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Aula 3 Sincretismo e Gêneros Textuais

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Prévia do material em texto

1 
 
Curso: Licenciatura em Letras Disciplina: Português VI 
 
Conteudistas: Raquel Fonseca e Rívia Fonseca 
 
Aula 3: Sincretismo e gêneros discursivos 
 
Meta: Apresentar o conceito de sincretismo a partir dos fundamentos teóricos e 
metodológicos da semiótica discursiva, associando tais noções, posteriormente 
à abordagem sociodiscursiva dos gêneros textuais 
 
Objetivos: 
Esperamos que, após o estudo desta aula, você seja capaz de: 
1. Conceituar sincretismo e diferenciar textos sincréticos de textos não 
sincréticos. 
2. Identificar, no plano do conteúdo, elementos das diferentes 
linguagens que, articuladas em uma dada materialidade, contribuem 
para a construção do sentido do texto sincrético. 
 
Pré-requisitos: 
� Leitura dos textos das aulas anteriores. 
� Compreensão clara acerca da constituição dos gêneros discursivos. 
 
Leitura prévia sugerida: 
Antes de começar, seria bastante proveitoso ler “Noções básicas da semiótica”, 
em BERTRAND, 2003, p.37-50. A síntese desse capítulo – o primeiro do livro 
Caminhos da semiótica literária – será reproduzida na introdução desta aula. 
2 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Para compreender bem o conceito de sincretismo e sua aplicação prática, você 
precisará de algumas noções básicas sobre a teoria que lhe dá suporte: a 
semiótica discursiva. Está pronto para começar? 
 
A metodologia da semiótica greimasiana – mais recentemente concebida como 
semiótica discursiva (BARROS, 2001) se propõe a desvendar as condições de 
produção do sentido de um texto, seja ele verbal ou não verbal, estabelecendo 
um modelo de análise que organiza a significação em três níveis: o nível 
fundamental, o nível narrativo e o nível discursivo. Denis Bertrand, autor da 
leitura prévia sugerida, explica de que maneira a semiótica trata a questão da 
significação dos textos: 
 
Síntese 
Noções básicas da semiótica 
A semiótica apresenta modelos para a análise da significação, para além da 
palavra, para além da frase, na dimensão do discurso que lhe é inerente. 
Seu procedimento clássico propõe articular a apreensão do sentido segundo 
um percurso estratificado em camadas relativamente homogêneas, indo das 
formas concretas e particulares, manifestadas na superfície do texto, às formas 
mais abstratas e gerais subjacentes, dispostas em múltiplos níveis de 
profundidade. Ela mostra, assim, como os percursos de significação se 
organizam e se combinam, em razão de regras sintáxicas e semânticas que 
fundamentam, em segredo, a sua coerência. Inversamente, partindo das 
estruturas profundas para as estruturas da superfície, ela simula a “geração” da 
significação. 
Esse “percurso gerativo” distingue, desse modo, as estruturas profundas (os 
valores inscritos no quadrado semiótico) e semionarrativas (com os dispositivos 
modais, a sintaxe actancial e o esquema narrativo) das estruturas discursivas 
que as “discursivizam, por intermédio da enunciação (aparecem, então, as 
3 
 
tematizações que se investem ou não em isotopias figurativas, produzindo as 
figuras do espaço, do tempo e dos atores..., as imagens do mundo). Os 
diferentes níveis estruturais se convertem uns nos outros, da profundidade à 
superfície, segundo um percurso de enriquecimento e complexificação: é 
realmente a superfície do texto que é a mais complexa. (BERTRAND, Denis. 
2003, p.49 
 
BOXE DE CURIOSIDADE/ 
Conheça o professor e pesquisador Denis Bertrand e 
suas importantes contribuições para o 
desenvolvimento da teoria semiótica através do link 
http://denisbertrand.unblog.fr/. Nesta página você terá 
acesso a inúmeros artigos publicados por ele. 
 FIM DO BOXE DE CURIOSIDADE 
 
Para a semiótica discursiva, cada um dos níveis do percurso gerativo de 
sentido é composto por uma semântica e uma sintaxe próprias que constituirão 
o instrumental metodológico de que o analista necessita para explicitar a 
maneira como o sentido do texto foi construído e como ele poderá ser 
percebido (GREIMAS & COURTÉS, 2012; BARROS, 2001). Já a enunciação é 
definida como a instância pressuposta de mediação entre as estruturas 
narrativas e as discursivas em que se dá a interação entre enunciador e 
enunciatário. Ela “produz o discurso e, ao mesmo tempo, instaura o sujeito da 
enunciação” (BARROS, 2001, p.74). 
 
A compreensão das noções básicas da teoria semiótica é muito importante 
para prosseguirmos, mas, agora, será necessário retomarmos um conceito 
fundamental que foi estudado anteriormente: o conceito de linguagem. Você se 
lembra desse conceito? Não? Então vamos relembrar! 
 
Em um sentido amplo, podemos definir a linguagem humana como a 
capacidade de expressar os pensamentos por meio de um sistema de códigos 
4 
 
que, combinados entre si, possibilitam que estabeleçamos, uns com os outros, 
uma comunicação. 
 
 
Figura 1: A comunicação pressupõe a relação entre um ‘eu’ e um ‘tu’. 
Fonte: http://openclipart.org/detail/183631/communication-by-j_iglar-183631 
 
VERBETE 
Comunicação: como a própria constituição da palavra indica, comunicação, é a 
ação de tornar comum. O termo apresenta o radical “comun-“, que aparece em 
diversas outras palavras, tais como: comunidade, comunicado, comunismo. Em 
todas essas palavras, é possível observar um sentido construído a partir de seu 
radical “ter ou tornar algo comum para um grupo de pessoas”. Assim, podemos 
de dizer que Comunicação é a ação de tornar algo, uma idéia, um pensamento, 
um sentido, comum para um grupo de interlocutores, numa situação 
socialmente determinada. Comunicar é partilhar e construir sentidos com 
outros seres humanos em práticas sociais. 
Fonte: As autoras 
 
BOXE EXPLICATIVO 
De acordo com a definição proposta pelo Dicionário de Semiótica, a linguagem 
pode ser assim caracterizada (GREIMAS e COURTÉS, 2012, p. 290): 
2. [...] qualquer tentativa de definição da linguagem (como faculdade humana, 
como função social, como meio de comunicação, etc.) reflete uma atitude 
teórica que ordena, a seu modo, o conjunto dos “fatos semióticos”. O menos 
comprometedor é talvez substituir o termo linguagem pela expressão 
conjunto significante. [...] 
5 
 
4. [...] A linguagem foi por muito tempo considerada como uma das 
características fundamentais da espécie humana, sendo o limite entre a 
comunicação animal e a comunicação humana constituído por certas 
propriedades das línguas naturais, tais como a dupla articulação, a elasticidade 
do discurso ou a debreagem (que permite ao homem falar de outra coisa que 
não seja dele próprio). [...] 
FIM DO BOXE EXPLICATIVO 
 
Podemos distinguir, primordialmente, os diferentes conjuntos significantes, ou 
as linguagens, em dois grupos: a linguagem verbal e as linguagens não 
verbais. A linguagem verbal é aquela possibilita a expressão das ideias e a 
comunicação por meio da seleção e da organização dos códigos de uma 
determinada língua, ao passo que as linguagens não verbais são aquelas que, 
para construir estruturas significativas, articulam outros conjuntos de signos 
como ocorre, por exemplo, com a linguagem visual, a gestual, a 
cinematográfica, a musical, entre outras. Os textos a seguir ilustram o uso de 
diferentes linguagens, você seria capaz de identifica-las? 
 
Texto I 
 
 
 
Figura 2: signos não linguísticos 
Fonte: 
Coração:http://openclipart.org/detail/10743/love-is-returned-by-
johnny_automatic-10743 
Fogo: http://openclipart.org/detail/169759/fire-by-cybergedeon-169759 
Homem: http://openclipart.org/detail/181678/desperate-man-by-moini-181678 
 
6 
 
Texto II 
 
Amor é um fogo que arde sem se ver, 
é ferida que dói, e não se sente; 
é um contentamento descontente, 
é dor que desatina sem doer. 
 
É um não querer mais que bem querer; 
é um andar solitário entre a gente; 
é nunca contentar se de contente; 
é um cuidarque ganha em se perder. 
 
É querer estar preso por vontade; 
é servir a quem vence, o vencedor; 
é ter com quem nos mata, lealdade. 
 
Mas como causar pode seu favor 
nos corações humanos amizade, 
se tão contrário a si é o mesmo Amor? 
 
CAMÕES, Luís Vaz de. Sonetos. 
Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf 
 
Texto III 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3: cenas do filme norte-americano E o vento levou, de 1939. 
Fonte: Cartaz de divulgação: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-27782/; 
Cenas: Imagens retiradas do filme. 
 
No texto I, a linguagem visual apresenta-se por meio de signos que, mesmo 
apresentados isoladamente, remetem a sentidos socialmente já 
compartilhados, por isso, permitem a comunicação de uma determinada 
mensagem. O desenho do coração, na forma como se apresenta, conduz à 
ideia de sentimento amoroso; as chamas à ideia de fogo; e a imagem do 
homem, na posição em que se encontra, constrói o sentido de preocupação, 
tensão ou desilusão talvez. Se associadas a outras imagens ou a outros 
contextos, esses signos poderão adquirir, ainda, outros sentidos. 
 
No texto II, a linguagem verbal é magistralmente explorada pelo maior poeta do 
classicismo português, Luís Vaz de Camões, para definir um sentimento tão 
abstrato quanto o amor. A linguagem verbal, neste exemplo, é explorada em 
toda a sua potencialidade de significação, pois o gênero – poema – permite 
que o autor do texto crie sentidos por meio da associação particular de figuras 
e temas que compõem o nível discursivo do texto, além de explorar as figuras 
8 
 
de linguagem e a plurissignificação da linguagem, características típicas do 
texto literário. 
 
BOX EXPLICATIVO 
O termo figura é polissêmico, por isso, é importante esclarecer em que sentido 
está sendo usado nesta aula. No exemplo acima, o termo figura faz referência 
a um dado conteúdo de uma determinada língua que tenha um correspondente 
no mundo natural. “Quando se diz que a figura remete ao mundo natural, 
pensa-se não só no mundo natural efetivamente existente, mas também no 
mundo natural construído. É o caso por exemplo de um texto de ficção 
científica em que apareça um ser que em lugar dos pés tenha rodinha para se 
locomover, que não tenha carne, mas um revestimento de pedra, etc. Esse ser 
é uma figura de um mundo natural construído. Tema é investimento semântico, 
de natureza puramente conceptual, que não remete ao mundo natural. Temas 
são categorias que organizam, categorizam, ordenam elementos do mundo 
natural: elegância, vergonha, raciocinar, calculista, orgulhoso, etc.”. Na primeira 
estrofe do soneto de Camões, vemos a temática do amor sendo revestida por 
exemplo pelas figuras ‘fogo’ e ‘ferida’, por exemplo. 
(FIORIN, 2005, p.90,91). 
 
O sentido de um texto não se estabelece apenas pelas figuras presentes nele, 
pois elas isoladas não produzem sentido algum, mas pela rede de referentes 
internos se forma pela associação dos elementos figurativos em tordo de 
determinado tema e que remetem o receptor de um texto a uma outra 
significação, menos superficial, no instante em que possibilitam a 
desconstrução de um enunciado meramente icônico e provocam o que acima 
chamamos de efeito de profundidade. De acordo com Fiorin (2005, p.97) o que 
interessa na análise textual é o “encadeamento de figuras”, isto é, as relações 
que as figuras estabelecem entre si e não seus significados tomados 
isoladamente: “Para que um conjunto de figuras ganhe um sentido, precisa ser 
a concretização de um tema, que, por sua vez, é o revestimento de enunciados 
narrativos. Por isso, ler um percurso figurativo é descobrir o tema que subjaz a 
ele”. (FIORIN, 2005, p.97). A análise dos elementos figurativos de um texto 
9 
 
deve considerar, necessariamente, o fato de que a figuratividade se manifesta 
em diferentes graus ou gradações, que vai desde o seu grau mais icônico até o 
seu grau mais abstrato, e ainda o fato de que essas figuras estão revestindo 
um ou mais temas. Estes procedimentos concretizam o sentido do texto no 
nível discursivo, por isso, para apreender um dos possíveis sentidos de um 
texto é preciso estar atento às redes associativas que se estabelecem entre 
temas e figuras. 
 
Na análise de um texto sincrético, é preciso examinar os diferentes níveis de 
leitura que se superpõem em uma superfície e perceber a formação de uma 
rede de referentes internos do texto que, ao se associarem, afastam o texto de 
seu referente externo e permitem, com isso, que ele se transforme num objeto 
material autônomo e que seja reconhecido pelo seu valor estético. Quando se 
estabelece uma significação “por trás” ou “por baixo” de uma significação 
primeira, dá-se o que Bertrand (2003, p.219) chamou de efeito de 
profundidade. Esta expressão diz respeito ao fato de que uma significação 
mais profunda pode ser extraída de determinada figura por meio de um 
processo de desiconização, isto é, o afastamento de um significado icônico de 
determinados elementos figurativos e a conseqüente aproximação de um 
significado abstrato a estes mesmos elementos; um procedimento que impede 
uma leitura referencial do objeto e direciona para uma outra, com significação 
mais abstrata. 
FIM DO BOX EXPLICATIVO 
 
Já no texto III, a sequência de imagens foi retirada do filme E o vento levou 
para representar a linguagem cinematográfica. Será a partir deste exemplo que 
vamos definir sincretismo. Para a semiótica discursiva, sincretismo é a 
articulação de duas ou mais linguagens para a produção do sentido do texto. 
Deste modo, a linguagem cinematográfica é sincrética, pois o sentido 
produzido pelo objeto não pode ser tomado por apenas uma das linguagens 
envolvidas na enunciação, ele depende da articulação, neste caso, das 
linguagem verbal e audiovisual. Estão organizados no enunciado, portanto, 
palavras, sons, imagens e movimentos. 
10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura: Representação de um frame e uma câmera antiga. 
Fonte: http://openclipart.org/detail/170978/camera-icon-by-qubodup-170978 
 
BOXE MULTIMÍDIA 
Acesse o link: http://www.youtube.com/watch?v=Wr6CNeC1eRU e assista ao 
comercial intitulado Hitler, feito para divulgar o jornal Folha de São Paulo, 
Dramático e inteligente, foi classificado como um dos cem melhores comerciais 
brasileiros e é, também, um bom exemplo da articulação entre as linguagens 
verbal e audiovisual na construção do sentido do texto. 
Em seguida, leia a análise semiótica da propaganda feita pelas professoras 
Renata Mancini, Mariana Trotta e Silvia Maria de Souza, da Universidade 
Federal Fluminense, publicada durante o XIII Colóquio do Centro de Pesquisas 
Sociossemióticas, disponível em: http://www.sedi.uff.br/content/renata-mancini 
FIM DO BOXE MULTIMÍDIA 
 
VERBETE 
Sincretismo – Pode-se considerar o sincretismo como o procedimento (ou seu 
resultado) que consiste em estabelecer, por superposição, uma relação entre 
dois (ou vários) termos ou categorias heterogêneas, cobrindo-os com o auxílio 
de uma grandeza semiótica (ou linguística) que os reúne. (...) Num sentido 
mais amplo, serão consideradas como sincréticas as semióticas que – como a 
ópera ou o cinema – acionam várias linguagens de manifestação [...]. 
(GREIMAS & COURTÉS, 2012, p.467). 
11 
 
FIM DO VERBETE 
A leitura de um texto sincrético instaura um sentido que não pode desconectar 
as linguagens em funcionamento na enunciação, pois o enunciador, ao 
escolher sincretizar linguagens, não o faz despropositadamente, já que, desse 
modo, “o sujeito da enunciação captura, de forma mais totalizadora, a adesão 
do enunciatário, tornando-lhe mais difícil escapar à manipulação” (GOMES, 
2008, p.216). Ainda de acordo com Regina Gomes, autora do livroRelações 
entre linguagens no jornal: fotografia e narrativa verbal (2008), “mesmo que a 
coexistência das manifestações visuais e verbais seja imprescindível para a 
significação global do texto, cada linguagem tem um papel e os conteúdos que 
veicula interagem de maneira específica” (GOMES, 2008, p.217). Isto significa 
dizer que, em um texto sincrético, cada linguagem é significativa e os sentidos 
que cada uma instaura se relacionam de modo a produzir novos sentidos e 
novos modos de dizer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4: Esquema que representa a articulação das diferentes linguagens que 
se articulam para a produção de um mesmo sentido na linguagem 
cinematográfica. 
Fonte: figura adaptada com base na imagem (disponível para ser adaptada 
(free to remix – to adapt the work)) http://openclipart.org/detail/185046/camera-
icon-by-ousia-185046; http://openclipart.org/detail/190971/talk-by-
12 
 
williamtheaker-190971; http://openclipart.org/detail/184620/audio-icon-by-ousia-
184620. 
 
Em síntese, um texto sincrético é aquele em que diferentes linguagens, por 
meio de uma estratégia comunicativa, se unem para manifestar um conteúdo 
único e uma única forma da expressão. Segundo Teixeira, a metodologia de 
análise semiótica deve ser aplicada ao resultado da sincretização, ao objeto 
sincrético, a fim de explicitar a estratégia comunicativa global que, em sua 
totalidade, organiza os elementos discursivos que emanam do produto textual 
tornando-o uma unidade de sentido (TEIXEIRA, 2009). Pode-se analisar as 
estratégias de sincretização, isto é, de articulação das diferentes linguagens 
envolvidas em um objeto sincréticos, tanto no Plano do Conteúdo, quanto no 
Plano da Expressão. 
 
Fiorin, ao traçar o percurso de constituição do conceito de sincretismo para a 
semiótica, afirma que “as semióticas sincréticas constituem um todo de 
significação e, portanto, há um único conteúdo manifestado por diferentes 
substâncias da expressão” (FIORIN, 2009, p.35). De acordo com Ana Claudia 
de Oliveira, os textos sincréticos “materializam, na construção do enunciado, as 
opções da construção enunciativa do enunciador no seu orientar o percurso do 
enunciatário em direção à significação” (OLIVEIRA, 2009, p. 88). 
 
No entanto, é importante ressaltar que o enunciatário, ao ler um texto 
sincrético, pode, em seu fazer interpretativo, desconsiderar uma das 
linguagens, por exemplo: ele pode desconsiderar o texto verbal, mas, ao fazer 
isso, deixa de lado a unidade da significação sincrética e opta pela parcialidade 
da compreensão. Essa possibilidade já está prevista pelo sujeito da enunciação 
que, ciente do enunciatário que espera ter, poderá valer-se de diferentes 
estratégias de sincretização enunciativa, que vão desde a redundância, 
passando pela oposição, pelo redimensionamento, até a ressignificação 
(GOMES, 2008, p.78). As estratégias de sincretização serão retomadas mais 
adiante. Por hora, veja se você compreendeu o conceito: 
13 
 
 
Atividade 1 – Atende ao objetivo 1 
 
Observe atentamente o texto abaixo e responda às questões propostas a 
seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Imagem de divulgação do filme E o vento levou adaptada pela empresa 
Hortifruti para campanha publicitária de divulgação de seus produtos. 
Disponível em: http://img3.wikia.nocookie.net/__cb20130901205600/educador-
antenado/pt-br/images/2/2e/Hortifruti-E-o-coentro-levou.jpg 
 
1) Identifique as linguagens articuladas no texto acima. 
Espaço para resposta: duas linhas. 
 
2) Explique por que o texto acima pode ser considerado um texto sincrético de 
acordo com os pressupostos teóricos da semiótica discursiva. 
Espaço para resposta: seis linhas. 
 
Respostas comentadas 
 
1) No texto há, basicamente, duas linguagens articuladas, funcionando na 
construção da significação: a linguagem verbal e a linguagem visual. A 
primeira se observa nas construções lingüísticas que aparecem no cartaz, 
14 
 
desde a frase publicitária até mesmo as letrinhas miúdas com informações 
no rodapé. A segunda, é constituída por toda a imagem do cartaz. 
 
2) Pode-se afirmar que este é um texto sincrético porque para que o sentido 
se estabeleça de forma efetiva, é necessário que as duas linguagens sejam 
lidas e interpretadas de forma articulada. Elas trabalham conjuntamente na 
construção dos sentidos. O plano de fundo do cartaz do Hortifruti remete ao 
cartaz do filme “E o vento levou”, cujo título nos compreender a relação, 
pela proximidade fonológica, entre as palavras “vento” e “coentro”, esta 
última utilizada na publicidade. O inusitado causa um efeito de sentido de 
humor e provoca um estranhamento, decorrente do deslizamento dos 
sentidos em jogo. 
Fim das Respostas comentadas 
 
Agora que você conhece o conceito de sincretismo, vamos mostrar como um 
semioticista usa esse conhecimento na análise dos textos sincréticos. O trecho 
que reproduzimos a seguir é parte do capítulo “Para uma metodologia de 
análise de textos verbovisuais”, da professora Lucia Teixeira, publicado no livro 
Linguagens na comunicação: desenvolvimentos de semiótica sincrética. Leia-o 
atentamente: 
 
 
 
15 
 
Figura 6: Cartaz de divulgação do filme O ano em que meus pais saíram de 
férias. 
Fonte: http://hemetec.wordpress.com/2013/01/03/o-ano-em-que-meus-pais-
sairam-de-ferias-2006/ 
 
“[...] Poderíamos exemplificar essa proposta metodológica com breve análise 
do cartaz do filme O ano em que meus pais saíram de férias. Do ponto de vista 
das unidades figurativas do discurso, temos um menino na janela traseira de 
um carro, olhando para cima e para frente. Focaliza-se apenas seu rosto 
amedrontado, marcado pelos olhos que buscam alguma coisa. Ao fundo, 
desfocados, prédios como cenário. Temos aí, na imagem visual, uma 
sequência narrativa de busca, a partir da debreagem discursiva de um 
personagem que corresponde, no nível narrativo, a um sujeito em espera, um 
sujeito de estado, portanto. A atitude passiva de quem é levado, conduzido 
num carro, reforça o papel actancial proposto. O título, analisado como texto 
que condensa a história do filme, indica a ação de um sujeito não presente na 
imagem visual. Apenas o pronome possessivo estabelece uma ligação entre o 
menino e os pais, sujeitos que estão entretanto, no verbal e no visual, 
separados. Desenvolve-se, no plano do conteúdo, a narrativa de uma 
separação e a projeção discursiva de um desses sujeito separados, em estado 
de espera. Separação e espera configuram-se assim como dois temas do texto 
anunciado no pôster. Ambos vêm indicados nos dois componentes 
significantes: no texto verbal, a separação faz supor um retorno e, portanto, a 
espera; na imagem visual, o menino solitário que olha em torno figurativiza a 
solidão da separação e a consequente espera do retorno e da companhia. No 
plano da expressão, há um corte topológico entre alto e baixo que separa o 
verbal do visual: o destaque dado ao menino vem reforçado também pelos 
elementos cromáticos (harmonia entre castanhos, beges e cinzas) e eidéticos 
(enquadramento equilibrado pelo limite superior curvo e o limite inferior reto). A 
cabeça que pende em movimento diagonal superior lança o menino para fora 
dos limites da janela e projeta no enunciado a possibilidade de um mundo 
exterior ainda não descoberto, nem pelo personagem nem pelo espectador. 
16 
 
Cria-se aqui um vínculo de comunicação entre os elementos do enunciado e o 
espectador a quem ele se dirige” (TEIXEIRA, 2009, p.49, 50) 
 
Ainda seja apenas uma parte da análise de Teixeira (2009), o trecho acima 
exemplifica de que maneira um analista do discurso pode valer-se do 
conhecimento das estratégias de sincretização manifestadas no discurso para 
percepção do sentido de um texto. Além disso, segundoOliveira, “só o fato de 
um plano da expressão apresentar-se sincretizado é sinalizador de escolhas do 
enunciador para a manifestação de conteúdos ao enunciatário” (OLIVEIRA, 
2009, p.90), o que significa dizer que a compreensão da articulação entre as 
linguagens que constituem um objeto sincrético aponta, também, para algumas 
das intenções discursivas do enunciador. 
 
Atividade 2 – Atende ao objetivo 2 
 
Observe atentamente o texto visual reproduzido abaixo e faça o que se pede a 
seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
Figura 7: Os retirantes, quadro de Candido Portinari, 1887. 
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10686/candido-portinari 
 
1) Identifique no texto visual as figuras que o compõem. 
Espaço para resposta: dez linhas. 
 
2) Elabore um pequeno texto analítico em que você comente o modo como 
as figuras, os temas e também o título (verbal) se articulam e contribuem 
para a construção do sentido do texto. 
Espaço para resposta: dez linhas. 
 
RESPOSTAS COMENTADAS 
1) Destacam-se, em primeiro plano, figuras que, apesar da distorção, 
remetem, essencialmente, às formas de corpos humanos. Observam-se as 
figuras de quatro adultos e cinco crianças. Uma dessas crianças, no 
entanto, em posição central no quadro, constitui uma figura tão enigmática 
que possibilita uma leitura mais aprofundada, isto é, é uma figura mais 
distante da referência concreta a um elemento do mundo natural e mais 
próxima da abstração, não se trata apenas uma criança, portanto, mas do 
que ela representa, esperança, talvez, apesar do seu ar sombrio e seu 
olhar desolado No cenário de um de um anoitecer, apresentam-se 
figurativamente o céu escuro, pouca luz ao fundo e a lua distante. A noite 
indica a hora de parar a caminhada. O movimento sugerido pelas formas 
das saias das mulheres e dos cabelos do homem mais velho parecem 
indicar uma brisa leve parece vem detrás das figuras centrais. Observam-
se, ainda, as figuras dos pássaros, que vem do fundo em direção ao 
primeiro plano, como que em revoada. No fundo, vê-se a linha do horizonte 
e duas montanhas que, relacionadas a posição dos personagens, indicam 
o ponto de partida, distante, muito distante. Todas as partes dos corpos de 
todas as figuras humanas aparecem calejadas, envelhecidas, ressecadas. 
A jornada revela-se exaustiva. Há ossos de homens e bichos quebrados e 
espalhados pela terra, misturados aos seixos da terra seca, aos quais, 
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provavelmente se juntarão outros, pertencentes a essas família já tão 
sofrida e cansada. 
 
2) Da perspectiva de quem está de fora e olha para o quadro, percebemos 
que as figuras centrais pausam uma caminhada, mas não sabemos para 
que direção estão indo e nem se conseguirão chegar ao seu destino. A 
pintura congela o cenário, mas não elimina do quadro a noção de 
movimento. Associadas ao título, todas as figuras ganham nova conotação 
e, certamente, mais intensidade. Considerando a figura do verbal 
‘retirantes’, podemos concluir que os personagens marcham para o Sul, 
direção contrária a da seca nordestina, em busca de subsistência. O pés 
descalços, disformes, ora são grotescamente desproporcionais, ora 
perdem seus contornos e se misturam à terra, como se dela surgissem e a 
ela pertencessem. Poucas roupas vestem corpos esqueléticos ou 
subnutridos. A trouxa carregada em varas pelos homens demonstram que 
aquelas pessoas carregam consigo tudo o que lhes pertence. Carregam 
sua própria existência. Viver parece ser um fardo. A partir da observação 
atenta das figuras do texto, podemos identificar alguns percursos 
temáticos. No quadro de Portinari, o percurso figurativo recobre o tema da 
seca e da morte ficam muito evidentes, ainda que as figuras, na pintura, 
estejam mais próximas abstração. 
FIM DAS RESPOSTAS COMENTADAS 
 
 Bons estudos!

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