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Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 1 FARMACOLOGIA Quanto à via de administração, a via oral é a via de eleição para a administração de medicação analgésica, dando ao paciente maior controlo sobre a sua situação e autonomia para o autocuidado. Já a via IV (intravenosa) é a escolha quando a VO (via oral) não é possível e há necessidade de uma titulação mais acelerada da dose analgésica. Contudo, associa-se a um maior desconforto do paciente, custos e risco de infeções locais e sistémicas A medicação analgésica deve também ser administrada em intervalos fixos de tempo. Uma escala de horário fixo assegura que a próxima dose seja fornecida antes que o efeito da anterior tenha passado e proporciona um efeito de alívio da dor mais consistente. Os fármacos do degrau 1 apresentam “efeito teto”, ou seja, uma dose máxima a apartir da qual não é possível obter mais analgesia. Este grupo inclui o paracetamol e os anti-inflamatórios não esteróides, sendo estes últimos os agentes mais utilizados. Os fármacos do degrau 2 são os opióides fracos, como o tramadol, codeína diidrocodeína, dextropropoxifeno, entre outros. Estes fármacos têm posologia máxima devido ao aumento de efeitos secundários com doses elevadas. Um paciente com dor ligeira a moderada deve ser tratado com opióide fraco associado a AINEs ou paracetamol. Se, sob doses terapêuticas, a dor não estiver controlada, não se deve mudar para outro fármaco deste grupo, mas passar a opióides fortes. O degrau 3 é composto pelos opióides fortes como é o caso da morfina, metadona, fentanil e a oxicodona ANALGÉSICOS NÃO OPIOIDES Todos os analgésicos não opioides têm um efeito teto, ou seja, o aumento da dose acima de determinado nível não produz um efeito analgésico maior Existem duas categorias destas drogas: AINEs e analgésicos simples. 1.1 - AINEs - Podem ser usados em conjunto com analgésicos nos três degraus da escada da OMS. Não causam tolerância ou dependência física ou psíquica e são exemplos desta classe farmacológica: o ibuprofeno, o diclofenaco e o naproxeno o O local de ação desta classe é apenas a nível do tecido afetado, não tendo ação central, sendo bastante efetiva nos casos de dor nociceptiva, em particular no subtipo somático o Na dor nociceptiva crônica em geral, o ibuprofeno é tão ou mais eficaz do que o paracetamol. Alguns estudos afirmam grande eficácia no controle da dor pós-operatória o Como efeitos secundários mais relevantes dos AINEs temos a considerar os efeitos gastrointestinais (náuseas, epigastralgia, ulceração, hemorragia), renais (insuficiência renal aguda, nefrite intersticial), hematológicos (antiagregação plaquetária, hemorragia), ou reações de hipersensibilidade. 1.2 - analgésicos simples – temos, como exemplo, o paracetamol, que apresenta ação analgésica e antipirética, não tendo, no entanto, ação anti-inflamatória significativa o Devido ao risco de hepatotoxidade não deve ser ultrapassada a dose de 4g/24h quando administrado cronicamente e 6g/24h em situações agudas. O tratamento com anti-inflamatórios não- esteróides (AINE’s) é um dos mais utilizados na clínica oncológica e pode ser instituído desde o diagnóstico e durante todo o curso da doença, visando o fornecimento de maior conforto ao paciente pelo alívio de sintomas e, especialmente, da dor e infamação; no entanto, AINE’s possuem efeitos indesejáveis que, apesar do considerável Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 2 progresso científico e farmacológico, podem comprometer o sucesso terapêutico. Fatores de risco como envelhecimento, doença renal e/ou gastrintestinal, hipovolemia e o uso concomitante de drogas como corticosteróides podem exacerbar os efeitos tóxicos dos AINE’s Os AINEs atuam por inibição da ciclooxigenase (COX), inibindo a síntese de prostaglandinas (PG) envolvidas no processo inflamatório local, atuando inteiramente no tecido lesado, não tendo ação central São bastante efetivos na dor produzida por lesão lenta e prolongada do tecido ANALGÉSICOS OPIOIDES Os opioides são os analgésicos mais indicados para o controlo da dor moderada a grave, já que apresentam grande eficácia e padrão favorável. No entanto, possuem uma extensa lista de efeitos adversos Na analgesia com opioides não há teto máximo de ação - a dose pode ser aumentada virtualmente, sem limite É, no entanto, necessário ter presente os potenciais efeitos secundários que condicionam por vezes a opção terapêutica efetuada e a possibilidade de desenvolvimento de tolerância farmacológica Recomenda-se usar apenas um opioide de cada vez, escolhido pela sua intensidade, tempo de ação, comodidade de via de administração, efeitos adicionais e colaterais Quanto à duração de ação, podemos considerar opióides de ação curta e prolongada Os opióides de ação curta devem ser usados em situações de dor aguda ou intermitente e incluem a morfina, oxicodona, oximorfona, hidromorfona, hidrocona, fentanil ou o tramadol Os opióides de ação prolongada (ex. meperidina) têm a vantagem de possibilitar um alívio da dor ao longo do dia de uma forma mais consistente. Exigem uma monitorização cuidada em relação à dose administrada ao longo de 24 horas para identificação de uma dose efetiva no controlo da dor, mas que tenha efeitos adversos mínimos Uma forma de obter uma ação opióide prolongada é o uso de preparações de libertação prolongada, como sistemas transdérmicos (de morfina, fentanil) É também usual subdividir os opióides em duas categorias gerais: opiódes fracos (ex: codeína, tramadol) e opióides fortes (ex: morfina, metadona, fentanil, oxicodona) O equilíbrio entre a eficácia analgésica do opióide e os efeitos adversos aceitáveis pode implicar uma rotação de fármacos. Assim, quando um opióide já está a ser administrado na dose máxima tolerável ou os seus efeitos analgésicos não são satisfatórios ou se existem efeitos adversos intoleráveis, o tratamento pode ser mudado para outro opióide (num paciente, a resposta a diferentes opióides pode variar), o que implica a suspensão do primeiro opióide enquanto se inicia e aumenta progressivamente a dose de um segundo opióide, sob apertada monitorização para detectar e evitar toxicidade por tolerância cruzada incompleta Outra alternativa é a substituição do opióide por uma associação de opióide com outro analgésico Quando se calcula uma dose de conversão de opióides, esta deve ser segura e eficaz É importante garantir doses de resgate de ação rápida e curta duração, com cerca de 1/6 da dose diária total do opióide A segurança implica a redução para um terço da dose diária total do novo opióide e os seguintes passos: . Determinar a dose diária total de opióide utilizado (incluindo os resgates); . Consultar as tabelas de conversão para cálculo da dose adequada do opióide que pretendemos passar a utilizar (Tabela 1) e passá-la a 1/3; . Assegurar medicação de resgate com 1/6 da dose total e administrar quando necessário; Reavaliação periódica, para otimização da dose diária do novo opióide. 2.1 - Codeína Tem em torno de 1/10 da potência da morfina e 10% da população não aceita a conversão da Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 3 codeína para a morfina. A partir de 360 mg/dia, sugere-se a substituição por um opióide forte. 2.2 - TramadolTem 1/10 da potência da morfina, com efeitos colaterais comuns aos opióides, embora obstipação apareça com menor intensidade. Tem metabolização hepática, fazendo com que as apresentações orais tenham biodisponibilidade cerca de duas vezes maior do que a parenteral. Pode também ser usado por via subcutânea de forma intermitente ou contínua. A dose diária não deve exceder 400 mg. 2.3 - Morfina Possui rápida absorção após ingestão oral, na porção superior do intestino delgado, sendo metabolizada no fígado e excretada por via renal. É a droga mais usada para dor moderada a severa sendo que a morfina oral de libertação rápida tem início de ação cerca de 30 minutos após a administração e duração de aproximadamente 4 horas. A morfina de libertação lenta tem início de ação passado cerca de uma hora, com pico às 2-3 horas e duração de aproximadamente 12 horas. 2.4 - Fentanil É um opióide sintético de ação semelhante à morfina, administrado por via transdérmica ao longo de 72 horas, traduzindo-se numa posologia confortável especialmente nos casos de disfagia, oclusões gastrointestinais com ou sem sonda e insuficiências renal ou hepática graves. Os adesivos de fentanil devem ser colocados ao mesmo tempo, a cada três dias, embora o sítio de aplicação deva ser mudado - devem ser colados em local seco, plano, limpo e sem pelos, para aderência ideal. O seu uso é mais apropriado quando o paciente é incapaz de tolerar morfina (efeitos colaterais intoleráveis) e incapaz de ingesão oral pela própria evolução da doença. No entanto, uma dor não controlada com morfina oral, não será resolvida pela conversão a uma dose equivalente de fentanil transdérmico. Não é usado como analgésico num quadro agudo, onde uma rápida titulação é necessária. Pacientes, usando inicialmente morfina que converterão para fentanil, devem permanecer com aquele medicamento para resgate, até que seja alcançado o pico plasmático deste que se dará entre 12 e 24 horas. 2.5 - Metadona É um opióide sintético de uso especialmente indicado para dor neuropática e dores severas, com metabolismo hepático, excreção fecal e alta lipossolubilidade. A metadona é bem absorvida pela via oral, com semi-vida média de 24 h, podendo variar de 10 a 75 horas em diferentes pacientes. 2.6 - Oxicodona A oxicodona tem propriedades semelhantes à morfina, contudo parece causar menos sedação, delírio, vómito e prurido, mas mais obstipação. Tem uma semi-vida em torno de 3,5 h que se prolonga em mais de uma hora na insuficiência renal. A sua biodisponibilidade oral é de 2/3, ou mais, quando comparada com 1/3 da morfina. Isto significa que a oxicodona, VO, é cerca de 1,5 a 2 vezes mais potente do que a morfina oral. Os opioides exercem a sua ação mediante a interação com recetores específicos distribuídos no SNC, induzindo uma analgesia por ativação dos sistemas inibitórios opioide-dependentes ANESTESIA É o estado de total ausência de dor e outras sensações durante uma operação, exame diagnóstico ou curativo 2 classes: o Anestesia Geral: inalatória e EV o Anestesia Local ou Regional: peridural, epidural e bloqueio dos plexos Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 4 INALATÓRIA Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 5 ANESTÉSICOS LOCAIS Anestésico local pode ser definido como uma droga que pode bloquear de forma reversível a transmissão do estímulo nervoso no local onde for aplicado, sem ocasionar alterações no nível de consciência Os anestésicos locais possuem em sua maioria um grupo aromático (lipossolúvel, hidrofóbico) associado a um grupo amina (polar, hidrofílico). Esses dois grupos são ligados por uma cadeia intermediária que determina a classificação do anestésico local como amida ou éster. Os exemplos de amidas são a lidocaína, bupivacaína e prilocaína. Os exemplos de ésteres incluem a cocaína e ametocaína A ligação molecular que existe nos anestésicos locais do tipo éster é mais fácil de ser quebrada que a ligação molecular do grupo amida, por isso os ésteres são mais instáveis em solução e não podem ser armazenados por tanto tempo quanto as amidas O metabolismo da maioria dos ésteres resulta na produção de ácido para-aminobenzóico (PABA) que pode ser associado a reações alérgicas, enquanto as amidas raramente causam reações alérgicas. Por essas razões, atualmente as amidas são mais utilizadas Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 6 MECANISMO DE AÇÃO: Os anestésicos locais bloqueiam a ação de canais iônicos na membrana celular neuronal, impedindo a neurotransmissão do potencial de ação A forma ionizada do anestésico local liga-se de modo específico aos canais de sódio, inativando- os e impedindo a propagação da despolarização celular. Porém, a ligação específica ocorre no meio intracelular, por isso é necessário que o anestésico local em sua forma molecular ultrapasse a membrana plasmática para então bloquear os canais de sódio É provável que exista um segundo mecanismo de ação dos AL, que envolve a inativação dos canais de sódio pela incorporação de moléculas de AL na membrana plasmática (teoria da expansão da membrana plasmática) Esse segundo mecanismo de ação seria gerado pela forma não ionizada dos anestésicos locais, atuando de fora para dentro As fibras nervosas possuem sensibilidades diferentes aos anestésicos locais, sendo as fibras pequenas mais sensíveis que as grandes, e as fibras mielizadas são bloqueadas mais rapidamente que as não mielizadas de mesmo diâmetro O bloqueio das fibras nervosas ocorre gradualmente, iniciado com a perda de sensibilidade à dor, à temperatura, ao toque, à propriocepção e finalmente perda do tônus músculo esquelético. Por essa razão os indivíduos podem ainda sentir o toque no momento em que a dor já está ausente após aplicação do anestésico local Todos os anestésicos locais são bases fracas, assim eles podem se apresentar de duas formas: não ionizada (B) ou ionizada (BH+). O pKa de uma base fraca define o pH no qual as duas formas coexistem em equilíbrio. Como o pH dos tecidos difere do pKa de uma determinada droga, haverá maior proporção de uma das formas, a ionizada ou a não ionizada O pKa dos anestésicos locais determina a quantidade de droga existente na forma ionizada em um determinado pH. No pH fisiológico (7,4) todos os anestésicos locais apresentam sua forma ionizada em maior proporção, visto que o pKa de todos os AL é maior que 7,4. Todavia, como cada droga possui um pKa diferente, a proporção da forma ionizada e não-ionizada (molecular) presentes no local apresenta variabilidade. A lidocaína possui pKa de 7,9, por isso em pH fisiológico apenas 25% da droga apresenta-se na sua forma não-ionizada. A bupivacaína possui pKa de 8,1, por isso em pH fisiológico haverá uma fração ainda menor da forma não-ionizada, aproximadamente 15%. A droga deve atravessar a membrana lipídica da célula para no meio intracelular atuar nos canais de sódio. A porção não-ionizada atravessa a membrana mais facilmente que a ionizada. Assim, a droga com maior fração não-ionizada em pH fisiológico alcança seu sítio efetor de forma mais rápida. Isso explica porque a lidocaína tem menor tempo delatência que a bupivacaína INFECÇÕES: o fato relevante em relação aos tecidos infectados é que eles tendem a ser um meio mais ácido que o habitual. Como há redução no pH local, há menor fração não-ionizada de anestésico local e por isso o efeito será mais lento e reduzido. Tecidos infectados também podem apresentar maior fluxo sanguíneo local, levando à maior remoção do anestésico local antes que ele atue sobre os neurônios Características físico-químicas como a estrutura do anel aromático e o comprimento da cadeia de hidrocarbonetos determinam a lipossolubilidade do anestésico local, relacionada com sua potência. Drogas lipossolúveis penetram mais facilmente a membrana celular para exercer seu efeito Quanto mais potente, menor a quantidade de droga necessária para ocasionar o mesmo efeito. Assim, a bupivacaína – altamente lipossolúvel – é aproximadamente quatro vezes mais potente que a lidocaína. Isso se reflete nas preparações de drogas comercialmente disponíveis, pois como a bupivacaína é mais potente, suas apresentações são em soluções de 0,1 a 0,5%, enquanto a Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 7 lidocaína é geralmente apresentada em soluções de 1 a 2% A duração da ação do anestésico local está relacionada à sua estrutura molecular, principalmente ao comprimento da cadeia intermediária que liga o anel aromático ao grupo amina, e ao grau de ligação protéica da droga. Entre os diferentes anestésicos locais existe uma grande variabilidade de cadeias intermediárias e do grau de ligação protéica. Quanto maior a ligação protéica, maior o tempo de duração do anestésico. Assim, como exemplo, o grau de ligação protéica da lidocaína é 65%, enquanto o da bupivacaína é 95%, pode-se prever que a bupivacaína possua maior duração de ação que a lidocaína – o que de fato ocorre. A procaína (éster) tem baixo grau de ligação protéica, apenas 6%, por isso possui ação ultra rápida É importante ressaltar que o tempo de duração dos efeitos colaterais da droga também está relacionado ao grau de ligação protéica, por isso a bupivacaína é considerada mais tóxica que a lidocaína TRATAMENTO DA NEURALGIA PÓS- HERPÉTICA A neuralgia pós-herpética, principal complicação do herpes-zóster, consiste na persistência da dor por período superior a 4 meses após o início do desenvolvimento do rash cutâneo e ocorre em cerca de 10% dos pacientes Trata-se de uma dor neuropática: dor iniciada ou causada por uma lesão primária ou disfunção do sistema nervoso Os corticoides orais não parecem abreviar e nem prevenir a evolução para a NPH Drogas de 1ª linha para o tratamento: ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS amitriptilina Anticonvulsivantes, como a gabapentina e a pregabalina, provavelmente reduzem os fenômenos de sensibilização central por agirem nos canais de cálcio Os opioides e tramadol são considerados por muitos a terapia de 2ª linha TOXINA BOTULÍNICA A toxina botulínica aparece como uma ótima opção, minimamente invasiva, segura, bem tolerada e realizada em consultório O mecanismo de ação é pouco claro A toxina se fixa nas terminações nervosas e essa etapa é crucial A toxina parece ser capaz de agir em múltiplos neuropeptídios, como o glutamato e a substância P Pode-se levantar a hipótese de que a aplicação de toxina botulínica na zona dolorosa poderia reduzir a inflamação neurogênica, a sensibilização periférica e, consequentemente, a dor resultante Bloqueio pré-sináptico da liberação de acetilcolina na união neuromuscular Redução do glutamato
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