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CONTABILIDADE DO AGRONEGÓCIO Sidnei Mariano sidnei.mariano@kroton.com.br (99) 98103-6111 AULA 08 3 – APURAÇÃO DO CUSTO E ANÁLISE OPERACIONAL 3.2 – Reconhecimento Conforme a IAS 41 Conhecer as particularidades quanto ao tratamento das receitas na contabilidade e determinar em que momento a organização rural deve reconhecer suas receitas de vendas é muito importante para a empresa rural. Conforme o CPC 00(R1) - Estrutura Conceitual para a Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil Financeiro no item 4.25: “receitas são aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuição de passivos, que resultam em aumentos do patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com a contribuição dos detentores dos instrumentos patrimoniais”. Este pronunciamento também alerta que o conceito de receita abrange tanto receitas propriamente ditas, quanto ganhos, e que a receita surge no curso das atividades usuais da entidade e é designada por uma variedade de nomes, tais como vendas, honorários, juros, dividendos, royalties, aluguéis (CPC, 2011). Para pronunciamento técnico CPC 47 – Receita de Contrato com cliente, as receitas representam “aumento nos benefícios econômicos durante o período contábil, originado no curso das atividades usuais da entidade, na forma de fluxos de entrada ou aumentos nos ativos ou redução nos passivos, que resultam em aumento no patrimônio líquido, e que não sejam provenientes de aportes dos participantes do patrimônio”. O pronunciamento técnico CPC 30(R1) – Receitas define que “receita é o ingresso bruto de benefícios econômicos durante o período observado no curso das atividades ordinárias da entidade que resultam no aumento do seu patrimônio líquido, exceto os aumentos de patrimônio líquido relacionados às contribuições dos proprietários”. Como descrito pelo CPC 30(R1) – Receitas, a receita proveniente da venda de bens deve ser reconhecida quando forem satisfeitas todas as seguintes condições: a entidade que tenha transferido para o comprador os riscos e benefícios mais significativos inerentes à propriedade dos bens a entidade não mantenha envolvimento continuado na gestão dos bens vendidos o valor da receita possa ser mensurado com confiabilidade for provável que os benefícios econômicos associados à transação fluirão para a entidade as despesas incorridas ou a serem incorridas, referentes à transação, possam ser mensuradas com confiabilidade Ou seja, segundo esta regra, ocorrendo simultaneamente estas cinco condições, a receita pode ser reconhecida e mensurada com confiabilidade. Nas empresas rurais teremos o reconhecimento inicial do produto agrícola, onde a empresa vai apurar o valor justo do ativo biológico que irá compor o custo que vai para o estoque. A receita só será considerada realizada quando houver a transferência dos riscos e benefícios e as demais condições apresentadas. Outro item também é importante para se determinar o momento do reconhecimento da receita: o transporte dos produtos. Isso ocorre porque um dos principais pontos para o reconhecimento da receita é a transferência de riscos e benefícios, e a forma de transporte pode determinar em que momento isso ocorre. Incoterms são termos que foram criados pela Câmara do Comércio Internacional para determinar a reponsabilidade e custos dos produtos em processos de vendas. no momento em que o comprador retira os bens do local do vendedor. no momento em que o vendedor entrega as mercadorias em local acordado pelas partes para o transportador. no momento em que o vendedor entrega a mercadoria ao lado do navio para o transportador. no momento em que o vendedor embarca as mercadorias no navio. no momento em que o vendedor transfere os bens para o transportador em local determinado. Outro questionamento muito comum, quando o assunto é o reconhecimento da receita, é em que momento se deve reconhecer a receita de uma safra comercializada antecipadamente. Este tipo e transação é muito comum para a segurança da empresa rural e estas, muitas vezes, recebem parte do valor do contrato antecipadamente, mesmo que o ciclo produtivo vai ocorrer muito depois deste pagamento. Neste caso, é preciso lembrar que, como a empresa utiliza um instrumento financeiro para a negociação da safra (contratos futuros, contratos a termo ou contratos swaps) e que este tipo de venda gera uma obrigação entre as duas partes, uma vez que um compra e o outro vende, com data e valores predeterminados. E sendo obrigação, não será uma receita nesta fase, mas um passivo que a empresa tem, e, caso não consiga entregar a safra contratada, deverá pagar ao comprador da safra. 3 – APURAÇÃO DO CUSTO E ANÁLISE OPERACIONAL 3.3 – Ponto de Equilíbrio e Prospecções Toda empresa tem como objetivo principal a rentabilidade de seus sócios e acionistas e, por isso, projetam suas operações de forma a funcionarem com maior eficiência e eficácia possível. Com as empresas rurais isso não é diferente. Apesar das particularidades inerentes à atividade rural, como a dependência do clima, sazonalidade de produtos, preços ditados pelo mercado e perdas por causas variadas, a empresa rural busca a mesma coisa que qualquer empresa: obter lucro. E essas empresas procuram mecanismos capazes de gerar informações para a tomada de decisão levando em conta estas particularidades. A contabilidade é muito importante para suprir o produtor rural de informações que o ajudem na tomada de decisões. E isso se inicia com o registro dos fatos contábeis de forma fidedigna, passa pela gestão dos custos e continua com a geração de informações acerca do ponto de equilíbrio, margem de segurança, índices de rentabilidade e lucratividade, do fluxo de caixa e tantas outras informações que são geradas a partir das informações contábeis. E é desta forma que a contabilidade aparece como ferramenta que auxilia a gestão da empresa rural. A primeira contribuição da contabilidade para gestão da empresa rural está no registro contábil, que permite ao produtor rural comparar períodos diferentes e, com isso, determinar a ocorrência de crescimento ou queda de determinadas operações. Outra contribuição importante para a gestão da empresa rural é a apuração do custo. Como a empresa rural nem sempre tem a possibilidade de ditar os preços dos produtos agrícolas, apurar corretamente o custo da produção é primordial para a sobrevivência. Este custo deve ser sempre o mais enxuto possível, de forma que a rentabilidade seja possível, porque este é o objetivo da empresa rural. Dois indicadores são importantes na gestão de custos, a margem de contribuição e o ponto de equilíbrio. O interessante é que se complementam, uma vez que para o cálculo do ponto é necessário que se saiba antes a margem de contribuição do produto em questão. Segundo Ferreira (2013), “a margem de contribuição unitária é a diferença entre a receita de venda de uma unidade e seus custos variáveis de produção”. A margem de contribuição pode ser entendida como a diferença entre as receitas de vendas e os custos variáveis de produção. EXEMPLIFICANDO: Imagine uma empresa rural que precise selecionar qual dos produtos abaixo deve manter no seu portfólio e utiliza a margem de contribuição destes para tomar a decisão. Considere os dados abaixo, nesta análise: Produto A Produto B Preço de venda R$ 1.900,00 R$ 2.200,00 Custos diretos R$ 800,00 R$ 1.000,00 Custos indiretos R$ 200,00 R$ 500,00 Custos variáveis R$ 1.000,00 R$ 1.500,00 Produto A Produto B Mc = PV - CV Mc = R$ 1.900,00 – R$ 1.000,00 Mc = R$ 900,00 Mc = PV - CV Mc = R$ 2.200,00 – R$ 1.500,00 Mc = R$ 700,00 Com este exemploé possível perceber que não é o preço de venda que determina a rentabilidade de um produto em uma empresa, mas seu custo. E, mais uma vez, a gestão de custos torna-se uma aliada ferramenta de gestão. Segundo Ferreira (2013), “ponto de equilíbrio é aquele em que, ao produzir e vender um determinado número de unidades, a indústria apura o resultado igual a zero, isto é, não há lucro nem prejuízo”. Em outras palavras, o ponto de equilíbrio ocorre quando os custos e despesas totais são iguais à receita total. Abaixo desse ponto, a empresa sofre prejuízo por ainda não ter receita suficiente para pagar seus custos e despesas. Acima desse ponto, a empresa opera com lucro. O ponto de equilíbrio, que também é denominado Break- even Point, nasce da conjugação dos custos e despesas totais com as receitas totais. Ao calcular o ponto de equilíbrio alcançamos o número que a empresa precisa buscar como meta de venda mínima. Em outras palavras, o ponto de equilíbrio determina a capacidade produtiva mínima da empresa, e representa o esforço de venda a ser executado pela empresa, de forma que se esta não atinge esta produtividade, certamente apresentará problemas de lucratividade. O ponto de equilíbrio pode ser dividido em três categorias: PONTO DE EQUILIBRIO CONTABIL PONTO DE EQUILIBRIO ECONÔMICO PONTO DE EQUILIBRIO FINANCEIRO PONTO DE EQUILÍBRIO CONTÁBIL é aquele que apura o resultado igual a zero e informa qual o volume de produção mínimo da empresa para não ter prejuízo. Encontrando o ponto de equilíbrio contábil a empresa sabe o momento em que não há lucro ou prejuízo. PE = Custos Fixos Totais + Despesas Fixas Totais Margem de Contribuição Unitária PONTO DE EQUILÍBRIO ECONÔMICO é aquele em que o lucro contábil apurado na atividade empresarial é igual ao rendimento obtido se o capital próprio fosse destinado a outra alternativa de investimento. PE = Custos Fixos Totais + Lucro Margem de Contribuição Unitária PONTO DE EQUILÍBRIO FINANCEIRO é aquele em que devem ser eliminados os gastos com depreciação, amortização e exaustão que estejam incluídos nos custos e despesas fixos porque não representam saídas financeiras. PE = Custos Fixos Totais - Depreciação Margem de Contribuição Unitária EXEMPLIFICANDO: Uma empresa rural apurou os seguintes gastos em X1: Venda unitária: R$ 200,00 Custos variáveis unitários: R$ 150,00 Custos fixos totais: R$ 30.000,00 Despesas fixas totais: R$ 20.000,00 Calculando a Margem de Contribuição Unitária: Mc = PV – CV Mc = R$ 200,00 – R$ 150,00 Mc = R$ 50,00 Então, no cálculo do Ponto de Equilíbrio Contábil teremos: PEC = (CFT+DFC)/MCu PEC = (R$ 30.000,00 + R$ 20.000,00)/R$ 50,00 PEC = 1.000 unidades Além do ponto de equilíbrio e da margem de contribuição, a empresa rural ainda pode utilizar a margem de segurança na determinação de suas metas. Segundo Ferreira (2013, pág. 178), a margem de segurança é equivalente às unidades produzidas e vendidas acima do ponto de equilíbrio. A margem de segurança irá gerar uma folga para que a empresa não opere apenas para não ter prejuízo. Mas não basta apenas determinar a quantidade necessária de produtividade e quanto cada produto contribui nos custos, a empresar rural, como qualquer empresa que tem como objetivo o lucro, precisa realizar projeções acerca da rentabilidade e lucratividade desejada. E, mais uma vez, a contabilidade se torna uma ferramenta importante para o empresário rural. Para atingir a rentabilidade desejada a empresa precisa controlar, além os custos, o fluxo de caixa. E este é, sem dúvidas, um instrumento determinante na rotina da empresa rural, devendo ser feito mesmo nas pequenas propriedades. Uma vez que a empresa rural pode não ter receitas constantes, é questão de sobrevivência que o fluxo de caixa da empresa seja um aliado e um instrumento que ajudem na administração dos recursos, gerar resultados positivos e evitar problemas de solvência. O fluxo de caixa é muito importante, porque permite a gestão de recursos, analisando-se as entradas e saídas de recursos para saber se estes são suficientes em cada período do ciclo operacional, de forma a detectar períodos em que os desembolsos serão maiores do que entradas, e, com isso, prever a necessidade de empréstimos e financiamentos para alavancar as atividades da empresa. Com isso, pode-se dizer que a finalidade do fluxo de caixa é identificar situações de sobra (superávit) ou falta (déficit) de recursos. E é após esta análise do fluxo de caixa que a empresa define a necessidade de alavancagem financeira. Alavancagem é o procedimento em que a empresa utiliza o capital de terceiros para financiar suas operações, de forma que o capital próprio fica resguardado para outras atividades. É imprescindível também o orçamento financeiro, que vai ajudar o produtor rural a projetar e comparar o orçado com o realizado e permitirá ao produtor rural ter uma visão financeira enquanto o seu ciclo produtivo está em andamento. Diferente do fluxo de caixa, que usa o regime de caixa, este tipo de orçamento é feito pelo regime de competência, dando ao produtor rural uma visão mais abrangente para a tomada de decisão, podendo, com esta visão, prever em que momento precisará recorrer a fontes de financiamento ou terá abundância de recursos. E na busca pela melhor forma de gestão, duas diretrizes pautam as decisões do produtor rural: a lucratividade e a rentabilidade. Estes dois conceitos financeiros, que são estudados mais profundamente na disciplina de análise das demonstrações contábeis, são alicerces para que a empresa rural continue operando. Afinal, nenhum investidor continua com investimentos que não operem no lucro, não tragam retorno de investimento e a rentabilidade não seja positiva. Segundo Padoveze (2011), “a rentabilidade é uma relação percentual do resultado obtido com o valor do investimento”. E acrescenta que “a rentabilidade é a resultante das operações da empresa em um determinado período e, portanto, envolve todos os elementos operacionais, econômicos e financeiros do empreendimento” onde “(...) o ativo represente todos os investimentos feitos na empresa, e o passivo as duas fontes de financiamento, capital de terceiros e capital próprio”. RENTABILIDADE DO PATRIMÔNIO RENTABILIDADE OPERACIONAL diz respeito ao retorno que os sócios terão em relação ao patrimônio líquido da empresa não se preocupa com os financiadores e procura mensurar a rentabilidade do investimento total ROE = Lucro Líquido x 100 Pat. Líquido ROA= Lucro Líquido x 100 Ativo Total APRIMORANDO: A empresa ARROZ DU BOM tem uma área cultivada de 2.500 hectares de arroz e sabe que haverá diferença de produtividade por cada método de plantio realizado. TIPO DE MANEJO CUSTO FIXO CUSTO VARIÁVEL CAPACIDADE PRODUTIVA por hectare por hectare por hectare Convencional R$ 55,00 R$ 32,00 80 sacas por hectare Pré-Germinado R$ 75,00 R$ 33,00 90 sacas por hectare Semidireto R$ 60,00 R$ 37,00 120 sacas por hectare Lembre-se de que, independente do manejo, o arroz está sendo comercializado a R$ 60,00 a saca. a) Calcular a margem de contribuição e ponto de equilíbrio de cada tipo de manejo, considerando que cada tipo de manejo tem produtividade diferente. b) Apurar a receita de vendas de cada tipo de manejo. c) Elaborar um parecer acerca de qual tipo de manejo é mais vantajoso para a empresa considerando a margem de contribuição, o ponto de equilíbrio e a receita de vendas.
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