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EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Maria Antonieta Gimenes EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA É a transferência de dados característicos do bioprocesso e de equipamentos visando reproduzir os valores de rendimento e produtividade nas diferentes escalas : Bancada 200 – 400 mL 1 – 10 L Piloto 50 - 200 – 500 L Industrial 5 – 50 – 200 m3 EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Scale-up As condições de operação encontradas em escala industrial são transferidas para escala piloto e de bancada. Scale-down As condições econômicas de operação encontradas em escala de bancada são transferidas para escala piloto e industrial. A extrapolação de escala é um problema comum a vários ramos da Engenharia Química. No caso de bioprocessos, entretanto, o assunto tem tratamento especial. Além de se utilizar de conceitos estabelecidos no tratamento de outros processos da indústria química, deve-se levar em consideração, a característica especial de um bioprocesso para a produção de substâncias de interesse comercial: A PRESENÇA DO SER VIVO. Escala laboratorial Escala Piloto Escala Industrial Escala Industrial Escala Piloto Escala laboratorial EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Scale-up Quando se está operando uma instalação industrial e se necessita elaborar ensaios em escala menor, a fim de verificar certos aspectos do bioprocesso, de forma a aprimorar, otimizar o da linha de produção, ou adaptar um equipamento já existente a um novo produto. Scale-down Desenvolvimento tradicional de bioprocessos é usualmente em três estágios: Escala de Bancada, Escala Piloto e Escala Industrial. Tamanho da Escala depende : Escala de produção de Bioprocessos Via de regra, quanto menor o valor agregado do produto, maior a escala de produção, a fim de se garantir o êxito econômico (rentabilidade) da empresa em relação ao capital nela investido. Tipo de substância que se esteja produzindo; Fatores econômicos ligados à demanda do produto pelo mercado; Valor agregado do produto. Bioprocesso Tamanho do Biorreator (m3) Álcool; Antibiótiocs; Amino-ácidos e Leveduras 50 A 500 Cerveja 2.000 Tratamento de Efluentes 20.000 Novas Biomoléculas (mos. recombinantes., células animais ou vegetais) Algumas centenas de litros (máx) Problemas/Mudanças que um Bioprocesso experimenta quando se amplia a escala de produção FA : frascos agitados BL : biorreator de laboratório BP : biorreator piloto BI : biorreator industrial Ampliação Mudanças FA BL As condições estabelecidas em frascos agitados são, em geral, de difícil reprodução. BL BP BI Ao ampliar-se a escala, há parâmetros que modificam necessariamente. Os mais evidentes são a relação área/volume e a pressão hidrostática. Problemas ligados à homogeneidade do sistema. Os biorreatores pequenos, em geral, podem ser considerados bem misturados, sendo as condições operacionais medidas com sensores, e representativas do que ocorre em todo o equipamento, não sendo o caso de biorreatores industriais. Relação área : volume Determina a transferência de calor e o nível de aeração superficial hRRAT 2 hRV 2 cte D h DV AT 1 Transferência de oxigênio superficial mais importante nos biorreatores de laboratório, sendo praticamente desprezível em biorreatores de grande escala Pressão hidrostática Em BI, a pressão no fundo do tanque pode assumir várias atmosferas,enquanto que em BL ou BP, a diferença de pressão entre a superfície e o fundo do tanque é mínima. Solubilidade do oxigênio e mesmo de gases do metabolismo celular, como o CO2 EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Regra Básica Procurar manter nas diferentes escalas as condições ambientais ótimas do processo, no seu sentido mais amplo, tais como : pH, temperatura, concentrações de nutrientes, células, oxigênio, composição de meio, forças físicas (esforço físico, momento cortante), reologia. Esta Regra Básica parte do pressuposto que uma vez submetido a um mesmo meio ambiente o microrganismo reage da mesma forma, isto é, com o mesmo metabolismo. EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Princípios de Similaridade 1. Similaridade Geométrica : manter uma relação constante entre as dimensões lineares análogas nas duas escalas: 3 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 V V B B D D T T H H i i Onde: H – altura da coluna de líquido; T - diâmetro do biorreator; Di – diâmetro do agitador; B – largura da chicana; V – volume do biorreator (V=(T2/4)H, para H ≈ T, tem-se V=(T3/4), ou V=KT3 e K= /4. Por esta relação, observamos que ao se duplicar o diâmetro de um biorreator cilíndrico, seu volume aumentará de 8 vezes (23). EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Princípios de Similaridade 2. Similaridade Cinemática : manter a mesma velocidade do fluido em pontos equivalentes nas duas escalas. Os dois sistemas são similares em “movimento” quando possuem a mesma relação de vetores de velocidade para pontos correspondentes nos dois sistemas. 3. Similaridade Dinâmica : manter uma relação constante entre todas as forças nas duas escalas em pontos equivalentes. EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Princípios de Similaridade 4. Similaridade Térmica : manter igualdade de temperaturas em pontos equivalentes nas duas escalas. 5. Similaridade Química : manter igualdade de composição química do meio em pontos equivalentes nas duas escalas. Sempre que possível manter a similaridade geométrica. Regra Geral EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Critérios para ampliação de escala 1. Constância da potência efetiva aplicada por unidade de volume : (P/VL)1 = (P/VL)2 2. Constância do coeficiente volumétrico de transfe- rência de oxigênio : (KLa)1 = (KLa)2 3. Constância da velocidade periférica da palheta do agitador (velocidade tangencial) (vP = DiN) : (vP)1 = (vP)2 4. Constância do tempo de mistura : (tM)1 = (tM)2 6. Constância do número de Reynolds : (NRe)1 = (NRe)2 7. Constância do fator Momento : (Mf)1 = (Mf)2 8. Constância do coeficiente de transferência de massa líquido-sólido : (KS)1 = (KS)2 5. Constância da capacidade de bombeamento do agitador : (FL/VL)1 = (FL/VL)2 EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Critérios para ampliação de escala 1. Constância da potência efetiva aplicada por unidade de volume : (P/VL) Sem aeração Com aeração 21 L o L o V P V P 21 L g L g V P V P EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA 1. Constância da potência efetiva aplicada por unidade de volume : (P/VL) Sem aeração 21 L o L o V P V P Sabendo que : Po N3 Di5 e V Di3 2 3 53 1 3 53 i i i i D DN D DN 232132 NDND ii 3 2 12 2 1 i i D D NNLogo : EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA 1. Constância da potência efetiva aplicada por unidade de volume : (P/VL) Com aeração Equação de Michel e Miller : 21 L g L g V P V P 45,0 56,0 32 ar io g Q NDPP 14 1 12 1 2 2 1 ar ar i i Q Q D D NNLogo : Sabendo que : V Di3, e que Po N3Di5 , EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA 1. Constância da potência efetiva aplicada por unidade de volume : (P/VL) Com aeração Equação de Cooper et al. : 21 L g L g V P V P Logo : Utilizando Michel e MillerPg Po e aplicando igualdade de 32 5,01 3 S i g L vD P aK 3 2 2 4 1 2 7 2 7 2 3 2 2 4 1 2 7 2 7 1 2 2 2 2 1 1 1 1 i ar a ar i i ar a ar i D Q Q DN D Q Q DN b i ar a i g b i ar a i g D Q D P D Q D P 2 2 2 3 1 2 1 3 (KLa)1 = (KLa)2 EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA 2. Constância do coeficiente volumétrico de transfe- rência de oxigênio : (KLa)1 = (KLa)2 Equação de Eckenfelder : 5,0 3 2 ScBL Lar L NdV HQaK 5,02 3 2 2 5,0 1 3 2 1 2 1 12 2 11 1 ScBL ar ScBL ar L L NdV HQ NdV HQ aK aK 9 2 2 1 1 3 2 2 1 12 V V V Q H H V Q V Q L ar L ar L ar Logo : 2O Sc D N EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA 2. Constância do coeficiente volumétrico de transfe- rência de oxigênio : (KLa)1 = (KLa)2 KLa YP/S - Industrial (57.000 L) - Piloto (5 L) Qar/VL YP/S EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Di1N1 = Di2N2 Logo : 3. Constância da velocidade periférica da palheta do agitador (velocidade tangencial) (vP = DiN) : (vP)1 = (vP)2 2 1 12 i i D D NN 4. Constância do tempo de mistura : (tM)1 = (tM)2 VL < 500 L Mistura completa VL > 5000 L Mistura incompleta EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Onde : - fator tempo de mistura (adimensional); tm – tempo de mistura (s); N – freqüência de rotação (rps ou s-1); Di – diâmetro do agitador (m); g – aceleração da gravidade (m/s2); HL – altura de coluna de líquido (m); T – diâmetro do tanque (m). 4. Constância do tempo de mistura : (tM)1 = (tM)2 2 3 2 1 2 1 6 1 3 22 TH DgDNt L iim VL > 5000 L; turbinas com pás planas Norwood e Metzner (1960) NRe 102 10 10 103 105 = cte = 4,2 Para Nre > 105 EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA 4. Constância do tempo de mistura : (tM)1 = (tM)2 Para NRe > 105, HL e T são proporcionais a Di 6 1 4 3 2 6 1 N Dtou N Dt imim Logo : 41 12 1 2 i i D D NN EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Sendo FL NDi3 e que VL Di3, logo : N V Fassim D ND V F L L L L i i 3 3 Logo : 12 NN 5. Constância da capacidade de bombeamento do agitador : (FL/VL)1 = (FL/VL)2 6. Constância do número de Reynolds : (NRe)1 = (NRe)2 2 12 2 1 i i D D NN EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA (depende da geometria da pá (palheta) do impelidor) 0437,008,1 79,1 203,0 NM V P tKaK f L g mL SL S S SS RqK 3 7. Constância do fator Momento : (Mf)1 = (Mf)2 8. Constância do coeficiente de transferência de massa líquido-sólido : (KS)1 = (KS)2 Onde : qS –taxa específica de consumo de substrato; R – raio do micélio; SL e SS as concentrações de substrato no seio do líquido e na superfície do pellet , respectivamente. KLa α (P/V) (vS) Interdependência dos parâmetros de escalonamento com KLa constante Variável 80 L 10.000 L ( = 0,5 e = 0,67) D 1,0 5,0 (5 x maior) P 1,0 15,0 (15 x maior) P/VL 1,0 0,12 (quase 10 x menor) N 1,0 0,17 (quase 5 x menor) Q 1,0 21,2 (cerca de 21 x maior) Q/VL 1,0 0,17 (quase 5 x menor) ND 1,0 0,85 (apenas 15 % menor) NRe 1,0 4,25 (mais de 4 x maior) KLa 1,0 1,0 Na qual é uma função de escala (0,8 para 80 L e 0,5 para 10.000 L) e = 0,67 Fonte : Galindo (1996) Comparação entre critérios para ampliação de escala Variação da freqüência de rotação (N) numa ampliação de escala: VL1 = 10 L; VL2 = 5000 L; (Qar/VL) = 0,3 vvm; N1 = 700 rpm . Critério N (rpm) (VL2 = 5000 L) (Po/VL) 175,9 KLa 91,3 vP 88,2 tm* 1174,9 FL/VL 700 NRe 11,1 * NRe > 105 Comparação entre critérios para ampliação de escala Variação da freqüência de rotação (N) numa ampliação de escala: VL1 = 10 L; VL2 = 1000 L; (Qar/VL) = 1,0 vvm; N1 = 500 rpm . Critério N (rpm) (VL2 = 1000 L) (Po/VL) 107 (Pg/VL) 85 KLa 79 vP 50 tm* 1260 Mf 5 * NRe > 105 Comparação entre critérios para ampliação de escala VL1 = 60 L; VL2 = 7500 L; (125 vezes) Relações entre variáveis Critérios para ampliação de escala P/VL FL/VL NDi NRe tm* N2/N1 0,34 1 0,2 0,04 1,5 P2/P1 125 3125 25 0,2 10449 (P/VL)2/(P/VL)1 1 25 0,2 0,0016 83,6 (FL/VL)2/(FL/VL)1 79 1 0,2 0,04 1,5 (NDi)2/(NDi)1 1,7 5 1 0,2 7,5 (NRe)2/(NRe)1 8,6 25 5 1 37,4 (tm)2/(tm)1 2,7 1,3 3,8 0,089 1 * NRe > 105 Interdependência dos parâmetros de escalonamento Parâmetro Símbolo Biorreator de Laboratório (80 L) Valores relativos Critério Biorreator de produção (10.000 L) P/V N ND Re Potência P 1,0 125 3125 25 0,2 Potência específica P/V 1,0 1,0 25 0,2 1,6 x 10-3 Velocidade de agitação N 1,0 0,34 1,0 0,2 0,04 Diâmetro do agitador D 1,0 5,0 5,0 5,0 5,0 Velocidade periférica ND 1,0 1,7 5,0 1,0 0,2 Número de Reynolds Re 1,0 8,5 25,0 5,0 1,0 Se mantivermos P/V constante, Re aumenta mais de 8 vezes no biorreator grande em relação ao pequeno; Claramente, N não pode ser um critério adequado, já que resulta em um aumento de 25 vezes na relação P/V; Ao escalonar mantendo-se constante a velocidade periférica (ND), Re no biorreator grande será 5 vezes maior do que no biorreator pequeno; Se quisermos usar o Re como critério de escalonamento, P/V será mais de 1000 vezes menor do que no biorreator pequeno. Fonte : Oldshue (1986) EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Einsele (1976) V (m3) (Pr/VL) (Kw/m3) 0,1 1 10 100 1000 1 10 P/V V-0,37 1. Correlação entre Potência Específica e Volume de Biorreator EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Einsele (1976) V (m3) (vP) (m/min) 0,1 1 10 100 200 1 10 2. Correlação entre Velocidade Periférica e Volume de Biorreator vP ND = cte EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Einsele (1976) V (m3) (tm) (seg) 0,1 1 10 100 200 1 10 3. Correlação entre Tempo de Mistura e Volume de Biorreator 100 tm V0,3 Obs.: concordância com o teórico para vP constante. EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Einsele (1976) V (m3) (NRe) 0,1 1 10 100 200 1 10 3. Correlação entre Número de Reynolds e Volume de Biorreator 100 NRe V0,35 EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Einsele (1976) 4. Coeficiente Volumétrico de Transferência de Oxigênio Raramente efetuavam medidas de KLa. Nas plantas industriais o controle se dá por medidas de concentração de oxigênio dissolvido (C), mantido entre 50 – 60 % da saturação. Os valores de KLa eram muito dispersos ( 8 a 1000 hr-1 ). : EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Observações que podem ser formuladas : 1. É importante respeitar a Regra Básica. 2. Um bom critério de extrapolação de escala em bioprocessos é a constância da velocidade periférica. 3. A igualdade dos tempos de mistura e a constância do número de Reynolds não devem ser critérios empregados na extrapolação de escala. Entretanto, o tempo de mistura é parâmetro importante como medida qualitativa nos grandes, como medida do grau de homogeneidade. 4. É falho o critério de igual potência por unidade de volume. 5. Na práticanão há similaridade geométrica absoluta. 6. Nem sempre os critérios resultantes da teoria podem ser aplicados na prática. Critérios de ampliação de escala mais utilizados na Europa Critério de ampliação Quantidade de indústrias (%) KLa 30 P/V 30 vP 20 C 20 Fonte: Borzani (2000) EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Einsele (1976) Tempo de mistura : tm Kramers et al. (1953) : tm N-1 EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Einsele (1976) Tempo de mistura : tm Kramers et al. (1953) : tm N-1 a) Se velocidade periférica (vP = DiN) for constante : tm Di V0,33 Di = cte/N V = (Di3/4) Di V1/3 V0,33 b) Se potência específica (P/VL) for constante : P/Di3 N3Di2 tm Di0,666 V0,22 Di0,66 = cte/N V = (Di0,666)3/4 Di0,666 V0,666/3 V0,22 EXTRAPOLAÇÃO DE ESCALA Efeito do tamanho do impelidor e da velocidade periférica sobre o rendimento de novobiocina : Rendimento Di Pg/V 1 2 3 1 – pequeno 2 – padrão 3 - grande