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Diretora Executiva: Luciana Avelino Cunha Diretor Editorial: Renato Cunha Tradução: Rafael Resende Revisão: Eliana Moura Copidesque: Renato Cunha Capa e diagramação: Marina Avila 1ª edição: 2018 Direitos de imagens: Manuscrito: FJ Brechtel, Bamberg State Library Joseph Badger: Henry Augustus Loop, Princeton University Art Museum George Whitefield: Harvard University Portrait Collection Charles Finney: Christian History vol. VII, n. 4, issue 20 Pandita Ramabai: J. B. Rodgers printing Dwight. L. Moody: Barron Fredricks, NYC. D11791 U.S. Copyright Office John Wesley: Whitemay, Istockphoto Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha Catalográfica elaborada pela bibliotecária Maria Jucilene Silva dos Santos CRB-15/722 H992d Hyatt, Eddie L. 2000 Anos de Cristianismo Carismático : um olhar do século 21 na história da igreja a partir de uma perspectiva carismático-pentecostal / Eddie L. Hyatt ; tradução de Rafael Resende ; revisão de Eliana Moura. – Natal, RN : Carisma, 2018. 260 p. ; 16x23cm. ISBN 978-85-92734-08-4 1. Dons do Espírito Santo - História. 2. Cristianismo carismático - História. 3. Pentecostalismo. I Resende, Rafael, trad. II. Moura, Eliana, rev. III. Título. CDU 234-15(091) editoracarisma.com.br | sac@editoracarisma.com.br Copyright © 2018 em língua portuguesa para Editora Carisma. Direito exclusivo de distribuição em todo mundo (worldwide). Originalmente publicado em inglês pela Charisma House, Charisma Media/Charisma House Book Group, 600 Rinehart Road, Lake Mary, Florida 32746 sob o título “2000 Years of Charismatic Christianity” Copyright © 2002 by Eddie L. Hyatt. Todos os Direitos Reservados. Sumário Reconhecimentos Prólogo Prefácio Introdução Recuperando a história do cristianismo carismático Qual é a diferença? Crescimento fenomenal O desafio da legitimidade histórica O caminho para a recuperação histórica Capítulo 1 A igreja apostólica Cargos ou funções? Obras maiores ou menores? Capítulo 2 A igreja antenicena Irineu de Lyon Tertuliano Orígenes Novaciano Cipriano Outros relatos da igreja primitiva Conclusão Capítulo 3 O declínio dos dons espirituais e a primeira Renovação Carismática O institucionalismo e os bispos Montano Montanismo: heresia ou cristianismo bíblico? Os toques finais Capítulo 4 O Impacto da conversão de Constantino no aspecto carismático da Igreja Fusão entre Estado e Igreja A religião exclusiva do Estado Adoção do modelo político romano Surgimento das batalhas doutrinais Capítulo 5 Monasticismo: o surgimento de outro Movimento Carismático Antão Pacômio Atanásio Hilarião Ambrósio Jerônimo Agostinho Bento de Núrsia Gregório Magno Conclusão Capítulo 6 Desenvolvimento interno do monasticismo e a igreja institucional Extremismos monásticos e misticismo Os milagres e a expansão missionária Santos ou feiticeiros? O Misticismo medieval era um modelo de espiritualidade? Capítulo 7 A renovação monástica Bernardo de Claraval Hildegarda de Bingen Domingos de Gusmão Francisco de Assis Vicente de Ferrier Mais evidências Capítulo 8 Os cátaros O consolamentum Hereges ou heróis da fé? Capítulo 9 Os valdenses Pedro Valdo Rejeição e perseguição Cristianismo neotestamentário Cura divina Igualdade no ministério Conclusão Capítulo 10 Martinho Lutero e a Reforma Lutero e os milagres Lutero e a autoridade Lutero e o dom profético Lutero e a cura divina Johannes Brenz Lutero e o cessacionismo Bem-vindo, Espírito Santo! Capítulo 11 Os anabatistas Os tais “reformadores radicais” O batismo do crente A iluminação das Escrituras A profecia como ministério de todos os crentes Exageros carismáticos e proféticos Pilgram Marpeck Menno Simmons O legado anabatista Capítulo 12 Os profetas franceses Uma unção profética Falando em línguas Os camisards Capítulo 13 George Fox e os quakers George Fox A batalha entre os símbolos externos e a luz interior Perseguição Os fenômenos carismáticos Conclusão Capítulo 14 O avivamento moraviano Conde Zinzendorf Em fervente oração Um derramamento Capítulo 15 O avivamento metodista Fenômenos espirituais extraordinários Acusado de entusiasmo Falando em línguas Uma segunda obra da graça John Fletcher Capítulo 16 O grande despertamento (1726-1750) Jonathan Edwards George Whitefield Capítulo 17 O segundo Grande Despertamento (1800-1840) O avivamento na Costa Leste O avivamento em Kentucky Barton Stone e o avivamento de Cane Ridge Conclusão Capítulo 18 Edward Irving e a igreja católica apostólica O dom do Espírito Santo Um surto carismático na Escócia Eventos em Londres O sinal permanente Conclusão Capítulo 19 Os precursores do Movimento Pentecostal/Carismático no século 19 Pheobe Palmer Charles Finney A. J. Gordon Dwight L. Moody Reuben A. Torrey Línguas e linguagem pentecostal Capítulo 20 Charles Parham e a Escola Bíblica Bethel (Bethel Bible College) A busca Escola Bíblica Bethel em Topeka, Kansas O derramamento A Importância da Escola Bíblica Bethel Parham era racista? Capítulo 21 William Seymour e o Avivamento da Rua Azuza O chamado para Los Angeles Oração O Espírito Santo e a liderança O caráter inter-racial Um fenômeno mundial Capítulo 22 Parham e o avivamento de City Zion Os problemas em Zion City “Até que o Reino venha” A conexão da cura divina Segadores empurrados à colheita Marie Burgess Brown F. F. Bosworth John G. Lake Conclusão Capítulo 23 A mensagem se espalha pelo mundo Índia América do Sul Europa China Proliferação Capítulo 24 Desenvolvimentos posteriores no Pentecostalismo O pacto da última chuva A tendência ao denominacionalismo Capítulo 25 O Avivamento de Cura Oral Roberts A voz da cura T. L. e Daisy Osborn Conclusão Capítulo 26 A segunda chuva de avivamento O derramamento na Faculdade Bíblica de Sharon A importância de Sharon Crescimento e oposição Capítulo 27 O Movimento Carismático Dennis Bennet e a renovação protestante O Movimento Carismático Católico Ecumenismo e cismas O problema da autoridade Capítulo 28 A Terceira Onda John Wimber e a vinha Diferenças doutrinais Capítulo 29 A última década do século XX A bênção de Toronto Divisões devido às manifestações O avivamento de Pensacola Divisões em Pensacola O vaivém do avivamento O problema das manifestações Tendências nas instituições O movimento de convergência As novas igrejas apostólicas A vanguarda da Igreja hoje Conclusão: Batalhando pela fé Na periferia? Os guardiães da verdade Referências Reconhecimentos Qualquer pessoa que já tenha escrito um livro entende o quanto ele é um esforço mútuo, e este livro não é exceção. Em primeiro lugar, se as pessoas e os movimentos sobre os quais eu tenho escrito não tivessem seguido corajosamente a Deus, não haveria fundamento nem motivo para escrever. Em uma escala mais pessoal, se muitas pessoas não tivessem cooperado de uma maneira ou outra, este livro continuaria a ser um sonho esquivo. Quero agradecer ao Dr. Benjamim Crandall, presidente do Zion Bible Institute em Barrington, Rhode Island, que organizou minha agenda durante os anos escolares de 1991 a 1992 para que me fosse possível dedicar quatro dias por semana à pesquisa e à escrita. Eu também quero reconhecer a falecida Esther Rollins que, aos 84 anos, fez a revisão da primeira edição, que foi a base desta. Sou muito grato à minha esposa, Dr. Susan Hyatt, que me foi um impulso constante. Ela contribuiu ao mesmo tempo com suas habilidades editoriais e com sua perícia astuta nas áreas histórica e teológica. Prólogo Eddie e Susan Hyatt são dois dos melhores estudantes que eu já tive. O apego que tinham à teologia e à história pentecostal e carismática era enorme ainda antes de começarem a frequentar minhas aulasna Universidade Oral Roberts, em 1990. Desde aquele tempo eles cresceram mais e mais na maestria e no entendimento do assunto. O livro 2.000 anos de cristianismo carismático é o trabalho mais importante de Hyatt até hoje. É uma excelente pesquisa da história carismática e da natureza da Igreja. Sua abordagem das origens e do destino da Teoria Cessacionista é muito requisitada e apresentada de maneira convincente. Este livro é realmente, como diz o título, “um olhar do século XXI à história da Igreja a partir de uma perspectiva carismático-pentecostal”. As seções sobre Charles Fox Parham, o formulador da Teologia Pentecostal, e o papel crucial que tiveram os seguidores de Alexander Dowie, que deixou Zion City para fundar movimentos pentecostais relevantes por todo o mundo, são de particular interesse e valor. A obra de Hyatt é mais uma na corrente de trabalhos acadêmicos que estão cravando cada vez mais pregos no caixão da Teoria de B. B. Warfield, segundo a qual sinais miraculosos, prodígios e maravilhas cessaram após o fim da Era Apostólica. Este livro, ao mesmo tempo em que traz as pesquisas mais recentes sobre o assunto, apresenta-as de uma maneira popular, acessível a qualquer leitor. Eu recomendo este livro para todos aqueles que querem se aprofundar no entendimento dos movimentos pentecostais e carismáticos que eclodiram no século XX até se tornarem a maior família de cristãos no mundo. Vynson Synan Deão da School of Divinity Regent University Virginia Beach, Virginia Prefácio A inspiração para este livro veio das minhas raízes no pentecostalismo clássico e do meu amor por história. Tive ainda mais motivação quando reconheci a ausência de informação disponível sobre cristãos carismáticos na história da Igreja. Para a minha surpresa, meu primeiro curso de história da Igreja numa escola pentecostal bíblica parecia investigar a história das igrejas católica e reformada. Pessoas e temas pentecostais/carismáticos não são abordados até a chegada do século XX. Será que o Espírito Santo esteve mesmo ausente durante 18 séculos na história da Igreja? Por ter começado uma pesquisa séria, eu descobri que a dimensão carismática da atividade do Espírito não se ausentara do passado da Igreja. Em vez disso, prevalecia um viés contra os dons carismáticos que muitas vezes era influenciado por historiadores modernos, fosse para ignorar os dons do Espírito Santo ou para falar deles de maneira detrativa. Depois eu descobri que os pentecostais e carismáticos, pela falta de pesquisas acadêmicas, muitas vezes aceitavam as determinações de historiadores não carismáticos. Enquanto minha pesquisa continuava, encontrei o permanente conflito entre a espontaneidade do Espírito e as rígidas estruturas da instituição. Isso geralmente resultou na igreja institucional acusando de hereges todos aqueles que defenderam a liberdade do Espírito, suprimindo e destruindo seus escritos. Obviamente, tal atitude contribuiu para a ausência de dados sobre a ação do Espírito Santo na história. Neste livro, eu preencho algumas lacunas relatando pessoas e movimentos pentecostais/carismáticos. Este estudo não é nem exaustivo nem crítico. Seu objetivo é mostrar que pentecostais e carismáticos têm realmente uma história legítima. Ele também sugere que, em vez de estar na periferia do cristianismo ortodoxo, o cristianismo pentecostal/carismático está no âmago do cristianismo bíblico e histórico. Introdução RECUPERANDO A HISTÓRIA DO CRISTIANISMO CARISMÁTICO O cristianismo carismático não é um fenômeno que pertence unicamente ao século XX. Ele tem sido uma constante desde que Jesus caminhou pela terra, há 2 mil anos. Contudo, no século XX e continuando pelo XXI, houve uma tremenda explosão do cristianismo carismático. Começando com o Movimento Pentecostal em 1901 e revigorado pelo Movimento Carismático iniciado em 1960, com sua Terceira Onda em 1980, essa explosão do Movimento ganhou impulso e permeou todos os setores da vida cristã. Desde o primeiro século não havia tal ênfase no Espírito Santo e seus dons. Será essa expressão de espiritualidade simplesmente heresia e fanatismo, como alguns acusam? É apenas uma expressão marginal do verdadeiro cristianismo, como alguns sugerem? Ou é na verdade uma restauração do verdadeiro cristianismo bíblico? Questões legítimas têm sido levantadas acerca da historicidade dessa forma dinâmica de cristianismo. Será que ele apareceu subitamente neste século, sem nenhuma ligação histórica com o primeiro século da Igreja, como alguns afirmam? Ou ele tem precedentes históricos? E por que ele é chamado de carismático? A palavra carismático é uma variação da palavra grega charisma, termo neotestamentário para dom espiritual. Charisma, ou sua forma plural charismata, é a palavra que Paulo usa em 1 Coríntios 12.1-11 quando fala sobre os dons do Espírito Santo, como falar em línguas, dons de cura, milagres e profecias. Por esse motivo, qualquer grupo, igreja ou movimento que adote essa dimensão dinâmica do Espírito Santo e seus dons pode ser chamado de carismático. Embora eles possam ser conhecidos historicamente como quakers, metodistas ou pentecostais, sua tendência para o dinamismo do Espírito Santo e seus dons qualifica-os como carismáticos. Pelo mesmo motivo a igreja do primeiro século também pode ser chamada de carismática. QUAL É A DIFERENÇA? Essa pergunta já foi feita várias vezes: Qual é a diferença entre os pentecostais modernos e os carismáticos? Talvez a principal distinção seja as origens históricas diferentes dos dois movimentos. O Movimento Pentecostal começou em 1901, na Escola Bíblica Betel, em Topeka, Kansas. Lá houve um derramamento do Espírito Santo e a doutrina pentecostal clássica da evidência bíblica do batismo com o Espírito Santo foi formulada e posta em prática. O começo do Movimento Carismático moderno, por sua vez, é geralmente identificado com o pronunciamento de Dennis Bennet, reitor da Igreja Episcopal de São Marcos, na Califórnia; em 1960, ele disse ter sido batizado com o Espírito Santo e falado em línguas. Outra importante distinção é o fato de que o Movimento Pentecostal foi rejeitado pelas igrejas da época e, desde então, 740 denominações pentecostais se formaram, com mais de 65 milhões de membros1. Por outro lado, o Movimento Carismático alcançou um alto grau de aceitação nas igrejas tradicionais, onde era tratado como um renovo espiritual. Mas, apesar dessa aceitação, que muitas vezes era morna, milhares de denominações carismáticas se formaram desde a década de 602. A Terceira Onda3, ou Movimento Neocarismático, também produziu milhares de denominações, mostrando um ímpeto crescente e o poder de cada onda espiritual. Apesar das diferenças de cada “onda”, o estatístico David Barret nota que há uma “unidade subjacente” que permeia todo o movimento do século XX. Por esse motivo, ele cunhou a expressão “pentecostal/carismático” para se referir à obra do Espírito Santo por toda a terra. Ele vê os movimentos Pentecostal, Carismático e Terceira Onda como “um só movimento harmônico” para o qual um vasto número de todos os tipos de indivíduos e comunidades têm sido atraídos. CRESCIMENTO FENOMENAL Surpreendentemente, há apenas 100 anos, nenhuma congregação pentecostal/carismática – como entendemos a palavra atualmente – existia. Hoje, um século depois, igrejas e denominações carismáticas e pentecostais se notabilizam no cenárioreligioso e constituem o segmento mais dinâmico e crescente da cristandade. Esse crescimento impressionante foi mostrado por uma pesquisa de 1980 da Gallup, publicada na Christianity Today. A pesquisa mostrou que 19% de toda a população americana, cerca de 50 milhões de pessoas, identificaram-se como pentecostais ou carismáticos. Numa pesquisa mais recente da Newsweek, em 1998, 47% dos cristãos entrevistados disseram que “experimentaram o poder do Espírito Santo”. Dentre os protestantes evangélicos, este número sobe para 75%4. Esse crescimento fenomenal é um dos principais motivos pelos quais o famoso teólogo Harvey Cox, de Harvard, dispôs-se a dizer que “o pentecostalismo está reformulando a religião no século XXI”5. O DESAFIO DA LEGITIMIDADE HISTÓRICA Uma crítica geralmente dirigida aos pentecostais e carismáticos modernos é a de que eles não têm tradição nem história. O argumento é mais ou menos o seguinte: a Igreja existe há 2 mil anos, mas os pentecostais e carismáticos só estão aí há menos de 100 anos. Essa alegada falta de história parece indicar que o movimento é, na melhor das opções, periférico ao cristianismo ortodoxo. Esse desafio da legitimidade histórica é respondido habitualmente de duas maneiras. Pentecostais clássicos escolheram a abordagem restauracionista, em que geralmente veem a si mesmos como restauradores da pureza e do poder da igreja apostólica do primeiro século. Desde essa perspectiva, os 18 séculos intermediários são tidos como anos de corrupção e fracasso espiritual6. Mais recentemente, alguns pentecostais e carismáticos não estão se conformando com esse salto de 18 séculos sobre a história da Igreja e têm escolhido uma abordagem tradicionalista. Eles procuram preencher o vácuo histórico criando cargos e departamentos eclesiásticos e tradicionais na estrutura de suas igrejas, instaurando liturgias tradicionais em seus cultos7. Tais medidas são motivadas em parte por tentativas de estabelecer uma continuidade com o passado por meio da imitação das igrejas mais tradicionais e institucionais. Nem a abordagem restauracionista nem a tradicionalista podem responder adequadamente à questão histórica. O fato é que os pentecostais e carismáticos têm uma história legítima. É uma história encontrada nos vários movimentos de avivamento e renovo que sempre surgiram na vida da Igreja. Por terem sido frequentemente condenados e marginalizados pela igreja institucional, sua história tem sido ocultada ou mal interpretada. Essa é, portanto, uma história que precisa ser descoberta e plenamente recuperada. O CAMINHO PARA A RECUPERAÇÃO HISTÓRICA Este volume traz ao mesmo tempo vários elementos recuperados por meio de pesquisas acadêmicas e históricas. Ele narra a vida de movimentos e pessoas corajosas desde o Dia do Pentecostes até o século XXI. Todavia, este estudo de nenhuma maneira é exaustivo, no entanto, seus benefícios são incontáveis. Com a permissão do leitor, ele pode informar o pesquisador mais sério sobre a atividade dinâmica do Espírito Santo por meio da história da Igreja. Além disso, pode instruir aqueles que queiram aprender com o passado. Ele pode também inspirar outras pesquisas e promover a consciência e o entendimento futuro da rica história que pertence legitimamente a cada crente pentecostal e carismático. Por fim, os dados deste livro confirmam que os pentecostais e carismáticos realmente têm uma história legítima e emocionante. Seu elo com o passado não é apenas institucional. Mais que isso, eles têm a mesma fé bíblica, que continua a demonstrar o poder espiritual da igreja apostólica do primeiro século. Com efeito, o fato de que o avivamento pentecostal e carismático deste século seja cristianismo ortodoxo é confirmado não somente pelo próprio Novo Testamento, mas também pela existência de 2 mil anos de cristianismo carismático. Capítulo 1 A IGREJA APOSTÓLICA A igreja do primeiro século era uma igreja carismática. Lucas, que gravou sua história no livro de Atos, incluiu nele fielmente a abundância de fenômenos sobrenaturais que retrataram sua vida e seu ministério. Línguas, profecias, curas e milagres – e todos os outros carismas – eram comuns e até mesmo tidos como norma (At 1.8; 10.19; 13.2). Essa era a atividade dinâmica do Espírito Santo, que agia mais na vida pessoal e individual dos crentes e na vida corporativa da igreja que na sua estrutura institucional, provendo assim a base para sua vida, sua comunidade e sua missão. De acordo com Gordon Fee, Paulo viu o Espírito como “a chave para tudo na vida cristã”8. Enquanto os crentes levavam o evangelho de Jerusalém para o mundo greco- romano, essa característica carismática continuava a ser a norma para as novas igrejas que surgiam por meio de seus ministérios. Isso está óbvio no livro de Atos tanto quanto nas epístolas de Paulo, nas quais ele fala livremente de milagres e dons espirituais. Paulo declarou haver “proclamado plenamente” o evangelho aos gentios “pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus” (Rm 15.19). As cartas aos Coríntios particularmente mostram que as igrejas congregadas confiavam mais na espontaneidade do Espírito que na autoridade oficial para guiar suas vidas e direcionar seus encontros. Esses fatos levaram Hans von Campenhausen a descrever que a visão que a igreja primitiva tinha da comunidade cristã era a de “uma comunidade que se desenvolvia por meio da interação de seus dons espirituais e ministérios, sem o benefício de uma autoridade oficial ou anciãos responsáveis”9. O teólogo católico Hans Kung concorda, sugerindo que a igreja de Corinto “não conhecia bispos, nem presbíteros, nem qualquer tipo de ordenação, mas somente os dons livres e espontâneos10. Então ele aponta que, de acordo com Paulo, Deus lhes provia tudo que era necessário11. Rudolph Bultmann concorda e insiste em dizer que, na igreja do Novo Testamento, “as pessoas com mais autoridade eram aquelas investidas de dons espirituais”12. No seu livro Jesus e o Espírito, James D. G. Dunn demonstra que as igrejas cristãs mais primitivas buscavam mais a presença imediata do Espírito Santo para sua vida e sua comunidade que a estrutura organizacional e a formalidade. Ele também aponta que, a não ser em Filipenses 1.1, Paulo nunca se dirige a um líder dentro de uma comunidade”13. A implicação é clara para Dunn: “Se uma liderança fosse necessária, Paulo presumia que o Espírito carismático lhe indicaria um nome”14. CARGOS OU FUNÇÕES? As epístolas pastorais, que são do período final da vida de Paulo, parecem revelar uma estrutura mais formal da vida da igreja. O termo presbuteros (ancião) é então usado pela primeira vez por Paulo, e refere-se às qualidades exigidas àqueles que queiram servir como episkopoi (bispos) ou diakonoi (diáconos). Adolph Harnack sugere que aqueles presbuteros, ou anciãos, possam significar mesmo os mais velhos, em oposição aos jovens. John Knox corrobora, dizendo que “não estamos lidando com cargos formais, mas com funções para as quais as pessoas estavam dotadas tanto quanto estariam para as profecias ou as curas”15. Kung concorda e diz que a escolha dos anciãos “não pode ser vista como o começo de um sistema de administração clerical”. Ele mostra que o surgimento de anciãos e bispos deve ser entendido no contexto da “estrutura visceralmente carismática da igreja”16. OBRAS MAIORES OU MENORES? A ênfase da igreja primitiva nos charismata não deve surpreender, uma vez que Jesus ensinouseus discípulos a esperar o poder e o dinamismo do Espírito em suas vidas e ministérios. Em certa ocasião, ele os alertou que, quando o Espírito viesse, seria permitido que fizessem as mesmas obras que ele fazia e obras ainda maiores (Jo 14.12). A expectativa que a igreja tinha de um ministério sobrenatural era, portanto, proveniente da vida e dos ensinamentos do próprio Jesus. Dunn diz que, “por ser ele (Jesus) um carismático, assim eram muitos, senão todos os crentes”17. Mas o que aconteceu após o primeiro século com a morte dos apóstolos? Os dons carismáticos/pentecostais cessaram subitamente? Os dons de revelação foram substituídos pela formação do cânon neotestamentário da Escritura? O caráter sobrenatural da igreja foi dissolvido após o fim da Era Apostólica do primeiro século? Em retrospectiva, pode ser constatada a diminuição do caráter carismático da igreja e o surgimento de uma estrutura organizacional. Ainda assim, os dons espirituais continuaram a ser parte vital da igreja após o primeiro século. Escritos pós-apostólicos não revelam nem o conhecimento nem a expectativa de sua cessação em nenhum momento. Aqueles que sucederam os apóstolos como líderes na igreja deixaram, em vez disso, um testemunho evidente da operação contínua dos dons espirituais e de seu poder durante esse tempo. Capítulo 2 A IGREJA ANTENICENA Justino Mártir é considerado o primeiro e mais importante apologeta do segundo século. Filho de pais pagãos que moravam perto da cidade bíblica de Siquém, ele se tornou um filósofo itinerante conhecido por seu brilhantismo. Sua sede pela verdade nunca foi satisfeita até o dia em que, andando por uma praia, encontrou um senhor de idade que o conduziu até as Escrituras. Estas, disse o velho, são a verdadeira filosofia. Justino foi convencido e se converteu. Ele foi até Roma inaugurar uma escola cristã. Justino estava claramente familiarizado com os dons miraculosos do Espírito Santo. Em seu Diálogo com Trifão, escreve o seguinte: “[…] pois os dons proféticos permanecem conosco até o dia de hoje”18. Em outro trecho ele diz: “Agora ainda é possível ver entre nós homens e mulheres que possuem os dons do Espírito de Deus”19. Em outra obra, intitulada A segunda apologia de Justino, fala sobre a habilidade que os cristãos tinham em seu tempo de expulsar demônios e ministrar curas: “Pois incontáveis endemoniados por todo o mundo, inclusive em sua cidade, tem sido exorcizados por cristãos no nome de Jesus, que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, que curou e ainda cura, tornando esses demônios impotentes e expulsando-os dos homens”20. Portanto, Justino Mártir testifica claramente que os cristãos do segundo século continuavam a exercer sua autoridade sobre as doenças e os demônios. Ele também mostra que tanto homens quanto mulheres estavam utilizando outros dons do Espírito também. Além disso, ele nunca sugeriu a expectativa de que esses dons cessassem em algum momento. IRINEU DE LYON Irineu (125-200 d.C.), bispo de Lyon, é mais conhecido por seus escritos contra o gnosticismo e outras grandes heresias de seu tempo. Nascido na cidade de Esmirna, ele foi um pupilo de Policarpo, que por sua vez foi discípulo do apóstolo João. Pelos seus escritos fica evidente que os dons do Espírito Santo ainda eram comuns na vida da igreja de seu tempo. Em sua obra Contra as heresias, Irineu mostra a falácia de certos gnósticos ao afirmarem que Jesus era um fantasma sem corpo físico real, e que ele realizou suas obras “somente em aparência”. Irineu refuta essa afirmação mostrando as obras que os seguidores de Jesus continuavam a fazer até então: Pois verdadeiramente e seguramente alguns expulsam demônios, tanto que aqueles que foram purificados desses espíritos maléficos passam a crer (em Cristo) e se unem à Igreja. Outros têm visões do que acontecerá no futuro: eles as veem e proferem expressões proféticas. Outros mais ainda curam os doentes por imposição de mãos, e eles ficam completamente curados. Irineu também fala de mortos que ressuscitaram: Sim, além disso, como eu já falei, os mortos têm sido até mesmo ressuscitados, e permaneceram entre nós por muitos anos. E o que devo mais dizer? É impossível enumerar os dons que a Igreja tem recebido em todo o mundo no nome de Jesus Cristo21. Ele também testifica que os crentes ainda falavam em línguas na sua época, dizendo: Da mesma maneira nós também ouvimos muitos irmãos na igreja que possuem os dons proféticos e que pelo Espírito falam todo tipo de línguas, e trazem à luz, para benefício geral, coisas escondidas aos homens, e proclamam os mistérios de Deus”22. A vida e a obra de Irineu quase alcança o terceiro século. Sua obra escrita é um testemunho poderoso de quanto o conhecimento e a prática dos dons espirituais se expandiram na igreja de seu tempo. Assim como Justino Mártir, Irineu nem pensava em dizer que os charismata cessaram. TERTULIANO Tertuliano (160-240 d.C.), nativo de Cartago, converteu-se em 192. Já nessa época ele era proficiente no direito e nos sistemas filosóficos de então. Conhecedor de grego e latim, escreveu extensivamente nesta última língua. Com essa experiência, tornou-se rapidamente um presbítero em Cartago, um líder influente na Igreja e o primeiro apologeta da Igreja Ocidental. Nos seus escritos incisivos e poderosos contra os tiranos e as seitas do seu tempo, formulou conceitos teológicos que lhe conferiram o título de “pai da teologia latina”. Suas obras também revelam um contato pessoal com os dons sobrenaturais do Espírito Santo, inclusive o dom de línguas. No seu Tratado sobre a alma, Tertuliano diz: “Visto que reconhecemos os charismata, ou dons, nós também fomos dignos do dom profético” 23. Mais adiante ele faz um relato sobre uma mulher em sua congregação “cujo ministério tem sido favorecido por diversos dons de revelação”. De acordo com Tertuliano, ela recebeu a visita de anjos várias vezes e até mesmo a do próprio Senhor. Além disso, frequentemente sabia os segredos dos corações das pessoas e era capaz de dar respostas às suas necessidades mais íntimas, inclusive a cura física. Tertuliano diz: “Todas as suas mensagens são examinadas da maneira mais escrupulosa para que a verdade delas possa ser provada”24. No seu Para Escápula, Tertuliano relata ocasiões específicas nas quais há cura e libertação da opressão demoníaca. Ele conclui: “[…] e o céu sabe quantos homens distintos, para não falar das pessoas comuns, têm sido curados das doenças e libertos dos demônios”25. Em Contra Marcion, escrito para opor-se ao herege Marcion, Tertuliano revela tanto seu contato com o falar em línguas quanto sua crença de que os dons sobrenaturais do Espírito são um sinal de ortodoxia. Isso é patente em seu desafio a Marcion. Que Marcion exiba, então, alguns profetas como esses, que não falam pelo juízo humano, mas com o Espírito de Deus, prevendo também fatos futuros e manifestando os segredos do coração. Que ele produza um salmo, uma visão, uma oração – que isso provenha somente do espírito, num êxtase, abruptamente, ou algum momento em que lhe tenha ocorrido uma interpretação de línguas. Pois do meu lado esses sinais aparecem sem qualquer dificuldade26. Em Sobre o batismo, Tertuliano defende que uma operação do Espírito num crente é subsequente à conversão. Ele escreve: “Não que na água obtenhamos o Espírito; mas na água somos purificados e preparados para o Espírito Santo. Ele também defende que após o batismo “a mão está sobre nós, invocando e convidando o EspíritoSanto por meio das bênçãos”27. Sem dúvidas, isso se refere ao costume apostólico de impor as mãos sobre os novos convertidos para a recepção do Espírito Santo (cf. At 8.14-17; 9.17; 19.5-6). O testemunho de Tertuliano demonstra, portanto, que no terceiro século os dons espirituais ainda eram comuns na igreja. Seu ponto de vista sobre a obra do Espírito Santo após o batismo é especialmente interessante sob a ótica do movimento pentecostal/carismático moderno, que também ensina que há um aumento de poder que se segue à conversão. Como outros de sua era, Tertuliano não fornece nenhum indício de que esses dons viessem a cessar. ORÍGENES Orígenes (185-285 d.C.), um escritor prolífico, foi o primeiro teólogo sistemático da Igreja. Seu pai, que era um cristão devoto, foi martirizado quando Orígenes tinha 16 anos. Aos 18, foi escolhido como líder de uma notável escola cristã destinada a instruir convertidos do paganismo em Alexandria, Egito. Em Contra Celso, Orígenes fala sobre os milagres que eram realizados pelo poder do nome de Jesus em sua época. Seu testemunho indica que ele estava pessoalmente envolvido em muitos desses milagres. E alguns, nas curas que realizam, demonstram ter recebido por sua fé um poder maravilhoso, invocando somente o nome do Deus de todas as coisas e de Jesus sobre aqueles que necessitavam de sua ajuda, além de algumas menções à sua história. Pois por esses meios nós temos visto muitas pessoas libertas de calamidades terríveis, da demência, da loucura e de diversas outras doenças que não poderiam ter sido curadas nem pelo homem nem por demônios28. Mais adiante, Orígenes cita a acusação que Celso, um escritor pagão, fez contra os cristãos. Ele critica a confiança dos cristãos na inspiração dada pelo dom profético e então cita cinicamente pedaços de algumas profecias que ele ouviu. Ele então diz: “São somadas a essas promessas algumas palavras estranhas, ininteligíveis e fanáticas, cujo significado ninguém conhece”29. Se essa frase se refere às línguas estranhas, como creem alguns, então é o testemunho de alguém exterior à igreja de que falar em línguas era algo comum naquele tempo. O contexto do argumento também claramente indica que profecias eram tão recorrentes entre os cristãos que até mesmo um escritor pagão estava consciente dessa prática. Orígenes obviamente reconheceu a realidade e o valor de orar em línguas, e ele dá mais evidências disso em seu comentário sobre Romanos 8.26, em que liga a oração no Espírito à oração em línguas. Cecil M. Robeck escreve que “Orígenes afirmaria que a oração em línguas existiu em seu tempo e pensava-se que o benefício dela era ser o tipo de oração na qual o Espírito intercedia intensamente diante de Deus”30. Orígenes, assim como Tertuliano, mostra sua fé numa obra do Espírito Santo que era posterior à regeneração. Em seu tratado De principiis (Sobre os princípios), ele fala de Deus soprando em Adão o fôlego (Espírito) da vida, afirmando que isso não se refere a todo homem, mas somente àqueles que nasceram de novo em Cristo. Daí ele diz: Por esse motivo a graça e a revelação do Espírito Santo foram concedidas pela imposição das mãos dos apóstolos após o batismo, e também Nosso Senhor, depois da ressurreição, quando as velhas coisas haviam passado e tudo se renovara […]. Seus apóstolos, também renovados pela fé em sua ressurreição, dizem “Recebam o Espírito Santo”31. Orígenes foi o primeiro dos pais da Igreja a assinalar que esse ministério sobrenatural estava se tornando menos comum. Ele mostra a abundância de sinais sobrenaturais nos ministérios de Cristo e na igreja apostólica. Então ele destaca: “Mas desde esses tempos os sinais têm diminuído”. Ele culpa a falta de santidade e pureza entre os cristãos de seu tempo como a causa disso32. Orígenes, portanto, estava familiarizado com o ministério miraculoso do Espírito Santo, incluindo a fala em línguas estranhas. Ele também ensina nitidamente a obra do Espírito como posterior à conversão. Ademais, enquanto ele indica uma diminuição da atividade carismática, não é a ela que atribui um decreto divino, mas sim à falta de santidade entre os cristãos do seu tempo. NOVACIANO Novaciano (210-280 d.C.) foi um presbítero da Igreja de Roma e um teólogo respeitado. Aparentemente, ele era estimado por sua santidade e compaixão, pois, em uma polêmica escrita contra ele, seu oponente diz que Novaciano “chorou pelos pecados de seus vizinhos como se fossem os seus, carregou os fardos de seus irmãos, assim como o apóstolo exorta, e fortaleceu aqueles que estavam fracos em sua fé em Deus”33. Novaciano se envolveu em uma controvérsia com Cornélio, bispo de Roma, em virtude da leniência que este estava mostrando em relação aos cristãos que “caíram” durante a perseguição. O problema nunca foi resolvido por completo, e então Novaciano tornou-se um bispo rival de Roma. O movimento que Novaciano iniciou ganhou impulso e se espalhou rapidamente, sobretudo na parte oriental do Mediterrâneo e do Norte da África. Seus seguidores chamavam-se a si de cátaros, que significa “os puros”, distinguindo-se de outros que se chamavam cristãos, os quais eles consideravam ser carnais e impuros. Há outros grupos na história da Igreja com a mesma ênfase que adotaram o mesmo nome. Nos séculos XVIII e XIX os movimentos Holiness (santidade) declararam prioridades similares. Aquela que talvez seja a mais importante das obras que sobraram de Novaciano é seu tratado A trindade. Nela, discorre sobre sua familiaridade com o ministério sobrenatural do Espírito Santo: É ele (o Espírito Santo) que coloca os profetas na igreja, instrui os professores, orienta as línguas, concede poderes e cura, realiza maravilhas, oferece o discernimento dos espíritos, confere poderes de governo, sugere conselhos e organiza vários outros dons que fazem parte dos charismata; fazendo assim com que a Igreja do Senhor se esmere e se aperfeiçoe em todo lugar, com seus membros34. Para Novaciano, o Espírito Santo era, assim, a fonte da vida e da ordem na Igreja. Ele claramente vê como experiências cristãs normais as curas, os milagres e as línguas. Sua crença nas carismata não era uma novidade, posto que a igreja do seu tempo ainda reconhecia os dons como uma parte vital do cristianismo cotidiano. A ênfase de Novaciano na pureza moral, aliada ao testemunho de Orígenes, indica que o declínio moral entre os cristãos era uma tendência tanto nos setores orientais quanto nos ocidentais da Igreja. Esse declínio moral produziu muitas lutas e rixas na Igreja, e frequentemente a instituição oficial se posicionou contra aqueles que defendiam a pureza moral. As gerações seguintes interpretariam essa postura sobre a moralidade como a principal causa da perda de poder espiritual da Igreja. CIPRIANO Cipriano (195-258 d.C.) foi um cartaginense próspero que desfrutou os benefícios de uma boa educação em Retórica e em Direito. Quando ele se tornou um cristão, por volta de 246, destacou-se rapidamente. Em dois anos ele já se tornara bispo de Cartago, cargo que manteve até seu martírio, em 258. Por ser um ávido leitor de Tertuliano, evidentemente estava consciente da existência dos charismata. O secretário de Cipriano disse a Jerônimo que Cipriano nunca passou sequer um dia sem ler Tertuliano e estava acostumado a pedir seus livros para ler, dizendo: “Dê-me o mestre”35. Cipriano, segundo seu próprio testemunho, experimentou visões sobrenaturais.Sua explicação para as condutas que sua congregação teria durante os tempos de perseguição era a de que “seria melhor para nós sofrê-las com o auxílio das visões genuínas”36. Essas visões ocorriam, de fato, em toda a comunidade cristã, pois além das visões noturnas, e mesmo durante o dia, há entre nós garotos ainda na idade da inocência que estão cheios do Espírito Santo, vendo com seus olhos, em êxtase, e ouvindo e falando tais coisas pelas quais o Senhor, por condescendência, nos alerta e nos instrui37. Enquanto era bispo de Cartago, Cipriano envolveu-se numa controvérsia com Estêvão, bispo de Roma. Estêvão defendia que aqueles que tivessem sido batizados por hereges não tinham a necessidade de ser batizados novamente quando retornassem à igreja. Cipriano discordou enfaticamente e insistia excessivamente na obrigatoriedade de um novo batismo. No decorrer do debate, tornou-se clara a posição de Cipriano, segundo a qual o Espírito Santo é recebido após uma evidente obra de regeneração. Para ele, a regeneração ocorre por meio do verdadeiro batismo, e a recepção do Espírito Santo vem logo após, pela imposição de mãos38. Ele diz ainda: “pois aquele que foi santificado, que teve seus pecados lavados no batismo e renasceu espiritualmente como um novo homem, se adequou ao recebimento do Espírito Santo”39. Cipriano compara os dois eventos, regeneração e recepção do Espírito, com eventos na criação divina de Adão. Adão primeiro foi formado, e só depois Deus soprou nele o Espírito da vida. Cipriano conclui que da mesma maneira a pessoa é primeiro nascida de novo e depois enchida do Espírito Santo: “Ninguém nasce pela imposição de mãos quando recebe o Espírito Santo, assim como aconteceu com Adão, o primeiro homem. Pois primeiro Deus o criou e depois soprou dentro de suas narinas o espírito de vida”40. Os escritos de Cipriano fornecem mais evidências de que o ministério sobrenatural do Espírito Santo ainda era considerado um componente normal da vida e do ministério da igreja no século III. Sua crença no batismo do Espírito Santo logo após a salvação também mostra a aceitação ampla desse fato no século III. Como muitos outros autores da época, Cipriano não dá sinais de que saiba o que seja o cessacionismo. OUTROS RELATOS DA IGREJA PRIMITIVA Há outros escritos dentre os cristãos pioneiros que confirmam a presença dos dons espirituais nas igrejas. Por exemplo, o Didaquê, provavelmente escrito no começo do segundo século, reconhece a legitimidade do ministério profético e dá instruções sobre como distinguir entre os falsos profetas e os verdadeiros. O Pastor de Hermas, escrito no início do segundo século, é fundamentado nas revelações sobrenaturais e visões do autor. Inácio, bispo de Antioquia, em sua Carta aos filadelfos, escrita também no início do segundo século, lembra seus leitores a mensagem profética que ele entregara no meio deles durante uma visita recente41. CONCLUSÃO Esses testemunhos demonstram com clareza que os dons espirituais, inclusive o de falar em línguas, mantiveram-se comuns na igreja desde o Dia de Pentecostes até o começo do quarto século. O pesquisador Morton Kelsey, da Igreja Episcopal, está correto ao dizer: “Esses homens estavam conscientes de cada um dos itens da lista de dons espirituais de Paulo. Em nenhum lugar eles sugerem que algum deles fora abolido”42. Orígenes indica seu declínio, e não sua cessação. Os testemunhos patrísticos também indicam que a recepção do Espírito Santo era considerada como um fato subsequente à conversão, iniciada pela imposição de mãos. Essa era obviamente uma continuação do costume apostólico gravado no livro de Atos. Esse testemunho indica que, ao menos durante os três primeiros séculos, a Igreja acompanhou o uso apostólico da conversão seguida pela recepção do Espírito Santo43. Capítulo 3 O DECLÍNIO DOS DONS ESPIRITUAIS E A PRIMEIRA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA Os dons espirituais continuaram a se manifestar após o primeiro século. Sua prevalência e influência diminuíram enquanto o institucionalismo dominava cada vez mais a vida e o ministério da Igreja. Institucionalismo é uma ênfase na organização em detrimento de outros fatores. Na igreja, tal ênfase na organização, ou sua superestimação, sempre vem à custa da vida e da liberdade do Espírito. O professor James L. Ash diz que praticamente todo historiador do cristianismo concorda que a institucionalização da igreja primitiva foi acompanhada pelo esmorecimento dos dons carismáticos44. O INSTITUCIONALISMO E OS BISPOS O movimento em direção ao institucionalismo na igreja primitiva surgiu como um meio de defesa contra a perseguição do Estado e a constrição do erro por parte das seitas heréticas, como o gnosticismo e o marcionismo. Para reagir a esses erros, a igreja formalizou o culto e centralizou o poder no bispo. Infelizmente, esse movimento em direção à estrutura organizacional trouxe à tona uma mudança até mesmo no significado da palavra “bispo”. A palavra “bispo” é derivada do grego episcopos que, em sua forma verbal, significa “vigiar” e, portanto, “superintender e ver além”. Não sendo própria somente do Novo Testamento, ela foi usada em todo o mundo greco-romano do primeiro século para se referir a indivíduos que trabalhassem como tutores, inspetores, patrulheiros, vigias e superintendentes45. Na igreja apostólica, a palavra foi usada para descrever a função de prever fatos relacionados à igreja dada a certos indivíduos. Atos 20.17,28 e Tito 1.5-7 mostram que os mesmos indivíduos chamados de episcopas eram também chamados de anciãos, de quem se esperava que guiassem e pastoreassem o rebanho. Com a recente ênfase na estrutura organizacional, os episcopas se transformaram numa função separada e distinta, com poder e prestígio crescentes. Essa mudança traça sua origem desde as obras de Inácio de Antioquia (morto por volta de 110 d.C), que parece preocupado em defender e promover a autoridade e o prestígio do bispo. Em sua Carta aos Esmirniotas, por exemplo, Inácio declara que “a Eucaristia tem validade somente sob a autoridade do bispo”. Ele afirmou que, sem o bispo, é ilegal “tanto batizar quanto realizar uma ‘festa de amor’”46. Em sua Carta aos Tralianos, ele admoesta seus leitores a “não fazer nada sem o bispo”47. Ash vê essa tentativa de obter autoridade para si e para o cargo de bispo como uma novidade48. Quando comparado com os escritos do Novo Testamento, realmente torna-se óbvio que Inácio seguiu um novo caminho na administração da Igreja. Burnett Streeter, em The Primitive Church, sua obra clássica, diz: “O que ninguém questiona, ninguém defende; uma defesa exagerada implica a existência de uma oposição ferrenha. O princípio que Inácio está preocupado em defender estava bem distante de ser universalmente reconhecido”49. A história demonstra que essa tendência institucional reivindicada por Inácio continuou, culminando no eclesiasticismo da Igreja Católica Romana medieval e no seu bispo monárquico. Isso significou que as formas rituais e de cargos valorizaram-se mais que as experiências pessoais e espirituais. Isso também significou que as manifestações espontâneas do Espírito Santo se tornaram cada vez menos desejáveis, ainda mais para quem tinha alguma autoridade. É por esse motivo que Ash declara, em resposta à noção popular de que os dons carismáticos foram substituídos pelo Cânon do Novo Testamento, que “foram os bispos que rejeitaram asprofecias, e não o Cânon”50. Aqueles que ampararam essa ênfase na estrutura organizacional não mais consideraram que a autoridade espiritual pertencesse à pessoa em quem o dom espiritual residisse. Agora essa autoridade reside na pessoa que ocupa o cargo eclesiástico. Isso gerou tensões crescentes entre aqueles que continuavam a apoiar os dons espirituais e aqueles que preferiam a estrutura organizacional emergente. Aqueles que queriam a liberdade e a espontaneidade do Espírito sentiram-se suprimidos pela formalidade e o ritualismo crescentes. Por outro lado, os líderes eclesiásticos, que agora podiam ocupar os cargos sem o devido dom espiritual, sentiram-se incomodados com a alegação de comunhão direta com Deus. O problema chegou ao cume na última metade do segundo século, quando Montano começou a reafirmar a importância dos dons espirituais na igreja, particularmente o dom de profecia. MONTANO Montano nasceu na Frígia durante a primeira metade do segundo século e foi bispo por algum tempo. Embora fosse um convertido do paganismo, como cristão ele era ortodoxo em sua fé, aceitando todos os livros do Cânon e as Regras da fé51. Ele “se destacava por operar sinais e milagres”, e mesmo seus inimigos admitiam que “tanto sua vida quanto sua doutrina eram santas e irrepreensíveis”52. Montano preocupava-se com o formalismo crescente na igreja e com a progressiva lassidão moral dos seus membros. Foi então que, por volta de 172 d.C., ele começou a destacar a importância do ministério sobrenatural do espírito, insistindo que os cristãos conduzissem um estilo de vida moral mais estrito. Ele enfatizou a segunda vinda de Cristo, provavelmente crendo que este evento ocorresse ainda durante sua vida. Após obter um grande número de seguidores, o movimento se espalhou por toda a Ásia Menor, Norte da África e Europa, alcançando até mesmo Roma. De acordo com Montano, o fator qualitativo para o exercício de algum ministério na igreja era a posse de algum dom espiritual em lugar de uma indicação para algum cargo. Ele enfatizou especialmente o dom de profecias e logo se juntou a duas profetizas, Priscila e Maximila. Falar em línguas era certamente um fato comum entre os montanistas53. Os montanistas preferiram ser chamados de A nova profecia, pois acreditavam que Deus estava renovando o ministério profético da igreja por meio deles. Seus oponentes se lhes referiam desdenhosamente como montanistas, segundo o nome de seu líder, que é o nome pelo qual se tornaram conhecidos. A ênfase nos dons espirituais levou Montano a entrar em um conflito feroz com muitos líderes da Igreja que insistiam no recente predomínio da hierarquia eclesiástica sobre qualquer dom espiritual54. Esses líderes também discordaram da maneira pela qual Montano e seus seguidores entregavam suas profecias. Embora não encontrassem erros no conteúdo das profecias, eles o acusavam de entregá-las sob influência de um estado frenético de êxtase55. Alegando que isso fosse a prova da origem demoníaca das mensagens, os críticos acusavam Montano e seus seguidores de estarem possuídos pelo demônio. Muitos concílios e sínodos regionais realizados na segunda metade do segundo século censuraram Montano e seus seguidores. Porém, essa convocação dos concílios somente evidencia o impacto que o Montanismo estava tendo na igreja. Em seu livro Christian initiation and baptism in the Holy Spirit, Kilian McDonald e George Montague mostram que esses eram os primeiros concílios na história depois do concílio de Jerusalém em Atos 15, e que “nem a ameaça do gnosticismo nem o marcionismo obrigaram a Igreja a convocar concílios”56. O suporte a Montano e a seus seguidores era amplo. Eusébio aponta que Irineu foi enviado a Roma pelos cristãos da Gália para interceder em favor dos montanistas57. Sua intercessão inicialmente induziu o bispo de Roma a escrever cartas de paz para as igrejas montanistas, mas depois ele as revogou. Irineu deveria estar se referindo aos inimigos do montanismo quando expressou seu desânimo em relação àqueles que “rejeitam ao mesmo tempo o Evangelho e o Espírito profético”. Esses mesmos homens, disse Irineu, também não podiam aceitar o apóstolo Paulo, pois em sua epístola aos Coríntios “ele fala claramente dos dons proféticos, e reconhece homens e mulheres profetizando na Igreja”58. Na África Setentrional os montanistas foram defendidos por Tertuliano, que se uniu a eles por volta do ano 200 d.C. Em Contra Praxeas, Tertuliano diz que o bispo de Roma inicialmente “reconheceu os dons proféticos de Montano, Prisca e Maximila” e “concedeu sua paz” sobre as igrejas montanistas da Ásia e da Frígia59. McDonnell mostra que paz era um sinônimo de comunhão pessoal e eclesial, e o envio de cartas de paz às igrejas montanistas pelo bispo era o mesmo que dizer “participamos da mesma comunhão; celebramos a mesma Eucaristia; temos uma só fé”60. Porém, Praxeas gerou um problema ao ensinar uma doutrina chamada monarquianismo, declarando que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são somente um. Sua influência fez com que o bispo romano se opusesse aos novos profetas, e as cartas de paz foram revogadas. Tertuliano afirma que Praxeas fez um serviço duplo para o diabo em Roma. Ele suprimiu a profecia e trouxe a heresia; enfrentou o Paráclito e crucificou o Pai”61. Tertuliano também escreveu sete livros defendendo a profecia extática, mas foram todos perdidos ou destruídos62. Após a morte de Montano, seus seguidores tornaram-se mais aguerridos em seu ascetismo, instaurando jejuns e exigindo que seus membros seguissem regras cada vez mais estritas. No princípio do terceiro século eles também começaram a se institucionalizar, criando seu próprio sistema eclesial, com bispos e diáconos, Por volta de 381, o Concílio de Constantinopla finalmente decidiu que os montanistas deveriam ser considerados pagãos. Apesar dessa oposição, o movimento continuou pelo menos até o final do século V, quando Agostinho menciona sua existência. MONTANISMO: HERESIA OU CRISTIANISMO BÍBLICO? Um dos problemas que os estudiosos enfrentam ao avaliar o montanismo é depender mais dos escritos dos inimigos do montanismo que dos documentos originais, escritos pelos próprios montanistas. Escritos como os sete livros de Tertuliano sobre a profecia extática, nos quais os montanistas se defendem, não sobreviveram. Apesar disso, o montanismo tem adquirido uma atenção cada vez mais favorável. Em 1750, por exemplo, John Wesley leu uma obra do início do século XVIII, chamada A desilusão geral dos cristãos em relação à maneira pela qual Deus se revela aos profetas e por meio deles (The general delusion of christians touching the ways of God revealing himself to and by the prophets.) Ele aborda o montanismo de maneira positiva, refutando muitas das acusações tradicionais. Após ler esse livro, Wesley fez esta resenha em seu diário, em 15 de agosto de 1750: Eu fui totalmente convencido do que eu já suspeitava: 1) Que os montanistas, no segundo e no terceiro séculos eram realmente cristãos bíblicos; que 2) O principal motivo pelo qual os dons desapareceram tão cedo não foi somente a perda rápida da fé e da santidade, mas sim os homens excessivamente formais, ortodoxos e secos que começaram a ridicularizar todos os dons que eles mesmos não tinham e a censurá-los por serem todos ou loucura ou impostura63. Alguns detratores do montanismo insistem que o movimento representou uma intrusão da profecia pagã no cristianismo dosegundo século64. Porém, não há no horizonte nenhuma evidência concreta que possa sustentar essa posição. Tal afirmação “é completamente falsa”, segundo David Aune, no seu vasto estudo sobre a profecia antiga: Prophecy in early christianity and the ancient mediterranean world (Profecia na igreja primitiva e o antigo mundo mediterrâneo). Ele assegura que as principais características do montanismo, incluindo a natureza extática das suas declarações proféticas, “são derivadas do cristianismo primitivo”65. Em suma, é provavelmente seguro dizer que o montanismo foi o primeiro renovo carismático dentro da Igreja e que ele quis trazer o avivamento a um eclesiasticismo cada vez mais enrijecido. É óbvio que a igreja institucional reagiu desmesuradamente ao movimento e acelerou uma tendência de desdém e indiferença ante os dons espirituais. Como disse Philip Schaff, isto também criou uma tendência, em que houve um ponto de cisão “entre a era dos apóstolos, na qual houve revelações sobrenaturais, e a era seguinte, na qual as revelações desapareceram”66. McDonnell fala que “a igreja jamais conseguiu recuperar esse balanço depois da rejeição do montanismo”67. OS TOQUES FINAIS A ameaça do montanismo às autoridades, agora investidas de cargos eclesiais, fez com que a Igreja concedesse ainda mais autoridade ao bispo, acelerando assim o processo de institucionalização. As igrejas estavam agora sob controle de um só indivíduo, a quem o título de bispo era reservado exclusivamente, pois a administração dos problemas da igreja do primeiro século era feita por anciãos, chamados de bispos ou supervisores68. Foi também durante esse tempo que os bispos começaram a ser vistos como os sucessores dos apóstolos. Por isso, eles passaram a ser considerados os donos e os garantidores da doutrina apostólica; só eles possuíam o charisma veritus, o dom divino do conhecimento que vem de Deus, o que lhes dava o direito de ensinar. Ao conferir toda a autoridade ao cargo de bispo, pensou-se que a Igreja estaria protegida dos mestres hereges. Essa tendência institucional trouxe para a igreja uma divisão profunda entre o clero e os leigos, desconhecida na igreja do Novo Testamento. O critério para ensinar e liderar deixou de ser o chamado e a concessão de dons pelo Espírito e passou a ser a ordenação feita pelos hierarcas da Igreja. Bultmann mostra que o dom espiritual de ensinar e liderar “que era originalmente concedido à pessoa pelo Espírito, é agora entendido como um cargo – carisma obtido por ordenação”69. O clero assumiu todas as responsabilidades da Igreja, e então emergiu um sacerdócio diferente, paralelo àquele do Velho Testamento70. A reação da Igreja ao montanismo contribuiu para um desaparecimento cada vez mais rápido dos dons espirituais. À altura do terceiro século, Orígenes já diria explicitamente que “esses sinais diminuíram”71. A liberdade do espírito foi substituída pelos rituais cerimoniais e pela ordem eclesial. O golpe final no aspecto carismático da Igreja viria com a conversão de Constantino e com a aquisição de poder e afluência terrenas por parte da Igreja. Capítulo 4 O IMPACTO DA CONVERSÃO DE CONSTANTINO NO ASPECTO CARISMÁTICO DA IGREJA A conversão de Constantino em 312 d.C. marcou a ascensão da Igreja ao poderio terreno e o fim da participação dos charismata em sua vida e em seu ministério. Em 313 d.C. Constantino publicou o Edito de Milão, um decreto que não só dava liberdade de culto a todos os habitantes do império, mas também concedia benefícios à Igreja. Como consequência, esta foi penetrada por pessoas que buscavam vantagens políticas e sociais oferecidas a quem se identificasse com ela. FUSÃO ENTRE ESTADO E IGREJA Constantino começou a se envolver diretamente com os assuntos da Igreja, lançando assim o fundamento para o amálgama dos poderes eclesial e estatal. Em 325 d.C., por exemplo, ele convocou o Primeiro Concílio Geral da Igreja Cristã. Bispos de todos os rincões do império encontraram-se em Niceia, uma cidade da Ásia Menor, às expensas do governo. O próprio Constantino presidiu a primeira sessão, e em sessões seguintes ele interveio em pontos cruciais da discussão, embora sequer fosse batizado. Kung diz que “Constantino usou esse primeiro concílio primariamente para adaptar a organização eclesial à organização estatal. As províncias da Igreja deveriam corresponder às províncias imperiais, cada uma com um sínodo metropolitano e um provincial. Em outras palavras, o império doravante teria sua Igreja Imperial”72. Constantino também começou a construir instalações que abrigassem as reuniões dos cristãos. Antes disso, os crentes tinham que se encontrar principalmente em suas casas. Porém, Constantino erigiu edificações nas quais a igreja deveria se encontrar. Ele as projetou segundo a arquitetura dos auditórios da época. Essa arquitetura, com seu assento frontal em forma de trono para o bispo e as fileiras reservadas à congregação, tornou impraticável um envolvimento significativo dos membros. Além disso, o estilo da adoração e da liturgia, que antes era simples e pessoal, começou a ser adornado com a pompa e a prática da corte imperial73. A RELIGIÃO EXCLUSIVA DO ESTADO Constantino morreu em 337 d.C., mas seus filhos continuaram e expandiram sua política de favorecer a Igreja Cristã. Em 381 d.C., Teodósio I, o novo imperador, fez do cristianismo a religião exclusiva do Estado. Todos que ousassem aderir a qualquer outra forma de adoração se arriscavam a sofrer uma punição74. Consequentemente, hordas de pagãos infiéis encheram as igrejas, trazendo com eles práticas e ideias gentias. A lassidão moral, que já havia fraturado a natureza original da Igreja, acabou por dominar boa parte de sua vida. Um dos que lamentaram esse estado terrível da situação foi João Crisóstomo (347-407 d.C.), o patriarca de Constantinopla. Ele se queixou do caráter da igreja dos seus dias dizendo que ela não se diferenciava muito de uma feira ou de um teatro. “Se alguém está tentando ou pretendendo corromper uma mulher, suponho que não haja lugar melhor para ele do que a igreja. E se há algo que se queira vender ou comprar, a igreja será mais conveniente que o mercado. Ou se alguém quiser saber de algum escândalo, você perceberá que aqui há mais disso que no fórum”75. Sendo assim, não é surpreendente que Crisóstomo expresse uma ignorância dos charismata elencados em 1 Coríntios 12. Ele diz: “As trevas são produzidas por nossa ignorância dos fatos referidos e por sua cessação”76. Ao menos nessa região, parece que os dons pararam de operar. O motivo parece óbvio. ADOÇÃO DO MODELO POLÍTICO ROMANO A ascensão do cristianismo ao status de religião oficial do império trouxe uma coesão política à Igreja que ela não conheceu antes. Um sistema universal de governança eclesial começou a emergir, e em breve ficaria claro que isso refletia o padrão político vigente do Império Romano. Ao mesmo tempo, o bispo da cidade de Roma começou a ser visto como o primeiro entre iguais. Reivindicando ser o cabeça da Igreja fundada por Pedro e Paulo, ele adquiriu uma influência crescente para si, e assim pavimentou o caminho para que o papado fosse o correspondente espiritual do comandante político: o imperador romano. Em virtude desses acontecimentos, Rudolph Sohm afirma que “em sua maior parte, a constituição da Igreja foi modelada na organização do Império”77. Essas tendências também trouxeram a solidificação da doutrina do sacramentalismo. As ordenançasdo batismo e da Santa Ceia começaram a ser vistas como sacramentos que possuíam valor salvífico inerente e poder de conceder a graça e os dons de Deus78. Ademais, somente o bispo ou seu encarregado tinham o direito de administrar esses sacramentos. Na verdade, a ingerência de alguma pessoa que não tivesse sido ordenada na administração tornava os atos sem validade. Essas mudanças ocasionaram vários efeitos devastadores para o ministério do Espírito Santo no meio do povo de Deus. Os dons que antes surgiam espontaneamente entre toda a congregação agora estavam restritos à hierarquia eclesial e eram transmitidos por um ato sacramental. Na igreja do Novo Testamento, as pessoas participavam de uma oração espontânea, mas agora se tornaram espectadoras passivas de um ritual altamente sofisticado, presidido pelos hierarcas da Igreja. SURGIMENTO DAS BATALHAS DOUTRINAIS A ascensão da Igreja ao poder também marcou o início de muitas batalhas doutrinais. Depois que a Igreja se livrou da ameaça da perseguição e usufruiu dos favores do imperador, ela voltou sua atenção às questões teológicas que se tornaram o teste de tornassol da ortodoxia aplicado a qualquer um. Muitas batalhas violentas se seguiram, produzindo divisões intensas na Igreja. Basílio de Cesareia, bispo da Capadócia (371-379 d.C.), comparou essa situação a uma batalha naval combatida por homens que “cultivam um ódio mortal uns para com os outros”79. Mas que tempestade no mar foi tão cruel quanto as tempestades nas igrejas? Nela todos os marcos dos Pais estão sendo movidos; toda fundação, todo baluarte de opinião foi abalado; por se sustentar numa base deteriorada, tudo em volta se desestabiliza e desmorona. Nós atacamos uns aos outros. Se nosso inimigo não nos atinge antes, nós somos feridos em nosso lado pelos nossos camaradas80. Em uma situação como essa, não é de surpreender que os dons espirituais – que, segundo os ensinamentos de Paulo, deveriam funcionar dentro de um contexto de amor cristão – se extinguissem na igreja institucional. O envolvimento da igreja com a abundância e o poder mundanos marcaram o fim dos charismata como uma parte vital da sua vida e do seu ministério. A. J. Gordon, pastor e fundador batista da Faculdade Gordon, em Boston, estava correto quando disse: “Não é de todo estranho que, quando a Igreja se esqueceu de sua cidadania celeste e começou a se acomodar na luxúria e no esplendor terrenos, ela tenha parado de exibir os dons sobrenaturais do céu”81. Porém, ainda que os dons tenham desaparecido da igreja institucional, não desapareceram por completo. A partir de então, começaram a aparecer entre os crentes que se retiraram da sociedade com o intuito de viver uma vida de oração e devoção a Deus, num esforço de escapar da corrupção que se apoderava tanto da Igreja quanto do mundo. Conhecidos como monásticos, eles se tornaram uma força vital durante a Idade Média e preservaram a dimensão miraculosa da fé cristã. Capítulo 5 MONASTICISMO: O SURGIMENTO DE OUTRO MOVIMENTO CARISMÁTICO Os monásticos eram crentes devotos que se dedicavam à vida ascética num esforço de experimentar a presença e o poder de Deus de uma maneira muito íntima. O estágio inicial do movimento foi individualista, com ascetas vivendo como ermitões. Por volta de 320 d.C., eles começaram a se reunir em comunidades onde adotavam um estilo de vida totalmente autossuficiente. Durante a Idade Média (600-1517 d.C.) essas comunidades – ou monastérios, como eram chamados – tornaram-se centros de aprendizado, e os monges serviam como curadores dos livros e manuscritos. Em total devoção a Deus, eles se entregavam aos estudos, à oração e à meditação. Provaram, de fato, ser focos de luz durante um período de decadência social intensa, conhecida como a Era das Trevas (500-1300 d.C.). Após a chegada de Constantino ao poder, a maioria dos fenômenos sobrenaturais é registrada pelos monásticos ou por aqueles que veneravam o estilo de vida monástico. O Cardeal Leon Joseph Suenens está correto ao dizer que “em seu princípio, o monasticismo foi, de fato, um movimento carismático” 82. Os dons miraculosos do Espírito Santo que desapareceram da igreja institucional apareciam agora entre os monásticos. Muitos monges ganharam notoriedade pelo poder de sua oração e por sua habilidade em produzir cura, libertação da opressão demoníaca e outros fenômenos milagrosos. Os pais da Igreja, que falavam sobre milagres, como Atanásio, Agostinho e Jerônimo, ou praticavam a vida monástica ou tinham uma ligação estreita com quem a praticava. ANTÃO Antão (251-356 d.C.) é geralmente considerado o pai do monasticismo. Ele foi criado num lar cristão abastado do Egito. Logo após a morte de seus pais, quando tinha 18 anos, sentiu que Deus o estava guiando para abandonar todos os seus bens e viver uma vida de devoção absoluta. Após vender a fazenda de 300 acres de seu pai, ele se mudou para uma caverna no deserto, e ali dedicava seu tempo à oração e à meditação. A fama da santidade e do poder de oração de Antão se espalhou por todo o império. Muitos outros, imitando-o, adotaram o estilo de vida ermitão. Outros, ainda, inspirados por sua devoção, se organizaram em comunidades monásticas. A vida de Antão, escrito pelo Bispo Atanásio, está cheio de relatos sobrenaturais. De acordo com Atanásio, muitas pessoas de todo tipo visitaram Antão no deserto buscando sua sabedoria e suas orações. Dizem que ele possuía o dom de discernimento de espíritos e recebia revelações sobrenaturais. Suas orações traziam cura aos doentes e libertação para os endemoniados. Atanásio fala de uma ocasião específica em que muitos se reuniram à entrada da caverna de Antão atrás de suas orações. Antão enfim saiu de lá e “por meio dele o Senhor curou as enfermidades corporais de muitos ali, e purificou outros de espíritos maus”83. Antão viveu até os 105 anos. Segundo Atanásio, ele se manteve fisicamente forte até o fim. Seus olhos mantiveram o fulgor e ele não perdeu um dente sequer. Antes de sua morte, ele visitou outros monges no deserto e lhes informou que aquela seria a última vez que o veriam. Eles responderam com lágrimas e abraços e ele, por sua vez, lhes exortou alegremente a permanecer em sua devoção a Deus. Pouco depois, após ter indicado o que fazer na distribuição de seus poucos pertences, ele uniu seus pés sob si (como Jacó em Gênesis 49.33) e morreu com uma expressão de alegria no rosto. PACÔMIO Pacômio (292-346 d.C.) era um soldado dispensado que provavelmente se inspirou no testemunho de Antão para viver durante um tempo como ermitão. Certo dia, quando estava sentado em sua cela, um anjo lhe apareceu e disse: “Vá e traga a ti aqueles que andam errantes e habita com eles, e entrega-lhes estas leis que lhe ditarei”84. Em seguida, Pacômio organizaria o primeiro monastério, em 320 d.C., a leste do Rio Nilo, em Tabennisi. Cada membro da comunidade se comprometia a cumprir uma tarefa, adotar horários específicos para a adoração e usar roupas similares às de seus colegas monges. Além do tempo dedicado à devoção privada, eles tinham horários fixos para a adoração comum. Um escritor antigo descreveu Pacômio como “um homem dotado da graça apostólica tanto no ensinamento quanto na operação de milagres”85. Em certa ocasião, ele recebeu um visitante do Ocidente que falava latim, uma língua que Pacômio não conhecia. Porém, após três horas de oração sincera, Pacômio adquiriu a habilidadede conversar com o visitante em latim. Foi relatado que, quando necessário, Pacômio conseguiu se comunicar em diversas ocasiões em uma língua que não aprendera antes. Isso indica que provavelmente o dom de línguas era comum nas comunidades monásticas. ATANÁSIO Conhecido como o pai da ortodoxia, Atanásio (295-373 d.C.) foi o bispo de Alexandria. Sua vida antecedeu e sucedeu o Concílio de Niceia. Sua fama se deve mais aos seus escritos contra o arianismo. Arius ensinava que Cristo era um ser criado, diferente do Pai e menor que ele. Esse ensinamento conquistou muitos seguidores no quarto século. Atanásio, por outro lado, insistiu que Cristo era igual, coeterno e consubstancial ao Pai. Em virtude dessas posições, foi exilado por cinco vezes, mas seu ensinamento finalmente foi aceito pela doutrina oficial da Igreja. Atanásio estava obviamente acostumado com o ministério sobrenatural do Espírito Santo. Ele escreveu o relato da vida de seu amigo Antão, imortalizando muitos de seus milagres. Atanásio concluiu seu relato da vida de Antão dizendo: “Nós não podemos duvidar de que tais maravilhas tenham sido operadas por um homem. Pois na promessa do Salvador ele disse: ‘Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível’”86. À época de Atanásio, o cargo de bispo já tinha se cercado de tantos ornamentos políticos que muitos consideravam a aceitação dessa posição como uma maneira de dar ocasião ao pecado. Porém, Atanásio argumentou contra essa postura em uma carta a seu amigo Dracôncio, o qual deveria escolher entre um estilo de vida monástico comprometido com Deus ou o de um bispo, cercado de facilidades e tentações. Atanásio diz a Dracôncio que ele pode viver qualquer tipo de vida devota que sua alma deseja, mesmo sendo bispo. Ele diz a Dracôncio que conhece bispos que jejuam e monges que não, e também bispos que não se casaram e monges que se casaram e tiveram filhos. Ele também diz que “conhecemos bispos que operam maravilhas (milagres) e monges que não”87. O testemunho de Atanásio mostra claramente que ele estava acostumado e aberto aos dons miraculosos do Espírito. Seus escritos revelam que não se sabia nada sobre a teoria de que os dons haviam cessado nem que eles eram reservados a um grupo de poucos santos selecionados. HILARIÃO Hilarião (305-385 d.C.) nasceu na cidade de Gaza, Palestina. Seus pais, pagãos, deram-lhe uma boa educação. Tornou-se um crente em Jesus Cristo ainda em tenra idade e, desde o início, mostrava uma tendência à vida ascética. Enquanto estava ainda em sua adolescência, Hilarião soube da fama de Antão e o visitou em seu retiro no deserto. Devido a essa visita, Hilarião dedicou-se a uma vida de devoção no deserto da Palestina. Ele, assim como Antão, ganhou reputação por sua santidade e poder de oração. Jerônimo, que o conheceu pessoalmente, disse: “Eu não teria tempo de relatar todos os milagres que foram operados por ele”88. Em outra ocasião, Hilarião encontrou um paralítico deitado perto da entrada de sua abadia. Ele perguntou qual era o nome do homem, e então: “[…] chorando muito e estendendo sua mão ao homem prostrado, disse: ‘Ordeno-te, em nome do Senhor Jesus Cristo, que te levantes e ande’. As palavras sequer haviam saído de sua boca quando, numa velocidade milagrosa, seus membros foram fortalecidos e o homem levantou e manteve-se em pé”89. Hilarião passou os últimos dias de sua vida no Chipre, e ali morreu. Um amigo e admirador roubou seu corpo e o levou de volta à Palestina. De acordo com Jerônimo, que escrevia após a morte de Hilarião, os milagres continuavam a acontecer tanto no Chipre, no local onde ele morreu, quanto em seu túmulo na Palestina. AMBRÓSIO Ambrósio (340-397 d.C.) tornou-se bispo de Milão em 374 d.C.; para sê-lo, desistiu de uma carreira bem-sucedida. Ele era um competente administrador e um pregador talentoso. Sua pregação foi fundamental para trazer Agostinho ao conhecimento da Verdade; em 387 d.C. ele batizou Agostinho. Em certa ocasião em Milão, relata Agostinho, uma enorme multidão se aglomerou próximo a um túmulo de dois mártires. Num sonho, foi revelada a Ambrósio a localização dos corpos desses mártires. Assim que a multidão se aglomerou, um cego recebeu sua visão milagrosamente90. Embora ele tenha vivido e ministrado numa época de decadência espiritual, Ambrósio expressa, nos seus escritos, uma preocupação e uma abertura às manifestações sobrenaturais do espírito. Essa perspectiva é clara em sua obra Do Espírito Santo, na qual ele tenta demonstrar a unidade da Trindade, apontando que aquilo que se poderia falar do Pai e do Filho também se pode falar do Espírito Santo. Veja que o Pai e Cristo também escolhem mestres para as igrejas, e assim como o Pai dá o dom de cura, o Filho também o dá; assim como o Pai dá o dom de línguas, o Filho também o concedeu. Dessa maneira, nós sabemos que o mesmo ocorre com em relação ao Espírito Santo; ele concede os mesmos tipos de graças. Portanto, o Espírito dá os mesmos dons que o Pai, e o Filho também os dá91. Essa passagem exprime uma clara aceitação do fenômeno carismático, como as curas e o dom de línguas. Deveria ser lembrado também que ele fala desses dons no tempo verbal presente, mostrando sua crença na validade deles na época deles. JERÔNIMO Jerônimo (347-420 d.C.) converteu-se em 360 d.C. e passou a ser um estudante nômade em Roma e nas cidades da Gália durante muitos anos. Ele se tornou um intelectual astuto e um amante das letras clássicas. Enquanto viajava pelo Oriente e para a Antioquia, adoeceu gravemente. Durante sua doença, Cristo apareceu e lhe admoestou por sua devoção exagerada aos estudos clássicos. Arrependido, ele retornou, tornou-se um diligente estudante da Bíblia, estudou hebraico e viveu como ermitão numa região próxima à Antioquia. Um estudioso chamou Jerônimo de “o intelectual mais poderoso que a igreja ocidental antiga pôde ostentar”92. Tempos depois, Jerônimo se mudou para a Palestina, onde se tornou o abade do monastério. Durante esse tempo, até sua morte em 420 d.C., Jerônimo escreveu as obras pelas quais é lembrado, inclusive sua magnum opus, a tradução das Escrituras para o latim, chamada Vulgata. Desde o Concílio de Trento (1545-1563) até recentemente, essa foi a única Bíblia oficial da Igreja Católica Romana. Resta claro que Jerônimo cria no ministério sobrenatural do Espírito Santo. Os milagres são sempre mencionados por ele, especialmente em sua obra A vida de Santo Hilarião. Talvez o milagre mais extraordinário relatado por Jerônimo seja o de Hilarião aquietando o mar que tinha sido agitado por um terremoto violento. Segundo Jerônimo, uma enorme parede d’água que estava prestes a destruir a vila de Epidauro se acalmou e se desfez ante a palma da mão de Hilarião: “Em verdade, aquilo que foi dito aos apóstolos – ‘se tiverdes fé, direis a esta montanha: – vá para o mar – e ela irá’ pôde ser cumprido literalmente se alguém tiver a fé que o Senhor exigiu que os apóstolos tivessem”93. Jerônimo viveu saudável até chegar ao século V e não dá nenhuma pista em seus escritos de que esperasse o fim dos milagres. Como Atanásio, ele mostra que os milagres estão ao alcance de todos os que creem segundo as palavras de Jesus. AGOSTINHO Após sua conversão em 387 d.C., Agostinho (354-430 d.C.) tornou-se o bispo de Hipona, na África Setentrional. Ele foi um pensador influente e um escritor prolífico, geralmente reconhecido como o maior
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