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Sistema de amortização – modelo americano Simone Motyczka Ott Telles Introdução Muitas são as formas de amortização para devolver um capital tomado emprestado por um longo prazo, o que as diferencia é a forma como serão reembolsados o principal (capital) e os juros (CRESPO, 2009). Nesta aula, iremos conhecer o modo de amortização em que os juros serão pagos periodicamente e o capital somente no vencimento: o sistema americano de amortização. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender o modelo americano de amortização; • entender os cálculos utilizando o modelo americano. 1 Sistema americano Saiba que a característica básica do sistema americano de amortização (SAA) é não ocorrer amortizações durante o prazo do financiamento. Nestas condições, o principal é devolvido inte- gralmente em uma única parcela no final do tempo acordado. Castanheira (2010, p. 164) afirma que o sistema americano é “o mais simples dos sistemas de amortização, pois consiste em devol- ver o capital emprestado em um pagamento único, ao final do prazo contratado”. Concede-se, portanto, carência ao tomador do empréstimo. Praticamente em todos os sistemas de amortização, os juros pagos incidem sobre o saldo devedor, sendo então que a grande diferença está na maneira como eles podem ser pagos (MÜLLER, 2012, p. 131): • apenas no vencimento do principal, caracterizando o sistema Bullet; • em parcelas periódicas (padrão ou “cupons”), caracterizando a forma mais usual desse sistema. FIQUE ATENTO! Muito embora consideramos os financiamentos em termos de moeda corrente (di- nheiro), essas operações podem ocorrer também com bens (mercadorias, máqui- nas ou equipamentos) ou serem originadas por serviços prestados (Müller, 2012). É conveniente criar uma planilha ou tabela com o cronograma dos valores de recebimento e de pagamento, com a finalidade de acompanhar o progresso da amortização. De modo geral, para a construção destas tabelas, Samanez (2010) baseia-se nas seguintes fórmulas: SD atual = SD anterior – A FV = PV × (1 + i )n J = SD × i PMT= A + J Em que: SD = saldo devedor A = amortização FV = valor futuro PV = valor presente n = prazo J = valor dos juros i = taxa de juros PMT = prestação SAIBA MAIS! Você sabe a diferença entre empréstimo bancário e financiamento? Saia mais sobre a diferenças entre essas operações no site do Banco Central do Brasil, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/servicos9.asp>. Figura 1 – Sistema americano de amortização Fonte: TheLightPainter/Shutterstock.com 1.1 Sistema americano sem pagamento periódico de juro (bullet) Como nesta modalidade os juros serão pagos juntamente com o principal, também liquida- dos de uma única vez. Se os juros são incorporados ao capital, é fácil perceber que seu valor será mais alto do que quando eles são pagos periodicamente, podendo por vezes até superar o valor de outros sistemas de amortização. Com base nessa constatação, fica claro que esse sistema de amortização só é interessante para quem não possui uma renda certa, tendo, porém, a expectativa de conseguir recursos para o compromisso financeiro assumido. Por exemplo, um empreendedor que deseja montar seu próprio negócio. Exemplos de utilização dessa modalidade de amortização é a utilização em papéis de renda fixa com renda paga no final, cabendo destacar as letras de câmbio e os certificados de depósitos com renda final (CASTANHEIRA, 2010). EXEMPLO A um empresário que está desejando empreender em um novo negócio, foi concedido um financiamento no valor de R$ 800.000,00 a ser quitado pelo sistema americano de amortização no formato bullet, sem pagamento periódico de juro. A taxa de juros contratada foi de 2,6% a.m., e o prazo da operação foi de 12 meses. Qual será o valor pago ao final do contrato pelo empresário à instituição financeira? Com base nessas informações vamos construir uma tabela de amortização, a fim de demonstrar como ocorre o financiamento. Quadro 1 - Tabela de amortização sistema americano bullet Mês Saldo devedor Amortização Juros Prestação SD atual = SDanterior – A A J = SD × i PMT= A + J 0 800.000,00 --- --- --- 1 820.800,00 --- --- --- 2 842.140,80 --- --- --- 3 864.036,46 --- --- --- 4 886.501,41 --- --- --- 5 909.550,45 --- --- --- 6 933.198,76 --- --- --- 7 957.461,92 --- --- --- 8 982.355,93 --- --- --- 9 1.007.897,19 --- --- --- 10 1.034.102,52 --- --- --- 11 1.060.989,18 --- --- --- 12 --- 800.000,00 288.574,90* 1.088.574,90 Fonte: elaborado pela autora, 2016. *FV = PV × (1 + i )n = 800.000,00 × (1 + 0,026)12 = R$1.088.574,90 J = FV – PV = 1.088.574,90 - 800.000,00 = R$ 288.574,90 Assim, o valor a ser pago pelo empreendedor será de R$ 1.088.574,90, sendo R$ 800.000,00 de restituição de capital e R$ 288.574,90 de juros do período. Figura 2 – Sistema americano bullet Fonte: Illustration Forest /Shutterstock.com FIQUE ATENTO! No sistema de amortização americano na modalidade bullet não há amortizações do principal em parcelas intermediárias e será cobrado juro sobre juro (juros compostos). 1.2 Sistema americano com pagamento periódico de juro O sistema americano de amortização com pagamento periódico de juros é aquele em que o tomador paga periodicamente o valor correspondente aos juros, quitando em uma única parcela somente o valor do principal, ao final do prazo acordado. Como os juros incidem sobre o saldo devedor e são pagos periodicamente, eles permanecem constantes e não haverá variação do saldo devedor. É importante ressaltar que esses pagamentos periódicos não se referem unicamente a pagamentos mensais, ou seja, podem ser firmados con- tratos longos em que os juros são pagos em períodos anuais. Neste exemplo, o cálculo dos juros também será anual. “O mais comum, na prática, é a cobrança de juro durante o período de carên- cia. Por exemplo, quando se penhora uma joia na Caixa Econômica Federal ou quando se paga o juro da dívida externa brasileira” (CASTANHEIRA, 2010, p. 166). EXEMPLO Imagine que a um empresário, foi concedido um financiamento no valor de R$ 800.000,00 a ser quitado pelo sistema americano de amortização com paga- mento periódico de juro. A taxa de juros contratada para o financiamento foi de 2,6% a.m., e o prazo da operação corresponde a 12 meses. Qual será o valor pago ao final do contrato pelo empresário à instituição financeira? Com base nestas in- formações, vamos construir uma tabela de amortização, a fim de demonstrar como ocorre este financiamento. Quadro 2 - Tabela de amortização sistema americano com pagamento de juros Mês Saldo devedor Amortização Juros Prestação SD atual = SDanterior – A A J = SD × i PMT= A + J 0 800.000,00 --- --- --- 1 800.000,00 --- 20.800,00 20.800,00 2 800.000,00 --- 20.800,00 20.800,00 3 800.000,00 --- 20.800,00 20.800,00 4 800.000,00 --- 20.800,00 20.800,00 5 800.000,00 --- 20.800,00 20.800,00 6 800.000,00 --- 20.800,00 20.800,00 7 800.000,00 --- 20.800,00 20.800,00 8 800.000,00 --- 20.800,00 20.800,00 9 800.000,00 --- 20.800,00 20.800,00 10 800.000,00 --- 20.800,00 20.800,00 11 800.000,00 --- 20.800,00 20.800,00 12 --- 800.000,00 20.800,00 820.800,00 Fonte: elaborado pela autora, 2016. Assim, o valor a ser pago será de R$ 1.049.600,00, sendo R$ 800.000,00 de restitui- ção de capital e R$ 249.600,00 de juros do período. Devido a diferenças entre o sistema americano com pagamento periódico de juro (padrão) e o sistema americano sem pagamento periódico de juro (bullet), podemos identificar que na pri- meira modalidade ocorre menos incidência de juros devido à sua quitação em cada período, não sendo os juros incorporados ao principal. FIQUE ATENTO! No sistema americano de amortização padrão, é indiferente o regime de capitaliza-ção aplicado (juros simples ou compostos), pois sendo os juros pagos periodica- mente, não ocorre a incidência de juros sobre juros. 1.3 Criação do fundo de amortização (sinking fund) Devido à característica desse sistema, que prevê o pagamento do principal no final do período de carência, a última prestação normalmente é bem elevada, o que aumenta o risco do tomador não conseguir honrar com seu pagamento. Tal fator, por vezes, inibe a escolha desse sistema de amortização por parte de tomadores de crédito e até sua oferta pelas instituições financeiras. A parcela elevada que deve ser paga ao final do contrato faz com que seja muito comum a composição, pelo devedor, de uma reserva ou um fundo financeiro com a finalidade de garantir a quitação. Conhecemos esse fundo de amortização como sinking fund, que é formado por depósi- tos periódicos em uma conta remunerada. Samanez (2010, p. 166) informa que: “Ao fim da operação, o valor do fundo de amortização (sinking fund) deve ser igual ao valor do empréstimo concedido, de modo que este possa ser liqui- dado”. De modo geral, os juros desta aplicação devem ser iguais, ou pouco inferior, à taxa de juros que está sendo cobrada no financiamento. SAIBA MAIS! Conheça mais sobre o sistema de amortização lendo “O uso do sistema americano para operações de empréstimos e financiamentos”, que se encontra disponível em: <http://sistemabu.udesc.br/pergamumweb/vinculos/000019/00001964.pdf>. Figura 3 – Sistema de amortização Fonte: Dado Photos/Shutterstock.com Além dos exemplos de aplicabilidade já apresentados no decorrer desse estudo, conforme Müller (2012), o sistema americano, de modo geral, é uma forma de amortização de dívidas bastante utilizada nos financiamentos em moeda estrangeira, mais especificamente nos países de língua inglesa. Fechamento Chegamos ao final desta aula, que abordou o sistema de amortização americano, nas modalidades bullets, padrão e sinking fund. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • reconhecer a diferença entre as modalidades bullet e padrão; • conhecer sobre o fundo de amortização (sinking fund); • compreender os cálculos utilizados no modelo americano para formação da planilha de amortização. Referências ASSAF NETO, Alexandre; LIMA, Fabiano Guasti. Fundamentos de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2010. BANCO CENTRAL DO BRASIL. FAQ - Empréstimos e financiamentos. Disponível em: <http://www. bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/servicos9.asp>. Acesso em: 31 out. 2016. CASTANHEIRA, Nelson Pereira; MACEDO, Luiz Roberto Dias de. Matemática financeira aplicada. 3. ed. Curitiba: Ibpex, 2010. CRESPO, Antônio Arnot. Matemática financeira fácil. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. HALTER, Bárbara. O uso do sistema americano para operações de empréstimos e financiamen- tos, 2013. Trabalho de graduação (Curso de Matemática) - Universidade do Estado de Santa Cata- rina, Joinville. MULLER, Aderbal Nicolas; ANTONIK, Luis Roberto. Matemática Financeira. São Paulo: Saraiva, 2012. PUCCINI, Abelardo. Matemática Financeira Objetiva e Aplicada. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. SAMANEZ, Carlos Patrício. Matemática Financeira. 5. ed. São Paulo: Pearson, 2010. SOBRINHO, José Dutra vieira. Matemática Financeira: Juros, capitalização, descontos e séries de pagamentos, empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras, utilização de calculadoras financeiras. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. VERAS, Lilia Ladeira. Matemática Financeira: uso de calculadoras financeiras, aplicações ao mer- cado financeiro, introdução à engenharia econômica, 300 exercícios resolvidos e propostos com resposta. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
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