Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Fungicidas: Modo de ação e Programas de controle Módulo IV 2 Você sabia que existem diversos relatos ao redor do mundo sobre o desenvolvimento de fungos resistentes a fungicidas? E você sabe o que está sendo feito para combater esse problema? Resistência de fungos a fungicidas Fungos, como todos os organismos vivos, são geneticamente variáveis e podem, através de mutações, tornarem-se resistentes a fungicidas específicos, que atuam em um ou poucos processos metabólicos vitais. As consequências da seleção de indivíduos resistentes a fungicidas podem ser desastrosas, tanto para o usuário, comprometendo sua produção, quanto para o fabricante, que investiu na descoberta e desenvolvimento do produto. Saiba mais... Até 1970, devido à predominância de fungicidas inespecíficos, os casos de resistências relatados no campo limitavam-se a menos do que 10 gêneros de fungos. Em contraposição, coincidindo com a escala de surgimento de sistêmicos, esse número ascendeu à aproximadamente 35 gêneros, a partir de 1980. Mecanismos da Resistência 1) Decréscimo da permeabilidade: O decréscimo da permeabilidade diz respeito aos fungicidas que não atingem o local de ação devido ao decréscimo na permeabilidade da membrana do patógeno resistente; 2) Aumento da desintoxicação: O aumento da desintoxicação pode ocorrer por degradação metabólica do fungicida, com concomitante perda de ação do mesmo após a entrada na célula fúngica. 3 3) Alteração bioquímica do sítio alvo: A alteração bioquímica do sítio alvo ocorre quando o fungicida alcança o local de ação sem ser metabolizado pelo organismo. Dessa forma, a resistência pode ser explicada baseando-se na falta de afinidade do inibidor no sítio reativo. 4) Desenvolvimento de via metabólica alternativa: O desenvolvimento de via metabólica alternativa ocorre quando um fungicida bloqueia a reação em um determinado sítio de ação do metabolismo fúngico e o fungo se adapta a esta situação, alterando seu metabolismo de tal forma que o local bloqueado não seja utilizado. Saiba mais... Os mecanismos de resistência estão ligados à capacidade de seleção de raças resistentes de patógenos, o que pode ser aumentado nos seguintes casos: (a) aplicação repetida de fungicidas sistêmicos quimicamente relacionados; (b) aplicação continua de fungicidas em concentrações sub- letais; (c) utilização de fungicidas em áreas isoladas onde não haja competição das diferentes raças dos organismos. Exemplos de casos de resistência Situação atual da resistência à estrobilurina – FRAC 2013 4 Mecanismos de resistência aos fungicidas já constatados – FRAC Modo de ação das principais classes de fungicidas e risco de resistência 5 Classificação de fungicidas de acordo com o risco do surgimento de resistência Classificação de fungicidas de acordo com o risco do surgimento de resistência 6 Casos confirmados de resistência Relatos de resistência a Benzimidazóis 7 Quais estratégias devemos adotar para prevenir a ocorrência de resistência de fungos a fungicidas? Manejo Anti-Resistência Fungicidas para os quais se esperam problemas de resistência não devem ser utilizados contra doenças que sejam adequadamente controladas com fungicidas convencionais ou com outros métodos de controle. Devem ser usados contra doenças em que: (i) a população do patógeno resistente aumenta lentamente ou pode ser controlada por uma combinação de fungicidas e métodos culturais; ou... (ii) o controle possa ser obtido a uma baixa pressão de seleção (uma ou duas pulverizações/estação). A pressão de seleção pode ser diminuída... 1) restringindo a aplicação de fungicidas com alto risco de resistência; 2) alternância dos modos de ação em programas de controle; 3) manutenção da dose recomendada pelo fabricante; 4) jamais aplicar de forma erradicante; 5) reduzir as vantagens adaptativas dos indivíduos resistentes (Ex.: fungicidas protetores); 6) associar o produto químico com o manejo integrado de doenças; 7) realizando monitoramento para detectar a presença de isolados resistente e mudando os métodos de controle antes que eles falhem. 8 Saiba mais... Em pomares e grandes culturas, onde geralmente são realizadas muitas aplicações, utilize misturas ou alternância com fungicidas que não apresentem resistência cruzada. A resistência cruzada ocorre quando um fungo adquire resistência a um produto de determinado grupo e, automaticamente torna-se resistente aos demais fungicidas do mesmo grupo. Ex.: benzimidazole (benomil e carbendazim). Após o advento dos fungicidas sistêmicos, o monitoramento da resistência tornou-se indispensável. Isso porque o surgimento de populações de fungos resistentes compromete qualquer programa de controle no qual o fungicida tome parte. A não detecção deste problema, quando existente, resulta em gastos e possibilidade de perdas na produção à nível de produtor, e descrédito e prejuízo para a indústria e distribuidores do produto. Objetivos do monitoramento • avaliar a vulnerabilidade do produto • analisar as falhas da eficiência Saiba mais... Na prática, a análise das falhas da eficiência de controle é de importância fundamental, porque dela depende a mudança de rumo das estratégias. No caso das acylalaninas, particularmente metalaxyl, no controle da requeima do tomate, têm surgido reclamações sobre sua ineficiência, talvez devido ao surgimento de mutantes do agente causal. Entretanto, em nenhum dos casos analisados a suspeita foi confirmada. A hipótese mais plausível é a de que os tomaticultores utilizaram o produto curativamente mais do que preventivamente, e um atraso de uma semana no início da pulverização pode ser fatal para uma doença de rápido desenvolvimento epidêmico como é a requeima. • checar a eficiência das estratégias anti-resistência 9 • determinar a estabilidade da resistência, ano após ano, após a retirada do fungicida Estamos chegando ao final do curso, mas antes disso abordaremos os programas de controle de doenças para as principais culturas agrícolas! Programas de Controle Muitas vezes os produtores utilizam sistemas de previsão de doença ou limiares de ação, quando estes estão disponíveis, para garantir que os fungicidas sejam aplicados quando necessário e para evitar gastos adicionais e possíveis impactos ambientais por aplicações desnecessárias. Por outro lado, a agricultura de escala dos cultivos anuais, aliada à agressividade de algumas doenças, não tem possibilitado o uso destas ferramentas, fazendo com que sejam utilizados programas de controle com base na aplicação sistemática e sequencial de fungicidas, já que os fatores operacionais e de logística de áreas extensas, torna inviável a utilização de programas com base em sistemas de alerta ou limiar de dano. Diversos fatores devem ser considerados no manejo de doenças: 10 Saiba mais... A área agrícola brasileira, em função de estar localizada em uma faixa tropical, possuindo condições de clima e diversidade de patógenos, representa um grande desafio para controle das doenças das plantas cultivadas. Dinâmica populacional elevada dos patógenos, clima favorável durante todo o ano, dificuldades técnicas na aplicação de medidas integradas de controle e operacionais na aplicação dos fungicidas, são apenas alguns dos complicadores no controledas doenças. Que tal agora vermos sugestões de programas de controle de doenças de algumas culturas agrícolas? Você já aprendeu o que são fungicidas, quais os modos de ação, as formulações, além dos fatores que interferem na performance dos produtos. Todos esses conhecimento são importantes para que você compreenda e aplique corretamente os programas de controle que serão apresentados a seguir. O ciclo desenvolvimento das culturas agrícolas geralmente compreende duas fases, sendo estas subdividas em estádios. No caso das culturas soja, feijão, milho e arroz, a fase vegetativa é descrita pelo código V, quando ocorre a expansão da área foliar, importante para a síntese de fotoassimilados. A fase reprodutiva é descrita pelo código R, e compreende o desenvolvimento dos órgãos reprodutivos, que no caso destas culturas, representam os produtos de interesse comercial. A escala do trigo é codificada pelo uso exclusivo de números, sendo que valores decimais correspondem à fase reprodutiva da cultura. Assista as vídeo-aulas clicando nos links. Para melhor compreensão dos programas de controle é importante que vocês se familiarize com as escalas de desenvolvimento das culturas apresentadas a seguir. 11 Programas de controle em soja ANOTAÇÔES: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________. 12 Programas de controle em feijão ANOTAÇÔES: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________. 13 Programas de controle em milho ANOTAÇÔES: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________. 14 Programas de controle em arroz ANOTAÇÔES: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________. 15 Programas de controle em trigo ANOTAÇÔES: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________. 16 Causas de insucesso em Programas de controle • Diagnose incorreta• Desconhecimento do alvo biológico e da suscetibilidade da cultivar/híbrido • Locais de plantio extremamente favoráveis à doenças • Controle químico como única solução, sem emprego de medidas culturais • Desconhecimento dos fatores de predisposição das doenças • Erro na escolha do fungicida para controle da doença alvo • Produto específico x produto com modo de ação amplo • Aplicação de produtos sistêmicos após o surgimento dos sintomas • Emprego de sub-doses de fungicidas • Tecnologia de aplicação inadequada (deposição e cobertura inadequadas) • Escolha de formulação inadequada (falta de aderência e persistência) do ingrediente ativo na superfície vegetal • Uso de adjuvantes sem levar em consideração o clima, a superfície vegetal e a formulação • Mistura de fungicida com inseticida e micronutrientes (pH e CE da calda) 17 No Módulo 4 você viu que... o desenvolvimento de populações de fungos resistentes a fungicidas pode ser desastrosa, tanto à nível de usuário quanto à nível de indústria; a resistência de fungos a fungicidas pode ser resultante de diferentes mecanismos e que algumas estratégias devem ser adotadas para preveni-la; programas de controle são recomendações técnicas para o controle de doenças que envolvem diversos critérios, tais como o princípio ativo, a dose efetiva de controle, o início, número, época e intervalo de aplicação, os estádios fenológicos críticos da cultura e o período residual; os programas de controle utilizados em cada cultura devem levar em consideração a complexidade relacionada à incidência das diferentes doenças. 18 GLOSSÁRIO ERRADICANTE: Erradicante é o momento em que a aplicação é realizada sobre a esporulação do patógeno (sintoma). Deve ser priorizadas as aplicações preventivas. LIMIARES DE AÇÃO: Programas de aplicação de fungicidas baseados em limiares de ação envolvem o monitoramento rotineiro dos sintomas na cultura, sendo aplicados fungicidas quando os sintomas atingem um nível crítico acima do qual a doença não pode ser controlada adequadamente. MUTAÇÕES: Mutações são alterações genéticas que afetam a sequência de bases nitrogenadas do DNA, produzindo um novo alelo. Tais mutações podem ocorrer pela substituição de bases nitrogenadas ou pela adição/deleção destas. PRESSÃO DE SELEÇÃO: pressão de seleção exercida pela aplicação de um fungicida sistêmico é uma função da extensão e duração da exposição, sendo tanto maior quanto: a) maior a área tratada com apenas um princípio ativo específico; b) maior a dosagem e o número de aplicações e, portanto, o poder residual do produto; c) maior a taxa de infecção da doença e mais favoráveis as condições para ocorrência de epidemias. RESISTÊNCIA: Resistência é a adaptação estável e hereditária de um fungo à um fungicida, resultando em uma redução na sensibilidade ao mesmo. SISTEMAS DE PREVISÃO: Sistemas de previsão têm sido desenvolvidos para inúmeras doenças, baseados no entendimento dos fatores ambientais favoráveis para o seu desenvolvimento. Tipicamente estes sistemas de previsão são baseados na temperatura, umidade relativa do ar ou molhamento foliar onde a cultura está sendo produzida. 19 LITERATURAS CONSULTADAS ABETA (ed.). Manual de fungicidas. São Paulo. 1974. 108p. AMORIN, L.; REZENDE, J. A. M.; FILHO, A. B. Manual de Fitopatologia: Princípios e Conceito, 4ª Edição. Editora Agronômica Ceres Ltda., São Paulo, 2011. 704p. ANDREI, E. Compêndio de defensivos agrícolas: guia prático de produtos fitossanitários para uso agrícola. 2 ed. São Paulo, Organização Andrei. 1999. 492p. ANONYMOUS. Definitions of fungicide terms. Phytopathology. 33:624-626. 1943. AZEVEDO, L.A.S. Manual de quantificação de doenças de plantas. São Paulo, Novartis Biociências - Setor Agro, 1998. AZEVEDO, L.A.S. Fungicides: basis for rational use. São Paulo, 319 p. 2003. AZEVEDO, L. A. S.; CASTELANI, P. Agricultural Adjuvants for Crop Protection. Imos Gráfica Editora, Rio de Janeiro, 1st ed, 2013. 213p. BALARDIN R. S. (2005) Notebook teaching the discipline of plant pathology farm. Universidade Federal de Santa Maria - RS, Brazil, Santa Maria, Available at http://www.balardin.com.br. Accessed July 22, 2010. BARBERA, C. Pesticidas agrícolas. Barcelona: Omega, 1967. 330p. BLUM, L.E.B. & GABARDO, H. Controle químico da ferrugem do alho na região de Curitibanos/SC. Fitopatologia Brasileira 18:230-232. 1993. CRUZ FILHO, J. da & CHAVES, G. M. Antibióticos, fungicidas e nematicidas empregados no controle de doenças das plantas. Viçosa, Centro de Ensino de Extensão, UFV, 1979. 257 p. DEBORTOLI, M.P. (2008) Effect of rainfastness and adjuvants in the fungicides application on soybeans cultivars. Master Dissertation - Graduate Program in Agricultural Engineer. Federal University of Santa Maria, RS, Brazil. DHINGRA, O.D., MUCHOVEJ, J.J., FILHO, J.C. Tratamento de sementes (controle de patógenos). Imprensa Universitária, Viçosa, Minas Gerais, 121 p, 1980. EDGINGTON, L. V., KLEW, K. L. Fungitoxic spectrum of benzimidazole compounds. Phytopathology 61:42-44,1971. 20 HEWITT, H. G. Fungicides in crop protection. CAB International, 1998. Chapter 4. Fungicide Performance. P 87- 153. HORSFALL, J. G. Fungicides and their action. Waltham Chronica Botanica Company, 1945. 239p. KIMATI, H.; AMORIN, L.; REZENDE, J. A. M.; FILHO, A. B.; CAMARGO, L. E. A. Manual de Fitopatologia: Doenças das Plantas Cultivadas, 4ª Edição. Editora Agronômica Ceres Ltda, São Paulo, 2005. 666p. LENZ, G. (2010) Effect of drops spectra and leaflets age on the fungicides absorption rate in soybean. Master Dissertation - Graduate Program in Agricultural Engineer. Federal University of Santa Maria, RS, Brazil. MACHADO, J.C. Patologia de sementes: fundamentos e aplicações. Brasília: Ministério da Educação. Lavras: ESAL/FAEPE, 106 p, 1988. MADALOSSO M. G. (2007) Row spacing and spray nozzle in the Phakopsora pachyrhizi Sidow control. Master Dissertation - Graduate Program in Agricultural Engineer. Federal University of Santa Maria, RS, Brazil. MARSH, R. W. Systemic fungicides. 2º ed. London: Longman 1977. 401.p. McGEE, D.C. Soybean diseases: a reference source for seed technologists. St. Paul, APS Press, 1992. NENE, Y. L.; THAPLIYAL, P. N. Fungicides in plant disease control. 2ºed. New Delhi: Oxford & IBH Publishing, 1979. 507p. REIS, E. M.; FORCELINI, C. A.; REIS, A. C. Manual de Fungicidas: guia para o controle químico de doenças de plantas, 4ª Edição. Insular, Florianopólis, 2001. 176p. SHARVELLE, E. G. Chemical control of plant diseases. Lafayette: Purdue University, 1969. 340p. SHARVELLE, E. G. The nature and uses of modern fungicides. Minneapolis: Burgess Publishing Company, 1961. 308p. TORGESON, D. C. Fungicides: an advanced treatise. New York: Academic Press, 1967/1968. 2v.
Compartilhar