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@juliana_studii Sociologia no Brasil É sabido que desde os primeiros passos dessa ciência a Sociologia dedica-se ao desenvolvimento de estudos que tem como objeto as interações sociais, a organização das sociedades e inevitavelmente também os conflitos entre as classes sociais. A própria América Latina é um exemplo de como a Sociologia, especialmente no início do século XX, mostrou-se fortemente influenciada pelas teorias marxistas. Isso ocorre num momento onde os olhares voltavam-se principalmente para os problemas do subdesenvolvimento no continente, desenvolvendo importantes reflexões. O surgimento da Sociologia no Brasil, também conhecida como Sociologia Brasileira, teve início a partir das décadas de 1920 e 1930, quando os estudiosos dessa área passaram a se dedicar a pesquisas que visavam construir um entendimento acerca da formação da sociedade brasileira analisando temáticas cruciais para essa compreensão. Assim, eles voltaram-se para estudos referentes a escravatura e a abolição, estudos sobre índios e negros e o êxodo dessas populações, e mesmo analises sobre o processo de colonização. A compreensão desses assuntos mostrou-se realmente uma vez que se buscava compreender a formação da sociedade brasileira. Isso porque a formação da população brasileira, das relações de trabalho e da consciência e cidadania, passava inevitavelmente pela compreensão destas temáticas. Nas décadas que se seguiriam, no entanto, a Sociologia no Brasil passou a voltar-se para os estudos que abordassem prioritariamente temas relacionados às classes trabalhadoras, tratando assim de assuntos como salário, jornadas de trabalho, ambientes de trabalho urbano e rurais, organizações e condições dos ambientes de trabalho, relações entre empregados e empregadores, etc. Especialmente a partir da década de 1960 se pode sentir uma crescente preocupação com o processo de industrialização o que se instaurava no país. Essa nova preocupação trouxe consigo debates sociológicos que abordavam temas da reforma agrária e os novos problemas políticos e sociais que esse processo acarretava. Desde os anos de 1960 percebemos também uma instabilidade quanto a presença da disciplina de Sociologia em escolas de Ensino Básico. Inicialmente foi banida pelo regime militar, passou por um longo período (desde os anos de 1980) como disciplina facultativa, sendo assim presente em poucas instituições, e voltou a integrar a grade obrigatória apenas em 2009. Tal relação de proximidade do estudante com a disciplina tem como meta a desnaturalização das teses ou explicações dos fenômenos sociais existentes. Ou seja, sem desprezar o valor da história, trata-se de validar que tudo nem sempre foi como é hoje, observando que no decorrer da história ocorreram consideráveis alterações resultantes das decisões do homem. A primeira geração de pensadores e sociólogos brasileiros, que produziu entre as décadas de 1920 e 1930, buscou entender a formação do Brasil, a economia de exploração e voltada para a produção de produtos agrícolas e pecuários destinados ao mercado externo, o longo período de escravidão, a abolição e os desdobramentos sociais surgidos com a assinatura da lei Áurea, que pôs fim a escravidão no país. Nas décadas de 1950 e 1960, os principais temas das pesquisas sociológicas estavam ligados ao trabalho no campo e nas indústrias, as relações de desigualdade e exploração nas relações de trabalhistas, a dependência econômica do mercado externo, a reforma agrária e o fortalecimento de movimentos sociais. Entre os anos de 1964 e 1985, período da ditadura militar, as pesquisas diminuíram, diante do medo e perseguições empreendidas pelos militares contra sociólogos e estudantes das demais ciências sociais. No período de 1985 em diante, as pesquisas diversificaram-se e os sociólogos estudaram desde as relações de trabalho ao surgimento de ideias neoliberais, e deram grande destaque aos grupos esquecidos durante os períodos anteriores. As relações entre os seres sociais, a tecnologia e as novas relações de trabalho também tiveram destaque no período pós redemocratização. Na geração dos pioneiros que estudaram a formação do Brasil e as relações de raça e classe, merecem destaque: @juliana_studii ▪ Florestan Fernandes (1920-1995) - Dedicou-se a fundamentação da sociologia enquanto ciência, realizou importantes pesquisas sobre o processo de industrialização brasileiro e a relação com mudanças sociais no Brasil. ▪ Darcy Ribeiro (1922 -1997) - Darcy Ribeiro autor da obra O povo brasileiro, analisa a formação da sociedade brasileira e de suas formas de organização. Tem um trabalho de destaque voltado para o estudo dos povos indígenas. ▪ Gilberto Freyre (1900-1987) - Autor da obra Casa Grande e Senzala, Freyre analisa a formação da sociedade brasileira a partir das relações entre senhor e escravo a partir do mito da democracia racial brasileira. A noção de uma escravidão menos segregadora que a estadunidense e a suavização das práticas violentas adotadas pelos senhores contra os escravos fazem com que o livro de Freyre seja alvo de diversas e duras críticas. ▪ Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) - Na obra Raízes do Brasil, Sérgio Buarque analisa a cultura brasileira e os principais aspectos da formação da sociedade, além de analisar as relações e trocas culturais que estabeleceram-se entre metrópole e colônia. ▪ Caio Prado Jr. (1907-1990) - Na obra Formação do Brasil Contemporâneo, Caio Prado pensa a formação da sociedade e do próprio Brasil desde a chegada dos portugueses, o livro destaca inclusive os aspectos econômicos da formação do país. Dentre os nomes da contemporaneidade, cabe destacar a obra do sociólogo e ex presidente Fernando Henrique Cardoso, que dedicou-se aos estudos das relações internacionais e das teorias de desenvolvimento econômico. Os grandes sociólogos do Brasil Florestan Fernandes foi um estudioso das relações étnico-raciais no Brasil, tendo estudado primeiro os índios tupinambá e depois os negros, sempre na perspectiva da dificuldade da integração democrática desses povos não brancos na cultura brasileira branca. Em um Brasil que visava a industrialização e a modernidade, e que havia deixado para trás o colonialismo e a escravidão, fazia-se necessário buscar um modo de compreender a exclusão social e as estruturas que permitem a exclusão, sobretudo de pobres e negros, para buscar algum modo de alcançar essa situação. Para Florestan Fernandes, a escravidão deixou um legado de exclusão da população negra. • Desigualdade social: Florestan Fernandes viveu a desigualdade contra os pobres e moradores da periferia. O sociólogo chegou a contar que, mesmo com a influência de sua madrinha, os empregos que conseguiu quando jovem eram estigmatizados e nada melhor era oferecido a quem morava nos guetos de São Paulo. Havia uma desconfiança daquela gente. A desigualdade social marcou a sua infância, e, na sua visão, superar essa desigualdade era a única possibilidade da nossa sociedade progredir moralmente. • Educação: o único modo de conseguir-se uma sociedade justa e livre da desigualdade social era, segundo Fernandes, por meio da educação pública e de qualidade. Fernandes foi amigo e colega profissional do também sociólogo e antropólogo Darcy Ribeiro. Juntos, os dois elaboraram projetos de valorização da educação básica e contribuíram com a formulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. • Democracia: defensor de um ensino democrático, de uma democracia das relações sociais e do acesso aos serviços básicos garantidos a todos os cidadãos, Fernandes era um democrata. Sobretudo foi defensor de relações democráticas entre negros e brancos no Brasil. A teoria de Gilberto Freyre de convívio harmonioso entre negros e brancos no Brasil, chamada por Fernandes de “mito da democracia racial”, nuncaexistiu em um país como o Brasil, que não conseguiu incluir o negro em sua sociedade capitalista. https://brasilescola.uol.com.br/historia/democracia-racial.htm https://brasilescola.uol.com.br/historia/democracia-racial.htm @juliana_studii Darcy Ribeiro, antropólogo, escritor e politico brasileiro, desenvolveu trabalhos fundamentalmente nas áreas de educação, sociologia e antropologia. Sua principal obra “O Povo Brasileiro” traz impressões de um importantíssimo estudioso que observou durante muito tempo as características de nosso povo pensando sua formação e sua organização sócial. Darcy é muito conhecido também por seus trabalhos desenvolvidos a partir das temáticas voltadas para os povos indígenas, com riquíssimas observações e relatos antropológicos. → O Povo Brasileiro A última obra escrita e publicada por Darcy Ribeiro é o seu mais completo e complexo estudo sobre a formação do Brasil e de sua nação. Trata-se de uma obra que se dedica a estudar as diferentes culturas, mas que entende que, apesar de uma grande diversidade, temos uma unidade nacional cultural, a qual se baseia, justamente, na diversidade. É como se existisse a cultura de descendência africana, indígena e europeia aqui, mas que, ao mesmo tempo, a presença simultânea dessas três matrizes concretizasse a cultura brasileira. É como se houvesse a cultura nordestina, nortista, sulista e do Centro-Oeste, mas a cultura brasileira fosse, ao mesmo tempo, cada uma dessas culturas separadas e a junção de todas elas. Darcy Ribeiro preocupou-se em identificar uma cultura nacional do povo brasileiro que não anulasse nenhuma das culturas presentes em nosso território e nem separasse, como em “caixas” de classificação, cada uma das diferentes culturas. O antropólogo entende que o Brasil é variado, miscigenado, e que isso torna o Brasil o país que é, culturalmente falando. Nem a colonização, nem a industrialização, nem as cidades, nem a globalização foram capazes de anular a cultura brasileira única, resultante de vários processos de miscigenação e de progressos civilizatórios, que começaram há mais de dez mil anos, com os povos que habitavam o nosso território, e estende-se até os dias atuais. Nasceu no Brasil, segundo Ribeiro, um novo povo, fruto da miscigenação, o qual se fez enquanto ser humano por meio da interação de diferentes culturas. Nas palavras de Ribeiro, é um povo: “novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiça, dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos. Também novo porque se vê a si mesmo e é visto como uma gente nova, um novo gênero humano diferente de quantos existam. Povo novo ainda, porque é um novo modelo de estruturação societária, que inaugura uma forma singular de organização sócio-econômica, fundada num tipo renovado de escravismo e numa servidão continuada ao mercado mundial. Novo, inclusive, pela inverossímil alegria e espantosa vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que alenta e comove a todos os brasileiros” Gilberto Freyre é sem dúvida reconhecido como um dos maiores nomes da Sociologia no Brasil. Portugal, o mundo ibérico e a presença portuguesa nos trópicos frequentemente são temas de seus escritos, demostrando o papel desse povo na formação de civilizações modernas nos trópicos. Mais uma vez percebe-se o anseio da compreensão da formação da sociedade e do povo brasileiro, principal questão que move os estudos dos precursores da Sociologia em nosso país. → Teorias de Gilberto Freyre A teoria mais difundida de Gilberto Freyre perpassou toda a sua obra. Em Casa grande e senzala, ela começou a ser discutida, apesar de ainda não ter sido enunciada. Era a teoria da democracia racial, criticada por defensores da luta contra o racismo por apresentar-se como um mito de que havia democracia nas relações entre senhores e escravos no período colonial. Para Freyre, a miscigenação era um fator corroborativo para pensar-se em uma relação democrática entre senhores e escravos, apesar da relação de escravidão impregnada entre os dois. → Casa-Grande e Senzala A obra Casa-Gande e Senzala foi a mais difundida de Gilberto Freyre, sendo traduzida para mais de 10 idiomas. A escrita do livro iniciou-se num momento em que o autor exilou-se em Portugal, por conta da divergência política com o novo governo de Getúlio Vargas, que chegou ao poder com um golpe em 1930. Em Casa-Gande e Senzala, Freyre procurou sair do óbvio nas análises sociais: política, economia, sociedade em geral. Ele preferiu aprofundar-se em outros temas: vida doméstica, constituição familiar, formação das casas- grandes (onde viviam os senhores brancos) e senzalas (onde viviam os negros), para entender o engenho de açúcar e a propriedade rural como os centros do Brasil colonial. https://brasilescola.uol.com.br/historia/democracia-racial.htm @juliana_studii Uma mistificação que Freyre ajudou a promover, talvez por influência de seu professor de antropologia em Columbia, foi a de que a miscigenação e a localização geográfica do Brasil (na linha tropical) eram fatores negativos que colocavam o país em uma posição inferior à Europa. A teoria da democracia racial trata-se de uma mistificação ideológica que Freyre, infelizmente, ajudou a construir baseado na ideia errônea de que a relação entre senhores e escravos era pacífica, que os índios aceitaram a colonização de maneira pacífica e que isso promoveu uma relação democrática e a miscigenação. Essa visão freyreana, apesar de ter algum valor para o entendimento da vida colonial no Brasil, não se concretiza. As análises atuais sobre a desigualdade social, inclusive, associam verdadeiramente a desigualdade e a exclusão com a questão social. Talvez o ponto de partida de Freyre que o levou a formular a teoria da democracia racial (e que era a relação racial explicitamente segregacionista dos Estados Unidos) tenha o levado a perceber uma democracia racial no Brasil por haver nele uma relação mais branda entre negros e brancos. No entanto, o racismo velado e estrutural nunca deixou de existir por aqui, e a desigualdade social mostra-se como um fator fortemente provocado pela escravidão e pela relação de submissão à qual negros e índios foram obrigados pelo homem branco. Portanto, a tese principal de Casa-Gande e Senzala parece não se sustentar, ao passo que o livro constitui uma interessante ferramenta para a compreensão da vida cotidiana da sociedade colonial. Os escritores Adonias Filho, Rachel de Queiroz e Gilberto Freyre. “O saber deve ser como um rio, cujas águas doces, grossas, copiosas, transbordem do indivíduo, e se espraiem, estancando a sede dos outros. Sem um fim social, o saber será a maior das futilidades.” “Em nenhuma parte do Brasil a formação da família processou-se tão aristocraticamente como entre canaviais.” “A culinária é uma das maiores expressões do comportamento humano, do saber humano, da criatividade humana, muito do saber humano está naquilo que você come.” “O Brasil é a mais avançada democracia racial do mundo.” “Da cunhã é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. A higiene do corpo. O milho. O caju. O mingau. O brasileiro de hoje, amante do banho e sempre de pente e espelhinho no bolso, o cabelo brilhante de loção ou de óleo de coco, reflete a influência de tão remotas avós.” Sergio Buarque de Holanda é reconhecido como um dos mais importantes historiadores brasileiros, mas demonstra também importante influencia e participação na área da Sociologia. Um de seus principais trabalhos, intitulado “Raízes do Brasil” aborda aspectos centrais da formação da cultura brasileira e do processo de formação da sociedade, que como vimos, é a preocupação mais recorrente dos grandes sociólogos do Brasil. Nesta obra,mais uma vez aparece em lugar de destaque, a importância do legado português no Brasil e a dinâmica de transferências culturais que se dava entre metrópole e colônia. Sérgio Buarque de Holanda introduziu o estudo de Max Weber no Brasil. Influenciado por esse método de análise, Sérgio Buarque de Holanda desenvolveu o conceito do homem cordial, um modelo de análise do brasileiro em suas relações sociais e políticas. Sua interpretação histórica do Brasil foi e ainda é a narrativa hegemônica sobre o que é o Brasil nas ciências humanas. Historiográfico e analítico, o livro Raízes do Brasil faz um diagnóstico histórico e social, aponta um caminho para a construção de uma nação moderna, liberal e democrática, bem como capta o tensionamento entre continuidade e mudança da sociedade brasileira. A produção literária de Sérgio Buarque de Holanda, fruto de pesquisa historiográfica ampla e profunda, dissertou sobre a tradição colonial do Brasil e o que se entendia por Nação durante o Império e posteriormente durante a República, voltando-se para como a colonização, a escravidão e as bases da economia conformaram as estruturas sociais, a cultura, as relações. https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/desigualdade-social.htm @juliana_studii Para além de uma identidade nacional culturalista, buscou compreender essa identidade também em sua dimensão política e se propôs, num exercício futurístico, a apreender como se daria a Revolução Brasileira em direção a uma democracia política e social, o que para ele só seria possível quando fossem definitivamente superadas as práticas e a mentalidade coloniais Raízes do Brasil Raízes do Brasil: obra clássica da Sociologia brasileira. [1] Como já vimos, o autor segue uma linha weberiana de análise. Seu objeto de estudo nesse livro é a colonização do Brasil e os seus desdobramentos políticos e culturais. Estudaremos essa importante obra conforme a divisão analítica feita pelo sociólogo Sérgio Costa (2014) |2|. Sérgio Buarque de Holanda coloca a ideia de um padrão colonial ibérico, diferenciando a colonização portuguesa e espanhola da colonização de outros povos europeus (ingleses, franceses, alemães). Para ele, a colonização espanhola, em muito caracterizada pela violência, modificou suas colônias de modo mais veemente. Já os portugueses, para quem a colônia era apenas um lugar de passagem, desenvolveram uma relação menos impositiva, racional e coordenada inicialmente. Esses dois povos, com uma nobreza frágil e uma sociedade pouco hierárquica, lançaram-se à aventura de explorar novas terras e ao trabalho de nelas fazer riqueza, sendo os pioneiros das Grandes Navegações. O autor atribui aos portugueses uma adaptabilidade que favorecia o surgimento de relações interétnicas no povoamento da colônia, baixa capacidade de organização social e uma rudimentar moral de trabalho. A motivação histórica para isso seria o fato de a burguesia portuguesa não destituir, mas se aliar à antiga nobreza. Os reflexos dessas características dos colonizadores portugueses no Brasil foram uma colonização não planejada, realizada por dois tipos de pessoas: aventureiros e trabalhadores, que, por não terem uma nobreza forte, não eram ligados ao ócio e buscavam nas expedições aventureiras construir riquezas e prestígio. Essas pessoas logo se adaptaram ao trabalho na colônia, transformando-a em grandes latifúndios de monocultura. Portanto, a estrutura social e cultural do sistema colonial português teve grande reflexo na formação da sociedade brasileira. O segundo marco da formação brasileira é o patriarcado rural. O autor faz um levantamento minucioso de como era a administração colonial e as bases econômicas da colônia, bem como uma estratificação social parecida ao sistema de castas, com pessoas classificadas e posicionadas conforme a cor (brancas, negras, índias). Nas propriedades rurais, como os engenhos de cana-de- açúcar, os proprietários tinham poderes ilimitados sobre aqueles que estivessem sob seu território, fossem familiares, escravizados ou trabalhadores livres. As grandes propriedades de terra funcionavam como Estados particulares, marcados pelo coronelismo. A hegemonia do patriarcado rural, para o autor, era o impeditivo da formação de uma burguesia urbana que propiciasse uma cultura liberal. Esse modelo de exercício de poder pelos grandes fazendeiros conformaria a política e se tornaria um empecilho para a construção de uma cultura democrática sem personalismos ou afeições pessoais, determinando a relação entre governantes e governados. Em relação à educação brasileira, Sérgio Buarque de Holanda aponta que a cristianização promovida pelos jesuítas imprimiu como parâmetro do ensino no Brasil a lógica da disciplina e da obediência em vez de um parâmetro científico e técnico. Ao contrário de outras análises economicistas, Sérgio Buarque de Holanda analisou os ciclos da cana pela perspectiva cultural. Para o autor, a escravidão, para além de uma relação econômica, tornou-se uma cultura que fundamentava costumes, opiniões e comportamentos. O processo de abolição foi tardio, lento e gradual. Mesmo após o marco legal da Lei Áurea (1888), a mentalidade e o comportamento escravagista permaneceram e ressignificaram-se não só nas novas relações de trabalho, mas nas relações sociais como um todo e nas instituições. Em relação ao Estado brasileiro, Sérgio Buarque de Holanda desenvolveu o conceito de funcionário patrimonial, aquele funcionário público que se valeria dessa posição para atender a interesses particulares seus ou de pessoas a ele ligadas. A atuação dos funcionários patrimoniais geraria imprevisibilidade jurídica e institucional em razão da não observância de normas escritas previamente estabelecidas. Para o autor, no Brasil, desenvolveu-se uma confusão entre interesse público e interesse privado, o que ensejou o desenvolvimento de uma prática de apropriação do patrimônio público em benefício de pessoas e grupos específicos, bem como seu uso como barganha de favores e retribuições. O conceito de patrimonialismo foi https://brasilescola.uol.com.br/historiab/colonizacao-brasil.htm @juliana_studii trabalhado posteriormente por Raymundo Faoro em seu clássico Os Donos do Poder (1958). Sérgio Buarque de Holanda aponta em toda a obra como a colonização gerou profundas consequências na identidade política, cultural, econômica e social do Brasil. Também mostrou como práticas coloniais se repaginaram e permaneceram após a Independência (1822) e mesmo após a Proclamação República (1889). Sua obra também aponta para o futuro. Para ele, a superação desse passado colonial é a chave para o que ele denomina Revolução Brasileira, o caminho para uma democracia aperfeiçoada, em que haja igualdade entre as pessoas e um Estado impessoal e racional. Homem cordial O conceito de homem cordial é fundamental na obra de Sérgio Buarque de Holanda. Cordial, ao contrário do que se imagina, não vem de cortês, mas de coração, isto é, movido pela afetividade. Influenciado pela Teoria da Ação Social, de Max Weber, que em sua tipologia das ações humanas conceitua as ações sociais afetivas, ou seja, aquelas baseadas em sentimento, Sérgio Buarque desenvolveu o conceito de homem cordial: o típico brasileiro que age movido pelo sentimento, e não pela racionalidade. O homem cordial desenvolve-se na estrutura familiar patriarcal do Brasil rural, em que o chefe de família determina quais serão as relações dos demais membros, num ambiente privado e numa comunicação marcada por forte carga emocional. A cordialidade caracteriza-se pela tentativa contínua de personalizar toda e qualquer interação social. Assim, o homem cordial não é afeito ao anonimato ou a se submeter a regras que o igualem aos demais. Ele quer ser chamado pelo nome, quer ter tratamento especial e preferencial, quer se valer do seu carisma pessoal, da sua rede decontatos ou de artifícios semelhantes para alcançar seus objetivos. Por ser guiado por suas emoções, suas decisões e ações não precisam se submeter a uma lei. No âmbito da política, as lealdades pessoais é que determinam suas alianças. Para Buarque de Holanda, esse padrão político perpetua a reprodução de hierarquias. A violência é uma característica primordial do homem cordial. Todo e qualquer antagonismo é por ele interpretado como uma ameaça. O homem cordial é ao mesmo tempo um tipo de indivíduo e um padrão de interação social, uma personalidade e um modo de se relacionar com as outras pessoas. A definição da cordialidade do brasileiro passa pela ambiguidade e pelo uso da afetividade, e não da racionalidade, para alcançar os objetivos. Na política, a cordialidade vai na contramão da ideia de igualdade, impessoalidade, formação de maiorias deliberativas, o que, para o autor, faz com que tenhamos dificuldade em lidar com a democracia. Assim, nossa vinculação com a política partiria de relações pessoais e da mistura da relação público-privado. O antropólogo Roberto DaMatta, na mesma linha de pensamento, posteriormente conceituou o “jeitinho brasileiro”, sintetizado na famosa frase: “Com quem você pensa que está falando?”. Outro estudioso que se dedicou a esta temática tão cara à Sociologia Brasileira foi Caio Prado Junior que publicou a clássica obra “Formação do Brasil Contemporâneo” que deveria ser parte de uma coletânea dedicada a pensar justamente a evolução histórica brasileira desde o período colonial, tendo mais uma vez como tema central a formação da sociedade e do povo brasileiro desde a chegada dos portugueses. ppppppppppppppppp Por fim, e não menos importante, Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil, é uma dos mais conhecidos sociólogos da contemporaneidade. Entre suas obras mais divulgadas estão diversos títulos que tratam de politica e governo, no entanto seu trabalho de cunho sociológico dava-se inicialmente na área voltada para a teoria do desenvolvimento econômico e das relações internacionais. Foi também um dos ideólogos da corrente desenvolvimentista. Além disso atualmente é https://brasilescola.uol.com.br/historiab/independencia-brasil.htm @juliana_studii bastante conhecido por sua atuação em movimentos pro descriminalização das drogas. Fontes: Estudo Prático - https://www.estudopratico.com.br/como-surgiu-a- sociologia-no-brasil/ Sociologia - http://www.sociologia.com.br/sociologia-no-brasil/ Sociologia - http://www.sociologia.com.br/sociologos-brasileiros/ Quero bolsa https://querobolsa.com.br/enem/sociologia/sociologia-no- brasil Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/florestan-fernandes.htm. https://mundoeducacao.uol.com.br/biografias/darcy-ribeiro.htm Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/gilberto-freyre.htm. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/sergio-buarque-holanda.htm Nacionalismo Quando se fala em nacionalismo, é comum que associemos a palavra, em um primeiro momento, a um sentimento de valorização da pátria e, por extensão, de tudo aquilo que lhe pertence, ou seja, de tudo aquilo que é nacional. No entanto, é necessário ir além desse sentido primeiro e estrito do que é o nacionalismo, pois, na verdade, consiste em uma ideologia política surgida após a Revolução Francesa (1789-1799). Essa doutrina foi de suma importância para a fase industrial da humanidade, no século XIX, época em que os estados-nação tomam forma. Essa organização dos estados-nação foi fundamentada, em primeiro lugar, pela difusão dos ideais iluministas vindos, sobretudo, da França. Esses ideais se refletiam no desejo de um governo democrático, em que houvesse participação dos cidadãos. O nacionalismo, nesse sentido, baseado no sentimento de pertencimento a uma cultura e de identificação com a pátria, influenciou países que se consolidaram no século XIX, como a Alemanha e a Itália. Assim, os estados-nação que se formaram no século XIX se diferenciam daqueles formados anteriormente, nos séculos XVI e XVII, pois sua soberania não estava mais ligada à figura de um monarca, isto é, um rei, mas sim relacionada aos cidadãos que, juntos, eram responsáveis por compor a nação. A influência do nacionalismo se deu, também, em movimentos extremistas, que deram origem a governos totalitários, a exemplo do nazismo, na Alemanha, e do fascismo, na Itália e no Japão. As características do nacionalismo Assim como todas as ideologias, o nacionalismo também apresenta elementos que o caracterizam . Em primeiro plano, há a questão do sentimento de pertencimento do indivíduo a uma cultura (a uma região, a uma língua, e assim por diante), que produz a identificação com a pátria. Mas, para além disso, o nacionalismo implica, de forma direta, na estrutura militar do Estado, pois, nessa doutrina, o exército deve ser formado por um corpo de cidadãos comuns, e não mais por aristocratas ou, ainda, por mercenários, isto é, soldados que, por dinheiro, lutam em exércitos estrangeiros. Nacionalismo, patriotismo e ufanismo: qual é a diferença? Os termos nacionalismo, patriotismo e ufanismo, por estarem ligados a um mesmo campo de significados, muitas vezes são usados como sinônimos. Apesar disso, existem diferenças entre esses conceitos. Veja, a seguir, como diferenciar cada um deles de acordo com suas características. • Nacionalismo: como dito anteriormente, o nacionalismo é uma doutrina política que se baseia no sentimento de pertencimento de um indivíduo a uma cultura (o que pode englobar uma região, uma língua, entre outros elementos). O nacionalismo, embora confundido muitas vezes com o patriotismo, se difere por apresentar um elemento • Patriotismo: o patriotismo pode ser definido como o amor de um indivíduo em relação a sua pátria, o que engloba, também, a preocupação com o bem- estar dos outros componentes de sua pátria. Nesse sentido, o patriotismo está ligado a uma necessidade do indivíduo de pertencer a um grupo e, além disso, estabelecer relações com o passado e com as diversas condições – sejam elas políticas, sociais ou culturais – que circundam uma ação. Além disso, vale destacar que o patriotismo não engloba elementos militaristas. • Ufanismo: de forma geral, o ufanismo é conhecido, também, como o nacionalismo exacerbado. Esse termo, que é de origem espanhola, remete ao sentido de se vangloriar. Orgulhar-se de sua terra designa, portanto, o sentimento de valorização exagerada das qualidades de sua pátria, mesmo que não haja base para tal sentimento. Essa exacerbação, no entanto, pode ser prejudicial, pois pode levar à ideia de que somente uma nação, uma pátria é digna de merecer a paz e a prosperidade, o que pode levar à intolerância e à violência. https://querobolsa.com.br/enem/sociologia/nacionalismo https://www.estudopratico.com.br/como-surgiu-a-sociologia-no-brasil/ https://www.estudopratico.com.br/como-surgiu-a-sociologia-no-brasil/ http://www.sociologia.com.br/sociologia-no-brasil/ http://www.sociologia.com.br/sociologos-brasileiros/ https://querobolsa.com.br/enem/sociologia/sociologia-no-brasil https://querobolsa.com.br/enem/sociologia/sociologia-no-brasil https://brasilescola.uol.com.br/biografia/florestan-fernandes.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/biografias/darcy-ribeiro.htm https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/gilberto-freyre.htm https://brasilescola.uol.com.br/biografia/sergio-buarque-holanda.htm https://querobolsa.com.br/enem/sociologia/nacionalismo
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