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Resenha: Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda

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Resenha: Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Holanda
Capítulo 1: Fronteiras da Europa 
 Significativamente, Sérgio B. de Holanda iniciou a sua análise com uma abordagem das características culturais da Península Ibérica, atentando para a constatação de que o personalismo sempre foi uma característica inerente a estas sociedades (ele abordou conjuntamente Espanha e Portugal, porém em determinado ponto as diferenciou). É importante frisar que o autor observou como características inerentes ao “homem ibérico”, a ausência de princípios de hierarquia, tendência à exaltação do prestígio pessoal e a repulsa ao trabalho regular e utilitário, contrariamente aos povos europeus de ética protestante. 
 
Capítulo 2: Trabalho e Aventura
 Interessante análise de SBH na construção da dialética trabalho-aventura foi a constatação de uma característica que ele julgou inerente ao português, o espírito de aventureiro, o qual não comportaria em si uma “ética do trabalho”. Este ethos aventureiro foi, segundo o autor, de vital importância pra o colonizador português, uma vez que lhe proporcionou adaptabilidade às condições locais, todavia caracterizando a colonização por certo desleixo e abandono, uma característica do tipo desbravador, manifestado pelo português. Coincidentemente, A escravidão teria agravado, ainda mais, no colonizador esse espírito de aventura e aversão ao trabalho à medida que desobrigou o homem livre do trabalho e de cooperar diretamente para o sistema produtivo. Significativamente, SBH concebeu a família patriarcal como o elo social através do qual a tradição personalista e aventureira herdada dos aventureiros portugueses se aclimatou entre nós e “acabou por imprimir sua marca como um todo”.
Capítulo 3: Herança Rural
 Outra oposição proposta por Sérgio B. de Holanda é a relação entre os meios rural e urbano na civilização brasileira. Segundo ele, no período colonial o meio rural tinha predominância sobre o meio urbano, a fazenda sobre a cidade, por isso o patriarcalismo marcou a formação da sociedade brasileira; todavia, como era dependente do trabalho escravo, o predomínio rural entrou em crise a partir da Lei Eusébio de Queiroz devido ao fato, e em conseqüência, do patrimonialismo ser incompatível com as formas de vida burguesas, que caracterizam o meio urbano. Dessa herança rural resultou, conforme afirma o autor, uma supervalorização das atividades “intelectuais”, que não se ligam ao trabalho material e parecem brotar de uma qualidade inata da fidalguia e uma “aversão ao trabalho”, aos ofícios manuais. 
Capitulo 4: O semeador e o Ladrilhador
 No capítulo o Semeador e o Ladrilhador, o autor diferencia o homem espanhol (ladrilhador) do português (semeador). Ele baseou-se num estudo sobre as cidades fundadas pelos espanhóis, ladrilhadores, nos planaltos da América, entendendo-as, pelos seus traçados, inclusive, como empresa da razão, contrária à ordem natural. Já os portugueses norteados por uma política de feitorias, agarrados ao litoral, do qual só se desprenderiam no século XVIII, foram semeadores de cidade irregulares, nascidas e crescidas ao deus-dará e rebeldes à norma abstrata. Dessa falta de disciplina teria resultado o caráter prudente e desprovido de arroubos da expansão portuguesa, movida apenas pelo interesse de fazer fortuna rápida, dispensando o trabalho regular, que nunca foi virtude própria dele, conforme expõe o autor. 
Capítulo 5: O homem “cordial” 
 No capítulo mais polêmico de sua tese, o do homem cordial, Sérgio B. de Holanda concebeu, a partir da análise da influência do patrimonialismo e do personalismo na nossa formação, que a própria natureza da nossa formação histórica e cultural imprimiu ao tipo sociológico brasileiro uma atitude cordial, que se expressaria pela “ausência de formalidades”, “diminuição da distância entre o público e o privado” e “aversão à disciplina e ao ritualismo social”. Herança da sociedade patriarcal, essa informalidade se exteriorizaria em todas as esferas da vida pública brasileira, ainda segundo a concepção do autor. Nesse sentido, o termo “cordial” nada tem a ver com bondade, mas com atitudes públicas motivadas por questões pessoais, por sentimentos como laços de amizade e parentesco. Isto teria relação de causa, segundo Holanda, com a ausência de estruturas políticas e administrativas racionais na nossa formação histórica, ou seja, a ausência de um Estado burocrático nos moldes weberianos. Nesse ponto, é mister ressaltar que Sérgio B. de Holanda partiu de uma análise fundamentada no modelo weberiano de Estado burocrático. De acordo com essa concepção weberiana as relações sociais, num sentido amplo, são abalizadas por preceitos formais e racionais, emanados da própria imposição do moderno sistema industrial que imporia uma necessária separação entre as classes sociais no sistema de produção capitalista, a qual o autor contrasta com a sociedade patriarcal brasileira, notadamente rural. Em conseqüência desse entendimento, o autor constata que no Brasil o Estado se imporia como instância mediadora das diversas relações no âmbito da sociedade, anulando o secular papel da família e do clã como instâncias mediadoras através de contatos primários. 
Capítulo 6: Novos Tempos
 Para Sérgio Buarque de Holanda - influenciado pela sociologia weberiana - no Brasil as exigências imperativas das novas condições de vida, a sociedade burguesa, impunham a superação das relações sociais de caráter pessoal, os tais contatos primários. Nesse sentido, o autor aponta como solução para o nosso atraso secular uma ruptura com o nosso passado patrimonial, por meio da superação do personalismo, e da assimilação de uma nova ética pelas nossas instituições, pautada pela norma imparcial e pelo racionalismo weberiano, conforme as exigência das sociedades burguesas contemporâneas.
Capítulo 7: Nossa Revolução
 No último capítulo de sua obra, Nossa Revolução, o autor de Raízes do Brasil concebeu que os primeiros abalos sofridos pela estrutura patrimonial, sobre a qual se assentava a sociedade brasileira, ocorreram no último quartel do século XIX, com a superação do meio rural pelo meio urbano, pela via da abolição do trabalho escravo e modernização capitalista, o que acarretou a dissolução da sociedade agrária tradicional. 
 Para SBH o declínio rural e a ascensão do meio urbano foi acelerado pela chegada da família reais, em 1808, reduzindo a importância dos senhores rurais. Todavia, devido à ausência de uma cultura urbana (burguesia) independente, os cargos e funções demandadas no meio urbano, foram ocupados pelos donos de engenho, lavradores e seus descendentes, os quais transplantaram para a cidade a mentalidade, os preconceitos e os estilo de vida originários dos domínios rurais; dessa forma a mentalidade da casa grande teria “invadido” as instituições urbanas, daí advindo o desprezo pelos trabalhos manuais, em detrimento das artes liberais.
 Logo a “nossa revolução” teve seu grande momento no final do império, com a desarticulação das nossas raízes ibéricas e da ordem patrimonialista tradicional. Nesse sentido, o autor concebeu que a grande revolução na sociedade brasileira deu em forma de um processo (cuja face mais visível foi a abolição), longo e paulatino, a partir do último quartel do século XIX, as quais apontaram para a o fim da sociedade tradicional, rural, personalista. Mas um processo a se completar, tendo em vista a sobrevivência de aspectos conservadores na estrutura da sociedade, pela constatação de que com a urbanização o personalismo apenas mudara de lugar, do campo para a cidade. 
 Por fim, o autor entendia que estava vivenciando, na sua contemporaneidade a fase aguda da crise de decomposição da sociedade tradicional (o ocaso da República Velha); e tal se deu, conforme Antônio Candido, com o adventodo Estado Novo e todas as suas conseqüências, via transformação das estruturas econômicas pela industrialização. Para SBH, as adequações das instituições européias aqui, no Brasil, davam-se sempre de forma incompleta, insatisfatória, até certo ponto, inadequadas (Mota, 2007, 253). Isso se deu com a ideologia liberal e impessoal que, no Brasil, nunca se naturalizou (idem.), da mesma forma que “a democracia no Brasil sempre foi um lamentável mal-entendido; importada por uma aristocracia semifeudal que tratou de acomodá-la aos seus direitos e privilégios.
 A partir da constatação acima referida SBH concebeu, então, que o caminho para uma sociedade brasileira mais democrática estava justamente no processo de urbanização e industrialização, que permitiria a emergência das camadas oprimidas da população, únicas com capacidade para revitalizar a sociedade e dar um novo sentido à vida política. Contudo SBH atentou, sobretudo, para as resistências a essa democratização da sociedade, por parte de adeptos da sociedade tradicional, do conservadorismo e do autoritarismo, de cuja influência resultava uma revolução incompleta ou por completar-se. 
 
 É mister reafirmar que, Raízes do Brasil inovou ao introduzir no pensamento social brasileiro a análise da sociologia weberiana, provocando uma renovação metodológica na historiografia e nas ciências sociais, além ter destacado a importância do personalismo na nossa formação histórica. 
 É relevante destacar, por fim, que acima de qualquer outra contribuição, Raízes do Brasil operou a superação das interpretações “racistas” anteriores à década de trinta, momento de intenso debate acerca da verdadeira identidade brasileira, e inaugurou (juntamente com Casa Grande & Senzala) uma perspectiva positiva para o PSB, a qual despertou a esperança e as condições culturais indispensáveis para a formação de uma identidade nacional mestiça, propondo como saída o paradigma racional do modelo weberiano de estado. 
 
Referência bibliográfica 
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 26ª edição, 2003.
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