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Penhora on line

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PENHORA ON-LINE: UMA PROPOSTA DE CONCRETIZAÇÃO 
DA JURISDIÇÃO EXECUTIVA 
Elaine Harzheim Macedo
Doutora em Direito, Professora do Programa de Pós-Graduação em Direito da ULBRA-
Canoas, Professora da AJURIS - Escola Superior da Magistratura e da Fundação Escola 
Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Desembargadora do Tribunal de 
Justiça do Rio Grande do Sul.
SUMÁRIO
1. Notas introdutórias. 2. Penhora de dinheiro. 3. Penhora 
on line. 4. Cogência x facultatividade do procedimento. 5. 
Quebra do sigilo bancário. 6. Penhora on line e 
competência processual. 7. Penhora on line e princípios 
fundamentais do processo de execução. 8. Penhora de 
dinheiro pelos meios eletrônicos e as garantias 
constitucionais do acesso à justiça e da duração razoável 
do processo. 9. Considerações finais. Referências 
bibliográficas. 
1. Notas introdutórias
 A execução de crédito de quantia certa contra devedor solvente – e bem assim 
daquelas que na origem traduziam obrigações de fazer ou de entrega de coisa, mas que 
resultavam convertidas em obrigação de pagar – sempre representou o calcanhar de 
Aquiles na efetividade da prestação jurisdicional, irrelevante se o título executivo 
tivesse origem em sentença condenatória ou nos títulos extrajudiciais, concebidos por 
fonte legislativa. 
 O devido processo legal para buscar de forma legítima no patrimônio do devedor 
bens passíveis de constrição judicial ao efeito de satisfação da dívida à qual o devedor 
1
se mostra renitente em atender nunca foi tarefa fácil, e nem se pretende o alcance de sua 
plena superação, sem embargo das recentes Leis n°s. 11.232/05 e 11.382/06, ambos 
estatutos voltados à reforma do processo de execução.
Mas as reformas legislativas são hoje plena realidade, e, ainda que insuficiências 
possam ser detectadas pelos operadores do direito, no abstrato ou no concreto, cumpre à 
comunidade jurídica o esforço no sentido de sua plena implementação, até porque 
presente o princípio da legalidade no sistema jurídico pátrio, conforme art. 5°, inc. II, da 
Constituição Federal.
Entre as novidades trazidas pela Lei n° 11.382/06, inclusive com reflexo direto 
sobre o cumprimento forçado da sentença condenatória de prestação a pagar, 
considerando o disposto no art. 475-R, do CPC, está a regulação da penhora on line, 
conforme art. 655-A1, nas hipóteses do art. 655, inc. I2, cuja nova redação, mantendo o 
dinheiro como prioritário na ordem dos bens penhoráveis, explicita sua constrição em 
espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira.
As novas disposições vêm no alinhamento do que já se regulara no âmbito dos 
créditos fiscais, com a introdução do art. 185-A do Código Tributário Nacional, pela LC 
n° 118/05, nos seguintes termos:
Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devidamente citado, 
não pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não forem 
encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a indisponibilidade 
de seus bens e direitos, comunicando a decisão preferencialmente por 
meio eletrônico, aos órgãos e entidades que promovem registros de 
transferência de bens, especialmente ao registro público de imóveis e 
às autoridades supervisoras do mercado bancário e do mercado de 
capitais, a fim de que, no âmbito de suas atribuições, façam cumprir a 
ordem judicial.
A jurisprudência, outrossim, já vinha enfrentando a questão da penhora on line 
nas execuções civis, por provocação dos credores, inúmeros sendo os julgados a 
1 Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a 
requerimento do exeqüente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente 
por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do executado, podendo no mesmo 
ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na execução.
§ 1°. As informações limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou aplicação até o valor indicado na 
execução.
§ 2°. Compete ao executado comprovar que as quantias depositadas em conta corrente referem-se à 
hipótese do inciso IV do caput do art. 649 desta Lei ou que estão revestidas de outra forma de 
impenhorabilidade.
§ 3°. ... 
2 Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
I – dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;
II - ...
2
respeito, tanto em tribunais ordinários como no STJ, ora acolhendo, ora limitando, ora 
denegando a realização de penhora em dinheiro depositado junto às instituições 
financeiras pelo sistema eletrônico, cujas razões de decidir serão mais adiante objeto de 
análise pontual. 
Nesse sentido, o Banco Central disponibilizou aos tribunais o sistema BACEN 
JUD, desenvolvida nova versão em 2003 em parceria com representantes dos Tribunais 
Superiores e entidades de classe do Sistema Financeiro, otimizando a penhora on line e 
a investigação de ativos financeiros, através do Convênio de Cooperação Técnico-
Institucional firmado com o Superior Tribunal de Justiça, cumprindo apenas aos 
tribunais estaduais ou regionais aderirem ao mesmo para dele usufruir3. Através desse 
sistema, libera-se o acesso dos juízes, mediante prévio cadastramento, ao sistema regido 
pelo Banco Central, expedindo ordens judiciais pela via eletrônica, tanto no sentido de 
informar como tornar indisponível quaisquer depósitos em conta corrente ou em contas 
de aplicação existentes em nome do executado. 
Duas são, portanto, as alterações que merecem maior atenção do intérprete, a 
saber, a primeira, que diz exatamente com a ordem preferencial que a constrição judicial 
recaia sobre dinheiro – no que não inovou o estatuto reformador –, e sua taxação em 
espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira; a segunda, que trata da 
penhora on line propriamente dita.
2. Penhora de dinheiro
Não há nenhuma novidade na história legislativa do processo de execução pátrio 
em inaugurar o rol de bens penhoráveis pelo dinheiro, já assim sendo previsto no 
Código de 19394, mantendo-se o preceito no Código de 1973. E nada mais lógico que 
assim se tenha regulamentado a previsão de bens penhoráveis e sua respectiva 
preferência, na medida em que se está tratando exatamente de obrigações de pagar 
quantia em dinheiro como objeto do título exeqüendo, ou, dizendo de outra forma, 
como bem da vida perquirido em juízo. 
3 A exemplo, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul já havia aderido ao convênio, na sua forma 
original, em data de 31.03.01, conforme http://www.tj.rs.gov.br/serviços/bacen_jud/adesao.gif, e Ofício-
Circular n° 095/2001-CGJ, datado de 25.07.01 e publicado no BIM n° 289 (Boletim Informativo Mensal 
da Corregedoria-Geral da Justiça-Estado do Rio Grande do Sul); contudo, a regulamentação da penhora 
on line só recentemente foi baixada pela Corregedoria, conforme Provimento n° 31/06-CGJ, de 16.11.06, 
publicado no DJ n° 3.482, fl. 02, de 23.11.06. 
4 Art. 930. A penhora poderá recair em quaisquer bens do executado, na seguinte ordem:
I – dinheiro, pedras e metais preciosos;
II - ...
3
 Irrelevante, outrossim, que a jurisprudência e significativa parcela da doutrina5, à 
luz do Código de 1973, sempre foram favoráveis em interpretar a ordem legal dos bens 
sujeitos à penhora como mera preferência, negando-lhe rigidez de cogência.
Todavia, a experiência forense acusou a ausência de efetividade desta 
priorização legal do dinheiro como objeto de constrição judicial à satisfação do crédito 
certo, líquido e exigível, por razões mais de fato do que de direito. De um lado, a 
situação de devedordo executado já é um indicativo de que o mesmo não possui 
numerário disponível, ao acesso dos meios processuais de apreensão. De outro, visível a 
insuficiência da operacionalização de penhora de dinheiro, considerando inclusive as 
etapas burocráticas que se seguem à citação executiva, permitindo que o devedor 
solvente, mas resistente ao cumprimento da dívida, desloque eventuais depósitos em 
dinheiro junto às instituições financeiras, impedindo seja tal patrimônio alcançado pela 
constrição judicial, situação que perdurou nos mais de trinta anos de vigência do art. 
655, do CPC, e que não está imune à nova lei, caso proceda-se a (tentativa de) penhora 
de dinheiro pelos meios tradicionais.
Foi sob o manto da banalização dos sistemas e redes de informatização que se 
voltou a focar o dinheiro como bem penhorável, passando os tribunais a serem 
provocados no sentido de localização e conseqüente penhora de valores depositados em 
nome do executado junto aos bancos e instituições financeiras – depositários por 
excelência de tal patrimônio na realidade da vida econômica. 
 Curioso que a dificuldade de executar a penhora de dinheiro, que teve como 
origem apenas uma dificuldade fática de cumprimento do comando legal, passou a ser 
assimilada pelos juízes com reserva excessiva, mostrando os tribunais uma resistência 
incompreensível à sua efetivação e à logicidade da satisfação da prestação de pagar pela 
via da constrição judicial em pecúnia, posicionando-se, contrariamente, em estimular a 
que o credor busque a garantia de seu crédito em outros bens penhoráveis, privilegiando 
os demais incisos do art. 655 do estatuto processual, ao ponto, inclusive, de exigir do 
credor o exaurimento na localização de outros bens e identificando a penhora de 
depósitos bancários como medida excepcional.
A exemplo
5 Por todos, Theodoro Júnior, Humberto. Comentários ao Código de Processo Civil, Rio de Janeiro: 
Forense, 1978, n. 291, p. 377-378. 
4
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO. EXPEDIÇÃO DE 
OFÍCIO AO BACEN. LOCALIZAÇÃO DE BENS DO DEVEDOR. 
INDEFERIMENTO. Descabe a expedição de ofício ao Bacen para 
localização de bens do devedor neste momento, uma vez que se trata 
medida excepcional, que somente cabe quando esgotadas as 
diligências do credor, o que não resta caracterizado no caso concreto. 
DESPROVIMENTO. 6
PROCESSO DE EXECUÇÃO. BLOQUEIO DE VALORES 
DEPOSITADOS EM CONTA BANCÁRIA DO DEVEDOR. 
UTILIZAÇÃO DO SISTEMA BACEN-JUD. FACULDADE. 
EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO AO BACEN. INDEFERIMENTO. 
1. A utilização do Sistema Bacen-Jud constitui mera faculdade do juiz 
da causa, conforme iterativa jurisprudência desta Corte. 2. A 
intervenção judicial postulada somente se justificaria se esgotados 
todos os meios extrajudiciais para se localizarem outros bens de 
propriedade do devedor, passíveis de expropriação, o que inocorreu no 
caso sub judice. Agravo de instrumento desprovido. 7
 
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ARTIGO 557 DO CÓDIGO 
DE PROCESSO CIVIL. FACULDADE DO RELATOR. 
EXECUÇÃO FISCAL. QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO. 
SISTEMA BACEN-JUD. ESGOTAMENTO DA VIA 
EXTRAJUDICIAL.
1....
2. A jurisprudência desta Corte admite a quebra do sigilo fiscal ou 
bancário do executado para que a Fazenda Pública obtenha 
informações sobre a existência de bens do devedor inadimplente, mas 
somente após restarem esgotadas todas as tentativas de obtenção dos 
dados pela via extrajudicial.
3. ...
4. Recurso especial improvido. 8
 
 Embora até então a penhora sobre depósitos bancários e de investimentos no 
mercado de capitais não tivesse expressamente regulada, salvo a previsão do art. 185-A, 
do CTN, antes mencionada, fato é que o sistema normativo da execução de créditos em 
absoluto se mostrava refratário a tais providências, que nada mais é que mera 
decorrência da previsão legal do dinheiro como bem penhorável. 
6 A.I. n° 70014729180, 12ª Câmara Cível do TJRGS, Relatora Desa. Naele Ochoa Piazzeta, julgado em 
01.06.06.
7 A.I. n° 70016679326, 11ª Câmara Cível do TJRGS, Relator Des. Voltaire de Lima Moraes, julgado em 
25.10.06.
8 REsp. 790.891/SC. Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 06.12.05, DJ 19.12.05, p. 
390. 
5
De outra banda, cuida-se também de providência que em muito suplanta a 
expropriação de outros bens integrantes do patrimônio do devedor, móveis ou imóveis. 
Apenas para registro, a constrição do dinheiro goza de uma efetividade incomparável, 
evitando procedimentos e incidentes processuais responsáveis pela fragilidade do 
processo de execução, tais como a necessidade de nomeação de depositário, inclusive 
com eventual pagamento de despesas pela prestação desse serviço; a avaliação e seu 
custo; a defasagem entre o valor da execução e o do bem penhorado (ora labutando em 
favor do credor e contra o exeqüente, ora em sentido oposto), ensejando redução ou 
ampliação da penhora; ocorrência de infidelidade no depósito; localização de bens e 
fraude à execução com alienação ou oneração de bens; intervenção de leiloeiro, com 
mais despesas a serem suportadas pelo devedor; intervenção de terceiros rotulando-se 
titulares do bem penhorado, eventualmente até por ação de embargos de terceiro; 
registro de penhora no álbum imobiliário; desvalorização do valor do bem penhorado 
entre a sua constrição e a sua alienação, e outros tantos que a enciclopédia forense é 
pródiga em nos instruir. Esse contexto, por si só, é suficiente para concluir que 
inadequada a colação do princípio da menor onerosidade consagrado no art. 620, do 
CPC, para indeferir a penhora de dinheiro junto aos estabelecimentos bancários, até 
porque o valor da dívida vê-se agregado de todas as custas e despesas que tais 
procedimentos e incidentes vão acumulando, recaindo a respectiva sucumbência sobre o 
executado, tema objeto de desdobramento em tópico próprio, mais adiante.
Pois bem, a nova disposição legal sobre a penhora de dinheiro, em espécie ou 
em depósito ou aplicação em instituição financeira, vem, de certa forma, explicitar o 
óbvio: dinheiro, bem fungível por definição, é por excelência o patrimônio do devedor a 
ser expropriado para satisfação de prestação de pagar quantia certa, objeto do título 
extrajudicial, configurando sua apreensão judicial, para posterior liberação, se for o 
caso, prestação jurisdicional que atende, em grau máximo, a efetividade e a duração 
razoável do processo, nos termos do art. 5°, incisos XXXV e LXXVIII, da Constituição 
Federal. De outra banda, cediço que dinheiro só é passível de ser encontrado, no mais 
das vezes, em depósitos de contas correntes ou de investimentos junto às instituições 
financeiras, daí porque não procede qualquer restrição à sua perquirição junto a esses 
estabelecimentos. Dinheiro guardado embaixo do colchão é lenda de contos de fada que 
em nada aproveita o cumprimento da atuação executiva.
6
 O novel dispositivo legal veio ao encontra de parcela da jurisprudência, que 
assim já se manifestava, exorcizando a busca estéril, custosa e morosa de outros bens do 
patrimônio do devedor, cuja expropriação pode ser até kafkiana. Nesse diapasão
AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO COM 
SEGUIMENTO NEGADO. PENHORA ON LINE.
Mostrando-se correta a decisão agravada, do que não há discrepância, 
justifica-se a negativa liminar de seguimento ao agravo.
Reprodução da inconformidade. Razões não suficientes para a reforma 
da decisão.
Cabimento da penhora on line, se evidenciada a existência de valores 
depositados em nome da devedora em mais de uma instituição 
bancária, ficando restrito o bloqueio aapenas um dos depósitos e no 
limite da execução.
Embora não absoluta a ordem legal prevista no artigo 655 do CPC 
deve ser, sempre que possível, respeitada.
Havendo dinheiro a ser penhorado, deve este prevalecer sobre os 
demais bens.
Agravo interno improvido. 9
PENHORA ON LINE – o ART. 655 do CPC estabelece que o dinheiro 
é o bem preferencial para penhora. Dessa forma, não há falar que a 
penhora on line pelo sistema BACEN-JUD está em desacordo com a 
Lei. Tampouco há falar em inobservância do disposto no art. 620 do 
mesmo Diploma Legal. 10
PENHORA ON LINE – DETERMINAÇÃO DE OFÍCIO – 
POSSIBILIDADE. 
O juiz pode impulsionar a execução de ofício, devendo adotar todas 
as medidas necessárias à satisfação do crédito previdenciário, 
inclusive a determinação de penhora através do sistema on line, 
independentemente de iniciativa da parte. 11
Embora as duas últimas decisões supra tenham origem na Justiça do Trabalho, 
aperfeiçoam-se às execuções da Justiça Comum, porque em se tratando de satisfação de 
crédito certo, líquido e exigível, os princípios de celeridade e efetividade aproximam os 
procedimentos.
9 Agravo interno n° 70017374489, 12ª Câmara Cível do TJRGS, relator Des. Orlando Heemann Júnior, j. 
em 16.11.06.
10 TRT 12ª Região – AG-PET 04204-2001-001-12-86-5 – (04682/2005) – Florianópolis – 3ª T. – Rel. 
Juiz Gracio Ricardo Barboza Petrone. J. em 26.04.05) JCPC.655 JCPC.620.
11 TRT 20ª Região – AP 01675-2002-920-2085-8 – (2453/04) – Rel. Juiz Carlos de Menezes Faro Filho. 
J. em 31.08.04.
 
7
Mas a lei nova não só explicitou a questão da penhora de dinheiro depositado em 
instituições do mercado bancário e de capitais. Foi além, repudiando a corrente que 
vinha se alastrando no sentido de transferir para o credor a maior carga do ônus da 
localização de bens passíveis de penhora, como também o pré-conceito de que o 
executado é sistematicamente o litigante fragilizado, graças a inúmeras concessões até 
então consagradas em seu favor. Essa nova faceta12 pode ser identificada nas seguintes 
alterações:
a) nova redação dada ao inciso IV do art. 600, estabelecendo que o executado, intimado, 
tem o prazo de 5 (cinco) dias não só para indicar que bens do seu patrimônio são 
passíveis de constrição judicial, como ainda deve declinar a sua localização e os 
respectivos valores, pena de incidir na prática atentatória à dignidade da Justiça, tudo 
em conformidade com o art. 652, §§ 3° e 4°, intimação essa que pode ser determinada 
de ofício pelo juiz, sem prejuízo de seu requerimento pelo credor. Vale dizer, se a 
penhora sobre bens do devedor configura pressuposto processual de desenvolvimento 
válido do processo executivo, que se define como processo expropriatório, a 
responsabilidade pelo seu mais perfeito atendimento não é apenas do credor, mas 
também do executado, podendo, inclusive, o juiz agir de ofício, já que os pressupostos 
processuais submetem-se à cogência do § 3° do art. 267 do codex procedimental.
 
b) O § 2° do art. 655-A é explícito, transferindo para o executado o encargo de 
comprovar que eventuais quantias depositadas em conta corrente – não valendo o 
mesmo para depósitos de investimento, por razões óbvias – não são passíveis de serem 
penhoradas porque se encontram excluídas do âmbito da garantia da execução ou que de 
alguma forma estão protegidas pelas regras de impenhorabilidade.
c) Com a atual redação dada ao art. 666 e seus parágrafos, inverte-se a prática de que os 
bens penhorados fiquem depositados em mãos do devedor, passando essa providência à 
regra de exceção, mediante expressa anuência do exeqüente ou caso de difícil remoção. 
Trata-se de mais um dispositivo que retira do réu, no processo de execução, privilégios 
que até então lhe eram amplamente reconhecidos. Carreando-se essa nova 
regulamentação para a penhora de valores depositados em instituições que atuam no 
12 Trata-se, na verdade, de uma releitura dos procedimentos executivos, a afastar a pecha que se tornou 
conhecida nos corredores forenses em sede de execução: “o credor ganha, mas não leva”, que tanto pode 
ser aplicada às execuções de sentença como à satisfação do titulo extrajudicial.
8
mercado bancário e de capitais, nada mais translúcido que o bloqueio ou 
indisponibilidade de tais quantias, nos limites do valor da execução. 
d) No art. 659, § 6°, vem delegação expressa para regulamentação de critérios 
uniformes aos Tribunais quanto ao procedimento da penhora on line tendo por objeto 
numerário ou ainda as averbações de penhoras de bens imóveis, liberando plenamente 
os meios eletrônicos para sua efetivação. 
e) A substituição de bem penhorado – aqui se incluindo também o dinheiro – por 
iniciativa do demandado, só será possível se devidamente motivada pela menor 
onerosidade ao devedor e com comprovação de ausência de prejuízo ao credor. 
Esse contexto de preceitos normativos converge para uma opção de resgate da 
penhora de dinheiro para satisfação de créditos correspondentes exatamente à prestação 
de quantia certa, reequilibrando a isonomia processual que, no Código até então vigente 
e na prática senão unânime, majoritária, estava ausente da jurisdição executiva. 
3. Penhora on line
A penhora de bens do executado pelo sistema informatizado, denominada de 
penhora on line, não é uma nova espécie de penhora. O secular instituto que se destina a 
garantir a execução até sua satisfação final não sofreu qualquer alteração na sua 
substância, ganhando apenas, agora em sede de legislação processual civil, uma nova 
forma de operacionalização, ao lado, por exemplo, da tradicional penhora por mandado 
através de Oficial de Justiça ou da penhora no rosto dos autos, quando o objeto for 
crédito que se encontra sob discussão judicial em outro processo, ou ainda a penhora 
por termo nos autos, quando o próprio devedor oferece bem em garantia do juízo. O que 
já vinha se praticando sustentado por posições doutrinárias, jurisprudenciais e liberado 
por regulamentação administrativa, passou agora a receber o selo de norma processual 
federal, ganhando, evidentemente, em grau de segurança jurídica.
A regulamentação contemplada nos arts. 655-A (aqui expressamente para 
penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira) e § 6° do art. 659 (que 
também inclui o sistema eletrônico para as hipóteses de penhora de bens móveis e 
9
imóveis e sua respectiva averbação13) veio de forma sucinta e objetiva, ficando por 
conta dos tribunais normatização mais detalhada dos respectivos procedimentos. 
Num primeiro momento, a inclusão da expressão a requerimento do exeqüente 
no caput do art. 655-A pode representar um engessamento da atividade jurisdicional, 
excluída qualquer hipótese de agir de ofício do juiz. Contudo, essa disposição deve ser 
compreendida no contexto geral da reforma, onde se constata exatamente o contrário, a 
exemplo do disposto nos arts. 652, § 3°, e 685, parágrafo único, que, ao fim e ao cabo, o 
poder de império do juiz no processamento da execução, que sempre foi reconhecido, 
encontra-se reforçado na Lei n° 11.382/06. De forma que o preceito deve ser 
compreendido como regra geral, na medida em que os princípios da demanda e do 
dispositivo prosseguem imperando na jurisdição e no processo, deles não excluído o 
processo executivo. Ou seja, a iniciativa, especialmente no impulso da fase inicial da 
execução, é por conta do credor, sem que esteja o juiz, considerando circunstâncias 
fáticas e pontuais, completamente desprovido do poder de penhora de dinheiro pelo 
sistema on line.No tocante à sua operacionalização, a orientação básica é de que a requisição 
direcionada à autoridade supervisora do sistema bancário (Banco Central) deve conter 
duplo objeto: informações sobre os ativos em nome do executado e, desde logo, o 
comando de indisponibilidade de tais valores, em caso de consulta positiva, nos limites 
do valor da execução, que deverá incluir o principal e seus acréscimos, legais e 
contratuais, inclusive verbas sucumbenciais. Inspiração de economia processual, pois já 
na primeira rodada os valores não são só informados ao juízo da execução, como desde 
logo ficam vinculados, impedindo o esvaziamento da diligência, com o levantamento do 
dinheiro pelo devedor.
É omisso o texto quanto à situação em que o executado disponha de inúmeras 
contas bancárias, espalhadas por diversos estabelecimentos, surgindo daí o flagrante 
prejuízo de sofrer dupla ou múltipla indisponibilidade de numerário. 
 Trata-se, portanto, de lacuna a ser preenchida pelas regulamentações a serem 
expedidas pelos tribunais ou pela própria jurisprudência, mas que na prática já vem 
sendo suprida, sem ofertar problemas mais sérios ou de difícil de superação, isso porque 
a versão BACEN JUD 2.0, viabiliza, com bastante agilidade, não só a resposta às 
13 Ao autorizar a mera averbação junto ao registro imobiliário da penhora de bens imóveis avançou o 
texto normativo em relação às disposições pretéritas, que exigiam o registro, facilitando em muito o trato 
da questão registral, já que o ato de averbação atende o mesmo objetivo – publicidade erga omnes da 
constrição judicial – com menos custo econômico e procedimental. Cuida-se, porém, de capítulo a parte, 
que merece estudo próprio, sem espaço nos limites epistemológicos desta empreitada.
10
requisições, como o desbloqueio dos eventuais excessos e a transferência do numerário 
escolhido como objeto da penhora para o Banco que o juízo indicar como depositário de 
tais valores, somente esse último representando a constrição judicial.
A título de exemplo, o Provimento n° 31/06, expedido pela Corregedoria-Geral 
da Justiça do tribunal gaúcho, antes citado, orienta o procedimento em seus arts. 2° a 4° 
nos seguintes termos
Art. 2° - As determinações judiciais de constrição de valores em conta 
e de ativos financeiros, bem como a requisição de informações sobre a 
existência de contas-correntes e de aplicações financeiras, serão 
transmitidas pela Internet ao Banco Central do Brasil, segundo os 
parâmetros do sistema BACEN JUD, por meio do qual o magistrado 
previamente cadastrado protocolará documento eletrônico 
determinando o bloqueio de contas e de ativos financeiros existentes 
em nome do executado, até o valor da dívida.
Parágrafo único – Protocolada a ordem eletrônica de bloqueio, os 
autos deverão permanecer em gabinete até o decurso do prazo de pelo 
menos 2 (dois) dias úteis, período em que será aguardado o 
processamento da ordem pelo Banco Central e demais instituições 
financeiras.
Art. 3° - Decorridos 2 (dois) dias úteis da data do protocolo do 
bloqueio, deverá ser realizada consulta ao Sistema Bacen Jud e, 
confirmado o bloqueio pela instituição financeira, o magistrado 
determinará a transferência (procedimento próprio disponível no 
Bacen Jud) para o BANRISUL S.A., o qual automaticamente gerará 
depósito judicial, com o envio de e-mail ao magistrado informando os 
dados do depósito (documento que deverá ser juntado aos autos).
Art. 4° - Considerar-se-á realizada a penhora tão logo seja confirmado 
o bloqueio e determinada a transferência dos ativos financeiros e dos 
valores constantes na conta do executado, podendo o recibo de 
protocolamento emitido pelo Sistema Bacen Jud, uma vez juntado aos 
autos, valer como termo de penhora.
De sorte que na medida em que é determinada a transferência dos valores 
suficientes para garantir a execução, restam liberados quaisquer outros valores acima 
dessa quantia ou ainda o bloqueio sobre contas ou aplicações que não sofreram 
constrição judicial, tudo ficando composto no mesmo procedimento e nos mesmos 
prazos. Ou seja, a penhora on line passa por dois momentos distintos: o primeiro, em 
que é expedida ordem de informação, autorizando-se desde logo o respectivo bloqueio, 
e o segundo, quando da resposta, oportunidade em que a ordem restringirá a penhora 
(ou seja, transferência dos valores necessários para o banco oficial que atua com os 
depósitos judiciais) àquelas contas e quantias que atendam o valor da execução. O 
remanescente é desde logo liberado.
11
Por outro lado, o § 2° do art. 655-A divide esta fiscalização com o executado, 
que não só pode justificar perante o juízo a impenhorabilidade do numerário, como 
pode tomar a iniciativa e provocar a correção de eventual excesso, base no princípio de 
quem pode o mais, pode o menos.
Vê-se, pois, que o sistema informatizado pelo Banco Central, na forma como 
está concebido e dos procedimentos que já vinham sendo praticados, mesmo antes da 
Lei n° 1.383/06, com suas disposições não conflita, merecendo ratificação, sem 
prejuízo, é claro, de seu aperfeiçoamento com a expansão, que se espera, da utilização 
da penhora on line frente, agora, ao pleno amparo legal e ao espírito da reforma do 
processo de execução, em prol de sua plena efetividade.
4. Cogência x facultatividade do procedimento
Pecou o texto normativo do art. 655-A quando viabiliza a penhora pelos meios 
eletrônicos apenas preferencialmente. A realidade forense enfrentada pelos diversos 
tribunais locais quanto à utilização de sistemas informatizados abrangentes e seguros, o 
que é de se lamentar, ainda não autoriza um texto impositivo, a exigir de forma 
compulsória de cada foro a adoção do sistema informatizado. Contudo, a determinação 
poderia ter vindo em termos mais pungentes, colocando como regra a penhora de 
dinheiro pelos meios eletrônicos, excetuando as comarcas que ainda não dispusessem de 
recursos para tanto ou outras situações pontuais, a critério do julgador.
Essa reflexão vem da cediça resistência que juízes e tribunais oferecem à 
modernidade do processo, já destacada alhures, quando inúmeras decisões não só 
cerceiam a penhora em dinheiro, como ainda limitam sua utilização à faculdade do 
magistrado em se credenciar junto ao BACEN JUD, como se tal fosse uma ofensa à 
independência do magistrado na atuação do processo14.
A jurisdição, sob a ótica constitucional, é exercício de soberania, cumprindo ao 
magistrado – agente exercendo mandato popular e não dono do poder – o dever-poder 
de administrar a justiça do caso concreto. Não é mais possível, nesta fase de 
14 A título de exemplo: INDEFERIMENTO. MAGISTRADO NÃO CADASTRADO NO SISTEMA 
BACEN-JUD.IMPOSSIBILIDADE DE COMPELIR O MAGISTRADO À SUA UTILIZAÇÃO. 
NECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DE TODAS AS MEDIDAS EXTRAJUDICIAIS DISPONÍVEIS 
PARA A LOCALIZAÇÃO DE BENS DO DEVEDOR. Não é possível obrigar o Magistrado a se 
cadastrar no sistema BACEN JUD para realização de penhora “on line”. Ademais, o acolhimento do 
pedido somente é cabível quando esgotadas todas as medidas possíveis para a localização de bens do 
devedor, situação inocorrente no caso, não sendo admitida a penhora requerida por estes motivos. 
Precedentes do TJRGS e STJ. Agravo de Instrumento n° 70014123970, Vigésima Segunda Câmara Cível, 
Tribunal de Justiça do RS, Relator Des. Carlos Eduardo Zietlow Duro, julgado em 23.01.06.
12
constitucionalização e reconstrução do processo, ficar afeito a práticas 
reconhecidamenteineficazes, como a troca de ofícios entre organismos estatais, a exigir 
tempo e providências cartorárias, mais operosas, morosas e onerosas do que a 
comunicação eletrônica, em injustificada homenagem à burocracia do paradigma 
pretérito.
Conforme notícia divulgada no site do Banco Central15, o BACEN JUD 
encaminhou 1.381.262 de determinações judiciais à rede bancária no ano de 2006, 
esclarecendo que a ferramenta alcança maior agilidade no cumprimento das decisões 
judiciais, permitindo que a ordem do juiz para o bloqueio de uma conta corrente, por 
exemplo, seja cumprida em 24 horas, enquanto o processamento via papel (ofício 
através do Correio) pode durar até 30 dias. A Justiça do Trabalho é a maior utilizadora 
do sistema e o Estado de São Paulo o que mais demanda. Segundo a divulgação, embora 
o absoluto sucesso do sistema informatizado, parte do Poder Judiciário ainda faz uso de 
ofícios em papel, tendo sido recebido pela instituição, no ano de 2006, 134.116 ofícios, 
a representar custos elevados de processamento, impondo sua triagem, classificação, 
digitação e reenvio das solicitações a toda rede bancária.
Tais esclarecimentos fazem concluir que, ao fim e ao cabo, os bancos que atuam 
no mercado de capitais vão receber a ordem de informação e/ou bloqueio pelo sistema 
eletrônico, processando-se, pois, a busca por dois procedimentos conjugados: o 
primeiro, arcaico, através de ofício, entre o Poder Judiciário e o Banco Central; o 
segundo, entre a instituição fiscalizadora e os destinatários finais da ordem, via 
informatizada, repetindo-se no retorno a mesma “via sacra”. 
O argumento, outrossim, de que o juiz não pode ser compelido a cadastrar-se no 
sistema é franciscano e falacioso, representando muito mais apego a práticas cartorárias 
em que o papel assumia posto soberano. A uma, o cadastramento e obtenção de senha 
seguem os mesmos padrões para que o juiz, pessoalmente, se comunique via correio 
eletrônico, obtenha acesso as suas contas bancárias privativas, aos bancos de dados de 
informação técnica-científica, ao próprio sistema informatizado do Tribunal ao qual 
integra, além de inúmeras outras oportunidades que a Internet oferece a seus usuários. A 
duas, a oficialização do sistema está sacramentada pelo convênio firmado entre o 
Tribunal Superior de Justiça, com as respectivas adesões locais, e o Banco Central, 
inocorrendo qualquer capitis diminutio no exercício jurisdicional, pois só os tribunais 
conveniados é que podem fazer uso do BACEN JUD. 
15 Site www.bcb.gov.br/?id=Notícias, em data de 19.01.07.
13
 Mas certamente a expedição das ordens judiciais para a penhora de ativos 
financeiros via ofício, ressalvada, é claro situações muito excepcionais, é questão de 
tempo e estará totalmente suplantada. A cogência de sua utilização não virá da lei, mas 
da imposição dos fatos.
5. Quebra do sigilo bancário
A penhora de ativos financeiros através do sistema eletrônico não representa 
quebra do sigilo bancário, ainda que possa ser considerada uma relativização do 
princípio16. O BACEN JUD atende tão somente a informação e o bloqueio de valores 
limitados ao montante do crédito exeqüendo. Nesse sentido reza o § 1° do art. 655-A 
que as informações limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou aplicação até o 
valor indicado na execução, não se configurando qualquer invasão ou devassa nas 
contas bancárias do executado. 
 Não é de se olvidar, outrossim, que as informações e os bloqueios de valores 
encontram fundamento na própria incúria do executado, que deixa de cumprir com o 
seu dever de litigar com boa-fé. Tanto é assim que pode ele perfeitamente afastar a 
investigação, tomando a iniciativa e indicando desde logo bens à penhora, entre os quais 
se inclui o dinheiro em espécie ou em depósitos bancários. Ainda que a nova redação 
dada ao caput do art. 659 não mais contenha expressamente a nomeação de bens à 
penhora pelo devedor, isso em absoluto não significa que este não seja um dever 
processual seu e que esteja privado de assim proceder. Trata-se não de mera faculdade 
do devedor, mas de ato que encontra seu amparo maior no art. 14, do CPC, e que vem 
ratificado pela disposição do art. 600, inc. IV, cuja nova redação impõe ao réu do 
processo executivo o prazo de 5 (cinco) dias a partir de sua intimação para prestar as 
informações requisitadas sobre os bens passíveis de penhora, pena de sua omissão ser 
considerada ato atentatório à dignidade da Justiça. Forçoso, pois, concluir que é de 
ordem pública, não atendendo apenas o interesse privado, o disposto no § 1° do art. 656, 
cumprindo ao executado informar, no prazo fixado pelo juiz, onde se encontram os bens 
16 Orientando-se nesse sentido, decisão proferida em sede de juízo monocrático, com fundamento no art. 
557 do CPC, desprovendo liminarmente o Agravo de Instrumento n° 70017727397, da lavra da Desa. 
Rejane Maria Dias de Castro Bins, nos seguintes termos ementada: DIREITO TRIBUTÁRIO. 
EXECUÇÃO FISCAL. ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. PENHORA ON LINE. A jurisprudência 
tem admitido a quebra do sigilo fiscal ou bancário do devedor de tributos, na execução fiscal, para 
obtenção de informações sobre a existência de bens do devedor inadimplente e conseqüente penhora on 
line, através do Sistema BACEN JUD, somente após esgotadas as tentativas extrajudiciais de localização 
de bens. AGRAVO DESPROVIDO.”
14
sujeitos à execução, demonstrar sua titularidade e isenção de ônus, bem como de abster-
se de qualquer atitude que dificulte ou embarace a realização da penhora.
Os procedimentos que cuidam das informações de ativos financeiros e do 
bloqueio de valores até efetivação da penhora representam, ao fim e ao cabo, corolário 
do dever-poder do juiz em conduzir o processo ao efeito de alcançar-se concreta e 
efetivamente a sua função. E, no processo executivo, a função jurisdicional é de 
satisfazer o crédito inadimplente, adentrando compulsoriamente no patrimônio do 
devedor que se recusa a cumprir sua obrigação certa, líquida e exigível. É ato de 
império e não mera faculdade, a que o jurisdicionado credor está constitucionalmente 
garantido. 
6. Penhora on line e competência processual
Cumpre ao juízo da execução, cuja competência regulada pelos arts. 576 e 
seguintes do CPC não foi alterada pela Lei n° 11.382/06, apreciar e decidir sobre o 
pedido de penhora on line de depósitos bancários, não havendo que se falar em carta 
precatória. Justifica-se a afirmação porque o encaminhamento da ordem judicial, via 
eletrônica – ou mesmo através de ofício, procedimento que não se encontra vedado, 
como antes analisado – é processado diretamente ao Banco Central, cumprindo a essa 
instituição a comunicação com os inúmeros estabelecimentos financeiros, 
independentemente de sua praça. Também o retorno dessas perquirições se dará 
mediante informação eletrônica, mais uma vez podendo o magistrado responsável se 
valer da comunicação em rede para determinar a transferência desses valores para o 
banco oficial, que presta serviços ao Judiciário local, assumindo a condição de 
depositário do montante penhorado.
Nesse sistema não há espaço para a expedição de carta precatória, que se torna 
inócua e inútil, reduzida a peça de museu na hipótese. Em sendo caso da execução ter 
sido objeto de deprecação, aí sim, quem assume a condição de juiz da execução é o do 
juízo deprecado, cumprindo a esse magistrado as providências acima mencionadas.
Admitir o contrário seria neutralizar todasas vantagens de celeridade e 
simplificação na prática que a penhora on line foi capaz de construir e exatamente sobre 
uma das mais românticas e etéreas, até então, previsões legais nos códigos reformados: 
penhora de dinheiro, verdadeira lenda da literatura forense, quase busca do Santo Graal. 
7. Penhora on line e princípios fundamentais do processo de execução
15
a) Princípio processual da execução econômica. Entre os princípios 
fundamentais que inspiram o processo de execução, destaca com unanimidade a 
doutrina que a execução deve realizar-se pela forma menos gravosa ao devedor. É a 
imposição do art. 620, do CPC, não alterado pela Lei n° 11.382/06. Não é outra a lição 
de Humberto Theodoro Júnior17 . Para Araken de Assis, o lado econômico da execução, 
“evitando maiores sacrifícios ao devedor que os exigidos pelo resultado” expressamente 
contemplado pelo art. 620, do CPC, é, na verdade, outra face do princípio do resultado, 
esse mais abrangente, atendendo outros alinhamentos, como a satisfação do credor, a 
especificidade da execução, a exclusiva responsabilidade do executado pelas despesas 
processuais, ora voltando-se em favor do credor, ora tutelando o próprio devedor18.
A penhora on line vem absolutamente ao encontro da exigência de menor 
prejuízo ao executado. São inúmeros os benefícios que se lhe agregam, como alhures já 
ventilado, valendo a pena algumas ratificações, até para chamar a atenção a 
determinadas particularidades. Assim, o numerário penhorado – não sendo caso de 
imediato levantamento pelo credor – permanecerá depositado, não sofrendo nenhuma 
defasagem, porque os depósitos judiciais estão submetidos a rendimentos e juros, de 
forma que possa o respectivo valor acompanhar a atualização do débito executado. Se 
isso é uma vantagem em relação a outros bens que vão se desvalorizando ou mesmo 
deteriorando com o passar do tempo, por outro lado algumas dificuldades deverão ser 
enfrentadas, a merecer o devido debate na jurisprudência, como, por exemplo, venha se 
utilizar, para a recomposição da dívida, índices diferenciados daqueles praticados pelo 
sistema financeiro. Cediço que nos últimos anos o índice de maior utilização na 
atualização dos valores devidos em ações judiciais é o IGP/M, enquanto que os 
depósitos judiciais em instituições financeiras têm sido atualizados pelos índices e 
rendimentos da poupança (TR), que se têm demonstrado inferiores àqueles. Sob pena de 
ferimento ao princípio da economia e do disposto no art. 620, do CPC, tem-se que não é 
mais viável, se efetivada penhora on line, este conflito de índices, pagando-se o credor, 
quando superados os demais questionamentos processuais (embargos ou outros 
incidentes) pelo montante depositado junto ao estabelecimento bancário, afastadas 
quaisquer outras atualizações monetárias, a partir do depósito transformado em penhora, 
pena de se tornar infindável a dívida. De sorte que índices contratuais ou índices que 
17 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução, 6ª ed., São Paulo: Livraria e Editora 
Universitária de Direito Ltda., 1981, p. 24.
18 ASSIS, Araken. Manual do processo de execução, 5ª ed., 2ª tiragem, São Paulo: Editora Revista dos 
Tribunais Ltda., 1998, p. 98/99.
16
sejam acolhidos pelos cálculos judiciais poderão ser respeitados para o acertamento do 
montante do débito exeqüendo, mas apenas até o momento em que concretizada a 
penhora on line, pois, a partir daí, os critérios de atualização monetária e do rendimento 
do valor recolhido e os do crédito a ser satisfeito se unificam, não mais prevalecendo 
essa duplicidade de atualização da dívida.
b) Princípio da sucumbência por conta do executado. A execução corre mediante 
absoluta responsabilidade do executado, que deverá responder por todas as custas e 
despesas processuais, inclusive honorários advocatícios. A expropriação de bens móveis 
ou imóveis enseja inúmeras despesas, como intimações por oficial de justiça, editais a 
serem publicados em jornais, avaliações por avaliadores ou peritos, despesas de 
eventual locomoção do bem, despesas com depositário, honorários de leiloeiros. A 
penhora on line, sem embargo da incidência de algumas taxas bancárias em razão da 
movimentação financeira, também a serem suportadas pelo executado, dispensa o 
devedor de arcar com as demais verbas processuais, produzindo resultado favorável ao 
devedor.
c) Garantia da dignidade humana do devedor. As regras de impenhorabilidade 
asseguram ao devedor que a execução não possa levá-lo e a sua família a uma condição 
de indignidade. Também nesta seara a penhora on line opera em favor do devedor, pois 
a apreensão se dará sobre dinheiro e não sobre bens de maior valia, como sua residência 
ou de sua família ou dos móveis que a guarnecem; instrumentos e utensílios 
indispensáveis à sua atividade profissional ou de trabalho; propriedade rural de pequena 
dimensão destinada à sobrevivência da família, etc. De outra banda, se o numerário 
arrecadado estiver sob o manto da impenhorabilidade, como antes registrado, o texto 
normativo assegura meios de defesa ao executado (art. 655-A, § 3°), excluindo-o da 
indisponibilidade conseqüente da constrição judicial.
 d) Princípio da execução específica. Aqui a penhora on line se supera em 
consagração. Nada mais específico que constranger dinheiro, ainda que depositado 
junto a instituições financeiras, para satisfazer crédito de pagar quantia certa.
e) Princípio da disponibilidade. Mais uma vez, a penhora por meios eletrônicos 
alcança grau de excelência. Se a prestação que o credor tem direito é de pagamento de 
quantia certa, a apreensão judicial de depósitos bancários em nome do devedor é a plena 
satisfação da prestação jurisdicional.
17
8. Penhora de dinheiro pelos meios eletrônicos e as garantias constitucionais do 
acesso à justiça e da duração razoável do processo
 Lembrando Norberto Bobbio, para falar dos direitos dos homens, cujo rol não é 
estático e se mostram sempre novos e cada vez mais extensos, é preciso descer do plano 
ideal ao plano real, justificando-os de forma a efetivamente legitimá-los perante a 
ordem vigente e, assim, garantir sua efetiva proteção, na medida em que o debate dos 
direitos humanos passou a representar “um sinal do progresso moral da humanidade”, 
crescimento esse a ser medido pelos fatos e não por palavras, até porque “de boas 
intenções, o inferno está cheio”19. 
 O ensinamento vale, também, para a devida prestação jurisdicional, que passou a 
ser contemplada por princípios e garantias constitucionais, entre os quais cumpre, aqui, 
destacar, o acesso à justiça (art. 5°, inc. XXXV, da CF) e o direito dos litigantes a uma 
duração razoável do processo (art. 5°, inc. LXXVIII, da CF), ícones da jurisdição deste 
milênio e que não podem ser olvidados pelo novo processo de execução que se procura 
estabelecer nos limites de nossas fronteiras jurisdicionais.
A utilização da ferramenta dos sistemas e redes informatizados na prática 
forense já é conquista inarredável, mostrando-se pré-histórica qualquer resistência a sua 
adoção. 
A propósito, escreve Clóvis Fedrezzi Rodrigues, em artigo sobre as mudanças na 
execução de sentença condenatória e de outros projetos visando ao processo executivo 
nas suas diversas nuanças, conclusão perfeitamente apropriada ao estudo em espécie, ao 
comentar 
Há de se referir à adoção de meios eletrônicos para a prática 
de atos processuais. A tecnologia, atualmente, é usada como 
ferramenta de agilização, simplificando diversasatividades. Nesse 
sentido, em pleno século XXI, a tendência é a modernização, devendo, 
entretanto, ser sempre respeitadas as garantias constitucionais.20
 
 
19 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos, 15ª tiragem, trad. de Carlos Nelson Coutinho, Rio de Janeiro: 
Campus, 1992, p. 63/64.
20 RODRIGUES, Clóvis Fedrizzi. As mudanças da Lei 11.232/2005 no processo de execução de título 
judicial e as mudanças previstas na execução extrajudicial e fiscal, in Aspectos polêmicos da nova 
execução 3: de títulos judiciais, Lei 11.232/2005, coord. Teresa Arruda Alvim Wambier. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 176.
18
O processo expropriatório do patrimônio do devedor para satisfazer crédito 
certo, líquido e exigível sempre foi considerado o “primo pobre”, também já chamado 
de “Cinderela”, nos círculos processuais, correndo o risco de se agravar sua 
insuficiência se medidas mais enérgicas não forem tomadas de forma consciente e 
autêntica. Impõe-se, pois, sua releitura, atingindo regras clássicas que não se pode 
abstrair da jurisdição executiva, como a de reconhecer o dinheiro no patrimônio do 
devedor como o bem preferencial a ser objeto de garantia da execução, mas alcançando, 
também, os progressos de meios operacionais que podem, sem perda de segurança 
jurídica, dar uma nova roupagem a esta tão decantada, mas vítima de profunda anemia, 
atividade jurisdicional: a jurisdição executiva.
De sorte que tanto o resgate e a valorização da penhora do dinheiro como a 
positivação no CPC da penhora on line representa passos significativos na prestação 
jurisdicional executiva, encontrando-se em consonância com as garantias do acesso à 
justiça, pois o credor só será efetivamente tutelado pelo Poder Judiciário se receber o 
seu crédito na forma mais completa possível, e se isso for feito em tempo hábil e 
oportuno, a consagrar a novel garantia constitucional da duração razoável do processo.
9. Considerações finais
Em apertada síntese, a penhora de dinheiro e sua formalização via eletrônica, 
embora não representem propriamente novidades na legislação, doutrina e prática 
forense, receberam da Lei n° 11.382/06 tratamento e espaço significativo para galgarem 
novos horizontes na jurisdição executiva, não se divorciando do devido 
comprometimento que os institutos e procedimentos processuais devem à 
constitucionalização do processo, sem embargo da indiscutível necessidade de seu 
aperfeiçoamento quando no embate com a multiplicidade e riqueza de pormenores que 
os fatos submetidos a julgamento exigirão dos intérpretes e operadores do direito.
Sem representar panacéia para todos os problemas do processo expropriatório 
que atende aos créditos certos, líquidos e exigíveis, revestem-se as duas medidas de 
áurea positiva, inovadora, esperando-se dos advogados, juízes e tribunais tolerância e 
confiança na sua aplicação imediata aos trâmites processuais de créditos insolventes, de 
modo a exorcizar do processo de execução a sua histórica vocação para, mais do que a 
ineficácia, a absoluta impotência em atuar conflitos de obrigações insatisfeitas.
19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSIS, Araken. Manual do processo de execução, 5ª ed., 2ª tiragem, São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais Ltda, 1998.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos,15ª tiragem, trad. Carlos Nelson Coutinho, Rio 
de Janeiro: Campus, 1992.
RODRIGUES, Clóvis Fedrizzi. As mudanças da Lei 11.232/2005 no processo de 
execução de título judicial e as mudanças previstas na execução extrajudicial e fiscal, 
in Aspectos polêmicos da nova execução 3: de títulos judiciais, Lei 11.232/2005, coord. 
Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2006.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Comentários ao código de processo civil, Rio de 
Janeiro: Forense, 1978.
_________________. Processo de execução, 6ª ed., São Paulo: Livraria e Editora 
Universitária de Direito Ltda., 1981.
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