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ANÁLISE DE INVESTIMENTOS Autor: OSMAR SILVA CARNEIRO Edição revisada por: SABRINA TREJES MARENGO VANESSA MARTINS PIRES 2ª edição Editora Unisinos, 2014 SUMÁRIO Apresentação Capítulo 1 – Conceitos iniciais Capítulo 2 – Juros e descontos simples Capítulo 3 – Juros compostos Capítulo 4 – Taxas de juros (over, inflação, real), indices de preços, taxa médias e prazos médios Capítulo 5 – Séries financeiras: fluxo de caixa ou séries de pagamentos Capítulo 6 – Séries financeiras: fluxo de caixa ou séries de pagamentos antecipadas Capítulo 7 – Séries financeiras: série em gradiente Capítulo 8 – Sistemas de amortização Referências Sobre os autores Informações técnicas APRESENTAÇÃO O ensino da matemática financeira é um constante desafio para os professores que atuam neste campo de atividade, principalmente porque exige o desenvolvimento de raciocínio lógico, a compreensão da matemática desde seus conceitos iniciais e ampla dedicação dos envolvidos em seu aprendizado — professores e alunos. Lidar com esta ciência exata requer disciplina e dedicação para solução de situações que envolvem cálculos financeiros que permeiam nosso dia a dia. O livro, decorrente da experiência de sala de aula e do tempo de atuação em matemática financeira, tem um único objetivo: dotar os futuros profissionais de conceituação matemática sólida e indispensável ao exercício não só de suas atividades profissionais, mas para que avancem, em muito, nas necessidades de sua vida pessoal. Esta edição tem, portanto, o intuito de trazer para os alunos da UNISINOS a abordagem sequencial utilizada em sua forma programática da disciplina de Análise de Investimentos em linguagem acessível, prática e que torne eficiente o modo de aprender matemática financeira, utilizando metodologia que incentive o aluno ao estudo e que o desafie constantemente ao aprendizado. Todo aprendizado, então, depende da boa inicialização dos conteúdos, pois é no início do contato com os conhecimentos, de qualquer disciplina, que residem as maiores dificuldades e as grandes descobertas. Portanto, a solidez dos conhecimentos introdutórios contribui para: despertar a curiosidade do acadêmico, estimular sua capacidade de aprender, reconhecer os conteúdos em sua vivência pessoal e profissional, dando cunho prático à solução dos problemas de cálculos financeiros. Este é o firme propósito do ensino da matemática financeira na UNISINOS, pois espera-se que o acadêmico, ao concluir o semestre, tenha sólidos conhecimentos sobre regimes de capitalização (simples e composta), taxas de juros (em suas diversas formas de formação e apresentação), aplicação dos fluxos de caixa — também denominadas séries de pagamentos uniformes ou variáveis (postecipadas ou antecipadas) —, sistemas de amortização de pagamentos (Tabela Price, amortização constante, mista etc.) e planos de financiamento, que em seu conjunto refletem a adequada aplicação de cálculos financeiros. São Leopoldo, outubro 2014. Os autores CAPÍTULO 1 CONCEITOS INICIAIS Neste capítulo, são apresentados os conceitos iniciais abordados em matemática financeira, a regra de realização das operações, potenciação, logaritmos, percentuais, simbologia, uti l ização de ferramentas como o Excel e a HP12C, para o desenvolvimento das operações financeiras. 1.1 Ordem das operações A ordem das operações em matemática refere-se à convenção que indica a ordem pela qual devem ser realizadas as operações em uma expressão. 1. resolvem-se potências e raízes; 2. resolvem-se multiplicações e divisões; 3. resolvem-se somas e subtrações. Podemos, no entanto, modificar a hierarquia das operações utilizando parênteses, colchetes ou chaves. Na matemática, também podemos utilizar sinais nas expressões numéricas com o objetivo de organizar as expressões como, por exemplo, ( ) parênteses, [ ] colchetes e { } chaves, e dar preferência para algumas operações. Portanto, quando esses sinais aparecerem em uma expressão numérica, devemos eliminar, ou seja, resolver, na seguinte ordem: parênteses, colchetes e, por último, as chaves. 1.2 Potenciação Determinamos potenciação a operação que se dá com potências. Potências são os valores que representam uma multiplicação sucessiva de um número, ou seja, representam o mesmo número multiplicado várias vezes por si mesmo. Desta forma, as potências surgiram no intuito de representar multiplicações nas quais os fatores eram iguais (FRIENDRICH; MANZINI, 2010). Uma potência é composta por um número, chamado “base”, que é multiplicado sucessivamente por si mesmo; e por um índice, chamado “expoente”, que diz o número de vezes que a base é multiplicada por si mesma. As potências apresentam-se na forma an, em que “n” é o “expoente” e “a” é a “base”. Exemplo: a potência 24 indica que a base, o número 2, será multiplicada sucessivamente quatro vezes por si mesmo, ou seja: 24 = 2 * 2 * 2 * 2 = 16 Ressalte-se que temos como caso particular o expoente unitário. Por omissão de expoente ele é unitário, elemento neutro da potência, então o resultado tem o valor da base. Algumas propriedades foram criadas nas operações envolvendo potenciações de bases iguais ou diferentes, simplificando os cálculos. Exemplos: Multiplicação de potências com as bases iguais e expoentes diferentes: Multiplicação de potência com os expoentes iguais e bases diferentes: Divisão de potências com as bases iguais e expoentes diferentes: Divisão de potências com os expoentes iguais e bases diferentes: Nas calculadoras, a tecla xy permite o cálculo de potências de qualquer grandeza. 1.3 Logaritmo A palavra logaritmo quer dizer número de razão e foi sugerida por Napier depois de ter usado a expressão número artificial. Para resolver equações exponenciais, como 3x = 9, basta fatorar o número 9 e escrevê-lo na forma de potência. Então: 3x = 32 Como temos uma igualdade e nos dois membros da equação as potências possuem bases iguais, os expoentes dessas potências também devem ser iguais, ou seja, x = 2. No entanto, não podemos utilizar o mesmo procedimento para resolver equações exponenciais do tipo: 2x = 25. Observamos que, fatorando o número 25, encontramos 52. Então, estas potências (2x = 52) não possuem bases iguais e, para resolvermos essa equação exponencial, precisamos fazer uso dos logaritmos. Basicamente, utilizamos logaritmos para resolver equações exponenciais, simplificar expressões consideradas “complicadas”, bem como para facilitar a análise de certas funções com o uso de calculadoras. 1.3.1 Conceito algébrico de logaritmo O logaritmo de um número N é o expoente x da potência que se eleva à base a, para obter-se o número dado. em que: N = o número, também chamado de antilogaritmo a = a base do logaritmo x = o logaritmo 1.3.2 Logaritmo natural ou logaritmo neperiano O sistema de logaritmos de base é denominado logaritmo natural ou neperiano “e”, neste caso, o logaritmo de um número N na base “e” é representado por InN. O “e”, a base do logaritmo natural, é um número racional, cujo valor é aproximadamente igual a 2,71828182846... Matematicamente, o logaritmo natural é representado por: Para encontrarmos o logaritmo natural, fazemos uso da calculadora científica. Na maioria das vezes, a tecla ln fornece o logaritmo natural do número N. Vejamos, por meio de exemplos, como proceder com a calculadora. ln 10 = digitamos o número 10 e clicamos na tecla ln para obter a resposta = 2,3026 ln 0,78 = digitamos o número 0,78 e clicamos na tecla ln para obter a resposta = ‒0,2485 1.4 Percentuais A percentagem ou porcentagem (do latim percentum , significando “porcento”, “a cada centena”) é uma medida de razão com base cem. É um modo de expressar uma proporção ou uma relação entre dois valores (um é a parte e o outro é o inteiro) a partir de uma fração cujo denominador é cem, ou seja, dividir um númeropor cem. Os números percentuais possuem representações na forma de fração centesimal (denominador igual a cem) e quando escritos de maneira formal devem aparecer na presença do símbolo de porcentagem (%). Também podem ser escritos na forma de número decimal. Exemplos: Porcentagem Razão Centesimal Número Decimal 3% 3/100 0,03 6,2% 6,2/100 0,062 1.5 Simbologia Nesta seção, apresentam-se algumas variáveis que serão utilizadas nos conteúdos a serem estudados nesta disciplina. VP, PV ou C (valor presente, present value ou capital): valor de referência sobre o qual iniciam os efeitos da quantificação dos juros. VF, FV ou M (valor futuro, future value ou montante): valor que resulta da adição dos juros ao principal ou valor de referência. n (prazo): número de períodos do exercício de uma taxa. i (taxa de juros): fração incidente sobre um valor de referência, que resulta no valor monetário dos juros. Deve ser utilizada na forma unitária nas fórmulas, como, por exemplo, 3% = 0,03. j ou J: valor monetário dos juros. PMT ou P (pagamento ou recebimento): em um diagrama de fluxos de caixa, representa cada um dos valores de uma série uniforme de pagamentos ou recebimentos. VN: valor nominal de um título. VL: valor líquido proveniente do desconto de um título. D: valor do desconto de um título. d: taxa de desconto de um título. Deve ser utilizada na forma unitária nas fórmulas (3% = 0,03). Cf (fluxo de caixa): valor do fluxo de caixa no momento t. NPV ou VPL (valor presente líquido): resultado da soma dos fluxos de caixa, descapitalizados para o momento presente (zero) com base no custo de capital do projeto. IRR ou TIR (taxa interna de retorno): taxa de juros que anula o VPL. Ou seja, é a taxa que, aplicada aos fluxos de caixa, faz com que o somatório desses no tempo zero seja nulo. 1.6 Ferramentas como o Excel® e a HP 12C para o desenvolvimento das operações financeiras Embora não seja o foco da disciplina e, portanto deste livro, faz-se necessária a apresentação de duas ferramentas que poderão auxiliar no desenvolvimento de operações financeiras. São elas: a planilha financeira Excel® e a calculadora HP 12C. 1.6.1 Excel Para o desenvolvimento de operações financeiras com o Excel® utilizam-se fórmulas. As fórmulas constituem-se de endereços de células, operadores aritméticos e, ocasionalmente, valores. Os operadores aritméticos que podem ser usados em uma fórmula são os seguintes: (+) somar; (‒) subtrair; (*) multiplicar; (/) dividir; ( )^ potenciação. Uma função, por sua vez, é uma fórmula predefinida que efetua um tipo de cálculo específico. Para o cálculo de operações financeiras no Excel, utiliza-se o menu INSERIR e seleciona-se a opção FUNÇÃO (fx). Figura 1 – Planilha Excel. Fonte: domínio público. Os componentes da função podem ser: Taxa: taxa de juros do período, devendo estar na mesma base do tempo (Nper). Nper: número total de períodos de pagamento em um investimento. Pagamento: pagamento efetuado a cada período, não podendo ser alterado no decorrer do investimento. Vp: valor presente, ou a quantidade total atual correspondente a uma série de pagamentos futuros. Quando não especificado, Vp = 0. Tipo: valor que representa o vencimento do pagamento; pagamento no início do período (antecipado) = 1; pagamento ao final do período (postecipado) = 0, ou não especificado. A maioria das funções relacionadas aos conteúdos desta disciplina encontra-se na categoria financeira do Excel: =VP() =VF() =NPER() =TAXA() =PGTO() 1.6.2 HP 12C A HP 12C não possui a tecla igual (=), portanto, quando um número é digitado na calculadora, ele é automaticamente inserido no registrador X (visor). Ao pressionar a tecla [ENTER], o número é duplicado e seu valor copiado para o registrador Y. As operações da máquina são quase sempre efetuadas com os registradores X e Y. Assim, sugere-se que, antes de iniciar as operações sucessivas na HP 12C, deve-se fazer uma limpeza da pilha, pressionando as teclas [F] [REG]. A tecla [ENTER] é o principal mecanismo para a operação de pilhas da HP 12C. Ao pressionar [ENTER], os registradores são “empurrados” para cima na pilha e o conteúdo do visor (registrador X) é duplicado. Quando as operações são efetuadas, a calculadora opera os registradores X e Y, mantendo o resultado no visor (registrador X). A operação de adição entre 5 e 7 na calculadora poderia ser representada como: 5 [ENTER] 6 [+]. Além dos números armazenados na pilha, outros registradores da HP 12C úteis em operações estatísticas e financeiras podem ser limpos com o auxílio das seguintes funções: [f] [REG]: limpa todos os registradores da HP (não apenas a pilha), incluindo os registradores financeiros e os estatísticos; [f] [FIN]: limpa apenas os registradores financeiros da HP; [f] [Σ]: limpa apenas os registradores estatísticos da HP. Então, o primeiro passo sempre é limpar a memória da HP 12C: Figura 2 – Limpeza da memória na HP 12C. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3 – Funções financeiras da HP 12C. Fonte: elaborada pelo autor. Siglas utilizadas na figura 3: [n]: calcula o número de períodos [i]: calcula a taxa de juros [PV]: calcula o valor presente [PMT]: calcula a prestação [FV]: calcula o valor futuro [CHS]: troca o sinal CAPÍTULO 2 JUROS E DESCONTOS SIMPLES Este capítulo trata do regime de capitalização simples e taxas de juros (denominado juros simples), que tem como ponto relevante sua linearidade de aplicação. A compreensão do valor do dinheiro no tempo, a noção sobre fluxos de caixa, o desenvolvimento prático do regime de capitalização simples e algumas de suas variações, assim como o custo ou remuneração de capitais empregados (taxa de juros), são os elementos imprescindíveis para o início do entendimento de cálculos financeiros. Aborda-se no regime de capitalização simples: o capital, a taxa e o tempo e, posteriormente, o montante e o valor atual e suas inter-relações. O capítulo insere, também, o elemento custo ou remuneração de capitais (taxa de juros), abordado no seu conceito mais simples, que lhe confere um regime de linearidade, ou seja, uma proporcionalidade simples. Ao final do capítulo, aborda-se o desconto de títulos em seus dois formatos: “por dentro” e “por fora”. 2.1 Considerações iniciais A matemática financeira trata, em essência, do estudo do valor do dinheiro ao longo do tempo. O seu objetivo básico é o de efetuar análises e comparações dos vários fluxos de entradas e saída de dinheiro verificados em diferentes momentos. 2.2 Valor do dinheiro no tempo Receber uma quantia hoje ou no futuro não é evidentemente a mesma coisa. Em princípio, obter uma unidade monetária hoje é preferível à obtenção da mesma unidade monetária disponível amanhã. Postergar uma entrada de caixa (recebimento) por certo tempo envolve um sacrifício, o qual deve ser recompensado mediante uma remuneração denominada juros. De outra forma, adiantar uma entrada de caixa por certo tempo, para satisfazer uma necessidade de consumo hoje, envolve uma remuneração. Esta remuneração ou este custo é denominado juros. Desta forma, são os juros que efetivamente induzem o adiamento do consumo, permitindo a formação de poupança, ou o aceleram, determinando novos investimentos na economia. Neste sentido, as taxas de juros devem ser eficientes para remunerar/reduzir: o risco envolvido na operação (aplicação ou empréstimo); a perda do poder de compra do capital motivada pela inflação; o capital aplicado/emprestado. Os juros devem gerar um lucro (ou ganho) ao proprietário do capital e, consequentemente, um custo para o tomador do capital. Este ganho ou custo é estabelecido basicamente em função das diversas oportunidades de aplicação ou de investimento definido por um preço (taxa de juros). 2.3 Fluxo de caixa O fluxo de caixa é a distribuição, no tempo, de um conjunto de entradase saídas de capital. Pode-se afirmar que em um projeto ou investimento é o conjunto das entradas e saídas resultantes do capital aplicado ao longo do tempo. Convenciona-se que as entradas de caixa ou créditos representam valores positivos para o aplicador/investidor e que as saídas de caixa ou débitos representam valores negativos. Deve-se observar que reduções de custo, em termos econômicos, têm o mesmo significado que um recebimento. Usualmente, emprega-se a convenção de que os recebimentos (entradas) e desembolsos (saídas) ocorrem somente no final de um período, enquanto os investimentos são considerados no início de cada período. O fluxo de caixa pode ser apresentado esquematicamente a partir dos seguintes diagramas, em que a seta indicadora para cima significa entradas de caixa e a seta indicadora para baixo significa saídas de caixa. Figura 4 – Diagrama do fluxo de caixa. Fonte: elaborada pelo autor. De um modo geral, pode-se afirmar que os eventos econômicos podem, do ponto de vista financeiro, ser sintetizados a partir do fluxo de caixa. 2.4 Regimes de capitalização Regime de capitalização é o processo de formação de capital ao longo do tempo. Quando se opera com regimes de capitalização discreta (juros simples ou compostos), os juros gerados são incorporados (somados) ao capital somente no final de cada intervalo de tempo a que se refere a taxa de juros considerada. Quando a taxa de juros incide sobre o capital inicial (capital simples), aquele que é inicialmente empregado, diz-se que se está no regime de capitalização simples. Quando a taxa de juros incide sobre o capital acrescido de juros (capital composto), aquele que incorpora ao capital “inicial” os juros obtidos no período anterior (e assim sucessivamente), diz-se que se está no regime de capitalização composta. Isto significa que a taxa de juros incide sobre o capital já acrescido dos juros para o novo cálculo de juros. 2.5 Regimes de capitalização simples ou juros simples No regime de capitalização simples, o capital cresce pela aplicação da taxa de juros sobre um capital que permanece sempre constante. O regime de capitalização simples comporta-se como uma progressão aritmética (PA), pois aplica-se a taxa de juros sobre um valor de capital imutável ao longo do tempo. Nesse regime, o juro terá um comportamento linear em relação ao tempo. Se o tempo de aplicação dobrar, o valor do juro dobrará; se o tempo triplicar, o valor do juro triplicará. No exemplo a seguir, pode-se observar o comportamento do conceito pela aplicação de um capital de R$ 500,00, em cinco anos, à taxa de juros de 10% ao ano. Tabela 1 – Regime de capitalização simples: juros simples Ano Aplicação Taxa de Base de Saldo final juros cálculo e juros do ano Ano 1 R$ 500 10% ao ano R$ 500 × 0,10 × 1 = 50 500 + 50 = 550 Ano 2 10% ao ano R$ 500 × 0,10 × 1 = 50 550 + 50 = 600 Ano 3 10% ao ano R$ 500 × 0,10 × 1 = 50 600 + 50 = 650 Ano 4 10% ao ano R$ 500 × 0,10 × 1 = 50 650 + 50 = 700 Ano 5 10% ao ano R$ 500 × 0,10 × 1 = 50 700 + 50 = 750 Juros 250 Fonte: elaborada pelo autor. Em termos de representação matemática o que se visualiza é que o juro está em função de um capital (C ou PV), de uma taxa de juros (i) e de um tempo (n), o que pode ser expresso pela fórmula: ou seja, os juros são iguais a 500,00 × 0,10 × 5 = R$ 250,00, o que, evidentemente, mostra que o capital acrescido de seus juros gera um montante de R$ 750,00 (R$ 500,00 + R$ 250,00). Então, o montante é igual ao capital + juros. No entanto, deve-se salientar que a base para o cálculo dos juros (o capital) permaneceu imutável durante todo período, para incidência da taxa de juros, e isto é o que caracteriza a capitalização simples. 2.5.1 Capitalização simples: determinação dos juros, do capital, da taxa e do tempo Antes da determinação dos demais elementos, cabe aqui uma consideração sobre a taxa de juros. As taxas de juros são representadas de duas maneiras: sob a forma de taxa percentual (%) ou de taxa unitária (%/100). A “taxa percentual” refere-se ao percentual "centos do capital”, ou seja, o valor dos juros para cada centésima parte do capital. A “taxa unitária” refere-se à expressão matemática da taxa percentual, refletindo o rendimento de cada unidade de capital em certo período de tempo. Então, a expressão matemática (taxa unitária) é a divisão da taxa percentual por cem (1%/100 = 0,01), resultando em 0,01, que é a taxa unitária, a maneira adequada para utilizar a taxa em cálculos matemáticos. Observe o exemplo de quando um capital de R$ 1.000,00 aplicado a 20% a.a. rende de juros ao final de um período de um ano, considerando juros simples: A transformação da taxa percentual em unitária se processa simplesmente pela divisão da notação em percentual (20%) por cem (20/100); para o inverso, basta multiplicar a taxa unitária por cem. Nas fórmulas da matemática financeira, todos os cálculos são efetuados utilizando-se a taxa unitária de juros. Veja os exemplos a seguir: Tabela 2 – Taxas – Percentual e Unitária Taxa de juros percentual Taxa de juros unitária 1,5% 0,015 8,0% 0,080 17,0% 0,170 86,0% 0,860 120,0% 1,200 1.500,0% 15,000 Fonte: elaborada pelo autor. Retomando, no regime de capitalização simples (juros simples) existem diversos elementos necessários para obter a remuneração de um capital (juros): o próprio capital, a taxa de juros e um tempo. Todos estes elementos podem ser calculados e têm estabelecido fórmulas para sua obtenção. Partindo-se da fórmula dos juros, pode-se deduzir (obter) todos os demais elementos. A preparação é simples, basta destacar o que se quer obter (incógnita) e o J (juros) sempre será colocado como numerador da fração da fórmula; os demais elementos comporão o denominador. 2.5.2 Capitalização simples: determinação do montante Até o momento, para obtenção do montante, calculava-se o valor dos juros e o acrescia ao capital (capital + juros). No entanto, pode-se obtê-lo de forma direta, recorrendo ao desdobramento da relação original em que FV = PV + J. Para isto, o primeiro procedimento é substituir, em FV = PV + J, o J (juros) pelo seu valor da fórmula para sua obtenção → (PV × i × n). Então, temos: colocando-se o PV em evidência, o que significa dividir o PV por todos elementos que compõem a equação. Divide-se o PV pelo próprio PV e PV por (PV × i × n), o que resulta em: Então, PV/PV é igual a 1, e a relação seguinte fica (1 × i × n) ou apenas i × n, resultando em PV (1 + i × n) e obtendo-se a equação final: 2.5.3 Montante: determinação do capital (valor atual/valor presente), da taxa e do tempo Obteve-se, então, a fórmula para o cálculo do montante, quando os juros forem sob o regime de capitalização simples. Assim, pode-se calcular o montante sem passar pelo cálculo dos juros. Esta fórmula também nos permite calcular os demais elementos (capital, taxa e juros) a partir da equação final. 2.5.4 Capitalização simples: juros exatos, juros comerciais e o método hamburguês 2.5.4.1 Juros exatos e juros comerciais Até o momento, para obtenção do montante, determinava-se o valor dos juros e o acrescia ao valor do capital (capital + juros). No entanto, é bem comum em operações de juros simples ter prazo (tempo) definido em dias e características diferenciadas, o que determina uma mudança no cálculo, considerando os seguintes aspectos: tempo exato: utiliza-se o ano civil (365 dias); tempo comercial: utiliza-se o ano comercial, o qual admite que cada mês possui 30 dias; pelo critério bancário. Exemplo: calcular os juros exatos, juros comerciais e pelo critério bancário de um capital de R$ 50.000,00, aplicado durante os meses de julho e agosto, a uma taxa de 15% a.a. Tabela 3 – Métodos para Cálculo de Juros Simples Juro exato Juro comercial Critério bancário PV = R$ 50.000,00 PV = R$50.000,00 PV = R$ 50.000,00 i = 15% a.a. (0,15) i = 15% a.a. (0,15) i = 15% a.a. (0,15) N = 62 dias (62/365) N = 60 dias (60/360) n = 62 dias (62/360) 50.000 × 0,15 × (62/365) 50.000 × 0,15 × (60/360) 50.000 × 0,15 × (62/360) R = R$ 1.273,97 R = R$ 1.250,00 R = R$ 1.291,65 Fonte: elaborada pelo autor. 2.5.4.2 Método hamburguês O método hamburguês consiste no cálculo de juros sobre saldos ou valores não iguais e com diferentes prazos, utilizando uma taxa constante (diária). Ele é usado pelos bancos para apurar os juros sobre saldos devedores de contas garantidas e cheque especial, sendo cobrados sempre ao final do mês. O cálculo dos juros é expresso pela seguinte fórmula: Exemplo: calcular o valor dos juros de uma conta garantida (ou cheque especial) de um cliente, a qual, no mês de maio, apresentou os seguintes saldos, sabendo-se que a taxa de juros é de 4% a.m. Tabela 4 – Método Hamburguês Dia Histórico Retirada Depósito Saldo Número de dias 01/05 Saldo Inicial 20.000 C 03/05 Cheque 30.000 10.000 D 8 11/05 Depósito 50.000 40.000 C 15/05 Cheque 55.000 15.000 D 5 20/05 Cheque 4.000 19.000 D 4 24/05 Depósito 39.000 20.000 C 24/05 Cheque 50.000 30.000 D 7 31/05 Depósito 70.000 40.000 C Fonte: elaborada pelo autor. A tabela permite compor os saldos devedores e os dias correspondentes em que o saldo esteve “devedor”, quando é utilizado o limite concedido cujo cálculo está a seguir: Saldo devedor: 10.000 × 8 dias (do dia 03 até o dia 11) = 80.000 15.000 × 5 dias (do dia 15 até o dia 20) = 75.000 19.000 × 4 dias (do dia 20 até o dia 24) = 76.000 30.000 × 7 dias (do dia 24 até o dia 31) = 210.000 somatório 441.000 Então, multiplica-se a taxa de juros diária pelo somatório do saldo devedor (apurado pela multiplicação do saldo devedor pela quantidade de dias em que permaneceu com este saldo). No cálculo, o somatório é de R$ 441.000,00. Juros: (0,04/30) = 0,0013333 × 441.000 R$ = 587,99 2.5.5 Capitalização simples: equivalência de capitais A equivalência financeira constitui raciocínio básico para matemática financeira. Conceitualmente, dois ou mais capitais existentes em suas respectivas datas dizem-se equivalentes a outro valor (outro capital) quando, a certa taxa de juros, produzem resultados iguais em uma data comum. Considere a seguinte afirmação: R$ 140.000,00 vencíveis daqui a dois anos e R$ 100.000,00 existentes hoje são equivalentes entre si considerando uma taxa de juros simples de 20% ao ano. A verdade desta afirmação é que o capital de R$ 100.000,00 hoje existente, capitalizado em dois anos (acrescidos de seus juros o que produz um montante), resultaria em R$ 140.000,00. O mesmo acontece ao se determinar quanto vale hoje o capital de R$ 140.000,00 a ser recebido daqui a dois anos (valor atual), o que resultaria em R$ 100.000,00. No primeiro caso, multiplicar-se-ia o capital pela taxa e pelo tempo ((100.000,00 × (1 + 0,20 × 2) = 140.000,00) e, no segundo caso, dividir-se- ia o capital pela taxa e pelo tempo ((140.000,00/(1 + 0,20 × 2) = 100.000,00), o que significa utilizar o fator (1 + i × n). A resposta a esta situação é “tanto faz, pois os capitais são equivalentes entre si”, pois levando em conta essa taxa de juro e o prazo referido, tanto faz receber o valor hoje como recebê-lo daqui a dois anos. O cálculo de equivalência sob o regime de capitalização simples (juros simples) apresenta uma peculiaridade: dois ou mais capitais só são equivalentes entre si quando referenciados a uma mesma e única data. Figura 5 – Equivalência de Capitais. Fonte: elaborada pelo autor. O fracionamento de prazos em juros simples leva a resultados discrepantes, pois haveria duas capitalizações, quando ele é um período único. A discrepância pode ser observada na parte superior da figura, o que significa capitalizar os juros (calcular montante) a cada período: Como a equivalência se refere a uma única data, o cálculo deve observar todo período, como pode ser observado na parte inferior da figura, o que significa capitalizar os juros (calcular o montante) para todo período: Em decorrência das distorções produzidas pelo fracionamento do prazo em juros simples, a equivalência de capitais é dependente da data comum, ou seja, a data de comparação escolhida, também denominada data focal. Diz-se, então, que dois ou mais capitais são equivalentes entre si quando resultam no mesmo valor em determinada data de comparação (data focal). O diagrama de fluxo de caixa, a seguir, ilustra a equivalência para uma data (data focal 1) considerando juros simples de 10% de dois capitais: um de R$ 3.636,36, que ocorre na data 0 e outro de R$ 5.600,00 que ocorre na data 4. Figura 6 – Equivalência de Capitais com uma Data Focal. Fonte: elaborada pelo autor. A equivalência de capitais se processa da seguinte forma: capital de R$ 3.636,35 da data 0 equivale a R$ 4.000,00 (3.636,36 × (1+ 0,10 × 1)), na data 1; capital de R$ 5.600,00 da data 4 equivale a R$ 4.000,00 (5.600,00 / (1 + 0,10 × 4)), na data 1. Logo, os valores dos capitais são equivalentes entre si. A utilidade deste conceito é oferecer solução para problemas de substituição de pagamentos, no regime de juros simples, mostrando claramente a impossibilidade de fracionamento do prazo, no regime de capitalização simples. Um problema de cunho prático permite compreender a substituição de pagamentos. Exemplo: admita-se que João deve para Felipe os seguintes pagamentos: R$ 50.000,00 de hoje a quatro meses e R$ 80.000,00 de hoje para oito meses. A proposta de João é pagar R$ 10.000,00 hoje, R$ 30.000,00 de hoje a seis meses, e o restante no final do ano. Sabe-se que Felipe exige uma taxa de juros simples de 2% ao mês. Qual o saldo restante a ser pago? Primeiramente, admite-se que a data focal (data de comparação escolhida) seja o momento (0), ou seja, hoje. Então, para igualar os pagamentos das propostas, para data focal escolhida, tem-se: Observe-se a igualdade (equivalência dos capitais), considerando que o valor de R$ 97.310,40 encontra-se no final dos 12 meses e deve ser trazido para o momento do mês 0 (valor atual) também: Agora vamos admitir que a data focal (data de comparação escolhida) seja o momento no mês 12 (final do ano). Então, para igualar os pagamentos das propostas, para data focal escolhida, tem-se: 2.5.6 Taxas de juros: nominais e proporcionais 2.5.6.1 Taxas de juros nominais A taxa nominal é expressa em uma unidade de tempo que não coincide com o período de tempo no qual os juros são capitalizados (incorporados ao capital). Normalmente, a taxa nominal é expressa ao ano. 6,0% ao ano capitalizados mensalmente significa que a taxa é de 0,5% ao mês, ou seja, 6,0% dividido por 12 meses; 2,7% ao mês capitalizados diariamente significa que a taxa é de 0,09% ao dia, ou seja, 2,7% dividido por 30 dias. A taxa nominal é usada no mercado financeiro com relativa frequência, principalmente no exterior. Entretanto, não é usada no cálculo no mercado financeiro, pois nele o uso mais frequente é a capitalização composta. 2.5.6.2 Taxas de juros proporcionais ou equivalência de taxa em juros simples Duas taxas de juros i1 e i2, expressas em unidades de tempo distintas, são ditas proporcionais quando, incidindo sobre um mesmo capital (valor principal), durante um mesmo prazo, produzem o mesmo montante no regime de capitalização simples. Estes tipos de questões são resolvidos pela regra de três, envolvendo as variáveis taxa e tempo. Exemplo: qual a taxa trimestral equivalente a 32% ao ano (lembrando que o ano tem quatro trimestres)? Tirando a prova: um capital de R$ 100,00 pode se transformar em um montante de R$ 120,00 aplicando uma taxa de 20% ao ano (durante um ano) ou aplicando uma taxa de 1,67% ao mês (durante um ano). Logo, a taxa de 20% ao ano é proporcional à taxa de 1,66666667% ao mês. 2.5.6.3 Taxasmédias e prazos médios A taxa média indica para determinado conjunto de operações (aplicações ou empréstimos) a taxa de juro média e periódica representativa das operações em determinado período de tempo. A expressão básica da taxa média é: A “taxa média” resulta, pois, da ponderação das taxas pelos valores atuais aplicados e pelos seus respectivos prazos. O “prazo médio” de uma operação reflete o número médio de períodos que compõem determinado conjunto de operações. A equação básica do prazo médio é: O “prazo médio” é obtido pela ponderação dos valores atuais das aplicações pelos respectivos prazos. Para visualizar os dois conceitos, propõe-se um exemplo. Exemplo: um banco emprestou dinheiro a três empresas nas condições de valores, taxas de juros e prazos a seguir especificadas, desejando-se calcular a taxa média e o prazo médio destas operações, sabendo-se que o valor tomado emprestado e os juros serão pagos em seus vencimentos, e o regime é de juros simples. Empresa PV emprestado Taxa a.m. Prazo A R$ 12.000,00 7,0% 3 meses B R$ 7.000,00 8,0% 4 meses C R$ 10.000,00 9,0% 5 meses 2.6 Descontos simples ou comercial 2.6.1 Considerações iniciais As empresas que necessitam de recursos por poucos dias, geralmente menos de um mês, tem a sua disposição a possibilidade de efetuar o desconto de duplicatas ou efetuar operações de hot money (curtíssimo prazo). No primeiro caso, a operação conta com a garantia das duplicatas dadas em caução. No segundo, não há garantia vinculada ao empréstimo, apenas a expectativa de que haverá fluxo de caixa na empresa. Para empresas que exportam, há outros produtos para o financiamento do capital de giro: o desconto de export notes, que geralmente é feito com prazo superior a trinta dias, os adiantamentos de contratos de câmbio (ACC), os adiantamentos de contratos de exportação (ACE) etc. 2.6.1.1 Desconto simples “por fora” O desconto simples de duplicatas e notas promissórias é um tipo de operação bancária tradicional também conhecido como “desconto por fora”, “desconto comercial” ou “desconto bancário”, realizado sob o conceito de juros simples. Normalmente, o desconto de duplicatas é realizado considerando títulos com prazo máximo de 120 dias e prazo médio de trinta dias. O IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) é calculado sobre o valor principal (capital), com alíquota de 0,0041% ao dia para pessoa jurídica (1,5% ao ano, ano civil) e 0,0329% ao dia para pessoa física (12% ao ano, ano civil), limitado aos valores anuais, caso o prazo seja maior que 12 meses. Na operação de desconto de duplicatas, notas promissórias, cheques e boletos de cartões de crédito, a instituição financeira fica com o título. Quando o sacado (quem deve pagar o título) paga o título, o banco se ressarci. Se o sacado não efetua o pagamento, o cedente (quem cedeu e descontou o título antes do vencimento) paga o valor do título ao banco e empreende as ações de cobrança pertinentes contra o sacado. Este pagamento feito pelo cedente ao banco significa o direito de regresso, ou seja, caso o título não seja pago a responsabilidade pelo pagamento é de quem fez o desconto. Como existe similaridade entre os juros simples e o desconto simples, a seguir demonstra-se um quadro de correspondência entre os dois conceitos. Quadro 1 – Conceitos de Juros Simples e Descontos Simples Variáveis Conceitos em descontos simples Símbolo nas operações de desconto Símbolo nas operações de juros simples Capital, valor atual ou valor presente, valor líquido É o valor recebido por quem desconta o título. VL PV Valor nominal, valor de face, valor de resgate ou valor futuro É o valor expresso no título de crédito, ou valor expresso no cheque. N FV Desconto É o valor cobrado pelo banco e assemelha-se ao juro. D J Taxa de desconto É a taxa cobrada d i Taxa de desconto É a taxa cobrada pela instituição financeira para fazer a operação de desconto. Nos cálculos, é utilizada a forma unitária. d i Prazo É o prazo a decorrer em dias corridos, desde o início da operação até a data de resgate do título. n n Fonte: elaborada pelo autor. Portanto, a fórmula básica do desconto comercial é semelhante a dos juros simples, diferenciando-se pelo fato de o desconto ser feito sobre o valor expresso no título de crédito (valor de face). Comparando-se as duas fórmulas: Para obtenção dos demais elementos — valor do título (N), taxa de desconto (d) e o tempo (n) — basta seguir o mesmo regramento utilizado em juros simples, ou seja, tratar o item a ser determinado como incógnita e o valor do desconto (D) sempre será o numerador da fração, compondo os dois outros elementos o denominador. Então: Exemplo: vamos examinar o desconto admitindo-se o desconto de um título no valor nominal de R$ 4.000,00, vencível em um ano, em três meses antes de seu vencimento, e sabendo-se que a taxa de desconto é de 42% ao ano. Calcular o valor do desconto e o valor descontado desta operação. Pode-se obter o valor líquido ou valor descontado, utilizando-se a fórmula VL = N × (1 – d × n): É importante destacar que a taxa de juros efetiva (que não é o mesmo que taxa de desconto) cobrada na operação não equivale à taxa de desconto do período 10,5%, ou seja, 0,42/12 × 3. Observe que são pagos R$ 420,00 de juros sobre o valor atual (valor líquido ou valor liberado) de R$ 3.580,00, o que resulta na taxa de juros de: No desconto “por fora” é importante separar a “taxa de desconto” (d) e a “taxa efetiva de juro” (i), porque neste tipo de operação a taxa de juros sempre é superior à taxa de desconto declarada em razão de que o cálculo é feito sobre o valor liberado. Compreender o valor da taxa de juros contida em uma taxa de desconto, ou a taxa de desconto contida em uma taxa de juros, é ponto relevante nesta abordagem. A conversão é bastante simples, e pode ser resolvida com a ajuda do seguinte exercício. Exemplo: determinar tanto a taxa de juros referente a uma taxa de desconto de 5%, para um mês quanto a taxa de desconto referente a uma taxa de juros de 5,36316%, para um mês. A solução é obtida pela seguinte fórmula: Converter taxa de desconto em taxa de juros: Converter taxa de juros em taxa de desconto: Nas operações de desconto, outras despesas associam-se à operação. Nos descontos simples, além do desconto (D), incidem: o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras, que vai para os cofres da União) e a TAC (Taxa de Abertura de Crédito, correspondente às despesas administrativas da instituição financeira). Nessa hipótese, o valor presente ou atual do título (VL) é determinado pela expressão em que o valor liberado é o valor nominal menos o desconto (IOF e TAC): No caso de duplicatas e notas promissórias para empresas, o IOF é calculado sobre o valor liberado ou o líquido recebido pelo cliente. O cálculo é o número de dias multiplicado pelo valor nominal menos o desconto, multiplicado pela alíquota do IOF: O desconto simples pode ser realizado por empresas de factoring. Essas empresas, respaldadas por dispositivos legais, adquirem o faturamento de pessoas jurídicas representado por duplicatas, sem a incidência de IOF ou TAC. No entanto, a taxa de desconto utilizada (d) incorpora um ganho em relação às taxas em vigor no mercado financeiro, para remunerar os riscos inerentes à operação. Exemplo: suponha-se que uma empresa realiza uma operação de desconto simples de duplicata, à taxa de desconto de 3,6% a.m., pelo prazo de 28 dias corridos, correspondendo a 19 dias úteis. O valor nominal da duplicata é de R$ 50.000,00. A alíquota do IOF é 0,0041% ao dia e a TAC de R$ 100,00. Determinar o valor líquido para a empresa: Embora a instituição financeira declare a taxa de 3,6% de taxa de desconto, o custo efetivo da operação para quem descontou a duplicata antes do prazo de vencimentofoi de 3,81% para 28 dias. Este acréscimo deve-se à cobrança do IOF e da TAC, além do fato de a incidência do desconto ocorrer sobre o valor nominal do título. Outro modo de encontrar o custo efetivo desta operação é somar todos os custos (desconto, IOF e TAC), totalizando R$ 1.835,47, e dividir pelo valor líquido liberado, que foi de R$ 48.164,53: Além de se encontrar a taxa para o período, outros cálculos de taxas podem ser associados, quais sejam: a taxa efetiva mensal e a taxa over mensal da operação. 2.6.1.2 Descontos simples para série de títulos de mesmo valor Em algumas ocasiões, ocorre a apresentação de uma série de títulos de mesmo valor (uniformes) para desconto, com vencimentos sequenciais, e que, em princípio, deveriam ser calculados um a um. No entanto, pode-se obter o valor do desconto e o valor líquido globalmente. Exemplo: admita-se que sejam apresentados cinco títulos, no valor de R$ 1.000,00 cada um, com vencimentos sequenciais de trinta a 150 dias (de um a cinco meses), e que a taxa cobrada tenha sido de 3% ao mês. Determinar o valor do desconto global e o valor líquido à disposição do cedente. Para isto, utiliza-se a seguinte fórmula: Esta fórmula é válida somente para desconto de série de títulos ou de prestações com valores iguais, de vencimentos sucessivos e de periodicidade constante, a partir do primeiro vencimento. Exemplo: calcular o valor líquido correspondente ao desconto de 12 títulos, no valor de R$ 1.680,00 cada um, vencíveis de trinta a 360 dias, sendo a taxa de desconto de 2,5% ao mês. O valor líquido para quem está efetuando o desconto é de: 2.7 Descontos simples “por dentro” O desconto racional ou denominado “por dentro” utiliza o mesmo conceito do desconto “por fora”, mas os juros incidem sobre o valor atual do título, ou seja, sobre o valor liberado na operação. Isto significa que taxa de desconto cobrada representa o custo efetivo de todo período, pois incide sobre o valor efetivamente recebido. Exemplo: para um título no valor nominal de R$ 4.000,00, vencível em um ano e que está sendo liquidado três meses antes de seu vencimento, a uma taxa de desconto de 42% ao ano, qual é o valor do desconto e do valor liberado? Utiliza-se a seguinte fórmula para atender a questão (valor liberado): Cálculo do desconto: Cálculo do valor liberado: No cálculo, atendeu-se a premissa de que o valor liberado é o valor de face do título (R$ 4.000,00) menos o desconto (R$ 380,10), o que resulta em um valor liberado de R$ 3.619,00. Ao se apurar a taxa da operação (380,10/3.619,00), observa-se que ela reflete a taxa de desconto declarada na operação, de 10,5% no período, ou seja, 3,5% ao mês (0,42/12). Para complementação de estudos Para conhecer um pouco mais da formação dos juros e descontos, indica-se a leitura dos livros: Matemática financeira e suas aplicações, de Alexandre Assaf Neto, e Matemática financeira, de Carlos Patrício Samanez. Termos-chave Capitalização simples: regime de aplicação dos juros em que a remuneração ou cobrança dos juros é sobre um capital sempre constante. Desconto: operação de crédito que consiste na antecipação do recebimento de um título de crédito (duplicata, nota promissória etc.). Equivalência de capitais: conceito fundamental em cálculos financeiros, pois trata da forma de igualar dois capitais, com datas de vencimento diferentes, para determinada data (data focal) e intermediados por uma mesma taxa de juros. Juros: remuneração obtida por aplicar um capital ou o custo pago por utilizar um capital (operações de empréstimos). Matemática financeira: ramo da matemática que aborda cálculos financeiros do dia a dia, especificamente utilizados no mercado financeiro e em finanças pessoais. Taxas de juros: expressão percentual dos juros a serem obtidos ou cobrados pela utilização de capital. Apresenta diversas conceituações: nominal, proporcional etc. CAPÍTULO 3 JUROS COMPOSTOS Este capítulo trata do regime de capitalização composta e taxas de juros, cujo aspecto relevante é o uso exponencial do tempo. Neste regime de capitalização, há mudança sistemática da base para o cálculo dos juros, diferentemente da capitalização simples, o que muda e amplia os conceitos até aqui vistos. Os aspectos principais se referem à formação da taxa de juros, sua equivalência no tempo e a repercussão nos cálculos financeiros. Aborda-se, também, os componentes do regime de capitalização: capital, taxa e tempo e montante, valor atual e suas inter-relações, apresentando conceituações específicas para taxa de juros. 3.1 Considerações iniciais Para nos familiarizar com os termos utilizados, far-se-á referência a partir de agora, e de forma indistinta, a “montante ou valor futuro” e a “capital ou valor presente”. As conceituações no regime de capitalização composta abrangem mais o estudo do valor do dinheiro no tempo. O regime de capitalização composta é a forma de cálculo de juros mais utilizada nas práticas financeiras no país. O cálculo é realizado sobre o montante existente no início de cada período de tempo: os juros são gerados pela soma do capital inicialmente investido acrescido dos juros acumulados até o fim do período imediatamente anterior, e assim sucessivamente. 3.2 Regime de capitalização composta (juros compostos) A fluência dos juros compostos ao longo do tempo faz com que o valor futuro cresça de forma exponencial, como uma progressão geométrica (PG), pois com a incidência de “juros sobre juros” o valor do rendimento é crescente ao longo do tempo. Lembre-se de que, no regime de juros simples, a base para o cálculo dos juros era imutável (fixa) ao longo do tempo, e no regime de capitalização composta isto é diferente. Tabela 5 – Regime de capitalização composta, sem decimais Ano Aplicação Taxa Juros Juros Saldo no final do ano 1 500,00 10% ao ano R$ 500 × 0,10 × 1 = 50,00 500,00 + 50,00 = 550,00 2 0,00 10% ao ano R$ 550 × 0,10 × 1 = 55,00 550,00 + 55,00 = 605,00 3 0,00 10% ao ano R$ 605 × 0,10 × 1 = 60,50 605,00 + 60,50 = 665,50 4 0,00 10% ao ano R$ 665 × 0,10 × 1 = 66,55 665,50 + 66,50 = 732,05 5 0,00 10% ao ano R$ 732,05 × 0,10 × 1 = 73,21 732,00 + 73,20 = 805,26 Juros 305,26 Fonte: elaborada pelo autor. Em termos de representação matemática, os juros compostos estão em função de um capital (C ou PV), de uma taxa de juros (i) e de um tempo (n): Tendo um capital de R$ 500,00 (veja a Tabela 5) aplicado a juros compostos de 10% a.a. em cinco anos, obtêm-se juros de R$ 305,26. Note que a taxa é aplicada sobre o capital acrescido dos juros de cada período imediatamente anterior. Utilizando-se a fórmula apresentada, obtém-se o mesmo resultado. 3.3 Valor futuro (montante) e valor atual (capital) na capitalização composta Reitera-se, aqui, que para se obter o montante soma-se o capital mais os juros, ou a mesma equação de juros simples: Para se obter diretamente o montante (M ou FV), aplica-se a fórmula geral dos juros compostos (a soma dos R$ 500,00 mais os juros de R$ 305,26): Esta é a fórmula para o cálculo do montante, quando os juros forem sob o regime de capitalização composta, destacando-se que o tempo (n) se apresenta de forma exponencial. Assim, calcula-se o montante precisar determinar os juros. A partir desta fórmula calcula-se todos os demais componentes dela: o capital, a taxa e o tempo, ou seja, utilizando a equação FV = PV (1 + i)n. A expressão (1 + i)n quando multiplica um capital é denominada fator de capitalização ou fator acumulação de capital. A expressão1/(1 + i)n quando divide um montante é denominada fator de descapitalização ou fator de atualização de capital. É importante ter sempre presente que: O regime de capitalização composta incorpora ao capital não somente os juros referentes a cada período, mas também os juros acumulados até o momentoanterior. É um comportamento equivalente a uma progressão geométrica (PG), na qual os juros incidem sempre sobre o saldo apurado no início do período imediatamente anterior. No primeiro ano, o juro incide sobre o capital inicial, de R$ 500,00. No segundo ano, o juro incide sobre o capital inicial, de R$ 500,00, e sobre os juros do período imediatamente anterior. No Ano 1, os juros simples e compostos sempre se igualam, ou seja, são o mesmo valor de R$ 50,00, tornando também idêntico o montante em ambos regimes, no Ano 1 e apenas no Ano 1. A diferença se estabelece em operações que contenham mais de um período de capitalização, ou seja, a partir do Ano 2, dado que no regime composto ocorrem juros sobre juros, como demonstrado anteriormente. Para se obter diretamente o capital (valor atual ou valor presente), representado por C ou por PV, aplica-se a fórmula modificada de juros compostos, que pode ser usada das duas maneiras a seguir dispostas: 3.4 Determinação da taxa e do tempo no regime de capitalização composta As demais variáveis da capitalização composta são encontradas por dedução da fórmula básica FV = PV (1 + i)n e, para determinar a taxa de juros composta, necessita-se utilizar os recursos da raiz e da exponenciação. Para obter o tempo, precisa-se usar o logaritmo, ou o logaritmo natural (neperiano) ou o logaritmo base 10. As calculadoras, dependendo do tipo, podem oferecer um dos tipos de logaritmos, o que é indiferente para obtenção dos resultados, pois as duas formas de logaritmo determinam os mesmos resultados. 3.5 Comparação entre os regimes de capitalização simples e composta A comparação é proposta pela seguinte situação: João empresta a Marcos a quantia de R$ 10.000,00 por cinco meses à taxa de 5% a.m., no regime de juros compostos. Marcos repassa a mesma quantia para um amigo, nas mesmas condições, só que agora no regime de juros simples. Vamos analisar as duas situações. Figura 7 – Capitalização Simples e Composta. Fonte: elaborada pelo autor. A comparação mostra que Marcos incorrerá em prejuízo se emprestar o valor a juros simples. O valor do prejuízo seria de R$ 262,82. 3.6 Taxa nominal, taxa efetiva, períodos de capitalização, equivalência de taxas Quando se emprega taxa de juros nominal admite-se que a capitalização ocorre por juros proporcionais simples, o que significa, por exemplo, que uma taxa de 36% ao ano, capitalizada mensalmente, determina proporcionalidade mensal — período de capitalização. A taxa de 36% ao ano representa a taxa nominal para um período inteiro, mas sobre a qual deve ser atribuído um período de capitalização. Então, utiliza-se a proporcionalidade para capitalização, que é mensal. Simplesmente divide-se 36% por 12 meses e apura-se a taxa de 3% ao mês, que é a taxa proporcional ou linear. No entanto, em juros compostos, muda o conceito de taxa nominal para taxa efetiva, isto é, a taxa de juros para um prazo “n” formado exponencialmente (período de capitalização). A diferença em relação à taxa nominal reside na forma de capitalização (linear ou exponencial). Enquanto na taxa nominal o fator de capitalização é linear (1 + i × n), na taxa efetiva o fator de capitalização é uma exponenciação (1 + i)n. Se a taxa de juros for de 3% ao mês e o período da operação for um ano, e a capitalização for mensal, a formação da taxa efetiva é por exponenciação, devendo-se capitalizar a taxa mensal pelo período pretendido, no caso ano, ou seja, (1 + 0,03)12 ‒ 1 × 100 = 42,576% ao ano. Então, a fórmula para se obter a taxa efetiva é (1 + i)n ‒ 1, o que terá mais ampla abordagem nos tópicos seguintes. 3.6.1 Períodos de capitalização O período de capitalização tem estreita relação com o conceito de “taxa efetiva”, a taxa formada exponencialmente por meio de períodos de capitalização. À medida que a quantidade de períodos de capitalização (“n”) de uma taxa nominal aumenta, a taxa efetiva aumenta, ou seja, quanto maior for a frequência de capitalização de uma mesma taxa nominal, mais alto é o rendimento acumulado (ASSAF NETO, 2001). Admita-se uma taxa nominal de 18% ao ano, para diferentes períodos de capitalização. Na tabela a seguir apresenta-se esta taxa efetiva para diferentes períodos de capitalização. Tabela 6 – Taxas Efetivas Períodos de capitalização Número de períodos Fórmula Taxa efetiva anual Anual 1 (1 + 0,18/1) ^1 –1 18,00% Semestral 2 (1 + 0,18/2) ^2 –1 18,81% Quadrimestral 3 (1 + 0,18/3)^3 – 1 19,10% Trimestral 4 (1 + 0,18/4)^4 – 1 19,25% Mensal 12 (1 + 0,18/12)^12‒ 1 19,56% Diário 360 (1 + 0,18/360)^360 ‒ 1 19,72% Fonte: elaborada pelo autor. 3.6.2 Conversão da taxa nominal em taxa efetiva Para converter taxas nominais em taxas efetivas, assim como taxas efetivas em taxas nominais, é preciso compreender a formação destas conceituações de taxas. Em muitas operações do mercado financeiro expressa-se a taxa para linhas de crédito, tanto em taxa nominal, como em taxa efetiva, causando alguma dificuldade de compreensão. Entretanto, os custos normalmente são equivalentes, ou seja, uma taxa nominal pode expressar uma equivalência a uma taxa efetiva. Para ilustrar esta situação, apresenta-se a seguinte situação: o Banco X afirma que o custo de um empréstimo pessoal é de 4,2% efetivo ao mês; o Banco Y afirma que o custo desta mesma linha de crédito é de 4,12% ao mês. Qual dos bancos aplica a menor taxa em suas aplicações? Para compreender as taxas, vamos examinar as duas ofertas: Banco X tem taxa efetiva e para comparar ao Banco Y precisa-se da taxa nominal, então: Banco Y tem taxa nominal e para comparar ao Banco X precisa-se da taxa efetiva, então: Apropriando-se dos dados da Tabela 6, verifica-se que quando se possui taxa nominal, e no caso examinado ela era anual, para se obter a taxa efetiva, primeiro deve-se trazer a taxa para o período de capitalização (dia, mês, trimestre etc.) e a partir daí utilizar a capitalização (exponencial) para o período pretendido. Para exemplificar, quando se determinou a taxa efetiva trimestral dividiu-se a taxa de 18% por quatro (o ano tem quatro trimestres) para obter a taxa de um trimestre e, então, pela capitalização de quatro trimestres obteve-se a taxa efetiva anual de 19,25%. O conceito de taxa efetiva é tratado mais especificamente no tópico que se segue, de modo a ampliar a compreensão deste conceito. 3.6.3 Equivalência de taxas em juros compostos A equivalência de taxas em juros compostos é quando duas ou mais taxas referenciadas a períodos unitários distintos, aplicadas a um capital, produzem o mesmo montante ao final de determinado tempo. A taxa de juros vem sempre acompanhada de um tempo que a referencia: 2% ao mês, 4% ao trimestre, 52% em dois anos, ou seja, a taxa tem sempre um tempo à ela associado. Em muitas operações e cálculos, o tempo associado à taxa é igual à unidade de tempo do período pretendido, por exemplo, 2% ao mês aplicado em dois meses; 4% ao trimestre aplicado em quatro trimestres. Verifica-se que o tempo pretendido é o mesmo do que está associado à taxa (mês com mês; trimestre com trimestre) etc. No entanto, é comum que os tempos sejam diferentes: 2% ao mês aplicado em 37 dias; 4% ao trimestre aplicado em oito meses, ou seja, os “tempos” têm unidades diferentes de medida (mês e dias: trimestre e meses). Para efetuar o cálculo de operações, é obrigatório que estes dois elementos estejam na mesma base (mês com mês; dia com dia; ano com ano etc.). Para obter esta equivalência, pode-se usar, em princípio, duas alternativas: ou se faz a equivalência do tempo “n” ao período pretendido, ou se faz a equivalência da taxa para o período referido. As duas situações são abordadas por meio de um exemplo. Exemplo: calcular o montante de aplicação de R$ 2.000,00 em 37 dias à taxa de juros compostos de 2% ao mês. Na primeira alternativa, iguala-se (equivale-se)o tempo “n”, que está em dias, para o período da taxa, que é mês. Transformam-se os 37 dias em meses, ou seja, como o mês tem 30 dias faz-se uma simples divisão (37/30 = 1,233333 mês). Agora temos o tempo em mês e a taxa em mês. Na segunda alternativa, iguala-se (equivale-se) a taxa “i”, que está ao mês, para o período do tempo, que é dia. Transforma-se a taxa de 2% para dias, o que requer que se efetue o que se denomina equivalência de taxas, utilizando-se para isto a seguinte fórmula, em que “q” significa o que eu quero e “t” significa o que eu tenho. substituindo: it = a taxa que eu tenho, no caso, 2%; nq = o tempo que eu quero, no caso 37 dias; nt = o tempo que eu tenho, no caso 30 dias (mês tem 30 dias). A taxa diária é de 2,47239% em 37 dias, ou seja, 1,021,23333, o que resulta em 1,0247239 menos um multiplicado por cem (para obter a taxa). Embora se possa determinar a taxa para o período pretendido, normalmente determina-se a taxa para o período unitário (um dia, um mês, um trimestre) e, posteriormente, capitaliza-se para o período pretendido. Então, obter-se-ia a taxa, no exemplo, para um dia e se capitalizaria a taxa encontrada para 37 dias. Para melhor compreensão, apresentam-se algumas situações de conversão de taxas: 3.7 Capitalização contínua Até então tratou-se a taxa de juros ocorrendo de forma finita e discreta ao final de cada período de tempo, o que é o mais usual, apresentando-se situações de capitalização abordadas na equivalência de taxas, com capitalização com frequência de intensidades diversas: anual, semestral, trimestral, mensal, diária. No entanto, pode-se também efetuar capitalização infinitamente grande, a qual ocorre em cada instante infinitesimal, conhecida como capitalização contínua, e que tem a seguinte formulação matemática: em que: e = número constante, base dos logaritmos neperianos = 2,7182818284 I = taxa de juros periódica, conhecida como taxa instantânea n = período de tempo Para entendimento do uso deste tipo de capitalização, realizada para o cálculo da rentabilidade de títulos de mercado, preço de venda de ações etc., exemplifica-se com o seguinte exemplo. Exemplo: calcular o montante admitindo uma aplicação de R$ 1.000,00 por dois anos, à taxa de 10% ao ano, com capitalização discreta e com capitalização contínua. Para complementação de estudos A formação dos juros compostos é parte relevante no estudo da matemática financeira. Recomenda-se como leitura complementar o livro de matemática financeira, de Alexandre Assaf Neto. Termos-chave Capitalização composta: regime de aplicação dos juros em que a remuneração ou cobrança dos juros é sobre um capital acrescido dos juros de períodos antecedentes. Taxa contínua: taxa empregada para o cálculo de períodos infinitamente grandes. Taxa efetiva: taxa que já contempla o regime de capitalização composta, para o período que está a ela especificado. e: número constante, base do logaritmo neperiano, cujo valor fixo é 2,718281284. Equivalência de taxas: conceito fundamental para converter a taxa para período homogêneo, ou seja, se o período da operação é em dias, converte-se a taxa para dia, se é ano, converte-se para ano etc. CAPÍTULO 4 TAXAS DE JUROS (OVER, INFLAÇÃO, REAL), INDICES DE PREÇOS, TAXA MÉDIAS E PRAZOS MÉDIOS Este capítulo trata de especificações relativas às taxas de juros (taxa over, taxa real etc.), abordando também os índices de preços e sua relação com as taxas de inflação. Um dos temas pouco abordados em cursos de matemática financeira é o cálculo da taxa média e do prazo médio, aqui destacado em razão de sua util idade para orçamento e planos de financiamento. Ao final do capítulo inserem-se conceituações para séries de títulos de mesmo valor, além de comentários sobre operações comuns no mercado financeiro: hot money, export notes. Outro aspecto relevante é a abordagem sobre reciprocidade bancária. 4.1 Taxas de juros over A taxa over, uma taxa nominal que o mercado financeiro incorporou no cálculo de suas operações (cheques especiais, fundos de investimentos etc.), precisa para sua formação do número de “dias úteis” em que os juros serão capitalizados, de forma que se possa apurar a taxa efetiva do período. Tome-se, por exemplo, que a taxa over em determinado momento esteja definida em 5,4% ao mês, e que para o período da taxa estejam previstos 22 dias úteis. Como a taxa over é, em geral, definida por juros simples (taxa nominal), calcula-se, inicialmente, a taxa proporcional diária: Sabendo-se que no período dessa taxa existem 22 dias úteis, a taxa efetiva é obtida pela capitalização composta: i = (1 + 0,0018)22 - 1 = 4,04% Isto quer dizer que 4,04% representa a taxa over efetiva para 22 dias úteis. Então, os procedimentos para apurar a taxa efetiva over, dada uma taxa nominal de juros over, são os seguintes: dividir a taxa over, geralmente mensal, pelo número de dias corridos no período, para se obter a taxa nominal diária; capitalizar a taxa diária pelo número de dias úteis previsto na operação; calcular a taxa efetiva pela fórmula (quando taxa over é mensal): em que: taxa over – taxa nominal mensal over du = número de dias úteis previstos no prazo da operação Entretanto, muitas vezes é interessante e necessário transformar uma taxa efetiva over em taxa de juros over.No exemplo anterior, havia uma taxa nominal over de 5,4% ao mês para um período de 22 dias úteis e, com isto, calculou-se a taxa efetiva over de 4,04% ao mês. Se fosse dada a taxa efetiva over de 4,04% ao mês para transformar em taxa over, o procedimento do cálculo seria o inverso: descapitalizar exponencialmente a taxa efetiva para cada dia útil previsto na operação; por ser nominal, e definida mensalmente, a taxa over é obtida pelo produto da taxa descapitalizada pelo número de dias corridos do mês; o cálculo é obtido pelo seguinte procedimento: a fórmula básica de cálculo da taxa over é: taxa over = [(1 + 0,0404)^1/22 ‒ 1]*30 = 5,4% ao mês O raciocínio desenvolvido para taxa over pode ser aplicado também para avaliação de aplicações de títulos de renda fixa (CDBs e RDBs), cujos vencimentos ocorrem em feriados ou fins de semana. As taxas nominais de juros desses títulos costumam elevar-se, dando por vezes a impressão de um aumento na rentabilidade, sem que necessariamente esse ganho maior tenha ocorrido. Para compreender o que está sendo afirmado, propõe-se a aplicação em um título prefixado, pelo prazo de trinta dias corridos, o qual contém 22 dias úteis, à uma taxa bruta (efetiva) de 30% ao ano. Então, a taxa efetiva mensal é de (1 + 0,30)^30/360 ‒ 1 = 2,21% ao mês, ou para trinta dias. No entanto, ao se verificar a data de resgate do título, o seu vencimento ocorre em um sábado, o que eleva o prazo em dias corridos de trinta para 32 dias. Porém, os 22 dias úteis continuam sendo mantidos. A taxa efetiva mensal equivale não a trinta dias, mas sim a 32 dias corridos, então a taxa efetiva para os 32 dias deveria ser de: (1 + 30) ^ 32/360 ‒ 1 = 2,36% para 32 dias. Isto significa que a taxa equivalente anual de juros, para aplicação dos 32 dias (que o prazo correto da aplicação) e correspondentes a 22 dias úteis (período da aplicação), se reduz dos 30% ao ano para apenas 27,9% ao ano, como se pode observar no cálculo: (1,0221) ^360/32 ‒ 1 = 27,9%. O que se afirma é que a taxa é para trinta dias, mas de fato ela corresponde a 32 dias. Outra aplicação prática relevante é determinar, a partir da taxa de juros definida para um período, a taxa equivalente correspondente a outro intervalo de tempo, com diferente número de dias úteis. Admita, então, que um título tenha sua aplicação em 30 dias corridos e que a taxa (efetiva) bruta seja de 26% a.a., e no período haja 22 dias úteis. Qual a taxa de juros equivalente para uma aplicação de 34 dias corridos com 24 dias úteis? Taxa diária correspondente a30 dias Taxa para um dia útil, relativo aos 22 dias úteis Taxa correspondente a 24 dias Taxa correspondente a 34 dias corridos 4.2 Índices de preços e taxas e inflação Os índices de preços decorrem de procedimentos estatísticos que permitem medir as variações ocorridas, no nível geral de preços, de um período para outro. No Brasil, são utilizados inúmeros índices de preços, elaborados por diferentes instituições de pesquisa, sendo as mais importantes a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Banco Central do Brasil (Bacen) e a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&F/Bovespa). Ao se utilizar índices, deve-se selecionar o mais adequado ao propósito da atualização pretendida, e considerar a sua representatividade, seja para a economia do país, ou especificamente para o segmento ou setor de atividade em análise. Os índices podem ser calculados para se comprovar sua evolução ou involução, quando tomados um período de tempo (de janeiro a dezembro de determinado ano, por exemplo). Também para se obter sua acumulação quando ele é divulgado de forma mensal, a forma mais comum, mas pode ser até diário (TR – Taxa Referencial). 4.2.1 Evolução ou involução de índices A evolução ou involução de índices pode ser observada ao se tomar como exemplo o Índice Geral de Preços, Disponibilidade Interna (IGP-DI), publicado pela FGV, que é acumulado desde 1993. Da série, retirou-se o período de janeiro a dezembro de 2008, conforme especificado na Tabela 7 a seguir. Tabela 7 – Evolução Índice IGP-DI Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun IGP 988,5335 992,2899 999,2360 1.010,4274 1.029,4235 1.048,8796 Mês Jul Ago Set Out Nov Dez IGP 1.060,6270 1.056,5966 1.060,4004 1.071,9587 1.072,7091 1.067,9892 Fonte: elaborada pelo autor. Pelos valores acumulados deste índice de preço, constata-se que os preços gerais da economia variaram no período, aumentando ou diminuindo. A partir destas informações pode-se empreender os seguintes questionamentos: (a) qual a taxa de variação de preços do segundo semestre de 2008? (b) qual a variação para o período de outubro a dezembro do ano de 2008? (c) qual variação de preço no mês de outubro/2008? (d) qual a variação de preço no mês de agosto/2008 (quando houve redução do índice)? É bastante simples calcular a variação do índice, o qual vai refletir a inflação do período pretendido. Seguindo os questionamentos, temos as seguintes variações: Inflação 2º semestre = 1.067,9892/1.048,8796 ‒ 1, igual a 1,821906% Inflação out a dez = 1.067,9892/1.060,4004 ‒ 1, igual a 0,715654% Inflação em outubro = 1.071,9587/1.060,4004 ‒ 1, igual a 1,089994% Inflação em agosto = 1.056,5966/1.060,6270 ‒ 1, igual a ‒ 0,380002% A taxa de inflação pode ser expressa a partir dos índices de preço, utilizando-se a seguinte relação: preço na data da determinação da taxa dividido pelo preço na data do período considerado, menos um, ou seja: Outra forma de operar com índices é a partir do índice mensal, efetuando sua acumulação para o período que for necessário. No exemplo, a seguir, estão os índices do IGP-DI, mensais, de janeiro a dezembro de 2008. As questões envolvem sua acumulação para períodos: (a) qual o valor acumulado para os meses de janeiro, fevereiro, março, abril, até dezembro? (b) qual o valor acumulado para o período de junho a setembro? Tabela 8 – Evolução Índice IGP-DI Mensal Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun IGP 0,99 0,38 0,70 1,12 1,88 1,89 Mês Jul Ago Set Out Nov Dez IGP 1,12 (0,38) 0,36 1,09 0,07 (0,44) Fonte: elaborada pelo autor. Neste caso, o processo envolve o que foi estudado sobre taxa de juros e apenas sua acumulação, que é sua multiplicação contínua: Mês de janeiro: (1 + 0,009900), que é a própria; Mês de fevereiro: (1 + 0,009900) * (1 + 0,0038) ‒ 1 = 1,3738% Mês de março: (1 + 0,013738) * (1 + 0,0070) ‒ 1 = 2,0834% Mês de abril: (1 + 0,020834) * (1 + 0,0112) – 1 = 3,2267% Mês de agosto: (1 + 0,083552) * (1 + -0,0038) – 1 = 7,9434% No quadro a seguir, apresenta-se todos valores acumulados de janeiro a dezembro de 2008 para o índice IGP-DI: Tabela 9 – Evolução Índice IGP-DI: Janeiro a Dezembro/2008 Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun IGP 0,9900 1,3738 2,0834 3,2267 5,1674 7,1550 Mês Jul Ago Set Out Nov Dez IGP 8,3552 7,9434 8,3320 9,5128 9,5895 9,1073 Fonte: elaborada pelo autor. 4.2.2 Valores monetários em inflação Os valores monetários envolvidos em operações sofrem sempre a ação da perda do poder aquisitivo da moeda, a inflação, devendo-se abandonar os resultados nominais e determinar o verdadeiro valor envolvido. Exemplo: adquire-se um imóvel por R$ 60.000,00 em certa data, e dois anos depois vende-se por R$ 80.000,00, sabendo-se que no período a inflação foi de 40%. Houve um ganho nominal de R$ 20.000,00 (R$ 80.000,00 menos R$ 60.000,00), porém, houve valorização real (ganho real) na operação? Para isto, deve-se atualizar o valor original do imóvel e compará-lo com o valor de venda: 60.000 * (1 + 0,40) = 84.000,00 – 80.000,00 = (4.000,00) O que se constata é um prejuízo real de R$ 4.000,00, o que mostra que para comparar valores em diferentes datas deve-se dissociar o ganho nominal, no caso, R$ 20.000,00, que representa uma rentab ilidade nominal de 33,3% (20.000/60.000) do ganho/prejuízo real da operação. Ao se obter o resultado com o valor corrigido, observa-se que não houve ganho e sim prejuízo real de 6,7% (4.000/60.000). Para obter a taxa da operação, faz-se a seguinte operação, incluindo-se a inflação no cálculo, em que se constata a involução de preços na ordem de 4,76%: 4.2.3 Taxa de desvalorização da moeda A inflação representa a elevação do nível de preços, demonstrando a perda do poder de aquisição da moeda, ou seja, significa que a moeda em nosso poder perde seu poder de compra. É importante medir a queda do poder de compra causada pelos aumentos de preços. A taxa de desvalorização da moeda para diferentes taxas de inflação pode ser obtida a partir da seguinte fórmula (ASSAF NETO, 2001): Por exemplo, se a taxa de inflação for de 8%, a queda na capacidade de compra será de 7,4%, ou seja, ao se ter R$ 100,00 para comprar um bem, agora ter-se-á somente R$ 92,60. Houve uma perda de R$ 7,40 (100,00 × 0,074), e em termos reais, somente se possui a diferença de R$ 92,60 (100,00 – 7,40). 4.3 Taxa real A taxa real deve ser determinada para descontaminar a taxa dos efeitos da inflação, o que demonstra que a taxa de juros tem uma parte de “remuneração legítima” e outra parte referente ao “efeito inflacionário”. No entanto, em matemática financeira, sempre se espera obter a parte “real” de remuneração ou do custo que se está pagando em alguma operação. Então, o objetivo do cálculo da taxa real é expurgar o efeito da inflação que se encontra indexada na taxa total de juros, para expressar o valor “real” dos juros na operação. Admita-se um título que ofereça remuneração de 12,0%, para determinado período, e sabe-se que a inflação no período foi de 8,75%. Alguém aplicou R$ 100.000,00 e obteve uma remuneração nominal de R$ 12.000,00, recebendo um montante de R$ 112.000,00, que corresponde ao valor nominal obtido na aplicação. No entanto, o poder de compra do valor aplicado em razão da inflação era de R$ 108.750,00 (100.000,00 * (1 + 0,0875)), e seu resgate foi de R$ 112.000,00. Houve um ganho nominal de R$ 12.000,00, mas o ganho real foi de apenas R$ 3.250,00 (112.000,00 ‒ 108.750,00). Desta forma, para determinar o ganho efetivo (real) da operação, deve-se dividir o ganho real de R$ 3.250,00 pelo valor da aplicação já corrigida em seu poder de compra (R$ 108.750,00), obtendo-se, assim, a taxa real da aplicação de 2,9885%. A fórmula geral para apuração da taxa real (ASSAF NETO, 2001) é a seguinte: No exemplo, substituindo os dados de taxas na fórmula, tem-se: 4.4 Taxas médias e prazos médios no regimede capitalização composta A taxa média indica a taxa de juro médio e periódico que representa as operações em determinado período de tempo. Este conteúdo tem merecido substancial atenção dos gerenciadores do mercado financeiro e de capitais, à medida que eles avançam e se desenvolvem, exigindo controles mais seguros e adequados em operações cada vez mais complexas e específicas. Veja o seguinte exemplo. Exemplo: qual a taxa média de três aplicações efetuadas na mesma data, nos valores de R$ 16.700,00, R$ 9.200,00 e R$ 12.500,00, às taxas de 6,0%, 5,0% e 3,5% ao mês, sendo o prazo de oito meses nas três operações? Nota-se que a soma dos capitais é de R$ 38.400,00 (R$ 16.700,00 + R$ 9.200,00 + 12.500,00). Cálculo da taxa a partir do montante: Cálculo da taxa a partir do valor presente: Quando a operação tem prazos diferentes, a taxa média é obtida a partir de um cálculo conhecido como “taxa interna de retorno”, a qual pode ser obtida com máquina financeira ou por “tentativa e erro”. Exemplo: qual a taxa média de três aplicações: R$ 260.000,00, R$ 85.000,00 e R$ 100.000,00, com prazos de 15 meses, cinco meses e dez meses, e taxas de 3,4%, 1,8% e 2,6%, respectivamente? A soma dos capitais é de R$ 445.000,00 (R$ 260.000,00 + R$ 85.000,00 + R$ 100.000,00), e para iniciar o cálculo, determinam-se os respectivos montantes e, na sequência, obtém-se o valor presente pela fórmula de juros compostos: Para o cálculo, ordenam-se os prazos para formar uma sequência de crescimento, ou seja, cinco meses, dez meses e 15 meses. Resolvendo esta expressão, chega-se à taxa média de 3,13% ao mês, o que foi apurado com uma calculadora financeira. O segundo método, de “tentativa e erro”, pressupõe que se atribua ao “i” valores que possam por aproximação estimar a taxa. Neste sentido, escolhe-se duas taxas próximas às taxas envolvidas, tendo sido escolhidas as taxas de 3% e 4%. Para obter a taxa, adotam-se os seguintes passos/procedimentos: Calcula-se o montante com a taxa de 3%: Calcula-se o montante com a taxa de 4%: Observe que o primeiro montante é menor e o segundo maior do que o montante original (R$ 651.513,50). A taxa, então, encontra- se realmente entre 3% e 4%. Se isto não acontecer, deve-se procurar outras taxas que satisfaçam tal condição. Faz-se a diferença entre os montantes obtidos: Faz-se a diferença entre os montantes obtidos e o montante original: Faz-se a diferença das taxas escolhidas: 4% ‒ 3% = 1% Utiliza-se a equação (com a taxa do maior montante: 4%): Utiliza-se a equação (com a taxa do menor montante: 3%): O prazo médio reflete o número médio de períodos que compõem um fluxo de caixa, o que significa a quantidade de períodos que as parcelas de caixa (ou montantes) remuneram um capital (emprestado ou aplicado). Outro entendimento é que é o tempo que um ou mais fluxos de caixa, dada uma taxa de juros e o regime de capitalização, produz uma única parcela equivalente a todo fluxo, determinada por uma ou mais operações financeiras. Exemplo: determinar o prazo médio de um financiamento de R$ 18.700,00 a ser liquidado em dez prestações mensais de R$ 2.147,70 cada, sabendo-se que a taxa da operação é de 2,6%. Outro exemplo refere-se a quando se examina duas ou mais séries de pagamentos iguais, mas cada uma delas com prestações e taxas de juros diferentes. Tabela 10 – Evolução Índice IGP-DI: Janeiro a Dezembro/2008 Nº Valor Taxa mensal Número de prestações Valor da prestação Somatório das prestações 1 250.000,00 6,125% 6 51.040,50 306.243,00 2 110.200,00 5,295% 10 14.476,57 144.765,70 3 80.000,00 3,854% 12 8.452,12 101.425,44 4 340.800,00 4,235% 15 31157,73 467.365,95 781.000,00 1.019.800,09 Fonte: elaborada pelo autor. Calcula-se, inicialmente, a taxa média, como visto no item precedente, o que resulta em 4,706459%. Após a determinação da taxa, emprega-se a mesma lógica antes utilizada para obter o prazo médio, ou seja: 4.5 Hot money – taxas equivalentes Hot money é um empréstimo de curtíssimo prazo (em geral, de um dia a uma semana) para atender às necessidades de capital de giro das empresas. A taxa de juros cobrada neste produto toma por base a taxa do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) do dia da operação acrescida dos custos fiscais e do spread do banco. Em geral, essa taxa é expressa na linguagem de taxa over e repactuada diariamente, sendo que a cada operação há incidência de IOF sobre o valor inicial da operação diária. Exemplo: uma pessoa jurídica solicita a um banco um empréstimo de R$ 500.000,00, em hot money, para pagamento no dia seguinte. A taxa over mensal da instituição, neste dia, está cotada a 3,5% ao mês over e o IOF de 0,0041% ao dia. Determinar o valor liberado e o valor pago pela empresa no dia seguinte, assim como a taxa efetiva mensal da operação: Valor liberado: Montante pago pela empresa no dia seguinte: Taxa efetiva mensal da operação em mês de 21 dias úteis: 4.6 Export notes É o nome dado aos contratos de cessão de créditos de exportação. Trata-se, em linhas gerais, da seguinte operação: um exportador fecha um contrato de exportação e, para obter os recursos que lhe permitam realizá- la, transfere os direitos de venda a um investidor local, recebendo, em troca, os reais equivalentes ao valor da operação em moeda estrangeira. Como houve a transferência do título, o investidor é pago pelo importador, extinguindo-se nesta hora a nota promissória (export notes). Na prática, esta operação sofre a incidência de outros impostos, taxas e correção monetária do capital emprestado que não serão aqui abordados, pois o objetivo é demonstrar a aplicação de juros simples em produtos financeiros. Nos cálculos em moeda estrangeira, as export notes são regidas pela capitalização simples. Exemplo: um investidor (geralmente um banco) desconta uma export note emitida por um exportador. O valor nominal do título é de US$ 100,000.00, o prazo da operação de 120 dias, a taxa de desconto de 12% ao ano (base 360 dias), a taxa de câmbio no dia da aplicação é de R$ 1,0479/US$ e a taxa de câmbio de conversão no dia do resgate de R$ 1,0690/US$. A alíquota do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) no momento do desconto é de 20% sobre o rendimento bruto, em reais. Determinar: a. valor do capital em dólares (US$); b. valor do capital em reais (R$); c. rendimento bruto do investidor; d. taxa efetiva em reais no período, do ponto de vista do investidor; e. taxa efetiva líquida da operação, do ponto de vista do investidor; f. taxa over líquida no período (84 dias úteis). A seguir, a solução e os cálculos da operação aqui identificada. a. N = US$ 100,000.00 i = 12% ao ano n = 120 dias (ano comercial) VL = ? (US$) Desconto simples do desconto por dentro N = VL (1 + i × n) 100.000 = VL (1 + 0,12/360 × 120) 100.000 = VL (1,04) N = 100.000/1,04 = US$ 96,153.85 b. VL (reais) = VL (dólar) × taxa de câmbio VL = US$ 96,153.85 × 1,0479 R$/US$ = R$ 100.750,62 Valor pago pelo investidor a quem emitiu a export notes. c. Na data do resgate, o investidor recebe: N (reais) = N (dólares) × taxa de câmbio N (reais) = 100.000,00 × 1,069 R$/US$ = R$ 106.900,00 d. Rendimento bruto no período i = (N/VL) ‒ 1 = (106.900,00/100.759,62) ‒ 1 = 1,06094088 ‒ 1= 0,06094088 i = 0,06094088 × 100 = 6,09% e. Rendimento líquido de IR taxa líquida % = taxa bruta % × ( 1 – alíquota IR) taxa líquida % = 6,09% × (1 – 0,20) taxa líquida % = 4,87% f. Taxa over da operação i over diária = (1 + 0,0487)1/84 ‒ 1 i over diária = (1,0487)0,01190476 ‒ 1 i over diária = 1,00056625 ‒ 1 = 0,00056625 (taxa diária) i over diária = 0,00056625 × 100 = 0,0567% i over mensal = 30 × 0,0567% = 1,70% ao mês over 4.7 Reciprocidade bancária (floating) É bastante comum nas operações de crédito junto ao sistema financeiro a entrega de duplicatas para cobrança em volume igual ou superior
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