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Fernanda Ribeiro AMBULATÓRIO – INFECTOLOGIA AMBULATÓRIO – INFECTOLOGIA HEPATITES VIRAIS HEPATITE A -Conhecida como icterícia catarral epidêmica, por apresentar curta duração, alta infectividade e evolução benigna. -O vírus de RNA, com capsídeo icosaédrico, desprovido de envelope, pertence à família Picornaviridae, gênero Hepatovírus. Há apenas um sorotipo de HAV. -A faixa etária mais acometida vai dos 5 aos 14 anos, sendo os adultos geralmente infectados a partir das crianças. -A resistência do vírus da hepatite A no ambiente é relativamente alta. Estudos mostram que em água e solos contaminados experimentalmente, o vírus sobrevive, após três meses a 25°C, em superfícies inertes até um mês a 25°C e em após 30 dias a 21°C, apresenta resistência à temperatura, mas é inativado pela fervura a 100°C por um minuto. É resistente aos desinfetantes como o éter e detergentes não iônicos, porém perde a infectividade quando exposto ao formaldeído (0,25%) por 72 horas, ao cloro (1 mg/ml) por 30 minutos e à radiação ultravioleta. -A principal via de contágio é a fecal oral, seja de forma interpessoal ou através de alimento ou água contaminada, o que faz das condições sanitárias e do grau de higiene da população os principais fatores relacionados à disseminação. -A transmissão parenteral é rara, mas possível, se a transfusão for realizada a partir de um doador na fase de viremia do período de incubação. A transmissão pelo contato íntimo sexual também pode ocorrer, particularmente em homossexuais masculinos (sexo anal). -Não existe o estado de portador crônico assintomático e, uma vez infectado, o indivíduo adquire imunidade em função da presença do anti-HAV. Esse anticorpo aparece no soro na época em que o vírus deixa de ser detectado nas fezes (~4 semanas após a infecção), alcança um pico após vários meses e perdura por anos. CICLO DO VÍRUS: -Após ingestão, o que ocorre com o vírus no aparelho digestivo não é ainda bem conhecido. Estudos em modelos experimentais mostram que o vírus é absorvido, mas pode infectar células epiteliais da mucosa digestiva onde prolifera. Cai na corrente circulatória e chega aos hepatócitos, pela circulação portal e pela circulação sistêmica, através dos espaços inter-endoteliais dos sinusóides e espaço de Disse, sendo capturado pelos hepatócitos através de um possível receptor (uma integrina, mucina símile, de classe I, já identificada em células não hepáticas de primatas não humanos). O vírus se multiplica no hepatócito a partir de uma cadeia de RNA com sentido negativo, originada a partir da cadeia com sentido positivo por ação de uma RNA polimerase viral. O vírus montado é eliminado através da membrana apical do hepatócito, chegando aos canalículos biliares e daí, juntamente com a bile, ao intestino. Pela membrana basolateral chega ao sangue. Os mecanismos de eliminação do vírus na bile e no sangue não são conhecidos, mas independe da necrose do hepatócito, já que altos títulos de vírus são observados nas fezes antes de manifestações clínicas ou laboratoriais da infecção, ou seja, antes de fenômenos de necrose hepatocitária. RESPOSTA IMUNE: -O vírus A induz resposta imunitária humoral (anticorpos) e resposta imunitária celular, ambas importantes nos mecanismos de defesa e, especialmente, a celular na patogênese das lesões14 17 21 37 69 79. Nas infecções naturais e/ou nas experimentais, os anticorpos da classe IgM e IgA são os mais precoces, aparecendo junto com as primeiras manifestações clínicas, mas podem só aparecer no fim da primeira semana de doença. Esses anticorpos persistem, na maioria dos pacientes, não mais do que 4 meses; uma minoria de casos pode ter IgM persistente por até um ano. Geralmente as manifestações clínicas desaparecem antes do desaparecimento da IgM. Os anticorpos IgA também desaparecem em alguns meses e sua participação na resistência à infecção não é conhecida. Os anticorpos IgG aparecem após a primeira semana de doença e persistem provavelmente por toda a vida, ainda que em títulos mais baixos, como seqüela sorológica. FORMAS CLÍNICAS: -A hepatite A ocorre como infecção esporádica, endêmica ou epidêmica e as formas clínicas de apresentação são semelhantes, independentes de condições geográficas ou raciais. -Nas formas esporádicas a idade é muito variável, ocorrendo em crianças e adultos e, especialmente, em regiões não endêmicas. Nas formas epidêmicas as crianças são mais atingidas nas regiões endêmicas, mas é mais frequente em jovens e adultos nas regiões não endêmicas. Em qualquer circunstância a infecção com o vírus da hepatite A pode resultar em infecção assintomática, infecção sintomática (oligossintomática) anictérica ou em infecção sintomática ictérica. Formas assintomáticas e sintomáticas anictéricas são comuns em crianças nas regiões endêmicas. Nessas regiões as crianças tem proteção dos anticorpos maternos até os 8 meses de idade e, a partir daí, a maioria se infectará até os cinco anos de idade. Essas infecções são na sua grande maioria assintomáticas ou oligosintomáticas anictéricas. A frequência de casos assintomáticos e anictéricos após a infecção não é bem conhecida. Estudos cuidadosos de surtos epidêmicos de hepatite transmitida por alimentos mostraram 14% de casos assintomáticos e 30% de casos anictéricos (relação aproximada de 1:3,3) . A relação de casos anictéricos para os ictéricos é menor nas crianças. De fato, um estudo de epidemia em uma comunidade religiosa, onde os expostos eram todos abaixo de 20 anos de idade, a relação de anictéricos para ictéricos foi de 7,5:156. O aparecimento de doentes entre comunicantes de uma família é pequeno entre crianças abaixo dos 3 anos de idade, com o mesmo risco de infecção. A menor frequência de adultos doentes nessas condições reflete mais a imunidade existente nesse grupo do que a ocorrência de infecção assintomática. As manifestações clínicas da forma sintomática ictérica aparecem de duas a sete semanas após a infecção (período de incubação), com média de 30 dias. - As manifestações prodrômicas podem durar de dois a quinze dias, e em raros casos não são relatadas. Nesses casos a doença se manifesta diretamente pela icterícia. Essas manifestações são indistinguíveis daquelas que ocorrem em outras infecções viróticas e, se a doença for anictérica, o diagnóstico só será feito através da constatação da elevação das enzimas séricas. A medida que a icterícia se instala os sintomas e sinais prodrômicos melhoram e desaparecem. A icterícia, geralmente precedida pelo relato de urina escura, aparece de dois a quinze dias após as manifestações prodrômicas. A duração da icterícia é variável, alguns relatando média de 7 dias (4 a 22 dias em uma série de casos), mas extensão da icterícia por períodos médios maiores foi relatada em outras séries de casos . Além de mais freqüente, a icterícia nos adultos tem duração maior. As taxas séricas de bilirrubina são variáveis, e média de 6,7g/dL foi relatada em série de casos, todos ictéricos, em New York. Dos sinais, a hepatomegalia discreta e sensível, é o mais freqüente, aparecendo em 85% dos casos enquanto a esplenomegalia e a linfoadenomagalia são menos comuns (15% dos casos). -A evolução da hepatite A é de modo geral muito boa, terminando com a cura na grande maioria de casos, mesmo nas formas mais atípicas. A mortalidade mostra-se baixa em jovens, aumentando muito se a doença é adquirida a partir da quarta década da vida. A Fernanda Ribeiro AMBULATÓRIO – INFECTOLOGIA duração da doença revela-se variável, com média de 15 dias em algumas observações bem controladas, mas com predomínio de crianças. Na série de casos da Universidade de Yale (infecção em voluntários) a duração da doença variou de 7 a 87 dias com média de 30 dias. Não têm sido relatadas complicaçõesmais graves durante a gravidez e a evolução da doença parece não se alterar se a infecção é concomitante com a síndrome da imunodeficiência adquirida. A recorrência ou recidiva da hepatite A mostra-se rara -Uma forma prolongada da hepatite A tem sido relatada, com duração dos sintomas (icterícia) por até 120 dias. -Nesses casos a biópsia hepática mostrou inflamação portal, necrose periportal em saca-bocados, focos necro-inflamatórios intra-lobulares e moderado grau de fibrose. Todos os pacientes apresentaram normalização dos testes bioquímicos até o quinto mês de evolução. Não é incomum que pacientes que tiveram hepatite A prolongada venham a se queixar de fadiga por um período de até um ano após o desaparecimento dos sintomas. -A forma fulminante da hepatite A não é freqüente. Nos países desenvolvidos a insuficiência hepática aguda por hepatite A mostra-se rara, sendo mais freqüente em adultos do que em crianças, tendo sido observada em 20/295 casos relatados em estudo retrospectivo recente nos Estados Unidos. Nos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos a freqüência de insuficiência hepática aguda em crianças, decorrente de formas agudas de hepatite A revela-se mais comum, representando mais de 50% dos casos no Chile, Argentina e Paquistão. Em nosso meio existe apenas um relato sobre insuficiência hepática aguda em crianças atendidas em Hospital pediátrico de Vitória, ES, onde anticorpos IgM anti-vírus da hepatite A estavam presentes em 70% de 46 casos . A mortalidade entre todos os casos de hepatite A é baixa, aproximando-se de 1,5% de todos os casos ictéricos internados nos Estados Unidos (381 mortes entre cerca de 30000 casos hospitalizados no período 1983-1987) A idade é fator importante, sendo maior a mortalidade entre adultos acima de 40 anos. -Nas formas graves (fulminantes) com insuficiência hepática, a mortalidade relatada nos Estados Unidos foi de 65%, para todas as idades. Não temos dados seguros sobre a mortalidade na forma fulminante em todas as idades nos países em desenvolvimento e no Brasil. Nessas regiões, em crianças a mortalidade é menor, tendo sido próxima de 50% nos relatos do Chile, Argentina, Paquistão e Vitória, ES. EXAMES LABORATORIAIS: -Não existem alterações laboratoriais que sejam típicas da hepatite aguda A. A elevação das aminotransferases (transaminases) ocorre já na fase prodrômica, alcançando o limite máximo no auge dos sintomas. Não há relação entre elevação de transaminases e prognóstico da doença. Na maioria das vezes os níveis de TGP não ultrapassam 500UI e a bilirrubina fica abaixo de 10mg/dL. Os melhores indicadores de prognóstico são a atividade de protrombina e os níveis de bilirrubina. Em dois meses, 60% dos pacientes já têm testes bioquímicos normais, chegando a quase 100% em 6 meses. Há relatos raros de elevação de transaminases e bilirrubinas por mais de 12 meses. -O diagnóstico etiológico é feito pela pesquisa dos anticorpos anti- VHA da classe IgM, geralmente, por método de ELISA por competição ou radioimunoensaio, com vários kits disponíveis no mercado. A especificidade da detecção do IgM anti-VHA para o diagnóstico da hepatite aguda A foi de 99%, a sensibilidade de 100% e o valor preditivo positivo foi de 88%. A positividade do anti-A IgM em geral dura quatro meses, podendo chegar a 6 meses em 5% dos casos. Raramente, persiste por mais de 12 meses. Geralmente as enzimas séricas normalizam- se antes da negativação do IgM. -A pesquisa do vírus nas fezes pode ser feita por PCR ou por imuno-eletro-microscopia, mas possui pouco valor como método de rotina para o diagnóstico, pois geralmente a excreção viral se reduz drasticamente e tende a desaparecer após os sintomas. Essa pesquisa se justifica para esclarecer casos arrastados da doença, inclusive para confirmação da etiologia. TRATAMENTO: É sintomático. A dieta é normal e o repouso relativo. Nenhum medicamento, exceto os sintomáticos, devem ser prescritos. O acompanhamento deve ser feito pela dosagem periódica de transaminses e bilirrubinas, com o paciente tendo alta quando os valores das transaminases estiverem normais ou próximo ao normal. Em relação ao repouso, vale a pena assinalar que não existe nenhuma evidencia de que possa melhorar a evolução da doença. A orientação ao doente sobre atividade física deve basear-se no senso comum. Nos casos em que a doença se arrasta ou apresenta recidiva a orientação é a mesma. Em formas colestáticas prolongadas o uso de corticosteróides (30mg de prednisona), com retirada em trinta dias tem sido preconizado para acelerar o desaparecimento da icterícia e do prurido. Esse é certamente um assunto controvertido. Como a evolução espontânea para a cura é a regra o uso de corticosteróides deve ser encarado como medida excepcional. Importante é excluir doença obstrutiva biliar com exame de imagem. O uso de colestiramina está indicado para o controle do prurido. HEPATITE B -O vírus da hepatite B (HBV) é um vírus de DNA (parte desse DNA é dupla fita e parte é fita única), pertencente à família Hepadnaviridae. Estruturalmente, possui um envoltório lipídico e núcleo central denso (core). O envoltório lipídico expressa uma antígeno, denominado antígeno de superfície (HBsAg). O núcleo denso possui outro antígeno, uma proteína interna do core, conhecida como HBcAg. Um terceiro importante antígeno do vírus B, denominado antígeno e (HBeAg) é secretado na corrente circulatória pelos hepatócitos infectados. Existe ainda mais um antígeno, o antígeno x (HBxAg), que é uma molécula que estimula a transcrição de genes virais e celulares, e pode inclusive estimular a transcrição de genes de outros vírus, como o HIV nos co- infectados. -A concentração de HBsAg no plasma é cerca de 1000x maior que a concentração do vírus completo. O HBsAg determina a formação de um anticorpo, o anti-HBs. O HBsAg positivo indica a presença do vírus B no organismo, sendo o principal elemento sorológico para o diagnóstico da hepatite B. O surgimento do anti-HBs ocorre logo após o desaparecimento do HBsAg no sangue e indica, na maioria das vezes, a cura da hepatite B, pelo seu caráter neutralizante. -O HBcAg, por sua vez, se localiza na região central do vírus e não é secretado para o plasma, o que justifica sua ausência no sangue circulante. Na verdade, este antígeno está escondido pelo envoltório viral lipídico (onde está o HBsAg). Entretanto, mesmo assim possui atividade antigênica e determina a formação do anti- HBc. O antígeno c não é detectado no sangue, pois faz parte da estrutura interna do vírus e não é secretado. O anti-HBc é o principal marcador da infecção pelo vírus B (ativa ou curada). Este anticorpo não é neutralizante e sua presença não indica a cura da infecção. -O HBeAg está localizado no core viral, próximo ao HBcAg, mas, ao contrário desse último, é fartamento secretado durante a fase de replicação viral. Quando o HBeAg está positivo, significa que há um grande número de partículas completas do vírus (vírions) circulando (alta viremia), portanto, a infectividade da doença é grande. Sua presença no sangue determina a formação do anti- HBe. Quando este último aparece, o HBeAg já está negativo. O HBeAg é o grande marcador da fase replicativa, indicando grande Fernanda Ribeiro AMBULATÓRIO – INFECTOLOGIA infectividade; o anti-HBe marca a fase não replicativa, de baixa infectividade. -Reconhece-se a existência de 8 genótipos distintos de HBV, denominados de A a H. A distribuição geográfica é peculiar: no Norte são mais comuns o A e o F (alta endemicidade), no Sul e Sudeste (endemicidade intermediária) são o A e o D. TRANSMISSÃO: -Presente em grande concentração nos fluídos corpóreos (esperma, saliva, etc) e no sangue e pode ser transmitido através do contato com estes materiais. Perinatal (vertical) Horizontal (crianças) Sexo, contato íntimo Percutânea (compartilhar escova de dente, lâminas de barbear, agulhas, hemodiálise) Hemotransfusão Transplante de órgão *OBS.: Amamentação NÃO é contra-indicada! *OBS2.: Gestantes positivas com HBeAg têm 90% de chance de transmissão vertical. Gestantes HBsAg positivas, mas HBeAg negativas, transmitem 10-15% dos casos. *OBS3.: 90% dos RN infectados desenvolverão a forma crônica do doença (contra 5% dos adultos com hepatite B aguda). PATOGÊNESE: -Assim como o HAV, o HBV também não é diretamente citopático. Existem evidências de que a hepatite B se inicia por resposta imune dirigida contra antígenos virais específicos expressos pelos hepatócitos, que causam dano a estas células. Estão implicados na resposta imune linfócitos T CD8+ e citocinas, como o TNF-á. Enquanto a resposta imune exacerbada causa lesão hepática grave, podendo culminar até numa hepatite fulminante, uma resposta imune insuficiente é o principal fator predisponente à cronificação. HISTÓRIA NATURAL E MARCADORES: APARECIMENTO DO HBsAg: -O surgimento do HBsAg limita o período de soroconversão. Após esse contágio, o antígeno pode ser detectado no soro dentro de poucas semanas, antes dos sintomas. Assim, quando o paciente desenvolve sintomas inespecíficos da fase prodrômica, já é possível o diagnóstico sorológico da hepatite B. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: -Dura de 4 a 24 semanas (média de 4-6 semanas), podendo variar em função da carga viral ao contágio. Quando se iniciam os primeiros sinais e sintomas, dois importantes eventos costumam tornar-se evidentes: aumento das aminotransferases e aparecimento do anti-HBc. AS 3 FASES CLÍNICAS E MARCADORES SOROLÓGICOS: -Inicia-se a fase prodrômica, que costuma durar por 1 a 2 semanas. Em geral, cada uma das 3 fases clínicas costuma durar vários dias a poucas semanas. O anti-HBc IgM aparece no soro logo após o HBsAg (1-2 semanas), juntamente com os sintomas, e permanece positivo por 4-5 meses. Em conjunto com o HBsAg, compõe os dois marcadores sorológicos mais importantes da hepatite B aguda. O anti-HBc IgG aparece pouco tempo depois do IgM, permanecendo positivo indefinidamente, mesmo que ocorra cura (cicatriz sorológica) ou cronificação da hepatite B. -Com o surgimento do anti-HBs, inicia-se a fase de convalescência, marcada pela queda progressiva das aminotransferases e redução da icterícia e dos sintomas sistêmicos. Esse anticorpo surge em média 1-2 meses após o início dos sintomas, logo depois ou algumas semanas depois da negativação do HBsAg. Este período é chamado de janela imunológica. *OBS.: Após o desaparecimento do HBsAg do sangue, o paciente não é mais passível de transmitir a doença. -A melhora do quadro agudo da hepatite B e a evolução para a cura dependem fundamentalmente da capacidade do indivíduo em produzir de forma satisfatória o anti-HBs. Se não houver produção desse, ou seja, se o HBsAg permanecer por mais de 6 meses, significa a cronificação da doença (portador assintomático ou crônico). *OBS.: O HBeAg é produzido quando o vírus se replica intensamente, durante a fase sintomática da hepatite B e durando um período um pouco inferior ao HBsAg. -Os principais riscos de progressão para HB crônica estariam relacionados com: sexo masculino; indivíduos imunodeprimidos; renais crônicos em diálise; renais crônicos pós-transplantados; homens portadores do vírus da imunodeficiência humana; mutação na região promotora do pré-core; crianças portadoras da Síndrome de Down; leucêmicos; variabilidade genética e mutação genética. Metade desses portadores não apresenta doença hepática (portadores sãos), mas a outra metade mostra sinais de atividade inflamatória no fígado, de variada intensidade, por muitos anos, podendo desenvolver cirrose hepática e/ou hepatocarcinoma nas fases mais tardias da enfermidade em 20 a 40% dos pacientes. Estudos têm demonstrado que pacientes com alto nível sérico de HBV-DNA estão associados a um maior risco de progressão da doença, que pode ser reduzido através da supressão da replicação de HBV-DNA com terapia antiviral. FASES DA HEPATITE B CRÔNICA: -O curso da HBC é afetado pelo nível de replicação viral, pela resposta imune e por outros fatores, como idade, alcoolismo, infecção pelo HIV podendo se dividir em três fases ao longo da vida. -A primeira fase é definida como fase da imunotolerância. Ocorre após o período de transmissão perinatal e é caracterizada pela presença sérica do HbsAg e do HBeAg, altos títulos de HBV-DNA (105 a 1010 cópias por mL), ALT normal ou discretamente elevada, mínima lesão hepática histológica e curso assintomático. Esta fase pode permanecer por até quatro décadas em indivíduos expostos ao VHB na infância. Nesta fase não há indicação de tratamento com as drogas atualmente disponíveis. -A segunda fase é conhecida como imunoativa, onde se esgota a tolerância imunológica, e é caracterizada pela presença no soro do HBeAg ou do anti-HBe+. Elevados níveis da ALT, altos níveis de HBV-DNA e doença hepática ativa observada na biópsia caracterizam esta fase. Nessa fase ocorre uma replicação viral pronunciada, com destruição dos hepatócitos pelo sistema imune e conseqüente elevação das transaminases, principalmente ALT. A intensa replicação do VHB nessa fase pode ser observada pela presença no soro do HBeAg, do próprio DNA viral (DNAVHB), detectado por técnica de PCR, além dos anticorpos contra o core viral (anti-Hbc) da classe IgG e, ocasionalmente, da classe IgM 5. -Na terceira fase ocorre baixa replicação viral com normalização dos níveis das transaminases. A transição da segunda para a terceira fase é chamada de soroconversão, onde há negativação do HBeAg, surgimento do soro de anti-Hbe, com títulos baixos ou indetectáveis do HBV-DNA. Nesta fase há diminuição dos riscos de desenvolvimento de cirrose e hepatocarcinomas. Para avaliar se houve soroconversão também podem ser realizados testes de quantificação viral, sem o que alguns estudos mostram que a HBC em atividade está associada com cargas virais acima de 100.000 cópias/mL. Apesar disso, a eliminação do VHB não pode ser realizada pelo fato de o DNA viral se integrar ao núcleo dos hepatócitos do hospedeiro. Nesta fase também não há indicação de tratamento, pois esses pacientes possuem bom prognóstico. -Após essa fase, podem surgir fenômenos de reativação, caracterizados pelo reaparecimento dos marcadores de replicação e exacerbação das atividades bioquímica e histológica. Essa reativação pode ocorrer de forma espontânea, através do VHB, ou após o emprego de drogas imunossupressoras (corticóides, Fernanda Ribeiro AMBULATÓRIO – INFECTOLOGIA quimioterápicos antineoplásicos, etc.), podendo adquirir caráter fulminante em alguns casos. Portanto, nessa fase recomendam-se determinações quantitativas de HBV-DNA a cada seis meses PROGNÓSTICO: -Indivíduos com HBC têm risco aumentado de desenvolver cirrose hepática e carcinoma hepatocelular, levando anualmente um milhão de indivíduos ao óbito. -Diversos fatores podem modificar a história natural da infecção pelo VHB. Coinfecções com outros vírus como o vírus da imunodeficiência humana (VIH), vírus da hepatite C (VHC) e vírus da hepatite delta (VHD), alcoolismo crônico, uso concomitante de drogas hepatotóxicas e imunossupressão são condições que podem alterar o curso clínico da doença e/ou exacerbar a replicação do VHB. DIAGNÓSTICO: -Além da história e exame físico cuidadosos é importante avaliar todas as provas de função hepática (aminotransferases (ALT, AST), fosfatase alcalina, gamaglutamiltransferase, albumina sérica, provas de coagulação, bilirrubinas) e sorológicas para o VHB (AgHbs, AgHbe/anti-Hbe, anti HbC (total e IgM), anti-Hbs), VHC e HIV, estes últimos para documentar possíveisco-infecções. Também, é fundamental, hoje, inclui-se nas provas laboratoriais, a quantificação do DNA-VHB sérico, realizada através de técnicas de PCR. -A demonstração da infecção pela mutante pré-core - anti Hbe (+); DNA-VHB (+) revela-se de grande importância na indicação terapêutica, uma vez que essa variante do vírus costuma responder mal à terapia com interferon. -A biópsia hepática é indicada na avaliação dos pacientes cronicamente infectados pelo VHB. Nela pode-se graduar a magnitude do processo inflamatório e da fibrose e ainda, através de técnicas de imunohistoquímica, documentar a presença de antígenos S e Core do VHB no tecido. Testes rápidos Fernanda Ribeiro AMBULATÓRIO – INFECTOLOGIA Fernanda Ribeiro AMBULATÓRIO – INFECTOLOGIA TRATAMENTO: -O objetivo principal do tratamento é reduzir o risco de progressão da doença hepática e de seus desfechos primários, especificamente cirrose, CHC e óbito. -Resultado ideal: a perda sustentada do HBsAg, com ou sem soroconversão para anti-HBs, é o resultado ideal da terapia. Esse perfil corresponde à completa remissão da atividade da hepatite crônica; porém, raramente é alcançado. Portanto, devem-se buscar desfechos alternativos para pacientes com HBsAg persistente e HBeAg reagente ou HBeAg não reagente: soroconversão para anti-HBe, redução de carga viral (resposta virológica) e/ou normalização de ALT (resposta bioquímica). -Devido às características fisiopatológicas da infecção crônica pelo HBV, é necessário que as consultas sejam realizadas com periodicidade de, no mínimo, quatro consultas ao ano. Essa periodicidade deve ser individualizada para os pacientes em que a terapêutica tenha sido recéminiciada ou em que o risco de eventos adversos exija cuidado prioritário. -As orientações de prevenção às hepatites virais devem ser compartilhadas com os contatos domiciliares e parceiros sexuais. A prevenção requer atitudes e práticas seguras – como o uso adequado do preservativo e o não compartilhamento de instrumentos perfurocortantes e objetos de higiene pessoal, como escovas de dente, alicates de unha, lâminas de barbear ou depilar. Essas orientações devem permear todos os momentos do atendimento aos portadores de HBV. -Posologia: i. Alfapeguinterferona 2a 40 KDa – 180mcg/semana via subcutânea (SC) ii. Alfapeguinterferona 2b 12 KDa – 1,5mcg/kg/semana via SC iii. Entecavir 0,5 mg – 0,5-1,0mg/dia via oral (VO) iv. Tenofovir (fumarato de tenofovir desoproxila) 300 mg – 300mg/dia VO -A experiência da utilização da alfapeguinterferona 2a ou alfapeguinterferona 2b são equivalentes em pacientes virgens de terapia. A escolha do medicamento a ser utilizado deve estar subordinada à garantia de sustentabilidade e à progressão da assistência no SUS. Tenofovir -Todos os pacientes que apresentam os critérios de inclusão de tratamento são candidatos à terapia com tenofovir, um análogo de nucleotídeo que bloqueia a ação da enzima transcriptase reversa. Esse medicamento constitui a primeira linha de tratamento para a hepatite B crônica. Apresenta elevada potência de supressão viral e alta barreira genética de resistência contra as mutações do HBV. Embora bem tolerado, o tenofovir está associado à toxicidade renal e à desmineralização óssea, particularmente no tratamento de pessoas vivendo com HIV/aids e doença renal pregressa. Seu uso está contraindicado em pacientes com doença renal crônica, osteoporose e outras doenças do metabolismo ósseo, além de pacientes portadores de coinfecção HIV/HCV em terapia antirretroviral com didanosina. Tempo de tratamento indeterminado: conforme conversão sorológica. Entecavir -Nas situações em que houver contraindicação ao uso do tenofovir, ou presença de alteração da função renal em decorrência do seu uso, deve-se indicar o tratamento com entecavir, um análogo de nucleosídeo. Ambas as opções de monoterapia são equivalentes em eficácia, salvo na presença de mutações virais. O medicamento de primeira linha para pacientes em tratamento de imunossupressão e quimioterapia deve ser o entecavir. O entecavir apresenta eficácia reduzida quando há presença de mutações, encontradas especialmente em vírus de pacientes experimentados com análogos de nucleosídeo, como lamivudina e telbivudina. Recomenda-se evitar seu uso em pacientes já experimentados com os medicamentos supracitados. A posologia recomendada para pacientes virgens de tratamento e/ou portadores de cirrose compensada deve ser de 0,5 mg/dia, e de 1 mg/dia para pacientes portadores de cirrose descompensada. O fármaco deve ser administrado por via oral, com ou sem alimentos. Alfapeguinterferona -O interferon-alfa é um grupo de proteínas e glicoproteínas com atividade antiviral, antiproliferativa e imunomoduladora. Trata-se de uma medicação de aplicação subcutânea semanal, indicada para tratamento alternativo de 48 semanas, reservado para pacientes portadores de infecção pelo vírus da hepatite B com exame HBeAg reagente. A extensão ou repetição da modalidade terapêutica não está autorizada, e o ciclo de tratamento do Fernanda Ribeiro AMBULATÓRIO – INFECTOLOGIA paciente deverá ser realizado uma única vez. Excepcionalmente, o ciclo de tratamento poderá ser reiniciado mediante comprovação por relatório médico e retificação do processo de solicitação do medicamento. O consumo atual de álcool ou drogas, a cardiopatia grave, a disfunção tireoidiana não controlada, os distúrbios psiquiátricos não tratados, a neoplasia recente, a insuficiência hepática, a exacerbação aguda de hepatite viral e o transplante (exceto transplante hepático) são contraindicações ao tratamento com alfapeguinterferona. Pacientes que engravidarem ou desenvolverem depressão, descompensação cardíaca, disfunção tireoidiana grave ou diabetes de difícil controle devem ter o tratamento interrompido e ser avaliados por especialistas. Pacientes com plaquetopenia merecem conduta individualizada, com suspensão obrigatória do tratamento quando os índices se reduzirem para menos de 30.000/mm. -A terapia com alfapeguinterferona em pacientes que não apresentarem soroconversão do anti-HBs ao final da 48ª semana de tratamento deverá ser substituída por tenofovir (TDF) ou entecavir (ETV). HEPATITE C -Estima-se que 3% da população mundial esteja infectada pelo vírus da hepatite C e que entre 60% e 70% dos portadores desenvolverão doença hepática crônica, necessitando de assistência à saúde especializada e de alta complexidade. -Sua transmissão ocorre fundamentalmente por via parenteral. A transmissão sexual do HCV também tem sido relatada de forma esporádica em grupos populacionais específicos. -O risco para infecção pelo HCV está aumentado, especialmente, nas seguintes populações: pessoas que receberam transfusão de sangue e/ou hemoderivados antes de 1993; que usam drogas; que compartilham seringas e agulhas; que possuem tatuagem ou piercing; ou que apresentam outras formas de exposição percutânea – como procedimentos odontológicos, podologia, manicure e pedicure –, mas não obedecem às normas de biossegurança. -Globalmente, a epidemiologia da hepatite C também aponta maior vulnerabilidade entre indivíduos de certas gerações. Em recente análise da série histórica brasileira, realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), observa-se que o HCV acomete com maior frequência os indivíduos com mais de 40 anos de idade. -O HCV é um vírus da família Flaviviridae. Em 1993, a análise filogenética das sequências parciais de HCV recuperadas de um grande número de isolados em todo o mundo demonstraram que o vírus podia ser classificado em seis principais genótipos com subtipos importantes. Esses seis grandes grupos genéticos são numeradoscom algarismos arábicos na ordem de sua descoberta, e possuem divergência de 31% a 33% em sua sequência nucleotídica. As cepas mais relacionadas dentro de cada genótipo (similaridade da sequência de nucleotídeos entre 75% e 80%) são denominados subtipos e são indicadas por letras. Todos os genótipos, apresentam um complexo de variantes genéticas com diferenças na sequência de nucleotídeos de 1,0% a 9,2%. Essas variantes são resultado do acúmulo de mutações durante a replicação viral. A alta taxa de mutação do HCV tem sido atribuída a erros no processo de replicação do ácido ribonucléico (RNA) pela RNA polimerase do vírus. -A distribuição dos vários genótipos e subtipos do HCV apresenta significativa variação geográfica. Os genótipos 1, 2 e 3 são predominantemente encontrados na Europa, no Japão e nos Estados Unidos; o genótipo 4 é encontrado principalmente no Egito e no Zaire; o 5 na África do Sul e o 6 na Ásia. HISTÓRIA NATURAL: FORMA AGUDA: -De modo geral, a hepatite viral C aguda apresenta evolução subclínica: cerca de 80% dos casos têm apresentação assintomática e anictérica, o que dificulta o diagnóstico. A menor parte dos pacientes, eventualmente, apresenta icterícia (<10%), ao passo que não mais do que 20% apresentam sintomas inespecíficos mais intensos, como anorexia, astenia, mal-estar e dor abdominal. Quando esses sintomas inespecíficos estão presentes, o quadro clínico é semelhante àquele decorrente de outros agentes que causam hepatites virais, e o diagnóstico diferencial somente é possível mediante a realização de testes rápidos ou sorológicos para detecção de anticorpos específicos. -Os sintomas de infecção aguda podem começar entre seis e 20 semanas após a exposição ao HCV. O início dos sintomas precede a soroconversão – que raramente ocorre em período superior a seis meses. Os níveis séricos de alanina aminotransferase (ALT) começam a aumentar entre duas e oito semanas após a exposição, indicando necrose de hepatócitos. -Após a exposição ao vírus da hepatite C, o HCV RNA poderá ser identificado no soro antes da presença do Anti-HCV. A presença do HCV-RNA pode ocorrer cerca de duas semanas após a exposição ao agente infeccioso. -O nível do HCV-RNA aumenta rapidamente durante as primeiras semanas, atingindo seus níveis máximos entre 105 e 107 UI/mL, imediatamente antes do pico dos níveis séricos de aminotransferases – e pode coincidir com o início dos sintomas. Na hepatite C aguda autolimitada, que ocorre em 15% a 25% dos casos, os sintomas podem persistir durante semanas. A infecção aguda pelo HCV pode ser grave, mas a falência hepática fulminante é rara. -A eliminação viral espontânea, após a infecção aguda pelo HCV, ocorre em 25% a 50% dos casos. Alguns fatores do hospedeiro estão associados à eliminação viral espontânea: idade abaixo de 40 anos; sexo feminino; aparecimento de icterícia; e fatores genéticos como polimorfismo CC da interleucina-28B (IL28B). -A fase aguda da hepatite C pode durar até seis meses, mas sua resolução costuma acontecer até a 12ª semana. Essa fase caracteriza-se pela elevação das aminotransferases séricas, principalmente ALT, e também pode envolver náuseas, vômitos, fadiga, febre baixa e cefaleia. Posteriormente, podem aparecer outras manifestações clínicas, como dor abdominal, icterícia, prurido, colúria, acolia e artralgias associadas ao aparecimento de HCV-RNA. -Definição de hepatite C aguda: 1. Soroconversão recente (há menos de seis meses) e documentada do Anti-HCV (Anti-HCV não reagente no início dos sintomas ou no momento da exposição, com conversão para Anti-HCV reagente na segunda dosagem, realizada com intervalo de 90 dias); OU 2. Anti-HCV não reagente e detecção do HCV-RNA por até 90 dias após o início dos sintomas ou da data da exposição, quando esta for conhecida em indivíduos com histórico de exposição potencial ao HCV. FORMA CRÔNICA -Habitualmente, a hepatite C é diagnosticada em sua fase crônica. Como os sintomas são muitas vezes escassos e inespecíficos, a doença evolui durante décadas sem diagnóstico. Em geral, o diagnóstico específico ocorre após teste sorológico de rotina ou por doação de sangue. Esse fato reitera a importância da suspeição clínica por toda a equipe multiprofissional e do aumento da oferta de diagnóstico sorológico – especialmente para as populações vulneráveis ao HCV. -Definição de hepatite C crônica: Fernanda Ribeiro AMBULATÓRIO – INFECTOLOGIA 1. Anti-HCV reagente por mais de seis meses; E 2. Confirmação diagnóstica com HCV-RNA detectável; E/OU 3. Presença de sinais biológicos ou histológicos de hepatite crônica -Na maioria dos portadores de HCV, as primeiras duas décadas após a transmissão caracterizam-se por evolução insidiosa e assintomática. Os níveis séricos de ALT apresentam elevações intermitentes em 60% a 70% daqueles que têm infecção crônica. -Nos casos mais graves, ocorre progressão para cirrose e descompensação hepática, caracterizada por alterações sistêmicas e hipertensão portal – evoluindo com ascite, varizes esofágicas e encefalopatia hepática. Na ausência de tratamento, ocorre cronificação em 60% a 85% dos casos; em média, 20% podem evoluir para cirrose e 1% a 5% dos pacientes desenvolvem carcinoma hepatocelular. -A maioria dos estudos sugere que a cirrose hepática ocorre em 20% dos pacientes com hepatite C crônica, ao longo de um período de 20 a 30 anos. -A evolução ao óbito geralmente decorre de complicações da hepatopatia crônica, como insuficiência hepatocelular, ou referentes ao desenvolvimento de hipertensão portal – varizes gastresofágicas, hemorragia digestiva alta, ascite e encefalopatia hepática –, além de trombocitopenia e desenvolvimento de CHC. -A insuficiência hepática pode resultar da súbita destruição hepática ou da agressão progressiva aos hepatócitos. Essa degeneração cursa com alterações na arquitetura do fígado e prejuízo da vascularização e da síntese proteica, com formação de fibrose, resultando em cirrose hepática. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: Teste rápido: São testes para a determinação qualitativa do anticorpo Anti-HCV, por método imunocromatográfico, usando antígenos sintéticos e recombinantes imobilizados na membrana para identificação seletiva de Anti-HCV, em amostra mínima de soro ou sangue. Imunoensaio: São exames sorológicos para a detecção de anticorpos Anti-HCV. Testes moleculares: Nem o teste rápido ou imunoensaio determinam a infecção ativa. Os resultados exigem confirmação por testes moleculares para a detecção de ácidos nucleicos do HCV (HCV-RNA), comprovando a presença do vírus. Esses são os testes confirmatórios recomendados atualmente. Genotipagem: O exame de genotipagem do HCV utiliza testes moleculares baseados em amplificação do RNA viral, capazes de identificar os diversos genótipos, subgenótipos e populações mistas do HCV. A caracterização genotípica apenas complementa a avaliação clínico-laboratorial na definição da estratégia para o tratamento da hepatite crônica. Indicado para todos os pacientes! TRATAMENTO: -O objetivo principal do tratamento é a erradicação do vírus. Espera-se, assim, aumentar a expectativa e a qualidade de vida do paciente, diminuir a incidência de complicações da doença hepática crônica e reduzir a transmissão do HCV. Pretende-se, com o tratamento, evitar os desfechos primários da progressão da infecção, como cirrose, carcinoma hepatocelular e óbito. -O resultado ideal é a resposta virológica sustentada, indicada pela indetectabilidade do HCV-RNA 24 semanas (em esquemas com alfapeguinterferona) ou 12 ou 24 semanas (em esquemas sem alfapeguinterferona) após o tratamento. *OBS.: Devido às características fisiopatológicas da infecção crônica pelo HCV, é preciso que as consultassejam realizadas, no mínimo, duas vezes ao ano. Essa rotina deve ser individualizada nos pacientes em que a terapêutica foi recém-iniciada ou quando o risco de eventos adversos exige cuidado prioritário. - As orientações de prevenção às hepatites virais devem ser compartilhadas com os contatos domiciliares e parceiros sexuais. A prevenção requer atitudes e práticas seguras – como o uso adequado do preservativo e o não compartilhamento de instrumentos perfurocortantes e objetos de higiene pessoal, como escovas de dente, alicates de unha, lâminas de barbear ou depilar. Essas orientações devem permear todos os momentos do atendimento aos pacientes, sobretudo, por não existir uma vacina contra o vírus. -A terapia da hepatite C crônica está indicada, prioritariamente, para pacientes não tratados previamente com daclatasvir, simeprevir, sofosbuvir e associação dos fármacos ombitasvir hidratado, veruprevir di-hidratado/ritonavir e dasabuvir sódico monoidratado (3D) e que apresentem os seguintes resultados de exames: METAVIR F3 ou F4 (fibrose hepática avançada) ou evidências clínicas de cirrose (varizes de esôfago, ascite, alterações da morfologia hepática compatíveis com cirrose). Biópsia hepática ou elastografia hepática com resultado METAVIR F2 presente há mais de três anos. Na ausência de doença hepática avançada, o tratamento da hepatite C está indicado para os pacientes com diagnóstico de hepatite C crônica incluídos nas situações abaixo: Coinfecção com o HIV; Coinfecção com HBV; Manifestações extra-hepáticas com acometimento neurológico motor incapacitante, porfiria cutânea, líquen plano grave com envolvimento de mucosa; Crioglobulinemia com manifestação em órgão-alvo (glomerulonefrite, vasculites, envolvimento de olhos, pulmão e sistema nervoso periférico e central); Poliarterite nodosa; Insuficiência renal crônica; Púrpura trombocitopênica idiopática (PTI); Pós-transplante de fígado e de outros órgãos sólidos; Linfoma, gamopatia monoclonal, mieloma múltiplo e outras doenças hematológicas malignas; Hepatite auto-imune; Hemofilia e outras coagulopatias hereditárias; Hemoglobinopatias e anemias hemolíticas. *OBS.: Os pacientes que não se enquadram nas situações apresentadas devem ser monitorados periodicamente até que se configure uma indicação de terapia. *OBS2.: Pacientes coinfectados HIV/HCV genótipo 1 só serão elegíveis ao tratamento com a associação dos fármacos ombitasvir, veruprevir/ritonavir e dasabuvir (3D), quando apresentarem DOENÇA RENAL AVANÇADA (depuração de creatinina inferior ou igual a 30 mL/min) e tiverem seu esquema ARV ajustado a fim de se evitarem interações medicamentosas indesejadas. POSOLOGIA Alfapeguinterferona 2a 40 KDa – 180 mcg/semana via subcutânea (SC) Alfapeguinterferona 2b 12 KDa – 1,5mcg/kg/semana via SC Daclatasvir comprimidos de 30mg – 30mg/dia via oral (VO) Daclatasvir comprimidos de 60mg – 60mg/dia VO Simeprevir comprimidos de 150mg – 150mg/dia VO Sofosbuvir comprimidos de 400mg – 400mg/dia VO Ribavirina comprimidos de 250mg – 11mg/kg/dia ou 1g (<75kg) e 1,25g (>75 kg) VO Fernanda Ribeiro AMBULATÓRIO – INFECTOLOGIA Veruprevir 75 mg / ritonavir 50 mg / ombitasvir 12,5 mg – 2 comprimidos uma vez ao dia (pela manhã) + 1 comprimido de dasabuvir 250 mg – duas vezes ao dia (manhã e noite). *OBS.: O acréscimo de ribavirina (quando seu uso for opcional) aos diferentes esquemas terapêuticos poderá ser realizado para qualquer paciente, sendo particularmente recomendado aos pacientes experimentados ou portadores de cirrose hepática, a fim de aumentar a taxa de RVS. A posologia recomendada para esse antiviral é de 11mg/kg/dia. Pode-se utilizar, como regra, a administração de 1 g para pacientes com peso inferior a 75kg e 1,25g para pacientes com peso superior a 75kg. Fernanda Ribeiro AMBULATÓRIO – INFECTOLOGIA Fernanda Ribeiro AMBULATÓRIO – INFECTOLOGIA
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