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Ditadura Militar: o período de mudança constitucional, autoritarismo e democracia no Brasil pós-1964.

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1 
 
 
 
 
 
Ditadura Militar: O período de mudança constitucional, 
autoritarismo e democracia no Brasil pós-1964. 
 1º período de Direito – UFERSA Edição exclusiva – 10 de maio de 2017 
 
2 
 
 
SEÇÕES 
Imagens históricas ....................................... 2 
Apresentação da Revista ............................. 3 
Visão introdutória ....................................... 4 
Engenharia constitucional do Regime: 
contexto e manobras ................................... 6 
Uma Constituição para (pára) a Revolução? 
....................................................................... 9 
Processo histórico que viabilizou a 
convocação da Assembleia Nacional 
Constituinte ................................................. 12 
Debate acerca da forma de convocação 
Constituinte ................................................ 15 
Processo de convocação da Constituinte 
....................................................................... 16 
O legado do Processo Constituinte ........... 19 
Processos de Reforma ................................ 20 
Revisão Constitucional de 1993/1994 ....... 21 
O Governo de Fernando Henrique Cardoso 
e as sugestões de mudança da Constituição 
de 1988 ......................................................... 22 
Ideias finais ................................................. 23 
Anexos ......................................................... 26 
 
 
 
 
Assinatura do Ato Institucional nº 1 por Costa e Silva 
Passeata dos Cem Mil contra o Regime Militar 
Movimento exigindo as eleições diretas (Diretas Já!) 
Assembleia Nacional Constituinte 
Discurso de Jango na Central do Brasil 
3 
 
 
Apresentação 
Esta revista de edição exclusiva surgiu 
a partir da ideia dos estudantes do 
primeiro período de Direito da 
Universidade Federal Rural do 
Semiárido abordarem de forma mais 
criativa e dinâmica o trabalho exigido 
pelo professor Me. Dr. Rafael Lamera 
Giesta Cabral, da disciplina de História 
do Direito. Com isso, o tema aqui 
trabalhado estudará a Ditadura Militar 
no Brasil e o período pós-1964, tendo 
como embasamento principal a obra de 
Leonardo Augusto de Andrade 
Barbosa, "História Constitucional 
Brasileira", a partir das investigações e 
estudos da "Mudança constitucional, 
autoritarismo e democracia no Brasil 
pós-1964". Assim, serão feitos os 
recortes principais da sua honrosa tese, 
a partir dos pontos de vista analítico e 
crítico, podendo então construir uma 
análise da época não só sob a 
perspectiva histórica, mas também sob 
a visão do Direito. 
 
 
4 
 
VISÃO INTRODUTÓRIA 
Em sua introdução, Leonardo 
Barbosa explica primeiramente 
a distinção que há entre 
constitucionalismo e Constituição. Partindo 
da análise que o constitucionalismo não 
possui uma definição verdadeira, mas se 
estrutura a partir de pelo menos três 
existências, que são elas: A imposição de 
limites ao poder do governo; adesão ao 
princípio do Estado de direito; e a proteção 
ao direitos fundamentais. Normalmente, 
detectamos constitucionalismo e 
Constituição, porém há Constituições que 
não satisfazem as demandas do 
constitucionalismo. Ou seja, às exigências 
que, como será mostrado mais à frente, 
foram violadas no Regime Militar. 
Mostrando também que "ao longo do século 
XX regimes autoritários valeram-se 
largamente de constituições em processo de 
institucionalização" (BARBOSA, 2012, p. 
17). Ressaltando que Constituições não só 
são incapazes de evitar a invasão do 
autoritarismo como também podem ser 
amplamente utilizadas por regimes 
autoritários. 
 
Direito e Política 
 A obra de Leonardo aborda de 
maneira ampla, como as relações entre 
Direito e Política impactaram no processo 
de mudança constitucional no Brasil pós-
1964. Nessa síntese, ele inicia partindo da 
hipótese de que as alterações nos 
procedimentos especiais de reforma 
constitucional apontam para momentos em 
que se reorganiza essa relação. As 
Constituições modernas, de um ponto de 
vista sociológico, estabelecem limites entre 
Direito e Política, fixam regras por meio das 
quais um sistema provoca o outro, 
permitindo, ao mesmo tempo, que eles 
permaneçam distintos. 
Em resumo, a função da Política é a 
produção de decisões coletivamente 
vinculantes, ela fornece ao direito uma 
organização institucional dotada de 
coercibilidade. Enquanto a função do 
Direito, é a estabilização de expectativas 
comportamentais, oferecendo à política 
justificação normativa, permitindo assim 
que ela se apresente não como mero 
arbítrio, mas como poder. O resultado de 
um exemplo dessa explicação é o contexto 
da Ditadura. 
Partindo dessa premissa, isso sugere 
que regimes autoritários, ao adotar ou 
mesmo manter uma determinada 
Constituição, buscam dessa forma construir 
uma narrativa de legitimidade. 
Uma explicação sobre isso diz respeito a 
narrativa em que o Direito não apresenta 
para os regimes militares apenas uma 
"solução mágica" para obter apoio ou até 
prejudicar oposição. De acordo com 
Barbosa (2012), para que o Direito possa 
funcionar como reserva de autoridade 
política de maneira admissível, é preciso 
que haja primeiramente condições de 
separar Direito e arbítrio, ou seja, 
diferenciar entre as normas vigentes e a 
vontade política que governa. No decorrer 
do texto é possível notar que essa analogia 
estará presente na maior parte do período, 
pois não apenas o direito foi violado 
“A ditadura mais 
descarada adora leis.” - 
Vladimir Palmeira, em 1968, durante a 
Passeata dos Cem Mil 
5 
 
abertamente, como foi usado como forma 
de "legitimar" o poder, quando sua função 
era limitá-lo. 
 
Autoritarismo e Democracia são 
opostos? 
Com base nesse contexto, sugere-se 
que regimes autoritários pagam um preço 
pela manutenção - ainda que deficientes - de 
instituições típicas de um Estado de direito. 
Apesar de seu poder para funcionar em prol 
da democracia em regimes ditatoriais, o 
Direito pode ainda ser usado em contextos 
autoritários. Isso reafirma que seu uso 
apresenta-se de variadas formas, o que não 
implica na anulação de sua função ou 
definição. 
Portanto, o potencial emancipatório 
do constitucionalismo pode se afirmar em 
regimes autoritários, mas a peculiaridade 
excludente e legitimadora do status quo do 
Direito pode se apresentar também em 
regimes democráticos. É importante 
salientar que "o pensamento autoritário é, 
mais que antiliberal, anticonstitucional, e 
não apenas contrário à concepção liberal de 
Constituição" (BARBOSA, 2012, p. 23). 
Para esse pensamento interessa a unidade, a 
identidade e a homogeneidade. Enquanto 
instituições democráticas, por sua vez, 
encarnam a "essência" do povo. Não se 
fundindo por um ato de razão, mas por uma 
vontade que expressa opção por um modo 
de vida e de organização política concretos. 
Barbosa ressalta ainda que no Brasil, 
durante toda a Ditadura Militar, não só 
regras destinadas a reger a Constituição 
foram várias vezes modificadas, como 
também atos institucionais conviveram com 
normas constitucionais durante grande parte 
do período. Nessa linha, um importante 
esclarecimento, abordado pelo autor, é que 
o direito à memória e à verdade jamais será 
o direito a um saber total e final sobre o 
passado, mas a chance de se exigir que a 
história institucional seja pensada também a 
partir de informações ocultadas ou 
propositalmente "esquecidas".Dando veracidade em suas palavras: 
"para compreender o permanente embate 
entre democracia e autoritarismo em nossa 
cultura constitucional, é necessário olhar 
para a história". Portanto, "a história não é 
um repositório de fatos extraídos do 
passado, mas um elemento constitutivo da 
experiência presente" (BARBOSA, 2012, p. 
27, 42) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
ENGENHARIA 
CONSTITUCIONAL DO 
REGIME: CONTEXTO E 
MANOBRAS 
 
Contexto 
Além da estabilidade governamental 
comprometida desde o seu pré-governo, 
Jango não dispunha de apoio parlamentar 
no Congresso Nacional para aprovar seus 
projetos políticos, econômicos e sociais. 
Haviam ainda inúmeros envolvidos visando 
combater seu governo, dentre eles, algumas 
instituições como a Federação das 
Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) 
e o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais 
(IPES). Este último participou ativamente 
de manobras que culminaram no golpe, 
constituindo uma articulação da elite que, 
dentre suas ações, destacaram-se as famosas 
campanhas anticomunistas vinculadas nos 
meios de comunicação em massa bem como 
o financiamento de políticos que custou 
milhares de dólares nas eleições de 1962. A 
Escola Superior de Guerra também foi 
decisiva já que pregava a teoria da “guerra 
interna”, ou seja, a ameaça principal não 
viria de invasões externas, mas dos 
sindicatos de esquerda, estudantes, 
intelectuais, professores ou qualquer 
possível simpatizante com as ideias 
comunistas. 
Evidentemente, nesse clima instável 
havia uma forte polarização, a qual se 
tornava notória em inúmeros momentos, 
principalmente no embate ideológico 
observado entre as duas grandes 
mobilizações que houve na época: A 
marcha da família com Deus pela liberdade 
(série de marchas a favor da intervenção 
militar) e o comício de Jango na Central do 
Brasil. Os golpistas tinham um forte aliado 
que seria decisivo para impulsionar o apoio 
da população: A imprensa. Diversos 
periódicos como Jornal do Brasil, Folha de 
São Paulo, O Globo e mais adiante, 
emissoras de televisão, foram grandes 
aliadas dos militares. 
Além da mídia, grande parte da classe 
política, a Igreja Católica e a OAB também 
se manifestaram favoráveis aos militares. 
Como se pode ver, a ditadura não ocorreu 
por acidente; ela foi fruto de uma verdadeira 
construção histórico-social. Assim, diante 
de todo esse apoio, não é tão surpreendente 
o fato de que o período entre 1964 a 1988 
praticamente não foi debatido até passados 
em média 30 anos do Regime. Como 
Leonardo Barbosa traz à tona de forma 
provocativa e em referência a um artigo 
sobre memórias da ditadura, esse cômodo 
esquecimento encaixa-se perfeitamente na 
Diário de Notícias (Rio), 2 de Abril de 1964: 
''Marinha caça Goulart''. ''Ibrahim Sued informa: É 
o fim do comunismo no Brasil.'' 
7 
 
citação de Ernst Renan: “A essência de uma 
nação (...) é que todos sejam capazes de 
esquecer muitas coisas”. (2004, p.29). 
 
Manobra do discurso constitucional 
autoritário 
Comumente, quando se discute sobre 
ditaduras bem como as proporções que estas 
costumam alcançar, surgem 
questionamentos sobre como foi possível 
chegar àquilo, ou se ninguém tomou atitude 
alguma para impedir. Bem, como visto no 
decorrer da obra “História Constitucional 
Brasileira”, os militares assumiram o poder 
afirmando que estavam começando uma 
Revolução para manter a legitimidade do 
país e protegê-lo da ameaça de uma ditadura 
comunista. Assim, como seria contraditório 
derrubar a Constituição logo que tomassem 
o poder (já que o compromisso firmado era 
em manter a legalidade), decidiram então 
manter a Constituição de 1946. Dessa 
forma, seria necessário um subterfúgio que 
os permitisse deterem o poder 
autoritariamente sem empecilhos. Como 
seria possível conseguir uma legalidade 
autoritária? Tal reforma seria golpe ou 
realmente uma revolução? Leonardo 
Barbosa traz essa diferenciação 
sucintamente em sua obra de forma a nos 
possibilitar entender que: 
Revolução: Trata-se de uma quebra, 
um novo começo. Um acontecimento ou 
processo que rompe com a legalidade, mas 
que se legitima por si só. É empregada 
buscando uma forma de governo 
completamente diferente. 
Reforma: Apesar de, assim como a 
Revolução, tratar-se de meios de mudanças 
sociais, se opõem à medida que a Revolução 
geralmente tem no Estado o objeto da 
mudança, enquanto na Reforma, o Estado 
seria o sujeito dela, promovendo 
transformações por intermédio de, por 
exemplo, aprovação de emendas. 
Golpe de estado: Prevalecem os 
interesses de uma pessoa ou pequeno grupo 
que ascende ao poder, podendo tomar para 
si até mesmo atribuições do Poder 
Legislativo e Judiciário a fim de legalizar 
seus atos. 
Apesar do discurso atraente, estava 
cada vez mais nítido que mesmo mantida a 
Constituição, esta estava sendo violada 
desde o começo da “Revolução”, pois Jango 
ainda estava no país quando a vaga à 
Presidência foi declarada. Diante das 
inúmeras contrariedades à Carta que ainda 
estaria por vir, seria cada vez mais difícil 
tornar plausível que o movimento tratava-se 
de uma “Revolução” sem o auxílio de um 
código jurídico que o legitimasse. E foi 
partindo dessa necessidade que iria revelar-
se a engenhosidade criativa dos militares 
com os Atos Institucionais e a fachada 
democrática. 
 
Ato institucional nº 1 (9 de abril de 1964) 
O AI-1 (que seria o único, só 
recebendo enumeração, portanto após a 
institucionalização do AI-2) era composto 
por 11 artigos; foi assinado pelos 
comandantes da Marinha, Exército e 
Aeronáutica que formavam o Comando 
Supremo da Revolução e redigido por 
Francisco Campos (responsável pela 
Constituição autoritária de 1937). 
Dentre suas principais medidas, 
destacam-se as eleições indiretas para 
presidência e vice presidência (o mandato 
dessas eleições expiraria junto ao próprio 
Ato); direito ao presidente de suspender 
direitos políticos; atribuía ao presidente a 
8 
 
prerrogativa de propor emendas à 
Constituição e que essas emendas teriam 
regra excepcional de apreciação (o que 
evidenciava que o interesse não era em 
revolucionar mas em reformar sem 
enfrentar maiores dificuldades). 
No dia seguinte à divulgação do AI, a 
junta militar divulgou a primeira lista- com 
mais de 100 nomes- dos atingidos pela 
cassação dos direitos políticos e como não 
tinham direito à defesa, vários desses 
acusados partiram para o exílio. Mesmo 
com essas medidas de impacto, o governo 
militar seguia sua manobra do discurso, 
assegurando que a “Revolução” não 
pretendia radicalizar-se. 
 
Ato institucional n° 2 (27 de outubro de 
1965) 
Até o AI-2 o trabalho militar 
praticamente se resumia a afastar a questão 
sucessória do governo de Castello Branco. 
Começaram então a se preocupar com as 
eleições diretas para governador. Nesse 
contexto, destacam-se então as novidades 
trazidas com a Emenda 14 que estabelecia, 
dentre outras coisas, que os candidatos a 
governador possuíssem domicílio eleitoral 
de pelo menos 4 anos no estado em que 
iriam concorrer; além disso, possibilitava 
que outros casos de inelegibilidade fossem 
definidos. Ficou claro que essas regras eram 
apenas para dificultar a vitória dos 
candidatos de oposição. No entanto, mesmo 
com tais medidas, os militares foram 
derrotados em Minas Gerais e na 
Guanabara, o que abriu os olhos dos 
militares de que a derrota seria bastante 
provávelem caso de eleições diretas para 
presidência. Essa constatação, somada à 
crescente impopularidade do governo, à 
recessão e às tensões entre os militares e 
Castello, levaram a edição do AI-2. 
Composto por 33 artigos, o Ato 
definiu de forma autoritária os termos do 
seu antecessor, estabelecendo de vez as 
eleições indiretas para presidência. Dentre 
suas principais medidas destacam-se ainda 
Costa e Silva edita o Ato Institucional nº 1 (AI-1). 
Ele permite a cassação de mandatos e a suspensão de 
direitos políticos. Também são marcadas eleições 
indiretas em dois dias para Presidência e vice-
presidência da República. (09/04/64) 
Jornal Folha de S. Paulo, em 27 de Outubro de 1965, 
divulgando a imposição do Ato Institucional nº 2. 
9 
 
o fim dos partidos políticos, o aumento do 
número de ministros do STF (que teria mais 
5 ministros, os quais possuíam afinidades 
militares), o presidente poderia decretar 
estado de sítio por 180 dias sem consulta 
prévia do congresso, baixar decretos de lei, 
demitir funcionários civis ou militares etc. 
Estava claro para os militares que os 
maiores riscos ao regime não estavam no 
Legislativo nem no Judiciário, mas nas 
urnas. Por isso, o AI-2 tratou de abolir as 
eleições diretas para presidência. 
 
Ato institucional n°3 (5 de fevereiro de 
1966) 
A solução para o problema da 
presidência foi utilizada para as eleições de 
1966 ao governo dos estados. O AI-3 era 
composto por 7 artigos e sucinto em seu 
preâmbulo, afirmando ser imprescindível 
que se estendesse a eleição indireta para os 
governadores e seus vices. Além disso, 
estabelecia que os prefeitos das capitais 
fossem nomeados pelo governador por 
motivos de segurança nacional e firmava o 
calendário das eleições. 
 
Portanto, como se pode observar, no 
decorrer dessas primeiras manobras da 
engenharia constitucional militar para 
firmar sua legalidade autoritária, houveram 
muitas falhas, contradições e formação de 
problemas advindos das próprias escolhas 
deles. De modo geral, pode-se analisar a 
gênese desses problemas (além do fato de 
não ter sido uma Revolução) com base na 
observação de Leonardo Barbosa de que em 
movimentos, como uma verdadeira 
Revolução, os objetivos não são alcançados 
ao longo do processo, mas a partir do 
desenvolvimento de uma ordem política e 
jurídica que tal processo se limita a 
inaugurar. Portanto, a fundação de planos e 
sua manutenção devem andar juntos, algo 
que o Regime foi incapaz de perceber e 
elaborar. 
 
UMA CONSTITUIÇÃO PARA 
(PÁRA) A REVOLUÇÃO? 
 
É imprescindível dentro desse 
contexto entender o uso do termo 
Revolução, forma pela qual os militares 
intitulavam o período vigente, já que a 
expressão Golpe Militar só começa a ser 
usada no final do governo ditatorial. O 
termo golpe traz consigo a ideia de 
ilegitimidade e violência, é importante 
destacar que este não se limita ao Estado, 
mas afeta de uma maneira geral toda a 
sociedade. 
Assim, neste percurso, o ponto 
máximo desta discussão é entender como as 
leis, e sobretudo a nossa Constituição, 
contribuíram com a Revolução - se 
contribuíram para a Revolução, ou para 
parar a Revolução. Assim nos deteremos a 
explicações sobre esta “Revolução” em 
curso, o uso feito pela Constituição e a 
relação de ambas neste contexto. 
Após o golpe de 1964, é notório que a 
Constituição transformou-se em meras 
letras mortas nas mãos dos governantes 
militares, pois a decretação dos Atos 
Institucionais foram sobrepostas à própria 
Constituição. Diante disso, pôde ser 
observado o endurecimento do Regime 
Militar, já que eram os Atos Institucionais 
que possuíam força normativa. 
10 
 
Constituição e Revolução são duas 
palavras antagônicas, não é possível que as 
duas caminhem juntas de forma 
harmoniosa. Afirmar a Constituição 
significa necessariamente pôr fim à 
revolução (ZAGREBELSKY, 2005 p. 39 
apud BARBOSA, 2012, p. 98). Assim, 
podemos inferir que a Constituição 
colocaria fim à revolução, desde que a Carta 
Magna fosse respeitada, e não burlada da 
forma como foi. Os militares já pensavam 
em uma nova Constituição, a fim de 
incorporar a esta todos os atos institucionais 
já declarados e efetivar um novo 
ordenamento jurídico, com os ideais 
militares. 
 
Ato institucional nº 4 (12 de dezembro 
de 1966) 
 O Ato Institucional nº 4, convocou o 
Congresso Nacional para discussão, 
votação e promulgação do Projeto de 
Constituição, apresentado pelo presidente 
da República. Com o AI-4 o governo 
adquiriu poderes para produzir uma Nova 
Constituição, cujo o principal objetivo era 
fortalecer o poder Executivo e enfraquecer 
o Legislativo e o Judiciário. 
 
A Constituição de 1967 
Com a Constituição de 1967, os 
militares tiveram a oportunidade de inserir 
na Constituição os textos normativos das 
emendas constitucionais e os atos 
institucionais, mesmo constatando a 
divergência destes com os princípios da 
Constituição, a ideia era estar sempre 
resguardados pelas leis, na verdade por uma 
legislação de exceção. Segundo Barbosa: 
 
 
A Constituição passou a ser 
manobrada de acordo com a vontade dos 
militares, usada a partir de seus interesses, 
mesmo que estes ferissem a essência da 
Constituição. 
Diante disso, governar já não era mais 
agir dentro da lei, mas sim dirigir as 
próprias leis que iriam lhes proporcionar 
mais autonomia para governar a seu próprio 
favor. Segundo Barbosa (2012, p. 107), “a 
nova Constituição se apresentava como 
consolidação do compromisso do Regime 
Militar com o Estado de direito, mesmo que 
brotasse de uma prática que negava um por 
um dos seus pressupostos.” 
“O primeiro período militar buscou reduzir a 
Constituição a um instrumento do governo e para 
o governo, maquiando em tons revolucionários 
uma agenda desenganadamente reformista. As 
amarras ao exercício do poder foram salapadas: 
direitos fundamentais (como o direito de eleger 
seus representantes máximos ou a inafastabilidade 
da jurisdição), solenemente ignorados. A 
domesticação da minoria parlamentar somou-se à 
desnecessidade de formação da maioria para a 
gestão legislativa cotidiana. A independência do 
judiciário foi severamente mitigada por meio da 
interferência direta na composição e competência 
dos tribunais.” (BARBOSA, 2012, p. 105) 
 
Jornal "O Globo" (Rio) divulga em manchete, no dia 
25 de Janeiro de 1967, a nova Constituição. 
11 
 
A Constituição de 1967, diferente de 
todas as anteriores (1891, 1934, 1946) não 
foi analisada como deveria, tendo sido 
apreciada de forma precária e em 
desconformidade com os princípios 
necessários. 
 
O rápido aprofundamento da ditadura 
Como foi visto, a Constituição de 
1967, legitimava o regime iniciado pelo 
golpe de 1964, concentrava os poderes no 
Executivo, abandonava a fachada 
democrática e formalizava de uma vez por 
todas a Ditadura Militar. 
Costa e Silva já assumira sob a 
vigência da nova Constituição, e o clima 
passaria de aparentemente tranquilo para 
uma tensão até então nunca vista, a 
oposição pedia a revisão da obra legislativa 
de 1967, pois entendia que essa não 
revogava os atos institucionais, e esses 
ainda tinham uma força de lei que estaria 
acima da carta constitucional. 
Vários problemas começariam a vir à 
tona e a ganhar visibilidade, dentre eles a 
redução de renda da população, o que 
ocasionou insatisfação salarial e acabou 
sendo um fator contribuinte para a explosão 
de várias greves no país. Costae Silva já se 
via pressionado. 
Um outro grande destaque foi 
encabeçado pelo movimento estudantil, que 
vinha ganhando visibilidade e que foi um 
importante meio de mobilização social 
contra a ditadura. O movimento dispunha 
de várias organizações, sendo a União 
Nacional dos Estudantes – UNE a mais 
significativa, e que levantavam sua bandeira 
de luta contra a ditadura e a repressão 
policial. 
A repressão policial ao movimento 
estudantil acabou causando a morte de um 
estudante, Edson Luís de Lima Souto, de 
apenas dezessete anos, que acabou 
desencadeando uma série de protestos 
contra a Ditadura, dentre eles a Passeata dos 
Cem Mil, que aconteceu no Rio de Janeiro 
e foi considerada a maior manifestação 
estudantil durante a ditadura. 
Estudantes protestam na Cinelândia (RJ) pela morte 
de Edson Luís. 
Os problemas para o governo não 
paravam por aí, o número de estudantes que 
se interessaram pela academia das Agulhas 
Negras caíra drasticamente, a tensão 
sindical, política, estudantil e policial já 
levara o presidente Costa e Silva a decretar 
o estado de sítio. O suplício maior viria na 
sequência, com a decretação do AI-5. 
 
A foto de Evandro Teixeira na passeata dos Cem Mil 
marcou uma época. 
12 
 
Ato institucional nº 5 (13 de dezembro de 
1968) 
O Ato Institucional nº 5 é considerado 
o pior de todos ao atos, com ele se dá o ápice 
da ditadura. Tal imposição suspende a 
garantia do habeas corpus para 
determinados crimes; dispõe sobre os 
poderes do Presidente da República de 
decretar: Estado de Sítio, nos casos 
previstos na Constituição Federal de 1967; 
permite a intervenção federal, sem os 
limites constitucionais; aborda sobre a 
suspensão de direitos políticos e restrição ao 
exercício de qualquer direito público ou 
privado; permite a cassação de mandatos 
eletivos; versa sobre o recesso do 
Congresso Nacional, das Assembleias 
Legislativas e das Câmaras de Vereadores; 
ele exclui da apreciação judicial atos 
praticados de acordo com suas normas e 
Atos Complementares decorrentes; e dá 
outras providências. 
Com o AI-5 vem à tona a repressão 
generalizada e a quase paralização da 
atividade política institucional. Segundo 
Barbosa (2012), com o AI-5 foram 
aplicadas mais de 1500 sanções entre 
suspensão e cassação de mandatos, 
aposentadoria, reforma, destituição e 
outros, algumas delas atingindo, inclusive, 
o Judiciário. 
O AI-5 produziu várias ações 
arbitrárias e de efeitos duradouros. Foi o 
período mais duro do Regime Militar, 
marcado pela suspensão e alteração das 
normas constitucionais, pela suspensão de 
direitos políticos e a restrição de exercício 
de qualquer direito. Neste contexto o 
Direito fica a serviço da política, ou melhor, 
a serviço de quem detém o poder em suas 
mãos e dita as normas, desrespeitando todos 
os seus princípios, criando assim uma 
legislação que atende seus próprios 
interesses e que é usada como um 
instrumento de quem tem o poder. 
 
PROCESSO HISTÓRICO QUE 
VIABILIZOU A CONVOCAÇÃO 
DA ASSEMBLEIA NACIONAL 
CONSTITUINTE 
É certo que a primeira manifestação 
pública em favor de uma Constituinte, após 
o golpe de 64, aconteceu em julho de 1971, 
na cidade de Recife, onde o Movimento 
Democrático Brasileiro (MDB) realizou um 
seminário de estudos e debates acerca da 
realidade brasileira da época. Nesse 
encontro, líderes do movimento 
pressionaram a direção do partido por uma 
ação mais agressiva de oposição ao regime. 
No entanto, os políticos conhecidos como 
"moderados" não concordaram com a 
proposta e acabaram colocando a ideia 
abaixo, temendo uma reação negativa do 
governo de Médici. Anos depois, o MDB 
voltou a discutir a convocação de uma 
Constituinte. Dessa vez, o partido entraria 
de vez na luta pela redemocratização do 
Brasil. 
 
 
Jornal carioca "A Última Hora" publica no dia 
seguinte (14 de dezembro de 1968), em manchete, a 
edição do AI-5. 
13 
 
O enfraquecimento do governo militar 
Em 1974, já no governo do general 
Ernesto Geisel, iniciou-se o projeto de 
abertura “lenta, gradual e segura”, que tinha 
como principal objetivo retirar os militares 
do poder e repassa-lo ao povo, em um 
processo demorado e que não permitia 
revogar as medidas autoritárias que haviam 
sido impostas pelo regime. Ainda em 74, a 
situação política mudou totalmente após o 
expressivo resultado do MDB nas eleições, 
depois de um período em que os candidatos 
da oposição (MDB) percorreram o país 
pedindo apoio dos civis contra o Ato 
Institucional nº 5. Visto que na época era 
proibido ter opiniões contrárias ao governo, 
o partido obteve grande apoio da sociedade 
contra os militares. 
 
Medidas utilizadas por Geisel para 
recolocar o governo em vantagem 
A reação governista começou pela 
mudança das regras do pleito municipal de 
1976, através da Lei nº 6.639 (Lei Falcão), 
a qual restringia a propaganda eleitoral 
gratuita em rádio e TV. Contudo, não foi 
suficiente para parar o crescimento da 
oposição, e nos resultados das eleições de 
1976, o MDB obteve maioria expressiva 
nos principais centros econômicos do 
Brasil; e a Arena (Aliança Renovadora 
Nacional) venceu nas regiões de menor 
desenvolvimento econômico. O governo 
não estava preparado para sofrer uma nova 
derrota nas eleições diretas para governador 
em 1978. Como a maioria no Congresso era 
emedebista, não havia possibilidades de o 
governo aprovar alguma medida para frear 
a oposição, então o presidente Geisel 
decidiu tomar algumas atitudes para frear a 
oposição. A principal medida utilizada foi 
se valer da prerrogativa nº 2 do Ato 
Institucional nº 5, que concedia o poder ao 
presidente de decretar recesso no Congresso 
e passar a legislar em todas as matérias. 
 
O Pacote de Abril 
O "Jornal do Brasil" traz em sua manchete a reforma 
política de Geisel, publicado em 2 de abril de 1977. 
 
Utilizando-se dos poderes concedidos 
pelo AI-5, Geisel baixou o “Pacote de 
Abril”. Entre as medidas impostas 
destacavam-se a extensão da Lei Falcão 
para as eleições de 1978; a terça parte do 
Senado seria eleita indiretamente; a 
alteração da composição do Colégio 
Eleitoral que elegeria o sucessor de Geisel; 
a definição do mandato presidencial em seis 
anos; e a redução, para maioria absoluta, do 
quórum de aprovação de emendas 
constitucionais. 
As respostas às medidas adotadas por 
Geisel não se limitaram ao âmbito político-
partidário, e resultou na mobilização de 
setores organizados da sociedade civil, que 
juntamente ao MBD e outras instituições de 
grande relevância no país lutaram pela volta 
das eleições diretas, bem como o fim do 
Regime Militar e, consequentemente, a 
volta da democracia. Com isso, o MDB 
adotou a luta pela convocação de uma 
Constituinte como sua principal bandeira. A 
situação ficou desfavorável ao governo, que 
através da “Missão Portela”, decretou o fim 
14 
 
do AI-5; o restabelecimento do habeas-
corpus; o término das cassações sumárias e 
do poder do Executivo de decretar o recesso 
do Congresso. O governo adotou essas 
medidas para manter sob controle a 
transição que estava ameaçada com o 
crescimento dos movimentos em favor da 
Constituinte. 
Para finalizar o período histórico que 
culminou com a convocação da 
Constituinte, é importante mencionar dois 
movimentos que demonstraram grande 
poder de mobilização popular no período de 
redemocratização: A luta pela anistia e as 
manifestações pelas eleições diretas. 
Em1979, Figueiredo entra no 
governo de forma indireta e declara que sua 
intenção é de fazer do Brasil uma 
democracia. Com o plano de distensão 
ainda de pé, as alterações institucionais 
prosseguiram. No mesmo ano, Figueiredo 
encaminha o Projeto de Lei nº 14, que 
anistiava parte dos punidos por ato de 
exceção ao longo do Regime Militar, 
fazendo parte do processo de revogação dos 
atos institucionais. Apesar de haver, 
naquela época, uma grande mobilização em 
favor da anistia, a forma com que ela foi 
proposta não satisfez os setores organizados 
da sociedade, que adotaram uma nova 
bandeira: a “anistia ampla, geral e 
irrestrita”. Em 1977, Hermes Lima 
afirmava: “O passo fundamental para 
chegarmos à Constituinte é a anistia. Sem 
anistia não é possível nem chegarmos à 
Constituinte nem abrirmos um ambiente 
para que ela possa seguir o seu caminho” 
(LIMA, 1977, p. 8 apud BARBOSA, 2012, 
p. 177). 
Além da luta pela “anistia ampla, 
geral e irrestrita”, outro movimento teve 
grande importância no processo de 
convocação da ANC: as Diretas já. O 
movimento reunia a sociedade em busca da 
redemocratização do país através da volta 
das eleições diretas. As Diretas ganharam 
bastante força em 1983, quando se tornou o 
centro das atenções da política brasileira. 
Ainda no mesmo ano, foi apresentada a 
proposta de emenda constitucional 
conhecida como “Emenda Dante de 
Oliveira”, que pretendia restabelecer as 
eleições diretas. 
Após a proposta, o primeiro passo do 
movimento foi percorrer o país realizando 
comícios em busca de aumentar a 
mobilização da sociedade com o objetivo de 
fazer a opinião pública agir contra as forças 
políticas. O segundo passo foi o 
monitoramento da votação da emenda no 
Congresso, marcada para o final de abril de 
83. O governo não permitiu que a sessão 
fosse transmitida ao vivo pela televisão, 
entretanto, permitiu a transmissão direta por 
rádio. 
Com isso, os líderes do movimento 
convocaram o público para uma 
manifestação que propunha um desfile em 
torno do Congresso Nacional com seus 
carros buzinando, como um sinal de apoio à 
emenda. O governo, se sentindo intimidado, 
tratou de criar regras para reduzir os riscos 
de manifestações no dia da votação. Em 18 
de abril, Figueiredo editou o Decreto nº 
Comício pelas Diretas Já em Goiânia, junho de 1983. 
15 
 
89.566, que estabelecia medidas de 
emergências na área do Distrito Federal, 
para impedir qualquer deslocamento de 
pessoas em direção ao Congresso. 
A censura imposta pelo governo não 
parou por aí. Logo após limitar 
manifestações na área do Distrito Federal, 
outra providência foi tomada: a criação da 
Resolução nº 1/ME/84, do Comando Militar 
do Planalto, que estabelecia censura às 
telecomunicações no Distrito Federal. 
Qualquer programa noticioso de qualquer 
emissora de rádio ou TV, teria, antes de 
levar ao ar, que submeter-se a aprovação 
das autoridades militares. 
 
A eleição do primeiro presidente civil 
A Emenda Dante de Oliveira foi 
derrotada na Câmara dos Deputados, 
contudo, o impacto causado pela 
mobilização popular em favor do retorno 
das eleições diretas sinalizava que o país 
precisava de uma nova gramática política. 
Portanto, nas eleições de 1985, a população 
que manifestava apoio à volta das eleições 
diretas foram as urnas e elegeram Tancredo 
Neves como presidente, e José Sarney como 
vice. A principal pauta do governo eleito era 
a convocação da Assembleia Nacional 
Constituinte e, mesmo com a morte de 
Tancredo, Sarney não se recusou a cumprir 
o compromisso assumido pela chapa e 
posteriormente colaboraria com a 
convocação da Constituinte. 
 
DEBATE ACERCA DA 
FORMA DE CONVOCAÇÃO 
DA CONSTITUINTE 
Com a eleição de Tancredo Neves e 
José Sarney, a convocação da Assembleia 
Nacional Constituinte chegou ao poder. 
Como foi citado anteriormente, apesar da 
morte de Tancredo, José Sarney cumpriu o 
compromisso e tratou de encaminhar a 
proposta de emenda constitucional para o 
Congresso. Diante disso, surge o debate a 
respeito da forma de convocação da 
Assembleia Nacional Constituinte por meio 
de uma emenda constitucional. 
Em primeiro lugar, a importância da 
convocação da Constituinte por emenda 
constitucional; e em segundo lugar, o 
recurso à emenda constitucional decorrente 
da aprovação do Congresso Nacional. É 
importante saber que as outras constituintes 
que haviam sido convocadas no decorrer da 
história se deram por meio de ato 
monocrático, ou seja, por meio da 
intervenção do presidente da época, sem 
qualquer participação do Poder Legislativo. 
Em outras palavras, o recurso à emenda 
constitucional foi de extrema importância 
para atribuir o poder ao Legislativo, que 
atuaria em conjunto com a sociedade na 
criação da nova Carta. 
Das críticas ao recurso à emenda 
constitucional, é de se destacar o fato do 
constitucionalismo autoritário estar 
presente na nova ordem constitucional. Essa 
posição seria tratada mais adiante, com o 
Tancredo discursa logo após ser eleito presidente da 
República pelo Colégio Eleitoral. 
16 
 
destaque para o que seriam os principais 
problemas da convocação da Constituinte 
por emenda constitucional. Em primeiro 
lugar, as literaturas constituintes produzidas 
por diversos setores da sociedade 
mostravam interesse em romper com a 
ordem autocrática. Não era um desenlace 
com a revolução de 1964, mas sim um 
rompimento das ideias do regime. A 
proposta de emenda não buscava emendar a 
Constituição de 67/69, e sim suplantar a 
ordem constitucional anterior. 
Em segundo lugar, apesar do 
problema supracitado, a convocação pelo 
Poder Legislativo trazia possibilidades 
inovadoras, entre elas, o chamamento à 
participação popular no processo, e não um 
confinamento com o objetivo de debate 
institucional entre os congressistas. Por 
último, a convocação da Constituinte por 
emenda era importante para evitar a quebra 
da ordem constitucional vigente na época, 
mas, que, posteriormente, resultaria na 
perda de eficácia da Constituição de 67/69. 
 
Constituinte Exclusiva 
A apreciação da proposta de Emenda 
Constitucional nº 26 foi marcada por várias 
polêmicas, havendo destaque para uma: A 
ideia de convocação de um órgão diverso do 
Congresso para a realização da 
Constituinte, ou seja, foi proposto a 
realização de uma Constituinte Exclusiva. 
A proposta não teve aprovação por 
parte da maioria, que defendia a tese de que 
o Congresso teria autoridade suficiente para 
falar em nome do povo, sem a necessidade 
de criar um órgão composto por diversas 
pessoas de diferentes áreas para a 
elaboração da nova carta. Com isso, a 
convocação da Constituinte Congressual 
ganhou ainda mais força, entretanto, mais à 
frente, quando ocorreu o desfecho 
institucional da transição para então 
convocar a Assembleia Nacional 
Constituinte, e o presidente José Sarney 
propôs, por meio de emenda à Constituição, 
a concessão de poderes constitucionais ao 
Congresso, sendo lida em 7 de agosto de 
1985, surgiu uma nova proposta por parte 
do relator do processo, Flávio Bierrenbach. 
O substitutivo proposto pelo relator 
apresentava profundas alterações na 
proposta do governo, destacando-se a 
previsão de um plebiscito para que a 
população decidisse o caráter Congressual 
ou Exclusivo da Constituinte. A proposta 
desagradou as lideranças da Aliança 
Democrática, e a sugestão inicial do 
governo se concretizou. Votada no dia 22 de 
novembro do mesmo ano, a EmendaConstitucional nº 26 foi aprovada, dando 
início à Assembleia Nacional Constituinte. 
 
PROCESSO DE 
CONVOCAÇÃO DA 
CONSTITUINTE 
“Vontade de ruptura" que permeou os 
movimentos políticos 
Barbosa define esse período de 
convocação e instalação da Constituinte 
como marco de dúvidas e expectativas. 
Vale comentar que havia ainda muita 
esperança, anseio e perspectiva de futuro e 
durante a apreciação da proposta de emenda 
à Constituição que convocou a Assembleia 
Nacional Constituinte, a forma mais clara 
de materializar essa “vontade de ruptura” 
era a convocação de uma “Constituinte 
exclusiva”. Razão pela qual as forças 
políticas alinhadas ao regime militar 
construíram uma narrativa alternativa, 
17 
 
apoiada em duas palavras de ordem: 
Reconciliação e continuidade. Encadeando 
os eventos associados ao processo de 
convocação da Constituinte de modo a 
apresentá-los sempre como uma benesse, 
nunca como uma conquista. 
Diante disso, haviam muitas 
controvérsias, e alguns parlamentares 
discordavam dessa ideia de ruptura, 
realçando o argumento em que o período 
revolucionário se encerrava por via da 
conciliação e resultado de uma transição 
política. Percebe-se que não só o elemento 
de continuidade estava presente nas 
narrativas históricas desse período, mas o 
desejo por encerrar, finalmente, o ciclo 
revolucionário. 
Vale questionar, por que não 
simplesmente retornaram à carta de 1946? 
Justamente pelo fato de que vários atores 
importantes da redemocratização vieram do 
regime e de sua institucionalização. E era 
nesse fundamento que se encontrava o 
elemento de continuidade, presente no 
processo constituinte assim como o 
elemento de não continuidade. 
Esse persistente discurso de 
continuidade se somava a outros fatores que 
enfraqueciam as esperanças em um 
processo constituinte capaz de libertar-se da 
cultura constitucional e institucional que 
ameaçava confiná-lo. 
Durante esse período, foram 
propostos alguns modelos de anteprojetos 
de Constituição. É possível citar, além da 
derrota da Constituinte exclusiva, o 
funcionamento de uma Comissão 
Provisória de Estudos Constitucionais, 
chamada de Comissão de Notáveis, a qual 
teve um destaque por reunir nomes ilustres 
do Direito Constitucional brasileiro, a 
despeito recebida com críticas, trabalhava 
em um “anteprojeto” de Constituição, e 
como ressalta Barbosa, sequer chegou a ser 
encaminhado oficialmente à Constituinte. 
 
Processo de transição constitucional de 
1987 
Marcado por disputas conjunturais 
entre lideranças parlamentares, mobilização 
social e o efeito da participação popular 
estiveram bem presentes nesse processo, 
como é claramente exposto na obra de 
Leonardo Barbosa, um conjunto de 
acontecimentos que, juntamente ao 
contexto econômico da época, levaram a 
ressaltar as turbulências políticas. Para que 
os trabalhos da Assembleia Nacional 
Constituinte obtivessem “ampla 
representatividade nacional” era necessário 
a colaboração de todos. Sarney enfatizara 
que "o documento continha sugestões dos 
mais diversos setores da sociedade 
brasileira", (BONAVIDES; PAES DE 
ANDRADE, 2002, p. 457 apud 
BARBOSA, 2012, p. 208) o que deu ênfase 
a participação popular e grande atuação e 
interesse da sociedade nesse processo. 
A discussão sobre o funcionamento da 
Constituinte e sobre o sentido de sua 
“soberania” 
Com festa, a Constituinte é instalada. O povo lota a 
Esplanada dos Ministérios em Brasília - 1987. 
18 
 
A ideia de Poder Constituinte remete 
a de soberania popular, porém, foi 
apropriada autoritariamente porque o povo 
precisaria se encarnar em uma instituição 
para poder ter plenos poderes políticos e 
instaurar outro regime. A participação 
social na Constituinte modelou seu caminho 
inaugurando com isso uma nova prática 
constitucional no Brasil. Obtendo 
finalmente o seu espaço no processo de 
elaboração da Constituição de 1988, 
permitindo uma imensa mobilização na 
esfera social e discutindo os principais 
debates constituintes. Rotulando que a 
extensão dos poderes constituintes 
outorgados à assembleia num contexto de 
transição não era uma questão nova no 
Direito Constitucional brasileiro, pois 
discussão semelhante foi posta durante a 
Constituinte de 1946. Na mesma análise, 
em 1987, vivia-se um período de transição, 
“ainda sob a vigência de uma Constituição 
outorgada e uma série de dispositivos 
autoritários” (BARBOSA, 2012, p. 212). 
Havia o grande debate em razão dos 
limites do poder constituinte, a discussão 
que se seguiu em relação a soberania da 
Constituinte seria sobre definir de fato o seu 
papel, levando alguns a temerem o 
resultado disso. Especialmente o PT e o 
PDT, afirmavam que a soberania da 
Constituinte deveria seguir em dois 
sentidos: Um proativo, no qual a assembleia 
poderia regular o processo de transição 
elaborando normas constitucionais e 
infraconstitucionais; e um defensivo, que 
seria o de evitar que qualquer poder 
instituído importunasse o exercício de suas 
concessões. 
Tensão nas relações entre os poderes 
instituídos e o poder constituinte 
É evidente que isso resultou em 
bastantes tensões, pois poucos se 
dispunham a afirmar que a Constituinte 
encontrava-se submetida pela ordem 
constitucional autoritária, porém havia 
pouco interesse em afirmar o contrário. 
Algo que podia ser observado na pressão do 
Executivo sobre a assembleia, gerando mais 
tarde diversas discussões em torno do 
funcionamento da constituinte. 
 
Processo de organização dos trabalhos 
constituintes 
Os componentes da Assembleia 
Constituinte reuniram-se propriamente num 
período de interrupção, crise e transição. 
Segundo Barbosa (2012, p. 215), “nesse 
contexto, sua soberania dificilmente pode 
ser assegurada exclusivamente por fatores 
institucionais e declarações formais de 
onipotência jurídica. Tampouco se 
sustentam pelo recurso à força bruta.” E é a 
partir dessa nova conjuntura democrática 
que a Constituição ressurge exatamente 
para moderar as relações sociais, 
resguardando os ideais de liberdade e 
igualdade. 
Além disso, com o intuito de regular 
e organizar democraticamente os trabalhos 
da Constituinte, além de atribuir 
legitimidade às suas decisões, foi definido – 
após muitas discussões – o seu regimento 
interno. 
 
Centrão: Interesses, objetivos e força 
O Centrão veio a ser um grupo de 
constituintes insatisfeitos com as ideias 
abordadas no projeto de Constituição. Eles 
uniram-se justamente porque o projeto já 
estava chegando ao fim e as ideias 
19 
 
delineadas iam contra as preferências de 
parte significativa do Plenário. Assim, 
como essa situação só poderia ser 
modificada através de uma votação 
nominal com quórum de maioria absoluta, 
houve essa “união”. Portanto, o principal 
objetivo do Centrão baseava-se na 
alteração do regimento e na adoção de 
regras que facilitassem a propositura de 
alternativas ao projeto de Constituição. 
Porém, além disso, havia um 
descontentamento desse grupo em relação 
ao método e trabalho da constituinte, 
juntamente com a falta de compromisso, ao 
permitirem que "dispositivos sem nenhuma 
referência ao processo desenvolvido nas 
subcomissões e comissões temáticas 
fossem a plenário" (BARBOSA, 2012, p 
225), algo que apresentava a insatisfação de 
muitos e o interesse elitista dos grupos 
dominantes. Durante o processo de 
discussão do regimento interno, várias 
emendas pretenderam aprofundar aspossibilidades de colocar os constituintes 
em contato direto com a população. 
 
 
O LEGADO DO PROCESSO 
CONSTITUINTE 
 
A constituinte de 1987-1988 
Na abordagem do livro em questão – 
História Constitucional Brasileira – 
observamos uma ideia conveniente, em que 
Leonardo nos afirma que as regras 
procedimentais funcionam em regimes 
democráticos como garantias da minoria, 
asseverando a participação do povo nos 
debates e tomada de decisões. 
A crença de que a composição da 
Constituinte era majoritariamente 
conservadora (MICHILES, 1989, p. 54 
apud BARBOSA, 2012, p. 238) fortalecia a 
ideia de construção de expedientes 
procedimentais que permitissem a 
mobilização da esfera pública por parte dos 
partidos políticos numericamente 
inferiorizados. Além de tudo, “nenhuma das 
forças políticas presentes na Constituinte 
era capaz de organizar os trabalhos em torno 
de um projeto hegemônico.” (BARBOSA, 
2012, p. 238). 
É necessário ainda destacar um 
trecho no qual o autor nos traz uma ideia 
vital quanto aos processos de 
constitucionalização no decorrer da 
história: 
Processo de transição “lenta, gradual e 
segura” 
Diante disso, a obra nos permite 
refletir a respeito da narrativa oficial que 
visava a nova Constituição como fim do 
ciclo revolucionário, percebido nos 
discursos que se seguiam. O processo de 
transição "lenta, gradual e segura", assim 
chamado por Geisel, trazia consigo à 
reflexão e resumo dos trâmites que 
ocorreram durante todo esse longo 
processo. Barbosa relata que a transição 
“Todas as demais assembleias constituintes da 
história brasileira tinham diante de si a missão de 
traduzir juridicamente um movimento político 
que estabelecera, a priori, sua agenda: a fundação 
de um país independente, a adoção da forma 
republicana de governo, a consagração de um 
Estado centralizador em detrimento do governo 
oligárquico da Primeira República, a retomada do 
constitucionalismo liberal, em consonância com o 
desenlace da Segunda Guerra Mundial e, enfim, a 
institucionalização da ditadura militar.” 
(BARBOSA, 2012, p. 239) 
20 
 
não apresentava ruptura mas sim a 
"continuidade de um projeto já construído" 
(BARBOSA, 2012, p. 239), mostrando 
desde o começo a preocupação em afirmar 
a Constituinte como espaço da ordem e da 
estabilidade. 
Entretanto, como pode-se ver, a 
Constituição de 1988, vigente atualmente, 
demonstra o contrário. Além das 
mobilizações em torno da constituinte no 
Brasil juntamente com o aparecimento de 
demandas sociais, o amplo interesse do 
espaço público nos movimentos de crítica 
ao Estado marcaram de modo a trazer 
mudanças significativas no contexto 
histórico brasileiro. 
Por fim, a crise do Estado Social, os 
movimentos de base e a participação 
popular, somados a outros fatores 
encarnados nesse processo de transição, 
engajaram um série de acontecimentos 
essenciais em pauta para o seu legado. 
 
PROCESSOS DE REFORMA 
A história das mudanças 
constitucionais foi desenvolvida em torno 
de discursos que tinham a finalidade de 
corrigir os excessos de uma Constituição 
que consagra direitos demais, que regula 
demais, tornando o desempenho do governo 
complicado (BARBOSA, 2012). 
A Constituição de 1988 estabeleceu 
dois processos de reforma: A revisão 
constitucional, que foi realizada cinco anos 
após a sua promulgação, prevista no Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias 
(ADCT) e o processo de aprovação de 
Emendas ao texto constitucional. O objetivo 
da revisão e das emendas era justamente 
“corrigir esses excessos” que muitos diziam 
fazer parte da Constituição. 
O governo apresentou a ideia da 
revisão da Constituição como uma das 
medidas necessárias para enfrentar a grave 
crise econômica brasileira. Esse processo 
gerou insatisfação por parte dos 
constituintes. Alguns censuravam essa 
medida, explanando que essa revisão 
enfraqueceria a autoridade da Constituição 
e outros apoiavam esse processo de reforma 
formulada pelo Governo. A primeira 
investida de peso dos reformistas ocorreu 
no Governo Collor e ficou conhecida como 
Emendão. Esse pacote, enquanto primeiro 
esforço revisionista da Constituição de 
1988, representou a tentativa de agregar 
apoio por parte de um Governo desgastado 
pelo fracasso de sua política econômica. 
Mas o Emendão não obteve tanto êxito 
dentro dessas reformas e o processo 
reformista continuou buscando meios de 
articular as mudanças constitucionais. 
O Governo procurava construir 
alternativas que superassem o iminente 
quadro de paralisia política que ameaçava 
sua gestão. Entre as possibilidades que 
começaram a se moldar, a que dispunha de 
maior popularidade era, sem dúvida, a 
antecipação da revisão constitucional. Para 
o governo, uma vantagem da antecipação da 
revisão constitucional era a abertura do 
caminho para a aprovação de alterações 
constitucionais com base em um rito que se 
ajustava às suas possibilidades políticas: 
Quórum de maioria absoluta em sessão 
unicameral. Isto é, não só Senado e Câmara 
deliberariam na mesma oportunidade, mas 
deliberariam como se fossem uma só Casa 
Legislativa. 
A estratégia do governo esbarrava, 
entretanto, em significativa resistência por 
21 
 
parte de partidos oposicionistas e também 
por parte de entidades da sociedade civil 
que haviam desempenhado um papel mais 
ativo ao longo do processo constituinte, 
como a Ordem dos Advogados do Brasil, a 
Associação Brasileira de Imprensa, a 
Confederação Nacional dos Bispos do 
Brasil e a Central Única dos Trabalhadores. 
E tal oposição não se limitava à antecipação 
da revisão, mas estendia-se à própria 
realização da revisão constitucional, 
postura alimentada pela incerteza que 
marcava o debate sobre os limites do poder 
outorgado ao Congresso Revisor. 
A preocupação compartilhada pelas 
entidades da sociedade civil e pelos partidos 
que faziam oposição a Collor, como o PT, o 
PDT e o PCdoB, era que a revisão 
constitucional se convertesse em uma 
ameaça às conquistas obtidas ao longo da 
Constituinte de 1987-1988. O temor de que 
a revisão constitucional implicasse o 
sacrifício de conquistas sociais da 
Constituição de 1988 não era infundado. O 
discurso acerca das dificuldades geradas 
pela Constituição para a “governabilidade” 
se popularizava, expressando a convicção 
de que parte das garantias constitucionais 
referentes ao direito do trabalho e à 
previdência social, por exemplo, 
contribuíam diretamente para piorar o 
desempenho do setor público e privado do 
país. Mesmo diante de tantas críticas e 
resistências com relação a essas reformas, 
em Outubro de 1993 o Congresso Nacional 
instalou os trabalhos da revisão 
constitucional. 
A ideia de que a revisão 
constitucional seria uma alternativa para 
que o Brasil conseguisse contornar a crise 
econômica e a crise política permanecia 
forte, sendo utilizada por alguns como a 
maneira mais viável de reconstituir o país. 
Essa revisão (“reconstituinte”) seria o 
escape para que o colapso econômico-
financeiro brasileiro fosse amenizado. O 
uso da expressão reconstituinte é repleta de 
possibilidades interpretativas. De toda 
forma, os múltiplos sentidos que o termo 
evoca traduzem bem as diversas 
concepções em disputa no Congresso sobre 
a natureza do processo revisional, 
concepções que ora se confrontavam, ora se 
interpenetravam. A ruptura operada na 
história constitucional brasileira pela 
experiência constituinte de 1987-1988 
reside,precisamente, no transbordamento 
do debate constitucional para a esfera 
pública e na construção de mecanismos 
institucionais de participação da sociedade 
civil no processo constituinte. 
No Brasil, observa-se que quando 
existe uma ameaça de crise ou uma crise de 
fato, a Constituição, que é nossa Lei Maior, 
sempre é atacada de alguma forma, gerando 
transtornos com relação à legitimidade da 
mesma. Essas reformas são frutos de 
interesses políticos e da complexidade que 
o texto constitucional possui. Porém, mais 
do que reformar a Constituição, é 
necessário fazer com que se cumpram os 
princípios e as normas nela estabelecidas. O 
descumprimento da ordem estabelecida 
pode possibilitar um grave problema em 
todo o sistema jurídico: A descrença do 
povo nas suas próprias leis, e o que é pior, a 
banalização da própria Constituição, que é 
nossa Lei Máxima, fragilizando-a. 
 
REVISÃO 
CONSTITUCIONAL DE 
1993/1994 
 
22 
 
A revisão constitucional no período 
de 1993-1994 foi entendida como 
necessária para a população pois era um 
processo que – supostamente - corrigiria os 
anacronismos congênitos da Constituição 
de 1988. Porém, tal revisão foi considerada 
por todos um fracasso, pois se deu em um 
período de instabilidade: Estava ocorrendo 
a CPI do orçamento que cassou e renunciou 
vários parlamentares; a apreciação de 
medidas associadas aos planos econômicos 
de estabilização do governo Itamar Franco; 
além da aproximação das próximas eleições 
gerais - Inclusive, as únicas avaliações 
“positivas” remontavam a pronunciamentos 
dos opositores à ideia, que comemoravam a 
falta de resultados. Além disso, após a 
promulgação, o povo reclamava por 
Emendas Constitucionais que tratassem de 
temas como o sistema tributário, o sistema 
eleitoral e a previdência. 
 
 
O GOVERNO DE FERNANDO 
HENRIQUE CARDOSO E AS 
SUGESTÕES DE MUDANÇA 
DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 
 
Em 1995, no início do governo de 
Fernando Henrique 
Cardoso, houveram, só 
naquele ano, três 
sugestões de alteração 
das regras do art. 60. 
Porém, durante o seu 
mandato de oito anos – 
pois o mesmo foi 
reeleito – foram aprovadas 35 emendas 
constitucionais. Tal número de emendas 
aprovadas e suas modificações apenas 
provam que o previsto no art. 60 da 
Constituição não é uma barreira 
insuperável, muito menos um risco sério 
para a “governabilidade”. 
Infelizmente essa comprovação não 
foi o suficiente para encerrar as diversas 
ideias de que novas revisões são necessárias 
para solucionar os problemas do Brasil. 
Como retrata Leonardo Barbosa, existem 
duas características que marcam as 
propostas de alteração dos procedimentos 
de reforma constitucional estabelecidas pela 
Constituição, de 1993 para cá. Primeiro, as 
reformas sempre compõem a agenda do 
governo, independentemente de qual é o 
partido da vez. E, segundo, elas 
normalmente enfraquecem, sem muita 
perspectiva de futuro. 
Outra ideia, veio a propor uma nova 
Assembleia Nacional Constituinte, usando 
como um de seus argumentos o caráter 
analítico da Constituição. Texto analítico 
esse que estimularia alterações, importando 
em uma evidente instabilidade jurídica e na 
sensibilidade da sua força normativa. 
Entretanto, de acordo com Leonardo 
Barbosa (2012, p. 339), a ideia de que “a 
força normativa de uma Constituição 
depende de sua estabilidade é, no mínimo, 
problemática.” 
Um procedimento de aprovação de 
emendas mais rígido, como o da nossa 
Constituição não objetiva pouca mudança, 
apenas que seja mais difícil a aprovação 
dessas. E o sucesso do empreendimento 
constitucional decorre justamente dessa 
abertura da Constituição, no qual é 
permitido a inserção do povo para um 
debate público – como ocorreu na 
constituinte de 1988. 
Não é uma nova revisão 
constitucional que parará as mudanças, pois 
nas sociedades contemporâneas a 
Constituição, que acompanha as mudanças 
de regimes e formas de governo, encontra-
se permanentemente em jogo. 
23 
 
Por fim, o nosso autor prestigiado, 
Leonardo Barbosa, afirma que há uma 
conexão entre Direito e Política que se 
reflete na complementaridade entre 
constitucionalismo e soberania popular, nos 
apresentando, ainda, a ideia de Menelick de 
Carvalho Netto: 
 
 
IDEIAS FINAIS 
É imprescindível destacar o caráter 
historiográfico da obra analisada, que atua 
na busca incessante pelo entendimento da 
atuação do Direito naquela época, além do 
seu impacto no presente. E foi essa forma de 
abordagem que nos habilitou a observar o 
sistema jurídico de outra perspectiva. 
Iniciamos a matéria tratando as 
diversas formas inter-relacionadas de 
modificação ou violação dos procedimentos 
especiais de reforma constitucional 
observados ao longo do período ditatorial. 
São elas, como citadas pelo autor do livro – 
Leonardo Barbosa: 
(a) A alteração das regras de emenda 
constitucional por meio de atos 
institucionais; 
(b) A introdução de regras 
constitucionais no ordenamento 
diretamente por atos institucionais; 
(c) A outorga de emendas 
constitucionais; 
(d) A utilização de emendas 
constitucionais para transpor conteúdos 
normativos já versados em atos 
institucionais para o texto da Constituição; 
(e) A frágil “constitucionalização” do 
regime militar em 1966-67. 
Ainda nessa mesma abordagem, 
podemos destacar a forma pela qual os 
militares superavam os obstáculos que as 
regras antepunham ao regime – manobra 
que se dava, segundo Barbosa (2012, p. 
352), “por meio de medidas excepcionais, 
apoiadas em um discurso reformista 
travestido de revolucionário”. 
Além disso, foi possível observar que, 
naquele período, o Congresso e o Judiciário 
eram problemas para os militares, não 
representando uma simples “fachada” – 
como desejava o governo. Essa dificuldade 
imposta, de acordo com Renato Lemos, 
expressava uma necessidade de legitimação 
da ditadura e de seu projeto político 
institucional, centrado no fortalecimento do 
Executivo (LEMOS, 2004ª, p. 420 apud 
BARBOSA, 2012, p. 353). Mas, não 
deixando de fora, o fato do próprio 
eleitorado não apoiar os militares também 
foi marcante para que o recurso a medidas 
excepcionais fosse indispensável. 
É perceptível a artimanha do Regime 
Militar nesse período, quando eles usaram a 
Constituição como um “instrumento de 
governo”, tornando o conteúdo normativo 
mais permeável às suas vontades, além de 
alterar e quebrar o procedimento especial de 
“Não mais podemos opor como domínios 
antitéticos a ideia de ‘Constituição’ à de 
‘democracia’ ou ‘soberania popular’, pois o 
constitucionalismo só é efetivamente 
constitucional se institucionaliza a democracia, 
o pluralismo, a cidadania de todos, se não o fizer 
é despotismo, autoritarismo; bem como a 
democracia só é democrática se impõe limites 
constitucionais à vontade popular, à vontade da 
maioria, se assim não for estaremos diante de 
uma ditadura, do despotismo, do autoritarismo.” 
(CARVALHO NETTO, 2003b, p. 238 apud 
BARBOSA, 2012, p. 347) 
 
24 
 
reforma. Os militares viam nos atos 
institucionais um amparo para a sua 
reinvindicação de legitimidade, ou pelo 
menos legalidade. Uma evidência dessa 
artimanha foi a adoção do AI-5 como 
medida excepcional, buscando evitar que a 
Constituição servisse contra o governo. 
Posteriormente apresentamos o 
movimento em prol da convocação de uma 
Assembleia Nacional Constituinte, que 
ganhou força justamente no momento em 
que o Pacote de Abril reveloutoda a 
manipulação das regras de reforma 
constitucional. Nas palavras de Leonardo 
Barbosa (2012, p. 355), “o movimento em 
prol da constituinte desde muito cedo 
transbordou os espaços institucionais e 
penetrou na sociedade civil brasileira”. 
É necessário relembrar que essa 
constituinte não foi apenas um acordo entre 
elites, mas sim uma conquista da oposição e 
sociedade. Houveram fatores importantes 
para essa conquista, como: A mobilização 
das Diretas Já; a rejeição da Emenda Dante 
de Oliveira; e a morte do que seria o 
primeiro presidente civil após a ditadura – 
Tancredo Neves. 
 Por não possuir um anteprojeto, os 
constituintes utilizaram de um método de 
trabalho inédito, como afirma Leonardo, 
que tinha como diferencial a abertura para a 
ampla participação popular. 
 
Outro componente, que apreciamos 
por último, foi o período de vigência da 
Constituição de 1988, além do apontamento 
de numerosas tentativas de alteração do 
procedimento especial de reforma 
constitucional, sendo indicado pelo autor 
como uma problemática na relação entre 
Direito e Política. 
É interessante que ao longo de todos 
esses anos de vigência da Constituição, as 
investidas reformistas ainda continuam 
buscando “corrigir” os seus erros 
originários, ao invés de “aumentar e 
desenvolver suas fundações.” (BARBOSA, 
2012, p. 366). E foi essa premissa que 
permitiu uma reflexão sobre tal passado não 
tão distante e os impactos futuros que ele 
proporcionou. 
Com quase 30 anos da sua 
promulgação, a Constituição Federal 
Brasileira já possui 95 Emendas 
Constitucionais. “Isso se dá em razão de ser 
sempre interessante e tentador a qualquer 
governo ampliar sua margem de manobra.” 
(BARBOSA, 2012, p. 366) 
Por último e não menos importante, 
queremos deixar claro uma ideia exposta no 
livro que nos permitiu certificar que durante 
a Ditadura o Direito foi capaz de servir, 
ainda que de forma tímida, como 
instrumento de resistência ao arbítrio. 
 
 
 
 
 
“De toda forma, não há notícia, na história do 
país, de movimento em prol de uma mudança 
constitucional que tenha articulado, ao longo de 
tantos anos, um leque tão vasto de apoio por 
parte de instituições e movimentos tão 
representativos.” (BARBOSA, 2012, p. 356) 
25 
 
 
EXPEDIENTE DA REVISTA 
DIRETORA DE REDAÇÃO: Ana Carolina Mota Souto 
EDITORA: Ana Carolina Mota Souto 
REPÓRTERES: Ana Carolina Mota Souto; Bruno Willis Bezerra 
Rocha; Gildeneide Samantha do Vale Costa; Juliete Dutra de 
Oliveira; Kennia Átara Bezerra Sousa; Vitória Kelly Castro dos 
Santos. 
DESIGNER: Ana Carolina Mota Souto 
REVISORES: Bruno Willis Bezerra Rocha; Gildeneide Samantha do 
Vale Costa; Juliete Dutra de Oliveira; Kennia Átara Bezerra Sousa; 
Vitória Kelly Castro dos Santos. 
COLABORADORES: Bruno Willis Bezerra Rocha; Gildeneide 
Samantha do Vale Costa; Juliete Dutra de Oliveira; Kennia Átara 
Bezerra Sousa; Vitória Kelly Castro dos Santos. 
ILUSTRADORES: Bruno Willis Bezerra Rocha; Gildeneide 
Samantha do Vale Costa; Juliete Dutra de Oliveira; Kennia Átara 
Bezerra Sousa; Vitória Kelly Castro dos Santos. 
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