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TCC - Tutela de Urgência - Pós Graduação Civil e Processo Civil - NOELLE TENÓRIO CASSALHO VETRENKA

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FACULDADE LEGALE
NOELLE TENÓRIO CASSALHO VETRENKA
AS MUDANÇAS NA TUTELA DE URGÊNCIA NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 SÃO PAULO 
2018 
 
 
 
 
AS MUDANÇAS NA TUTELA DE URGÊNCIA NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso de pós graduação da Faculdade Legale, como requisito parcial para obtenção do título de especialização em Direito Civil e Processo Civil. 
 
Orientador: Prof. Dr. Joseval Martins Viana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO
2018 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 NOELLE TENÓRIO CASSALHO VETRENKA 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à minha mãe que sempre me serviu de inspiração para optar pela carreira de advogada, sua dedicação, esforço e paixão pelo Direito fizeram com que desde muito nova eu tivesse a certeza da profissão que iria seguir. Hoje continuo a admirando e aprendendo cada dia mais com ela.
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente aos meus pais por todos os esforços que fizeram para que eu pudesse alcançar os meus objetivos e por todas as orientações e ensinamentos que compartilham comigo em todos os momentos e que são fundamentais para que eu possa ser uma boa mãe, esposa e profissional. 
Aos meus professores Drs. Joseval Martins Viana, Nelson Sussumu Shikicima, Durval Salge Junior, Fábio Batista Cáceres por compartilharem seus conhecimentos e experiências de forma muito técnica, porém leve, didática e extremamente profissional. 
Ao meu marido que me acompanhou ao longo desta a jornada, me dando suporte sempre que precisei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EPIGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Procure ser um homem de valor, ao invés de ser um homem de sucesso." 
 (Willian Shakespeare) 
 
 
 
RESUMO 
 
O intuito deste trabalho é promover o estudo do Código de Processo Civil de 1973 (“CPC de 73”) comparado ao Código de Processo Civil, no que diz respeito à tutela provisória de urgência. Em especial expor o mecanismo de aplicação das medidas de urgência sob a égide do CPC de 73, de modo a traçar quais as inovações trazidas pelo novo diploma processual em relação a estas medidas, com o intuito de poder ao final demonstrar que as alterações promovidas pelo legislador proporcionaram uma maior celeridade processual sem, contudo, colocar em risco a segurança jurídica. Em relação ao método de procedimento, adota-se o metodologia de revisão bibliográfica, por meio de consultas de obras, publicações em revistas especializadas, artigos, teses, sites sobre a matéria, códigos, legislações, e demais fontes necessárias para a pesquisa, bem como o método comparativo, tendo em vista a realização de uma análise geral dos principais institutos do obsoleto processo cautelar comparado aos dispositivos da letra vigente. 
 
 
Palavras chave: Novo Código de Processo Civil. Tutela Provisória de Urgência. 
Requisitos Unificados. Código de Processo Civil de 1973. Cognição Sumária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT
The purpose of this paper is to promote the study of the Code of Civil Procedure of 1973 ("CPC of 73") compared to the Code of Civil Procedure, with regard to provisional guardianship of urgency. In particular, it should set out the mechanism for implementing emergency measures under the CPC of 73, in order to outline the innovations brought by the new procedural law in relation to these measures, in order to be able at the end to demonstrate that the changes promoted by the legislators provided for greater procedural speed without, however, jeopardizing legal certainty. In relation to the method of procedure, the methodology of bibliographical revision is adopted, through consultations of works, publications in specialized journals, articles, theses, websites on the subject, codes, legislations, and other necessary sources for research, as well as the comparative method, in order to carry out a general analysis of the main institutes of the obsolete precautionary process compared to the provisions of the current letter.
 
SUMÁRIO 
 
1 - INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 10 
2 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA ........................................................................................... 11 
2.1 VISÃO GERAL – PRIMEIROS CÓDIGOS DE PROCESSO CIVIL 
2.2 TUTELA DE URGÊNCIA NO CPC/1973 ..................................................................... 16 
2.2.1Tutela Cautelar ...............................................................................................................18 
2.2.1.1Características ............................................................................................................23 
Requisitos ...................................................................................................................25 
Classificação ..............................................................................................................27 
2.2.1.4 Poder geral de cautela ................................................................................................28 
2.2.1.5 Do momento para requisição .....................................................................................29 
2.2.1.6 Competência ..............................................................................................................30 
2.2.1.7 Procedimento .............................................................................................................31 
Responsabilidade Civil ..............................................................................................33 
2.2.2Tutela Antecipada ..........................................................................................................34 
2.2.2.1Características .............................................................................................................35 
Requisitos genéricos .................................................................................................38 
Outros requisitos ........................................................................................................40 
Do momento para requisição .....................................................................................42 
Responsabilidade Civil ..............................................................................................42 
FUNGIBILIDADE ENTRE AS TUTELAS DE URGÊNCIA NO CPC/1973 ..........43 
RAZÕES PARA SUBSTITUIÇÃO DO CPC/1973 ...................................................44 
Breve síntese da tramitação legislativa do CPC DE 2015. ........................................45 
3 	 PREVISÃO DO INSTITUTO TUTELA PROVISÓRIA NO NOVO CÓDIGO DE 
PROCESSO CIVIL .............................................................................................................52 
3.1 TUTELA DE URGÊNCIA ....................................................................................... 51 
3.1.1 Características .......................................................................................................... 53 
3.1.1.1 Do Poder Geral de Tutela de Urgência .................................................................... 55 
3.1.2 Do Momento Para Requisição ................................................................................. 57 
3.1.3 Competência ............................................................................................................ 57 
3.1.4 Responsabilidade Civil ..........................................................................................58 
3.2 TUTELA CAUTELAR ..........................................................................................60 
3.2.1 Ausência de CautelaresNominadas no NCPC .......................................................61 
3.3 TUTELA ANTECIPADA ......................................................................................61 
3.3.1 Irreversibilidade Como Requisito Negativo...... .....................................................62 
3.4 PRESSUPOSTOS DE CONCESSÃO ....................................................................63 
3.4.1 Probabilidade Do Direito ........................................................................................64 
3.4.2 Perigo Na Demora ..................................................................................................65 
3.4.3 Caução ....................................................................................................................66 
4 PROCEDIMENTO JUDICIAL PARA CONCESSÃO DE TUTELA DE 
URGÊNCIA .....................................................................................................................68 
4.1 TUTELA CAUTELAR EM CARÁTER ANTECEDENTE ..................................69 
4.2 TUTELA ANTECIPADA EM CARÁTER ANTECEDENTE ..............................72 
4.3 A ESTABILIZAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA ANTECIPADA......................75 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................80 
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................81 
1 - INTRODUÇÃO 
 
O presente estudo visa analisar as medidas de urgência, por meio do comparativo entre o Código de Processo Civil de 1973 e o novo diploma processual civil. 
Tendo em vista se tratar de uma análise comparativa, é imprescindível que se faça a leitura e compreensão das medidas de urgência colacionadas no texto do Código de 73 para a partir de então entendermos as alterações promovidas pelo Código de Processo Civil e seus impactos.
A motriz deste estudo é encontrar repostas para o questionamento a respeito da existência ou não de benefícios no que diz à celeridade processual e manutenção da segurança jurídica em razão d as inovações processuais adotadas. 
Além disto a pesquisa é embasada na necessidade de demonstrar a aplicação do procedimento das medidas de urgência novo Código de Processo Civil, mormente a quanto a extinção do livro específico do “Procedimento Cautelar”. 
Na sequencia será analisado o comparativo entre os diplomas legais, as disposições sobre a tutela provisória de urgência contida no NCPC, a unificação dos requisitos exigidos, bem como a previsão normativa inovadora em relação à tutela.
Por fim, no que diz respeito às serão abordados os institutos do “Poder Geral de Tutela de Urgência” e “Estabilização da Tutela Antecipada”, abrangendo suas finalidades e particularidades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
 
2.1 VISÃO GERAL – PRIMEIROS CÓDIGOS DE PROCESSO CIVIL 
 
Com o advento da Constituição de 1934 houve a individualização do Direito Processual, tido até então como um apenso do Direito Civil, atribuindo à União a sua competência. No entanto esta segregação processual apenas se concretizou em 1939, com a elaboração do primeiro Código Civil Brasileiro. (PACHECO, 1999). 
Para a concepção do Código de Processo Civil de 1939 foi designada uma Comissão integrada pelos Ministros Arthur Ribeiro e Carvalho Mourão, e o Advogado Levy Carneiro que preparam o projeto e o remeteram ao Ministro da Justiça, Professor Vicente Ráo que, em 1936, ordenou sua publicação. Porém, ao ser encaminhado ao Senado, o projeto ficou suspenso por sete anos em virtude do golpe de 10 de novembro de 1937, que revogou a Constituição de 1934 e dissolveu o Congresso. 
 
Assim leciona Moacyr Lobo Costa: 
 
A Constituição de 1934, com efeito, restabeleceu a unidade do direito processual, conferindo à União, em seu artigo 5º, XIX, “a”, competência privativa para legislar sobre o direito processual. O artigo 11 das disposições provisórias estabelecia, por sua vez, que o Governo, depois de promulgada a Constituição, nomearia uma comissão de três juristas, os quais deveriam organizar, dentro de três meses, o projeto e Código de Processo Civil e Comercial. Para tal encargo, foram nomeados os Ministros Arthur Ribeiro e Carvalho Mourão e o advogado Levy Carneiro. Concluídos os trabalhos, estes foram submetidos ao Ministro da Justiça, o professor Vicente Ráo, que mandou publicar pela imprensa nacional em 1936 os três projetos parciais elaborados pela comissão. (COSTA, 1970, p. 83). 
 
 
No Período compreendido entre 1934 e 1939, o sentido da reforma processual apresentou duas fases distintas. A primeira, entra os anos de 1934-1937, destacou-se mais em razão da intenção de modificar do que, até agora, era tido por “processo”, já a fase secundária (1937-1939) expressa o vigor da reforma, a intenção de proporcionar à nação o processo aclamado. (PACHECO, 1999 apud PINTO, 1940). 
De acordo com Castro Mendes (2016), o texto constitucional instaurado em 10 de novembro de 1937 manteve a unidade processual, assim para a elaboração do projeto do Código de Processo Civil, o Ministro da Justiça, Francisco Campos, nomeou uma comissão de juristas cuja composição era feita pelos Desembargadores Edgar Costa, Álvaro Berford e Goulart de Oliveira, e pelos advogados Álvaro Mendes Pimentel, Múcio Continentino e Pedro Batista Martins. No entanto a comissão foi tomada por discordâncias. 
Deste modo é apresentado por Pedro Batista Martins, ao Ministro, um projeto pessoal, que foi sancionado e publicado na data de 4 de fevereiro de 1939, como Anteprojeto, e em 18 de setembro de 1939 foi promulgado como Código de Processo Civil pelo Decreto-Lei n.1.608, publicado no Diário Oficial, para passar a vigorar no dia 1º. de fevereiro de 1940, sendo prorrogada para 1º de março do mesmo ano, pelo Decreto-Lei n, 1.965 de 16 de janeiro de 1940. 
 
Através de longa e minuciosa exposição de motivos, encaminhou-o ao Presidente da República, que o promulgou pelo Decreto-lei 1.608, de 18 de setembro de 1939, para entrar em vigor no dia 1º de fevereiro de 1940, mas que só veio a prevalecer a partir de 1º de março de 1940, por força do Decreto-lei nº 1.965, de 16 de janeiro de 1940. (PACHECO, 1999, p.210). 
 
O Código conta com a seguinte estrutura: Livro I – Disposições gerais (artigos 1º a 152) - disciplinava atos e termos judiciais, prazos, férias, valor da causa, da distribuição e do registro, despesas judiciais, das partes e procuradores, do juiz e dos auxiliares da justiça e da competência; Livro II – Regulamenta o processo em geral (artigos 153 a 290) petição inicial, citações, notificações e intimações, contestação, provas, audiência e sentença; Livro III - Do processo ordinário (artigos 291 a 297); Livro IV –Dos processos especiais (artigos 298 a 674); Livro V – Dos processos acessórios (artigos 675 a 781); Livro VI - Dos processos da competência originária dos Tribunais (artigos 782 a 807); Livro VII - Dos recursos (artigos 808 a 881); Livro VIII - Da execução (artigos 882 a 1.030); Livro IX - Do juízo arbitral (artigos 1.031 a 1.035) e Livro X - Disposições finais e transitórias (artigos 1047 a 1052). 
 
O Código de Processo Civil de 1939, que foi promulgado com 1.052 artigos, dividia-se em 10 (dez) livros. Essa divisão era imperfeita e assistemática, pois, dentro de um mesmo rótulo, reunia procedimentos completamente diversos entre si, não só quanto à estrutura procedimental, como quanto à natureza da causa. A metodologia eleita pelo legislador de 1939 para estabelecer a estrutura e o sistema de codificação não foi a melhor, porque agrupava, em mais de uma sede procedimental, causas de natureza e procedimento heterogêneos como se homogêneos fossem.[...] (FILGUEIRA MENDES, 2016, p.37). 
 
Com a incidência de críticas, o CPC de 39 sofreu alterações de várias leis, destacam-se as seguintes: 
 
Decreto-lei nº 2.253, de 3 de maio de 1940; Decreto-lei nº 4.565, de 8 de janeiro de 1946; Decreto-lei nº 8.570,de 8 de janeiro de 1946; Lei nº 70, de 20 de agosto de 1947; Lei nº 623, de 19 de fevereiro de 1949; Lei nº 1.533, de 31 de dezembro de 1951; Lei nº 1.661, de 19 de agosto de 1952; Lei nº 
3.396, de 2 de junho de 1958; Lei nº 4.248, de 30 de julho de 1963; Lei nº 4.672, de 12 de junho de 1965; e Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968. (PACHECO, 1999, p.213; 214). 
 
Em razão da necessidade de corrigir os erros e lacunas existentes até então, o Código de Processo Civil de 1973 revogou o de 1939, trazendo grande avanço científico, de modo a promover a adequada distribuição das matérias, e consequentemente, cessar a conjunção entre Direito Civil e Processo Civil. 
Acerca da decisão de elaboração de um novo Código Civil, o Professor Alfredo Buzaid assinala: 
 
[..] pouco a pouco, se convenceu de que “era mais difícil corrigir o código velho do que escrever um novo”, eis que “a emenda ao código atual requeria um concerto de opiniões, precisamente nos pontos em que a fidelidade aos princípios não tolera transigências”. [...] Por isso, lhe pareceu indispensável “reelaborar o Código em suas linhas fundamentais, dando-lhe um novo plano, em harmonia com as exigências científicas do progresso contemporâneo e as experiências dos povos cultos”. (PACHECO, 1999, p. 259). 
 
O anteprojeto do Código de Processo Civil de 1973, a pedido do Ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, foi elaborado por Alfredo Buzaid, que o apresentou em janeiro de 1964. Em abril de 1965, o Instituto Brasileiro de Direito Processual Civil promoveu o Congresso Nacional de Direito Processual Civil, inaugurado em São Paulo e concluído em Campos de Jordão, com intuito de análise e debate do anteprojeto. 
 
O anteprojeto compunha-se de cinco livros. Os três primeiros, que formavam a parte geral, com 913 artigos, foram publicados. O livro I cuidava do Processo de Conhecimento, em 10 títulos, em que se distribuem 612 artigos; o livro II tratava do Processo de Execução em seis títulos e 232 artigos e o livro III do Processo Cautelar, em um único título, com 67 artigos. (PACHECO, 1999, p. 252). 
 
 O projeto foi submetido à revisão de José Frederico Marques, Luís Machado Guimarães e Luís Antônio de Andrade e, por fim, em 2 de agosto de 1972, remetido à apreciação do Congresso Nacional que o transformou em Projeto de Lei sob n. 810/1972. O texto foi posteriormente admitido e promulgado por meio da Lei nº 5.869 em 11 de janeiro de 1973, dando vida ao Código de Processo Civil de 1973, para vigorar a partir de 1º de janeiro de 1974. 
Para Dinamarco (2002), o CPC/1973 foi elaborado com o intuito de ser um “novo estatuto”, devendo refletir o estado da doutrina brasileira da época. Conforme disciplinou o doutrinador: “Nossos olhos não estavam ainda propriamente abertos, nem nossos sentidos atentos à verdadeira revolução cultural em prol da bandeira da efetividade do processo, então brotando em plagas europeias”. 
Entretanto, o CPC de 1973 não apresentou alterações significativas em relação ao anterior, tendo em vista seu modelo processual ser considerado muito equivalente ao antecessor. E, ainda que tenha oferecido uma evolução em relação a alguns institutos, aperfeiçoando tantos outros, foi considerado como um Código individualista como o anterior, haja vista o estilo de processo e os procedimentos apresentados são os mesmos. 
Cândido Rangel Dinamarco corrobora: 
 
[...] O Código de Processo Civil [1973] não representou uma revolução metodológica, ideológica ou estrutural em relação ao precedente. Consagrou um modelo processual equivalente ao que tínhamos antes, embora revestindo de melhor aspecto estético alguns institutos, aperfeiçoando outros e, sem dúvida alguma, introduzindo alguns progressos substanciais. É um código individualista como o de antes e o estilo de processo e procedimentos que oferece é o mesmo; havia muito a fazer, que ele não fez, em prol da desburocratização e conseqüente agilização do sistema, sem o que a Justiça não conseguirá jamais atingir satisfatoriamente seus objetivos. (DINAMARCO, 2002, p. 24). 
 
 
O CPC/73 pe formado por cinco livros, d: Livro I – Processo de Conhecimento (artigos 1ª a 565); Livro II – Do Processo de Execução (artigos 566 a 795); Livro III – Do Processo Cautelar (artigos 796 a 889); Livro IV – Procedimentos Especiais (artigos 890 a 1.210) e Livro V – Das Disposições Finais e Transitórias (artigos 1.211 a 1.220). 
A reforma do instituto teve início na própria vacatio legis. Na data de 1º de outubro de 1973, a lei nº 5.925 aprimorou vários dispositivos, dando início às alterações que se seguiram e que acabaram por impactarsua essência, de modo a atribuir ao Código (até então vigente) o aspecto de “colcha de retalhos”. 
Sofreu alteração também com o advento da Constituição Federal de 1988, que determina normas garantidoras à tutela jurisdicional por meio de um processo justo e acessível, dentro de um espaço de tempo comedido. 
Segundo Silva Pacheco: 
 
Ao definir e explicitar muito claramente garantias e princípios voltados à tutela constitucional do processo, a nova Constituição tornou crítica a necessidade não só de realizar um processo capaz de produzir resultados efetivos na vida das pessoas (efetividade da tutela jurisdicional), como também de fazê-lo logo (tempestividade) e mediante soluções aceitáveis segundo o direito posto e a consciência comum da nação (justiça). Efetividade, tempestividade e justiça são os predicados essenciais sem os quais não é politicamente legítimo o sistema processual de um país. (WATANABE, 1987 apud PACHECO, 1999, p.29). 
 
Relativamente às reformas sofridas, Aluisio Gonçalves de Castro Mendes salienta: 
 
Elaborado com a mais fina técnica processual, o CPC de 1973 passou, nos seus mais de 40 anos de vigência, por um grande número de reformas pontuais, que, se foram necessárias em razão da evolução da sociedade e da necessidade de correspondência na legislação instrumental, terminaram por descaracterizá-lo como um todo homogêneo. Desfigurado, boa parte da doutrina passou a referir-se a ele não sem razão como uma “colcha de retalhos”, a recomendar, na opinião de muitos, a elaboração de uma nova lei que substituísse integralmente o diploma processual. (CASTRO MENDES, 2016, p. 15). 
 
Destarte, diante de tantas questões levantadas ao longo de sua constância, na data de 17 de março de 2016 chegou ao final a vigência do Código de Processo Civil de 1973. 
 
 
2.2 TUTELA DE URGÊNCIA NO CPC/1973 
 
O Estado impôs-se a competência de resolução de litígios oriundos da violação da norma imposta, logo, delegou ao Poder Judiciário a solução dos referidos conflitos por meio da aplicação do direito objetivo ao caso concreto. 
A intervenção estatal deverá sempre ser provocada pelo indivíduo que necessite ser tutelado, havendo então o devido processo legal, que ao final da demanda solucionará a lide em questão, atribuindo resolução adequada em conformidade com o que foi demonstrado ao decorrer do processo. 
 
Através da jurisdição, provocado pelo interessado que exerce a ação, o Estado instituiu um método de composição do litígio com a participação dos reais destinatários do comando que regulará a situação litigiosa, dispondo sobre os momentos em que cada um poderá fazer valer suas alegações, cujo escopo final é alcançar um resultado corporificado em tudo quanto o Judiciário “sentiu” das provas e do direito aplicável retratado na “sentença jurisdicional”. Jurisdição, ação e processo são assim os monômios básicos da estrutura do fenômeno judicial. (FUX, 1996, p.4) 
 
O exercício da Jurisdição se dá através de dois elementos: a cognição, que determina qual será a medida ideal a ser adotada e; execução, que tornará efetiva tal medida, ou seja, irá realizá-la no plano material. 
Em tese, a realização do processo se resumiria em conhecer e executar. Entretanto, para o exercício da tutela jurisdicional há uma longa sucessão de procedimentos necessários à obtenção da cognição exauriente, para então possibilitar o provimento da justiça de forma plena.Nestes termos, Humberto Theodoro Júnior ensina: 
 
Acontece, todavia, que, qualquer que seja a prestação a cargo da jurisdição, o provimento definitivo não pode ser ministrado instantaneamente. A composição do conflito de interesse (lide), através do processo, só é atingida mediante seqüência de vários atos essenciais que sejam a plena defesa dos interesses antagônicos das partes e propiciam ao julgador a formação do convencimento acerca da melhor solução da lide, extraído do contrato com as partes e com os demais elementos do processo. (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 489). 
 
Portanto, ainda que o direito processual civil esteja sob as determinações de princípios que buscam amenizar o tempo e a burocracia dos atos processuais, como o da Celeridade e Simplicidade, é inevitável que o caminho entre o ato inicial e a resolução seja extremamente moroso, ainda que, por parte dos operadores do direito, haja a busca pela abreviação do tempo. 
O professor Athos Gusmão Carneiro secunda: 
 
No plano processual é inconcebível um processo, mesmo sob os influxos de rigoroso princípio da oralidade, que não se alongue no tempo, com a concessão de prazos para que as partes, sob o pálio contraditório, possam apresentar seus pedidos e impugnações, comprovar suas afirmativas em matéria de fato (excepcionalmente também de direito), insurgir-se contra decisões que lhe sejam desfavoráveis; e também o juiz precisa de tempo para apreender o conflito de interesses e para habilitar-se a bem fundamentar as decisões interlocutórias e, com maior profundidade, a sentença (nos juízos singulares como nos colegiados). (CARNEIRO, 2004, p.1) 
 
Destarte, um processo que se desenvolva dentro do “tempo médio esperado” pode ensejar prejuízos de grande impacto, ou até mesmo irreversíveis.. 
O objeto do conflito é exposto a riscos, estando sujeito a sofrer danos ou deteriorar-se, circunstância esta que pode resultar na inutilização da solução final do processo. Segundo Fux (1996, p. 5) “o objeto do iudicium pode sofrer alterações substanciais que influam na solução justa da lide, quer pelo agravamento das condições de fato, quer pela criação de um estado de periclitação do direito”. Neste mesmo vetor: 
 
Em outros termos, é indispensável que a tutela jurisdicional dispensada pelo Estado a seus cidadãos seja idônea a realizar, em efetivo, o desígnio para o qual foi engendrada. Pois, de na valeria, por exemplo, condenar o obrigado a entregar a coisa devida, se esta já inexistisse ao tempo da sentença; ou garantir à parte o direito de colher um depoimento testemunhal, se a testemunha decisiva já estiver morta quando chegar a fase instrutória do processo; ou, ainda, declarar em sentença o direito à percepção de alimentos a quem, no curso da causa, vier a falecer justamente por carência dos próprios alimentos. (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 490). 
 
Deste modo, foi fundamebtal à tutela jurisdicional dispor de instrumentos e mecanismos adequados para circundar os resultados contraproducentes do tempo sobre o processo, ou seja, aplicar uma medida capaz de resguardar o direito tutelado, para que ao final da demanda provido. Desta necessidade, são oriundas as tutelas cautelar e antecipada. 
Conforme ensinamentos de Gusmão Carneiro: 
 
Cumpre, pois, uma redistribuição dos ônus do processo decorrentes do passar do tempo. Para tanto, impuseram-se formas diferenciadas de tutela, quer buscando abreviar, embora mantida a cognição exauriente, a prolação de sentença de mérito com eficácia de coisa material; quer através de técnicas de preservação provisória e temporária dos interesses daquele litigante que, tendo em seu favor uma aparência do bom direito, razoavelmente possa invocar prejuízo grave decorrente da duração do processo. (CARNEIRO, 2004, p.5). 
 
O direito é uma situação juridicamente tutelada, restando evidenciado sempre que for ameaçado de lesão ou violado. Dessa violação é originado ao titular o direito a tutela, que poderá estar sujeita à incidência de circunstâncias periclitantes, capazes de atravancar sua efetividade. Logo, para assegurar o exercício da justiça, é fundamental a aplicação do instituto Tutela de Urgência. 
 
2.2.1 Tutela Cautelar 
 	 
Segundo Marinoni e Arenhart (2012, p. 44) “O processo civil, no Estado de 
Direito de matriz liberal, não foi projetado para dar tutela preventiva aos direitos”. Nessa época, o direito tinha por escopo proteger as liberdades e conquistas da classe burguesa contra a ameaça de intervenção estatal. 
Para assegurar a garantia de liberdade, o Estado era compelido a propiciar tratamento igualitário a todos, desprezando quaisquer condições anômalas, haja vista estar fundado na igualdade formal, onde todo tratamento desigual, mesmo que destinado aos desiguais, era considerado vantagem inverossímil. Por conseguinte, tornava-se inviável o exercício da proteção às classes dotadas de peculiaridades. 
Neste mesmo diapasão: 
 
Este Estado, porque não podia tratar as posições jurídicas e sócias de forma diferenciada, obviamente não podia desenhar políticas públicas voltadas a dar proteção específica ou mais incisiva a determinadas classes de pessoas, ou espécies de direitos. Além disso, os direitos desta época que importavam ao processo civil eram vistos como coisas dotadas de valor de troca, e, assim, em caso de prática de ato ilícito, entendia-se ser suficiente a prestação da tutela ressarcitória pelo equivalente ao valor do dano ou da prestação inadimplida. (MARINONI; ARENHART, 2012, p. 44). 
 
 
Aqui, os direitos eram considerados moeda de troca, restando resumida a prática do ilícito ao ressarcimento, ou seja, a tutela repressiva à antijuridicidade era apenas a tutela contra o dano. Esta indistinção entre ilícito e dano é justificada pela preocupação exclusiva, por parte do Estado, em manter em funcionamento os mecanismos do mercado. “Ora, a tutela pelo equivalente ao valor da prestação mantinha íntegros os mecanismos do mercado, sem alterar a sua lógica.” (MAJO, 1993 apud MARINONI; ARENHART, 2012, p. 156). 
O mecanismo de tutela designada a impedir a violação do direito também não era permitido pelo fato de uma intervenção jurisdicional antecedente à prática de qualquer conduta contrária ao direito ser reputada intervenção estatal, que significava violação à liberdade e autonomia do indivíduo. 
Visto que, nesta ocasião, o Estado sequer gozava de respaldo para reprimir àquele que já havia praticado conduta adversa, logo, era inimaginável a possibilidade de uma tutela capaz de intervir anteriormente à violação de um direito. 
Mesmo sendo alusiva ao perigo, a tutela cautelar foi elaborada com intuito de assegurar a utilidade da tutela jurisdicional ao final da demanda, entretanto não era dotada do condão de evitar a violação ao direito, visto que nem mesmo o processo de conhecimento clássico detinha capacidade para tal feito. 
Conforme entendimento de Marinoni e Arenhart (2012, p. 48) “[...] a tutela cautelar foi pensada para assegurar uma tutela buscada através de ação de conhecimento, que supunha a violação do direito”. 
Destarte, neste cenário, a tutela cautelar, além de ser incapaz de evitar a violação ao direito, também não se destina a repelir os efeitos concretos que se prolongam no tempo. Resta claro que um ilícito que não produziu danos, interessará apenas quando origina marcas concretas que se prolongam no tempo, ou seja, um ilícito com efeitos concretos continuados. 
Exemplificando: 
 
É o caso, por exemplo, da exposição à venda de produto nocivo à saúde do consumidor. Expor à venda produto com composição nociva à saúde é, por si só, ato ilícito. Porém, deste ato podem decorrer danos aos consumidores, mas não necessariamente. Entretanto, não há como admitir que o processo civil nada possa fazer em relação ao ilícito que não produziu dano, tendo que aguardar a sua eventual ocorrência para poder ser instaurado. (MARINONI; ARENHART, 2012, p. 49). 
 
À luz da ideologia liberalista, apenas um julgamento deveria integrar o processo, que poderia ser executadoapenas após a elucidação dos fatos, onde, a ideia de “busca da verdade” restava concatenada com “julgamento posterior à cognição”. Outrossim, o julgamento baseado no direito aparente confrontava os princípios liberais, o que justifica a proibição do juízo da verossimilhança, pois, acreditava-se que a proibição da execução antes cognição plena era imprescindível para assegurar o direito de defesa. 
 Diante da desconfiança nos magistrados - que aqui eram considerados aliados da nobreza e do clero - o direito liberal não restringiu minimamente os institutos da defesa e contraditório, tornando assim inviável a tutela do direito anterior à cognição exauriente, pois deste modo, “se a ampla defesa e o contraditório não podem ser postecipados, a execução não pode ser anterior ao término da cognição”. (MARINONI; ARENHART, 2012, p. 51). 
Então, partindo da premissa de que a cognição deveria ser anterior à execução, foi concebida pela doutrina liberal o princípio nulla executio sine titulo, que determina que a execução não pode ser realizada sem estar munida de título, onde este título seria, evidentemente, a sentença condenatória. 
No tocante à implementação do princípio supracitado: 
 
A impossibilidade de recorrer diretamente à via executiva e a necessidade consequente de se obter um título executivo judicial através de um processo de conhecimento se explicam facilmente pela existência de uma situação jurídica substancial caracterizada pelo elemento de incerteza. Com base neste segundo pressuposto, dada a necessidade de se eliminar a incerteza sobre a situação jurídica substancial, a ação não pode ser exercida senão em via declaratória, a fim de que o antecedente lógico-jurídico da execução, que é a aptidão da ação para ser exercida in executivis, encontre sua base na declaração e sua realização na criação do título que condiciona a instauração da via executiva. (FURNO, 1956 apud MARINONI; ARENHART, 2012, p. 190). 
 
Entretanto, diante da possibilidade de sobrevir à referida sentença recurso desprovido de efeito suspensivo – que não fará cessar os efeitos da sentença – o que resultaria na admissão da execução na pendência de recurso, a doutrina liberalista demonstrou excessiva preocupação diante da possibilidade de uma execução antecedente à certeza dos fatos, ou seja, seria possível ao requerente “executar” antes do término do processo. 
É neste momento, que a doutrina liberalista se vê compelida a admitir a figura de uma execução provisória e, consequentemente, a disjunção entre cognição plena e executoriedade. 
Segundo ensinamentos do Professor Luiz Fux: 
 
Observada a evolução supra, correto é afirmar que de há muito há previsão da tutela de segurança no nosso direito. À época em que o Brasil era colônia, vigoravam as Ordenações Afonsinas e Manoelitas, sendo certo que em ambas havia a previsão de garantias fornecidas pelo réu ao credor toda vez que não tivesse bens de raiz. [...] (FUX, 1996, p. 182). 
 
Como consequência das transformações sofridas pela sociedade, surgem novas circunstâncias carecentes de tutela. Observa-se que as normas de proteção dos direitos fundamentais proíbem condutas lesivas, consequentemente, apresentam natureza protetiva - ou ainda preventiva do dano - o que compele ao legislador outorgar legitimidade a determinadas tutelas que se perfazem necessárias. 
Entretanto, a ausência de eficácia do processo civil clássico em satisfazer essas particularidades levou o judiciário a originar um uso não cautelar da ação cautelar inominada, buscando atender a causa que poderia e deveria ser tutelada pelo procedimento comum de conhecimento contanto que se enquadrasse nos requisitos do procedimento cautelar, ou seja, o legislador utilizava-se do poder cautelar genérico, já previsto no CPC de 1939. 
Acerca do poder cautelar genérico: 
 
[...] O que há de notável no Código de 1939 quanto ao tema ora sob enfoque é que no seu art. 675 previa-se que “além dos casos em que a lei expressamente autoriza, o juiz poderá determinar providências para acautelar o interesse das partes”, dispositivo que regia o então “poder cautelar genérico” ao lado de medidas provisórias existentes [...]. (FUX, 1996, p. 183). 
 
Tal peculiaridade não ocorreu unicamente no Brasil, mas também em todos os países que tivessem seus processos de conhecimento esgotados na sua funcionalidade. 
Diante destas manobras da técnica processual e do clamor processual por uma tutela jurisdicional adequada, o CPC de 1973 inaugurou no processo civil brasileiro, a previsão do processo cautelar, instituindo o Livro III – Do Processo Cautelar. 
Destarte: 
 
O Código de 1973, no afã de dar um passo a frente na matéria, instituiu livro próprio para o processo cautelar, previu inúmeros procedimentos específicos e sem prejuízo estatuiu o “poder cautelar genérico”, que sob a nossa ótica se subdivide num poder cautelar e num poder-dever de segurança pertinente à defesa do direito material da parte por força da responsabilidade judicial exsurgida da propositura da ação e do próprio monopólio da jurisdição. (FUX, 1996, p. 183/184). 
 
A tutela cautelar é um direito da parte e um dever do Estado, designada à garantia e proteção dos elementos do processo, que podem estar relacionados a bens, provas e pessoas, bloqueando a ameaça de perigo ou dano iminente ou irreparável ao interesse tutelado pelo processo principal. 
No conceito de Humberto Theodoro Júnior, a tutela cautelar: 
 
[...] dirige-se à segurança e garantia do eficaz desenvolvimento e do profícuo resultado das atividades de cognição e execução, concorrendo dessa maneira, para o atingimento do escopo geral da jurisdição. (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 490). 
 
 Em relação à aplicabilidade da tutela cautelar, Marinoni e Arenhart (2012) lecionam que “[...] a tutela cautelar não se destina a resguardar o processo que culmina na condenação, mas sim a garantir a frutuosidade da tutela do direito material que depende da técnica condenatória”, ou seja, a referida tutela não visa assegurar a utilidade do processo, está relacionada tão somente com a efetividade da tutela do direito ou com a segurança da situação tutelável. 
Logo, enquanto o processo principal busca a composição da lide, o processo cautelar outorga situação provisória de segurança para os interesses do litigante. Ambos os processos giram em torno da lide, porém, a ação cautelar é auxiliar e subsidiária à ação principal. 
Ressalta-se que a medida cautelar não antecipa a solução do litígio resultando na satisfação do direito material anterior à resolução da ação principal. O processo cautelar concede apenas a prevenção à possibilidade de dano imediato que inutilizaria a decisão final. 
Destarte: 
 
Mas essa função não consiste em antecipar solução da lide para satisfazer prematuramente o direito material subjetivo em disputa no processo principal. O que se obtém no processo cautelar, e por meio de uma medida cautelar, é apenas a prevenção contra o risco de dano imediato que afeta o interesse litigioso da parte e que compreende a eventual eficácia da tutela definitiva a ser alcançada no processo de mérito. (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 492). 
 
Por conseguinte, o processo principal possui natureza satisfativa, e a cautelar é apenas conservativa, pois, por óbvio, a satisfação do direito pleiteado consiste na solução da demanda principal. 
 
2.2.1.1. Características 
 
No que diz respeito às principais características, a tutela cautelar é dotada de instrumentalidade, pois é um instrumento orientado a dar segurança à tutela do direito discutido. A regra do artigo 796 do recentemente revogado Código Civil, determinava que “O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso do processo principal e deste é sempre dependente”, logo, se a tutela cautelar é instrumento da tutela do direito, é claro que a ação para se obter a tutela cautelar pode ser instaurada anterior ou durante a tramitação da ação principal. 
Acerca da Instrumentalidade: 
 
É instrumental a função cautelar, porque não se ligaà declaração de direito, nem promove a eventual realização dele; e só atende, provisória e emergencialmente, a uma necessidade de segurança, perante uma situação que se impõe como relevante para a futura atuação jurisdicional definitiva. [...] (FUX, 1996, p. 116). 
 
Possui também caráter de provisoriedade, indicando que a medida cautelar produzirá efeitos por um determinado lapso de tempo, notadamente até que persista a situação de emergência. Theodoro Júnior (2010) elucida que a provisoriedade configura uma situação onde incidente o provimento cautelar, esta não será dotada de caráter definitivo, mas somente será destinada a subsistir por um espaço de tempo delimitado. 
Apresenta aspecto de fungibilidade, determinada pelo Código de Processo Civil de 1973 no artigo 805, onde dispõe que o juiz pode conceder uma medida cautelar diferente da pleiteada, adequando os fundamentos expostos na petição inicial com os propósitos da tutela cautelar. Segundo Gonçalves (2014, p. 251), 
“característica fundamental das tutelas cautelares é que elas são fungíveis entre si. 
O juiz pode conceder uma tutela cautelar distinta da requerida, sem que sua decisão possa ser considerada ultra ou extra petita”. 
É característica da medida cautelar, na posição de provimento emergencial, a substituição (prevista no artigo 805 do CPC/73), modificação ou revogação a qualquer tempo (artigo 807, CPC/73). De acordo com o artigo 808 do referido Código, “Cessa a eficácia da medida cautelar: I- se a parte não intentar a ação no prazo estabelecido no art. 806; II- se não for executada dentro de 30 (trinta) dias; III- se o juiz declarar extinto o processo principal, com ou sem julgamento do mérito”. Ressalta-se que a sentença prolatada em sede de cautelar não faz coisa julgada material. 
Apesar de o processo cautelar estar ligado a um processo principal, é munido de autonomia própria. Isto é, o processo cautelar poderá ter decisão diversa do processo principal. Dessarte, Fux (1996, p. 311) salienta que “essa autonomia decorre dos fins próprios perseguidos pelo processo cautelar que são realizados independentemente da procedência ou não do processo principal”. 
O caráter assecuratório da tutela cautelar revela a própria urgência com que o processo é dotado. Há que se falar em cautelar quando há situação de perigo, de urgência, sendo condição indispensável da tutela cautelar a existência de periculum in mora. 
Acerca da urgência: 
 
A cognição exauriente que o magistrado tivesse de desenvolver, quando ele fosse convocado para prestar a tutela cautelar, além de supérflua e inútil, seria incompatível com a urgência que se presume, invariavelmente, como elemento constante para o cabimento da tutela cautelar. Ora, tal exigência torna inadequado o procedimento ordinário. (SILVA, 2001, p. 187). 
 
À medida cautelar é atribuída característica acessória, uma vez que existe tão somente para proteger um processo principal. Não é um fim em si mesmo, mas há uma relação de dependência. Conforme percepção de Gonçalves (2014, p. 238), “O resultado cautelar está sempre atrelado ao de outro processo; não tem um fim em si mesmo. Daí sua natureza acessória [...]”. 
Por fim, o processo cautelar é dotado de sumariedade da cognição, ante a urgência configurada em sede de cautelar, não se pode exigir prova inequívoca da existência do direito alegado, sequer a prova inequívoca da existência do perigo, basta a aparência, tanto do direito como do perigo que o ameaça. 
Acerca da cognição sumária: 
 
Considerando a classificação da cognição proposta por Kazuo Watanabe,nas cautelares, ela é plena e superficial. Plena porque não há, em princípio, limites à amplitude da cognição do juiz, podendo versar sobre qualquer situação ou estar referida a provimentos de qualquer natureza, sejam cognitivos – de caráter condenatório, constitutivo ou declaratório –, sejam executivos. No plano da profundidade, a cognição nas cautelares é sempre superficial, em decorrência da natureza urgente. Ao examinar o pedido, seja na concessão de liminares, seja na sentença cautelar, o juiz nunca examina em profundidade o direito, contentando-se com o fumus boni juris (fumaça do bom direito). (GONÇALVES, 2014, p. 247). 
 
 
2.2.1.2. Requisitos 
 
Quanto aos requisitos para a concessão da tutela cautelar, o Professor Humberto Theodoro Júnior elucida: 
 
Os requisitos para alcançar-se uma providência de natureza cautelar são, basicamente, dois: 
– Um dano potencial, um risco que corre no processo principal de não ser útil ao interesse demonstrado pela parte, em razão do periculum in mora, risco esse que deve ser objetivamente apurável. 
– A plausibilidade do direito substancial invocado por quem pretenda segurança, ou seja, o fumus boni iuris. (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 500). 
 
De acordo com o artigo 798 do revogado CPC/73, são requisitos específicos para a concessão da medida cautelar o fumus boni iuris, que compreende a probabilidade do direito material alegado realmente existir e o periculum in mora, que abarca o fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação, de modo que haja risco de ineficácia da futura tutela jurídica. 
Em sede de cautelar, não é essencial que reste demonstrado de forma plena a existência do direito material, haja vista que este só obterá comprovação na solução do processo principal, ou seja, basta que haja a “fumaça do bom direito” para se enquadrar no primeiro requisito. 
A respeito do fumus boni iuris: 
 
Para a ação cautelar, não é preciso demonstrar-se cabalmente a existência do direito material em risco, mesmo porque esse, freqüentemente, é litigioso e só terá sua comprovação e declaração no processo principal. Para merecer a tutela cautelar, o direito em risco há de revelar-se apenas como o interesse que justifica o “direito de ação”, ou seja, o direito ao processo de mérito. (THEODORO JÚNIOR, 2010, p.507). 
 
É evidente que não se pode tutelar qualquer interesse, o direito pretendido deve mostrar-se plausível de tutela no processo principal, deve ser capaz de propiciar ao juiz um convencimento de credibilidade mediante um conhecimento sumário e superficial. Pois, sendo inviável a processo principal, logicamente, não há que se falar em concessão da referida medida. 
Se, do exame preambular, restar configurado o fumus boni iuris em grau suficiente para autorizar a concessão da medida, nenhuma incerteza ou insegurança a respeito do direito material, em sede de cognição sumária, poderá impedir o acesso à tutela cautelar, visto que, ao decorrer do processo principal, a cognição exauriente será alcançada. 
Neste mesmo diapasão: 
 
[...] Ao emitir o provimento baseado em cognição sumária, o juiz nada declara sobre a tutela devida ao direito, limitando-se a afirmar que a probabilidade da sua concessão, de modo que, ao aprofundar a cognição, poderá chegar à conclusão de que a tutela do direito que havia sido suposta como provável não deve ser concedida. (MARINONI; ARENHART, 2012, p. 
30). 
 
Entretanto, a demonstração da fumaça do bom direito, por si só, não é suficiente para a obtenção da supracitada tutela. Faz-se necessária a observância de um segundo requisito, o periculum in mora. 
O deferimento da tutela cautelar resta condicionado a que o provimento final corra risco, esteja sofrendo incidência de ameaça e, por esta razão, seja inviável aguardar a resolução da ação principal. 
De acordo com os ensinamentos do Professor Humberto Theodoro Júnior, acerca do periculum in mora: 
 
Para obtenção da tutela cautelar, a parte deverá demonstrar fundado temor de que, enquanto aguarda a tutela definitiva, venham a faltar as circunstâncias de fato favoráveis à própria tutela.³º E isto pode ocorrer quando haja o risco de perecimento, destruição, desvio, deterioração, ou de qualquer mutação das pessoas, bens ou provas necessários para a perfeita e eficaz atuação do provimento final do processo principal. (LIEBMAN, 1968 apud THEODORO JÚNIOR, 2010, p.501). 
 
Da mesma forma em que no precedente requisito não é exigido que demonstre-se cabalmente a existência do direito material, aqui, “a cognição do perigo também não é exauriente, mas superficial, pois se contenta com a possibilidade da existência, sem exigir certeza”. (GONÇALVES, 2014, p. 261). 
 O supracitado artigo 798 determina que o perigo, a que o presente requisito faz menção, deverá ser fundado, ou seja, deverá estar ligado a uma situação objetiva, demonstrável através de um fato concreto. Deverá estar relacionado a um dano próximo, isto é, na iminência de uma lesão que provavelmente irá ocorrer durante o curso do processo principal. E, por fim, a lei requer que seja grave e de difícil reparação, predicados estes que sem complementam, haja vista que a configuração de uma lesão grave necessariamente ensejará uma consequência irreparável, ou ao menos de difícil reparação. 
No tocante ao perigo, trabalhado pelo artigo 798 do CPC/73: 
 
O perigo de dano deve ser fundado em elementos objetivos, capazes de serem expostos de forma racional, e não em meras conjecturas de ordem subjetiva. Além disto, embora o perigo de dano faça surgir uma situação de urgência, tornando insuportável a demora do processo, não há razão para identificar perigo de dano com periculum in mora, como se ambos tivessem o mesmo significado. O perigo de dano faz surgir o perigo na demora do processo, existindo, aí, uma relação de causa e efeito. Por isto mesmo, para se evidenciar a necessidade da tutela cautelar, não basta alegar periculum in mora, sendo preciso demonstrar a existência de sua causa, ou seja, o perigo de dano. (MARINONI; ARENHART, 2012, p. 28). 
 
 
2.2.1.3. Classificação 
 
No que concerne à classificação das cautelares no direito positivo, destacam-se duas. A primeira às divide em medidas cautelares típicas ou nominadas, que estão expressamente previstas no Livro III do CPC/73, Capítulo II intitulado “Dos Procedimentos Cautelares Específicos”. 
Aqui, opção legislativa foi a de tipificar as medidas de urgência cabíveis, estabelecendo regras e procedimentos próprios. São elencadas pelos artigos 813 a 887: arresto; sequestro; caução; busca e apreensão; exibição de documento ou coisa; produção antecipada de provas; alimentos provisionais; arrolamento de bens; justificação judicial; protestos, notificações e interpelações; homologação de penhor legal; posse em nome de nascituro; atentado; protesto e apreensão de títulos. 
A aplicabilidade das cautelares específicas consiste na possibilidade da concessão da tutela cautelar, não tão somente nas situações em que houve o preenchimento dos requisitos periculum in mora e fumus boni iuris. 
Sobre a aplicabilidade das medidas cautelares, Marinoni e Arenhart lecionam: 
 
Quer dizer que, além de sempre se viável a tutela cautelar para qualquer situação substancial afirmada, bastando a demonstração do perigo de dano e da probabilidade do direito, haverá situações em que o cumprimento dos requisitos previstos na norma reguladora de providência cautelar específica dispensará o juiz de investigar – como se estivesse diante de uma ação cautelar inominada – os requisitos do periculum e do fumus. O preenchimento dos requisitos estabelecidos na lei permitirá ao juiz formar a convicção necessária para outorgar a tutela cautelar, como se houvesse uma presunção legal de perigo de dano e da probabilidade do direito. (MARINONI; ARENHART, 2012, p. 37). 
 
Ainda na primeira classificação, são também dividas medidas atípicas ou inominadas, abarcadas pelo artigo 798 do CPC/73 que compreende o poder geral de cautela. Ressalta-se que a função cautelar não é restrita às medidas típicas, uma vez que a lei visa coibir qualquer situação de perigo que posso comprometer a eficácia da resolução final do processo. 
 
 
2.2.1.4 Poder geral de cautela 
 
O poder geral de cautela consiste na possibilidade de o juiz, visando proteger o direito das partes, conceder qualquer outra medida cautelar, além daquelas previamente determinadas. Isto é, o juiz possui o condão de conceder a tutela apropriada à proteção do direito objeto da lide, ainda que não esteja expressamente prevista no ordenamento. 
A respeito do poder geral de cautela: 
 
Há, destarte, medidas que o próprio legislador define e regula suas condições de aplicação, e há também medidas que são criadas e deferidas pelo próprio juiz, diante de situações de perigo não previstas ou não reguladas expressamente pela lei. Esse poder de criar providências de segurança, fora dos casos típicos já arrolados pelo Código, recebe, doutrinamente, o nome de “poder geral de cautela”. (THEODORO JÚNIOR, 2010, P. 505). 
 
Salienta-se que entre as medida típicas e atípicas não há divergência na natureza ou substância, a diferença entre elas incide apenas no grau de especificidade. Segundo Theodoro Júnior (2010), em ambos os casos os órgãos julgadores desempenham a mesma função de na natureza cautelar. 
Tendo em vista que o pedido cautelar é objeto de um processo autônomo, forma-se uma nova relação processual. Segundo Gonçalves (2014), o pedido cautelar nunca será autônomo, nem irá satisfazer a pretensão do autor por si só, ou seja, necessariamente estará vinculado ao processo principal. 
 
 
2.2.1.5 Do momento para requisição 
 
Logo, quanto a seu procedimento, o artigo 796 do CPC/73 “O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso do processo principal e deste é sempre dependente.” o classifica em preparatório ou incidental. 
Será preparatório quando, diante da urgência, não houver tempo hábil para a propositura da ação principal. Gonçalves (2014, p. 264) ressalta: “Diante da urgência, e não tendo como aforar a demanda definitiva, o autor pode ajuizar somente a cautelar preparatória, para afastar o perigo”. 
O procedimento será incidente, no caso em que a medida cautelar for ajuizada durante o curso do processo principal. Quando da propositura da ação não se fazia presente o perigo, mas posteriormente manifesta-se sua iminência. 
Acerca do procedimento incidental: 
 
Há casos em que a cautelar pode ser ajuizada durante o curso do processo principal. Quando da propositura da ação – de conhecimento ou de execução –, não havia perigo, não era necessária a providência cautelar. Mas, posteriormente, a urgência manifestou-se. (GONÇALVES, 2014, p. 265). 
 
 
2.2.1.6 Competência 
 
Em relação à competência, o artigo 800 do revogado CPC/73 determina: “As medidas cautelares serão requeridas ao juiz da causa; e, quando preparatórias, ao juiz competente para conhecer da ação principal”. Da interposição do recurso, acresce o parágrafo único, “a medida cautelar será requerida diretamente ao tribunal”. 
Quando o procedimento for preparatório deverá ser ajuizado ante ao juízo competente para analisar e julgar a ação de conhecimento, de modo a fixar a competência. 
Quando for antecedente à ação de conhecimento, a ação cautelar deve ser proposta perante o juiz competente para a ação de conhecimento, como diz a parte final do caput do art. 800 do Código de Processo Civil. O ajuizamento dessa cautelar previne o juízo para a ação principal, de modo que a cautelar preparatória fixa a competência para a discussão da causa como um todo. (MARINONI; ARENHART, 2012, p. 118). 
 
Se, da propositura da medida cautelar, já houver a demanda em tramitação, deverá ser ajuizada perante o juiz da ação principal, restando demonstrado que a competência para a ação cautelar é dependente da fixação da competência para a ação principal. Aqui, a competência é absoluta. 
No tocante à competência em sede de procedimento incidental: 
 
Não há nenhuma dificuldade para apuração de competência, quando a cautelar é incidental. Dado seu caráter acessório, será necessariamente distribuída por dependência ao juízo em que ocorre a ação principal, devendo os autos ser apensados. Trata-se de regra de competência absoluta. (GONÇALVES, 2014, p. 266). 
 
Entretanto, caso a competência para o julgamento da ação principal for relativa, e a medidafor ajuizada no foro não competente, a parte contrária poderá arguir exceção de incompetência, que está prevista no artigo 112 do CPC/73, caso contrário, a competência se prorrogar-se-á, tanto para a ação cautelar, tanto para a ação principal. 
A respeito da prorrogação de competência: 
 
Assim, se a ação cautelar for proposta perante juízo relativamente incompetente, a competência, definida pela ação cautelar, será prorrogada se o réu não apresentar “exceção de incompetência” (Arts. 112 e 114 do CPC), fazendo com que o juízo, para o qual foi distribuída a ação cautelar, torne-se igualmente competente para a ação principal. (MARINONI; ARENHART, 2012, p. 118). 
 
Logo, resta óbvio que, no caso de incompetência absoluta é inviável a sua prorrogação. O réu alegaria a incompetência na contestação ou a qualquer tempo, além de poder ser reconhecida de ofício pelo juiz. Assim, nos moldes do artigo 113 do Código de Processo Civil de 1973: “A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção”. 
Por fim, determinava o parágrafo único do referido artigo 800,que nas ações de competência originária dos tribunais, nas quais já foram proferidas sentenças e interpostos recursos, também a ação cautelar deverá ser interposta diretamente ao tribunal competente para o julgamento do recurso interposto. 
 
2.2.1.7 Procedimento 
 
Como qualquer outra ação, o exercício do direito se faz através de um ato inaugural, intitulado petição inicial, que irá instaurar a relação jurídica processual. Na ação cautelar, a petição inicial deve atender os requisitos previstos no artigo 801 do CPC/73: 
 
O requerente pleiteará a medida cautelar em petição escrita, que indicará: I - a autoridade judiciária, a que for dirigida; II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do requerente e do requerido; III - a lide e seu fundamento; IV - a exposição sumária do direito ameaçado e o receio da lesão; V - as provas que serão produzidas. 
 
O primeiro dos requisitos é a indicação da autoridade judiciária a que for dirigida. Se a medida cautelar for incidental, a petição inicial deve indicar o juízo onde tramita a ação principal, distribuindo-se a ele, por dependência, a cautelar. Se for preparatória, e existirem vários Juízos competentes no mesmo foro, ela será distribuída a um deles, prevenindo a competência do mesmo para a ação principal. Nesse caso, é a ação principal que será distribuída, por dependência, ao juízo onde tramita ou tramitou a ação cautelar. 
No segundo requisito, deverá restar fornecidas as devidas informações, identificadoras das partes. 
O requisito do inciso III, só é necessário nas cautelares preparatórias, haja vista que nas incidentais já é conhecida a lide principal e seus fundamentos. De acordo com Gonçalves (2014), o supracitado requisito é de suma importância pois possibilita ao juiz verificar se é competente, se há relação de referibilidade e acessoriedade entre as ações cautelar e principal e se a medida ajuizada é a mais adequada para a proteção da efetividade da resolução final. 
O quarto requisito trata do periculum in mora, devendo-se indicar os elementos utilizados para se chegar à conclusão positiva do juízo de probabilidade da ineficácia da tutela principal em razão do tempo do processo. 
E por último, a indicação das provas que se pretende produzir. 
O artigo 802 do texto supracitado complementa os requisitos, impondo que o réu deverá ser citado, independente do procedimento cautelar, para contestar, no prazo de cinco dias. 
O processo cautelar termina com uma sentença, que extingue o processo com ou sem resolução de mérito. O mérito cautelar não se confunde com o mérito do processo principal. 
O juiz verificará os pressupostos processuais, as condições da ação e a configuração do fumus boni iuris e do periculum in mora, e, se de acordo, julgará procedente o pedido, concedendo a medida cautelar. Em caso de improcedência, a medida concedida ao decorrer do processo ficará sem efeito. 
Da decisão interlocutória, que concede ou não a tutela cautelar no curso da ação principal, caberá recurso de agravo de instrumento. Assim determina o artigo 522 do CPC/73: 
 
Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento. 
 
Da sentença que decide o pedido de tutela ao final do procedimento cautelar, caberá apelação, que, segundo o artigo 520 inciso IV, neste caso, será recebida apenas no efeito devolutivo. 
 
[...] cabe sublinhar que a sentença, ao pôr fim ao procedimento cautelar, é apelável. Diante da urgência inerente à sentença cautelar, importa lembrar que o art. 558 do Código de Processo Civil, que permite ao relator do agravo, em caso de perigo de “lesão grave e de difícil reparação”, “suspender o cumprimento da decisão até o pronunciamento definitivo da turma ou câmara”, é aplicável às hipóteses do art. 520. (MARINONI; ARENHART, 2012, p. 182). 
 
2.2.1.8 Responsabilidade civil 
 
No tocante à responsabilidade civil do requerente, o artigo 811, CPC/73 dispõe: 
 
Sem prejuízo do disposto no art. 16, o requerente do procedimento cautelar responde ao requerido pelo prejuízo que Ihe causar a execução da medida: I - se a sentença no processo principal Ihe for desfavorável; II - se, obtida liminarmente a medida no caso do art. 804 deste Código, não promover a citação do requerido dentro em 5 (cinco) dias; III - se ocorrer a cessação da eficácia da medida, em qualquer dos casos previstos no art. 808, deste Código; IV - se o juiz acolher, no procedimento cautelar, a alegação de decadência ou de prescrição do direito do autor (art. 810). Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos do procedimento cautelar. 
 
Para a propositura da medida cautelar deve-se ter ciência dos riscos e prejuízos que esta ação pode vir a causar, como no caso de ter a medida cautelar concedida e o processo principal julgado improcedente. A medida cautelar , pó ser dotada apenas da probabilidade da existência do direito, corre um grande risco que no processo principal pode restar provada a inexistência do direito alegado. 
Desse modo, Marcus Vinicius Rios Gonçalves assevera: 
 
 [...] a urgência exige que a medida seja deferida em cognição superficial, sem exame mais aprofundado da situação, e frequentemente, sem que o réu tenha sido ouvido. Das determinações judiciais tomadas com urgência podem advir graves prejuízos. (GONÇALVES, 2014, p. 287). 
 
Trata-se aqui, de responsabilidade independente de culpa, sem excluir a responsabilidade por má-fé (art. 16). 
No segundo inciso, diante da não observância da citação do requerido, no prazo de cinco dias, o autor responderá por perdas e danos, ainda que a tanto a sentença cautelar, como a sentença do processo principal sejam julgadas procedentes. Theodoro Júnior (2010, p. 190) corrobora: “Ao assim proceder, o autor responde por perdas e danos, ainda que as sentenças do processo cautelar e do processo principal sejam de procedência”. 
O inciso III prevê a responsabilidade se ocorrer a cessação da eficácia da medida nos casos previstos no artigo 808, ou seja, por falta de ajuizamento da ação principal em trinta dias, por falta de execução da medida deferida no prazo de trinta dias e por extinção do processo principal, com ou sem procedência de mérito, desde que importe sucumbência da parte que requereu a medida. 
E por último, o inciso IV estabelece que responde pelo dano causado no caso em que o juiz acolher a alegação de prescrição ou decadência do direito do autor. Dessarte, Marinoni e Arenhart (2012, p. 193) secundam: “O autor, em razão da declaração da prescrição ou da decadência no procedimento cautelar, responde objetivamente pelo dano eventualmenteocasionado pela execução da tutela cautelar liminar”. 
O parágrafo único do supracitado artigo dispõe que a “indenização será líquida nos autos do procedimento cautelar”. Ou seja, ao prejudicado pela concessão da medida cautelar frustrada, não será necessário propor ação de indenização contra o requerente, pois a indenização será compensada nos próprios autos do processo cautelar. 
A execução da indenização, segundo Theodoro Júnior (2010), dependerá de dois requisitos: incidência de prejuízo efetivo advindo da execução da medida; e a determinação do quantum líquido do dano. 
Por fim, a liquidação será executada pó artigos, em conformidade com o artigo 475 – E do CPCP/73. 
Quanto à liquidação: 
 
Poderá ser feita por arbitramento, mas em regra será por artigos, dada a necessidade de prova de fatos novos, relacionados à existência e ao montante dos danos. Conquanto não haja necessidade de prova de culpa ou dolo, é preciso demonstrar o nexo de causalidade entre a medida e os prejuízos. (GONÇALVES, 2014, p. 289). 
 
A Sentença de liquidação fixará o quantum e o an debeatur. “O título judicial exequendo será a sentença de liquidação, de natureza condenatória, resultante do pedido de liquidação formulado nos próprios autos do procedimento cautelar”. 
(MARINONI; ARENHART, 2012, p. 172). 
 
2.2.2 Tutela Antecipada 
 
Como pontuado anteriormente, o Código de Processo Civil de 1973, em sua redação original, nada previu quanto as medidas satisfativas de urgência. 
A necessidade de uma tutela satisfativa adveio das novas realidades sociais e econômicas do país, o que levou o sistema forense a tratá-las erroneamente como cautelares satisfativas, denominação esta totalmente contraditória. 
 
Para tentar contornar a inadequação do processo tradicional e superar a irritante e intolerável lentidão da Justiça, muitos operadores do direito encontraram na ação cautelar uma válvula para se alcançar algum tipo de aceleração na tutela jurisdicional e alguma forma de antecipar efeitos da solução de mérito esperada para a causa. (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 668). 
 
Porém, no emprego de uma medida satisfativa revestida de cautelar foram identificados vários problemas de ordem técnica processual, visto que a finalidade da medida cautelar não é voltada à satisfatividade. 
Há uma diferença expressiva entre medida cautelar e medida satisfativa. A tutela cautelar tem por intuito afastar riscos e assegurar o resultado útil do processo, ou seja, assegura o direito material. Por sua vez, a tutela antecipada é uma medida satisfativa que visa antecipar, no todo ou em parte, os efeitos da tutela pretendida, isto é, satisfaz o direito material. 
Marinoni e Arenhart explanam a distinção das duas medidas: 
 
[...] a tutela cautelar se destina a assegurar a efetividade da tutela satisfativa do direito material. É instrumento da tutela satisfativa, na medida em que objetiva garantir a sua frutuosidade. A tutela antecipatória, porém, é satisfativa do direito material, permitindo a sua realização – e não sua segurança – mediante cognição sumária ou verossimilhança. (MARINONI; ARENHART, 2012, p. 62). 
 
 Leal conceitua o instituto Tutela Antecipada: 
 
Antecipar a tutela não é antecipar a sentença futura, mas aplicar, por antecipação, os conteúdos tutelares da lei pelo ato sentencial interlocutório, se examinado o tema na perspectiva do que dispõe o art. 273 do CPC vigente e ante a teorização empreendida nos institutos da verossimilhança e inequivocidade em juízo lógico da existência de prova no procedimento como fundamento de convicção do juiz (LEAL, 2000, p. 54). 
 
A antecipação de tutela é justificada pelo princípio da necessidade, haja vista que a espera pela resolução final do processo acarretaria na inutilidade da eficácia jurisdicional. 
 
Justifica-se a antecipação de tutela pelo princípio da necessidade, a partir da constatação de que sem ela a espera pela sentença de mérito importaria denegação de justiça, já que a efetividade da prestação jurisdicional restaria gravemente comprometida. Reconhece-se, assim, a existência de casos em que a tutela somente servirá ao demandante se deferida de imediato. (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 669). 
 
 
A adoção de uma tutela antecipada na generalidade dos processos foi, a priori, promovida por Ovídio Baptista da Silva durante o 1º Congresso Nacional de Direito Processual Civil em julho de 1983. 
Outrossim, Athos Gusmão Carneiro expõe: 
 
A sua adoção foi inicialmente sugerida por Ovídio Baptista da Silva, em julho de1983, no 1º congresso Nacional de Direito Processual Civil, realizado em Porto Alegre, e constou , outrossim, do anteprojeto de lei elaborado em 1985 por Comissão Revisora designada pelo Ministério da Justiça para estudar reformas ao CPC de 1973. (CARNEIRO, 2004, p. 17). 
 
Destarte, com o objetivo de atualizar a legislação para assim alcançar maior efetividade ao processo, dez anteprojetos de lei foram elaborados por Comissão integrada pelos Ministros do STJ Athos Gusmão Carneiro, Sálvio de Figueiredo Teixeira (presidente da comissão instaurada), e pelos processualistas Ada Pellegrini Grinover, José Carlos Barbosa Moreira, Celso Agrícola Barbi, José Eduardo Carreira Alvim, J.M. Arruda Alvim, Sérgio Sahione Fadel, Sidnei Beneti, Kazuo Watanabe, Petrônio Calmon, Donaldo Armelin e Humberto Theodoro Júnior. (CARNEIRO, 2004). 
Dos dez anteprojetos elaborados pela referida Comissão, um deles resultou no projeto de lei 3803/1993, que em 13 de dezembro de 1994 foi transformado na Lei Ordinária 8952/1994. 
A citada lei altera dispositivos do Código de Processo Civil sobre o processo de conhecimento e o processo cautelar, dispondo sobre a inserção da antecipação de tutela ao referido texto, originando o artigo 273 ao CPC/73. 
Acerca da alteração trazida pela Lei 8952/1994: 
 
Adveio, porém, em 1994, a reforma do Código de Processo Civil e, fora do processo cautelar, e dentro do processo de conhecimento, instituiu-se a possibilidade emergencial genérica da antecipação de tutela, sujeitando-a, outrossim, a requisitos mais rigorosos do que os exigidos para as medidas cautelares. [...] (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 656). 
 
A posteriori, na data de 7 de maio de 2002, o Projeto de Lei 3476/2000 advindo da MSC 1112/2000, foi convertido na Lei Ordinária 10444/2002, que “estabelece critérios para a efetivação da tutela antecipada, do procedimento sumário e da execução judicial e extrajudicial, objetivando uma prestação jurisdicional mais célere e eficaz”.(CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2002). Trazendo alterações ao artigo 273 do CPC/73 e instituindo o parágrafo 7º, que prevê a fungibilidade entre as tutelas cautelar e antecipada. 
Sobre o novo texto conferido ao artigo 273: 
 
O que o novo texto do art. 273 do CPC autoriza é, nas hipóteses nele apontadas, a possibilidade de o juiz conceder ao autor (ou ao réu, nas ações dúplices) um provimento imediato que, provisoriamente, lhe assegure o bem jurídico a que se refere a prestação de direito material reclamada como objeto da relação jurídica envolvida no litígio. (THEODOR JÚNIOR, 2010, p. 668). 
 
 
2.2.2.1 Características 
 
Acerca das principais características do instituto, a tutela antecipada possui cunho provisório, visto que é medida de caráter emergencial, concedida sob cognição sumária. 
Decorrente dessa provisoriedade, a medida é passível de revogação ou modificação, a qualquer tempo, desde que fundamentada a decisão, conforme o que era disposto no artigo 273, parágrafo 4º, do CPC/73. 
Desse modo, Carneiro (2004, p. 19) corrobora: “A provisoriedade do provimento está evidente da norma legal, quer porque revogável ou modificável a qualquer tempo durante o “iter” processual [...]”. 
Em relação à fundamentação da decisão, exercida pelo juiz: 
 
Pelo § 4º, a tutela antecipada “poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em decisão fundamentada”. Ou seja, o julgador apresentará os motivos de seu convencimento, detalhadamente, sobre os pressupostos, um a um, que autorizam a revogação, ou sobreos motivos que impõem a alteração da tutela antecipada. (CARNEIRO, 2004, p. 132). 
 
Detém caráter satisfativo, resultante do fato de que, com a antecipatória, o juiz concede desde logo, ainda que provisoriamente, o direito material objeto da relação processual, o que constitui o escopo e a natureza jurídica deste novel instituto processual. 
Relativamente à satisfatividade, Marcus Vinicius Gonçalves secunda: 
 
A medida concedida pelo juiz já satisfaz a pretensão do autor: concede, total ou parcialmente, aquilo que foi pedido pelo autor, ainda que eu caráter provisório. Haverá antecipação de tutela, que se caracteriza pela natureza satisfativa, de mérito, com a concessão, no todo ou em parte, daquilo que foi pedido. (GONÇALVES, 2014, p. 237). 
 
Também integra as características do instituto, a cognição sumária, que está atrelada à urgência, posto que, é diante da impossibilidade de espera que se obtém a concessão da medida mediante cognição não exauriente. 
A cognição sumária é aquela característica dos juízos de probabilidade, como por exemplo, na antecipação da tutela do artigo 273 do Código de Processo Civil, em conformidade com as palavras que a lei menciona: prova inequívoca e convencer-se da verossimilhança. (ALMEIDA, 2000, p. 165). 
 
 
2.2.2.2 Requisitos genéricos 
 
O artigo 273 do código de processo civil de 1973 e seus incisos disciplinavam os requisitos necessários para a concessão da tutela antecipada. Para qualquer hipótese de concessão, exigiu-se a observância de dois pressupostos, de natureza probatória: Prova inequívoca e verossimilhança da alegação. 
A prova inequívoca não é aquela absolutamente indubitável, mas sim aquela capaz de, no momento processual, anuir uma sentença de mérito favorável à parte que invoca a tutela antecipada, e essa capacidade se dá pelo fato de a referida prova ser dotada de elevado grua de convencimento. 
Acerca da prova inequívoca, Athos Gusmão Carneiro expõe: 
 
A rigor, de si mesma, prova alguma será inequívoca, no sentido de absolutamente incontestável. Mesmo a escritura pública, lavrada por notário conceituado e revestida de todos os requisitos formais, é passível de ser impugnada em ação anulatória. Para Carreira Alvim, “prova inequívoca” será aquela que apresente alto grau de convencimento, afastada qualquer “dúvida razoável, ou, em outros termos, cuja autenticidade ou veracidade seja provável”. (CARREIRA ALVIM, 1995 apud CARNEIRO, 2004, p.23). 
 
Quanto ao segundo pressuposto, verossimilhança da alegação, ressalta-se que se trata de uma medida satisfativa e, portanto o legislador cuidou em exigir pressuposto um pouco mais intrincado em relação ao requisito da tutela cautelar fumus boni iuris, já trabalhado anteriormente. Entretanto, não se perfaz necessário demonstrar cabalmente a existência do direito exigido. 
Humberto Theodoro Júnior esclarece: 
 
Por se tratar de medida satisfativa tomada antes de completar-se o debate e instrução da causa, a lei condiciona a certas precauções de ordem probatória. Mais do que a simples aparência de direito (fumus boni iuris) reclamada para as medidas cautelares, exige a lei que a antecipação de tutela esteja sempre fundada em “prova inequívoca”. (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 673). 
 
O requisito verossimilhança das alegações refere-se ao juízo de convencimento a ser feito em torno de todo o quadro fático instituído pela parte que pretende à obtenção da medida antecipatória, não apenas em relação à existência de seu direito material, mas também acerca do perigo de dano e sua irreparabilidade, bem como ao abuso dos atos de defesa e de postergação por parte do réu. 
Ou seja, era exigido que os fundamentos da pretensão à tutela antecipada fossem relevantes e fundados em prova idônea, pois o legislador não se contentou apenas com a probabilidade, considerando que o revogado artigo 273 do CPC/73 requereu a verossimilhança, que resta configurada quando a prova demonstrar uma probabilidade altíssima de que as alegações sejam verídicas. 
Do mesmo modo: 
 
Vale aditar que o “juízo da verossimilhança” supõe não apenas a constatação pelo juiz relativamente à matéria de fato exposta pelo demandante, como igualmente supõe a plausibilidade na subsunção dos fatos à norma de lei invocada – “ex facto oritur ius” –, conducente, pois, às consequências jurídicas postuladas pelo autor. 
Em suma: o juízo de verossimilhança repousa na forte convicção de que tanto as “quaestiones facti” como as “quaestiones iuris” induzem a que o autor, requerente da AT, merecerá prestação jurisdicional em seu favor. (CARNEIRO, 2004, p. 28). 
 
2.2.2.3 Outros requisitos 
 
Além dos pressupostos supracitados, o artigo 273 do revogado CPC/73, condicionou o deferimento da medida a outros requisitos: fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação (inciso I); o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu (inciso III) e; quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso (§ 6º). 
No primeiro inciso, o legislador exigiu que a demora processual pudesse causar um dano de cunho irreparável, ou ao menos, de difícil reparação. Ou seja: 
 
Receio fundado é o que não provém de simples temor subjetivo da parte, mas que nasce de dados concretos, seguros, objeto de prova suficiente para autorizar o juízo da verossimilhança, ou de grande probabilidade em torno do risco de prejuízo grande. 
Os simples inconvenientes da demora processual, aliás inevitáveis dentro do sistema do contraditório e ampla defesa, não podem, só por si, justificar a antecipação de tutela. É indispensável a ocorrência do risco de dano anormal cuja consumação possa comprometer, substancialmente, a satisfação do direito subjetivo da parte. (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 675). 
 
Resta caracterizado o abuso de defesa por parte do réu, quando demonstrada resistência à pretensão do autor, de forma infundada ou oposta a direito expresso, ou ainda quando sua defesa for dotada de meio ilícitos ou obscuros com intuito de forjá-la. 
Segundo entendimento do Professor Athos Gusmão: 
 
É a segunda via para obtenção da AT: demonstrar que o réu, pela sua conduta processual, abusa do direito de defesa; ou que o réu busca, mediante expedientes subalternos e escusos, protelar o desfecho da demanda, com o objetivo de continuar a beneficiar-se pela manutenção do 
“statu quo”. (CARNEIRO, 2004, p. 35). 
 
Por fim, o parágrafo 6º trata dos casos em que o réu deixa de contestar parte dos pedidos formulados pelo autor, restando incontroversos. Aqui, a medida antecipatória se tornava passível de concessão, sem a necessidade de enquadramento aos requisitos supracitados, entretanto apenas em relação aos pedidos incontestados. 
A respeito dos fatos incontroversos: 
 
O § 6º, acrescentado ao art. 273 pela Lei nº 10.444, de 07.02.2002, cuida de um caso em que e torna mais facilmente alcançável a antecipação de tutela: trata-se da cumulação de pedidos, quando o réu contesta apenas um ou alguns deles, deixando incontroversos outros. Em tal conjuntura, a antecipação se mostra possível, sem necessidade de recorrer-se aos requisitos ordinariamente exigidos (perigo de dano grave prova inequívoca, etc). É que, pela não - contestação, o fato básico se tornou incontroverso, nos limites da pretensão não impugnada, e a consequência dele extraível não depende mais de outras provas. (THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 672). 
 
Como pressuposto negativo, o obsoleto parágrafo 2º do artigo 273 do 
CPC/73, definia que “não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado”. Aqui, a lei objetivava proteger os institutos da ampla defesa e do contrário mesmo diante da excepcionalidade de uma medida antecipatória. 
Considerando-se que após atingir a cognição plena, é possível o juiz concluir que as coisas não são como pareciam de início e decida pela improcedência da demanda. Neste caso, as situações fáticas deverão retornar ao “statu quo”. 
O que é irreversível aqui, não é o provimento,

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