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4ºPeríodo QUIM ORG2 EQ-UFRJ P1 Bluma Discussão sobre Acidez e Basicidade Introdução à acidez de Bronsted-Lowry Segundo Bronsted-Lowry, a acidez é definida como a capacidade de doar prótons (H+). Analogamente, a basicidade é a capacidade de receber esses prótons. Um composto será tão mais ácido quanto mais fácil for para ele doar esse próton. Depois que o próton (H+) é doado, a espécie química remanescente adquire uma carga, esta negativa. Esta espécie química chamamos de base conjugada. Um composto será tão mais ácido quanto mais estável for sua base conjugada. Para isso, ela deverá ser uma espécie que acomoda bem cargas negativas. A eletronegatividade por exemplo, do cloro acima, é um parâmetro que nos leva a crer que Cl(-) é uma base muito estável. Analogamente, a basicidade da base conjugada é tão maior quanto menos estável ela for. É assim porque ela “vai querer muito” receber prótons, tornando ela muito reativa. Um exempl ode ordem de basicidade: 𝑪𝑯𝟑 − > 𝑵𝑯𝟐 − > 𝑶𝑯− > 𝑭− Comparar a estabilidade dos halogenetos no entanto pode confundir. Quando átomos são do mesmo tamanho, a eletronegatividade dita, de forma diretamente proporcional, a estabilidade da base conjugada. No entanto, um átomo maior acomoda melhor um elétron a mais (significado da carga negativa) por causar menos distúrbio no balanço de cargas na nuvem eletrônica do átomo, já que o grande espaço garante uma grande distância entre os elétrons e um menor grau de interação. Assim podemos estabelecer como ordem de acidez: 𝑯𝑰 > 𝑯𝑩𝒓 > 𝑯𝑪𝒍 > 𝑯𝑭 Ácido Ftálico Ácido IsoFtálico Ácido TereFtálico Anidrido Ftálico Ordem de basicidade: 𝑭− > 𝑪𝒍− > 𝑩𝒓− > 𝑰− O efeito eletrodoador e eletroretirador também contribui para comparação de acidez de compostos. Veja por exemplo a água e um álcool: 𝑹 − 𝑶𝑯 ≫ 𝑹 − 𝑶− 𝑯 − 𝑶𝑯 ≫ 𝑯 − 𝑶− Uma vez sabendo que cadeias alifáticas tem efeito eletrodoador (que por sinal é maior quanto maior for a cadeia), podemos afirmar que “empurrará” a carga negativa com mais força que o hidrogênio (que também faz esse efeito mas veja, uma cadeia alifática tem vários hidrogênios e carbonos que contribuem para o efeito). Se empurra a carga, então ele não a acomoda muito bem em sua estrutura. Se a base conjugada não é muito estável, então o composto que a originou não é muito ácido. Na comparação acima, a água é mais ácida. A acidez em ácidos carboxílicos Um outro efeito importante a ser considerado na determinação da acidez é o da ressonância. Ocorre somente em ligações pi. A existência da ressonância faz com que cargas fiquem deslocalizadas. Isso é bom porque não força nenhum átomo a acomodar ela por muito tempo. Portanto, quanto mais estruturas de ressonância uma base conjugada tiver, tão mais estável ela será. Como visto acima, sua estabilidade define sua acidez. O ácido acético possui duas estruturas de ressonância, como podemos ver na imagem ao lado. Em ácidos carboxílicos a natureza do radical ligado a carboxila determina a acidez, como a imagem ao lado mostra. A discussão é a mesma para a água e o ácido: se o grupamento é eletroretirador, ele estabiliza, portanto intensifica a acidez. Se ele é eletrodoador, instabiliza, diminuindo a acidez. Por exemplo, comparando somente cadeias alifáticas, quanto maior ela for tão menos ácido será o acido carboxílico. A localização de radicais em mistos de ácidos carboxílicos também é um fator a se levar em conta. Veja, o cloro é um halogênio com alta eletronegatividade. Apesar de funcionar como grupamento eletrodoador se conectado À um benzeno, aqui ele se comporta como um grupo eletroretirador. Portanto o ácido propananóico com cloro é mais ácido que o sem. E a posição α(2) configura uma estrutura mais ácida do que em sua posição ß (3) por estar mais perto do sítio onde o H(+) é liberado, tornando seu efeito de puxar a carga negativa pós liberação de próton mais efetivo e estabilizando mais ainda a base conjugada. Por vezes podemos ver ácidos carboxílicos nas provas com seus nomes usuais. Sendo n o número de carbonos, seus nomes são: N=1 Formíco - Formato N=2 Acético - Acetato N=3 Propiônico - Propionato N=4 Butírico - Butirato N=5 Valérico - Valerato Acidez em ácidos aromáticos De forma geral, ácidos aromáticos, isto é, fenil metanoicos (benzoicos) e derivados são mais ácidos que ácidos carboxílicos com cadeias alifáticas como radical. Além disso temos ai o efeito da ressonância em jogo, ajudando a estabilizar a base conjugada. Veja por exemplo a base conjugada do ácido para nitro benzoico: O grupamento nitro é eletroretirador por indução. Por possuir ligações pi, a deslocalização de cargas nos híbridos de ressonância passam por ele (lembre-se, quanto mais híbridos de ressonância, mais estável). Portanto tanto a indução quanto a ressonância contribuem para a estabilidade da base conjugada. Mas agora veja esse exemplo: O cloro apesar de ser eletronegativo, o que lhe garante uma indução favorável à estabilidade por puxar elétrons, possui um par de elétrons livre que pode doar para contribuir nos híbridos de ressonância, o que desfavorece a estabilidade da base conjugada por estar doando elétrons. Lembre-se que queremos para uma acidez mais acentuada grupamentos desativantes, isto é, capazes de retirar elétrons. Halogênios são Orto-Para Indutores, portanto são grupos ativantes em compostos aromáticos. No entanto, o efeito da ressonância aqui é menos importante que o da indução. Já aqui o efeito da ressonância é mais importante que o da indução. O par de elétrons do hidrogênio está livre para ser doado para o anel. Não o bastante, o grupamento metóxi , apesar de ter pequena cadeia alifática, como discutido na comparação da acidez da água e do álcool, possui efeito indutivo doador de elétrons. Portanto tanto a ressonância quanto a indução contribuem para o efeito de doar elétrons e de desestabilizar a base conjugada/diminuir a acidez do ácido. Como demonstrado ao lado, por vezes o anel está conectado à grupamentos com nuvens eletrônicas muito grandes. A diferença acentuada de tamanho das nuvens eletrônicas desses grupamentos e dos carbonos do anel dificulta o efeito de ressonância, tornando o efeito indutivo dominante. Quanto a posição no anel A posição dos grupamentos modifica a intensidade dos efeitos que eles causam. Vejam por exemplo o ácido ao lado. Agora ele está mais próximo do carbono da carboxila do que em sua posição para. Isso acentua o efeito indutivo e, nesse caso, a acidez. Em posição orto, a nuvem eletrônica do grupamento pode interagir com a carboxila e facilitar a saída do próton além de acentuar ainda mais em relação às outras posições o efeito indutivo, aumentando ainda mais a acidez. Chamamos isso de efeito de campo e é por isso que a acidez da posição orto é muito maior que a das outras posições. No entanto a diferença entre as posições orto e para é pequena uma vez que o efeito da ressonância é maior em posição para. Isso se deve ao fato de, em posição meta, os híbridos de ressonância nunca fornecerem uma espécie onde o carbono do benzeno ligado à carboxila está com a carga positiva. Acidez em ácidos dicarboxilados Ácidos com duas carboxilas possuem dois hidrogênios livres para doar. Cada um desses ácidos terá um Ka1 associado, e discutiremos o porque de um ser maior que o outro e vice-versa. Usaremos como primeiro exemplo o ácido oxálico ou etanodióico. Seu Ka1 em ordem de grandeza 10^(-5) é 5400. É o maior Ka1 dentre os ácidos carboxílicosbicarboxilados. O porque? Bem, veja que carboxilas no geral possuem a capacidade de retirar elétrons. Isso é fácil de ver se pensarmos que com a saída de um H+, um dos oxigênios fica negativo e esse elétrons a mais, por ressonância, transita. Portanto a segunda carboxila facilita a saída do próton da primeira, acentuando a acidez. E como vimos, a posição dos grupamentos eletrodoadores ou eletroretiradores influencia na acidez. Uma cadeia carbônica maior, como um ácido hexanodióico, terá uma menor acidez, o que podemos ver no Ka1 desse ácido, que é cerca de 1560 vezes menor que a do ácido oxálico. No entanto, o grupamento ao lado é doador de elétrons e não retirador. Então após a saída do primeiro H+, a saída do segundo será dificultada. Isso explica o Ka2 ser muito menor que o Ka1. Sendo esse grupamento eletrodoador, seu efeito de doar elétrons será intensificado quanto mais próximo ele tiver da carboxila que contiver o próton que ainda não saiu. Portanto o Ka2 do ácido hexanodioico é esperado (e realmente é) ser maior que o do pentanodióico, uma vez que no primeiro o empurrão é menor. Por vezes podemos ver ácidos dicarboxilados nas provas com seus nomes usuais. Sendo n o número de carbonos, seus nomes são: N=2 Oxálico - Oxalato N=3 Malônico - Malonato N=4 Succínio - Succinato N=5 Glutárico - Glutarato A acidez dos isômeros CIS e TRANS O ácido butenodióico possui duas formas, uma CIS (em forma de C) e uma trans (em forma de S). Possuem a mesma massa molecular, a mesma quantidade de átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio e o mesmo número de ligações sigma e pi. No entanto algumas propriedades físicas como a acidez são diferentes. A forma CIS é a mais ácida porque quando ele perde o primeiro hidrogênio, tem estabilização da molécula por ligação de hidrogênio. O segundo H+ fica migrando de um caboxilato pro outro ao invés de ir pra solução. Esse efeito só é possível porque na forma CIS as carboxilas estão mais perto uma das outras do que na forma TRANS. Lembre-se que uma maior estabilização da base conjugada é sinônimo de uma maior acidez. Essa estabilização no entanto dificulta a ionização do segundo hidrogênio, o que não acontece no TRANS. Portanto o segundo hidrogênio do trans é mais ácido e sai mais facilmente Podemos comprovar isso analisando os pKas. Um menor pKa indica maior acidez. Veja: Nome Imagem pKa1 pKa2 Ácido Butenodióico TRANS Ácido Fumárico 3,0 4,5 Ácido Butenodióico CIS Ácido Maleico 1,92 6,27 http://www.everyscience.com/Chemistry/Organic/Acids_and_Bases/h.1179.php A basicidade de ânions e sua relação com o favorecimento de uma reação de substituição nucleofílica Como pudemos ver, até agora estudamos muito reações de adição ou substituição nucleofílica e vimos que a estabilidade de uma base conjugada é proporcional à acidez do compostos que o formou. Nas reações de substituição nucleofílica, jogamos um nucleófilo à um derivado de ácido carboxílico por exemplo ou um composto qualquer com dupla O e liberamos um outro nucleófilo. Nossa base conjugada. Essa reação será tão mais favorável quanto melhor for a capacidade do A(-) de acomodar a carga negativa, ou seja, quanto mais estável e portanto menos básico ele for. Veja alguns exemplos para A(-): Não julgando quais espécies ao lado esquerdo são mais estáveis, podemos já com nossos conhecimentos afirmar que todas estabilizam a carga negativa. Cloro então, é o menos básico dos 4. Portanto a substituição nucleofílica é favorecida com cloretos de ácidos, ácidos carboxílicos, ésteres e anidridos. Já as espécies do lado direito não estabilizam bem a carga negativa e portanto são muito básicos. H(-) e R(-) são tão básicos que fazem com que a reação nem sequer ocorra. Mas veja, apesar do carbono não acomodar a carga negativa e carbânions serem muito básicos, se o nucleófilo supostamente liberado for um dos abaixo, efeitos de ressonância e de indução ajudarão à acomodar a carga negativa e portanto tornarão a reação possível: Chegamos à conclusão que a reação que liberar o ânion menos básico será a mais reativa. Isso tem a ver com os híbridos de ressonância também. Uma ressonância desfavorecida é sinônimo de uma maior reatividade. Aqui analisamos a capacidade de se acomodar uma carga positiva. Veja: Perceba que existe uma falta de elétrons no oxigênio. Sabemos que isso não é muito favorável para o oxigênio e que ele não acomoda essa carga muito bem. Mas perceba que o grupo alquila R2 tem um efeito eletrodoador superior ao do hidrogênio, logo ele supre melhor essa falta de elétrons e portanto estabiliza mais o híbrido de ressonância. A ressonância de ésteres é mais favorável , o que torna o carbono da carbonila mais positivo, dificultando um ataque nucleófílico. Conclusão? Mesmo que pouco, ácidos carboxílicos são mais reativos que ésteres. Compare agora ácido com cloreto de ácido e verá que o cloreto de ácido é mais reativo. Por isso dizemos que o cloro é um melhor grupo de saída do que a hidroxila. A basicidade de aminas Uma outra definição de acidez, de Lewis, diz que • Ácido é toda espécie química que recebe pares eletrônicos isolados, formando ligações coordenadas (antigamente era chamada Dativa). • Base é toda espécie química que cede pares de elétrons isolados, formando ligações coordenadas. Veja o nitrogênio: Segundo sua posição na tabela periódica, o nitrogênio é capaz de realizar 3 ligações normais e uma “dativa”. Essa dativa seria a ligação que ele faria ao compartilhar o par de elétrons que ele possui sobrando. É por esse motivo que estruturas como NH4Cl existem. Nitrogênio, na configuração acima, tem a capacidade de doar par de elétrons e ser protonado (receber H+). Perceba que nessa ultima frase o conceito de base de Lewis e de Bronsted-Lowry colidiram, comprovando o caráter básico de aminas/ da amônia. Levando em consideração efeitos indutivos e de ressonância, a basicidade será tão maior quanto mais fácil for doar esse par de elétrons. Uma anilina portanto, não é muito básica. O fenil tem efeito indutivo de puxar elétrons e a ressonância faz com que o grupo − 𝑁𝐻2 doe seu par de elétrons, dificultando a saída desse par de elétrons. Já a amônia possui 3 hidrogênios, que contribuem para o efeito indutivo eletrodoador, facilitando a doação odo par de elétrons e portanto aumentando a acidez. A anilina tem um pKb em torno de 9 e a amônia tem um pKb em torno de 4, comprovando sua maior basicidade. Podemos também afirmar que aminas secundárias são mais básicas que aminas primárias, que são mais básicas que a amônia, partindo da premissa acima. Aqui, no entanto, teremos uma singularidade. Por questões de impedimento estérico, aminas terciárias não são mais básicas que aminas secundárias. Podemos aqui também usar o conceito de estabilidade. Imagine uma anilina protonada. Se a anilina é a base, sua “versão protonada” será seu ácido conjugado. Uma base será tão mais básica quanto mais estável for seu ácido conjugado, isto é, quanto mais fácil for pra ele acomodar a carga positiva. No caso da anilina protonada, o efeito da ressonância ainda contribui mais ainda pra estabilidade do ácido conjugado. Devemos nos atentar ao tipo de grupamento ligado ao nitrogênio para definir a basicidade e estabelecer comparações. Vale citar também que aqui a posição de grupamentos também influencia. Acredito já ser possível identificar o porque do composto 1 abaixo ser mais básico que o composto 2. Os efeitos eletroretiradores e eletrodoadores Muito discutimos aqui sobre como que os grupamentos, a partir de seu efeito de indução e ressonância,influenciavam na acidez ou na basicidade. Mas se você não tem bagagem anterior que te diga qual efeito de qual grupo, eis umas dicas! Procure entender o porque de cada grupo agir assim: Eletroretiradores (Meta- Dirigentes/Desativantes) Eletrodoadores (Orto-Para- Dirigentes/Ativantes) Atenção! O grupamento da acetanilida é também eletrodoador, mas menos reativa que o amino da anilina uma vez que o par de elétrons livre do nitrogênio passa tanto pelo benzeno quanto pelo carbono e o oxigênio. É recomendável converter anilina à acetanilida tratando com anidrido acético para se diminuir a reatividade do anel (ele se mantem um anel ativado, mas não tão ativado quanto antes) e evitar, por exemplo, poli halogenações. Tabela de Acidez Use a tabela abaixo para estudar. Veja cada um dos compostos e tente entender o porque de um ser mais ácido que o outro Nome Ka Ácido p-Nitro benzóico 36*10^(-5) Ácido p-cloro benzóico 10,3*10^(-5) Ácido p-metóxi benzóico 3,3*10^(-5) Ácido m-Nitro benzóico 32*10^(-5) Ácido m-cloro benzóico 15,1*10^(-5) Ácido m-metóxi benzóico 8,2*10^(-5) Ácido o-Nitro benzóico 670*10^(-5) Ácido o-cloro benzóico 120*10^(-5) Ácido o-metóxi benzóico 8,2*10^(-5) HCOOH 17,7*10^(-5) CH3COOH 1,75*10^(-5) CH3(CH2)2COOH 1,52*10^(-5) CH3CH2(CHCl)COOH 139*10^(-5) FCH2COOH 260*10^(-5) ClCH2COOH 136*10^(-5) BrCH2COOH 125*10^(-5) ICH2COOH 67*10^(-5) Ácidos Dicarboxilados N= número de carbonos Ka1 [*10^(-5)] Ka2 [*10^(-5)] N=2 5400 5,2 N=3 140 0,2 N=4 6,4 0,23 N=5 4,5 0,38 N=6 3,7 0,39