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Ciencias Sociais Aula Tema 6

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Ciências Sociais 
Tema 6: Tecnologia e Sociedade
Autor: Tarcisio Torres Silva
Como citar este material:
SILVA, Tarcisio Torres. Ciências Sociais: Tecnologia e Sociedade. 
Nesta aula, estudaremos o desenvolvimento da tecnologia e a forma como ela afeta nossas vidas 
diretamente. Em linhas gerais, a tecnologia tem transformado todas as áreas da sociedade, inclusive 
a medicina, por meio da informatização de exames, tornando os resultados mais detalhistas, com 
grande melhoria nas imagens produzidas e diagnósticos mais precisos. Ela interfere nos transportes, 
por meio do controle e da otimização do tráfego, assim como na engenharia e, até mesmo, no meio 
rural, por meio da mecanização e melhoria dos processos de produção.
De todas essas perspectivas interessantes de análises, iremos escolher duas, pois pensamos que 
essas duas áreas têm grande influência sob a forma como a sociedade se organiza e se transforma. 
A primeira trata das mudanças no mundo do trabalho causadas pela tecnologia. A segunda é relativa 
ao impacto das tecnologias de comunicação no dia a dia das pessoas.
Mudanças no Mundo do Trabalho
Já no século XIX, com o advento da Revolução Industrial, Marx e Engels apontavam na Inglaterra 
as interferências negativas que as tecnologias de produção industrial causavam tanto na sociedade 
como no trabalhador individualmente. Para eles, a fragmentação do processo produtivo tinha como 
objetivo a otimização de recursos, incremento na produção e maior lucratividade, fatores benéficos 
ao detentor dos meios produtivos, o capitalista. Porém, esse processo gerava também a alienação 
do trabalhador, além de colocá-lo em uma situação de exploração e injustiça social.
Filmes como Tempos Modernos, de Charles Chaplin, mostram com ironia o cotidiano do trabalhador 
dentro da linha de produção. A cobrança por resultados é constante. O trabalhador corre contra o 
tempo a fim de cumprir o estabelecido pelo industrial. O filme mostra também o descontentamento 
dos trabalhadores em relação às condições de trabalho impostas. Exibe cenas de greve e mobilização 
nas ruas. 
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Saiba Mais!
Cena de Tempos Modernos
TEMPOS Modernos. Direção Charles Chaplin. EUA. 1936. Comédia. 83 min.
Um operário de uma linha de montagem, que testou uma “máquina revolucionária” 
para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela “monotonia frenética” do seu 
trabalho. Após um longo período em um sanatório, ele fica curado de sua crise nervosa, 
mas desempregado. Ele deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra 
uma crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador comunista, que 
liderava uma marcha de operários em protesto. Simultaneamente, uma jovem rouba 
comida para salvar suas irmãs famintas, que ainda são bem garotas. Elas não têm 
mãe e o pai está desempregado, mas o pior ainda está por vir, pois ele é morto em um 
conflito. A lei vai cuidar das órfãs, mas, enquanto as menores são levadas, a jovem 
consegue escapar. 
Fonte: <www.adorocinema.com>. Acesso em: jul. 2014.
Passado mais de um século desde que as ideias de Marx e Engels circularam pelo mundo, 
notamos que o processo produtivo industrial em muito mudou, ainda que as condições de alienação 
estejam mantidas em muitos casos. Essa mudança ocorreu, em grande medida, em função do 
desenvolvimento da tecnologia.
As máquinas ficaram mais ágeis e rápidas. Aos poucos, estão substituindo tarefas mais mecânicas 
anteriormente realizadas por humanos. O resultado disso tem sido o aumento do desemprego. É 
cada vez mais comum haver linhas de produção com um número bastante enxuto de trabalhadores. 
No Japão ou nos Estados Unidos, é possível encontrar linhas sem a participação de nenhum 
trabalhador operando máquinas. Tudo é feito por meio de robôs. Na Figura 6.1, por exemplo, vemos 
a foto de uma linha de produção da montadora americana Tesla Motors, especializada em carros 
elétricos. Note que não há mais trabalhadores operando as máquinas diretamente!
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 Figura 6.1 Linha de produção da Tesla Motors.
Fonte: por Steve Jurvetson. Disponível em: http://goo.gl/M8hmea. Acesso em: 2 jul. 2014.
Além do desemprego, outra preocupação dos países com o alto índice de automatização de suas fábricas 
é a concentração de lucros. Se não há trabalhadores, não há salários, e o dinheiro fica concentrado na 
empresa que fabrica os carros ou outros produtos. Se esse dinheiro não for colocado no mercado pela 
empresa em forma de investimentos, a renda fica concentrada, e o dinheiro deixa de circular, o que é 
prejudicial para a economia, que depende, entre outras coisas, do consumo das famílias para progredir. 
Além disso, o processo industrial passou também por outras transformações, como a reengenharia 
de processos, um modelo administrativo que visa aumentar a produtividade, otimizar a produção e 
integrar os procedimentos. Neste modelo, a produção ocupa também menos trabalhadores. 
Outra característica dessa nova fase do capitalismo, também chamada de capitalismo pós-industrial, 
é o aumento da terceirização do trabalho. Não só fábricas, mas também empresas de serviços 
optam por terceirizar seus trabalhadores para outras empresas. Com isso, tornam o processo 
de contratação e substituição mais ágil, além de não se envolverem diretamente com encargos 
trabalhistas. Tal atitude permite às empresas também focar seus esforços na atividade principal de 
seus negócios, utilizando os trabalhadores terceirizados nos cargos menos centrais.
A terceirização pode chegar a outras áreas e, até mesmo, à produção inteira de uma empresa. Hoje, 
a marca tornou-se algo tão importante que empresas preferem investir seus esforços em marketing e 
publicidade massiva e terceirizam todo o processo produtivo para outras empresas. Um exemplo é a grife 
Gucci, que encomenda com exclusividade os itens que comercializa com fornecedores. Por outro lado, o 
investimento em campanhas publicitárias da marca é altíssimo, elevando-a à categoria de grife de luxo. 
Porém, nem tudo é necessariamente negativo dentro do capitalismo pós-industrial. Alguns autores 
veem com bons olhos essas transformações. Por exemplo, Pierre Lévy (apud COSTA, 2010, p. 
172) acredita que a popularização da informática possibilitou a democratização do conhecimento.
As pessoas hoje têm mais acesso à informação e podem monitorar seu processo de aprendizado
constantemente, ficando menos dependentes de instituições para aprimorar seus conhecimentos a
respeito de uma área ou uma técnica.
Manuel Castells (apud COSTA, 2010, p. 173) observa que existe hoje um deslocamento da mão 
de obra. Se, por um lado, a indústria fecha oportunidades de trabalho, por outro lado, os setores 
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de serviços e varejo têm aumentado essas vagas. Esse movimento tem várias explicações, mas, 
em linhas gerais, pode-se dizer que, em um mundo em que se gasta menos tempo na produção 
de bens materiais, o consumo preenche cada vez mais a vida das pessoas. Ele passa a ser uma 
atividade de entretenimento e lazer que pode ser feita a qualquer momento. 
Se pensarmos no comércio eletrônico, isso fica muito evidente. Por exemplo, um grande varejista 
da área de esportes, a Netshoes, que comercializa pela internet, não tem operários na linha de 
produção, pois apenas necessita de pessoas para administrar o processo de compra e negociação 
via internet. Assim, recruta pessoas com boa capacidade de comunicação para atuar no SAC 
(Serviço de Atendimento ao Consumidor), monitorar redes sociais e administrar trocas.
Figura 6.2 Homepage da Netshoes.
Fonte: <http://www.netshoes.com.br>. Acesso em: jul. 2014.
Se multiplicarmos este processo para toda a área de serviços, notamos que outra consequência 
do capitalismo pós-industrial é a maior exigência por qualificação profissional. Isso tem levado as 
pessoas a procurar maior qualificação,seja em nível técnico ou superior. Não é à toa que o número 
de matrículas nesses níveis no Brasil aumentou muito na última década. 
Isso nos leva a outra questão que apontamos no início deste tema: o impacto das tecnologias de 
comunicação no dia a dia das pessoas.
As Tecnologias de Comunicação no Dia a Dia das Pessoas
O fato é que uma quantidade cada vez maior de pessoas atualmente não trabalha produzindo 
um bem material, um artefato físico. As pessoas cada vez mais têm trabalhado com informações. 
Produzem, colhem e analisam dados. Produzem informação nos meios de comunicação, nas 
escolas, nos órgãos públicos, nas redes sociais. Criam textos, fotos e vídeos. Na área da saúde, 
informam pacientes e alunos em clubes e academias. Nas exatas, projetam por meio de softwares 
prédios e condomínios. Por todos os lados observamos, portanto, a produção de um trabalho 
abstrato, também chamado de trabalho imaterial.
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Saiba Mais!
LAZZARATO, Maurizio; NEGRI, Antonio. Trabalho imaterial: formas de vida e produção 
de subjetividade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. 
Este livro reúne cinco ensaios sobre transformações do trabalho — estudos pioneiros 
sobre sua centralidade no pós-fordismo —, publicados em sua maioria na revista 
francesa Futur Antérieur (fundada pelo pensador da nova esquerda italiana, Antonio 
Negri). Em uma época marcada, por um lado, pela crise do taylorismo e do emprego 
formal baseado no chão fabril e, por outro, pelas multiplicações das pesquisas sobre o 
modelo neoindustrial de inspiração japonesa, estes textos apontam a qualidade nova, 
comunicacional e linguística do trabalho nos dias de hoje. Indeterminado e aberto, 
o tempo associado à realização de um ofício libera-se dos parâmetros rígidos e
padronizados dos modelos de produção de outrora, assumindo contornos mais fluidos.
O conceito de trabalho imaterial é proposto como o mais adequado para dar conta
das dimensões pós-industriais. Negri e Lazzarato fundamentam-no em pesquisas
empíricas e na recuperação das antecipações que Marx, nos Grundrisse, fez sobre
socialização do trabalho e intelectualidade de massa.
Fonte: <www.travessa.com.br>. Acesso em: jul. 2014.
Esse mesmo trabalho tem se aproveitado das tecnologias da informação para otimizar seus 
processos. As pessoas utilizam a rede de informação disponibilizada pela internet para compartilhar 
ideias, dividir tarefas e melhorar o resultado final de suas atividades. 
Por outro lado, justamente pelo trabalho estar hoje ocorrendo por meio dos fluxos de informação 
em rede, ganha poder também quem administra o fluxo dessas informações. Para Cristina Costa 
(2010), não é possível dizer que os sistemas informatizados são democráticos, justamente porque 
as informações estão concentradas nas mãos de um número reduzido de empresas. Esse processo 
de concentração de informações é o que a autora chama de capital-informação.
Empresas como Google, por exemplo, têm grande poder justamente por conseguirem, por meio 
dos serviços que oferecem gratuitamente a seus usuários, uma quantidade imensa de informações 
sobre navegação de usuários e fluxo de informações na internet. 
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Ainda segundo a autora, esse processo de concentração espelha as desigualdades da própria sociedade. 
Para ela, “assim como a informatização faz aumentar a produção, agiliza também a concentração de 
capital e aprofunda as desigualdades entre grupos, classes e nações” (COSTA, 2010, p. 183).
A informação em rede também trouxe uma série de mudanças no modo como interagimos uns com 
os outros diariamente. Nossa sociabilidade vem se alterando à medida que novas tecnologias de 
comunicação nos são propostas. Desde que a internet se popularizou nos anos 1990, diferentes 
ferramentas de interação foram massivamente utilizadas desde então. 
As primeiras foram o chat e as ferramentas de comunicação instantânea, começando como ICQ e 
depois com o Messenger do Hotmail. Depois vieram os blogs e, finalmente, em meados dos anos 
2000, as redes sociais. Com a popularização dos smartphones, passamos por um novo processo de 
transição, com alguns aplicativos de comunicação, como o WhatsApp, tornando as relações entre 
as pessoas mais afetivas, instantâneas e extremamente imagéticas.
Sobre as imagens, Cristina Costa (2010) afirma que, por serem baseadas em um código binário 
(e não mais em uma plataforma física, como no caso do filme fotográfico), as imagens digitais 
podem ser alteradas a qualquer momento. É um processo de simulação da realidade que tem como 
resultado um embaralhamento da noção de realidade, pois fica mais difícil sabermos o que é real e 
o que é manipulado no mundo das imagens.
Sobre este assunto, a Dove fez uma campanha interessante mostrando como o rosto de uma modelo 
para uma campanha de maquiagem pode ser completamente alterado por meio de softwares de 
edição de imagem. Com a estratégia, a empresa pretendeu mostrar o quanto estamos sujeitos a uma 
idealização da beleza. Além disso, aproveita para valorizar o que pretende vender, uma “beleza real”.
Saiba Mais!
CAMPANHA Dove Real Beleza. Disponível em: http://goo.gl/ny9Q4v. Acesso em: 
26 jun. 2014. 
Nesta campanha, a empresa relativiza a noção de beleza ao mostrar que as imagens 
ideais de beleza que consumimos nos meios de comunicação são construídas por 
meio de ferramentas de manipulação de imagens. Ao final do vídeo lemos “Não é à 
toa que a nossa percepção de beleza é distorcida”. 
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Capital-informação: a administração do fluxo de informações que trafegam pelas redes locais 
e mundiais de computadores é feita por receptores privilegiados. Tais gestores utilizam essas 
informações a seu favor, gerando lucro e novos negócios. O mercado de informações espelha as 
mesmas diferenças e desigualdades observadas na sociedade. 
Reengenharia de processos: “Modelo de administração de empresas que visa repensar a estrutura 
produtiva procurando aumentar a produtividade, eliminando a divisão de trabalho e instituindo 
processos integrados que ocupam poucos trabalhadores. Foi o termo criado por Michael Hammer, 
ex-professor do MIT e consultor de empresas” (COSTA, 2010, p. 171). 
Terceirização: “É o processo de reestruturação produtiva que implica o repasse de parte das 
atividades para empresas contratadas. A terceirização implica a redução da mão de obra e a 
centralização da produção em atividades centrais da empresa” (COSTA, 2010, p. 170). 
Trabalho imaterial: espécie de trabalho cujo resultado não é um bem físico. Está ligado à produção 
de informação e à prestação de serviços. O trabalhador ainda troca sua força produtiva por salário, 
mas a diferença é que seu potencial não está mais na força física, mas na sua capacidade intelectual. 
Exemplos de trabalhadores que lidam com esse tipo de tarefa são professores, bancários, psicólogos 
e profissionais da indústria criativa.
Instruções
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões 
de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está 
sendo pedido.
Questão 1 
Para Marx e Engels, uma interferência negativa das tecnologias de produção industrial na sociedade seria:
a) A fragmentação do processo produtivo.
b) A otimização de recursos.
c) O incremento na produção.
d) Maior lucratividade.
e) Alienação do trabalhador.
Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.
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Questão 2
A automatização das fábricas gera:
a) Maior empregabilidade e internacionalização da economia.
b) Desemprego e concentração de lucros.
c) Desemprego e menor produtividade.
d) Concentração de lucros e maior empregabilidade.
e) Menor produtividade e concentração de lucros.
Verifique a resposta correta no final deste materialna seção Gabarito.
Questão 3 
Pierre Lévy acredita que:
a) A popularização da informática possibilitou a democratização do conhecimento.
b) A popularização da informática dificultou a difusão do conhecimento.
c) Existe hoje um deslocamento da mão de obra por conta do aumento do setor de serviços.
d) Existe hoje um deslocamento da mão de obra em função da automação.
e) As pessoas hoje têm mais dificuldade para monitorar seu processo de aprendizado.
Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.
Questão 4
Por que a Netshoes pode ser citada como uma empresa típica do capitalismo pós-industrial?
Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.
Questão 5
Por que, para Cristina Costa (2010), os sistemas informatizados não são necessariamente 
democráticos? 
Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.
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Neste tema, observamos que o desenvolvimento da tecnologia tem impacto em diversos setores 
da sociedade. Chamamos atenção especificamente para as transformações que vêm ocorrendo no 
mundo do trabalho e também para o impacto da comunicação digital neste processo.
Com a perda do espaço do trabalho industrial, a sociedade precisou preencher as horas de trabalho 
liberadas com algo que a reconfortasse, o consumo, que será nosso próximo tema de estudo.
COSTA, Cristina. Sociologia: questões da atualidade. São Paulo: Editora Moderna, 2010. 
LAZZARATO, Maurizio; NEGRI, Antonio. Trabalho imaterial: formas de vida e produção de 
subjetividade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. 
Questão 1 
Resposta: Alternativa “E”. 
Esse processo gerava a alienação do trabalhador, além de colocá-lo em uma situação de exploração 
e injustiça social.
Questão 2 
Resposta: Alternativa “B”. 
Além do desemprego, outra preocupação dos países com grande índice de automatização de suas 
fábricas é a concentração de lucros.
Questão 3 
Resposta: Alternativa “A”. 
A popularização da informática possibilitou a democratização do conhecimento.
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Questão 4 
Resposta: A empresa comercializa pela internet, portanto, não tem necessidade de operários na 
linha de produção, mas sim de pessoas que administrem o processo de compra e negociação pela 
internet. Assim, recruta pessoas com boa capacidade de comunicação para atuar no SAC (Serviço 
de Atendimento ao Consumidor), monitorar redes sociais e administrar trocas.
Questão 5 
Resposta: Porque as informações estão concentradas nas mãos de um número reduzido de 
empresas, que geram o “capital-informação”. Por meio dessas informações, tais empresas geram 
lucro, novos negócios e mantêm o poder econômico para si ao espelharem as desigualdades 
existentes na sociedade.

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