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01 Carlos Alberto Machado da Rocha C U R S O T É C N I C O E M A Q U I C U LT U R A A questão da sistemática biológica BIOLOGIA AQUÁTICA E PESQUEIRA Coordenadora da Produção dos Materias Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Ivana Lima José Antônio Bezerra Júnior Mariana Araújo de Brito Vitor Gomes Pimentel Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Jeremias Alves A. Silva Margareth Pereira Dias Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho Revisão Técnica Rosilene Alves de Paiva EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... 1 Biologia aquática e pesqueira A01 Objetivos Que a disciplina Biologia Aquática e Pesqueira aborda generalidades sobre sistemática biológica, enfatiza representantes aquáticos dos diferentes grupos animais e analisa aspectos ligados aos estoques pesqueiros e à seletividade dos apetrechos de pesca. Nesta primeira unidade, você verá, por exemplo, como utilizar categorias hierárquicas para classifi car organizadamente os seres vivos. Se bem que organizar os seres vivos de forma hierárquica é apenas parte da sistemática biológica. É necessário ainda identifi cá-los de maneira precisa e singular para que as informações sobre os mesmos possam ser convenientemente catalogadas e organizadas. As atividades avaliativas estão distribuídas e deverão ser realizadas ao longo da aula. São exercícios propostos, palavras-cruzadas e auto-avaliação. Conhecer as principais regras de nomenclatura biológica e suas aplicações. Identifi car os mais importantes grupos animais. 2 Biologia aquática e pesqueira A01 Para começo de conversa... Ao entrar no Mercado Público do Ver-o-Peso, em Belém do Pará e procurar pela pescadinha-gó, um peixe bastante comum em toda a costa atlântica do nosso país, você facilmente será entendido pelos comerciantes de peixe. Porém, o mesmo não ocorrerá no Mercado Público do Rio Grande, no estado do Rio Grande do Sul, pelo menos se procurá-lo pelo nome pescadinha-gó. A mesma espécie é mais conhecida, por exemplo, nas regiões Sudeste e Sul do Brasil como pescadinha real ou pescada-foguete. Por outro lado, é conhecida como King weakfi sh em inglês, pescadilla real em espanhol, acoupa chaesseur em francês, considerando-se apenas alguns idiomas. Porém seu nome científi co, Macrodon ancylodon, é o mesmo em qualquer lugar do mundo. 1Praticando... 3 Nomenclatura O uso de um nome científi co para cada espécie corresponde a uma padronização mundial, evitando prováveis confusões geradas pela existência de diferentes termos populares que variam de uma região para outra. Logicamente que você não precisará utilizar, de modo corriqueiro, os nomes científi cos dos organismos aquáticos com os quais trabalhará como técnico, porém, na leitura de artigos ou mesmo livros técnicos sobre o assunto, freqüentemente encontrará essa forma de identifi cação. Além disso, você deverá utilizar a nomenclatura científi ca ao referir uma espécie, por exemplo, em um projeto seu ou mesmo em relatórios. A designação de uma espécie é feita por dois termos latinos ou latinizados (nomenclatura binominal). O primeiro nome, geralmente um substantivo, corresponde ao gênero e deve ser escrito com letra inicial maiúscula. O segundo nome é um adjetivo que representa o epíteto específi co, sendo grafado com inicial minúscula. Ex.: no nome científi co do caranguejo Ucides cordatus, o termo “Ucides” designa o gênero, e o termo “cordatus” o epíteto específi co. O nome científi co deve ser destacado no texto onde aparece, podendo tanto ser impresso em itálico (letra inclinada) como em sublinhado. Se o autor da descrição de uma espécie for mencionado, seu nome deverá aparecer em seguida ao epíteto específi co (termo específi co) sem pontuação; o ano em que ele descreveu a espécie virá após seu nome, precedido de uma vírgula: Ucides cordatus Linnaeus, 1763. Exercício proposto Você conhece algum caso em que o nome de um ser vivo é diferente de uma região para outra, ou mesmo, algum caso em que um mesmo nome é utilizado para diferentes seres vivos? Comente. Biologia aquática e pesqueira A01 4 Biologia aquática e pesqueira A01 Os sete grupos básicos de classifi cação Em 1735, o botânico e médico sueco Linné estabeleceu a espécie como unidade básica de classifi cação, reuniu os seres vivos em cinco grupos taxonômicos – reino, classe, ordem, gênero e espécie – e propôs uma hierarquia de semelhanças entre eles. Depois, outros pesquisadores acrescentaram dois grupos: fi lo (para o conjunto de classes aparentadas) e família (para o conjunto de gêneros aparentados). Espécies muito parecidas podem ser reunidas no grupo gênero; neste, o grau de semelhança é menor que na espécie. Gêneros afi ns formam famílias e estas compõem ordens, que se reúnem em classes. Os fi los (ou divisões) são compostos por classes semelhantes. Os diversos fi los ou divisões são reunidos em reinos. ‘’Karl von Linné’’ (ou, em português, ‘’Carlos Lineu’’, ou ainda ‘’Carolus Linnaeus’’, como passou a se auto-denominar, latinizando o nome) nasceu em 23 de Maio de 1707 em Stenbrohult, na província de Smalandia na Suécia, e morreu em 10 de Janeiro de 1778). Foi o fundador do sistema moderno de classifi cação científi ca dos organismos. Em 1735, publica o seu primeiro livro, “Systema Naturae”, no qual propõe regras para classifi car e denominar animais e plantas. É um sistema de classifi cação simples que substitui as longas denominações de espécies, às vezes, com dezenas de nomes que vigoravam na Europa àquela época. Das espécies aos reinos A pescada amarela, por exemplo, pertence à espécie Cynoscion acoupa, enquanto a pescada cambuçu é chamada cientifi camente de Cynoscion virescens. Esses peixes, embora sejam de espécies diferentes – pois não são capazes de cruzar- se entre si gerando descendentes férteis – são portadores de características bastante próximas, fazendo parte do mesmo gênero (Cynoscion). O outro tipo de pescada que conhecemos é a pescadinha-gó (Macrodon ancylodon) que, apesar de pertencer a outro gênero (Macrodon), assemelha-se às outras pescadas e, por isso, tanto o gênero Cynoscion quanto o gênero Macrodon pertencem à mesma família: Sciaenidae. 5 Biologia aquática e pesqueira A01 As Figuras 1 e 2 remetem a animais que pertencem à mesma família (Sciaenidae), mas a gêneros e espécies diferentes: Pescada amarela (Cynoscion acoupa) e Pescadinha-gó (Macrodon ancylodon). Figura 1– Pescada amarela Figura 2 – Pescadinha-gó Muitas outras famílias animais poderiam ser consideradas. A família Cichlidae, por exemplo, engloba animais semelhantes ao tucunaré (Cichla monoculus), tais como a tilápia (Tilapia macrocephla) e o acará-papa-terra (Geophagus brasiliensis). As famílias Sciaenidae e Cichlidae, juntamente com outras, como Lutjanidae (pargo e cioba) e Serranidae (meros e garoupas), enquadram-se na mais diver- sifi cada de todas as ordens de peixes ósseos: Perciformes. As fi guras 3 e 4 referem-se a animais que pertencem à mesma ordem (Percifor- mes), mas a famílias, gêneros e espécies diferentes: Tucunaré (Cichla monoculus) e Pargo (Lutjanus argentiventris). Figura 3 – Tucunaré Figura 4 – Pargo Quando reunimos os Perciformes às outras ordens de peixes com esqueletopredominantemente ósseo, como a dos Clupeiformes (sardinhas, arenques e salmões), a dos Characiformes (tambaqui, pacus e piranhas) e a dos Mugiliformes (barracudas e tainhas), temos a classe dos Osteichthyes. Nas fi gura 5 e 6 são mostrados animais que pertencem à mesma classe (Osteichthyes), porém a ordens, famílias, gêneros e espécies diferentes: Salmão do Atlântico (Salmo salar) e Tambaqui (Colossoma macropomum). 2Praticando... Notocorda é uma coluna de células que se encontra, no embrião, em seu eixo longo entre o tubo neural e o intestino primitivo, tipicamente na linha média. Pode ser persistente por toda a vida (exemplo: anfi oxo) ou substituída pela coluna vertebral (vertebrados). Notocorda Táxons Táxons são as unidades utilizadas em sistemática. São também denominados taxa (plural de taxon em latim) e podem ocupar qualquer nível de um sistema de classifi cação: reinos, ordens, famílias, gêneros e subgêneros são alguns táxons. 6 Biologia aquática e pesqueira A01 Figura 5 – Salmão do Atlântico Figura 6 – Tambaqui Os peixes ósseos, assim como os ciclóstomos, peixes cartilaginosos, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, são animais que apresentam, na fase embrionária, um eixo de sustentação chamado notocorda e, por isso, pertencem ao mesmo fi lo: Chordata. O fi lo dos cordados, juntamente com o dos equinodermas (estrela-do-mar), artrópodos (insetos, crustáceos, aranhas) e moluscos (ostras, polvos), entre outros, constituem o reino Animalia. Além dessas categorias, muitas vezes utilizamos táxons intermediários, tais como subfi lo, subordem, infraordem, superfamília, subfamília, subgênero, subespécie. Exercícios propostos 1. De acordo com o sistema binominal de nomenclatura estabelecido por Linnaeus, o nome científi co Felis catus aplica-se a todos os gatos domésticos, como angorás, siameses, persas, abissínios e malhados. O gato selvagem (Felis silvestris), o lince (Felis lynx) e o puma ou suçuarana (Felis concolor) são espécies relacionadas ao gato. a) A que gênero pertencem todos os animais mencionados? b) Por que todos os gatos domésticos são designados por um mesmo nome científi co? c) Qual dos nomes a seguir designa corretamente a família a que pertencem esses animais: Felinaceae, Felidae, Felini, Felinus ou Felidaceae? Justifi que. a) b) c) 7 Biologia aquática e pesqueira A01 2. Leptodactylus labyrinthicus é um nome aparentemente complicado para um anfíbio que ocorre em brejos do estado de São Paulo. Justifi que o uso do nome científi co em vez de identifi car o anfíbio como “rã-pimenta”, como fazem os pescadores. Bentônica relativa aos bentos, que são comunidades de organismos que vivem no fundo do mar, desde as praias até as profundezas abissais. Suas vidas estão ligadas a algum substrato. Betônica 8 Biologia aquática e pesqueira A01 O reino animalia Um dos maiores problemas relacionados com a manutenção da vida é a obtenção e a conservação da água. Para os animais, a água é fundamental como meio onde ocorrem reações químicas, além de participar de outros importantes processos, como a sustentação, a distribuição de substâncias, a eliminação de excretas e o controle térmico. A vida surgiu na água há aproximadamente quatro bilhões de anos. Muitas espécies se extinguiram e outras evoluíram até as formas atuais, que incluem representantes aquáticos e terrestres. O reino Animalia ou Metazoa abrange todos os animais, seres eucariontes, pluricelulares e heterótrofos. Os componentes desse reino são organizados em numerosos fi los, dos quais destacamos: Poríferos Animais assimétricos ou radiais, sésseis, fi ltradores, com numerosos poros na parede do corpo. Fazem parte da macrofauna bentônica. As esponjas, como também são chamados, não possuem órgãos e têm como principais células: coanócitos, amebócitos, arqueócitos, pinacócitos e porócitos. Figura 7 – Poríferos fi xos a um substrato no fundo do mar Fo nt e: S ag gi om o e B em ve nu ti (2 0 0 6 , p . 2 7 ). Os cnidários apresentam três grupos: HIDROZOÁRIOS (representados pelas hidras e caravelas), CIFOZOÁRIOS (águas-vivas) e ANTOZOÁRIOS (anêmonas-do-mar e corais). Cnidários Sistema nervoso (difuso) Sistema Nervoso Difuso é o sistema constituído por uma rede de células nervosas, mas sem que haja regiões com maior concentração de neurônios e sinapses, ou seja, não há gânglios nem cérebro. 9 Biologia aquática e pesqueira A01 Cnidários Os cnidários (do grego knidos = urticantes) são animais radiais, sésseis (“pólipos”) ou móveis (“medusas”). Caracterizam-se pelas células urticantes conhecidas como cnidoblastos, úteis na defesa e na captura de alimentos (pequenos animais). Outra importante característica é a grande cavidade gastrovascular ou enteron. Os cnidários são os primeiros animais na escala evolutiva a apresentar sistema digestivo (incompleto) e sistema nervoso (difuso). Seus representantes mais característicos são as águas- vivas, caravelas, hidras, corais e anêmonas-do-mar. Os tipos morfológicos dos cnidários (pólipo e medusa) são apresentados nas Figuras 8 e 9. Figura 8 – Pólipo Figura 9 – Medusa Fonte: Invertebrados (2003, extraído da Internet). 10 Biologia aquática e pesqueira A01 Nota: A Grande Barreira de Recifes, na costa nordeste da Austrália, constitui uma das maiores formações desenvolvidas por seres vivos. Essa barreira resulta da acumulação de restos de esqueletos calcários de corais e outros animais minúsculos. A Grande Barreira tem cerca de 2.400 quilômetros de comprimento por 150 quilômetros de largura; mesmo a uma distância de 180 quilômetros da praia, a barreira é um sério obstáculo à navegação (PAULINO, 1998). Figura 10 – Grande Barreira de Corais, na Austrália Fonte: Memória Virtual (2004, extraído da Internet). Ctenóforos Pequeno fi lo de animais marinhos com cerca de 80 espécies. Provavelmente se originaram de algum cnidário medusóide. A cavidade gastrovascular tem a forma de um sistema de canais e a espessa camada média do corpo é comparável à mesogléia dos cnidários. O corpo é esférico ou oval e dividido em secções iguais por oito eixos constituídos por faixas ciliadas características dos ctenóforos e as estruturas a partir das quais deriva o nome do fi lo. Triblásticos são os animais que desenvolvem os três folhetos embrionários: ectoderma, mesoderma e endoderma. Triblásticos Protostômicos Protostômios são os animais em que o blastóporo do embrião dá origem à boca. Blastóporo é o orifício que comunica o canal digestivo do embrião com o exterior. 11 Biologia aquática e pesqueira A01 Figura 11 – Ctenóforo da espécie Eurhamphaea vexilligera Gegenbaur, 1856. a) desenho (modifi cado de Mayer, 1912); b) fotografi a de um espécime Fonte: S. Haddock (apud OLIVEIRA et al, 2007). Nota: Cnidários e Ctenóforos podem ser reunidos sob a denominação de “Celenterados”, devido à grande cavidade gastrovascular que possuem. Platelmintos Os platelmintos (do grego platy = achatado; helmin = verme) são animais triblásticos, acelomados, bilaterais, protostômios, caracterizados como vermes de corpo achatado no sentido dorso-ventral. Nesse grupo passamos a observar centralização do sistema nervoso na região cefálica. Entre os platelmintos mais populares encontramos as planárias (vermes achatados de vida livre), as tênias ou solitárias e os esquistossomos (ambos parasitas). Os platelmintos apresentam três grupos: TURBELÁRIOS (representados pelas planárias, de vida livre), CESTODAS(vermes em forma de fi ta, representados pelas tênias) e TREMATODAS (platelmintos geralmente dióicos, com o corpo em forma de folha) que se subdividem em dois grupos, com base no seu ciclo de vida: MONOGENÉTICOS (Monogênea) e DIGENÉTICOS (Digênea). Monoxeno é o adjetivo usado para o ciclo evolutivo ou para o parasito que possui apenas o hospedeiro defi nitivo, em oposição ao heteroxeno, que possui um hospedeiro defi nitivo e um ou mais hospedeiros intermediários. Monoxeno Piscicultura Piscicultura é um dos ramos da aqüicultura, que se preocupa com o cultivo de peixes. 12 Biologia aquática e pesqueira A01 Diversas espécies de Diphyllobothrium, vermes da classe Cestoda, são conhecidas por infectar seres humanos, porém o D. latum é dos mais freqüentes. Figura 12 – Ciclo evolutivo heteroxeno do Diphyllobothrium latum Fonte: Huss e Embarek (2008, extraído da Internet). As larvas de Diphyllobothrium latum são encontradas em crustáceos e peixes. O homem e outros mamíferos, como os ursos, abrigam a forma adulta do verme no intestino. Nota: Devido a seu ciclo de vida monoxeno, os monogenéticos reproduzem- se com grande rapidez e o confi namento de peixes da mesma espécie em tanques de piscicultura, que é uma condição ótima para proliferação, faz estes parasitos se tornarem um dos grandes problemas dessa atividade. Asquelmintos Animais triblásticos, pseudocelomados, bilaterais, protostômios, caracterizados como vermes de corpo cilíndrico, revestido por uma cutícula resistente. Os asquelmintos apresentam quatro grupos: NEMATODAS, NEMATOMORFOS, ROTÍFEROS e ACANTOCÉFALOS. Anisakis simples é um nematódeo parasito de peixes e mamíferos marinhos e, de forma acidental, de seres humanos. Seu ciclo de vida é muito complexo, com várias fases, cada uma delas com um hospedeiro distinto (Figura 13). Apenas sua fase de larva 3 (L3) pode infectar o ser humano. Nos peixes e mamíferos marinhos infectados, o verme evolui à sua forma adulta, efetuando a postura de ovos, os quais passam à água através das fezes de seus hospedeiros. 13 Biologia aquática e pesqueira A01 Figura 13 – Ciclo evolutivo de Anisakis simples Fo nt e: < ht tp :/ /c as .b el la rm in e. ed u/ tie tje n/ La bo ra to rie s/ B io % 2 0 Pi x% 2 0 4 % 2 0 U /B io % 2 0 Pi x. ht m > . A ce ss o em : 1 5 o ut . 2 0 0 8 . Fo nt e: H us s e Em ba re k (2 0 0 8 , e xt ra íd o da In te rn et ). As larvas infectantes de Anisakis simples são encontradas em diversos peixes. Alguns mamíferos marinhos, e mais raramente o homem, abrigam a forma adulta do verme. Moluscos Esse fi lo é um dos poucos grupos de invertebrados que conquistaram certa popularidade entre leigos e colecionadores amadores. Os moluscos (do latim mollis = mole) são invertebrados de corpo mole, não segmentado, geralmente envolvido por uma concha calcária e compreendem mais de 100.000 espécies, que se espalham pelos mais variados tipos de habitat. Em sua maioria, vivem no mar – fi xos sobre as rochas (ostras e mexilhões), deslocando-se ativamente (polvos e lulas) ou enterrados na areia (dentálios). Há, porém, alguns dulcícolas – como o caramujo Biomphalaria, hospedeiro do Schistosoma mansoni – e alguns terrestres – que vivem em locais úmidos (caracóis e lesmas). Figura 14 – Representantes dos moluscos. A) ostra, B) caracol, C) dentálio, D) polvo, E) quíton Metameria signifi ca segmentação em metâmeros. De forma mais simples, é quando uma parte do corpo do animal se repete várias vezes. Metameria 14 Biologia aquática e pesqueira A01 Nota: O turu é semelhante a uma grande lombriga leitosa, porém é um molusco, da classe dos bivalves, que habita troncos podres do mangue. Também conhecido como bicho-de-pau. Rico em cálcio e proteína, pode ser comido cru com sal e limão, cozido com vegetais, na sopa ou refogado na frigideira à moda provençal. Além de apetecer ao paladar dos marajoaras, existe a crença nas propriedades afrodisíacas, do turu. Figura 15 – Sopa de turu servida na ilha do Marajó – PA Fonte: <http://www.viagemesabor.com.br/noticias/roteiros/br/norte/para/marajo>. Acesso em: 15 out. 2008. Anelidas O termo anelida ou anelídeo (anelo = anel) indica uma das principais características desses animais: a segmentação do corpo, com repetições desses segmentos (em forma de anel). Esse fenômeno é chamado metameria (meta = sucessão; meros = parte). Esses animais são triblásticos, celomados, protostômios e apresentam simetria bilateral. As espécies de anelídeos são encontradas no solo (minhocas), no mar (poliquetas ou vermes marinhos) ou como ectoparasitas de vertebrados aquáticos, principalmente de água doce (sanguessugas). 15 Biologia aquática e pesqueira A01 Figura 16 – Nereis, um anelídeo marinho da classe dos poliquetas Fonte: <http://biology.kenyon.edu/courses/biol112/Biol112WebPage/Syllabus/Topics/Week%207/Resources/nereis.250.gif>. Acesso em: 15 out. 2008. Artrópodes Os artrópodes são triblásticos e celomados, com simetria bilateral, corpo segmentado, exoesqueleto quitinoso e apêndices articulados, como as pernas ou patas, por exemplo (daí o nome do fi lo: artro = articulação; podos = patas). Formam o mais numeroso e um dos mais diversifi cados grupos de animais; há mais espécies de artrópodes que de todos os outros animais reunidos. Tradicionalmente, o fi lo Arthropoda era dividido em cinco classes: Insecta (insetos: mosquitos, gafanhotos, barbeiros, borboletas, pulgas, abelhas, formigas, etc.); Crustacea (crustáceos: camarões, lagostas, siris, caranguejos, etc.); Arachnida (aracnídeos: aranhas, escorpiões, carrapatos, etc.); Chilopoda (quilópodes: lacraia); Diplopoda (diplópodes: piolho de cobra ou embuá). Hoje, existem outras propostas de classifi cação. Em uma delas, considera-se que os crustáceos formam um subfi lo (Crustacea ou Biramia, por serem dotados de apêndices birremes, ou seja, divididos em dois ramos na extremidade); os aracnídeos formam uma classe do subfi lo Chelicerata (quelicerados: “portadores de quelíceras”); os insetos formam uma classe do subfi lo Uniramia (“dotados de apêndices unirremes”, isto é, sem ramifi cações), que também inclui as classes Chilopoda e Diplopoda. a cb d fe 16 Biologia aquática e pesqueira A01 Figura 17 – Diversidade dos artrópodos. a, b e c mostram representantes do subfi lo Uniramia (A e B são insetos, enquanto C é um quilópode); D e E representam aracnídeos, os componentes do subfi lo Chelicerata; em F temos um membro do subfi lo Crustacea Equinodermas Os equinodermas (do grego echinos = espinhos; derma = pele) são animais exclusivamente marinhos, deuterostômios, dotados de um endoesqueleto calcário muitas vezes provido de espinhos salientes, que justifi cam o nome zoológico do grupo. Entre os equinodermas encontramos as estrelas-do-mar, os ouriços-do-mar, os pepinos- do-mar e os lírios-do mar, entre outros. Fo nt e: < ht tp :/ /w w w .p la ne ta vi vo .o rg /d ru pa l/ La C on st ru cc io nC ue rp os 2 > . A ce ss o em : 1 5 o ut . 2 0 0 8 . Figura 18 – Diversidade de equinodermas Fo nt e: < ht tp :/ /w w w .a ni m al sh ow .h pg .ig .c om .b r/ ar tr op .h tm > . A ce ss o em : 1 5 o ut . 2 0 0 8 . 17 Biologia aquática e pesqueira A01 Deuterostômios são os animais nos quais a formação da boca ocorre em época posterior à do ânus, durante o desenvolvimento. São deuterostômios os representantes dosequinodermos e cordados. Cordados Os cordados são animais adaptados para a vida aquática e terrestre. São deuterostômios e bilaterais. Dividem-se em: PROTOCORDADOS e EUCORDADOS. Os protocordados são destituídos de coluna vertebral e de caixa craniana. Já os eucordados, ou vertebrados, possuem coluna vertebral e têm crânio com encéfalo. As características diferenciais e exclusivas, que permitem o enquadramento de um animal no grupo dos cordados e que estão presentes pelo menos nos primeiros estágios do desenvolvimento, são a notocorda, as fendas branquiais e o tubo nervoso dorsal. Notocorda ou corda dorsal - Consiste em um cordão fi broso que se forma acima do intestino primitivo (arquêntero), representando o primeiro eixo de sustentação do animal. Pode persistir por toda a vida ou ser substituído pela coluna vertebral. Fendas branquiais - São pequenos orifícios que se formam na faringe do embrião e que se prestam à respiração e, algumas vezes, fi ltração de alimentos. Essas fendas são permanentes nos protocordados e peixes adultos. Nos outros grupos de cordados as fendas são restritas ao estágio embrionário, fechando-se durante o desenvolvimento. Tubo nervoso dorsal - Trata-se de um tubo longitudinal, resultante de invaginação do ectoderma na região mediana dorsal do embrião. Sua extremidade anterior dilata-se formando a vesícula neural nos protocordados e o encéfalo nos vertebrados. 18 Biologia aquática e pesqueira A01 Figura 19 – Diversidade e relações fi logenéticas dos cordados viventes Fo nt e: < ht tp :/ /w w w .m od er na .c om .b r/ m od er na /d id at ic os /e m /b io lo gi a/ te m as bi o/ tr an sp ar en ci as /o rg an is m os _1 3 .p df > . A ce ss o em : 1 5 o ut . 2 0 0 8 . 19 Biologia aquática e pesqueira A01 O quadro a seguir apresenta um resumo sistemático do fi lo Chordata, mostrando os subfi los e, no caso dos vertebrados, as classes e algumas subclasses e ordens, com seus respectivos representantes. Quadro 1 – Resumo sistemático dos cordados SUBFILOS CLASSES SUBCLASSES’ ORDENS(OU INFRACLASSE) UROCORDADOS (TUNICADOS) Ascídias CEFALOCORDADOS (LEPTOCARDII) Anfi oxos VERTEBRADOS CICLÓSTOMOS Lampréia, Peixe-bruxa CONDRÍCTIES ELASMOBRÂNQUIOS Tubarão, Cação, Arraia HOLOCÉFALOS Quimera OSTEÍCTIES SARCOPTERÍGIOS CROSSOPTERÍGIOS Celacantos DIPNÓICOS Pirambóia ACTINOPTERÍGIOS TELEÓSTEOS A Maioria Anfíbios SALIENTIA ANUROS URODELOS GIMNOFIONOS Répteis ANAPSIDA QUELÔNIOS LEPIDOSAURIA RINCOCÉFALOS SQUAMATAS ARCHOSAURIA CROCODILIANOS Aves NEORNITHES Mamíferos PROTOTHERIA THERIA Praticando... 3 20 Biologia aquática e pesqueira A01 Palavras cruzadas! 1. M 2. A 3. C 4. R 5. O 6. D 7. O 8. N 1. Tipo de molusco que participa como hospedeiro intermediário no ciclo evolutivo de verminoses como a esquistossomose. 2. Vermes de corpo achatado no sentido dorso-ventral. 3. Eixo de sustentação comum aos embriões de anfi oxo, tubarão, pescadinha-gó, sapo, arara e mico-leão-dourado. 4. Se a pescada amarela pertence à espécie Cynoscion acoupa, a qual categoria taxonômica refere-se o termo Cynoscion? 5. Cordados que não possuem coluna vertebral, crânio e encéfalo. 6. Filo da estrela-do-mar e do ouriço-do-mar. 7. Os Crustáceos apresentam pernas articuladas. Então a qual fi lo de invertebrados pertencem? 8. Família de animais à qual pertencem a pescada amarela e a pescadinha-gó. 4Praticando... 21 Biologia aquática e pesqueira A01 Exercício proposto Quais os nomes vulgares que você conhece para a principal espécie do gênero que apareceu em destaque nas palavras cruzadas. Responda aqui 5Praticando... 22 Biologia aquática e pesqueira A01 1. Na classificação dos seres vivos, um conjunto de filos recebe a denominação de: (A) reino (B) fi lo (C) ordem (D) família 2. Têm maior grau de semelhança entre si dois organismos que estão colocados dentro de uma das seguintes categorias taxonômicas: (A) classe (B) família (C) gênero (D) ordem 3. As categorias taxonômicas obedecem a uma hierarquia; assim, dois animais que fazem parte da mesma classe obrigatoriamente pertencerão: (A) ao mesmo gênero (B) ao mesmo fi lo (C) à mesma família (D) à mesma ordem 4. Se reunirmos as famílias Loricariidae (acaris), Ariidae (gurijuba), Pimelodidae (piramutaba, dourada e filhote) e Ictaluridae (bagre- americano), veremos que todos são peixes de corpo nu, envolto por pele espessa ou coberto por placas ósseas, com nadadeiras raiadas, sendo o primeiro raio das nadadeiras peitorais e dorsal portador de um acúleo forte; portanto, pertencem a (ao) mesma (o): 23 Biologia aquática e pesqueira A01 (A) gênero (B) ordem (C) subespécie (D) família 5. O trecho a seguir foi escrito por um estudante de Biologia: “A família Palaemonidae engloba mais de 700 espécies; uma delas é o nosso camarão pitu, macrobrachium carcinus”. O nome científi co do camarão pitu, no texto do estudante, está escrito: (A) corretamente, porque tem de ser destacado por meio de sublinhado ou de itálico (letra inclinada). (B) incorretamente, porque deveria estar escrito em itálico. (C) incorretamente, porque, além de destacado no texto, o nome do gênero deve ter a inicial maiúscula. (D) incorretamente, porque, além de destacado no texto, gênero e espécie devem ter a inicial maiúscula. 6. Assinale a alternativa em que todos os animais citados pertencem ao fi lo dos moluscos. (A) polvo, mexilhão, água-viva e berbigão (B) lesma, craca, ostra e quíton (C) mexilhão, caracol, lagosta e lula (D) ostra, polvo, turu e vieira 7. “...Steve Irwin, o “Caçador de Crocodilos”, estava mergulhando com um cinegrafi sta na barreira de corais da costa australiana quando teve o peito perfurado pelo ferrão de uma arraia de 100 quilos...” (REVISTA VEJA, 13 set. 2006). O “Caçador de Crocodilos”, na última cena de exibicionismo que lhe custou a vida, foi atingido por uma Raia marinha. Segundo a Classifi cação Taxonômica, a Raia é considerada: 24 Biologia aquática e pesqueira A01 (A) Peixe cartilaginoso – Chondrichthyes (B) Peixe ósseo – Osteichthyes (C) Peixe misto – Amphibia (D) Raias não são consideradas peixes 8. Assinale a alternativa em que todos os animais citados pertencem ao grupo dos gnatóstomos. (A) lagosta, tubarão, pargo e boto (B) baleia, jacaré, sapo e lampréia (C) atum, rã, tartaruga e peixe-boi (D) anfi oxo, feiticeira, cavala e cágado Leituras complementares SAGGIOMO, Sandra Oliveira; BEMVENUTI, Marlise de Azevedo. Glossário sobre ecossistema aquático: zoologia. Cadernos de Ecologia Aquática, v. 1, n. 1, p. 15 - 30, jan./jul. 2006. Disponível em: <http://www.cadernos.ecologia.furg.br/ artigos/01_01_02_sandra.pdf>. Acesso em: 20 out. 2006. REGRAS de nomenclatura zoológica. Disponível em: <http://www.avesmarinhas.com. br/Nomenclatura%20zool%F3gica.pdf>. Acesso em: 15 out. 2008. Você também pode ler mais sobre a classifi cação e as regras de nomenclatura zooló- gica no endereço anterior. Nota: Em ambos os casos, o material está disponível para download. Autoavaliação 25 Biologia aquática e pesqueira A01 Nesta aula, vimos que a classifi cação dos seres vivos é feita por meio de categorias hierárquicas, conhecemos as principais regras de nomenclatura biológica e constatamos que a utilização de um nome científi co para cada espécie é uma tentativa de padronização, para evitar possíveis confusões geradas pelo uso de diferentes nomes populares, que variam entre idiomas e mesmo dentro de um idioma quando abordado em diferentes regiões. Vimos ainda a descrição geraldos maiores fi los que integram o reino animal, com ênfase nos seus representantes aquáticos. Em relação à nossa área de estudo, são particularmente interessantes os fi los dos moluscos; artrópodes, por conta dos crustáceos; e cordados, principalmente por incluírem os peixes. Estamos chegando ao fi nal da nossa 1ª aula. E então? Você já consegue aplicar as principais regras de nomenclatura biológica e identifi car os grupos de animais mais importantes para o seu curso? 1. Explique a expressão: “A espécie é binominal”. 2. Qual a ordem hierárquica (decrescente) dos sete grupos básicos de classifi cação biológica? 26 Biologia aquática e pesqueira A01 3. Pargo é a denominação popular para algumas espécies do gênero Lutjanus. Uma dessas espécies foi descrita por Poey em 1875 e tem como epíteto específi co o termo purpureus. Vamos supor que você está escrevendo um relatório sobre a pesca dessa referida espécie de pargo em um determinado ponto do litoral brasileiro. Como devem ser reunidas e escritas as informações acima, de acordo com as normas internacionais de nomenclatura? 4. Apresente dois representantes de cada grupo animal abaixo. CNIDÁRIOS: PLATELMINTOS: ASQUELMINTOS: ANELIDAS: EQUINODERMOS: 5. Explique com as suas palavras como são os moluscos. 27 Biologia aquática e pesqueira A01 6. Entre os artrópodes, a classe dos crustáceos é a mais importante para nossa área de estudo. Então, como você diferencia os crustáceos dos demais artrópodes? 7. Quais as três características diferenciais dos cordados? 8. Cite quatro exemplos de peixes da classe dos condrícties. 28 Biologia aquática e pesqueira A01 Referências BARNES, R. D. Zoologia dos invertebrados. 4. ed. São Paulo: Livraria Roca, 1984. HUSS, Hans Henrik; EMBAREK, Peter Karim Ben. Parasites. Disponível em: <http:// www.fao.org/docrep/006/y4743e/y4743e0c.htm>. Acesso em: 15 out. 2008. INVERTEBRADOS. Os invertebrados marinhos. 30 jan. 2003. Disponível em: <http:// paginas.terra.com.br/educacao/sariego/invertebrados.htm>. Acesso em: 15 out. 2008. LINHARES, S.; GEWANDSZNAJDER, F. Biologia hoje 2: os seres vivos. São Paulo: Ática, 2004. MEMÓRIA VIRTUAL: blog. 29 dias – Austrália. 15 jul. 2004. Disponível em: <http:// memoriavirtual.wordpress.com/2004/07/15/29-dias-australia/>. Acesso em: 15 out. 2008. OLIVEIRA, Otto Muller Patrão de et al. Chave de identifi cação dos Ctenophora da costa brasileira. Biota Neotrópica, v. 7, n. 3, 2007. PAULINO, W. R. Biologia atual. São Paulo: Editora Ática, 1998. v 2. SAGGIOMO, Sandra Oliveira; BEMVENUTI, Marlise de Azevedo. Glossário sobre ecossistema aquático: zoologia. Cadernos de Ecologia Aquática, v. 1, n. 1, p. 15 - 30, jan./jul. 2006. Disponível em: <http://www.cadernos.ecologia.furg.br/ artigos/01_01_02_sandra.pdf>. Acesso em: 20 out. 2006. SILVA JR, C.; SASSON, S. Biologia. São Paulo: Editora Saraiva, 2002. v 2. STORER, T.; USINGER, R. Zoologia geral. 3. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1997. 02 Carlos Alberto Machado da Rocha C U R S O T É C N I C O E M A Q U I C U LT U R A O que é um molusco? BIOLOGIA AQUÁTICA E PESQUEIRA Coordenadora da Produção dos Materias Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Ivana Lima José Antônio Bezerra Júnior Mariana Araújo de Brito Vitor Gomes Pimentel Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Jeremias Alves A. Silva Margareth Pereira Dias Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho Revisão Técnica Rosilene Alves de Paiva EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... 1 Biologia aquática e pesqueira A02 Objetivo Que alguns animais, provavelmente já utilizados na sua alimentação, como ostra, mexilhão, lula, polvo, ou mesmo escargot, e que são alimentos de alto valor nutritivo, são animais do grupo dos moluscos. Mas, o que eles têm em comum, para serem reunidos nesse fi lo do reino animal? Ao longo desta aula você encontrará os detalhes da anatomia externa e interna que identifi cam um animal como molusco, bem como informações básicas, porém indispensáveis, sobre o funcionamento de seus diversos sistemas. Conhecer as diversas características morfológicas e fi siológicas dos moluscos. DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DE UM GASTRÓPODE GLÂNDULAS DIGESTIVAS GÂNGLIOS NERVOSOS PÉ GLÂNDULAS SEXUAIS CORAÇÃO BRÂNQUIA ORIFÍCIO URO-GENITALESTÔMAGO CONCHA MANTO RÁDULA língua rugosa 2 Biologia aquática e pesqueira A02 Organização A malacologia é a ciência que estuda os moluscos. O corpo desses animais é dividido em três regiões: cabeça ou região cefálica, pé e massa visceral. Ao longo da evolução, essas partes sofreram mudanças e passaram a ser diferentes em cada grupo de moluscos (Figura 1). Figura 1 – Esquema geral de molusco gastrópode Na cabeça, estão os órgãos sensoriais, a boca e os gânglios cerebrais. O pé apresenta- se musculoso e, em alguns animais, pode estar transformado em tentáculos. A massa visceral contém os principais órgãos do animal. A massa visceral é revestida por uma dobra da epiderme (manto ou pálio), que delimita uma cavidade entre ela e a massa visceral, chamada cavidade palial ou cavidade do manto. Nela estão as aberturas dos sistemas digestivo e excretor e as brânquias ou os pulmões (nas espécies terrestres). No epitélio do manto há glândulas que secretam uma concha calcária (corresponde a um exoesqueleto, revestindo o corpo). No caracol, ela é composta de uma peça só (univalve) e na ostra de duas (bivalve). Na lesma e no polvo, está ausente. Na lula, é interna e reduzida (sendo chamada pena ou pluma ou gládio). Jato de água lançado para a frente provocando deslocamento para trás. Jato de água lançado para trás provocando deslocamento para a frente. 3 Biologia aquática e pesqueira A02 Em geral, a ostra deixa as valvas de sua concha abertas por pouco tempo. Quando algum inimigo se aproxima, ela imediatamente as fecha graças à ação de um poderoso músculo adutor. Ele prende o corpo da ostra à parte interna da concha e mantém as valvas fechadas até que o perigo passe. A ostra pode manter a concha fechada por várias semanas. O movimento dos moluscos depende da musculatura do pé, que pode ser usado para rastejar, nadar ou cavar. No polvo e na lula, ele está transformado em tentáculos. Por sinal, além de rastejarem, utilizando as ventosas dos tentáculos, os polvos e lulas deslocam-se por propulsão de jatos de água emitidos por um sifão, formado pela cavidade do manto (Figura 2). Figura 2 – Esquema da locomoção de uma lula Em animais que vivem fi xos a rochas, o pé fabrica uma substância que endurece em contato com a água e forma fi os que aderem o molusco ao substrato. Essa estrutura de fi xação, formada por uma região modifi cada do pé, é chamada bisso (Figura 3). sifão manto pé bisso brânquias 4 Biologia aquática e pesqueira A02 Figura 3 – Mexilhão Mytilus edulis fi xa-se às superfícies por um conjunto de fi lamentos chamado de bisso Importância Grande parte dos moluscos vive no mar (lulas, polvos e a maioria dos mariscos). Alguns vivem em terra (lesmas e caracóis); outros vivem em água doce (caramujos dos rios). Importantes sob diversos aspectos, muitos moluscos, tais como ostras, mexilhões,polvos, lulas e escargots são utilizados na nossa alimentação há bastante tempo. Os moluscos participam de cadeias alimentares, servindo de alimento para diversos peixes e consumindo outros seres, como plantas e animais menores. Em algumas ostras, pequenas partículas de areia e outros corpos estranhos podem se instalar entre o manto e a concha. Parte do manto envolve a partícula, formando uma cobertura circular que passa a depositar carbonato de cálcio em camadas mais ou menos concêntricas ao redor da partícula. Gradativamente mais e mais material se deposita, formando-se a pérola (Figura 4). A formação da pérola pode ser induzida artifi cialmente com a introdução de um fragmento de concha envolvido por um retalho de manto, entre a concha e o manto de uma ostra. São as “pérolas cultivadas”. Escargot É a denominação utilizada para certos caracóis herbívoros terrestres. O termo escargot, em francês, ou lumachi, em italiano, é uma iguaria presente nos melhores restaurantes do mundo. O principal gênero de escargot é Helix, daí o seu cultivo ser denominado helicicultura. 5 Biologia aquática e pesqueira A02 Figura 4 – Ostra com pérolas formadas Fonte: <http://img130.imageshack.us/img130/3120/islama38af7.jpg>. Acesso em: 24 set. 2008. As pérolas ou margaritas são valorizadas como gemas e trabalhadas em joalheria. As de melhor qualidade encontram-se no Golfo Pérsico; as pérolas cultivadas são produzidas em larga escala no Japão. Mas existem pesquisas em desenvolvimento e cultivos de ostras perlíferas no Brasil. Vejamos, sobre isso, a informação proporcionada pelo texto a seguir: Leitura Pérolas de água doce Existem pelo menos oito espécies de moluscos bivalves que produzem pérolas, sendo quatro de água salgada e quatro de água doce. A pérola é produzida pelo animal adulto a partir da presença de um corpo estranho dentro da concha. Em um mecanismo de defesa, o molusco vai recobrindo esse corpo com camadas de nácar, substância encontrada no interior das conchas. “O corpo estranho pode ser introduzido no animal por meio de um procedimento cirúrgico, mas, infelizmente, grande número de moluscos morre após a cirurgia”, informa o oceanógrafo Ricardo Cunha Lima. Após o procedimento cirúrgico, o molusco volta para a água, onde fi ca durante 1 a 2 anos até a pérola ser retirada. Lima considera o mercado brasileiro promissor. Segundo ele, a primeira pérola brasileira deverá fi car pronta entre 2 e 4 anos. O grande diferencial será a exclusividade do produto, visto que as espécies utilizadas ocorrem apenas na América do Sul. 6 Biologia aquática e pesqueira A02 A empresa de Lima, cuja sede será na região de Ribeirão Preto, está em fase de pré-incubação no Cietec. Essa modalidade visa a dar apoio para criação de novos negócios de base tecnológica que ainda não tenham condições sufi cientes para o início imediato do empreendimento. O pesquisador é um dos fi nalistas do Prêmio Santander Banespa de Empreendedorismo. As pérolas de água doce têm um brilho mais intenso e costumam ter uma tonalidade mais escura que as de água salgada, além de o preço ser menor. O maior produtor é a China, que comercializa toneladas do produto, tanto de qualidade alta, média e inferior. O mercado mundial do setor gira em torno de U$3 a U$4 bilhões ao ano. Fonte: Agência USP. Fonte: <http://marciapeltier.ig.com.br/home.asp?id=1174>. Acesso em: 4 jun. 2008. Digestão O tubo digestivo é completo: boca, estômago, glândula digestiva e intestino, que se abre pelo ânus. Muitos moluscos apresentam na boca uma estrutura característica do grupo, semelhante a uma língua com pequenos dentes de quitina, a rádula. Com esse órgão, o animal raspa algas e outros alimentos presos nas pedras e nas conchas de outros moluscos e os envia para o tubo digestório. Os moluscos fi ltradores, que se alimentam de plâncton, como as ostras e o mexilhão, não apresentam essa estrutura. Em lulas e polvos, existem duas mandíbulas córneas adaptadas para dilacerar o alimento. Nesse caso, a rádula tem apenas a função de empurrar o alimento para o interior do tubo digestivo. No estômago, há uma estrutura denominada estilete cristalino que promove efi ciente circulação do alimento no interior do órgão, enquanto enzimas digestivas encarregam- se da digestão química. Os moluscos apresentam, ainda, o hepatopâncreas (fígado + pâncreas), uma importante glândula digestiva. No intestino, os nutrientes são absorvidos, e os resíduos são eliminados na cavidade palial pelo ânus. Responda aqui 1Praticando... 7 Biologia aquática e pesqueira A02 Responda às questões a seguir: 1. Por que os moluscos são chamados assim? Cite dois motivos que justifi quem a importância econômica desses animais para o homem. 2. Uma estrutura comum no tubo digestivo de vários moluscos é a rádula, que funciona como uma língua raspadora e trituradora de alimentos. Porém, nas ostras e mexilhões, a rádula está ausente. Por quê? 3. As ostras são de grande interesse econômico para o homem por diversas razões. As ostras perlíferas despertam interesse econômico pelo fato de poderem desenvolver entre o manto e a concha as famosas pérolas. Sobre esses organismos, responda: a) Como são formadas as pérolas naturais? b) Qual a importância do processo de formação de pérolas para as ostras? 8 Biologia aquática e pesqueira A02 Circulação Na maioria dos moluscos, a circulação é aberta. Isso quer dizer que o sangue extravasa dos vasos para cavidades denominadas hemoceles, nas quais estão mergulhados os órgãos. O coração é um órgão dorsal musculoso e contrátil, localizado na cavidade pericárdica, formado por um ventrículo e dois átrios. Ele recebe o sangue oxigenado proveniente das brânquias ou dos pulmões e o impulsiona por um sistema ramifi cado de vasos até as hemoceles. Ali acontece a oxigenação dos tecidos. Posteriormente, outra vez no interior de vasos, o sangue segue para ser oxigenado e retorna ao coração. No polvo e na lula, a circulação é fechada: o sangue circula sempre dentro de vasos, e as trocas de alimento e gases ocorrem entre os capilares e os tecidos. O pigmento respiratório é, geralmente, a hemocianina (cor azulada), mas em alguns moluscos é a hemoglobina. Excreção O sistema excretor é formado por estruturas chamadas nefrídios, que podem ou não formar rins primitivos, dependendo do grupo. Cada nefrídio é constituído por três partes: nefróstoma, a extremidade ciliada voltada para a intimidade do animal; nefroduto, o canal que conduz o produto de excreção; nefridióporo, a extremidade externa do órgão (Figura 5). Figura 5 – Esquema de um nefrídio Fonte: Marczwski e Vélez (1999). Excreção 9 Biologia aquática e pesqueira A02 Em moluscos com circulação aberta, os produtos de excreção são recolhidos diretamente do celoma. Moluscos de circulação fechada têm túbulos contorcidos dos nefrídios envoltos por uma rede de capilares sanguíneos de onde os excretas passam diretamente para os nefrídios por fi ltração. Em ambos os casos, os resíduos são enviados para a cavidade do manto e então eliminados para o exterior. Respiração Na maioria dos moluscos, a respiração se faz através de brânquias, chamadas ctenídios (Figura 6). Localizadas na cavidade palial, elas retiram o oxigênio dissolvido na água, que é levado pelo sangue para todas as células do corpo. O gás carbônico segue caminho inverso. Excreção é a eliminação de produtos da atividade metabólica, que sejam tóxicos ou prejudiciais quando em excesso. Figura 6 – Esquema da respiração branquial de uma ostra Fonte: Marczwski e Vélez (1999). Em alguns caracóis (terrestres) e caramujos de água doce, a cavidade palial transforma- se em uma câmara cuja parede é irrigada de sangue. Essa camada funciona comoum pulmão primitivo, retirando oxigênio do ar atmosférico. cérebro olho nervos Cefalópode Esquema do sistema nervoso de um cefalópodo. Estatocistos Osfrádios 2Praticando... 10 Biologia aquática e pesqueira A02 Sistema nervoso O sistema nervoso dos moluscos é bastante desenvolvido, principalmente nos polvos e lulas. Os moluscos apresentam gânglios cerebróides diretamente ligados a estruturas sensitivas: olhos, estatocistos (relacionados ao equilíbrio), tentáculos e osfrádios (relacionados à quimiorrecepção). Existem, ainda, massas de gânglios distribuídas pelas principais regiões do corpo, como as viscerais (na massa visceral), as pediais (no pé) e as pleurais (no manto). O polvo e a lula têm olhos bem desenvolvidos, semelhantes aos dos vertebrados e capazes de formar imagens (Figura 7). Em outros moluscos, como as ostras e mexilhões, os órgãos visuais são mais simples e capazes apenas de captar a presença de luz. São órgãos estáticos localizados no pé ou na cabeça do molusco para a percepção da gravidade, capazes de detectar mudanças na posição do corpo, o que facilita a manutenção postural e do equilíbrio. São manchas de epitélio sensorial localizadas na margem posterior de cada uma das membranas branquiais aferentes. Eles funcionam como quimiorreceptores e também determinam a quantidade de sedimento na corrente inalante. Figura 7 – Esquema do sistema nervoso de um polvo Identifi que os termos que substituem corretamente os números no trecho abaixo. “Os moluscos têm o corpo mole, geralmente protegido por 1. As 2 não possuem essa proteção. O corpo é dividido em cabeça, 3 e massa visceral. 11 Biologia aquática e pesqueira A02 Na maioria desses animais, o aparelho digestivo possui uma estrutura chamada 4, que serve para raspar o alimento. Entretanto, alguns moluscos, como 5 e 6, não possuem este órgão, uma vez que se alimentam por 7. Os nefrídios são as estruturas responsáveis pela 8 dos moluscos. Já a respiração pode variar, sendo através de 9 nos moluscos aquáticos e por meio de 10 no caracol terrestre. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Reprodução A reprodução dos moluscos é sexuada e, na maioria dos representantes do grupo, a fecundação é interna e cruzada. O caramujo-de-jardim, por exemplo, é monóico. Na cópula, dois indivíduos aproximam-se e encostam seus poros genitais, pelos quais se fecundam reciprocamente (Figura 8). Os ovos desenvolvem-se e, ao eclodirem, liberam novos indivíduos sem a passagem por fase larval (desenvolvimento direto). 12 Biologia aquática e pesqueira A02 Figura 8 – Cópula de moluscos Fonte: <http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/fi lo-mollusca/fi lo-mollusca-1.php>. Acesso em: 24 set. 2008. Nos representantes aquáticos, há espécies monóicas e espécies dióicas (como o mexilhão). A forma mais comum de desenvolvimento é o indireto. Os estágios larvais mais conhecidos dos moluscos são a trocófora e a véliger. A trocófora de mexilhão da espécie Perna perna possui movimentos rápidos, nadando em forma helicoidal e em linha reta. Vinte e quatro horas após a fecundação é possível visualizar o surgimento da primeira concha larval. Trata-se do estágio conhecido como larva D, assim chamado porque a concha possui o formato dessa letra (Figura 9). Ela é hialina e sem linhas de crescimento. Figura 9 – Larvas trocóforas de Perna perna Fonte: <http://www.fazendamarinha.com.br/paginas/larvicultura.htm>. Acesso em: 24 set. 2008. 13 Biologia aquática e pesqueira A02 Aos quinze dias, com um pé já bem formado, estão aptas a rastejar sobre o substrato à procura do local mais propício para o assentamento, intercalando com momentos de natação. Este estágio é chamado de véliger (Figura 10). Figura 10 – Larva véliger de Perna perna Fonte: <http://www.fazendamarinha.com.br/paginas/larvicultura.htm>. Acesso em: 24 set. 2008. Alguns bivalves de água doce apresentam um desenvolvimento indireto bastante especializado. Sua fase equivalente ao véliger é chamada gloquídio. Gloquídeo é todo tipo de larva produzida por moluscos bivalves de água doce constituída de uma concha bivalve, cujas valvas estão ligadas entre si por um músculo adutor e apresentam nos bordos cerdas sensitivas e, em alguns casos, dentes ou ganchos, exteriorizando-se entre as valvas um fi o larval, mais ou menos longo que serve, junto aos dentes ou ganchos, para que a larva se fi xe no hospedeiro (geralmente peixes), sendo que quando o fi o larval é muito longo e apresenta algumas poucas modifi cações na sua constituição, tal larva recebe então o nome de Lasídeo. Figura 11 – Larvas parasíticas produzidas por bivalves de água doce – Gloquídeo (esquerda) e Lasídeo (direita) Fonte: <http://www.conchasbrasil.org.br/materias/pragas/limnicos.asp>. Acesso em: 24 set. 2008. 3Praticando... 14 Biologia aquática e pesqueira A02 Curisosidades importantes Os polvos e as lulas são dotados de uma glândula produtora de tinta escura, que pode ser esguichada, turvando a água e prejudicando a visão e o olfato de eventuais predadores. As lulas apresentam, também, cromatóforos, estruturas epidérmicas portadoras de pigmentos capazes de determinar a mudança de coloração do animal, de maneira a camufl á-lo no ambiente em que se encontra. A emissão de tintas e a mudança de cor são, portanto, mecanismos de defesa do animal. (PORTAL..., [2008?], extraído da Internet). Que tal palavras cruzadas? 1. P 2. O 3. L 4. V 5. O 1. Epitélio que reveste a massa visceral e secreta a concha dos moluscos. 2. Glândula digestiva que acumula as funções de fígado e pâncreas. 3. Estrutura típica de moluscos, funcionando como uma língua com dentes. 4. Tipo de concha das ostras, de acordo com o número de valvas. 5. Músculo que conecta as duas valvas da concha dos mexilhões e ostras. 15 Biologia aquática e pesqueira A02 Leitura complementar OS MOLUSCOS: anatomia e fi siologia. Disponível em: <http://malaconet.br.tripod.com/ osmoluscos_anatomia&fi siologia.htm>. Acesso em: 24 set. 2008. Nesta referência, você pode ler mais sobre a Anatomia & Fisiologia dos moluscos. Este site também lhe permite opções como Filogenia & Classifi cação. Nesta aula, vimos que os moluscos são animais de corpo mole, não segmentado e geralmente envolvido por uma concha de natureza calcária. Seus representantes estão entre os animais invertebrados mais conspícuos e incluem formas bastante familiares. Este fi lo é um dos poucos grupos de invertebrados com certa popularidade entre leigos e colecionadores amadores. Várias espécies, principalmente do mar, são utilizadas como alimento (ostras, mexilhões, polvos, lulas), porém há espécies dulcícolas comestíveis (mexilhões) e outras que se destacam com hospedeiros intermediários de alguns vermes (certos caramujos). Existem ainda espécies terrestres de caracóis e lesmas. Algumas ostras destacam-se pela produção de valiosas pérolas. 1. A rádula presente em alguns moluscos é uma estrutura relacionada com: (a) reprodução (b) excreção (c) locomoção (d) alimentação 2. Dos animais abaixo, o que utiliza suas brânquias tanto para a respiração como para a obtenção de seu alimento é o: (a) siri (b) peixe (c) mexilhão (d) caramujo Autoavaliação 16 Biologia aquática e pesqueira A02 3. O mexilhão dourado, Limnoperna fortunei, é uma espécie exótica originária da Ásia, que chegou ao Brasil junto com a água de lastro de navios. Trata-se de um molusco do mesmo grupo das ostras, que se alimenta de partículas em suspensão fi ltradas da água e que vem causando impactos na comunidade de bentos. Considerando o texto, analise as três afi rmações seguintes. I. Uma comunidade de bentos refere-se a um conjunto de espécies que se movimentamativa ou passivamente em um ambiente aquático. II. O mexilhão apresenta rádula, que é uma estrutura dotada de pequenos dentes de quitina, para sua alimentação. III. Esta espécie é um molusco que apresenta concha formada por duas valvas. Com relação às afi rmações, estão corretas: (a) II, apenas. (b) III, apenas. (c) I e II, apenas. (d) II e III, apenas. 4. Os moluscos bivalvos (ostras e mexilhões) são organismos economicamente importantes como fonte de alimento para o homem, por possuir alto valor nutritivo. Eles conseguem fi ltrar grandes volumes de água em poucas horas, daí serem comumente chamados “organismos fi ltradores”. Como conseqüência, podem acumular, no seu trato digestório, altas concentrações de microrganismos e compostos químicos tóxicos, eventualmente presentes na água onde vivem, assim pondo em risco a saúde pública e exercendo grande impacto social e econômico nas áreas de sua criação. A respeito deste tema, assinale o que for correto. I. O nome molusco vem do latim “mollis”, que significa “mole”, característica de seu corpo, que geralmente está protegido por uma concha calcária e orgânica, resistente, de uma ou mais peças. A malacologia é o ramo da zoologia que estuda as mais de 100 mil espécies de moluscos existentes, na maioria marinhos. II. Nos mexilhões, as brânquias têm função respiratória e importante papel na nutrição. III. Os mexilhões possuem concha com apenas uma valva. IV. Os moluscos são animais de simetria bilateral, diblásticos, acelomados e deuterostômios, diferindo dos anelídeos e artrópodes pela ausência de segmentação. V. Os moluscos são sempre hermafroditas. 17 Biologia aquática e pesqueira A02 Com relação às afi rmações, estão corretas: (a) II, apenas. (b) II e IV, apenas. (c) I e II, apenas. (d) I, III e V, apenas. 5. Os gastrópodes e os lamelibrânquios (bivalves) constituem as classes mais importantes de moluscos, pelo grande número de espécies e diferentes habitats. Com relação às características desses animais, analise as afi rmações a seguir: I. Possuem o sistema digestório diferenciado, conforme o animal seja carnívoro, herbívoro ou fi ltrador. II. A respiração é branquial nos bivalves e traqueal nos gastrópodes. III. Os bivalves são representados pelas ostras e mariscos, enquanto que os gastrópodes apresentam-se como animais que podem atingir tamanhos consideráveis, como o polvo e a lula. IV. O plano básico de organização do corpo dos moluscos mostra quatro partes: concha, cabeça, pé e massa visceral. Com relação às afi rmações, estão corretas: (a) I, apenas. (b) III, apenas. (c) I e II, apenas. (d) III e IV, apenas. 6. Os gastrópodes pertencem ao fi lo Mollusca e, portanto, devem apresentar os seguintes caracteres: (a) Corpo não segmentado, coberto por concha, sistema sangüíneo fechado. (b) Corpo mole, metamerizado, todas as espécies providas de concha de carbonato de cálcio e com sistema sangüíneo aberto. (c) Corpo mole sustentado por um endoesqueleto ou exoesqueleto, metamerizado e com o sistema sangüíneo aberto. (d) Corpo mole, não metamerizado, a maioria das espécies providas de concha de carbonato de cálcio, sistema sangüíneo aberto. 7. As afi rmativas abaixo referem-se a fenômenos ou estruturas de diferentes tipos de moluscos. Assinale a associação errada. (a) ostra – cabeça como sede dos órgãos sensoriais. (b) mexilhão – brânquias importantes na obtenção de alimentos. 18 Biologia aquática e pesqueira A02 (c) caracol – rádula com função alimentar. (d) polvo – pé transformado em tentáculos. 8. Analise as afi rmações a seguir sobre os moluscos. I. Grande parte dos moluscos vive no mar, como é o caso das lulas, polvos e da maioria dos mariscos. II. Além de rastejarem, utilizando as ventosas dos tentáculos, os polvos e lulas deslocam-se por propulsão de jatos de água emitidos por um sifão, formado pela cavidade do manto. III. O movimento dos moluscos depende da musculatura do pé, que pode ser usado para rastejar, nadar ou cavar. No polvo e na lula, ele está transformado em tentáculos. Com relação às afi rmações, estão corretas: (a) I e II, apenas. (b) II e III, apenas. (c) I e III, apenas. (d) I, II e III. Referências BARNES, R. D. Zoologia dos invertebrados. 4. ed. São Paulo: Livraria Roca, 1984. LINHARES, S.; GEWANDSZNAJDER, F. Biologia hoje 2: os seres vivos. São Paulo: Ática, 2004. MARCZWSKI, M.; VÉLEZ, E. Ciências biológicas. São Paulo: Editora FTD, 1999. v 2. PAULINO, W. R. Biologia atual. São Paulo: Ática, 1998. v 2. PORTAL IMPACTO. Biologia: anelídeos e moluscos. [2008?]. Fonte: <http://www. portalimpacto.com.br/docs/01WagnerVestF1Aula08Cont.pdf>. Acesso em: 24 set. 2008. SILVA JR, C.; SASSON, S. Biologia. São Paulo: Saraiva, 2002. v 2. STORER, T.; USINGER, R. Zoologia geral. 3. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1997. G ab ar it o 1 . d 5 . a 2 . c 6 . d 3 . b 7 . a 4 . c 8 . d 19 Biologia aquática e pesqueira A02 Anotações 20 Biologia aquática e pesqueira A02 Anotações Carlos Alberto Machado da Rocha 03 C U R S O T É C N I C O E M A Q U I C U LT U R A Quais moluscos você conhece? BIOLOGIA AQUÁTICA E PESQUEIRA Coordenadora da Produção dos Materias Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Ivana Lima José Antônio Bezerra Júnior Mariana Araújo de Brito Vitor Gomes Pimentel Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Jeremias Alves A. Silva Margareth Pereira Dias Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho Revisão Técnica Rosilene Alves de Paiva EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... Objetivos 1 Biologia aquática e pesqueira A03 Que existem diversas espécies de moluscos importantes em nossas vidas. Muitas dessas espécies se notabilizam pelo seu aproveitamento como recursos naturais, principalmente, no que se relaciona à área alimentar. Algumas outras se destacam pelos danos diretos ou indiretos que podem proporcionar ao homem. Ao longo desta aula, serão apresentadas informações sobre algumas das espécies de moluscos que foram selecionadas entre as que consideramos mais interessantes dentro do fi lo. Além disso, você encontrará orientações que o auxiliarão a obter informações sobre muitos outros moluscos de interesse conspícuo. Perceber a diversidade de moluscos do Brasil, com especial atenção aos moluscos de sua região. Identifi car moluscos de maior frequência na fauna brasileira e de maior manejo humano. 2 Biologia aquática e pesqueira A03 A diversidade dos moluscos Vamos começar esta aula falando sobre a diversidade dos moluscos. Você sabia que os moluscos apresentam grande diversidade de formas, tamanhos e ambientes? O número de espécies conhecidas é realmente muito grande, menor apenas que o de artrópodes. Distinguem-se três classes principais: gastropoda, bivalvia ou pelecypoda e cephalopoda. Além dessas podemos mencionar as classes amphineura e escaphopoda. Gastrópodos A classe Gastropoda é a maior classe dos moluscos. Foram descritas mais de 30.000 espécies viventes. Considerando a ampla variedade de habitats que os gastrópodos invadiram, eles certamente constituem o grupomais bem sucedido entre todas as classes de moluscos. O nome da classe deve-se ao fato de o pé localizar-se na região ventral. São representados pelos caramujos (aquáticos), pelas lesmas e pelos caracóis (terrestres). A maioria possui uma concha enrolada em espiral, mas outros, como certas lesmas terrestres, não têm concha. Em outros, como Helicultura É a denominação utilizada para o cultivo de escargot. Deriva do nome do principal gênero cultivado: Helix. 3 Biologia aquática e pesqueira A03 a lesma-do-mar, a concha é interna e reduzida. A cabeça é bem desenvolvida, com um ou dois pares de tentáculos sensoriais e olhos. Na frente do pé está a glândula pedal, que produz um muco para ajudar no deslocamento do animal. A maioria possui brânquias; o caracol e o caramujo de água doce possuem um pulmão primitivo. Representantes A. Helix aspersa (escargot). É um molusco que apresenta pele úmida, de cor acinzentada. Possui quatro tentáculos na porção anterior, sendo os dois menores para alimentação e os dois maiores são longas estruturas onde estão localizados os olhos. A coloração da concha varia do claro (pálido) ao quase preto. A concha é grande e esférica; sua superfície é fi na, brilhosa e praticamente sem perfurações, com “rugas” esculpindo sua forma. Um indivíduo adulto apresenta concha com 28 a 32 cm de diâmetro (Figura 1). A helicicultura tem se destacado como opção de cultivo alternativo no Brasil, especialmente na região Sul onde o clima é favorável a esta atividade. Os “escargots” do gênero Helix apresentam maior aceitação no mercado consumidor e valor econômico para a comercialização, devido às suas características desejáveis como a cor mais clara de sua carne. Figura 1 – Exemplar de Helix aspersa Fonte: <http://correiogourmand.com.br/info_glossario_produtos_alimentos_iguarias_gourmands_escargot_01.htm>. Acesso em: 23 jan. 2009. B. Achatina fulica (caramujo gigante africano). Espécie pertencente ao grupo dos moluscos pulmonados terrestres, conhecida como caramujo gigante africano (conforme você pode ver na Figura 2). Adultos dessa espécie possuem conchas com 15 a 20 cm de altura e 10 a 12 cm de comprimento. Chegam a pesar 200 g. Essa espécie de caramujo terrestre foi importada para cultivo, visando à comercialização para consumo humano Meningites São os processos infl amatórios ao nível das meninges, ou seja, das membranas que envolvem o nosso sistema nervoso central. 4 Biologia aquática e pesqueira A03 como “escargot”. Porém, devido à perda de controle ou mesmo abandono de muitos cultivos, esse caramujo passou a se espalhar no ambiente de diversas cidades do Brasil. O encontro de Achatina fulica em vida livre é indício de perigo por se tratar de espécie envolvida na transmissão de Angiostrongylus cantonensis, verme nematódeo causador da angiostrongilíase meningoencefálica no homem, que é uma doença comparável às meningites. NOTA: É importante frisar que esta zoonose (doença que se transmite de outro animal para o homem) ocorre principalmente no sudeste asiático e que até o presente, não há nenhum registro de sua ocorrência no Brasil. Entretanto, caso sejam encontrados espécimes desse caramujo dentro ou próximo das residências, são sugeridos os seguintes procedimentos: 1. Coletar manualmente, provido de luvas ou sacos plásticos, os moluscos e seus ovos; 2. Incinerar os moluscos e seus ovos; 3. quebrar as conchas e enterrar; 4. Repetir com frequência, ao longo do ano, os procedimentos mencionados. Podem ser utilizadas iscas para facilitar a captura dos moluscos, como as representadas pelas plantas diversas, umedecidas em água e colocadas ao lado de palha grossa, pedaços de madeira ou telhas. (Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, 2005). Figura 2 – Exemplar adulto de Achatina fulica Fonte: <http://correiogourmand.com.br/info_glossario_produtos_alimentos_iguarias_gourmands_escargot_01.htm>. Acesso em: 23 jan. 2009. C. Planorbis, Australorbis ou Biomphalaria (caramujos). Esses moluscos têm a concha em espiral, com as voltas ou giros no mesmo plano (Figura 3) e, por isso, recebem a 5 Biologia aquática e pesqueira A03 denominação de planorbídeo (família Planorbidae). Os caramujos planorbídeos criam-se e vivem na água doce de córregos, riachos, valas, alagados, brejos, açudes, represas ou outros locais onde haja pouca correnteza. Os caramujos jovens alimentam-se de vegetais em decomposição e de folhas verdes. Destacam-se por sua participação como hospedeiros intermediários no ciclo evolutivo da doença Esquistossomose, causada por verme platelminto da espécie Schistosoma mansoni. Figura 3 – Caramujo do gênero Biomphalaria, hospedeiro intermediário do verme Schistosoma mansoni na América Latina Fonte: <http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/genoma_contra_a_esquistossomose_imprimir.html>. Acesso em: 23 jan. 2009. D. Sarasinula linguaeformis (lesma). Os moluscos da família Veronicellidae, popularmente conhecidos como lesmas, caracterizam-se pela ausência de concha e corpo revestido pelo manto e são frequentemente encontrados sob pedras, troncos ou outros objetos caídos, em lugares úmidos, tanto em matas como em campos ou em quintais e hortas. Em 1995, ocorreu uma praga de lesmas identifi cadas como Sarasinula linguaeformis, que prejudicou as lavouras situadas entre os municípios de Nova Itaberaba e Planalto Alegre, no oeste do Estado de Santa Catarina. Responda aqui 1Praticando... Responda às questões a seguir. 1. Considere as seguintes características de um determinado animal: hermafroditismo, celomado, pulmão simples, um par de nefrídios, rádula, dois pares de tentáculos sensoriais e glândula pedal secretora de muco. a) A que classe pertence o animal que apresenta todas as características descritas? Cite um exemplo. b) Qual é a função do muco secretado pela glândula pedal? Cite uma classe, do mesmo fi lo, onde essa glândula não existe. 2. Por que o combate aos caramujos planorbídeos pode reduzir a incidência de esquistossomose em populações ribeirinhas? 6 Biologia aquática e pesqueira A03 7 Biologia aquática e pesqueira A03 Bivalves A classe Bivalvia, também chamada Pelecypoda ou Lamellibranchia, é formada pelos moluscos conhecidos como bivalves. São todos lateralmente comprimidos e possuem uma concha com duas valvas, articuladas na porção dorsal e que envolvem totalmente o corpo. O pé tem a forma de uma lâmina de machado, sendo esta a origem do nome Pelecypoda (pé em forma de machado; Pelekys = machado). A cabeça é muito reduzida. A cavidade do manto é a mais espaçosa dentre todas as classes de moluscos e as brânquias são geralmente muito grandes. As brânquias desses moluscos desempenham dupla função – retiram o oxigênio dissolvido na água (como qualquer brânquia) e fi ltram partículas alimentares e algas verdes microscópicas, que são em seguida conduzidas à boca. Por essa razão, os bivalves são considerados “animais fi ltradores”. A classe é também conhecida como Lamellibranchia pelo fato de suas brânquias serem formadas por numerosas lâminas paralelas. Representantes A. Crassostrea rhizophorae (ostra-do-mangue). Crassostrea rhozophorae é a espécie de ostra-do-mangue mais comumente encontrada na costa do Brasil (Figura 4). Ocupa lugar de destaque nas raízes aéreas dos manguezais de diversos estados brasileiros, na forma de extensos bancos naturais nas regiões entremarés. Ocorre também em formações rochosas que fi cam submersas durante a maré alta. Utilizada como recurso tanto para fi ns de cultivo quanto para alimentação das populações locais. Figura 4 – Valvas da concha de Crassostrea rhizophorae (ostra), município de Bragança – Pará Fonte: Foto de Carlos Fernandes (2002). 8 Biologia aquática e pesqueira A03 B. Mytella guyanensis e Mytella falcata (mexilhões).A espécie M. guyanensis (Figura 5), conhecida pelos nomes populares de sururu, mexilhão de estuário, bacucu ou bico de ouro, pode apresentar comprimento máximo de 8 cm e distribui-se em bosques de mangue, situados na zona entremarés de ambientes estuarinos. Enquanto isso, M. falcata, conhecido como sururu, mexilhão de estuário ou bacucu, que pode crescer até 5 cm, é encontrado da zona infralitoral até a zona entremarés. NOTA: Crassostrea gigas é uma ostra nativa das costas do Oceano Pacífi co na Coréia, China e Japão. É também cultivada em alguns estados brasileiros (principalmente Santa Catarina e São Paulo), e outros países, como nos Estados Unidos da América, Austrália e Nova Zelândia (onde substituiu comercialmente a ostra nativa Crassostrea glomerata. Também foi levada para o Mar Frísio, na Europa, onde é uma espécie invasora e compete, com sucesso, com outras espécies de bivalves, como o mexilhão Mytilus edulis. Figura 5 – Valvas da concha de Mytella guyanensis (mexilhão), município de Bragança – Pará Fonte: Foto de Carlos Fernandes (2002). C. Teredo sp., Neoteredo reynei e outros (turus). Os turus são importantes decompositores de madeira, especialmente em manguezais, onde a produtividade é alta. Mas certamente chamam a atenção pelos prejuízos que podem causar perfurando o casco de embarcações (Figura 6). São como cupins de madeira molhada. Por outro 9 Biologia aquática e pesqueira A03 lado, destacam-se ainda por serem utilizados como alimento: ainda no manguezal, eles são limpos e lavados na água salobra. Tira-se a concha, que é uma estrutura pequena, como uma cabeça com dentículos raspadores (as duas valvas), afi nal, precisam ir escavando túneis na madeira. A tripa é puxada com um pauzinho, quase como alguns limpam o camarão. O que sobra é 100 % aproveitável. Os catadores costumam comê-los crus ainda no mangue com sal e limão, porém existem várias receitas com turu, como Ceviche de turu, Caldo de turu simples, Caldo de turu no leite de coco e Turu à milanesa. Aquicultura É, de acordo com a defi nição do IBAMA, o cultivo de organismos aquáticos que tenham na água o seu normal ou mais frequente meio de vida. NOTA: Os bivalves são os moluscos realmente importantes em termos de Aquicultura, pois, na prática, observamos apenas o desenvolvimento de tecnologia para o cultivo deste grupo de moluscos. Neste contexto, você precisa conhecer termos como Mitilicultura (o cultivo de mexilhões) e (Ostreicultura para o cultivo de ostras). Por outro lado, se quisermos fazer referência ao cultivo de qualquer molusco, devemos usar o termo Malacocultura. Figura 6 – Espécimes de turus do gênero Teredo Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/_esD6aRur2q0/R6r4dJzYT0I/AAAAAAAABDI/aBpYz8WbZNM/s1600-h/turu+-+ele.jpg>. Acesso em: 23 jan. 2009. 2Praticando... Além de ostras, mexilhões e turus, existem outros moluscos interessantes na classe Bivalvia. Com o auxílio da rede internacional (Internet), identifi que dois outros bivalves e sua importância. Sugestões de visita: <http://www.mariavaicomasostras.com.br/index.php?paged=5> <http://www.urutagua.uem.br//04zoo_streit.htm> 10 Biologia aquática e pesqueira A03 Cefalópodos Incluem os mais especializados e mais bem organizados de todos os moluscos. A maioria está adaptada a uma ativa natação, apesar dos polvos terem assumido secundariamente um hábito menos ativo. A cabeça projeta-se em uma coroa de tentáculos, que são homólogos à porção anterior do pé de outros moluscos. Os cefalópodos atingiram o maior tamanho entre todos os invertebrados. Embora a maioria tenha comprimento entre 6 e 70 cm, incluindo os tentáculos, algumas espécies de lulas alcançam proporções gigantescas. Polvos gigantes existem apenas em contos. Uma concha completamente desenvolvida é encontrada unicamente nos representantes fósseis da classe e nas poucas espécies viventes de Nautilus, que ocorrem no Pacífi co ocidental tropical. Representantes A. Octopus vulgaris (polvo comum). É encontrado em águas tropicais, subtropicais e temperadas, desde a superfície até cerca de 100-150 metros de profundidade. O corpo é globoso e dotado de oito tentáculos, do mesmo comprimento. O macho em geral é maior que a fêmea, podendo atingir mais de 1 m e ultrapassar os 8 kg de peso. No macho, o terceiro tentáculo apresenta algumas alterações funcionais, servindo como órgão reprodutor. Vive em tocas e faz excursões à procura de alimento ou então espera na entrada da toca. É um ativo predador, alimentando-se principalmente de gastrópodos, bivalves, crustáceos e peixes. No sudeste do Brasil, até o fi m de 2002, os polvos somente eram capturados como parte integrante da fauna acompanhante da Para saber mais... Metendo as mãos pelos pés A astúcia faz com que os polvos não percam tempo diante de um inimigo. Apesar de serem surdos, como todos os cefalópodos, enxergam com impressionante nitidez. Seus olhos possuem 50 mil receptores de luz por 11 Biologia aquática e pesqueira A03 pesca de arrasto de portas. Desde então, por questões de mercado, foi iniciada uma pesca passiva empregando espinhéis de potes. A pesca com potes, do ponto de vista pesqueiro, é considerada mais efi ciente, em razão da reduzida fauna acompanhante e do menor impacto sobre a biota bentônica. A adoção dessa modalidade de captura possibilita uma exploração mais racionalizada, uma vez que, ampliando o número de refúgios, permite-se a redução da competição intra-específi ca por território, uma das principais razões da elevada mortalidade natural entre os polvos. Figura 7 – Espécime de Octopus vulgaris Fonte: <http://www.okeefes.org/Favorite%20Photos/Favorite_Photos_1/Favorite_Photos_1.htm>. Acesso em: 23 jan. 2009. milímetro quadrado, o que lhes dá uma visão melhor do que a humana, porque vêem até no escuro. Os adversários também são reconhecidos pelo olfato. As pontas dos oito tentáculos funcionam como narizes, com células especializadas em captar odores. Provavelmente, o polvo percebe pelo cheiro que o outro animal está liberando hormônios relacionados ao comportamento agressivo. Ou seja, pretende atacá-lo. Então, lança uma tinta escura e viscosa para despistá-lo, e escapa com uma velocidade impressionante para um animal aquático. Em raras vezes o agressor consegue ser mais rápido, e o polvo prefere deixar um de seus tentáculos entre os dentes do inimigo e fugir. Um novo tentáculo tende a nascer no lugar ferido. A principal tática de defesa, no entanto, é a camufl agem. Em menos de 30 segundos, ele é capaz de mudar completamente de cor, fi cando da mesma tonalidade da areia ou de uma pedra. O que mais fascina os cientistas é que ele também usa cores para se comunicar. Tons berrantes, por exemplo, funcionam como um aviso para outros polvos de que há um predador nas redondezas. Manchas rosadas servem para atrair parceiros. O sistema nervoso bem desenvolvido desses animais controla os deslocamentos rápidos e lhes dá capacidade de aprender e de memorizar superior à de outros invertebrados. Em laboratórios, eles aprendem a distinguir objetos de formas diferentes, a achar a saída de um labirinto e a tirar a rolha de garrafas nas quais há um peixe. (OLIVEIRA, 1996, p. 59/63). 12 Biologia aquática e pesqueira A03 B. Loligo vulgaris (lula vulgar). O corpo é alongado. O comprimento dos machos é de aproximadamente 35 cm, podendo chegar a 50 cm, e o das fêmeas, 22 cm. Cabeça com dois grandes olhos, situados lateralmente, boca central rodeada por cinco pares de tentáculos, sendo os menores mais grossos com numerosas ventosas no lado interno. Os dois tentáculos restantes são bem mais longos, apresentando ventosas apenas nas extremidades dilatadas (Figura 8). Os tentáculos têm a propriedade de alongar- se ou retrair-se, até fi carem quase ocultos. Logo após o pescoço há uma
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