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3a Avaliação Presencial de Física 1A - 2o Semestre de 2016 Gabarito 1a Questão [2,5 pontos] Num parque de diversões, um carrinho que se desloca sobre um trilho parte do repouso e desce uma rampa de altura h. Ao chegar à base da rampa, o carrinho começa a subir um “loop” circular de raio R (veja a figura abaixo). R h θ A B Figura 1: Representação esquemática do problema da questão 1. (a) [0,5 ponto] Sem fazer contas, explique qual a condição para que o carrinho complete o “loop”. (b) [0,5 ponto] Considere que a altura h seja suficiente para que o carrinho complete o “loop”. Qual o movimento circular descrito pelo carrinho: uniforme, uniformemente variado ou não-uniformemente variado? Explique. (c) [0,5 ponto] Considerando agora que o carrinho se desloca sem atrito, qual o menor valor hmin de h para que o carrinho complete o “loop”? (d) [0,5 ponto] Se a altura h é tal que R < h < hmin, o carrinho cai do trilho num ponto B, quando ainda falta percorrer um ângulo θ para atingir o topo (veja a figura). Calcule esse ângulo θ. (e) [0,5 ponto] Se a altura h é tal que h < R, o quê ocorre com o carrinho depois que ele começa a subir o “loop”? Calcule o ângulo α percorrido entre o início do “loop” e o ponto mais alto atingido pelo carrinho. Solução (a) Para que o carrinho complete o “loop”, é preciso que ele mantenha contato com o trilho ao longo de toda a trajetória circular. Se há contato, então existe um força normal não-nula, logo a condição é que a força normal seja não-nula em toda a extensão da trajetória circular. Podemos especificar um pouco mais essa condição se notarmos que a normal atinge seu menor valor no ponto mais alto do “loop”, então a condição-limite para que o carrinho realize uma volta completa é que a normal seja zero no ponto mais alto. 1 (b) Para uma partícula que descreve um movimento circular, este será uniforme se a aceleração possuir apenas uma componente radial ar (centrípeta); se o movimento for uniformemente variado, a acelera- ção possuirá, além da componente ar, uma componente tangencial at que deverá ser constante; já no movimento não-uniformemente variado, novamente a aceleração terá componentes ar e at, mas agora at varia durante a trajetória. Considere o carrinho nos pontos B e C da trajetória (veja a figura ??): no ponto C, a componente tangencial da força resultante (FRt) é o próprio peso; já no ponto B, FRt tem um valor menor. Con- cluímos então que a componente tangencial da força resultante não é constante durante a trajetória. Como a componente at da aceleração é proporcional a FRt, vemos que o movimento circular é não- uniformemente variado. N P N P PR C B Figura 2: componente tangencial da força resultante em dois pontos da trajetória. (c) O menor valor de h para que o carro complete o “loop” corresponde a uma valor nulo para a normal no ponto mais alto da trajetória circular. Se −→ N = 0 nesse ponto a força resultante é o próprio peso e, uma vez que o carrinho descreve uma trajetória circular, essa força resultante deve ser igual à força centrípeta FC = mv2/R: P = mv2 R =⇒ mg = mv 2 R =⇒ v = √ Rg. (1) Como o carrinho se desloca sem atrito, não há forças dissipativas agindo e sua energia mecânica total se conserva. Dessa forma, a energia mecânica no topo da rampa (mgh) deve ser igual à energia mecânica no ponto A (EMA = mg2R + (1/2)mv2): mgh = mg2R + 1 2 mv2 =⇒ gh = 2Rg + 1 2 v2. (2) Como v = √ Rg, temos: gh = 2Rg + 1 2 Rg =⇒ hmin = 5 2 R. (3) hmin = 5 2 R. (4) (d) Se h é tal que R < h < hmin, o carrinho cairá no ponto B, onde a normal se anula. Podemos decompor a força peso em componentes radial (Pr = P cos θ, onde θ é o ângulo definido na figura 1) e tangencial, e Pr deve ser igual à forca centrípeta mv2/R: 2 P cos θ = mv2 R =⇒ v = √ Rg cos θ. (5) Novamente utilizando a conservação da energia, podemos relacionar a energia mecânica no topo da rampa (mgh) com a energia no ponto B ((1/2)mv2 + hB, onde hB é a altura do ponto B). Podemos escrever hB como hB = R +R cos θ = R(1 + cos θ). Escrevendo a conservação da energia: mgh = 1 2 mv2 +mgR(1 + cos θ). (6) Como v2 = Rg cos θ (equação 2), temos: gh = 1 2 Rg cos θ +Rg +Rg cos θ. (7) h−R = 3 2 R cos θ. (8) cos θ = 2 3 ( h−R R ) = 2 3 ( h R − 1 ) (9) cos θ = 2 3 ( h R − 1 ) . (10) (e) Se h < R, a conservação da energia indica que o ponto mais alto atingido pelo carro terá uma altura menor do que R, isto é, o ângulo α (veja a figura 3) será menor do que pi/2. Na figura fica clara também a relação entre R, h e α: R = h+R cosα =⇒ cosα = R− h R = 1− h R . (11) cosα = 1− h R . (12) h R α R cos α Figura 3: desenho esquemático mostrando o ângulo α. 3 2a Questão (2,5 pontos) Um satélite de massa m gira em torno da Terra em uma órbita circular de raio R sob a ação apenas da força gravitacional terrestre. Lembre-se que a força gravitacional entre dois corpos separados por uma distância r é ~Fg = −Gm1m2 r2 rˆ e considere como dados adicionais do problema a massa da Terra MT e a constante gravitacional G. (a) [1,0 ponto] Encontre a expressão da energia mecânica do satélite em termos dos dados do problema. (b) [0,5 ponto] Qual o trabalho realizado pela força gravitacional que a Terra exerce sobre o satélite em uma volta completa do satélite em sua órbita? (c) [1,0 ponto] Suponha que os motores no satélite sejam acionados até que ele passe para uma nova órbita circular de raio 2R. Quais os trabalhos realizados pela força gravitacional e pela força de propulsão dos motores do satélite no trajeto entre as órbitas de raios R e 2R? Solução (a) Como a força gravitacional é conservativa, podemos associar a ela uma energia potencial. A variação dessa energia potencial entre dois pontos que estão a distâncias r1 e r2 é igual a menos o trabalho realizado por −→ Fg entre esses pontos: U(r2)− U(r1) = − ∫ r2 r1 −→ Fg · d−→r . (13) Como −→ Fg = −(Gm1m2 eˆr)/r2 e d−→r = dr eˆr, obtemos: U(r2)− U(r1) = − ∫ r2 r1 Gm1m2d−→r . (14) U(r2)− U(r1) = − Gm1m2 r ∣∣∣∣r2 r1 = −Gm1m2 ( 1 r2 − 1 r1 ) . (15) Tomando r1 = ∞ e escolhendo esse ponto como o zero de nossa energia potencial (de maneira que U(r1) = 0), obtemos: U(r2)− 0 = −Gm1m2 r2 =⇒ U(r) = −Gm1m2 r (16) A essa energia potencial devemos somar a energia cinética EC = (mv2)/2 para obter a energia total da partícula. Como queremos expressar a energia em termos das variáveis do problema, devemos lembrar que, como se trata de um movimento circular, a força resultante é a força centrípeta, e ela deve ser igual à força gravitacional: mv2 R = −GmMT R2 =⇒ v = √ GMT R . (17) Portanto a energia mecânica do satélite pode ser escrita como 4 EM = 1 2 mv2 − GmMT R = 1 2 m GMT R − GmMT R = −1 2 GmMT 2R . (18) EM = −1 2 GmMT 2R . (19) (b) Como a força gravitacional é conservativa, o trabalho realizado ao longo de uma trajetória é igual ao negativo da variação de energia potencial. Ao fim de uma volta completa, a energia potencial não terá variado (pois esta só depende da distância r ao centro da trajetória), portanto o trabalho realizado pela força gravitacional é nulo. Outra maneira de resolver essa questão é notar que, como a força aponta na direção radial, ela será sempre ortogonal a qualquer trajetória circular, portanto o trabalho realizado será nulo. (c) O trabalho realizado pela força gravitacional é igual a menos a variação de energia potencial: WR→2RFg = −∆U = −U(2R) + U(R) = GmMT ( 1 2R − 1 R ) = −GmMT 2R . (20) Para encontrar o trabalho realizado pela forca de propulsão −→ FP, utilizaremos o Teorema do Trabalho- Energia Cinética: o trabalho total realizado (WT = WFg+WFp) é igual à variação da energia cinética: WT = ∆K WFg +WFp = 1 2 m ( v22 − v21 ) . (21) Mas vimos que numa trajetória de raio R a velocidade do satélite é dada por v = √ (GMT)/R. Portanto WFg +WFp = 1 2 m ( GMT 2R − GMT R ) = −GmMT 4R . (22) E o trabalho realizado pela força de propulsão será dado por 5 WFp = −WFg − GmMT 4R = GmMT 2R − GmMT 4R = GmMT 4R . (23) WFp = GmMT 4R . (24) 3a Questão (2,5 pontos) Um rio de 1 km de largura tem uma correnteza de velocidade vr = 1, 5 km/h. Um homem quer atravessar o rio de barco, remando a uma velocidade de 2,5 km/h em relação à água. Inicialmente, o barco está na posição P , indicada na figura abaixo. 2. (*) [2,5 pontos] Um rio de 1 km de largura tem uma correnteza de velocidade vr = 1,5 km/h. Um homem quer atravessar o rio de barco, remando a uma velocidade de 2,5 km/h em relação à água. Inicialmente, o barco está na posição P , indicada na figura. ~vr P O Y X (a) Qual é o tempo mínimo que ele leva para atravessar o rio? (b) Quais os vetores deslocamento do barco, entre o início e o final da travessia, e velocidade em relação à margem durante a travessia, na situação do item anterior? Escreva os vetores utilizando o sistema de eixos apresentado na figura. (c) Suponha agora que o barco atravesse o rio em uma direção perpendicular às margens do rio. Quanto tempo ele leva para atravessá-lo? 3. [2,5 pontos] Um objeto de massa desconhecida é liberado no instante t = 0, na proximidade da superfície da Terra, e entra em queda livre até atingir o solo. O gráfico da variação da energia cinética do objeto em função do tempo é mostrado na figura abaixo. 0 t (s)1 2 3 4 5 K (J) 200 100 (a) Qual o trabalho realizado pelo chão sobre o objeto durante a colisão do mesmo com o chão? Justifique claramente a sua resposta. (b) Utilizando as informações contidas no gráfico, obtenha a altura a partir da qual o objeto foi abandonado. (c) Baseado nos itens anteriores, calcule a massa do objeto. 2 (a) [0,5 ponto] Qual é o tempo mínimo que ele leva para atravessar o rio? (b) [1,0 ponto] Quais os vetores deslocamento do barco, entre o início e o final da travessia, e velocidade em relação à margem durante a travessia, na situação do item anterior? Escreva os vetores utilizando o sistema de eixos apresentado na figura. (c) [1,0 ponto] Suponha agora que o barco atravesse o rio em uma direção perpendicular às margens do rio. Quanto tempo ele leva para atravessá-lo? Solução (a) O tempo mínimo para a travessia corresponde à situação na qual a velocidade do barco −→vb é perpen- dicular à velocidade da correnteza do rio −→vr . A velocidade resultante do barco será −→v = −→vr + −→vb , com −→vr = −vr ıˆ e −→vb = vb ˆ. Podemos ver que a componente dessa velocidade resultante que é per- pendicular à direção do rio é a própria velocidade −→vb , portanto nessa direção temos um movimento uniforme com velocidade vb. Da variação da posição com o tempo (y = y0+vbt = vbt), encontramos o tempo para atravessar a largura L do rio: tL = L vb = 1000 0, 69 = 1449, 3 s. (25) tL = 1.449, 3 s = 24, 2 min. (26) 6 (b) Como vimos no item anterior, a velocidade resultante em relação à margem será simplesmente −→v = −→vr +−→vb = (−1, 5 ıˆ+ 2, 5 ˆ) km/h. (27) Como se trata de um movimento uniforme, o deslocamento pode ser escrito como ∆−→r = −→v ∆t, onde ∆t = 0, 4 h é o tempo necessário para travessia. Portanto: ∆−→r = (−0, 6 ıˆ+ ˆ) km. (28) (c) Nessa situação, a velocidade resultante do barco aponta na direção perpendicular às margens do rio. Para que isso seja possível a velocidade do barco em relação ao rio (de módulo 2,5 km/h) deve possuir um certo ângulo em relação ao eixo x. Escrevendo a velocidade do barco como −→vb = vbx ıˆ + vby ˆ, temos −→v = vr ıˆ+ vbx ıˆ+ vby ˆ. (29) Para que −→v seja perpendicular à direção do rio, é preciso que vbx = −vr. Como vb = √ v2bx + v 2 by, a componente vby pode ser calculada como vby = √ v2b − v2bx = √ v2b − v2r = √ (2, 5)2 − (1, 5)2 = 2 km/h. (30) Novamente, como se trata de um movimento unfiorme o tempo de travessia será tL = L vby = 1 2 = 0, 5 h. (31) tL = 0, 5 h . (32) 4a Questão (2,5 pontos) Um aluno de Física 1A realizou a prática com o trilho de ar inclinado, que é o segundo experimento da Aula 7 dos Módulos de Física 1. Nessa prática, o carrinho se movimenta sobre o trilho de ar, que está inclinado em relação à direção horizontal. A tabela abaixo mostra os pontos medidos para a posição do carrinho e a velocidade do mesmo em função do tempo t. t (ms) x (cm) v (cm/s) 0 0,0± 0,2 - 50 2,9± 0,2 59± 1 100 5,9± 0,2 63± 1 150 9,2± 0,2 68± 1 200 12,7± 0,2 73± 1 250 16,5± 0,2 78± 1 300 20,5± 0,2 82± 1 350 24,7± 0,2 85± 1 400 29,0± 0,2 90± 1 450 33,7± 0,2 94± 1 500 38,4± 0,2 - Obs.: o aluno sabia que a incerteza no tempo de centelhamento era muito menor que a incerteza na medida da posição e, por isso, foi desprezada. Para responder todos os itens posteriores não se esqueça que toda grandeza obtida experimentalmente deve ser acompanhada de sua incerteza! 7 (a) [0,5 ponto] Por que não é possível determinar a velocidade do carrinho no primeiro e no último pontos? (b) [0,5 ponto] Utilizando o papel milimetrado em anexo, faça um gráfico da velocidade do carrinho v em função do tempo. (c) [0,5 ponto] Obtenha, a partir do gráfico, a aceleração do carrinho durante o movimento e a velocidade em t = 0. Estime a incerteza na aceleração e na velocidade inicial como 5% dos valores obtidos. (d) [1,0 ponto] O aluno então resolve fazer uma modificação no experimento, aumentando a inclinação do trilho ENQUANTO O CARRINHO DESLIZA. Como pode ser classificado o movimento do carrinho nesse caso? Solução (a) Sabendo que as posições do carrinho são medidas em intervalos de tempo regulares ∆t, por se tratar de um movimento uniformemente acelerado, podemos encontrar a velocidade do carrinho em um instante t: v(t) = x(t+ ∆t)− x(t−∆t) 2∆t . (33) Dessa forma, no primeiro ponto não é possível obter a velocidade pois não dispomos da medida x(t−∆t = −50ms) e no último não temos a medida x(t+ ∆t = 550ms). (b) O gráfico deve ser construído de acordo com as instruções presentes na Aula 7 do material didático (veja um exemplo na última página desse gabarito). Em particular, o gráfico deve: • possuir um título; • ter as grandezas físicas medidas e suas unidades claramente indicadas nos eixos; • ter escalas bem escolhidas para os eixos, de maneira a facilitar sua leitura e ocupar a maior parte do espaço disponível; • apresentar sobre seus eixos apenas os valores que definem as escalas, e não os valores dos pontos experimentais; • apresentar barras de erro representando as faixas de incerteza das medidas experimentais; (c) Observamos, conforme esperado, que o movimento é uniformemente acelerado fazendo com que a velocidade do carrinho aumente linearmente com o tempo. Ajustando uma reta aos pontos podemos obter a velocidade do carrinho em t = 0 lendo diretamente o valor da velocidade para o qual o tempo é zero. No gráfico encontramos que esse ponto é v(0) = (55± 3) cm/s, (34) onde foi adotada uma incerteza de 5% conforme pedido no enunciado e são apresentados os valores com um ou dois significativos. A aceleração é o coeficiente angular da reta ajustada: a = ∆v ∆t = 88, 0− 66, 0 0, 375− 0, 125 = 88, 0 cm/s 2. (35) a = (88± 4) cm/s2 (36) 8 (d) Se desprezarmos a força de resistência do ar, podemos considerar que o carrinho desliza com uma aceleração dada por g sen θ, onde θ é o ângulo que o trilho faz com a direção horizontal. Se o trilho é mantido numa inclinação fixa (isto é, se θ é mantido constante) a aceleração do carrinho será constante e seu movimento será uniformemente acelerado. Mas se aumentamosa inclinação do trilho, a aceleração estará mudando durante o deslocamento do carrinho. O movimento nesse caso será não-uniformemente variado. 9 0 0,1 0,2 0,3 0,4 52 60 70 80 90 t (s) v(cm/s) 6 10