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i UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - AVM – FACULDADE INTEGRADA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA PSICOMOTRICIDADE RELACIONADA À EDUCAÇÃO INFANTIL E SEUS IMPACTOS SOBRE A NEUROAPRENDIZAGEM DE CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS DE IDADE ADRIANA DE OLIVEIRA ASSAD BRASÍLIA - DF 2016 ii ADRIANA DE OLIVEIRA ASSAD PSICOMOTRICIDADE RELACIONADA À EDUCAÇÃO INFANTIL E SEUS IMPACTOS SOBRE A NEUROAPRENDIZAGEM DE CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS DE IDADE Monografia apresentada a Universidade Cândido Mendes - AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Educação Física, sob a orientação do Professora Fabiane Muniz. BRASÍLIA - DF 2016 iii ADRIANA DE OLIVEIRA ASSAD PSICOMOTRICIDADE RELACIONADA À EDUCAÇÃO INFANTIL E SEUS IMPACTOS SOBRE A NEUROAPRENDIZAGEM DE CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS DE IDADE Monografia apresentada a Universidade Cândido Mendes - AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Educação Física, sob a orientação do Professor Fabiane Muniz. Aprovado pelos membros da banca examinadora em _____/_____/____, com menção ______(_________________________) Banca Examinadora ______________________________ Presidente: Prof. Dr. Instituição a que pertence ______________________________ Integrante: Prof. Dr. Instituição a que pertence ______________________________ Integrante: Prof. Dr. Instituição a que pertence iv AGRADECIMENTOS Agradeço aos inúmeros professores e amigos que me auxiliaram neste trabalho, não citarei nomes para não cometer injustiça com qualquer daqueles que estiveram ao meu lado nessa caminhada acadêmica. v DEDICATÓRIA Ao meu amado esposo Salomão Assad. A minha irmã Eliandre Oliveira. Ao meu amigo Lucas Oliveira. Ao Profº Ronaldo Rodrigues da Silva. vi RESUMO ASSAD, Adriana de Oliveira. Psicomotricidade Relacionada à Educação Infantil e Seus Impactos Sobre a Neuroaprendizagem de Crianças de 0 a 6 Anos de Idade. 2016. Nº de folhas f. Trabalho de conclusão de curso - especialização - Faculdade AVW, Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, 2016. Este trabalho acadêmico refere-se a uma revisão de bibliografia sobre a psicomotricidade e a neuroaprendizagem por intermédio da Educação Física na Educação Infantil no Brasil, enfatizando essa temática de modo a destacar as especificidades da psicomotricidade na educação, sem deixar de situá-la no contexto do debate contemporâneo sobre as políticas educacionais. Para a realização do trabalho, fez-se um levantamento de bibliografia mais ampla sobre a psicomotricidade e sobre a neuroaprendizagem, para, em seguida, abordar-se a sua correlação na complementação e melhoria da Educação Infantil em particular. Verificou-se a existência de diversas abordagens sobre o tema da psicomotricidade, ora compreendida como um simples brincar e passatempo, ora como uma ferramenta capaz de impulsionar a qualidade no ensino infantil sob os mais diversos aspectos. Palavras-chave: Psicomotricidade; Neuroaprendizagem; Educação infantil. vii ABSTRACT ASSAD, Adriana de Oliveira. Psychomotor Related to Early Childhood Education and Its Impacts on the Neuroaprendizagem Children 0-6 Years of Age. 2016. Number of leaves f. completion of course work - specialization - Faculty AVW, Cândido Mendes University, Rio de Janeiro, 2016. This academic work refers to a literature review on the psychomotor and neuroaprendizagem through Physical Education in Early Childhood Education in Brazil, emphasizing this theme in order to highlight the specificities of psychomotor education, while situating it in the context the contemporary debate on education policy. To carry out the work, there was a more extensive bibliography survey on the psychomotor and the neuroaprendizagem, to then approach to its correlation in the completion and improvement of early childhood education in particular. It was the existence of different approaches on the subject of psychomotor, now understood as a simple toy and hobby, or as a tool to boost quality in infant education in the various aspects. Keywords: Psychomotor; Neuroaprendizagem; Child education. viii SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO I 1. EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL 1.1. Histórico e Legislação Da Educação Infantil 1.1.1. Primeiros Passos 1.2. O Papel do Professor de Educação Infantil CAPÍTULO II 2. EDUCAÇÃO FÍSICA COMO PARTE DA EDUCAÇÃO INFANTIL 2.1. O professor de Educação Física e o seu preparo para atuação na educação infantil 2.2. O Desenvolvimento Motor 2.2.1. Fase Motora Reflexiva 2.2.2. Fase de Movimentos Rudimentares 2.2.3. Fase de Movimentos Fundamentais 2.2.4. Fase de Movimentos Específicos CAPÍTULO III 3. ASPECTOS HISTÓRICOS DA PSICOMOTRICIDADE 3.1. Educação do movimento 3.2. Conceitos de psicomotricidade 3.3. Esquema corporal 3.4. Imagem corporal 3.5. Coordenação motora-ampla 3.6. Coordenação geral 3.7. Coordenação audiomotora 3.8. Coordenação visomotora 3.9. Coordenação motora-fina 3.10. Coordenação facial 10 14 14 14 19 22 24 26 27 28 29 29 31 33 35 36 37 37 38 38 39 39 39 ix 3.11. Orientação temporal 3.12. Estruturação espacial 3.13. A lateralidade 3.14. A Psicomotricidade e a Educação Infantil CAPÍTULO IV 4. A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA INFÂNCIA 4.1. Como as Crianças Aprendem 4.2. Desenvolvimento psicomotor da criança 4.3. Psicomotricidade Terapêutica 4.4. Psicomotricidade Educativa CAPÍTULO V 5. ASPECTOS GERAIS DO NEUROAPRENDIZADO 5.1. Correlação entre Psicomotricidade e Neuroaprendizado 5.2. Movimento e Neuroaprendizagem 5.3. A Imagem do Corpo 5.4. A influência da Psicomotricidade para o desenvolvimento do Neuroaprendizado CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS 40 41 41 43 45 45 46 49 50 52 55 56 57 59 64 66 x 11 INTRODUÇÃO Nota-se a crescente busca dos pais de crianças de 0 a 3 anos por auxilio no desenvolvimento psicomotor de seus filhos. É crescente a taxa de frequência à escola ou creche de crianças de 0 a 6 anos de idade e nesse contexto surge a oportunidade de promoção da Educação Física Infantil com ênfase na psicomotricidade e sua possível influência na neuroaprendizagem. A Educação Física é protagonista na construção do conhecimento infantil, por meio dela a criança adquire vivências e passa por experiências reveladoras sobre os movimentos, seus limites físicos, sobre consciência corporal e sobre o desenvolvimento do conhecimento cognitivo. O aprendizado e desenvolvimentomotor promovem o desenvolvimento cognitivo de forma a viabilizar a formulação de conceitos básicos e dos primeiros pensamentos lógicos organizados. Considerados tais dados notei a relevância de uma pesquisa bibliográfica direcionada a concluir se a psicomotricidade é capaz de influenciar a neuroaprendizagem quando aplicada na educação física de crianças de 0 a 6 anos. O resultado deste estudo contribuirá com futuros pesquisadores interessados no desenvolvimento da educação física infantil, bem como servirá de subsídio a projetos escolares e propostas pedagógicas que acolhem o tema aqui proposto. Existem renomados autores que discutem o tema sobre os mais diversos aspectos e perspectivas, de forma que a revisão bibliográfica do tema se torna viável. A função motora está presente desde a concepção e durante toda a vida do ser humano. O movimento é a manifestação fundamental de desenvolvimento do homem e possibilita o relacionamento com o mundo e com os demais. O homem não nasce pronto, assim como seu corpo, ambos se constroem na sua relação com o outro. No mesmo sentido Alves entende que: A psicomotricidade tem o objetivo de trabalhar o indivíduo com toda sua história de vida: social, política e econômica. Essa história se retrata no seu corpo. Trabalha, também, o afeto e o desafeto do corpo, desenvolve o seu aspecto comunicativo, dando-lhe a possibilidade de dominá-lo, economizar sua energia, de pensar seus gestos, a fim de trabalhar a estética de aperfeiçoar o seu equilíbrio. Psicomotricidade é o corpo em movimento, considerando o ser em sua totalidade. 12 Engloba várias outras áreas: educacionais, pedagógicas e de saúde, por ter o homem como objeto de estudo (ALVES, 2007.p.77). Nesse sentido, vale dizer que “a educação psicomotora, baseada na psicomotricidade, é uma técnica pedagógica necessária a toda a criança, seja ela normal ou deficiente, e está hoje incorporada nas correntes atuais da psicopedagogia” (VAYER, 1982). Caron (2010.p.7) acentua que “Nessa perspectiva a educação se faz em três campos de igual importância para a formação de um adulto saudável, ajustado e produtivo: o cognitivo, o psicomotor e o afetivo. Destes é o psicomotor que permite mais precocemente a aplicação de uma educação formal”. Ainda segundo o autor: “A educação psicomotora, antes de ser um método definitivo é um instrumental no contesto educativo, para questionar os problemas da educação da criança pequena, de uma forma mais ampla Logo, este estudo visa realizar uma revisão bibliográfica acerca do seguinte tema: O papel do pedagogo em auxilio a psicomotricidade e o desenvolvimento infantil. Tema este de grande relevância social, que tem como foco abordar os aspectos históricos da psicomotricidade infantil; seus conceitos; a psicomotricidade e a educação infantil; a psicomotricidade e o trabalho do pedagogo; as fases ou etapas do desenvolvimento psicomotor; inserção da psicomotricidade nas escolas bem como a importância pedagógica frente a psicomotricidade infantil. Segundo Barros (2014.p.12): “A história da psicomotricidade está intimamente ligada à evolução da espécie humana, tendo sua origem na resposta adaptativa para a sobrevivência e evolução da espécie”. Ou seja, conforme o passar dos anos, para que se pudesse sobreviver, a humanidade foi se adaptando conforme seu estilo de vida e ambiente em que viviam, e com isso foram consequentemente evoluindo, juntamente com sua capacidade psicomotora que colabora de forma direta para a progressão da espécie. Buscando uma compreensão filogenética da psicomotricidade, é possível perceber que a motricidade, conceituada como uma característica fundamental de todos os seres vivos, que permite a adaptação ao meio natural, é a expressão de três cérebros unificados, conhecido como cérebro triúnico, composto pelo paleoencéfalo, mesencéfalo e o telencéfalo, este último, responsável por uma motricidade intencional, própria do ser humano, ou seja, psicomotora Fonseca, 2005 apud Barros (2014.p.12). 13 Logo se o ser humano não fosse dotado de psicomotricidade, não conseguiria ter sobrevivido ate os dias de hoje, pois desta forma não teria se adaptado as diferenças mudanças dos aspectos climáticos, físicos e até psíquicos, o que garantiram sua existência até aqui. Como a psicomotricidade está diretamente relacionada ao desenvolvimento humano através da medicina, a pedagogia está atrelada diretamente ao aprendizado infantil e desenvolvimento da criança. Logo se faz importante o entranhamento de ambas as áreas do conhecimento a fim de que se possa averiguar a importância do pedagogo no âmbito da psicomotricidade infantil. Para Negrine (1995) “a psicomotricidade é o relacionar-se através da ação, como um meio de tomada de consciência, de unificação do Ser, que é corpo-mente- espírito-natureza-sociedade. É a solidariedade original e profunda entre o pensamento e a ação” (BARRETO, 2000, p.19). Ou seja, a atividade cognitiva esta diretamente ligada a percepção que o ser humano tem do mundo, do ambiente em que vive, e até mesmo do que esta sentindo, logo entende –se que o conjunto de todas essas habilidades resultam no comportamento psicomotor. Segundo Fonseca (2005), entende-se por psicomotricidade, a junção do movimento e da atividade mental, pois, para ele a motricidade encontra-se cada vez mais consciencializada. Desta forma, Barreto e Fonseca, afirmam que a psicomotricidade, não deve ter como aspecto de estudo mente versus corpo, e sim uma união entre esses dois pilares. Para que se tenha um bom desenvolvimento psicomotor devemos contar com as funções básicas da psicomotricidade, como: esquema corporal, imagem corporal, lateralidade, coordenação geral e orientação espaço-temporal. Devido à grande importância de relacionar o papel da pedagogia perante o desenvolvimento psicomotor da criança no desenvolvimento infantil no ambiente escolar é que se tem como principal o seguinte objetivo: Esclarecer a importância do pedagogo no desenvolvimento psicomotor da criança na escola. Ademais diante de tais possibilidades o presente estudo tem como objetivos específicos os seguintes: Explicar a psicomotricidade e seus diversos aspectos; Averiguar os principais aspectos da psicomotricidade no desenvolvimento infantil; Analisar a psicomotricidade do decorrer da educação infantil; Destacar a importância da pedagogia no desenvolvimento das crianças até 7 anos de idade com enfoque na capacidade psicomotora das mesmas. 14 Ademais, serão esclarecidos dentre os já mencionados, outros pontos que se mostram relevantes ao embasamento deste estudo, com o fito de dirimir quaisquer dúvidas acerca do tema. 15 CAPÍTULO I 1. EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL Desde a Constituição Federal de 1988, a Educação Infantil, englobando a creche e a pré-escola, constitui a primeira etapa da educação básica. Essa definição, reforçada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN 9394, de 1996, implica no reconhecimento legal do direito da criança pequena à educação e na obrigação do Estado de atender à demanda. Até recentemente, essa obrigação não se estendia à família; porém, a legislação sobre a obrigatoriedade legal foi alterada em 2006, tornando obrigatória a educação para a faixa etária dos 4 aos 17 anos, abrangendo a pré-escola. No período que se seguiu às novas definições legais introduzidas pela Constituição Federal e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a transição do atendimento,que estava sob a responsabilidade da área de assistência social, para o setor da educação, processou-se - e ainda se processa - de maneira a colocar as instituições de Educação Infantil em uma nova forma, muitas vezes sem muita consideração para as consequências dessas mudanças junto às crianças e suas famílias. 1.1. Histórico e Legislação Da Educação Infantil Neste capítulo irei discutir a história e legislação da educação infantil, bem como, a história do atendimento à criança de zero a seis anos. Para tanto, focalizamos os seguintes tópicos: os primeiros passos da educação infantil e as primeiras instituições de atendimento a criança menor de 6 anos. 1.1.1. Primeiros Passos Foi no início do século XVII que surgiram as primeiras preocupações com a educação das crianças pequenas e, dessa forma, o reconhecimento e a valorização da infância. O atendimento à criança passou por mudanças significativas que, de inicio, ocorreram nas atitudes das famílias em relação às crianças. Inicialmente as crianças, eram educadas a partir das aprendizagens adquiridas junto aos adultos. 16 Enfim, as formas de perceber e compreender a criança revelam o próprio caráter histórico do tema. Dessa forma, segundo Arroyo (1994), a infância não existe como categoria estática, mas como um conceito que está em construção. Portanto, há formas diferenciadas de olhar a criança e a infância, bem como, diferentes modos de atendimento. Além disso, Arroyo (1994) afirma que nem sempre a criança foi reconhecida como sujeito de direitos, pois era simplesmente coloca à margem da família. Hoje, pelo menos, podemos considerar que a criança é considerada como alguém que tem sua própria identidade e seus direitos. “A infância deixou de ser apenas objeto dos cuidados maternos familiares, e hoje tem que ser objeto dos deveres públicos do estado, da sociedade como um todo.” A história da educação infantil no Brasil, no entanto, é marcada por contradições e rupturas. Conforme Oliveira (2002), na zona rural, onde a maior parte da população morava, muitas famílias pegavam crianças órfãs ou abandonadas e assumiam o cuidado. Já na cidade, as crianças abandonadas eram recolhidas nas “rodas de expostos”. As “rodas de expostos” ou a “casas dos expostos”, criada em 1726, “... recebiam os bebês abandonados nas “rodas” – cilindros de madeira que permitiam o anonimato de quem ali deixasse a criança – para depois encaminhá-los amas que os criariam até a idade de ingressarem em internatos.” (KUHLMANN, 2000, p.473) Oliveira (2002) ressalta que essa situação começou a mudar a partir do século XIX com iniciativas, na maioria das vezes, sem nenhum apoio para a proteção à infância. Foram criadas entidades de amparo, para combater as altas taxas de mortalidade infantil criando essas entidades, concorreu para o aumento de crianças abandonadas. Segundo Kuhlmann (2000), é no século XIX que surge uma grande expansão das relações internacionais, proporcionando a difusão das instituições de educação infantil que, no Brasil, começam a chegar na década de 1870. Sendo assim, as instituições de educação infantil, existem no Brasil há pouco mais de um século. O autor ressalta também que a pré-escola se destina à infância pobre e o assistencialismo torna-se uma proposta educacional. 17 ...a educação não seria necessariamente sinônimo de emancipação. O fato dessas instituições carregarem em suas estruturas a destinação a uma parcela social, a pobreza, já representa uma concepção educacional. A pedagogia das instituições educacionais para os pobres é uma pedagogia da submissão, uma educação assistencialista marcada pela arrogância que humilha para depois oferecer o atendimento como dádiva, como favor aos poucos selecionados para receber. (KUHLMANN, 2000, p.54) Dessa forma, o jardim de infância cumpriria um papel de moralização da cultura infantil, na perspectiva de educar para o controle da vida social. Isso significava que havia, até mesmo, uma preocupação com as brincadeiras aviltantes. No final do século XIX, conforme Oliveira (2002), começou a reunir condições para que fossem assimilados, pelas elites do Brasil, os preceitos educacionais do movimento das Escolas Novas, elaborada na Europa e trazida para o país. Então o Jardim de Infância, instituição que tinha uma programação pedagógica inspirada em Froebel foi recebida com bastante entusiasmo por alguns setores sociais, pois eles sempre acreditaram que isso traria grandes vantagens. No entanto, salienta a autora, a chegada dos jardins de infância gerou muitos debates entre políticos, pois muitos diziam que essas instituições se pareciam com as salas de asilo francesas, entendidas como locais de mera guarda das crianças. Apesar do debate e da polêmica em torno do Jardim de Infância surgiram, segundo Oliveira (2002), as primeiras instituições em São Paulo e no Rio de Janeiro: em 1896 foi criado o jardim-de-infância da Escola Normal Caetano de Campos em São Paulo; Em 1908 foi instituída a primeira escola infantil de Belo Horizonte; em 1909 é criado o jardim-de-infância Campos Sales, em 1910 surgiu o jardim-de- infância Marechal Hermes e, em 1922, foi criado o jardim-de-infância Bárbara Otoni, ambos no Rio de Janeiro. Essas instituições estavam sob o cuidado de entidades privadas, mas depois de alguns anos surgiram os Jardins de Infância públicos. A autora também destaca que no Rio de Janeiro, os jardins de infância foram ora confundidos com as salas de asilos francesas ora como escolaridade precoce. Ressalta-se, também, que o atendimento em creches e pré-escolas surgiu a partir de mudanças econômicas, políticas e sociais que ocorreram na sociedade em geral. Conforme Oliveira (2002), a urbanização e a industrialização no início do século XX fez com que a maioria dos homens que ainda trabalhavam na lavoura fossem para as fábricas. As indústrias também tiveram que contratar um grande número de mulheres para o trabalho e, dessa forma, algumas mães deixavam seus filhos com a própria família o com outras mulheres. 18 Na década de 19 e no início dos anos 30 homens e mulheres reivindicavam melhores condições de trabalho como carga horária, baixos salários, a existência de locais para guarda e atendimentos das crianças durante o trabalho das mães. Oliveira (2002) afirma que para atrair a força dos trabalhadores, as empresas fundavam vilas operárias, clubes esportivos e algumas creches e escolas maternais para filhos de operários. A creche e as demais instituições sociais eram propriedades das empresas. E isso passou a ser vantajoso para alguns empresários,...por aumentar a produção por parte das mães. Mesmo assim o ideal da mulher ainda era voltado para o lar, e as creches ainda eram mal vistas. (OLIVEIRA, 2002, p.96) O debate sobre o papel ou a função das instituições de atendimento a criança menor de seis anos seguiu por longos anos. Em meio à crise no sistema político oligárquico surgiu, conforme Oliveira (2002), o primeiro Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, no qual houve muitos debates sobre o papel da mulher como cuidadora. A autora também destaca que em, 1932, houve um manifesto dos educadores no qual defendiam a educação pública, escolas gratuitas e obrigatórias para meninas e meninos. Foi a partir desse debate que alguns educadores fizeram praças de jogos semelhantes aos jardins de infância, as quais, conforme Oliveira (2002), deram origem aos Parques Infantis. Esses parques eram vinculados ao Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo, idealizado pelo poeta Mário de Andrade. Essa experiência governamental, embora não tenha sidoescolar, foi uma alternativa educacional para os filhos e filhas, de 3 a 6 anos de idade, das famílias operárias. Na década de 40, conforme Oliveira (2002) prosperam iniciativas governamentais de atendimento à criança, aliando a área da saúde, previdência e assistência. Dessa forma, o atendimento da criança estava vinculado à questão da saúde. Nesse contexto, havia o entendimento de que as creches eram um “mal necessário”, pois eram como instituições de saúde, com várias rotinas voltadas para a higiene e nutrição objetivando a prevenção de epidemias. Na década de 50, conforme a autora, a maioria das creches ainda era vinculada às empresas e apenas uma pequena minoria de creches foi formadas por entidades filantrópicas ou religiosas. Mesmo em pequenas quantidades elas começaram a receber ajuda governamental. Entre as instituições que surgiram de 19 1940 até a década de 80 destacam-se: o departamento Nacional da Criança (DNCr.) de 1940; o Serviço de Assistência à Menores (SAM) de 1941, Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) de 1946; a Organização Mundial de Educação Pré- Escolar (OMEP) de 1948; o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) de 1972; o Projeto Casulo (ligado a Legião Brasileira de Assistência existente desde 1942 –LBA) de 1974; e a Coordenação de Educação Pré-escolar (COEPRE) de 1975. Ressalta-se que, nessa época, a preocupação ainda era com a alimentação, a saúde e a segurança da criança, sendo quase sem valor à parte do desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo e social. Durante a segunda metade do século XX, afirma Oliveira (2002), que as características do sistema econômico adotado no Brasil impediam que a maioria da população tivesse uma vida financeira tranqüila e, dessa forma, as mulheres tiveram que voltar ao mercado de trabalho. Creches e parques infantis, que já atendiam em período integral, passaram a ser cada vez mais procurados. Enfim, de acordo com Terciotti (2001), o surgimento da educação infantil no Brasil se dá no século XVIII e no decorrer de sua existência as instituições de atendimento à criança trabalhavam em sua grande maioria como instituições assistencialistas, ou seja, se preocupavam mais com a guarda e a saúde das crianças. No século XIX, e especialmente no século XX, surgiram as primeiras instituições de educação infantil que exerciam os preceitos Froebelianos, com vínculos românticos e religiosos. Apesar dos avanços ressalta-se, no entanto, que ainda há muito para ser feito pela criança e a infância brasileira. Em matéria publicada no jornal “Estado de S. Paulo”, em 30/10/00, por exemplo, é possível perceber que além de muitas creches terem instalações muito precárias, as mesmas não dão condições de higiene para as crianças. Em geral, essas instituições são casas adaptadas, sem ventilação e iluminação suficientes, sem espaços para recreação. Percebe-se assim a necessidade de mudar algumas concepções, especialmente referente aos papéis de professor, de criança e da escola. A criança hoje é vista como um ser humano sujeito de sua própria história, inserido na sociedade, que influencia e é influenciado pela cultura que se desenvolve através do seu meio social e físico. (TERCIOTTI, 2001, p.23) Enfim, é necessário que se tenha à preocupação em compreender, conhecer 20 e reconhecer o jeito de ser e estar de cada criança, sempre respeitando sua individualidade e necessidades. Além disso, as crianças de zero a seis anos requerem cuidados físicos especiais, pois ainda não estão preparadas para serem independentes. 1.2. O Papel do Professor de Educação Infantil Para a autora Ribeiro (1999), o desempenho do papel do professor é necessário, para que ele acompanhe a criança, propondo situações desafiadoras em contato com materiais, conteúdos (o objeto do conhecimento) provocantes para ela, no sentido de levá-la a investir nesse objeto, configurá-lo e aprendê-lo como um problema para si própria. Portanto para a autora: É necessário que todos os educadores dominem e tenham conhecimento profundo das teorias que explicam a construção da inteligência e os processos de aprendizagem para que possam realizar mudanças significativas e eficientes na prática pedagógica e nas suas propostas didáticas. (RIBEIRO, 1999 p.16) Para Ribeiro (1999, p.47) o profissional deve ter uma postura para assumir diferentes papéis na promoção do desenvolvimento e aprendizado dos alunos, assim como: Proporciador de atividades, situações e recursos que levem o aluno a aprender a aprender; Mediador no processo de ensino-aprendizagem; Promotor de interações sociais que propiciem o aprendizado e o desenvolvimento cognitivo; Monitor do aluno nas atividades e situações de sala de aula; Condutor, elucidador (espelho), informador. Segundo Ribeiro (1999) é de muita importância cooperar para que a criança alcance os objetivos estabelecidos pelo professor. Intervir e tentar promover modificações no processo de ensino-aprendizagem, de forma a possibilitar que todos os alunos aprendam e melhorem o seu desenvolvimento pessoal e social. De acordo com Ribeiro (1999), todo educador deve valorizar as manifestações espontâneas da criança: representações, faz-de-conta, imitações, desenhos, histórias e narrativas, a fala criando e propiciando espaço na sala de aula para essas atividades. Criar oportunidades sempre para o planejamento coletivo das atividades e projetos pedagógicos, criando espaços, na sala de aula, para que os alunos participem ativamente das decisões. Valorizar os espaços da sala de aula para que as crianças possam ampliar suas leituras de mundo: cantinho de leitura, de 21 dramatização, brinquedoteca e outros. O professor deve sempre se lembrar, enquanto planeja, organiza, dirige e avalia as atividades de seus alunos, que é muito mais importante Ter boas idéias, construí-las e entende-las do que construir verdades. Ou seja, que todas as atividades serão tanto mais significativas quanto mais possibilitarem que as crianças possam Ter e experimentar boas idéias no processo de aprendizagem. (RIBEIRO, 1999 p.67) Para a autora Ribeiro (1999), a ação pedagógica deve respeitar as idéias que as crianças têm respeitar os raciocínio, relações, comparações e analogias que fazem quando procuram entender o mundo que as cerca. De acordo com a autora o papel do professor é: Respeitar a faixa do desenvolvimento cognitivo em que está o aluno; Dar tempo ao aluno para exploração de conceitos; Provocar conflitos cognitivos levando o aluno a pensar, selecionar, optar e conferir suas escolhas refazendo-as se necessárias; Planejar e direcionar as atividades que envolvam o aluno como agente ativo do processo ensino-aprendizagem; Oferecer as informações necessárias, possibilitando ao aluno a compreensão global dos fatos e suas relações; Analisar tudo o que o aluno faz: descobrir o que ele domina, utilizar-se de suas hipóteses (erradas) para compreender a sua forma de pensar e refazer seu planejamento; Construir com seus alunos regras de convivência social, buscando passá-los da heteronomia para a autonomia; Enfatizar o trabalho coletivo organizado e ativo; Incentivar o respeito mútuo; Realizar a auto e a hetero-avaliação; Avaliar o processo, descaracterizando a nota enquanto nota; Realizar um processo de avaliação contínua, cooperativa, diagnóstica e formativa; Tornar o aluno agente do processo ensino-aprendizagem direcionando-o, questionando-o, permitindo e exigindo-lhe ação. Observar a forma como as crianças agem e se relacionam com as atividades propostas, com o objetivo de selecionar e planejarestratégias adequadas e 22 pertinentes que lhes possibilitem avanços no nível de conhecimento e competências. Vale lembrar que o professor deve propiciar a auto-estima e confiança no aluno, para fim de torná-lo cada vez mais autônomo. Promover uma interação mais afetiva e comunicativa com os colegas de classe. Contribuir para ampliar a visão de mundo da criança, considerando a globalização do seu conhecimento e buscando recursos para que o aprendizado que realiza se torne mais significativo e integrado. Avaliar constantemente o desempenho do aluno nas atividades para conseguir um ajuste ótimo de intervenção. Desenvolver uma prática pedagógica flexível e adaptada às características e conhecimento dos alunos, ajudar a criança a corrigir os seus “erros”, buscando os motivos dos mesmos e intervindo na sua superação. É preciso ter capacidade para observar, escutar e analisar as respostas, erros e atitudes dos alunos. 23 CAPÍTULO II 2. EDUCAÇÃO FÍSICA COMO PARTE DA EDUCAÇÃO INFANTIL Aproximadamente até o final da década de 1980, a produção teórica da EF escolar esteve voltada, principalmente, para o Ensino Fundamental. Quando se tratava da primeira infância, a preocupação significativa era o desenvolvimento motor. Portanto, pode-se dizer que a produção da área em relação à Educação Infantil, em perspectivas críticas, é recente. A produção teórica da EF para a faixa etária de zero a seis anos (agora 0 a 5, com a implementação do Ensino Fundamental de 9 anos) é marcada por poucas pesquisas e estudos. Diante deste contexto, surge a necessidade de construir uma proposta curricular para EF na Educação Infantil, o que é fortalecido, como afirma Soares (2001/2002), pelo fato de a LDB estabelecer a disciplina como componente curricular da Educação Básica que, hoje, engloba a Educação Infantil. A falta de clareza em relação à EF nesse segmento educacional faz com que, em muitas realidades, as atividades de movimento sejam reduzidas à diversão, à utilização da linguagem corporal como "muleta" para aprendizagem de conteúdos de outras áreas de conhecimento, à concepção de que o movimento deve estar presente para que as crianças "liberem as energias" e se aquietem nos momentos considerados importantes. Uma proposição que define, claramente, objetivos pedagógicos e conteúdos para a EF na Educação de 0 a 6 anos advém da experiência da Secretaria Municipal de Educação da cidade de Olinda-PE, expressa em texto de Silva (2005). Nessa proposta metodológica afirma-se, com base na teoria sócio-histórica, que o objetivo geral desta disciplina na Educação Infantil é organizar a reflexão pedagógica do educando sobre os temas da cultura corporal, possibilitando o conhecimento das possibilidades de ação corporal, assim como o efeito da ação corporal sobre objetos naturais e sociais, responsabilizar-se pelas próprias ações e compreender a função social das regras. Os temas de ensino são a dança, a ginástica, a capoeira, jogos e brincadeiras. Nesta proposta, o autor busca caracterizar uma EF cujo foco seja a criança, entendida como sujeito inserido no mundo sócio-histórico e cultural humano. No entanto, com o intuito de evitar algumas generalizações, é importante lembrar que, como assegura Ayoub (2001), a linguagem corporal não é uma 24 "propriedade" da Educação Física, apesar de ser sua especificidade. A linguagem corporal deve ser utilizada em outros momentos educativos, principalmente para evitar que as crianças fiquem grudadas às carteiras escolares como se estivessem sendo moldadas. Para Soares e colaboradores (1992), através da expressão corporal como linguagem será mediado o processo de sociabilização das crianças na busca da apreensão autônoma e crítica da realidade, através do conhecimento sistematizado, ampliado e aprofundado no âmbito da cultura corporal. Outro ponto bastante relevante neste contexto seria a questão da especificidade do professor de EF na Educação Infantil, sendo necessário, como salienta Sayão (1999), romper com as barreiras que determinam o que é específico de cada área de conhecimento e abrir espaço para uma atuação integrada dos diferentes profissionais que lidam com as crianças pequenas que, de forma isolada, não conseguem construir um trabalho voltado para as reais necessidades do mundo infantil. O problema não está na atuação dos diversos profissionais na Educação Infantil, mas sim em concepções de trabalho pedagógico que geralmente fragmentam as funções de uns e outros, isolando cada um em seu campo. Como afirma Ayoub (2001), é necessário não mais se pensar em professoras(es) "generalistas" e "especialistas", mas em professoras(es) de Educação Infantil que irão compartilhar seus diferentes saberes, enquanto docentes, para a criação de projetos educativos com as crianças, valorizando suas experiências e interesses. Desta forma, a atuação de professores de Educação Física na Educação Infantil só poderá ser considerada um avanço se esses profissionais estiverem participando efetivamente do projeto político-pedagógico da escola. Enquanto ocorrer a fragmentação dos saberes e sua hierarquização, "o fazer pedagógico da Educação Física se reduzirá ao lugar de atividade eminentemente prática, destituída de saberes e possibilidades de reflexão" (DEBORTOLI; LINHALES; VAGO, 2001/2002, p. 98). Assim, percebemos que pensar a EF em uma escola de Educação Infantil não é uma tarefa fácil, mas é possível. 25 2.1. O professor de Educação Física e o seu preparo para atuação na educação infantil O currículo é construção social, e é por esse motivo que determinados conhecimentos fazem parte ou não dele. A sua constituição tenta responder à questão de que modelo de homem se pretende formar para atender a um determinado projeto histórico. É nesse contexto de disputas que se forja o currículo para formar o professor de EF. O currículo, porém, apesar de ter uma importância bastante relevante, não é o único a versar sobre os conhecimentos necessários à prática educativa. O fazer docente, conforme é apontado por Brzezinski (2002) envolve o ato de interrogar o real, pensar a experiência, compreendê-la para buscar sua gênese e sentido. Com base nessa colocação, a autora define as características/saberes essenciais necessária ao ato de ensinar, que são: conhecimentos específicos que o diferenciam de outros grupos profissionais, o que significa ter a docência como base de formação. Além de exercer a profissão em tempo integral, constituir associações de classe,ter um código de ética e um conjunto de conhecimentos e técnicas de instrumentalização docente. Como qualquer outra licenciatura ou formação universitária, a formação em EF possui seus dilemas, principalmente curriculares. Como afirmam Taffarel e colaboradores (2006), as principais dificuldades são a inconsistente base teórica; dicotomia teoria-prática; currículos extensivos e desportivizados; falta de articulação entre pesquisa-extensão; teorias de conhecimento voltadas para atender o mercado. Sendo assim, Andrade Filho (2001) salienta que a história da formação de professores de EF no Brasil pode ser organizada em quatro fases: a primeira, marcada pela criação da ENEFD (Escola Nacional de Educação Física e Desportos), atual UFRJ, que funcionou com um currículo padrão, responsável pela formação dos primeiros profissionais civis em substituição ao modelo médico-militar; a segunda surgiu com a implantação do Currículo Mínimo em 1969, marcado pelo conflito entre uma visão esportivizantee outra pedagógico-educacional; a terceira referiu-se ao momento em que vigorou o currículo por Áreas de Conhecimento; e a quarta e atual fase do estabelecimento de Cursos de Graduação, de acordo com as novas Diretrizes Curriculares, determinadas pelo CNE/MEC sob pressão do mercado capitalista. 26 Tais Diretrizes são consideradas por Taffarel et al.(2006a) como um retrocesso histórico que desvaloriza os professores de EF, dividindo-os entre licenciados e graduados, além de se basear numa formação para o mercado de trabalho, e não para o mundo do trabalho. Nesse sentido, caminha-se na contramão de um projeto histórico contra-hegemônico e emancipador, colocando o professor, mais uma vez, como mero executor de tarefas, e não como intelectual capaz de refletir sobre sua própria prática. Além disso, Taffarel e Santos Júnior (2005) destacam que o documento tem o desenvolvimento de competências como ponto central. Para estes autores e para Taffarel et al. (2006a), a formação de professores baseada nesta lógica assume papel estratégico para o capital, atendendo e reproduzindo as suas necessidades. Em contraponto, destaca-se a importância de uma perspectiva baseada na formação omnilateral, orientando a produção com base nas necessidades vitais humanas. Nota-se, até aqui, que existe uma indefinição no processo de formação do professor de EF, tendo como problemas centrais a questão da legitimidade e do objeto de estudo. Este contexto torna ainda mais complexo o debate sobre os subsídios na formação inicial em EF para o trabalho na Educação Infantil, pois concordamos com Barbosa (2001/2002), quando afirma que para atuar em tal segmento da Educação Básica, os professores, inclusive os de EF, precisam abandonar a ideia de que na Educação Infantil a criança deve ser o centro das propostas educativas, pois acabam por considerar apenas suas necessidades de desenvolvimento, afinal, os projetos de educação se atrelam a projetos políticos mais globais, e não apenas a um projeto educacional específico. Além disso, na prática docente na Educação Infantil é necessário observar que as aprendizagens são fundamentais e necessárias para o desenvolvimento infantil; desligar-se das perspectivas que, historicamente, provocaram um desligamento entre o aspecto da formação e profissionalização e o da atuação no campo, determinando um agir sem por quê; deixar de ressaltar apenas o aspecto prático no processo de educação da criança, evitando a defesa do brincar como algo imanente da infância e como mera atividade sem história, retirando-lhe todo o caráter dialógico; pensar na sua carreira, já que historicamente não se investiu na profissionalização dos educadores infantis; cuidar para não aceitar o conhecimento em "fatias", dividindo especialidades (linguagem, movimento, emoções, raciocínio...) 27 e evitando, assim, disputas hegemônicas por algo que só pode ser assumido na totalidade; e, por fim, diante de uma proposta didático-pedagógica que se oriente em uma perspectiva dialética sobre aprendizagem e desenvolvimento infantil, os professores não podem tomar como "complementares" os aspectos gestuais, corporais, estéticos e emocionais das crianças. 2.2. O Desenvolvimento Motor Utilizando-se da fisiologia humana para entender como se procede a origem do movimento muscular, detecta-se a contração muscular, ato primordial para que de fato ocorra o movimento e este por sua vez depende dos comandos que chegam até eles através do cérebro. Segundo Pires e Mota (2007 p.06) “o SNC é responsável pela maioria das funções de controle do organismo.” ele é constituído por mais de 20 bilhões de neurônios que recebem milhares de unidades de informações (vias aferentes) dos diferentes órgãos sensoriais. O SNC, recebe esses estímulos (informações), organiza respostas que são enviadas à região periférica por duas vias eferentes, essas respostas provocam mudanças de atividades nos variados sistemas do organismo, permitindo que estes se ajustem para adaptar-se às condições de momento . (Marcondes apud Pires e Mota 2006) O SNC tem 3 funções básicas: sensorial, integradora e motora. A função sensorial capta informações dos 5 sentidos que chegam ao cérebro passando as dados sobre o que se passa com o nosso corpo. A função integradora permite codificar todas as informações recebidas, retendo-as em um banco de memória que as associa com as novas informações que estão chegando. A função motora refere- se a gerência dos variados grupos musculares por meio da contração muscular que controla e realiza os movimentos corporais. O movimento, segundo Gallahue e Ozmun (2003) podem ser classificados em 3 categorias quanto as suas habilidades: movimentos estabilizadores, movimentos locomotores, movimentos manipulativos ou a combinação desses 3 movimentos. O movimento estabilizador é conceituado em 2 sentidos, um mais amplo onde o movimento é visto como qualquer ato motor no qual algum grau de equilíbrio é necessário e no sentido mais restrito é considerado aquele não-locomotor e não- 28 manipulativo. Os movimentos locomotores “envolvem mudanças na localização do corpo relativamente a um ponto fixo na superfície” (Gallahue e Ozmun 2003, p. 99) Dividindo-se em 2 partes os movimentos manipulativos, são classificados em manipulativos rudimentares por envolverem aplicação de força e grandes grupos musculares e movimentos manipulativos refinados que abrangem o uso intrincado de músculos da mão e do pulso. Como base para a análise do desenvolvimento motor Gallaheu e Ozmun (2003) afirmam que o movimento serve como o principal alicerce para a ampliação dos recursos motores, por isso, a maneira de estudar a evolução desse processo é pelo exame de progressão sequencial de habilidades motoras que foram dividas pelos autores em 4 fases ao longo da vida. 2.2.1. Fase Motora Reflexiva São movimentos involuntários do corpo. Reflexos controlados subcorticalmente em resposta aos diversos estímulos, formando a base para as fazes do desenvolvimento motor. É dividida em 2 estágios, do 4º mês de vida fetal até o 4º mês da primeira infância é de nominado de estágio de codificação, pois os reflexos servem como captadores de informações, as quais se reúnem no córtex em desenvolvimento. Do 4º mês até o 12º mês a crianças encontra-se no estágio de decodificação. Para Gallahue e Ozmun (2003 p. 171) “à medida que os centros cerebrais superiores obtêm controle maior do aparato sensório-motor o bebê é capaz de processar informações mais especificamente” Os autores também afirmam que os movimentos involuntários e o pleno desenvolvimento cortical nos primeiro meses de vida pós-natal exercem importante papel para auxiliar a criança a aprender mais sobre seu corpo e o mundo que o cerca. Este processo se dá com a construção de novas descobertas, resultado de inúmeras experiências que os diversos tipos de reflexos proporcionam em conjunto com o ambiente que o bebê está inserido. (GALLAHUE E OZMUN, 2003). 29 Taxa aproximada de aparição e inibição dos reflexos Reflexos Mês 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Primitivos Moro X X X X X X X Susto X X X Sucção X X X X Posturais Engatinhar X X X X Caminhar X X X X X Direção ótica X X X X Fonte: Adaptado de Gallahue e Ozmun (2003) 2.2.2. Fase de Movimentos Rudimentares São movimentos voluntários, mas controlados de forma deficiente, portanto rudimentares. Delimitados de forma maturacional, a fase de inibição de reflexos, onde os reflexossão gradualmente bloqueados e o controle motor é caracterizado por uma sequência previsível de aparecimento. À medida que esses reflexos começam a desaparecer, o sistema nervoso passa a ter um maior controle sobre os movimentos rudimentares, resultado da integração dos sistemas sensorial e motor, isso ocorre entre o primeiro e o segundo ano de vida, denominado de estágio de pré-controle. De acordo com Gallahue e Ozmun (2003) é na fase dos movimentos rudimentares e mais precisamento no estágio de pré-controle que “o bebê começa a obter maior controle e precisão no movimento.” O quadro a seguir (figura 5) apresenta as idades aproximadas e algumas habilidades adquiridas na fase dos movimentos reflexos: Surgimento de Habilidades Rudimentares de Estabilidade Tarefas de estabilidade Habilidades selecionadas Idade aproximada de início Controle da cabeça e do pescoço Vira para um lado Vira para ambos os lados Segura-se com apoio Nascimento 1ª semana 2ª semana Controle do tronco Levanta cabeça e peito Tenta virar para ficar em decúbito ventral 2º mês 3º mês 30 Fonte: Adaptado de Gallahue e Ozmun (2003) 2.2.3. Fase de Movimentos Fundamentais Após ter dominado as habilidades motoras rudimentares a criança agora, é capazes de explorar o potencial motor de seu corpo ganhando um controle crescente sobre sua musculatura à medida que se movimenta através do espaço. É a fase que criança pode explorar e conhecer o potencial motor de seu corpo. Segundo Gallahue e Ozmun (2003 p. 258) “o domínio das habilidades motoras fundamentais é básico para o desenvolvimento de crianças. As experiências motoras, em geral, fornecem múltiplas informações sobre a percepção que as crianças têm de si mesmas e do mundo que as cerca.” Essa afirmação comprova também que o ambiente é outro fator fundamental para o desenvolvimento do indivíduo. A fase de movimento fundamental apresenta três estágios sobrepostos, o estágio inicial começa aproximadamente por volta dos 2 anos de idade e tem como característica a execução de movimentos com uma coordenação deficiente. O estágio elementar inicia-se com 3 ou 4 anos de idade apresentando uma evolução, em relação ao estágio anterior, na coordenação rítmica do movimento. O estágio maduro desenvolve-se quando a criança atinge o 5° ano de vida e seus movimentos mecânicos passam a ser mais eficientes com exceção das habilidades manipulativas que exigem acompanhamento e intercepção de objetos Rola com sucesso para ficar em decúbito ventral 6º mês Sentar Senta com apoio Fica em pé com apoio Senta sozinho 3º mês 6º mês 8º mês Ficar de pé Apóia-se segurando com as mãos Puxa-se para ficar em pé com apoio Fica em pé sozinho 10 º mês 11º mês 12º mês 31 (rebater, apanhar, derrubar) desenvolvem-se mais tarde, pois exigem uma integração maior entre a visão e a motricidade. 2.2.4. Fase de Movimentos Específicos A criança, depois de ter percorrido pelos três estágios da fase de movimento fundamental passa a executar movimentos combinados e de maneira mais refinada para formar habilidades motoras mais complexas. Gallahue e Ozmun (2003) afirmam que as estruturas neurológicas, anatômicas, fisiológicas e as habilidades perceptivo-visuais estão bastante desenvolvidas para funcionar no estágio maduro de boa parte das habilidades motoras básicas. Características que permitem que crianças a partir dos 7 anos desenvolvam aptidões mais específicas de movimentos para utilização na vida diária, na prática recreativa e com objetivos esportivos. A fase de movimentos específicos, assim como a fase anterior, também se divide em 3 estágios. O estágio transitório inicia-se aproximadamente aos 7 ou 8 anos de idade com o aumento do interesse em esportes e comparando os rendimentos nas atividades motoras. Este estágio apresenta as mesmas características da fase anterior (movimentos fundamentais), mas proporcionando uma maior precisão na execução dos movimentos. O estágio de aplicação desenvolve-se por volta dos 11 e vai até aproximadamente os 13 anos, o individuo torna-se mais consciente de sues recurso motores e de suas limitações e baseado nessa experiência acaba escolhendo exercícios mais adequados aos seus padrões. Essas escolhas fundamentam-se, em larga escala, no modo pelo qual o indivíduo percebe até que ponto os fatores essenciais à tarefa, ao sujeito e ao ambiente acrescentam ou reduzem a probabilidade de ela obter alegria e sucesso nas atividades. O estágio de utilização permanente começa por volta dos 14 anos de idade e é o cume no processo de desenvolvimento motor, mas deve ser respeitado como sequência de uma ação estável. Tem como características as variedades de combinações motoras, um amplo repertório dos movimentos adquiridos ao longo da vida e a participação de algumas atividades físicas de forma regular. O desenvolvimento de habilidades especializadas pode e deve exercer papel 32 fundamental em nossas vidas, mas é injusto estabelecer que crianças se especializem em uma ou duas áreas de modo incoerente para o seu desenvolvimento. CAPÍTULO III 3. ASPECTOS HISTÓRICOS DA PSICOMOTRICIDADE Segundo Barros (2014.p.12): “A história da psicomotricidade está intimamente ligada à evolução da espécie humana, tendo sua origem na resposta adaptativa para a sobrevivência e evolução da espécie”. Ou seja, conforme o passar dos anos, para que se pudesse sobreviver, a humanidade foi se adaptando conforme seu estilo de vida e ambiente em que viviam, e com isso foram consequentemente evoluindo, juntamente com sua capacidade psicomotora que colabora de forma direta para a progressão da espécie. Buscando uma compreensão filogenética da psicomotricidade, é possível perceber que a motricidade, conceituada como uma característica fundamental de todos os seres vivos, que permite a adaptação ao meio natural, é a expressão de três cérebros unificados, conhecido como cérebro triúnico, composto pelo paleoencéfalo, mesencéfalo e o telencéfalo, este último, responsável por uma motricidade intencional, própria do ser humano, ou seja, psicomotora Fonseca, 2005 apud Barros (2014.p.12). Logo se o ser humano não fosse dotado de psicomotricidade, não conseguiria ter sobrevivido ate os dias de hoje, pois desta forma não teria se adaptado as diferenças mudanças dos aspectos climáticos, físicos e até psíquicos, o que garantiram sua existência até aqui. No entanto, para que se possa compreender esse fenômeno, se faz necessário o entendimento de outras concepções como a seguir: Outras teorias foram formuladas e diferentes concepções sobre o corpo e movimento surgiram, como a apresentada por Descartes no século XVII na qual o corpo era compreendido apenas como um depósito da alma sendo movido por esta. Durante o século XIX com o avanço da neurofisiologia, são realizados estudos voltados para os distúrbios da atividade gestual, 33 buscando todas as respostas em alguma área do sistema nervoso, ideia que fora refutada, pois a partir de outros estudos se percebeu que nem todos os danos motores eram correspondentes a alguma parte anatômica (LEVIN, 2009 apud BARROS, 2014.p.12). O primeiro tratamento de um portador de deficiência mental, mais precisamente com impulsividade mórbida, se deu através de “ginástica médica”, naquela época se realizavam determinadas atividades físicas praticadas até os dias atuais. Dentre tais atividades se trabalhava de forma intensa a coordenação motora entre outrosaspectos psicomotores. (FONSECA, 2008). Através desses tipos de prática procuravam-se um domínio da atividade que consequentemente fosse de encontro com um equilíbrio da razão. Outro grande estudioso que corroborou para o avanço da psicomotricidade foi Charcot que elaborou estudos sobre hipnose, apresentando através dos pacientes atendidos, que o desgravo dos sintomas era alcançado mediante palavras e atos motores (FONSECA, 2008). No entanto, foi com Dupré em 1909, que a psicomotricidade ganhou destaque, pois este provou que a debilidade motora poderia ocorrer sem ter uma correspondência direta com questões neurológicas, e que também não havia uma relação entre debilidade motora e debilidade mental. Alguns anos depois, em 1925, as ideias de Wallon começam a se difundir, e este, diferentemente de Dupré, não faz tantas referências da psicomotricidade com a inteligência, mas sim com questões afetivas, fundamentais para o desenvolvimento da personalidade humana (LEVIN, 2009 apud BARROS 2014.p.14). Desta forma, percebemos que Wallon (2007) defende que a psicomotricidade estaria mais ligada com a afetividade do que com a inteligência, dando início a uma nova perspectiva para a compreensão do desenvolvimento psicomotor. No entendimento de Wallon (2007) a motricidade junto a ação contribuirão para a formação do psiquismo e da percepção, entretanto, para um bom desenvolvimento dessa motricidade, é importante que a criança sinta certas cargas afetivas, oriundos de seus responsáveis. Desta maneira,pode se dizer que o movimento é uma relação e interação afetiva com o mundo exterior, pois é a expressão material, concreta e corporal de um confronto subjetivo-afetivo que coloca a criança no contexto da sociogênese (WALLON, 2007). Em relação à prática psicomotora, que iniciou-se com Guilmain em 1935, avaliou-se que é possível estabelecer diagnósticos, terapêuticas e prognósticos. Contudo estudos aprofundados relacionados à psicomotricidade, com Ajuriaguerra 34 na década de 1960, a terapêutica psicomotora deixa de ser apenas motora, englobando todo o corpo, com ênfase em questões afetivas e emocionais (Levin, 2009). De acordo com Barreto e Falcão (2009), no Brasil a psicomotricidade tem seu registro documentais nos anos de 1950, nos quais há trabalhos desenvolvidos com crianças consideradas distintas que apresentavam distúrbios psiconeurológicos. Em 1951, foi introduzida a disciplina de psicomotricidade na Faculdade de Logopedia da Universidade Federal do Rio de janeiro. Mas, foi em 1968 que a psicomotricidade passou a ser disseminado no Brasil, sendo aplicada nas escolas especializadas como um recurso pedagógico. Porém foi em 1984 no Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação que abriu o primeiro curso de formação em psicomotricista, em nível de graduação, atualmente aprovado pelo MEC. Logo, a partir das várias influências que a psicomotricidade recebeu ao longo da história, Fonseca (2008, p. 29) diz que: Em psicomotricidade, o corpo não é tido como instrumento automatico que é preciso instruir, dominar, treinar; pelo contrário, sua abordagem centra-se na importância da qualidade relacional e na mediatização, visando à fluidez eutônica, à segurança gravitacional, à estruturação somatognósica e à organização práxica expressiva do indivíduo. Privilegia o ser como um todo, desta forma está mais próxima da neurologia, da psicologia, da psiquiatria, entre outras. No que se refere ao seu uso no âmbito escolar, foi com Le Boulch (1966, apud BARRETO & FALCÃO, 2009) que a psicomotricidade se voltou para a educação infantil, com o objetivo de sensibilizar os professores, sobre os benefícios de uma educação psicomotora capaz de proporcionar um reajuste à criança inadaptada, dando-lhe condições de vivenciar de maneira plena o período escolar. Ou seja, os primeiros trabalhos desenvolvidos nas escolas, eram direcionados para as crianças que apresentavam alguma dificuldade psicomotora já instalada. Mas a intervenção psicomotora atualmente possui um aspecto preventivo, pois, auxilia na redução de atrasos psicomotores que podem atuar diretamente sobre questões ligadas as dificuldades de aprendizagem, má adaptação social e baixa autoestima (BARRETO et. al., 2012; FONSECA, 2005, apud BARROS, 2014 p. 14). 3.1. Educação do movimento No momento em que a psicomotricidade educa o movimento, ela ao mesmo tempo coloca em jogo as funções da inteligência. A partir dessa posição, observa-se a relação profunda das funções motoras cognitivas e que, também pela afetividade, 35 encaminha o movimento. (MOLINARI; SENS. pg.87). No mesmo sentido Fonseca ensina que: O movimento humano é construído em função de um objetivo. A partir de uma intenção como expressividade íntima, o movimento transforma-se em comportamento significante”. O movimento humano é a parte mais ampla e significativa do comportamento do ser humano. É obtido através de três fatores básicos: os músculos, a emoção e os nervos, formados por um sistema de sinalizações que lhes permitem atuar de forma coordenada. (FONSECA,2005). Logo, a unidade básica do movimento, que abrange a capacidade de equilíbrio e assegura as posições estáticas, são as estruturas psicomotoras. As estruturas psicomotoras definidas como básicas são: locomoção, manipulação e tônus corporal, que interagem com a organização espaço-temporal, as coordenações finas e amplas, coordenação óculo-segmentar, o equilíbrio, a lateralidade, o ritmo e o relaxamento. (MOLINARI; SENS. pg.87). Ainda segundo o autor a unidade básica é traduzida da seguinte maneira: Elas são traduzidas pelos esquemas posturais e de movimentos, como: andar, correr, saltar, lançar, rolar, rastejar, engatinhar, trepar e outras consideradas superiores, como estender, elevar, abaixar, flexionar, rolar, oscilar, suspender, inclinar, e outros movimentos que se relacionam com os movimentos da cabeça, pescoço, mãos e pés. Esses movimentos são conhecidos na educação física como movimentos naturais e espontâneos da criança. (MOLINARI; SENS. pg.87) Nota-se que esses movimentes vão dos mais simples como andar até os mais complexos como saltar e lançar etc. Logo o movimento pode der visto como qualquer deslocamento corporal que contrai os músculos. Para Molinari e Sens (2003) o movimento é o deslocamento de qualquer objeto e na psicomotricidade o importante não é o movimento do corpo como o de qualquer outro objeto, mas a ação corporal em si, a unidade biopsicomotora em ação. Ademais, como todo o ato humano pode partir da própria vontade do agente ou não, “os involuntários são atos reflexos, comandados pela substância cinzenta da medula, antes de os impulsos nervosos chegarem ao cérebro. Os movimentos involuntários são os elementares inatos e adquiridos”. (MOLINARI; SENS. pg.88). Ainda segundo os autores, pode-se afirmar que: 36 Os inatos são aqueles com os quais nascemos e são representados pelos reflexos, que são respostas caracterizadas pela invariabilidade qualitativa de sua produção e execução. Movimentos e expressões involuntárias, muitas vezes, estão presentes em determinadas ações sem que o executante os perceba. Esses movimentos são desencadeados e manifestados pelo corpo no momento em que realiza determinados atos voluntários. Os automatismos adquiridos são os reflexos condicionados, que ocorrem devido à aprendizagem e que formam os hábitos, os quais, quando bons, poupam tempo e esforço, porém, se exagerados, eliminam a criatividade. Os hábitos podem ser passivos (adaptação biológica ao seu ecossistema) ou ativos (comer, andar, tocar instrumentos). Os reflexos condicionados são produzidos desde as primeirassemanas de vida. Esses reflexos condicionados geralmente começam como atividade voluntária e, depois de aprendidos, são mecanizados. Para a execução do ato voluntário exige-se um certo grau de consciência e de reflexão sobre finalidades, entretanto, a maior parte dos atos executados na vida diária é relativamente automática. Para a atividade voluntária cotidiana, faz parte uma série de reflexos automáticos e instintivos os quais, na prática, não podem ser bem diferenciados. A frequente repetição de atitudes voluntárias acaba por transformar-se em atos automáticos. (MOLINARI; SENS. pg.88). É notório que o movimento pode ser dar de diversas maneiras, podendo ser voluntários e involuntários esses últimos podendo se desdobrar em vários outros a depender do estágio de evolução do homem, que vai desde aqueles atos reflexos que o ser humano adquire com o nascimento até aqueles automatismos que é adquirido com o hábito do ser no ambiente em que vive, chamados atos voluntários automatizados ou automáticos. 3.2. Conceitos de psicomotricidade Consoante ao entendimento de Barreto (2000) a etimologia da palavra psicomotricidade tem origem do grega “psyché”, que significa a alma, e no mesmo sentido “moto” de originada do latim possui o significado de mover-se constantemente ou agitar de maneira forte. Ainda segundo o autor: “A psicomotricidade está diretamente interligada aos atos voluntários, que acontece justamente por conta dos movimentos dos músculos estriados esqueléticos, e ainda levando-se em conta os princípios afetivos, motrizes, cognitivos e sociais”. “A psicomotricidade é o relacionar-se através da ação, como um meio de tomada de consciência, de unificação do Ser, que é corpo-mente-espírito-natureza- sociedade. É a solidariedade original e profunda entre o pensamento e a ação” (NEGRINE, 1995) Logo, a atividade cognitiva esta diretamente ligada a percepção que o ser 37 humano tem do mundo, do ambiente em que vive, e até mesmo do que esta sentindo, logo entende –se que o conjunto de todas essas habilidades resultam no comportamento psicomotor. (BARRETO, 2000, p.19). Segundo Fonseca (2005), “a psicomotricidade é a junção entre o movimento e à atividade mental, pois dessa forma a motricidade encontra-se cada vez mais consciencializada em um ponto especifico da consciência”. Algumas funções básicas se tornam essências para o bom desenvolvimento da psicomotricidade tais como imagem corporal, coordenação geral entre outros. 3.3. Esquema corporal Conforme o entendimento de Alves (2008) o desenvolvimento do esquema corporal acontece nos doze primeiros anos, através da relação sujeito-ambiente, passando por três etapas: corpo vivido (até três anos de idade); corpo percebido ou descoberto (três a sete anos); corpo representado (7 a 12 anos). Segundo o autor: Na primeira etapa acontece o período da inteligência sensório-motora de Piaget, onde a criança se interessa muito por objetos, imita tudo o que vê, no fim ela começa a se perceber que é um ser diferente no espaço em que vive. Na próxima etapa ela começa a usar o corpo como ponto de referência para se situar e situar os objetos, da mesma forma como passa a ter noção de tempo e de espaço. Já nessa ultima etapa, que começa aos sete anos, é onde ocorre a estruturação do esquema corporal, em que a criança tem total conhecimento e controle de todo o seu corpo (ALVES, 2008; p.1). Mas, para que se alcance essa estruturação definitiva é necessário que a criança receba os estímulos adequados e necessários, para que haja uma transformação no seu interior, como por exemplo: atenção dos pais, o contato com objetos, as atividades escolares, todos estes estímulos contribuem para o desenvolvimento do esquema corporal, fazendo com que a criança perceba que possui um Eu corporal (ALVES, 2008). Brincadeiras da infância são de suma importância para o desenvolvimento de tal esquema. Essas brincadeiras estimulam a autonomia desta sobre os seus movimentos, por atenderem comandos como “pule”, “corra” e “pare”, por exemplo, aperfeiçoando assim sua coordenação motora, e seus movimentos (BARRETO et. al. 2012). De acordo com Vayer (1984, apud ALVES, 2008), sensações como dor, alívio 38 e tensão, são imprescindíveis para que a criança perceba e sinta seu corpo. Segundo ele tão importantes quanto os estímulos fisiológicos, são também os valores que são impostos sobre o corpo ela sociedade, estes influenciam de maneira significativa na forma como a criança se relacionará com o seu corpo. Portanto, o esquema corporal pode ser compreendido, segundo Barreto: É uma organização psicomotriz global, compreendendo todos os mecanismos e processos dos níveis motores, tônicos, perceptivos sensoriais e expressivos (verbais e extra verbais), processos nos quais e pelos quais o aspecto afetivo está constantemente investido. É o resultado da experiência do corpo, da qual normalmente o indivíduo toma pouca consciência, é a forma de relacionar-se com o meio por suas próprias possibilidades. É o elemento básico, indispensável na criança para construção de sua personalidade. É a representação mais ou menos global, mais ou menos específica e diferenciada que ela apresenta de seu próprio corpo. (BARRETO, 2000.p.54). Mas, durante o processo de desenvolvimento do esquema motor, existem outras funções que devem ser trabalhadas ao longo da infância, como a imagem corporal que será explicada a seguir (BARRETO 2000 Apud BARROS p.17). Logo Barreto ao expor como funciona esse esquema, ele mostra a necessidade da experiência da criança com o meio em que vive para que tenha uma percepção plena e completa sobre o seu corpo. 3.4. Imagem corporal A imagem corporal começa geralmente com dois anos de idade, no momento em que a criança se torna capaz de se identificar no ambiente. Sua imagem corporal deve ser entendida como uma diretriz paralela que influenciara nos sentimentos que o individuo terá em relação ao seu corpo, se concretizando ao longo da infância na díade criança-ambiente. A sua imagem funciona como o centro da sua percepção, permitindo seu desenvolvimento na lateralidade. Para Alves (2008, p.22) “a absoluta imagem do corpo é função da organização das emoções, o que naturalmente implica e exige a relação com o outro, isto é, implica um determinado tempo e momento”. 3.5. Coordenação motora-ampla 39 No que desrespeito a coordenação motora-ampla está a junção da coordenação dos braços, pernas e a coordenação dos grandes músculos. Que nos primeiros anos executam movimentos simetricamente, para serem desenvolvidos separadamente anos mais tarde (ALVES, 2008). Neste sentido: Mas, para que ocorra uma coordenação global harmônica, é necessário que exista um equilíbrio geral entre os membros do corpo. Os órgãos responsáveis por este equilíbrio são o cerebelo e o labirinto, quando afetados por alguma lesão neurológica, esta coordenação se encontra comprometida (LE BOULCH 1982 apud BARROS 2014 p. 18). E é exatamente nessa faixa etária de quatro anos que o individuo começa a desenvolver essa coordenação, na pré escola. 3.6. Coordenação geral Para Oliveira (2012), a coordenação global remete às atividades desenvolvidas pelos grandes músculos, sendo engrenada ainda nos primeiros anos de vida. Para o êxito da mesma, é importante que se tenha um bom equilíbrio, que é adquirido por meio da movimentação e experimentação que resultam na tomada do eixo corporal. Desta, há uma relação causal, a coordenação resulta de um bom equilíbrio. Uma boa coordenação geral dos movimentos se caracteriza por serexecutada de maneira precisa, ocorrendo uma harmonia perfeita de jogos musculares em repouso e movimento, chamados de coordenação estática (realizado em repouso) e coordenação dinâmica (realizado em movimento). Portanto é necessário que seja oferecida à criança oportunidades de movimentos coordenados, para que ocorra um bom desenvolvimento da coordenação motora geral. De acordo com Alves (2008), existem cinco tipos de coordenação motora (coordenação motora-fina, coordenação motora- ampla, coordenação visomotora, coordenação audiomotora, coordenação facial. (Alves 2008 apud Barros 2014 p.18) Logo Alves salientava que para que haja uma boa coordenação é necessário uma harmonia entre o equilíbrio dos movimentos, tais quais quando melhores executados, melhor é a performance da coordenação, na qual falaremos um pouquinho sobre cada tipo citada acima. 3.7. Coordenação audiomotora 40 Nas palavras de Alves (2008, apud Barros 2014 p. 20)” este tipo de coordenação pode ser compreendida como a capacidade do ser humano em transformar em movimentos um comando sensibilizado pelo aparelho auditivo.” Esta função pode se desenvolver-se e até mesmo aperfeiçoar-se por meio de danças e músicas, ou atividades que as envolvam; pelo fato de provocarem movimentos expressivos, está se desenvolve em média a partir dos quatro anos de idade. 3.8. Coordenação visomotora Como o próprio nome já diz essa refere-se a conciliação da visão com o movimento, pois a mesma deve ser capaz de conduzir e acompanhar o movimento em relação a Alguma coisa, ou seja, acompanhar por exemplo o movimento do seu pé a chutar uma bola, ou sua mão ao pegar um objeto, como também o passar de um carro na rua, simultaneamente, geralmente este surge por volta dos três anos. Havendo falha nessa comunicação entre visão e movimento a mesma poderá contar com dificuldades na escola (ALVES, 2008). Nas palavras de Oliveira (2012), a coordenação visomotora, que também denomina-se oculomanual, é de suma importância para a aquisição da escrita, instrumento indispensável para a adoção de novos conhecimentos escolares, desta forma, a deficiência no desenvolvimento desta função poderá trazer dificuldades para criança em nível de leitura e escrita, incidindo de forma direta no desempenho escolar. 3.9. Coordenação motora-fina Como mencionado, esta função é um aspecto particular da coordenação global, que se refere a habilidade de destreza manual, onde um mesmo individuo desenvolve varias maneiras de pegar em um objeto, como por exemplo, o movimento de pinça. Oliveira (2012), diz que “a mão é um dos membros mais úteis para a descoberta de tudo”. Sendo assim, onde esta coordenação pode ser tida como segmentar, na qual o para que as atividades sejam executadas seus movimentos devem ser precisos (ALVES, 2008; OLIVEIRA, 2012). Entretanto em media é com quatro anos que a criança inicia os movimentos de pinça intencionais, como por exemplo o desenhar, que se realiza devido a 41 dinâmica de simbolização da criança. 3.10. Coordenação facial No entendimento de Rill (1984 apud ALVES, 2008) é de extrema importância, pelo fato de estar presente mesmo antes que alguma linguagem esteja estabelecida, e é através dela que acontecem as primeiras comunicações, com olhares e gestos. Os movimentos de sucção, mastigação e deglutição, são pré-requisitos para que a linguagem verbal venha a ser instaurada. Apesar desses movimentos e atividades serem corriqueiros, segundo Rill são indispensáveis pois é através daí que tudo começa. 3.11. Orientação temporal Esta função não se faz só importante como necessária, porque através do ritmo a criança aprende a ter domínio sobre a escrita, tendo noção de ordenação e sucessão das letras; na hora de falar essa noção permitira que as historias serem contadas seguindo uma ordem cronológica. Através dessa noção temporal é que a criança aprenderá a ter noção de tempo como: hoje, amanhã, permitindo entender o que é futuro ou passado (ALVES, 2008). Entretanto, para entretanto, para essas aquisições de noções temporais e necessária a influencia e participação do ambiente, por isso segundo Alves (2008, p.75) “Desde o nascimento, os ritmos corporais devem ajustar-se às condições temporais impostas pelo ambiente, levando a uma organização de ritmicidade na sintonização’. Depois do nascimento, a repetição rítmica reforça o movimento”. Logo é possível perceber mais uma vez o meio ambiente com total influencia sob psicomotricidade humana. Existem dois tipos de tempos, o subjetivo e o objetivo, o primeiro é criado por cada sujeito, variando conforme a atividade e o momento, e o segundo é o tempo matemático, sempre idêntico. Para que o tempo objetivo seja desenvolvido na criança, por volta dos quatro anos, é necessário que a família e a escola auxiliem, e isto ocorre no momento em que são estabelecidos horários de hábitos como almoçar, lanchar, brincar, estudar, dormir, etc. O conhecimento em relação aos dias da semana, meses e estações do ano, devem ser ensinados paras crianças, pois aos poucos elas serão capazes de assimilar tais conceitos. (ALVES 2008, apud 42 BARROS 2014, p.22) Esse tempo é possível perceber no dia a dia de cada pessoa, cada criança por exemplo tem um ritmo, seu tempo para fazer determinada tarefa, esse então é o tempo subjetivo, desta forma que a escola e os pais se fazem necessários ao incluírem o tempo objetivo no seu dia a dia, pois é esse tempo que rege todo o mundo e que nos devemos nos adequar, o nosso tempo subjetivo ao objetivo, para que possamos viver de forma mais harmoniosa. Uma outra atribuição que interfere na orientação temporal é o ritmo, que pode ser dividido em motor, auditivo e visual. No que desrespeita ao primeiro (motor), é preciso que tenha desenvolvido uma boa coordenação global, porque este refere-se ao movimento feito pelo corpo em relação ao tempo em segundos; (auditivo), será desenvolvido em harmonia com um movimento, se faz presente nas danças e no canto, e o terceiro (visual) é relativo a capacidade de percepção do ambiente em movimento (ALVES, 2008). 3.12. Estruturação espacial Entende-se por estruturação espacial, a aptidão do indivíduo situar a si próprio e os outros no espaço. Assim a estruturação espacial deve passar pelas seguintes etapas: primeiro a criança deve ser apto a se diferenciar do mundo, tornando-se um individuo no espaço; segundo, é preciso que este perceba a posição dos objetos em relação a si mesmo; terceiro, ter a noção das posições dos objetos entre si, capacidades que iniciam-se a partir dos três e quatro anos de idade (ALVES, 2008; LE BOUCH, 1982). Para Fonseca (2005) nos primeiros meses, o ser depende da motricidade das outras pessoas no que se refere a deslocamento no ambiente. Contudo, ao começar a engatinhar, e vai criando independência, o ambiente e explorado de forma mais ampla, onde traz consigo inúmeras informações como longe, perto, acima e abaixo. Porém é apos os quatro primeiros anos que a criança começa a ter uma maior noção de espaço, quando começa a ter um maior autoconhecimento do seu corpo, aprendendo como por exemplo, que o nariz fica acima da boca. “Da mesma forma que as brincadeiras infantis se fazem necessárias, pois são nelas que eles aprendem a fazer filas, rodas entre outras interações com o espaço”. 43 (ALVES, 2008). 3.13. A lateralidade A lateralidade é a predominância motora de um dos lados do corpo, se tornando perceptível pelo domínio de um pé, braços, mãos e olhos, e isto ocorre devido a uma prevalência de um dos
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