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Aula 01 EDVALDO NILO

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DIREITO TRIBUTÁRIO P/ O STJ (TEORIA E EXERCÍCIOS - CESPE) 
PROFESSOR: EDVALDO NILO 
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PROFESSOR EDVALDO NILO 
CURSO REGULAR DE DIREITO TRIBUTÁRIO PARA O STJ– 
TEORIA COMPLETA E QUESTÕES COMENTADAS DO CESPE 
AULA 1 – PODER DE TRIBUTAR E COMPETÊNCIA TRIBUTARIA. 
SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL. PRINCÍPIOS 
CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS 
1. NATUREZA, AUTONOMIA E RELAÇÃO DO DIREITO 
TRIBUTÁRIO COM O DIREITO FINANCEIRO
O direito tributário é ramo comum do direito público 
obrigacional. Portanto, a sua natureza é comum, pública e 
obrigacional. 
O direito tributário é direito comum e não especial ou 
excepcional, uma vez que é constituído por normas jurídicas que 
regem de forma objetiva e geral as situações nelas dispostas. Isto é, 
o direito tributário aplica-se às situações genéricas das hipóteses e 
pessoas, sem excepcionalidades. Ao contrário do direito especial, que 
corresponde às normas jurídicas estabelecidas para regulamentação 
de determinadas situações particulares, propugnando exceções às 
regras do direito comum ou normal. 
O direito tributário é ramo do direito público por decorrer 
da relação jurídica travada entre Estado e particular e, por 
conseguinte, proteger preponderantemente o interesse público ou da 
coletividade. Decerto, as normas jurídicas tributárias têm caráter 
imperativo,compulsório, cogente decorrente do poder de império 
do Estado e o seu fundamento é a satisfação das necessidades 
públicas estabelecidas no texto constitucional (saúde, educação, 
segurança pública, proteção do meio ambiente etc.). 
Ademais, o direito tributário é direito obrigacional, eis que 
seu objeto é a prestação positiva ou negativa da obrigação que o 
sujeito passivo deve realizar em favor do sujeito ativo da relação 
jurídico-tributária. No caso, no mínimo, há um credor (sujeito ativo), 
um devedor (sujeito passivo) e o objeto do direito, que é o tributo. 
Por sua vez, apesar da unicidade do direito, podemos afirmar 
que o direito tributário temautonomia didática, dogmática e 
estrutural, em razão da existência da disciplina no meio acadêmico 
(autonomia didática); de métodos, princípios e conceitos próprios 
(autonomia dogmática), que, dessa maneira, podem ser criados pela 
legislação ou estudados pela doutrina, de forma diversa dos institutos 
de outros ramos do direito (autonomia estrutural). 
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A autonomia legal do direito tributário é consagrada 
expressamente no art. 24, I, da Constituição Federal (CF), 
localizado no âmbito da organização político-administrativa do 
Estado, que estatui que compete aos Estados, Distrito Federal e 
União legislar de forma concorrente sobre Direito Tributário. 
Nesse rumo, o direito tributário surgiu como apêndice do 
direito financeiro, que é a disciplina jurídica da atividade financeira 
do Estado (AFE). Ou seja, a matéria que estuda os princípios e regras 
que regem a AFE. O direito financeiro estuda, portanto, o orçamento 
público, receita pública, despesa pública e o crédito público. 
Assim, o direito tributário disciplina uma parte da receita 
pública, que são as receitas derivadas obtidas com a criação dos 
tributos. 
2. Definição de Tributo
 
Para o conceito de tributo, poderíamos examinar diversas 
definições doutrinárias, mas, para fins de concursos, é muito mais 
produtivo adotar o art. 3º, do Código Tributário Nacional (CTN), a 
saber: 
 
Tributo é toda (i)prestação pecuniáriacompulsória, (ii)em 
moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que (iii)não 
constitua sanção de ato ilícito, (iv)instituída em lei e 
(v)cobrada mediante atividade administrativa plenamente 
vinculada. 
Assim, passemos a analisar os elementos integrantes do 
conceito legal de tributo: 
 
(i)Prestação pecuniária compulsória – Prestação significa 
o objeto principal de uma relação entre credor e devedor, sendo 
aquilo que o credor deve fazer ou deixar de fazer em favor do 
devedor. 
Já pecúnia representa “dinheiro”, isto é, a prestação deve ser 
realizada em dinheiro. 
Portanto, não pode ser considerado tributo às chamadas 
prestações in labore (ex. serviço militar obrigatório) ou exigências in 
natura (oferecimento bens materiais que não sejam dinheiro como 
cestas básicas). 
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Nesse rumo, também não pode ter natureza de tributo a 
prestação de serviço eleitoral, o trabalho desempenhado pelos 
jurados, a desapropriação ou a requisição administrativa, uma vez 
que não são prestações pecuniárias. 
O tributo é também prestação compulsória, ocorrendo 
independentemente da vontade do devedor, sendo a prestação que 
deve ser satisfeita pelo comportamento obrigatório do devedor 
(sujeito passivo) de levar dinheiro ao credor (sujeito ativo). 
Por exemplo, o aluguel de imóvel público não étributo, em 
virtude de ser o aluguel firmado por ato de livre vontade do locatário 
com a Administração Pública, derivando de um contrato entre as 
partes. 
Com efeito, o STF decidiu recentemente (informativo 543) que 
os encargos de capacidade emergencial (“seguro-apagão”), previstos 
na Lei 10.438/2002, possuem natureza jurídica de preço público
e não de tributo, uma vez que tais encargos, embora tivessem o 
caráter de prestações pecuniárias correspondentes à utilização de um 
serviço público — e, nesse sentido, aproximar-se-iam do conceito de 
taxas —, na verdade, configurariam tarifas ou preços públicos, 
em virtude do caráter facultativo da fruição do bem que 
remuneravam. 
Neste sentido, o “seguro-apagão” não se enquadra na 
definição de tributo contida no art. 3º do CTN, uma vez que não 
possui o requisito de compulsoriedade. 
Portanto, o “seguro-apagão” não seria de pagamento 
compulsório, requisito típico das espécies tributárias, não 
estando sujeitos, por essa razão, aos princípios e regras 
constitucionais tributárias, pois os consumidores poderiam se 
valer de outros meios para a aquisição de energia elétrica que não a 
proveniente do Sistema Interligado Nacional. 
Do mesmo modo, o STF já decidiu que a compensação 
financeira pela exploração de recursos minerais (royalties - CF, 
art. 20, §1°) não é tributo, bem como o instrumento municipal 
denominado de outorga onerosa do direito de criar solo (RE 
387.047/SC), também chamado solo criado, previsto no Estatuto da 
Cidade (art. 28 da Lei Federal 10.257/2001). 
Assim, também não se pode dizer que é tributo: (a) a 
cobrança de foro anual e laudêmio; (b) a tarifa aeroportuária 
cobrada pela INFRAERO (Lei 6.009/73); (c) o pagamento prévio da 
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retribuição autoral feito ao Escritório Central de Arrecadação e 
Distribuição (ECAD). 
(ii)Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir – 
Alguns autores criticam este enunciado afirmando que é um 
pleonasmo do art. 3°, do CTN, que só faz repetir o caráter pecuniário 
do tributo. 
 Entretanto, a assertiva possui serventia quando afirma que 
pode ser pago em algo que represente um valor em dinheiro (ou cujo 
valor nela se possa exprimir). 
Assim, conforme a interpretação de tal dispositivo, o tributo 
pode ser pago com títulos da dívida pública. Como exemplo, o 
pagamento do imposto territorial rural (ITR) com títulos da dívida 
agrária (TDA). 
 
Anota-se que o art. 162, do CTN, possibilita que o pagamento 
do tributo seja efetuado com cheque ou vale postal e, nos casos 
previstos em lei, em estampilha, em papel selado, ou por processo 
mecânico.Por sua vez, o art. 156, XI, do CTN, com redação estabelecida 
pela Lei Complementar n. 104/2001, permite o pagamento de tributo 
mediante a entrega de bens imóveis, quando estabelece a “dação em 
pagamento em bens imóveis” como causa extintiva do crédito 
tributário, sendo compatível com a locução “ou cujo valor nela se 
possa exprimir” do art. 3º, do CTN. 
É importante dizer que o Supremo Tribunal Federal (STF) não 
permite que lei estadual possibilite o pagamento de débitos 
tributários com dação em pagamento de bens materiais destinados a 
atender a programas do Estado, mas apenas a dação em pagamento 
de bens imóveis. 
 
Neste ponto, ainda cabe destacar que o valor do tributo pode 
ser expresso em indexadores (exs.: UFIR, UPF e UFM), que são 
convertidos em moeda corrente na data do pagamento da obrigação 
tributária. Com esta autorização, por exemplo, pode-se dizer que o 
contribuinte deve 100 UPF no Estado do Rio Grande do Sul (RS). 
 
(iii)Não constitua sanção de ato ilícito – A obrigação 
tributária deve decorrer de um fato lícito previsto em lei, ou seja, a 
interpretação adequada é no sentido de que deve ser lícita a situação 
genérica e abstrata disposta na norma. 
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Por exemplo, o art. 43, do CTN, dispõe que faz surgir à 
obrigação de pagar o imposto de renda (IR) quando determinada 
pessoa adquire disponibilidade econômica de renda. 
Assim, a renda auferida pela pessoa é fato gerador do IR e, 
por conseguinte, uma pessoa que adquire renda derivada do exercício 
do jogo do bicho (atividade ilícita) deve pagar o tributo, uma vez que 
o fato previsto em lei é a aquisição de renda e não o exercício do jogo 
do bicho. 
 
Neste sentido, o STF entende que a tributação sobre o trafico 
ilícito de entorpecentes é legal, adotando-se a aplicação do princípio 
da igualdade tributária e do princípio do pecunia non olet (o dinheiro 
não tem cheiro). 
Registramos a seguinte decisão do STF: 
"Sonegação fiscal de lucro advindo de atividade 
criminosa: pecunia non olet (dinheiro não tem cheiro). 
Drogas: tráfico de drogas, envolvendo sociedades 
comerciais organizadas, com lucros vultosos subtraídos à 
contabilização regular das empresas e subtraídos à 
declaração de rendimentos - caracterização, em tese, de 
crime de sonegação fiscal. Irrelevância da origem ilícita, 
mesmo quando criminal, da renda subtraída à 
tributação. A exoneração tributária (significa aqui não 
pagamento do tributo) dos resultados econômicos de fato 
criminoso - antes de ser corolário do princípio da 
moralidade - constitui violação do princípio da isonomia 
fiscal, de manifesta inspiração ética". 
Por outro lado, o tributo não se confunde com a multa, que é 
sanção de ato ilícito. 
A multa, apesar de ser uma prestação pecuniária compulsória, 
é cobrada em virtude de o indivíduo ter praticado um ato ilícito, 
possuindo nítido caráter de sanção (punição). Como exemplo, 
podemos citar que a multa decorrente do atraso no pagamento do 
imposto sobre produtos industrializados (IPI) não é tributo, pois é 
sanção de ato ilícito. 
 
Preste atenção: qualquer tipo de multa não é tributo. Ou 
seja, multa por infração tributária, multa por infração penal ou multa 
por infração de trânsito não deve ser considerado tributo, nos termos 
do art. 3° do CTN. 
 
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O CTN dispõe que em face do descumprimento de uma 
obrigação tributária principal (ex.: pagar o tributo) ou acessória 
(exs.: declaração de rendimentos ou emissão de notas fiscais), 
ocorrer-se-á a aplicação de penalidade pecuniária. 
Mas isso não quer dizer que a multa é uma espécie de tributo, 
uma vez que a multa deve ser considerada somente uma penalidade 
pecuniária decorrente do descumprimento da obrigação tributária 
principal ou acessória. 
 
Destacamos ainda que qualquer reparação ou indenização
decorrente de um ato ilícito previsto em lei não é tributo. Deste 
modo, a pessoa que, por ação ou omissão voluntária, violar direito e 
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, não deve 
pagar tributo ao Estado, mas sim indenizar o outro pelos danos 
sofridos. 
(iv)Instituída em lei – É aspecto fundamental da definição 
de tributo, pois todo tributo deve ser instituído por meio de lei. Esta 
deve ser entendida como lei complementar ou lei ordinária, ou até 
mesmo medida provisória, que tem força de lei ordinária. 
O tributo é uma obrigação denominada de ex lege, 
significando que seu surgimento depende de lei. Neste aspecto, 
identificamos o princípio constitucional da legalidade (CF, art. 150, I). 
 
Logo, não se esqueça que um tributo não deve ser instituído, 
em hipótese alguma, por normas jurídicas infralegais, como 
decretos, portarias, atos administrativos, sentenças judiciais, 
convênios, costumes, decisões de órgãos administrativos singulares 
ou colegiados sobre matéria tributária, dentre outras. 
Este entendimento é constitucionalmente fundamentado no 
Estado Democrático de Direito, previsto no art. 1º, parágrafo único, 
da CF/88, dispondo que “todo poder emana do povo, que o exerce 
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta 
Constituição”. 
Assim, deve-se entender que a lei que institui o tributo é uma 
manifestação legítima do poder do povo, uma vez que para criação 
do tributo existiu prévia autorização dos representantes eleitos pelo 
povo, que são os parlamentares. 
Nesse rumo, em regra, a lei apta a instituir um tributo é a lei 
ordinária. No caso de tributo federal, o Congresso Nacional. Na 
hipótese de tributo estadual, a Assembléia Legislativa. No caso de 
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tributo municipal, a Câmara de Vereadores. 
Todavia, existem tributos federais (União) que, se forem 
instituídos, devem ser por meio de lei complementar, que são: 
imposto sobre grandes fortunas (art. 153, inc. VII, da CF/88), 
empréstimos compulsórios (art. 148, caput, da CF/88), impostos 
residuais da União (art. 154, inc. I, da CF/88) e contribuições 
sociais novas ou residuais (art. 195, §4°, da CF/88). Nestes casos, 
a medida provisória que tem força de lei ordinária não pode atuar 
para instituir tais tributos. 
Tributos instituídos por lei complementar: 
(i) imposto sobre grandes fortunas (art. 153, VII da CF); 
(ii) empréstimos compulsórios (art. 148 da CF); 
(iii) impostos residuais da União (art. 154, I da CF); 
(iv) contribuições sociais novas ou residuais (art. 195, §4° da CF). 
Além disso, destaca-se que existem tributos que poderão ter 
suas alíquotas majoradas ou reduzidas por ato do Poder Executivo 
federal (União), a saber: imposto de importação (II); imposto de 
exportação (IE); imposto sobre produtos industrializados (IPI); 
imposto sobre operações financeiras (IOF). É o que dispõe o art. 153, 
§1º, da CF/88. 
A relação desta flexibilidade está no fato de que esses tributos 
têm caráter extrafiscal, ou seja, são tributos reguladores da 
economia ou do mercado do País. Como exemplo, o Presidente da 
República (Chefe do Poder Executivo federal) quer intervir no 
comércio exterior, incentivando as exportações e, por conseguinte, 
diminui a alíquota do imposto de exportação (II) ou quer 
desestimular a produção de determinado produto industrial e 
aumenta a alíquota do IPI deste produto. 
Ao contrário, o caráter fiscal dos tributos é o poder de 
invadir o patrimônio do particular com finalidade eminentemente 
arrecadatória. 
Quanto a CIDE – Combustíveis 1(art. 177, §4°, inc. I, alínea 
“b”) e o ICMS – Combustíveis e Lubrificantes (art. 155. §4°, inc. IV, 
da CF/88), as alíquotas poderão somente ser reduzidas e 
restabelecidas, ou seja, o Poder Executivo reduz a alíquota e, uma 
vez reduzida, pode restabelecê-la, tendo, como teto, a alíquota, 
prevista anteriormente em lei. Este tema será minuciosamente 
1 Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico - Petróleo e seus derivados, gás natural e 
seus derivados e álcool combustível. 
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trabalhado na aula 2. 
(v)Cobrada mediante atividade administrativa 
plenamente vinculada – Isto significa que a cobrança do tributo 
ocorre por meio de atividade administrativa vinculada, ou seja, sem 
margem de discrição do servidor público. 
Deste modo, o servidor público não tem certa liberdade de 
escolha para atuar, ou seja, não pode avaliar se é oportuno ou 
conveniente cobrar o tributo. Portanto, não pode ponderar ou sopesar 
a situação no caso concreto 
Com efeito, a atuação do auditor ou do procurador jurídico de 
determinado ente federado não é discricionária ao cobrar o tributo, 
devendo seguir fielmente o previsto na lei, em razão do próprio 
princípio da legalidade, sendo a atividade administrativa de cobrança 
do tributo plenamente vinculada. 
Por outro lado, o concursando (você mesmo!!!) não pode 
confundir a questão de o tributo ser “cobrada mediante atividade 
administrativa plenamente vinculada” com a classificação de tributos 
vinculados e tributos não vinculados, bem como com a 
classificação quanto ao destino da arrecadação, que pode também 
ser vinculada ou não vinculada. 
Sem prejuízo de tratarmos destas classificações com maior 
ênfase na próxima aula do curso, devemos ter bem presente que o 
tributo vinculado significa que o fato gerador do tributo é uma 
atividade estatal específica, relativa ao contribuinte. 
Como exemplo, temos a contribuição de melhoria que decorre 
da atividade do Estado de realizar uma obra pública da qual deve 
resultar valorização imobiliária para o contribuinte. 
Já o tributo não vinculado significa que o fato gerador do 
tributo é um fato praticado pelo contribuinte independente de 
qualquer atividade estatal específica realizada para o próprio 
contribuinte. O melhor exemplo de tributo não vinculado são todos os 
impostos. 
Valem aqui as precisas ponderações feitas por Robinson 
Sakiyama: “Os fatos geradores próprios dos impostos são as 
situações de ser proprietário de algo (ITR, IPTU, IPVA), transferir um 
bem (ITCMD, ITBI), prestar serviços ou fazer circular mercadorias 
(ISS, ICMS) etc., ou seja, todas as situações que não se referem a 
uma atividade estatal específica voltada ao contribuinte. Por esta 
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razão, muitos autores se referem aos impostos como tributos não 
vinculados.” 
Concernente a classificação do destino da arrecadação: 
(a) Arrecadação é vinculada quando os recursos 
arrecadados devem ser utilizados com despesas legais 
previamente determinadas. Por exemplo, o empréstimo 
compulsório, pois, o art. 148, parágrafo único, da CF/88, 
dispõe que a aplicação dos recursos provenientes deste 
tributo será vinculada à despesa que fundamentou sua 
instituição. Outro exemplo, são as custas e emolumentos 
(espécie de taxa judiciária de acordo com o entendimento 
do STF), pois a norma constitucional (art. 98, §2°) fixou 
que serão destinadas apenas ao custeio dos serviços 
específicos do Poder Judiciário. 
(b) Arrecadação não é vinculada acontece na hipótese dos 
recursos poderem ser aplicados sem vinculação a despesa 
previamente destinada. Como exemplo, a doutrina cita os 
impostos, uma vez que, em princípio, as suas receitas 
não podem ser vinculadas a órgãos, fundos ou despesas, 
salvo as exceções previstas no art. 167, IV, da CF/88. 
Entretanto, é relevante prestar atenção em relação às 
exceções previstas nesta regra constitucional (art. 167, IV, da 
CF/88). E todo concurso adora exceção. Em outras palavras, os 
recursos arrecadados com os impostos também podem ser utilizados 
com despesas previamente determinadas na CF/88. 
Vejamos o art. 167, IV, da CF/88: 
Art. 167. São vedados: IV - a vinculação de receita 
de impostos a órgão, fundo ou despesa, 
ressalvadas a repartição do produto da arrecadação 
dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a 
destinação de recursos para as ações e serviços 
públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento 
do ensino e para realização de atividades da 
administração tributária, como determinado, 
respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, 
e a prestação de garantias às operações de crédito por 
antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem 
como o disposto no § 4º deste artigo. 
Exceções constitucionais à arrecadação não-vinculada dos 
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impostos(art. 167, IV) 
Recursos destinados para as ações e serviços públicos de 
saúde(art.198, § 2º); 
Repartição do produto da arrecadação dos impostos (arts. 158 e 
159); 
Recursos destinados para a manutenção e desenvolvimento do 
ensino fundamental (FUNDEF)(art. 212); 
Recursos destinados às atividades da administração tributária(art. 
37, XXII); 
Recursos destinados à prestação de garantia às operações de crédito 
por antecipação da receita (ARO) (art. 165, §8°); 
Recursos destinados à prestação de garantia ou contragarantia à 
União e para pagamento de débitos para com esta (art. 167, § 4º). 
Por sua vez, cumpre dizer, de logo, que tributo é receita 
pública que pode ser destinada ao ente tributante (União, Estado, 
Distrito Federal, Município) ou a terceiros, desde que exerçam 
atividade de interesse público, como é o caso das entidades 
parafiscais (SENAI, SEBRAE, SESC etc.) que podem arrecadar 
contribuições sociais obrigatórias (espécie de tributo). 
Nesse rumo, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) compreende 
que a contribuição para o FGTS não tem natureza tributária, sendo a 
arrecadação depositada em conta no nome do empregado, podendo 
ser sacado o saldo da conta em hipótese de despedida sem justa 
causa e outras situações estabelecidas na Lei 8.036/90 (Lei do 
FGTS), caracterizando-se como vantagem de natureza jurídica 
trabalhista, que não é sujeita ao prazo de prescrição estabelecido no 
Código Tributário Nacional (CTN). 
O STJ possui a súmula 353 a respeito do tema: “As 
disposições do Código Tributário Nacional não se aplicam às 
contribuições para o FGTS”. 
3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS 
A norma jurídica é o gênero do qual se diversificam, como 
espécies, as regras e os princípios jurídicos. Dentre os últimos estão 
compreendidos os princípios constitucionais tributários dispostos 
explicitamente ou implicitamente no texto constitucional, 
principalmente na seção denominada de limitações do poder de 
tributar (arts. 150 a 152). 
3.1 PRINCÍPIOS VINCULADOS ESPECIALMENTE À SEGURANÇA 
JURÍDICA 
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A segurança jurídica exige, na maior medida do possível, a 
compreensibilidade, previsibilidade e conhecimento antecipado das 
normas vigentes pelo sujeito passivo da relação tributária. Decerto, 
decorre do Estado de Direito previsto constitucionalmente no art. 1° 
da CF/88 e, na seara tributária, é consagrada, especialmente, pelos 
princípios da legalidade (art. 150, I), irretroatividade(art. 150, III, 
“a”), não-surpresa (art. 150, III, “b” e “c”) e transparência fiscal (art. 
150, §§5° e 6°). 
3.1.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
O texto constitucional estabelece explicitamente no art. 150, I, 
que os tributos devem ser criados ou aumentados por lei prévia, 
buscando excluir o arbítrio do poder estatal. É a denominada 
legalidade tributária, que obriga o surgimento da obrigação tributária 
por lei formal (obrigação ex lege). Em regra, os tributos são 
instituídos por lei ordinária. Todavia, existem tributos que, se forem 
criados, devem ser por meio de lei complementar. 
Lei complementar 
Imposto sobre grandes fortunas; 
Empréstimos compulsórios 
Impostos residuais da União 
Contribuições sociais novas ou residuais 
3.1.1.1 PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 
Significa que não basta o tributo ser criado ou aumento por lei 
formal, devendo também ocorrer a adequação da conduta do sujeito 
passivo à norma tributária. É a subsunção do fato real à norma 
abstrata. 
A tipicidade ordena que o legislador estabeleça em lei todos os 
aspectos da regra matriz de incidência tributária. Assim sendo, em 
função da obediência a tipicidade, os aspectos material (situação 
geradora da incidência), espacial (local de incidência), temporal 
(momento de incidência), pessoal (sujeito ativo e passivo) e 
quantitativo (base de cálculo e alíquota) devem está previstos em lei. 
(ESAF/Analista/SUSEP/2010) “A lei deve esgotar, como preceito geral 
e abstrato, os dados necessários à identificação do fato gerador da 
obrigação tributária e à quantificação do tributo, sem que restem à 
autoridade poderes para, discricionariamente, se ‘A’ irá ou não pagar 
tributo, em face de determinada situação”. É correta. 
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A tipicidade é complementar ao princípio da legalidade, 
Segundo parte da doutrina, a tipicidade está expressa igualmente no 
art. 150, I, da CF/88. Assim, afirma-se que a legalidade tributária faz 
referência ao veículo da norma (lei formal) e a tipicidade ao conteúdo 
da lei, que é a própria norma tributária em todos os seus aspectos. 
Neste sentido,o art. 97 do CTN concretiza a tipicidade 
tributária. De acordo com ainterpretação deste dispositivo à luz do 
texto constitucional, apenas lei pode estabelecer: 
• A instituição de tributos, ou a sua extinção; 
• A majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto 
no texto constitucional; 
• A definição do fato gerador da obrigação tributária principal
e do seu sujeito passivo; 
• A fixação da base de cálculo do tributo e de sua alíquota, 
ressalvado o disposto no texto constitucional; 
• A cominação de penalidades para as ações ou omissões 
contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela 
definidas; 
• As hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos 
tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades, 
ressalvado o disposto no texto constitucional. 
De mais a mais, ressaltamos o entendimento do STF no sentido 
de que a coisa julgada em matéria fiscal fica delimitada à relação 
jurídico-material em que debatida, não podendo, portanto, ser 
invocada em exercícios posteriores, de acordo com a Súmula 239 (AI 
189.787-AgR,DJ de 4-4-1997). 
(CESPE/Delegado de Polícia/RN/2009) “A decisão judicial que declara 
indevida a cobrança do imposto em determinado exercício faz coisa 
julgada em relação aos posteriores, em respeito aos princípios da 
separação dos poderes e da autoridade da coisa julgada”. É errada. 
3.1.1.2 MITIGAÇÕES, EXCEÇÕES OU ATENUAÇÕES A 
LEGALIDADE 
Por sua vez, esclarece-se que existem tributos que poderão ter 
suas alíquotas majoradas ou reduzidas por ato do Poder Executivo 
federal, por meio de decreto, atendidas as condições e os limites 
estabelecidos em lei, a saber: imposto de importação (II); imposto de 
exportação (IE); imposto sobre produtos industrializados (IPI); 
impostos sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a 
títulos ou valores mobiliários (IOF). É o que dispõe o art. 153, §1º, 
da CF. 
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(CESPE/Consultor/ES/2010) “Em respeito ao princípio da legalidade, 
não é permitido ao chefe do Poder Executivo elevar a alíquota do 
imposto de importação, mesmo dentro de limites autorizados por lei”. 
É errada. 
Quanto a Contribuição de intervenção no domínio econômico 
(CIDE) sobre combustíveis (art. 177, §4°, I alínea “b”, da CF) e o 
ICMS – Combustíveis e Lubrificantes (art. 155, §4°, IV, da CF), as 
alíquotas poderão somente ser reduzidas e restabelecidas, ou seja, o 
Poder Executivo reduz a alíquota e, uma vez reduzida, pode 
restabelecê-la, tendo, como teto, a alíquota, prevista 
anteriormente em lei. 
(CESPE/Juiz Federal/TRF1/2010) “Inexistindo legislação específica 
impondo condições e limites, é lícito ao Poder Executivo alterar as 
alíquotas da contribuição de intervenção no domínio econômico 
(CIDE)”. É errada. 
No caso do ICMS – Combustíveis e Lubrificantes, a 
exceção se refere à incidência monofásica do imposto, e as alíquotas 
são definidas nacionalmente por convênios dos Executivos 
Estaduais, ou seja, por ato de deliberação do Poder Executivo dos 
Estados e do Distrito Federal. 
(CESPE/Procurador/PB/2008) Nos termos e limites fixados em lei 
complementar federal, o Poder Executivo estadual, mediante decreto, 
pode reduzir, com o objetivo de regular a demanda, as alíquotas de 
ICMS de determinados produtos, dada a natureza extra-fiscal desse 
tributo. É errada, pois não pode ser mediante decreto. 
Outra ressalva se refere aos benefícios fiscais do ICMS 
(isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito 
presumido, anistia ou remissão) por meio de convênio interestadual 
do CONFAZ (art. 150, §6°, da CF). 
O fundamento da mitigação a legalidade tributária está no fato 
de que esses tributos têm caráter extrafiscal, ou seja, são tributos 
reguladores da política econômica, monetária e fiscal do País. Como 
exemplo, o Presidente da República quer intervir no comércio 
exterior, incentivando as exportações e, por conseguinte, diminui a 
alíquota do imposto de exportação (II) ou quer desestimular a 
produção de determinado produto industrial e aumenta a alíquota do 
IPI. 
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Ressaltamos quenão foram recepcionados pela CF/88 os arts. 
21, 26 e 65 do CTN, no que estabelecem sobre a competência do 
Poder Executivo de alterar as bases de cálculo do imposto sobre 
importação (II), do imposto sobre exportação (IE) e dos impostos 
sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou 
valores imobiliários (IOF), a fim de ajustá-los aos objetivos da política 
cambial e do comércio exterior. Este é o entendimento na doutrina e 
jurisprudência predominante. 
Por exemplo, afirma o STJ que a “instituição ou a fixação da 
base de cálculo de tributo, a que se refere o art. 97 do Código 
Tributário, que explicita o princípio constitucional da legalidade 
agasalhado no art. 150, I, da Constituição, se faz mediante a edição 
de lei” (AGREsp 465740/MG). 
Por sua vez, segundo compreende parte da doutrina, é 
atenuação ou exceção à legalidade tributária a possibilidade de 
instituição ou majoração de tributo por medida provisória. 
Nesse rumo, a partir da Emenda Constitucional (EC) n.° 32/01, é 
expressa na CF a possibilidade das medidas provisórias atuarem 
como veículos introdutores de normas tributárias (art. 62, §2°), 
sendo proibido na hipótese da CF exigir lei complementar. 
Poder Executivo Federal(alterar a alíquota) 
II 
IE 
IPI 
IOF 
CIDE – Combustíveis 
Poder Executivo estadual e distrital (alíquotas definidas 
nacionalmente por convênio) 
ICMS – Combustíveis e Lubrificantes 
Poder Executivo estadual e distrital (benefícios fiscais definidos 
nacionalmente por convênio) 
ICMS 
3.1.1.3 JURISPRUDÊNCIA DO STF 
De início, ressaltamos que a definição de vencimento das 
obrigações tributárias (data para pagamento) e a instituição de 
obrigações tributárias acessórias não estão no campo reservado 
à lei, podendo ser alvo de Decreto do Poder Executivo. 
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(CESPE/Juiz Federal/TRF2/2010) “As obrigações principais e 
acessórias estão sujeitas ao princípio constitucional da legalidade 
estrita”. É errada. 
Por sua vez, destacamos que nãoé competência exclusiva do 
Presidente da República a possibilidade de alteração das alíquotas dos 
tributos federais estabelecidas no texto constitucional. Segundo o 
STF, o enunciado “Poder Executivo” disposto no art. 153, §1°, da 
CF/88, não significa competência privativa ou exclusiva do Presidente 
da República, mas sim que tal competência pode ser exercida por 
órgão que integre a estrutura do Poder Executivo. Por exemplo, a 
Câmara de Comércio Exterior (CAMEX). 
(CESPE/Defensoria Pública-União/2010) “A competência para a 
fixação das alíquotas do imposto de exportação de produtos nacionais 
ou nacionalizados não é exclusiva do presidente da República; pode 
ser exercida por órgão que integre a estrutura do Poder Executivo”. É 
correta. 
Assim, ressaltamos os seguintes precedentes: 
• Não implica ofensa a legalidade tributária o fato de a lei deixar 
para o regulamento a complementação dos conceitos de 
‘atividade preponderante’ e ‘grau de risco leve, médio e grave’ 
(RE 567.544-AgR); 
• Regulamento que antecipa o dia de recolhimento do tributo e 
determina a incidência de correção monetária a partir de então 
não fere a legalidade, pois não se encontra sob o princípio da 
legalidade estrita e da anterioridade a fixação do vencimento da 
obrigação tributária (RE 195.218, RE 182.971); 
(CESPE/Juiz Federal/TRF1°REGIÃO/2009) “Ofende o princípio da 
legalidade decreto que antecipa data de recolhimento de tributo”. É 
errada. 
(CESPE/Procurador/PE/2009) “A simples atualização monetária não 
se confunde com majoração de tributo”. É certa. 
• Somente a lei pode criar, majorar ou reduzir os valores das 
taxas. Assim, fere a legalidade a instituição dos emolumentos 
cartorários por Tribunal de Justiça, bem como as normas por 
meio das quais a autarquia institua uma taxa, sem lei que a 
autorizasse (ADI 1.709, ADI 1.823-MC). 
(CESPE/Procurador/PE/2009) “A instituição de emolumentos 
cartorários pelo tribunal de justiça de um estado não afronta o 
princípio da reserva legal”. É errada. 
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3.1.2PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE 
Preceitua que a lei deve abranger apenas situações geradoras 
da obrigação tributária (aspecto material) posteriores à sua edição, 
não devendo abranger fatos pretéritos. Por exemplo, se a alíquota do 
IPVA é aumentada ou diminuída, não pode alcançar fatos geradores 
ocorridos antes do início da sua vigência. 
Destacamos que irretroatividade em matéria tributária não é 
absoluta, podendo, por exemplo, as leis interpretativas e as multas 
menos severas retroagirem para atingirem situações passadas. 
3.1.3PRINCÍPIO DA NÃO-SURPRESA TRIBUTÁRIA 
Consagrado no art. 150, III, “b” e “c”, da CF, pela 
anterioridade, busca proteger o sujeito passivo de uma tributação 
inesperada. Decerto, é um plus a irretroatividade, pois não satisfaz a 
segurança jurídica apenas que a situação tributável seja prévia, 
devendo também existir um tempo razoável para que o sujeito 
passivo possa planejar as suas atividades econômicas, o que fortalece 
a confiança e a certeza no Estado de Direito. 
3.1.3.1 ANTERIORIDADE GENÉRICA OU ANUAL 
É a proibição do poder estatal fiscal cobrar tributos no 
mesmo exercício financeiro em que tenha sido publicada a lei 
que tenha instituído ou majorado o tributo. 
A interpretação mais adequada do princípio da anterioridade 
genérica é que a norma jurídica criadora ou majoradora do 
tributo apenas irá incidir sobre os fatos jurídicos ocorridos no 
exercício financeiro subseqüente ao de sua publicação. 
No Brasil, conforme dispõe a legislação infraconstitucional 
brasileira (art. 34 da Lei n. 4.320/64), o exercício financeiro é o 
período de 1º de janeiro a 31 de dezembro, coincidindo 
Importante:“Ao IR calculado sobre os rendimentos do ano-
base, aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que 
deve ser apresentada a declaração” (Súmula 584do STF). 
Assim, não fere o princípio da irretroatividade lei editada no 
final do ano-base, que atingiu a renda apurada durante todo o 
ano, pois o fato gerador do IR somente se completa e se 
caracteriza, ao final do respectivo período, ou seja, no dia 31 
de dezembro (RE 197.790-6, RE 194.612, RE n. 104.259);
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perfeitamente com o ano civil. 
Neste sentido, a interpretação dominante na doutrina a 
respeito da anterioridade é que lei criadora ou majoradora do tributo 
entra em vigorno dia da sua publicação, mas só tem eficácia
após a observância do prazo constitucional. 
(CESPE/Juiz Federal/TRF1/2010) “E Atende ao princípio da 
anterioridade de exercício a publicação, no Diário Oficial, da lei 
instituidora de imposto no dia 31/12, sábado, apesar de a sua 
circulação dar-se apenas na segunda-feira”. É certa, pois vale a data 
da publicação. 
Por exemplo, se uma lei majorar o imposto sobre propriedade 
territorial rural (ITR) em 30 de abril de 2009, só poderá produzir 
efeitos jurídicos a partir de 1° de janeiro de 2010. Ou seja, a lei entra 
em vigor no dia 30 de abril de 2009, mas só tem eficácia jurídica a 
partir de 1° de janeiro de 2010. 
Deve-se salientar, entretanto, que, por motivos de política 
econômica ou de urgência, o princípio da anterioridade anual, 
segundo a Constituição Federal,não se aplica apenas ao empréstimo 
compulsório para atender despesas de calamidade pública ou 
despesas decorrentes de guerra externa (art. 148, I), ao imposto de 
importação de produtos estrangeiros (II – art. 153, I), ao imposto de 
exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados 
(IE – art. 153, II), ao imposto sobre produtos industrializados (IPI – 
art. 153, IV), ao imposto sobre operações de crédito, câmbio e 
seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários (IOF – art. 153, 
V), ao imposto extraordinário por motivo de guerra externa (IEG – 
art. 154, II), e as contribuições para a seguridade social (art. 195, 
§6°). 
Do mesmo modo, existem mais duas importantes normas que 
atenuam a aplicação da regra da anterioridade anual, que são as 
seguintes: (i) o imposto sobre circulação de mercadorias incidente 
em etapa única sobre combustíveis e lubrificantes (ICMS – 
Combustíveis) que pode ter suas alíquotas reduzidas e restabelecidas 
mediante deliberação dos Estados e Distrito Federal; e a (ii) alíquota 
da contribuição de intervenção no domínio econômico relativas à 
importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás 
natural e seus derivados e álcool combustível (CIDE – Combustíveis) 
que poderá ser reduzida e restabelecida por ato de competência do 
Poder Executivo Federal. 
Com efeito, nestes dois últimos casos criados pela 
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ECn.°33/2001, deve-se afirmar que a interpretação mais 
consentânea com as normas jurídicas constitucionais e com a 
jurisprudência do STF é que o Poder Executivo poderá reduzir e 
restabelecer a alíquota do ICMS – Combustíveis e da CIDE – 
Combustíveis, mas não poderá ultrapassar o teto da alíquota prevista 
anteriormente a redução e que não se deve observar o princípio da 
anterioridade. 
Anota-se também que o princípio da anterioridade é garantia 
individual do contribuinte e, portanto, cláusula pétrea, não podendo 
ser alterado nem pelo poder constituinte derivado. Assim sendo, a 
anterioridade tributária é limitação material ao poder constituinte 
derivado (ADIn n. 939-7). 
3.1.3.2 ANTERIORIDADE NONAGESIMAL 
Por sua vez, o poder constituinte derivado através da EC n. 
42/2003 revigorou a certeza e a segurança no direito tributário, 
garantindo-se ainda mais o sujeito passivo da relação tributária 
contra uma tributação inesperada ou surpresa, vedando a cobrança 
de alguns tributos antes de decorridos 90 dias da data em que 
tiver sido publicada a lei que os tenha instituído ou aumentado
(art. 150, inciso III, alínea “c”), consoante já era igualmente fixado 
pelo poder constituinte originário para as contribuições da seguridade 
social (art. 195, §6°, da CF/88). 
Exemplificando, publica-se uma lei aumentando a alíquota do 
imposto sobre propriedade territorial rural (ITR) no dia 31 de 
dezembro de 2008, esta lei, de acordo com o art. 150, inciso III, 
alínea “c”, da CF/88, só tem eficácia jurídica em 1° de abril de 2009. 
A “nova” regra denominada de princípio da anterioridade 
nonagesimal ou especial(noventena) também é excepcionada 
para o II, IE, IR, IOF, IEG e o empréstimo compulsório por motivo de 
guerra externa ou de calamidade pública, bem como no que diz 
respeito à fixação da base de cálculo do imposto sobre a propriedade 
de veículos automotores (IPVA) e do imposto sobre propriedade 
predial e territorial urbana (IPTU). 
As duas facetas do princípio da não-surpresa são a anterioridade 
genérica e a anterioridade nonagesimal. Portanto, a resposta mais 
adequada é letra “d”. Contudo, ressaltamos que na hipótese de 
restabelecimento de alíquotas do ICMS incidente sobre Combustíveis 
não se aplica a anterioridade genérica ou anual. 
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Observamos, portanto, algumas importantes singularidades 
decorrentes da EC 42/2003, que são: o IPI não é exceção à 
noventena, mas é à anterioridade comum; o IR não é exceção à 
anterioridade comum, mas é à noventena; o restabelecimento (nunca 
o aumento propriamente dito) de alíquotas do ICMS – Combustíveis e 
da CIDE – Combustíveis não é exceção à noventena, mas é à 
anterioridade comum; o IPVA e o IPTU se submetem à anterioridade 
comum, mas a definição das suas bases de cálculo não está sujeita à 
noventena. 
O quadro das exceções ao princípio da anterioridade e à 
noventena é a que segue.Preste atenção: se é exceção é porque 
não deve observar o princípio. E todos os demais tributos devem 
observar as duas anterioridades, porque a regra é a observância ao 
princípio. 
Anterioridade anual Noventena 
II II 
IE IE 
IPI IR 
IOF IOF 
IEG IEG 
Empréstimo compulsório por 
motivo de guerra externa ou de 
calamidade pública 
Empréstimo compulsório por 
motivo de guerra externa ou de 
calamidade pública 
Restabelecimento de alíquotas do 
ICMS – Combustíveis e da CIDE – 
Combustíveis 
Base de cálculo do IPTU 
Contribuições para a seguridade 
social 
Base de cálculo do IPVA 
3.1.3.3 MEDIDA PROVISÓRIA 
O art. 62, §2°, da CF, dispõe que medida provisória que 
implique instituição ou majoração de impostos só produzirá 
efeitos no exercício financeiro seguinte (anterioridade genérica) se 
houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi 
editada, exceto nos casos do imposto de importação (II), imposto de 
exportação (IE), imposto sobre produtos industrializados (IPI), 
imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a 
títulos ou valores mobiliários (IOF) e o imposto extraordinário de 
guerra (IEG). 
Decerto, salvo as exceções anteriores, a medida provisória 
(MP) também deve atender também a anterioridade nonagesimal ou 
noventena, contada da publicação da medida provisória se esta 
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for convertida em lei sem alterações substanciais realizadas pelo 
Poder Legislativo. 
Ao contrário, se a medida provisória for significativamente 
modificada, a noventena é contada da data da conversão da MP em 
lei. Acrescentamos que a medida provisória que implique instituição 
ou majoração de impostos, salvo II, IE, IPI, IOF, IEG, só produzirá 
efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em 
lei até o último dia daquele em que foi editada. 
Importante:o STF tem jurisprudência para a hipótese das 
contribuições da seguridade social, afirmando que, publicada a 
medida provisória até o dia 31 de dezembro, é possível a cobrança da 
contribuição nova ou majorada a partir de 01 de janeiro do exercício 
financeiro seguinte, desde que obedecida a noventena prevista no 
art. 195, § 6º, da CF, e que não tenha havido alteração substancial 
do texto aprovado pelo Congresso Nacional. 
3.1.3.4 ANUALIDADE TRIBUTÁRIA 
O princípio da anualidade tributária estabelece que para criação 
ou majoração de tributo é necessário a prévia autorização em lei 
orçamentária. Tal princípio não é mais vigente no ordenamento 
jurídico atual, segundo doutrina amplamente majoritário. 
3.1.3.5JURISPRUDÊNCIA DO STF 
O STF já consolidou sua jurisprudência no sentido de que não é 
necessária a observância da anterioridade na hipótese de 
prorrogação de alíquota majorada já vigente. 
Em caso decidido recentemente (RE 584110), por exemplo, o 
STF entendeu que determinada lei paulista, que manteve, para o ano 
seguinte, a majoração de alíquota do ICMS de 17% para 18%, já 
vigente em anos anteriores, não necessita cumprir a anterioridade 
nonagesimal (art. 150, III, “c”, da CF/88). 
Isto é, o STF interpretou mais uma vez restritivamente o 
princípio da anterioridade, compreendendo que em caso de mera 
prorrogação de alíquota e não de instituição ou majoração de 
tributo, não há surpresa ou insegurança jurídica para o sujeito 
passivo da relação tributária. 
(CESPE/Defensoria Pública-União/2010) “Considere que determinado 
estado da Federação tenha publicado lei majorando a alíquota do 
ICMS de 18% para 19% e estabelecendo que sua vigência 
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terminariaem 31 de dezembro de 2009. Considere, ainda, que, em 
meados desse mês, tenha sido publicada lei que manteve a alíquota 
de 19% para o ano de 2010. Nesse caso, a lei publicada em 
dezembro de 2009 viola o princípio da anterioridade nonagesimal”. É 
errado. 
Outras decisões importantes são as seguintes: 
• Não há incidência do princípio da anterioridade tributária na 
redução ou a extinção de desconto para pagamento de tributo 
sob determinadas condições previstas em lei, como o 
pagamento antecipado em parcela única, pois não ocorre 
aumento do valor do tributo (ADI 4.016-MC); 
• Revogada a isenção incondicionada, o tributo torna-se 
imediatamente exigível, porque não há que se observar a 
anterioridade, dado que o tributo já é existente (RE 204.062); 
(CESPE/Direito/TCE/AC/2009) “A revogação de isenção tem sido 
equiparada peloSTF à instituição ou majoração de tributo, razão pela 
qual só poderá produzir efeitos no exercício financeiro seguinte, em 
respeito à regra da anterioridade tributária”. É errada. 
• Em caso de taxas, devem observar-se as limitações 
constitucionais ao poder de tributar, dentre essas, a 
anterioridade nonagesimal para que a lei tributária se torne 
eficaz (ADI 3.694); 
(CESPE/Juiz Federal/TRF1/2010) “Às taxas é aplicado o princípio da 
anterioridade de exercício, mas não o da anterioridade nonagesimal, 
que é restrita a impostos e contribuições”. É errada. 
(CESPE/Consultor/ES/2010) “Considerando que uma lei que criou 
uma taxa tenha sido promulgada e publicada em 3/12/2009, com 
vigência a partir da data de publicação, a referida taxa somente 
deverá ser cobrada a partir 1.º de janeiro de 2010”. É errada, em 
face da não obediência a anterioridade nonagesimal. 
• A simples atualização monetária não se confunde com 
majoração do tributo. Logo, a modificação dos fatores de 
indexação, com base em legislação superveniente, não constitui 
desrespeito a situações jurídicas consolidadas, nem 
transgressão ao postulado da não-surpresa, instrumentalmente 
garantido pela cláusula da anterioridade tributária (RE 200.844-
AgR, AI 626.759-AgR); 
• Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação 
tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade (súmula 
669 do STF). 
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3.1.4 PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA FISCAL 
O princípio da transparência fiscal é implícito no texto 
constitucional. 
No direito tributário, busca garantir a adequada e clara 
informação ao sujeito passivo da carga tributária que lhe é imposta. 
Neste sentido, destacam-se dois dispositivos constitucionais, a saber: 
a lei determinará medidas para que os consumidores sejam 
esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e 
serviços (150, § 5º); qualquer subsídio ou isenção, redução de base 
de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão 
(benefícios fiscais) só poderá ser concedido mediante lei específica, 
sem prejuízo dos convênios interestaduais do CONFAZ (art. 150, § 
6º). 
3.2 PRINCÍPIOS VINCULADOS ESPECIALMENTE À JUSTIÇA 
TRIBUTÁRIA 
A justiça é idéia elementar do Direito. No campo da tributação, 
segundo doutrina abalizada, “é basicamente distributiva, 
característica do regime publicístico, consistindo em tratar 
desigualmente aos desiguais na medida em que se desigualam; mas, 
às vezes, é comutativa, própria das relações de troca, como ocorre 
com as taxas e as contribuições”. 
A justiça tributária é consagrada, notadamente, pelos princípios 
constitucionais da igualdade (art. 150, II), da capacidade contributiva 
(art. 145, §1°) e do não-confisco (art. 150, IV). 
3.2.1PRINCÍPIO DA IGUALDADE 
A isonomia ou igualdade, no âmbito tributário, veda à União, 
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir tratamento 
desigual entre contribuintes que se encontrem em situação 
equivalente, o que proíbe qualquer distinção em razão de ocupação 
profissional ou função por eles exercida, independentemente da 
denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos (art. 150, 
II). 
Importante: Victor Uckmar distingue dois sentidos da igualdade 
tributária: (a) igualdade no sentido jurídico, que exige igual regime 
fiscal a contribuintes que estejam em idênticas situações; (b)
igualdade no sentido econômico, que significa dever de contribuir em 
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igual medida, com a graduação dos impostos de acordo com a 
capacidade contributiva dos indivíduos. 
3.2.1.1 PRIVILÉGIOS ODIOSOS 
A isonomia não proíbe qualquer tipo de discriminação, mas sim 
as discriminações irrazoáveis, chamadas pela doutrina de privilégios 
odiosos, tais como as decorrentes de opção sexual, origem, sexo, 
raça, crença religiosa, convicção filosófica ou política. Em outras 
palavras, discriminações razoáveis são juridicamente consentidas, 
desde que pertinentes aos interesses constitucionalmente protegidos, 
sobretudo, os direitos e garantias individuais. Decerto, deve existir 
correlação lógica e pertinência constitucional entre o tratamento 
tributário diferenciado (v.g., benefício fiscal) e o elemento de 
discriminação tributária. 
Nesse rumo, o art. 150, II, da CF, afirma expressamente que os 
contribuintes em situação equivalente terão tratamento igual, 
evitando perseguições e favoritismos. Um fácil exemplo de privilégio 
odioso seria a isenção tributária de IPVA para os automóveis de todos 
aqueles que ocupam o cargo de Senador Federal, o que tornaria tais 
indivíduos privilegiados de forma ilegítima em relação a todos os 
demais contribuintes. 
3.2.1.2 PRINCÍPIO DO NON OLET 
O dinheiro não tem cheiro, como já afirmava historicamente o 
Imperador Vespasiano na Roma Antiga. Deste modo, todos aqueles 
que realizam a situação geradora da obrigação tributária, em 
princípio, deverão pagar o tributo, independentemente da legalidade 
do ato que gera o fato presuntivo de riqueza tributável. 
Ressaltamos, assim, que é legitima a cobrança de imposto de 
renda (IR) incidente sobre produtos financeiros resultantes de 
atividades criminosas (STF, HC n° 77.530-RS). É a consideração 
objetiva da manifestação da riqueza para fins de incidência tributária, 
de acordo com a isonomia e o art. 118, I, do CTN. Por exemplo, 
também é lícita a cobrança de tributos resultantes de atividades de 
bicheiro, doleiros, “mensaleiros” (caixa dois) etc. 
3.2.1.3 JURISPRUDÊNCIA DO STF 
A jurisprudência relevante e atual do STF no que concerne ao 
princípio da igualdade é a seguinte: 
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• Desrespeita a isonomia tributária a isenção de IPTU, em razão 
da qualidade de servidor público (AI 157.871-AgR), e a isenção 
dos membros do Ministério Público do pagamento de custas 
judiciais, notariais, cartorárias e quaisquer taxas ou 
emolumentos (ADI 3.260); 
(CESPE/PROCURADOR/PE/2009) “Lei complementar estadual que 
isente os membros do MP do pagamento de custas judiciais ou 
emolumentos é constitucional”. É errada. 
• Não é possível ao Poder Judiciário estender isenção a 
contribuintes não contemplados pela lei, a título de isonomia 
(RE 159.026, RE 344.331); 
• Não é possível o STF efetivar a extensão do tratamento 
tributário diferenciado concedido às instituições financeiras, às 
cooperativas e às revendedoras de carros usados, a título do 
PIS/PASEP e da COFINS, o que implicaria converter-se o STF 
em legislador positivo (RE 402.748-AgR); 
• Não ofende o princípio da isonomia lei que restringe os 
contribuintes da COSIP aos consumidores de energia elétrica do 
município, ante a impossibilidade de se identificar e tributar 
todos os beneficiários do serviço de iluminação pública (RE 
573.675); 
• Não há ofensa a isonomia tributária se a lei, por motivos 
extrafiscais, imprime tratamento desigual a microempresas e 
empresas de pequeno porte de capacidade contributiva distinta, 
afastando do regime do Simples aquelas cujos sócios têm 
condição de disputar o mercado de trabalho sem assistência do 
Estado (ADI 1.643); 
• A sobrecarga imposta aos bancos comerciais e às entidades 
financeiras, no tocante à contribuição previdenciária sobre a 
folha de salários, não fere o princípio da isonomia tributária, 
ante a expressa previsão constitucional (§ 9º do art. 195; AC 
1.109-MC); 
• Não há violação ao princípio da isonomia o diploma legal que 
estabelece valores específicos para cada faixade contribuintes, 
sendo estes fixados segundo a capacidade contributiva de cada 
profissional (ADI 453); 
• A instituição de incentivos fiscais a empresas que contratam 
empregados com mais de quarenta anos, utiliza-se do caráter 
extrafiscal dos tributos, sem violar o princípio da isonomia (ADI 
1.276). 
3.2.2PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA 
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Disposta no art. 145, §1°, da CF, a capacidade contributiva é 
instrumento de solidificação da igualdade tributária, que opera como 
limite e graduação da obrigação de pagar o tributo e deve ser vista 
sob duas perspectivas. 
Em primeiro lugar, o aspecto objetivo ou absoluto, que leva 
em conta as manifestações reais de riqueza do fato tributável, isto é, 
o legislador deve eleger as situações ou atividades que revelem a 
capacidade econômica do sujeito passivo (“signos presuntivos de 
riqueza”). Por exemplo, ser proprietário de um veículo, auferir renda, 
importar um produto estrangeiro. Com feito, a capacidade 
contributiva absoluta é fundamento para instituição do imposto e, por 
conseguinte, serve de orientação para o legislador na escolha das 
hipóteses de incidência. 
Em segundo lugar, o aspecto subjetivo ou relativo, que tem 
em conta as particularidades de cada sujeito passivo (capacidade 
contributiva in concreto) e tem aplicação direta com o princípio da 
personalização dos impostos. Assim, a capacidade contributiva 
relativa serve de limite à incidência tributária e critério para 
progressividade do imposto. 
Decerto, apesar de a doutrina consagrar como sinônimos os 
termos capacidade contributiva e capacidade econômica, a primeira 
significa a capacidade de pagar impostos (abilitytopay), pressupondo 
a capacidade econômica (renda, patrimônio e consumo), mas 
também as características pessoais, tal como a redução da base de 
cálculo do imposto de renda com as deduções com despesas de 
saúde, educação e dependentes. 
Em outras palavras, a capacidade contributiva é aptidão para 
suportar e pagar o tributo (conceito mais amplo) e a capacidade 
econômica é a mera potencialidade de aquisição de riquezas (conceito 
mais restrito). Tal distinção é relevante do ponto de vista de justiça 
fiscal, na medida em que otimizar a pura capacidade econômica do 
sujeito passivo é não tomar em conta a tributação isonômica e justa, 
que deve buscar mensurar adequadamente a riqueza real dos 
indivíduos. Ou seja, a tributação justa deve privilegiar a riqueza 
efetiva e real do sujeito passivo e não só a riqueza presumida, tal 
como o simples ganho de capital. 
Importante: A doutrina entende que são modos de concretização do 
princípio da capacidade contributiva a: (i) imunidades tributárias; (ii) 
isenção; (iii) seletividade e (iv) progressividade. 
3.2.2.1 A PERSONALIZAÇÃO DOS IMPOSTOS 
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É um subprincípio da capacidade contributiva, explicitamente 
previsto no art. 145, §1°, da CF, que dispõe que, sempre que 
possível, os impostos terão caráter pessoal. 
Assim, sempre que possível, deve-se analisar as características 
pessoais do sujeito passivo, o que acontece, por exemplo, na 
quantificação do IR que tem como parâmetros de dedução do seu 
valor os gastos com educação, saúde, dependentes, dentre outros. 
3.2.2.2 MÍNIMO VITAL 
O mínimo existencial, também denominado de mínimo 
indispensável ou mínimo vital, é corolário da capacidade contributiva, 
sendo o direito à não tributaçãodo rendimento necessário a dignidade 
da pessoa humana, tendo como parâmetro o salário mínimo previsto 
constitucionalmente (art. 7°, IV). 
Isto é, o mínimo vital é um limite mínimo para a tributação 
estatal, o que significa a eliminação da tributação sobre a renda 
necessária para sobrevivência do indivíduo e de sua família. Por 
exemplo, a isenção no imposto de renda (IR) no que diz respeito ao 
limite mínimo de renda ou proventos adquiridos ou a isenção de 
custas judiciais para os reconhecidamente pobres. 
3.2.2.3 APLICAÇÃO AS ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS 
Nesse rumo,apesar da literalidade do art. 145, §1°, da CF, 
que dispõe sobre a aplicação da capacidade contributiva apenas aos 
impostos, a jurisprudência do STF firmou orientação no sentido da 
aplicação às taxas, especialmente quando fato gerador é o exercício 
do poder de polícia como fato gerador (RE 216.259-AgR, RE 
177.835). 
(CESPE/Direito/TCE/AC/2009) “O princípio da capacidade 
contributiva, segundo previsão expressa na CF, aplica-se a todos os 
tributos federais, estaduais e municipais”. É errada. 
No que diz respeito a contribuição social do empregador, da 
empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei (art. 195, I, 
“a”, “b” e “c”), a CF também deixou caminho aberto para aplicação 
da capacidade contributiva, pois tais contribuições poderão ter 
alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade 
econômica, da utilização intensiva de mão-de-obra, do porte da 
empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho. 
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Por sua vez, realçamos o entendimento da ESAF em 2009 de 
que a capacidade contributiva não se aplica as multas tributárias, em 
face da ausência explícita de previsão constitucional. 
3.2.2.4 JURISPRUDÊNCIA DO STF 
Ressaltamos como atuais as seguintes decisões do STF: 
• “A exigibilidade do ISS, uma vez ocorrido o fato gerador — que 
é a prestação do serviço —, não está condicionada ao 
adimplemento da obrigação de pagar-lhe o preço, assumida 
pelo tomador dele: a conformidade da legislação tributária com 
os princípios constitucionais da isonomia e da capacidade 
contributiva não pode depender do prazo de pagamento 
concedido pelo contribuinte a sua clientela.” (AI 228.337-AgR); 
• O fato de um dos elementos utilizados na fixação da base de 
cálculo do IPTU – a metragem da área construída do imóvel – 
ser tomado com parâmetro na determinação da alíquota da 
taxa de coleta de lixo é uma forma de realização da isonomia 
tributária e do princípio da capacidade contributiva (RE 
232.393, RE 336.782-AgR); 
• A CF não autoriza a progressividade das alíquotas no ITBI, 
realizando-se o princípio da capacidade contributiva 
proporcionalmente ao preço da venda do imóvel (RE 
234.105). 
3.2.3 PRINCÍPIO DO NÃO-CONFISCO 
Tem como base fundamental o direito constitucional de 
propriedade (art. 5º, XXII) e dispositivo explícito do sistema 
tributário nacional (art. 150, IV), sendo um limite máximo para a 
tributação. Isto é, enquanto o mínimo vital é um limite mínimo para 
incidência tributária, o não-confisco é um limite máximo. 
A Constituição não define o que seja confisco, competindo, em 
última instância, ao Poder Judiciário estabelecer, utilizando-se da 
razoabilidade e proporcionalidade, os contornos deste conceito 
jurídico indeterminado. 
Neste sentido, conforme doutrina amplamente majoritária, 
compreendemos que o princípio da vedação do tributo com efeito de 
confisco pode alcançar qualquer espécie tributária e deve ser 
interpretado de forma sistemática com outros princípios 
constitucionais. Isto é, o caráter confiscatório ou não do tributo deve 
ser analisado em conjunto, sobretudo, com os princípios do direito a 
propriedade, dignidade da pessoa humana, liberdade de trabalho, 
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ofício ou profissão, igualdade, capacidade contributiva e 
progressividade. 
3.2.3.1PERSPECTIVA DINÂMICA E PERSPECTIVA ESTÁTICA 
A perspectiva dinâmica e a perspectiva estática de incidência 
do princípio do não confisco é uma distinção que analisa a aplicação 
da proibição de tributo com efeito de confisco sob a ótica temporal 
das normas tributárias. 
Deste modo, afirma Fabio BrunGoldschmidt: “A perspectiva 
estática faz a análise da aplicabilidade do art.150, IV diante de uma 
dada realidade normativa vigente; diz com os resultados, os 
efeitos funestos causados pela legislação em vigor. A perspectiva 
dinâmica, por outro lado, tem em vista, não as leis em si mesmas 
consideradas, mas a transição normativa como um processo; diz com 
os efeitos confiscatórios que podem ser gerados pela alteração das 
normas tributárias”. 
Assim, conforme afirmamos em estudos publicados 
periodicamente no site <www.pontodosconcursos.com.br>, a 
perspectiva estática diz respeito à análise do princípio do não-
confisco em razão do valor dos tributos vigentes no ordenamento 
jurídico (“quantum do tributo”) e a perspectiva dinâmica avalia o 
efeito do princípio do não-confisco na alteração ou mutação ocorrida 
na legislação tributária (“quantum do aumento dos tributos”). 
Noutra perspectiva, Aires Barreto afirma que o imposto sobre a 
renda pode ser confiscatório e também os impostos sobre o 
patrimônio, quer considerados em sua perspectiva estática 
(propriedade imobiliária – IPTU e ITR), quer em sua perspectiva 
dinâmica (transmissão de propriedade imobiliária – ITCMD e ITBI). 
Assim, o imposto incide numa perspectiva estática quando 
considera apenas o patrimônio em si mesmo, isto é, a pura 
manutenção do patrimônio é adotada como índice de capacidade 
contributiva. Assim, o ITR, o IPTU, o IGF e o IPVA são exemplos 
característicos de impostos que tomam o patrimônio, a partir de uma 
perspectiva estática. 
Por sua vez, o imposto incide numa perspectiva dinâmica 
quando considera possíveis modificações patrimoniais (riqueza 
renovável), ou seja, as mutações dos elementos patrimoniais são 
adotadas como índice de capacidade contributiva. Isto é, a saída e a 
entrada (“movimentações”: ingresso, circulação, transferência, 
transmissão e doação) de riqueza relevam a possibilidade de suportar 
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o ônus tributário. Decerto, o II, IE, IR, IPI, IOF, ITCMD, ICMS e ITBI 
oneram o patrimônio, a partir de uma perspectiva dinâmica. 
Importante: No mundo da realidade, os tributos podem ser
confiscatórios (mundo do ser). Contudo, de acordo com o nosso 
ordenamento jurídico, sobretudo, em razão do art. 150, IV, da CF, os 
tributos não devem ser confiscatórios (mundo do Direito). 
3.2.3.2 IMPOSTO PROIBITIVO, IMPOSTO EXCESSIVO E 
IMPOSTO CONFISCATÓRIO 
A vedação ao imposto proibitivo, princípio implícito derivado do 
não-confisco tributário, objetiva impedir a onerosidade excessiva ou 
exacerbada do imposto que obste o aproveitamento da atividade 
econômico do sujeito passivo. 
O imposto proibitivo fere de morte o princípio constitucional da 
livre iniciativa (art. 1°, IV) e as garantias constitucionais do 
desenvolvimento nacional (art. 3°, II) e do livre exercício profissional 
(art. 5°, XIII). 
Ademais, a doutrina de Sampaio Dória distingue imposto 
proibitivo, imposto excessivo e imposto confiscatório: 
• Imposto proibitivo asfixia, destrói e impossibilita a atividade 
tributada; 
• Imposto excessivo desencoraja ou dificulta a atividade 
tributada; 
• Imposto confiscatório absorve parcela substancial da 
propriedade ou a totalidade da renda do indivíduo ou da 
empresa. 
3.2.3.3 JURISPRUDÊNCIA DO STF 
As decisões relevantes do STF são as seguintes: 
• “A multa moratória de 20% ou 30% do valor do imposto 
devido, não se mostra abusiva ou desarrazoada, inexistindo 
ofensa aos princípios da capacidade contributiva e da vedação 
ao confisco” (RE 239.964, AI 755.741-AgR, RE 220.284); 
• Não existe caráter confiscatório de multa de 100% imposta ao 
contribuinte, por meio de lançamento de ofício, que decorre do 
fato de haver-se ele omitido na declaração e recolhimento 
tempestivo da contribuição (RE 241.087-AgR); 
• Fere o princípio constitucional da não-confiscatoriedade 
diploma legislativo que institui multa fiscal de 300% (ADI 
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1.075-MC, AI 482.281-AgR); 
(CESPE/Juiz Federal/TRF1/2010) “Contra a imposição de multas por 
sonegação fiscal ou mesmo pelo não recolhimento do tributo, não se 
pode argumentar com a proibição constitucional de utilização de 
tributo com efeito de confisco, já que de tributo não se trata”. É 
incorreta. 
• Não configura confisco decisão que, a partir de normas 
estritamente legais, aplicáveis a espécie, resultou na perda de 
bem móvel importado (AI 173.689-AgR); 
• Taxa: correspondência entre o valor exigido e o custo da 
atividade estatal. Se o valor da taxa ultrapassar o custo do 
serviço prestado ou posto à disposição do contribuinte, 
dando causa a uma situação de onerosidade excessiva, que 
descaracterize essa relação de equivalência, configurar-se-á 
hipótese de ofensa ao princípio do não-confisco (ADI 
2.551-MC-QO); 
• A instituição de alíquotas progressivas para a contribuição 
previdenciária dos servidores públicos ofende o princípio da 
vedação de utilização de qualquer tributo com efeito 
confiscatório (AI 701.192-AgR); 
• A identificação do efeito confiscatório deve ser feita em 
função da totalidade da carga tributária, mediante 
verificação da capacidade do contribuinte para suportar e sofrer 
a incidência de todos os tributos que ele deverá pagar, dentro 
de determinado período, à mesma pessoa política que os 
houver instituído. Assim, resulta configurado o caráter 
confiscatório de determinado tributo, sempre que o efeito 
cumulativo – resultante das múltiplas incidências 
tributárias estabelecidas pela mesma entidade estatal – 
afetar, substancialmente, de maneira irrazoável, o 
patrimônio e/ou os rendimentos do contribuinte. (ADC 8-
MC; ADI 2.551-MC-QO); 
• O regime de substituição tributária ‘para frente’ não ofende ao 
princípio do não-confisco (AI 207.377 AgR); 
• “Imposto de Importação. Aumento de alíquota de 4% para 
14%. A caracterização do efeito confiscatório pressupõe a 
análise de dados concretos e de peculiaridades de cada 
operação ou situação, tomando-se em conta custos, 
carga tributária global, margens de lucro e condições 
pontuais do mercado e de conjuntura social e econômica
(...). O isolado aumento da alíquota do tributo é insuficiente
para comprovar a absorção total ou demasiada do produto 
econômico da atividade privada, de modo a torná-la inviável ou 
excessivamente onerosa” (RE 448.432-AgR, DJE de 28-5-
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2010); 
• “A desproporção entre o desrespeito à norma tributária e sua 
consequência jurídica, a multa, evidencia o caráter 
confiscatório desta, atentando contra o patrimônio do 
contribuinte”, em oposição a proibição de tributos com efeito de 
confisco (ADI 551, DJ de 14-2-2003). 
3.3 PRINCÍPIOS VINCULADOS ESPECIALMENTE À FORMA 
FEDERATIVA DE ESTADO 
O federalismo é a formade organização do estado brasileiro, 
tendo como características fundamentais a: (i) descentralização 
político-administrativa fixada pela Constituição, por meio do processo 
de repartição das competências legislativas e tributárias; (ii)
autonomia dos Estados federados, de acordo com a Constituição; 
(iii) participação das vontades parciais na vontade geral, que é a 
participação dos Estados federadosnas decisões da União (Senado 
Federal); (iv) auto-organização dos Estados-membros por meio de 
Constituições próprias; (v) existência órgãos próprios dos Estados-
membros para o exercício das funções legislativa, executiva e 
jurisdicional. 
Nesse rumo, na seara tributária, há princípios constitucionais 
com o objetivo de preservar o pacto federativo, tais como o da 
liberdade de tráfego (art. 150, V), da uniformidade geográfica (art. 
151, I), da não-discriminação em razão da procedência ou destino 
(art. 152) e da territorialidade das leis. 
3.3.1 PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE TRÁFEGO 
Expresso no art. 150, V, da CF/88,proíbe à União, aos Estados, 
ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer limitações ao tráfego 
de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou 
intermunicipais, salvo a cobrança de pedágios pela utilização de 
vias conservadas pelo Poder Público. 
Decerto, o princípio em análise confirma a proteção 
constitucional da liberdade de locomoção, devendo-se entender que o 
fato gerador de qualquer tributo deve ser distinto de transposição de 
Municípios e de transposição de Estados. Caso contrário, prejudicar-
se-ia o tráfego de pessoas e bens no território nacional. 
(CESPE/Consultor/ES/2010) “Se, devido a incentivos fiscais 
concedidos pelo governo do Espírito Santo, novas empresas 
produtoras de automóveis instalarem-se no estado, e esse fato 
contribuir para atrair milhares de trabalhadores de outros estados 
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brasileiros, nesse caso, visando conter o fluxo migratório e para não 
prejudicar a política de geração de empregos local, o governador 
poderá instituir um tributo interestadual, limitando a entrada de 
trabalhadores de outros estados, pelo mesmo período de tempo do 
incentivo fiscal concedido às montadoras de automóveis”. É errada. 
Ademais,ressaltamos que o ICMS cobrado nos Postos Fiscais de 
fronteira é cobrado em virtude da “circulação de mercadorias” (um 
dos fatos geradores do ICMS) e não pelas transposições territoriais 
supramencionadas. 
3.3.2 PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA 
O princípio da uniformidade geográfica está estabelecido no art. 
151, I, da CF/88, afirmando que é vedado à União instituir tributo 
que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique 
distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a 
Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de 
incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do 
desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões 
do País. 
(CESPE/Advogado/CEF/2010) “A União pode instituir tributo que não 
seja uniforme em todo o território nacional”. É errada, conforme 
gabarito definitivo da banca, pois, em regra, é proibido. 
Portanto, o princípio da uniformidade geográfica prega que é 
vedado a União instituir ou majorar tributos de forma desigual em 
todo o território nacional. Assim, por exemplo, o tributo de 
competência da União deve conter a mesma alíquota em todo o 
Brasil. 
Entretanto, existe uma atenuação a este princípio no caso de 
incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do 
desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País. 
Por exemplo, a União deve conceder a Zona Franca de Manaus 
benefícios fiscais até 2023, conforme o art. 92 dos Atos das 
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). 
3.3.2.1 A VEDAÇÃO DA TRIBUTAÇÃO DIFERENCIADA DA 
RENDAS DAS OBRIGAÇÕES DE DÍVIDA PÚBLICA E DA 
REMUNERAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS 
É o impedimento constitucional da União detributar a renda das 
obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos 
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agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas 
obrigações e para seus agentes (art. 151, II). 
3.3.2.2 A VEDAÇÃO DAS ISENÇÕES HETERÔNOMAS 
O texto constitucional proíbe a Uniãodeinstituir isenções de 
tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos 
Municípios (art. 151, III). No entanto, segundo interpretação 
consolidada no STF e STJ, o âmbito de aplicação desta norma é o das 
relações das entidades federadas entre si (ordem interna) e não a 
atuação da União na ordem externa (tratados, convenções e acordos 
internacionais). 
3.3.3 PRINCÍPIO DA NÃO-DISCRIMINAÇÃO EM RAZÃO DA 
PROCEDÊNCIA OU DESTINO 
Previsto no art. 152 da CF/88 veda aos Estados, ao Distrito 
Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e 
serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou 
destino. 
(CESPE/Advogado/CEF/2010) “Qualquer ente federativo pode instituir 
tributo que importe em distinção ou preferência em favor de 
determinado estado ou município”. É errada. 
(CESPE/Advogado/CEF/2010) “Os estados podem estabelecer 
diferenças tributárias entre bens de qualquer natureza, em razão de 
sua natureza ou do seu destino”. É errada. 
Decorre do princípio federativo, pois busca evitar a “guerra 
fiscal” entre os entes federados. Neste sentido, o STF declarou a 
inconstitucionalidade do Decreto 35.528/2004, do Estado do Rio de 
Janeiro (RJ), que estabelecia redução na base de cálculo do ICMS nas 
saídas internas de café torrado ou moído produzido em 
estabelecimento industrial localizado no Estado do RJ, uma vez que 
gerava um grave óbice à livre circulação de bens e mercadorias entre 
Estados da federação (ADI 3.389; ADI 3.673). 
(CESPE/Advogado/CEF/2010) “É vedado aos municípios, e não aos 
estados, ao DF e à União, o estabelecimento de diferenças tributárias 
entre bens de qualquer natureza, em razão de sua natureza ou de 
seu destino”. É errada. 
3.3.4 PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE DAS LEIS 
É princípio implícito,assentando que as leis tributárias só têm 
validade e eficácia no âmbito do Poder Legislativo que o produziu. 
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Assim, em princípio, no caso da União (Congresso Nacional), a lei tem 
validade no território nacional. Na hipótese de lei estadual 
(Assembléia Legislativa), a lei tem validade no território estadual. No 
caso de lei municipal (Câmara de Vereadores), a lei tem validade no 
território municipal. Portanto, a regra é a territorialidade. 
Contudo, existem casos extraterritorialidade como no caso dos 
tratados internacionais. Outro exemplo é o art. 102 do CTN, dispondo 
que a “legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios vigora, no País, fora dos respectivos territórios, nos limites 
em que lhe reconheçam extraterritorialidade os convênios de que 
participem, ou do que disponham esta ou outras leis de normas 
gerais expedidas pela União”. 
3.4 PRINCÍPIOS CARACTERÍSTICOS A DETERMINADOS 
TRIBUTOS 
Alguns princípios tributários dizem respeito explicitamente a 
determinados tributos, a saber: (i)generalidade, universalidade e 
progressividade no IR (art. 153, §2°); (ii) obrigatoriedade 
daseletividade e da não-cumulatividade no IPI (art. 153, §3°); (iii) 
progressividade de forma a desestimular a manutenção de 
propriedades improdutivas no ITR (art. 153, §4°); (iv) 
facultatividadedaseletividade e obrigatoriedade da não-
cumulatividade no ICMS (art. 155, §2°); (v) progressividade em 
função do tipo e utilização do veículo no IPVA (art. 155, §6°); (vi) 
progressividade em razão do valor do imóvel e da função social da 
propriedade (aproveitamento do solo urbano) no IPTU (arts. 156, §1, 
e 182, § 4º II). 
3.4.1 PRINCÍPIOS DA GENERALIDADE E DA UNIVERSALIDADE

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