor do gene 21, que, por consequência deixa de ser sintetizado e reduz os seus níveis. Assim o complexo cdk2-ciclina volta a sua atividade reconduzindo a célula ao ciclo4. Uma alternativa de atuação da p53 a danos não reparados, caso a via com a proteína pRb não esteja intacta, é a indução da apoptose (morte celular programada). Além disso, p53 também promove um check point de S para G2, que depende da integridade do domínio C- terminal do gene. Portanto, quando p53 sofre mutações, as células com danos no DNA, que por um processo de seleção natural favorável, podem desencadear a transformação maligna, escapam do reparo destes danos e de sua destruição, podendo iniciar um clone maligno4. O nível crescente de FPS no início da fase S induz à abertura das origens de replicação, ativando as moléculas responsáveis pela síntese de DNA e induzindo à separação do Complexo Pre- R do componente Cdc 6p e MCM. Dá-se início então à síntese do material genético, não sendo mais necessária a presença do FPS, sendo degrada a ciclina E5. Controle do ponto de verificação em G2 No final da mitose ocorre o aumento na expressão da ciclina E que ligada a CDK2 forma o fator promotor da fase S (FPS), o qual só é ativo em cromossomos pré- replicativos. O aumento do FPS induz à abertura das origens de replicação ativando as moléculas responsáveis pela síntese de DNA e provocando a separação do complexo Pré-replicativo do componente CDC6 e MCM (Proteínas de Manutenção do Microssoma). Assim se inicia a replicação do material genético, não sendo mais necessário o complexo promotor da fase S que têm o seu componente mais frágil, a ciclina E, degradado. A fase G2 é o segundo momento no qual a célula avalia a integridade do material genético, aqui já duplicado, e se prepara para a mitose. A transição de G2 para M requer a formação de um complexo CDK1-ciclina B, que constituem o chamado Fator de Promoção da Mitose (MPF). A ativação do complexo MPF depende de Cdc25 (uma fosfatase que elimina grupos fosfatos inibidores unidos a aminoácidos ubicados no sítio chave para o funcionamento da CDK). O MPF ativado pode então fosforilar uma série de substratos como a histona H1envolvida na condensação dos cromossomos, lamininaubicada na membrana nuclear e cuja fosforilação provoca a dissolução do envoltório nuclear, entre outros. Hoje, sabe--se que este ponto de controle só dispara o sinal para esses processos se o funcionamento de outros genes estiver adequado, ou seja, caso o maquinário celular verifique a presença de erros no DNA, o sinal não é disparado, parando o ciclo celular em G2. Renata Bittar Medicina UNIT O ponto de controle metáfase – anáfase O ciclo celular se dá numa sequência de etapas bem definida: primeiro a célula duplica o DNA, depois organiza o DNA em cromátide irmãs e então divide os cromossomos entre as células filhas. Entre os períodos G2 da interfase e prófase os complexos protéicos MPF (Fator de Promoção da Mitose) ativam a condensação dos cromossomos, o rompimento da carioteca e a formação das fibras do fuso de divisão. Para a separação correta das cromátides irmãs é necessário um delicado equilíbrio de processos opostos: a coesão entre as cromátides irmãs e as forças de separação que as fibras do fuso mitótico promovem5. O APC (Complexo Promotor da Anáfase) é uma ubiquitinaligase essencial tanto para o ciclo mitótico quanto para o ciclo meiótico. Ele liga cadeias de ubiquitina às suas proteínas-alvo funcionando como um marcador para proteólise. Ele também causa a saída da mitose e pensa-se que ele permanece ativo durante toda a fase G1. APC controla a degradação de proteínas essenciais para a duplicação do DNA, sua atividade é diminuída antes da entrada na fase S. Sua inativação também permite o acúmulo de ciclinas mitóticas durante S e G2, e por meio disso, habilita a célula para a próxima mitose. A atividade do MPF é dependente da proteína ciclina B, que é sintetizada entre o final do período G2 da intérfase e início da prófase. Por meio da ação do APC é degradado o inibidor da anáfase e logo em seguida ocorre também à degradação da unidade ciclina B do complexo MPF. Na telófase os níveis de ciclina B diminuem e a atividade do MPF é baixa. Este último ponto de controle se encarrega de verificar se todos os cromossomos estão unidos ao fuso mitótico. Caso detecte a presença de cinetócoros que não estejam ligados, ele envia um sinal negativo ao sistema de controle bloqueando a ativação das proteínas envolvidas na separação das cromátides irmãs. Inativa, especificamente, o conjunto APC-CDC20, o que inibe a liberação da separação, impedindo que as cromátides irmãs se separem até que o sinal desapareça. Renata Bittar Medicina UNIT
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