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Módulo Filosofia - PP - PARTE 2

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42 
“Os homens são bons de 
um modo apenas, porém 
são maus de muitos 
modos” 
(Aristóteles, Ética a Nicomaco) 
 
 
II - Noções Sobre Razão e a Dialética Socrática 
 
O que é a Razão? 
“Kant afirmou que a Filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para 
saber o que pode conhecer e o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade 
humana”. (CHAUÍ, 2003, p.17) 
De outro modo, podemos afirmar que a Filosofia pela composta pela razão: 
 
A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com 
a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, 
começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o 
mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os 
acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, 
e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma (CHAUÍ, 2003, p.24) 
 
Já falamos anteriormente que a Filosofia marcou, enquanto ciência a tomada da 
consciência racional, a relação do homem com o conhecimento racional, ou seja, a 
passagem da intuição para a razão, assim como do senso comum para conhecimento 
racional. 
Para muitos filósofos, porém, a razão não é apenas a capacidade moral e 
intelectual dos seres humanos, mas também uma propriedade ou qualidade 
primordial das próprias coisas, existindo na própria realidade. Para esses 
 
 
 
43 
filósofos, nossa razão pode conhecer a realidade (Natureza, sociedade, História) 
porque ela é racional em si mesma. 
Fala -se, portanto, em razão objetiva (a realidade é racional em si mesma) e em 
razão subjetiva (a razão é uma capacidade intelectual e moral dos seres 
humanos). A razão objetiva é a afirmação de que o objeto do conhecimento ou a 
realidade é racional; a razão subjetiva é a afirmação de que o sujeito do 
conhecimento e da ação é racional. Para muitos filósofos, a Filosofia é o 
momento do encontro, do acordo e da harmonia entre as duas razões ou 
racionalidades. (CHAUÍ, 2003, p.71) 
Mas de onde vem a origem da palavra Razão? 
Na cultura da chamada sociedade ocidental, a palavra razão origina-se de duas 
fontes: a palavra latina ratio e a palavra grega logos. Essas duas palavras são 
substantivos derivados de dois verbos que têm um sentido muito parecido em 
latim e em grego. 
Logos vem do verbo legein, que quer dizer: contar, reunir, juntar, calcular. Ratio 
vem do verbo reor, que quer dizer: contar, reunir, medir, juntar, separar, calcular. 
Que fazemos quando medimos, juntamos, separamos, contamos e calculamos? 
Pensamos de modo ordenado. E de que meios usamos para essas ações? 
Usamos palavras (mesmo quando usamos números estamos usando palavras, 
sobretudo os gregos e os romanos, que usavam letras para indicar números). 
Por isso, logos , ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente, com 
medida e proporção, com clareza e de modo compreensível para outros. Assim, 
na origem, razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e 
claramente, para pensar e dizer as coisas tais como são. A razão é uma maneira 
de organizar a realidade pela qual esta se torna compreensível. É, também, a 
confiança de que podemos ordenar e organizar as coisas porque são 
organizáveis, ordenáveis, compreensíveis nelas mesmas e por elas mesmas, 
isto é, as próprias coisas são racionais. (CHAUÍ, 2003, p.71) 
Fazendo um paralelo destes conceitos com o que já vimos sobre Sócrates, há uma 
coerência prática no discurso: as verdades de Sócrates eram postas à prova pela ação 
moral. A razão estabelecida em comum é uma razão prática segundo ele. 
“as particularidades do modo de Sócrates se dirigir aos seus ouvintes, seu 
"método" se quisermos: ele supõe o face a face como outro, repousa sobre o 
princípio dialético do estabelecimento das verdades, põe à prova a coerência de 
seus propósitos e implica sua adesão à verdade desses mesmos propósitos.” 
(REALE, 2007) 
Sócrates foi um mestre, dentre os que, ao seu tempo, tinham seus pensamentos 
mergulhados na ignorância humana, que se destacou, arguindo a verdade através da 
 
 
 
44 
dialética aplicada face aos falsos filósofos que, munidos do poder político, insistiam em 
propagar falsos conceitos e ideias que iludiam e, ironicamente, apesar de em menor 
intensidade, continuam a iludir a humanidade no mundo Terra. 
A dialética, instrumento utilizado por Sócrates para questionar e dilacerar a ilusória 
retórica dos que detinham o poder em sua época, trazia à tona a verdade das coisas, 
verdade esta que Sócrates, com atribuição e singularidade únicas ao seu tempo, trazia 
em seu espírito, razão pela qual não se conformava com ilusões, as falsas ideias, 
peculiaridades daqueles que se entregavam ao prazer das mazelas próprias deste 
mundo. 
O método dialético de Sócrates está ligado à sua descoberta da essência do homem 
como alma (psyché) e tendo o modo consciente a despojar a alma da ilusão do saber. 
Como sistema de ensinamento usava o diálogo em sintonia com a razão para levar o 
interlocutor ao encontro da sua alma, fundamentalmente de natureza ética e educativa. 
(REALE, 2007) 
 
PARA SABER MAIS 
 
 
Segundo Chauí (2003, pp. 72-75): 
 
Os princípios racionais 
Desde seus começos, a Filosofia considerou que a razão opera seguindo certos 
princípios que ela própria estabelece e que estão em concordância com a 
própria realidade, mesmo quando os empregamos sem conhecê-los 
explicitamente. Ou seja, o conhecimento racional obedece a certas regras ou 
leis fundamentais, que respeitamos até mesmo quando não conhecemos 
diretamente quais são e o que são. Nós as respeitamos porque somos seres 
racionais e porque são princípios que garantem que a realidade é racional. 
Que princípios são esses? São eles: 
 Princípio da identidade, cujo enunciado pode parecer surpreendente: 
“A é A” ou “O que é, é”. O princípio da identidade é a condição do 
pensamento e sem ele não podemos pensar. Ele afirma que uma coisa, 
seja ela qual for (um ser da Natureza, uma figura geométrica, um ser 
humano, uma obra de arte, uma ação), só pode ser conhecida e 
pensada se for percebida e conservada com sua identidade. 
Por exemplo, depois que um matemático definir o triângulo como figura 
de três lados e de três ângulos, não só nenhuma outra figura que não 
tenha esse número de lados e de ângulos poderá ser chamada de 
triângulo como também todos os teoremas e problemas que o 
matemático demonstrar sobre o triângulo, só poderão ser demonstrados 
se, a cada vez que ele disser “triângulo”, soubermos a qual ser ou a qual 
coisa ele está se referindo. O princípio da identidade é a condição para 
que definamos as coisas e possamos conhecê-las a partir de suas 
 
 
 
45 
definições. 
 Princípio da não-contradição (também conhecido como princípio da 
contradição), cujo enunciado é: “A é A e é impossível que seja, ao 
mesmo tempo e na mesma relação, não -A”. Assim, é impossível que a 
árvore que está diante de mim seja e não seja uma mangueira; que o 
cachorrinho de dona Filomena seja e não seja branco; que o triângulo 
tenha e não tenha três lados e três ângulos; que o homem seja e não 
seja mortal; que o vermelho seja e não seja vermelho, etc. 
Sem o princípio da não-contradição, o princípio da identidade não 
poderia funcionar. O princípio da não -contradição afirma que uma coisa 
ou uma ideia que se negam a si mesmas se autodestroem, 
desaparecem, deixam de existir. 
Afirma, também, que as coisas e as ideias contraditórias são 
impensáveis e impossíveis. 
 Princípio do terceiro-excluído, cujo enunciado é: “ Ou A é x ou é y e 
não há terceira possibilidade”. Por exemplo: “Ou este homem é Sócrates 
ou não é Sócrates”; “Ou faremos a guerra ou faremos a paz”. Esteprincípio define a decisão de um dilema - “ou isto ou aquilo” - e exige 
que apenas uma das alternativas seja verdadeira. Mesmo quando 
temos, por exemplo, um teste de múltipla escolha, escolhemos na 
verdade apenas entre duas opções - “ou está certo ou está errado” -e 
não há terceira possibilidade ou terceira alternativa, pois, entre várias 
escolhas possíveis, só há realmente duas, a certa ou a errada. 
 Princípio da razão suficiente, que afirma que tudo o que existe e tudo 
o que acontece tem uma razão (causa ou motivo) para existir ou para 
acontecer, e que tal razão (causa ou motivo) pode ser conhecida pela 
nossa razão. O princípio da razão suficiente costuma ser chamado de 
princípio da causalidade para indicar que a razão afirma a existência de 
relações ou conexões internas entre as coisas, entre fatos, ou entre 
ações e acontecimentos. Pode ser enunciado da seguinte maneira: 
“Dado A, necessariamente se dará B”. E também: “Dado B, 
necessariamente houve A”. Isso não significa que a razão não admita o 
acaso ou ações e fatos acidentais, mas sim que ela procura, mesmo 
para o acaso e para o acidente, uma causa. A diferença entre a causa, 
ou razão suficiente, e a causa casual ou acidental está em que a 
primeira se realiza sempre, é universal e necessária, enquanto a causa 
acidental ou casual só vale para aquele caso particular, para aquela 
situação específica, não podendo ser generalizada e ser considerada 
válida para todos os casos ou situações iguais ou semelhantes, pois, 
justamente, o caso ou a situação são únicos. 
A morte, por exemplo, é um efeito necessário e universal (válido para 
todos os tempos e lugares) da guerra e a guerra é a causa necessária e 
universal da morte de pessoas. Mas é imprevisível ou acidental que esta 
ou aquela guerra aconteçam. 
Podem ou não podem acontecer. Nenhuma causa universal exige que 
aconteçam. Mas, se uma guerra acontecer, terá necessariamente como 
efeito mortes. Mas as causas dessa guerra são somente as dessa guerra 
e de nenhuma outra. Diferentemente desse caso, o princípio da razão 
suficiente está vigorando plenamente quando, por exemplo, Galileu 
demonstrou as leis universais do movimento dos corpos em queda livre, 
isto é, no vácuo. 
Pelo que foi exposto, podemos observar que os princípios da razão 
apresentam algumas características importantes: 
 não possuem um conteúdo determinado, pois são formas : indicam 
 
 
 
46 
como as coisas devem ser e como devemos pensar, mas não nos dizem 
quais coisas são, nem quais os conteúdos que devemos ou vamos 
pensar; 
 possuem validade universal, isto é, onde houver razão (nos seres 
humanos e nas coisas, nos fatos e nos acontecimentos), em todo o 
tempo e em todo lugar, 
 tais princípios são verdadeiros e empregados por todos (os humanos) e 
obedecidos por todos (coisas, fatos, acontecimentos); 
 são necessários, isto é, indispensáveis para o pensamento e para a 
vontade, indispensáveis para as coisas, os fatos e os acontecimentos. 
Indicam que algo é assim e não pode ser de outra maneira. Necessário 
significa: é impossível que não seja dessa maneira e que pudesse ser de 
outra. 
 
 
 
II.I A Dialética de Sócrates; 
O objeto da filosofia socrática é o homem como ser moral. Desta maneira Sócrates dá 
início ao período antropológico da filosofia grega de forma magnífica. A consideração do 
mundo e de Deus não é inteiramente descuidada, mas é somente empregada quando 
necessária e subordinada ao objeto primário, como dito, o homem como ser moral. 
(ASSMANN, 2006; AIRES, 2003) 
Assim Sócrates, da ordem e da finalidade do mundo, deduz a existência de Deus como 
um ser uno, com suprema inteligência, sábio, onipotente, bom e generoso provedor, mas 
não se preocupa em dar uma definição mais além de Deus, pois basta-lhe o 
conhecimento de Deus que faz o homem trabalhar moralmente. (ASSMANN, 2006; 
AIRES, 2003) 
Sócrates, apoiado neste conhecimento de um Deus bom e provedor, não só fazia um 
certo otimismo antropológico como vimos anteriormente, mas também um otimismo 
cosmológico: este mundo é o melhor e não traz nada de mau em si mesmo. (ASSMANN, 
2006; AIRES, 2003) 
Pode-se dizer que o método de Sócrates é dividido em duas partes; na primeira, feita a 
pergunta, ele procura mostrar ao interlocutor a insuficiência da resposta dada e mostra 
que estas são sempre preconceitos recebidos, opiniões subjetivas e não a definição 
buscada. A isto, dá-se o nome de ironia; por isso ele não era bem visto. A forma de levar 
o ouvinte a dar conta de que não sabe aquilo que julgava saber e para melhor entender 
a si mesmo, era posta como finalidade de quebrar a solidez existente na própria 
pessoa. (REALE, 2007) 
 
 
 
47 
Então na segunda parte, ele vai sugerir caminhos para que o interlocutor seja capaz de 
encontrar a resposta procurada a em si mesmo. O que recebe o nome de Maiêutica, 
pela arte de ajudar o interlocutor a se despojar de tudo aquilo que se diz saber e o que 
Sócrates fazia para conseguir desmascarar a pessoa e pôr a frente de sua vaidade, era 
uma das finalidades de seu método, a ironia, sendo uma espécie de reconhecer a sua 
própria ignorância. Mas, isto muitas vezes tinha uma aparência negativa e até mesmo 
revolucionaria para os cidadãos atenienses. (REALE, 2007) 
Através da simulação, pode-se chegar a esses caminhos traçados por Sócrates, com a 
finalidade de discernir as aptidões, sendo este um método de análise crítica e sobre tudo 
um método pedagógico na busca pela verdade através do diálogo. Assim, o interlocutor 
é convencido do bem que o homem pode ter pela purificação da alma, aprendendo a 
filosofar e se cuidar com um estímulo irresistível da própria vida. (REALE, 2007) 
Por razões de método, o dialogo conduz a várias questões que não chegam a uma 
solução, isto para colocar o interrogado no caminho em que ele mesmo possa encontrar 
a solução e demonstrar a sua capacidade de uma nova visão filosófica. No entanto, é 
evidente que esses métodos provocam discussões e irritações ou reações indesejadas 
nas pessoas as quais dizem saber tudo. Com isso, provoca o verdadeiro efeito de 
purificação das falsas certezas. Assim compreende-se que, todos os métodos usados 
por Sócrates: a ironia e maiêutica tem uma determinada finalidade em estar sempre 
colocando o homem diante de vários questionamentos, no qual leva a um processo de 
purificação da alma pelo conhecimento já adquirido. E põem a descobrir que ele sabe 
pouco daquilo que tinha intrínseco a tal conhecimento. (REALE, 2007) 
A dialética de Sócrates coincide com o seu próprio dialogar (dia-logos), que consta de 
dois momentos essenciais: a "refutação" e a "maiêutica". Ao fazê-lo, Sócrates valia-se 
da máscara do "não saber" e da temida arma da "ironia". Cada um desses pontos deve 
ser compreendido adequadamente. (REALE, 2007) 
A atividade filosófica de Sócrates se dava em duas etapas. A primeira era conhecida 
como ironia, nesta parte do processo o filósofo se expressava parecendo indicar o 
oposto do que pensava ou conhecia sobre algo, levando o interlocutor a apresentar a 
sua posição ou opiniões a respeito de uma determinada temática. Com esse recurso 
Sócrates levava o interlocutor a desembocar na sua própria ignorância, ou seja, a 
 
 
 
48 
pessoa que conversava com Sócrates se percebia como quem na verdade não sabia 
muito ou muito pouco a respeito do objeto da discussão, que este possuía na verdade 
um conjunto de afirmações mal estruturadas, confusas ou vazias, contraditórias. A 
segunda etapa do método socrático era conhecida como maiêutica. Esta parte faz 
referência a profissão da mãe de Sócrates, que era parteira; Sócrates mesmo disse que 
sua mãe dava luz a crianças, enquanto que ele dava luz a ideias. Maiêutica vem do 
grego maieutikée é traduzido justamente como “arte do parto”. Neste caso, Sócrates era 
um parteiro da verdade, das ideias verdadeiras. A partir das ideias confusas 
apresentadas pelo interlocutor na primeira fase, Sócrates, através do diálogo, busca 
descobrir a verdade dos objetos de conhecimento em questão com seu interlocutor. Vale 
destacar que todo este processo se desenrola baseado no diálogo entre Sócrates e os 
interlocutores. Ademais, estes diálogos não eram desestruturados ou casuais, pelo 
contrário, eram puramente sistematizados e intencionais. Este método socrático de 
buscar a verdade através do diálogo, incluindo os processos da ironia e da maiêutica, 
recebe o nome de dialética. Em suma, este método visa levar o indivíduo a transcender 
a suas ideias imediatas acerca de determinado assunto e alcançar as ideias mais puras, 
mais inteligíveis, mais autênticas. (ASSMANN, 2006; AIRES, 2003; FONSECA) 
 
PARA SABER MAIS 
 
 
Até hoje, não foi definido quem teria sido o fundador da dialética: alguns 
acreditam que tenha sido Sócrates, e outros, assim como Aristóteles, acreditam 
que tenha sido Zenão de Eleia. Na Grécia Antiga, a dialética era considerada a 
arte de argumentar no diálogo. Atualmente é considerada como o modo de 
pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos a 
realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação. 
Desde a Grécia Antiga, a dialética sempre encontrou quem fosse contra, como 
Parmênides, mesmo vivendo na mesma época do mais radical pensador 
dialético: Heráclito. Para compreensão do tema, o autor passa por vários itens, 
começando pelo trabalho. 
Heráclito foi o pensador dialético mais radical da Grécia Antiga. Para ele, os 
seres não têm estabilidade alguma, estão em constante movimento, 
modificando-se. É dele a famosa frase “um homem não toma banho duas vezes 
no mesmo rio”, porque nem o homem nem o rio serão os mesmos. No século 
XX, Osho Rajneesh, nascido na Índia, retoma o pensamento de Heráclito sobre 
a dialética com a publicação do livro "A Harmonia Oculta: Discursos sobre os 
fragmentos de Heráclito". 
Porém, na época, os gregos preferiram acreditar na metafísica de Parmênides, 
a qual pregava que a essência do ser é imutável, e as mudanças só acontecem 
na superfície. Esse pensamento prevaleceu, por atender aos interesses da 
classe dominante, na época. Para sobreviver, a dialética precisou renunciar às 
expressões mais radicais, conciliando-se com a metafísica. 
 
 
 
49 
Depois de um século, Aristóteles reintroduziu a dialética, sendo responsável, 
em boa parte, pela sua sobrevivência. Ele estudou muito sobre o conceito de 
movimento, que seriam potencialidades, atualizando-se. Graças a isso, os 
filósofos não deixaram de estudar o lado dinâmico e mutável do real. Com a 
chegada do feudalismo, a dialética perdeu forças novamente, reaparecendo, no 
Renascimento e no Iluminismo. 
A dialética hegeliana é idealista, aborda o movimento do espírito. A dialética 
marxista é um método de análise da realidade, que vai do concreto ao abstrato 
e que oferece um papel fundamental para o processo de abstração. Engels 
retomou, em seu livro, "A Dialética da Natureza", alguns elementos de Hegel, 
concebendo a dialética como sendo formada por leis; esta tese será 
desenvolvida por Lênin e Stálin. Por outro lado, outros pensadores criticarão 
ferrenhamente esta posição, qualificando-a de não-marxista. Assim, se 
instaurou uma polêmica em torno da dialética. 
 
II.II RACIONALISMO E EMPIRISMO 
O racionalismo desconfia das informações fornecidas pelos sentidos, crendo que essas 
são por demais falíveis, que é muito fácil se enganar “ouvindo errado” ou “vendo o que 
não estava lá”. O caminho correto para o conhecimento seria o bom uso da razão. Um 
sistema racional elaborado a partir de premissas válidas traria o conhecimento real, a 
verdade. Essa corrente é de matriz europeia continental, com muita força na França e 
Alemanha, seus primórdios são marcados pela frase de Renée Descartes “penso, logo 
existo”. (ARANHA, 2003; CHAUÍ, 2003) 
A palavra racionalismo deriva do latim ratio, que significa razão. Aqui, o termo está 
sendo empregado para designara doutrina que deposita total e exclusiva confiança na 
razão humana como instrumento capaz de conhecer a verdade. Ou, como recomendou 
o filósofo racionalista Descartes: nunca nos devemos deixar persuadir senão pela 
evidência de nossa razão. (ARANHA, 2003; CHAUÍ, 2003) 
Os racionalistas afirmam que a experiência sensorial é uma fonte permanente de erros e 
confusões sobre a complexa realidade do mundo. Somente a razão humana, 
trabalhando com os princípios lógicos, pode atingir o conhecimento verdadeiro, capaz de 
ser universalmente aceito. Para o racionalismo, os princípios lógicos seriam inatos na 
mente do homem. (ARANHA, 2003; CHAUÍ, 2003) 
O empirismo, de matriz inglesa com Francis Bacon, vai pelo caminho inverso. 
Considera que o ser humano nasce uma “tábula rasa” sem nada saber, todo o 
conhecimento vem pelos sentidos e só depois é trabalhado pela razão. Assim, deve-se 
ter rigor e cuidado nas observações, mas algo só é verdadeiro se for comprovado na 
 
 
 
50 
experimentação. É “ver para crer”. Sem essa validação da experiência perde-se o 
contato com o real, pois a teoria racional pode-se perder em elucubrações sem sentido 
ou desviar-se da realidade. (ARANHA, 2003; CHAUÍ, 2003) 
II.II.I René Descartes (1596-1650) – Racionalismo 
Após a Renascença, há o grande racionalismo clássico moderno. Figura mais conhecida 
é René Descartes, considerado o primeiro filósofo moderno que insiste ainda mais de 
que se deve fazer o que é necessário racionalmente para que o ser humano se torne 
senhor do mundo. É o primeiro a escrever, depois de séculos de domínio do latim, em 
língua moderna, no caso o francês. (ASSMANN, 2006, p. 43) 
René Descartes pretende alcançar a verdade através da razão, não deixando espaços 
para possíveis dúvidas. Desta forma, Descartes combate as ideias do senso comum; 
começou a questionar todas as verdades fundamentadas na tradição, no “é porque 
sempre foi assim”, desmontando superstições, misticismo, conceitos sem base sólida 
etc. Chegou a ponto de duvidar de tudo e então estabeleceu suas premissas. A primeira 
é de que se duvidava de certezas milenares, não duvidava que ele estava ali duvidando. 
“Penso, logo existo” “Cogito ergo sum”. Esta virada fundamental dá ao sujeito, o 
indivíduo, o direito de questionar as tradições mantidas pela coletividade. 
Entre outras premissas de Descartes estavam a existência de Deus e o primado da 
razão. Ele constrói então um sistema racional que inclui o método científico e nega a 
existência de bruxas e monstros, enfraquecendo as “caças às bruxas” na Europa. As leis 
passam então a ter necessidade de uma base lógica. Sabendo do sistema racional que 
tudo engloba, você pode investigar os casos individuais na natureza e na sociedade. 
Vai-se do todo para as partes, o método dedutivo. 
Autor de O discurso do Método, Descartes propõe-se a duvidar de tudo o que se 
sabia até então e a procurar alguma verdade que não pudesse ser posta em 
dúvida. Ela deveria ser a nova base para todo conhecimento. Pode-se duvidar da 
existência de Deus. Pode-se duvidar de tudo o que se conhece pelos sentidos. 
Pode-se até duvidar da existência do mundo físico fora de mim. Mas não se 
pode duvidar de que eu duvido, ou seja, da existência da dúvida e da existência 
de quem duvida. Portanto, se eu duvido, eu sou. Se eu penso, então eu existo. E 
a existência de Deus, do mundo, deve ser baseada neste fundamento: eu. Eu, o 
sujeito humano, a razão humana, que deve ser o único ponto de partida para 
qualquer verdade. Este é o princípio da ciência. Mas também da ética: só será 
bom aquilo que for bompara o homem. Um exemplo no campo do 
conhecimento: só se o ser humano provar que Deus existe, Deus existirá. Se 
não o conseguir provar, então Deus não existirá. Como se vê, a existência de 
Deus passa a depender da prova do ser humano. É isso que se pode denominar 
de visão antropocêntrica da modernidade. Se a visão medieval é teocêntrica, e a 
 
 
 
51 
antiga é fisiocêntrica, agora se passa ao antropocentrismo (ASSMANN, 2006, p. 
43) 
 
Para Descartes, a realidade física coincide com o pensamento e pode ser traduzida por 
fórmulas e equações matemáticas. Descartes estava convicto também de que todo 
conhecimento procede de ideias inatas - postas na mente por Deus - que correspondem 
aos fundamentos racionais da realidade. A razão cartesiana, por julgar-se capaz de 
apreender a totalidade do real mediante "longas cadeias de razões", é a razão lógico-
matemática e não a razão vital e, muito menos, a razão histórica e dialética. 
Descartes começa sua obra filosófica fazendo um balanço de tudo o que sabia: o 
que lhe fora ensinado pelos preceptores e professores, pelos livros, pelas 
viagens, pelo convívio com outras pessoas. Ao final, conclui que tudo quanto 
aprendera, tudo quanto sabia e tudo quanto conhecera pela experiência era 
duvidoso e incerto. Decide, então, não aceitar nenhum desses conhecimentos, a 
menos que pudesse provar racionalmente que eram certos e dignos de 
confiança. Para isso, submete todos os conhecimentos existentes em sua época 
e os seus próprios a um exame crítico conhecido como dúvida metódica, 
declarando que só aceitará um conhecimento, uma ideia, um fato ou uma opinião 
se, passados pelo crivo da dúvida, revelarem -se indubitáveis para o 
pensamento puro. Ele os submete à análise, à dedução, à indução, ao raciocínio 
e conclui que, até o momento, há uma única verdade indubitável que poderá ser 
aceita e que deverá ser o ponto de partida para a reconstrução do edifício do 
saber. Essa única verdade é: “Penso, logo existo”, pois, se eu duvidar de que 
estou pensando, ainda estou pensando, visto que duvidar é uma maneira de 
pensar. A consciência do pensamento aparece, assim, como a primeira verdade 
indubitável que será o alicerce para todos os conhecimentos futuros. (CHAUÍ, 
2003, p. 115) 
 
II.II.II Leibiniz (1646-1716) – Racionalismo 
Filósofo racionalista alemão. Leibniz nasceu em Leipzig e morreu em Hanover. 
Começou a frequentar a universidade aos treze anos, doutorando-se em direito aos vinte 
anos. Fez importantes contribuições para a filosofia, a lógica, a geologia, a linguística, a 
historiografia, a matemática, a teologia, a economia, a política, a física, etc. Descobriu o 
cálculo infinitesimal independentemente de Newton (1642-1727). Fundou a Academia de 
Berlim. (AIRES, 2003) 
Segundo Ferro, 2001: 
A obra de Leibniz é muito diversificada, sendo-lhe atribuída a autoria de notáveis 
descobertas. Na matemática, por exemplo, junto com Newton, foi um dos 
inventores do cálculo infinitesimal. Inventou também uma máquina de calcular. 
Na física criou o conceito de energia cinética. 
A filosofia de Leibniz estabelece uma ponte entre a filosofia renascentista e a 
iluminista, lançando as bases para os grandes sistemas da filosofia 
contemporânea. 
 
 
 
52 
A monadalogia ( do grego monas = unidade) exprime a concepção original de 
Leibniz sobre a natureza das coisas. "O universo é considerado uma ordenação 
de mónadas, isto é, de centros espirituais dinâmicos, em que se compenetram, 
misteriosamente, individualidade e substancialidade. Cada nómada é um 
espelho do mundo e, simultaneamente, uma criação original indestrutível, dotada 
de tendências ou mesmo de acção (sic.). O seu lugar na ordem hierárquica 
determina-se pelo grau de clareza e distinção com que consegue representar o 
universo" (F.Heinnemann). Deus é a mónada original, criador da infinidade das 
mónadas que compõem o mundo. 
O conceito central da filosofia de Leibniz é a Harmonia Universal identificada 
com Deus. Vivemos, segundo Leibniz, no melhor dos mundos possíveis. Criado 
por Deus este só poderia ter escolhido o melhor entre todos os possíveis. O mal 
é uma carência ocasional e acidental e não existe por si próprio. Todos os seres 
aspiram à realização plena das suas potencialidades. 
Em termos políticos, preconiza uma vasta comunidade internacional, que possa 
garantir a paz e a difusão do cristianismo. Nesse sentido procurou demonstrar a 
unidade fundamental de todas as línguas, assim como desenvolver uma 
linguagem universal, baseada num sistema binário que é usado nos nossos dias 
na informática. Foi um precursor da lógica simbólica contemporânea. 
No direito defendeu uma concepção de direito natural fundamentada no próprio 
Deus. 
 
Leibniz tinha como principais linhas de pensamento: 
 - A Liberdade x Determinação: Leibniz admitia uma série de causas eficientes a 
determinar o agir humano dentro da cadeia causal do mundo natural. Essa série de 
causas eficientes dizem respeito ao corpo e seus atos. Contudo, paralela a essa série de 
causas eficientes, há uma segunda série, a das causas finais. As causas finais poderiam 
ser consideradas como uma infinidade de pequenas inclinações e disposições da alma, 
presentes e passadas, que conduzem o agir presente. Há, como em Nietzsche, uma 
infinidade imensurável de motivos para explicar um desejo singular. Nesse sentido, 
todas as escolhas feitas tornam-se determinantes da ação. Cai por terra a noção de 
arbitrariedade ou de ação isolada do contexto. Parece também cair por terra a noção de 
ação livre, mas não é o que ocorre. Leibniz acredita na ação livre, se ela for ao mesmo 
tempo 'contingente, espontânea e refletida'. 
- A Contingência: A contingência opõe-se à noção de necessidade, não à de 
determinação. A ação é sempre contingente, porque seu oposto é sempre possível. 
- A Espontaneidade: A ação é espontânea, quando o princípio de determinação está no 
agente, não no exterior deste. Toda ação é espontânea e tudo o que o indivíduo faz 
depende, em última instância, dele próprio. 
 
 
 
 
53 
- A Reflexão: Qualquer animal pode agir de forma contingente e espontânea. O que 
diferencia o animal humano dos demais é a capacidade de reflexão que, quando 
operada, caracteriza uma ação como livre. Os homens têm a capacidade de pensar a 
ação e saber por que agem. 
II.II.III Thomas Hobbes (1588 – 1679) - Empirismo 
De um modo geral, o empirismo defende que todas as nossas ideias são provenientes 
de nossas percepções sensoriais (visão, audição, tato, paladar, olfato). Diante disto 
temos que: 
Thomas Hobbes, filósofo inglês, além de defender uma visão materialista (tudo é 
apenas corpo) e mecanicista (toda a realidade funciona como se fosse uma 
grande máquina – como dirá também Newton), sustenta que a razão é a 
capacidade humana de calcular e controlar todas as coisas. O homem por sua 
natureza é um ser individual, totalmente livre, independente. Tudo o que é social, 
ao contrário do que disse Aristóteles, é artificial. Como indivíduo natural tem 
direito a todas as coisas, e ninguém pode impedir-lhe de o querer e o buscar, 
mesmo que tenha que matar o concorrente. Assim, por natureza, somos 
inevitavelmente lobos dos outros homens. Se não fizermos algo, uma calculada 
intervenção nesta tendência natural, viveremos em um estado selvagem. É isso 
o contrato social: para sair do estado de natureza, e para garantir meu direito à 
vida, à sobrevivência física, faço um pacto com os outros indivíduos, pelo qual 
cedo meu direito de me autodeterminar a um outro, o soberano, o Estado, que 
estabelecerá a lei que deve ser obedecida por todos os contratantes. O soberano 
será o único que ficará no seu estado de natureza, enquanto os outros todos 
deixarão este estado e ganharão a segurança de vida. Brevemente apresentada,a tese política hobbesiana, a do contratualismo moderno, mostra que a política é 
uma criação artificial do ser humano, e o Estado será esta criatura humana que 
sempre deverá estar a serviço da vida humana. Se não estiver a serviço, tornar-
se-á dispensável. Também a ética deverá ser criada artificialmente pelos 
homens, pois naturalmente não há moral. Quando não há norma, como acontece 
no estado natural, ninguém deixa de cumprir a norma; assim também ninguém 
faz o bem e ninguém faz o mal. (ASSMANN, 2006, p.44) 
 II.II.III. I O Leviatã 
Nomeado a partir de um monstro bíblico, Leviatã trata da organização da sociedade. 
Para Hobbes, o homem em "estado natural" desconhece as leis e a ideia de Justiça. 
Todos têm direito a tudo e, para conseguir o que desejam, lançam mão da força e da 
astúcia. A consequência é a "guerra de todos contra todos". A única forma de refrear 
essa guerra seria realizando o pacto social, quando todos abrem mão de seu direito em 
nome de um único soberano. 
Para Hobbes, na base da sociedade e do Estado há dois pressupostos: 
 i) O bem relativo originário, isto é, a vida e sua conservação (“egoísmo”) 
 
 
 
54 
 ii) A justiça, que é uma convenção estabelecida pelos seres humanos e 
cognoscível de modo perfeito e a priori (“convencionalismo”). 
Nesse sentido, a concepção política de Hobbes constitui a inversão mais radical da 
clássica posição aristotélica, segundo a qual o ser humano é uma “animal político”; 
Hobbes considera ao contrário o ser humano como um átomo de egoísmo, razão pela 
ninguém está ligado a outra pessoa por consenso espontâneo (mas por interesse 
próprio). 
A condição em que todos os seres humanos naturalmente se encontram é para Hobbes 
a da guerra de todos contra todos (homo homini lupus: “o homem é lobo do homem”). 
Isto acontece pois todos tem direito a tudo no estado de natureza (ou seja, todos podem 
praticar violência contra todos). 
- O ser humano pode sair do estado natural de guerra fazendo apelo a dois elementos 
fundamentais: 
 i) “O Instinto” de evitar a guerra contínua e de providenciar aquilo que é 
necessário para a subsistência; 
 ii) “A Razão”, no sentido do instrumento apto a satisfazer os instintos. 
- No Leviatã Hobbes elenca 19 leis naturais, das quais as mais importantes são as três 
primeiras: 
 i) Procurar a paz e alcançá-la, defendendo-se com todos os meios possíveis; 
 ii) Renunciar ao direito sobre tudo, quando também os outros renunciam; 
 iii) Respeitar os pactos estipulados, isto é, ser justo. 
- Para constituir a sociedade é preciso que o estado se personifique em uma única 
pessoa (ou assembleia) e um poder que obrigue o respeito a esta pessoa. 
- O pacto social é feito pelos súditos entre si, enquanto o soberano permanece fora do 
pacto e é o único depositário dos direitos dos súditos. 
- O poder do soberano (ou assembleia) deve ser indiviso e absoluto. 
 
 
 
55 
 
II.III John Locke (1632 – 1704) – Empirismo 
Filósofo empirista inglês. Defendeu, contra DESCARTES, a inexistência de IDEIAS 
INATAS. Segundo Locke, a mente é como uma TÁBUA RASA, possuindo poderes de 
raciocínio, mas não quaisquer conteúdos inatos. Contudo, é defensável que Locke não 
era realmente empirista, pois admite a existência de dois tipos de experiência (a externa 
e a interna), e igualmente de três tipos de conhecimento: intuitivo, que é direto e com o 
grau máximo de certeza; demonstrativo, que é indireto e dá origem ao conhecimento 
lógico e matemático; e sensível, que diz respeito ao conhecimento da existência de 
objetos exteriores. Baseando-se na diferença entre QUALIDADES PRIMÁRIAS E 
SECUNDÁRIAS das coisas, distinguiu o mundo tal como é em si do mundo tal como é 
para nós. Para Locke, a ABSTRACÇÃO era uma componente central do conhecimento, 
que permitia a formação de ideias abstratas a partir de impressões sensíveis concretas. 
A distinção entre ESSÊNCIA nominal e real é também central na sua teoria do 
conhecimento: assim, a essência real da água, por exemplo, é a sua constituição 
intrínseca, ao passo que a sua essência nominal são apenas as qualidades que 
atribuímos à água, mas que não correspondem à sua natureza intrínseca. É no Ensaio 
sobre o Entendimento Humano (1690) que Locke expõe estas ideias, entre outras. 
(AIRES, 2003) 
Em ÉTICA, Locke defendeu uma versão da TEORIA DOS MANDAMENTOS DIVINOS; 
em FILOSOFIA POLÍTICA, defendeu o valor da tolerância política e religiosa, e a 
separação da igreja e do estado. As suas doutrinas da legitimação da propriedade 
privada, da justificação da autoridade do estado e da legitimidade da revolta contra o 
estado injusto são ainda hoje muitíssimo discutidas, e são apresentadas no Segundo 
Tratado sobre o Governo (1689). As suas ideias sobre a tolerância são apresentadas em 
Carta sobre a Tolerância (1689). (AIRES, 2003) 
Pensamento: 
O filósofo empirista John Locke afirmava que, ao nascermos, nossa mente é como um 
papel em branco, completamente desprovida de ideias. De onde provém, então, o vasto 
conjunto de ideias que existe na mente humana? A isso, Locke responde com uma só 
palavra: da experiência, que resulta da observação dos dados sensoriais. Todo nosso 
conhecimento está nela fundado. Empregada tanto nos objetos sensíveis externos como 
 
 
 
56 
nas operações internas de nossas mentes, que são por nós percebidas e refletidas, 
nossa observação supre nossos entendimentos com todos os materiais do pensamento. 
Assim, toda ideia é uma cópia de alguma impressão. Essa cópia possui diferentes graus 
de fidelidade. Para ele toda a realidade deve reduzir-se às relações com que se unem 
entre si as impressões e as ideias. 
Experiência: Indica propriamente a observação “tanto dos objetos externos sensíveis, 
como das operações internas de nosso espírito que percebemos e sobre as quais 
refletimos”. A experiência “é tudo aquilo que fornece a nosso intelecto todos os materiais 
do pensar”. A experiência interna e externa são para Locke as duas únicas fontes do 
conhecimento, das quais “emergem todas as ideias que temos ou que podemos ter”. 
- A experiência pode ser de dois tipos: 
 i) Externa: Da qual derivam as ideias simples de sensação (extensão, figura, 
movimento, etc.) 
 ii) Interna: Da qual derivam as ideias simples de reflexão (prazer, dor, etc.) 
Locke chama de qualidade o poder que as coisas possuem de produzir as ideias em 
nós, e distingue as qualidades da seguinte maneira: 
 i) Qualidades primárias e reais dos corpos: (extensão, número, movimento, etc.) 
 ii) Qualidades secundárias: (cores, sabores, etc.) 
A mente tem o poder de operar tanto combinando as ideias entre si e formando assim 
ideias complexas, como separando algumas ideias de outras para formar ideias gerais. 
O conhecimento consiste na percepção da conexão e do acordo, ou do desacordo e do 
contraste, entre nossas ideias. Esse tipo de acordo ou de desacordo pode ser percebido 
em três modos diferentes: 
i) Por intuição: Evidência imediata. Este modo de conhecimento é o mais direto e 
certo (com ele captamos a nossa existência). 
ii) Por demonstração: Por meio da intervenção de outras ideias concatenadas 
logicamente. 
iii) Por sensação: O modo menos evidente e certo, é o que se refere à existência 
das coisas externas. 
 
II.IV David Hume (1711 – 1776) – Empirismo 
Segundo Aires (2003), David Hume: 
 
 
 
57 
Filósofo, ensaísta e historiador escocês, pertence à tradição empirista britânica, 
cujos antecessores foram LOCKE e BERKELEY. É talvez o primeiro filósofo a 
procurar trazer para a filosofia o tipo de atitude que tantos resultados produziunas ciências da natureza do seu tempo. Ficou famoso o seu conselho de que 
devemos deitar à fogueira tudo o que não for ciência empírica ou disciplinas 
matemáticas. Este tipo de atitude voltaria a ser popular, sobretudo junto dos 
filósofos do POSITIVISMO LÓGICO. Para não correr o risco de ser ele próprio 
deitado à fogueira, pelo menos metaforicamente, só permitiu que os Diálogos 
sobre a Religião Natural (1779) fossem publicados depois da sua morte. Nesta 
obra, Hume apresenta uma análise hoje clássica dos argumentos contra e a 
favor da existência de Deus. O seu argumento contra os milagres foi exposto 
também no Ensaio sobre o Entendimento Humano. 
A sua primeira obra, o Tratado da Natureza Humana (1739-40), procura 
ambiciosamente estabelecer os fundamentos de uma teoria empírica da 
natureza humana. Nesta obra encontram-se algumas das ideias que mudaram a 
face da filosofia moderna, nomeadamente no que respeita à EPISTEMOLOGIA e 
à ÉTICA. Porque os seus contemporâneos não lhe prestaram grande atenção, 
Hume tentou apresentar aproximadamente as mesmas ideias, de forma mais 
clara, nas obras Investigação sobre o Entendimento Humano (1748) e 
Investigação sobre os Princípios da Moral (1751). 
No que respeita à epistemologia, Hume introduz de forma clara a distinção entre 
conhecimento a priori e a posteriori, a que ele chamou, respectivamente, 
"relações de ideias" e "questões de facto". O conhecimento a priori tem por 
objeto (sic.) unicamente as matemáticas; todo o conhecimento do mundo é 
baseado na experiência, não sendo possível estabelecer a priori nem mesmo os 
princípios mais gerais que regulam as verdades empíricas, como o princípio de 
causalidade. A teoria da causalidade de Hume baseia-se na projecção (sic.) 
psicológica: perante sucessões repetidas de acontecimentos do mesmo tipo, os 
seres humanos são levados a inferir fantasiosamente a existência de uma 
conexão causal entre esses acontecimentos. 
Hume adopta a mesma estratégia projectivista (sic.) em ética. Traçando uma 
distinção profunda entre factos e valores, declara que não se podem extrair os 
últimos dos primeiros, e que a ética é apenas o resultado da projecção (sic.) de 
valores humanos sobre os factos do mundo, valores estes ancorados no 
sentimento e não na razão. O seu argumento baseia-se na ideia de que os factos 
são objeto (sic.) de crença e que as crenças não são motivadoras, isto é, não 
têm o poder de nos levar a agir; só os desejos têm esse poder. Tanto no âmbito 
da epistemologia como da ética, as ideias de Hume foram das mais influentes de 
sempre na história da filosofia. 
Pensamento: 
Hume que recorreu a um princípio de que se servirá largamente em todas as suas 
análises: o hábito (ou costume) (ler mais no bloco “leitura recomendada”: Ensaios sobre 
Entendimento Humano, disponível no AVA), pois quando descobrimos uma certa 
semelhança entre ideias que por outros aspectos são diferentes, empregamos um único 
nome para indicar. Forma-se assim em nós o hábito de considerar unidas de alguma 
maneira entre si as ideias designadas por um único nome; assim o próprio nome 
suscitará em nós não uma só daquelas ideias, nem todas, mas o hábito que temos de 
considerá-las juntas e, por conseguinte, uma ou outra, segundo a ocasião. (LUCKESI, 
2002) 
 
 
 
58 
Dessa maneira, ele é um empirista, no sentido que a percepção repetida e habitual de 
uma determinada impressão ou fato nos leva a elaborar ideias sobre os fenômenos 
naturais, através de generalizações indutivas. (LUCKESI, 2002) 
As conclusões indutivas são percepções repetidas que nos chegam da experiência 
sensorial, saltamos para uma conclusão geral, da qual não temos experiência sensorial. 
PARA SABER MAIS 
 
 
A grande crise da metafísica: David Hume 
 
O lugar ocupado pela teoria do conhecimento como condição da metafísica, isto 
é, a antecedência da pergunta “O que e como podemos conhecer? “diante da 
pergunta antiga “O que é a realidade?”, forçou a Filosofia a pagar um alto 
preço. 
Esse preço foi a crise da metafísica. 
Se a realidade investigada pela metafísica é aquela que pode e deve ser 
racionalmente estabelecida pelas ideias verdadeiras produzidas pelo 
pensamento ou pela razão humana, que acontecerá se se provar que tais 
ideias são hábitos mentais do sujeito do conhecimento e não correspondem a 
realidade alguma? 
A metafísica antiga e medieval baseava-se na afirmação de que a realidade ou 
o Ser existe em si mesmo e que ele se oferece tal como é ao pensamento. A 
metafísica clássica ou moderna baseava-se na afirmação de que o intelecto 
humano ou o pensamento possui o poder para conhecer a realidade tal como é 
em si mesma e que, graças às operações intelectuais ou aos conceitos que 
representam as coisas e as transformam em objetos de conhecimento, o sujeito 
do conhecimento tem acesso ao Ser. 
 
Tanto num caso como noutro, a metafísica baseava-se em dois pressupostos: 
 
1. a realidade em si existe e pode ser conhecida; 
2. ideias ou conceitos são um conhecimento verdadeiro da realidade, porque a 
verdade é a correspondência entre as coisas e os pensamentos, ou entre o 
intelecto e a realidade. 
 
Esses dois pressupostos assentavam-se num único fundamento: a existência 
de um Ser Infinito (Deus) que garantia a realidade e a inteligibilidade de todas 
as coisas, dotando os humanos de um intelecto capaz de conhecê-las tais 
como são em si mesmas. 
David Hume dirá que os dois pressupostos da metafísica não têm fundamento, 
não possuem validade alguma. 
A metafísica – antiga, medieval e clássica ou moderna – era sustentada por três 
princípios: identidade, não-contradição e razão suficiente ou causalidade. Os 
dois primeiros serviam de garantia para a ideia de substância ou essência; o 
terceiro servia de garantia para explicar a origem e a finalidade das coisas, bem 
como as relações entre os seres. 
Hume, partindo da teoria do conhecimento, mostrou que o sujeito do 
conhecimento opera associando sensações, percepções e impressões 
recebidas pelos órgãos dos sentidos e retidas na memória. As ideias nada mais 
são do que hábitos mentais de associação de impressões semelhantes ou de 
 
 
 
59 
impressões sucessivas. 
Que é a ideia de substância ou de essência? Nada mais do que um nome geral 
dado para indicar um conjunto de imagens e d e ideias que nossa consciência 
tem o hábito de associar por causa das semelhanças entre elas. O princípio da 
identidade e o da não -contradição são simplesmente o resultado de 
percebermos repetida e regularmente certas coisas semelhantes e sempre da 
mesma maneira, levando-nos a supor que, porque as percebemos como 
semelhantes e sempre da mesma maneira, isso lhes daria uma identidade 
própria, independente de nós. 
Que é a ideia de causalidade? O mero hábito que nossa mente adquire de 
estabelecer relações de causa e efeito entre percepções e impressões 
sucessivas, chamando as anteriores de causas e as posteriores de efeitos. A 
repetição constante e regular de imagens ou impressões sucessivas nos leva à 
crença de que há uma causalidade real, externa, própria das coisas e 
independente de nós. 
Substância, essência, causa, efeito, matéria, forma e todos os outros conceitos 
da metafísica (Deus, mundo, alma, infinito, finito, etc.) não correspondem a 
seres, a entidades reais e externas, independentes do sujeito do conhecimento, 
mas são nomes gerais com que o sujeito nomeia e indica seus próprios hábitos 
associativos. Eis porque a metafísica foi sempre alimentada por controvérsias 
infindáveis, pois não se referia a nenhuma realidade externa existente em si e 
por si, mas a hábitos mentais dos sujeitos, hábitos que são muito variáveis e 
dão origem a inúmeras doutrinas filosóficas sem qualquer fundamento real. 
A partir de Hume, a metafísica, tal como existira desde o século IV a.C., 
tornava-se impossível. (CHAUÍ, 2003,pp. 292-293) 
 
 
II.IV Soluções modernas na razão filosófica – Kant/Hegel 
II.IV.I Immanuel Kant (1724-1804) 
Filósofo alemão. Kant nasceu em Königsberg (actual Kaliningrado), na Prússia oriental, 
onde estudou, trabalhou e viveu toda a sua vida, tornando-se um dos mais influentes 
filósofos de sempre. Durante mais de uma década trabalhou como preceptor e em 1755 
juntou-se ao corpo docente da universidade de Königsberg, onde leccionou as mais 
variadas disciplinas: lógica, metafísica, matemática, geografia, antropologia, pedagogia, 
etc. É habitual dividir a sua vida intelectual em dois períodos: o "período pré-crítico" e o 
"período crítico". Durante o primeiro período, Kant escreveu trabalhos menos influentes, 
nos quais se pode constatar a grande influência de Wolff (1679-1754), discípulo de 
LEIBNIZ, e do próprio Leibniz. Kant foi também fortemente influenciado por LOCKE, 
HUME e Jean-Jacques Rousseau (1712-78). O seu período crítico teve início em 1770 
com a publicação da sua Dissertação de 1770. (AIRES, 2003) 
A Crítica da Razão Pura (1781) é a sua primeira grande obra. O problema que a domina 
é o de saber como é o conhecimento a priori acerca do mundo possível (A PRIORI/A 
 
 
 
60 
POSTERIORI), ou para usar a sua terminologia, como é o conhecimento sintético a priori 
possível (ANALÍTICO/SINTÉTICO). Kant defendeu que não é possível saber como o 
mundo é em si, independentemente da nossa experiência. Sucintamente, a ideia de 
Kant é que o nosso aparato cognitivo, seja ele perceptivo ou puramente intelectual (ou 
teórico), impõe certas estruturas ao mundo. Kant defendeu que uma metafísica científica 
deve usar criticamente a razão na procura dos seus próprios limites: temos de procurar 
as "formas" que o nosso aparato cognitivo impõe ao mundo. Esta é a "revolução 
copernicana" de Kant: para sabermos o que podemos conhecer, temos de saber como o 
conhecemos. (AIRES, 2003) 
Na Crítica da Razão Prática (1788), Kant procura os fundamentos da nossa razão 
prática, isto é, os fundamentos do nosso raciocínio moral. Defende que agir 
racionalmente é agir moralmente, é agir de acordo com o nosso DEVER, é agir de 
acordo com o IMPERATIVO CATEGÓRICO. Na Crítica da Faculdade do Juízo (1790), 
volta a defender a objetividade da razão, mas desta vez relativamente aos juízos 
estéticos. Contudo, esta não é meramente uma obra de estética. Nela, Kant fornece-nos 
uma visão global do seu sistema filosófico. (AIRES, 2003) 
Conhecimento segundo Kant 
O que dizia Kant? 
Segundo Kant, a razão está vinculada ao reconhecimento de seus próprios limites, pois 
somente assim não tenderia ao dogmatismo. (LUCKESI, 2002) 
Texto de Kant: 
Em todos os seus empreendimentos, a razão tem que se submeter à crítica, e 
não pode limitar a liberdade da mesma por uma proibição sem que isso a 
prejudique e lhe acarrete uma suspeição desvantajosa. No que tange à sua 
utilidade, nada é tão importante nem tão sagrado que lhe seja permitido 
esquivar-se a essa inspeção atenta e examinadora que desconhece qualquer 
respeito pela pessoa. Sobre essa liberdade repousa até a existência da razão; o 
veredito dessa última, longe de possuir uma autoridade ditatorial, consiste 
sempre em nada mais do que o consenso de cidadãos livres, dos quais cada um 
tem que poder externar, sem constrangimento algum, as suas objeções e até o 
seu veto. (KANT, 1980) 
 
 
Para Kant, o conhecimento está presente na faculdade de conhecer do sujeito. O 
conhecimento ocorre por meio da interação entre intuições proporcionadas, dadas pela 
 
 
 
61 
sensibilidade (noções de tempo e espaço), seguidas das categorias do entendimento. 
(LUCKESI, 2002) 
Kant adverte que a partir do momento em que o sujeito vai de encontro ao 
conhecimento, ele o concebe não como uma coisa, mas sim como um fenômeno, 
através da percepção do sujeito em meio as suas limitações. (LUCKESI, 2002) 
Segundo Assmann (2006, pp, 46-48): 
A resposta geral que Kant dá às perguntas constitui aquilo que se denomina 
como pensamento crítico. De fato as três grandes obras do autor (Critica da 
razão pura, que trata de responder à primeira pergunta; Crítica da razão prática, 
que responde à segunda pergunta; e Crítica do juízo, que, de algum modo, 
responde à terceira pergunta) têm em comum serem “críticas”. E a crítica é uma 
atitude filosófica que se põe para além do ceticismo e do dogmatismo, dos quais 
quer ser uma crítica também. A atitude cética, inaugurada pelos céticos antigos e 
modernizada por David Hume, sustenta que não há como estabelecer um 
conhecimento objetivo e neutro da realidade, e que nosso conhecimento sempre 
tem algo de hábito e de crença compartilhada; a atitude dogmática é aquela que 
defende que os seres humanos são capazes de alcançar um conhecimento 
seguro e eterno das essências das coisas. Kant, ao mesmo tempo em que nega 
o ceticismo, nega o dogmatismo. Segundo ele, os seres humanos conhecem, 
sim, a realidade, mas não na sua essência e sim no modo como aparece diante 
de quem quer conhecer. Com isso, Kant diz que o ser humano, ao conhecer, 
obriga a natureza, ou qualquer objeto, a responder à pergunta que ele faz. Mas 
já que o ser humano muda, mudam também as perguntas, e com isso mudam 
também as verdades acerca do mesmo objeto. Isso torna todo saber humano 
uma construção humana, que depende também de quem conhece, e não só 
daquilo que é conhecido. O texto breve a seguir pode esclarecer melhor o que 
dissemos: 
“Quando Galileu deixou suas esferas rolarem sobre a superfície oblíqua com um 
peso por ele mesmo escolhido, ou quando Torricelli deixou o ar carregar um 
peso de antemão pensado como igual ao de uma coluna de água conhecida por 
ele,..: isso foi uma revelação para todos os pesquisadores da natureza. Deram-
se conta que a razão só compreende o que ela mesma produz segundo seu 
projeto, que ela teria que ir à frente com princípios de seus juízos segundo leis 
constantes e obrigar a natureza a responder às suas perguntas, mas sem se 
deixar conduzir por ela como se estivesse presa a um laço; do contrário, 
observações feitas ao acaso, sem um plano devidamente projetado, não se 
interconectariam numa lei necessária, coisa que a razão todavia procura e 
necessita. A razão tem que ir à natureza tendo numa das mãos os princípios 
unicamente segundo os quais fenômenos concordantes entre si podem valer 
como leis, e na outra o experimento que ela imaginou segundo os seus 
princípios, claro que para sair instruída pela natureza, não porém na qualidade 
de um aluno que se deixa ditar tudo o que o professor quer, mas sim na de um 
juiz nomeado que obriga as testemunhas a responder às perguntas que lhes 
propõe”. (KANT, Immanuel. Prefácio à II Edição da Crítica da Razão Pura. S. 
Paulo: Abril Cultural (Coleção Os Pensadores), 1980, p. 11, apud ASSMANN, 
2006, p. 48) 
 
 
 
 
 
62 
 
II.IV.II Georg Wilhelm Hegel (1770-1831) 
Pensador alemão que atribui à filosofia a tarefa de ultrapassar concepções dualistas e 
parciais da realidade em nome do princípio de que "a verdade é o todo". Para a filosofia 
ser "sistema do Absoluto" importa negar a separação entre o Infinito (Espírito absoluto) e 
o finito (o mundo e o homem). Para tal, o Absoluto assume a condição finita, primeiro na 
Natureza e depois na História humana. Ultrapassando cada forma espaço-
temporalmente limitada da sua odisseia histórica, o Absoluto transforma o finito em 
momento da sua vida infinita, em autolimitação momentânea. Nada existe ou é 
verdadeiro fora do Absoluto. A filosofia é a forma superior de exposição do movimento 
dialético mediante o qual o Espírito divino se diz absoluto ao negar que o finito exista 
fora de si. Ser absoluto é fazer-se absoluto. Na Fenomenologia do Espírito e em A 
Razão na História (trad. 1995,Edições 70), entre outras obras, é exposta esta visão do 
Espírito como auto realização. (AIRES, 2003) 
Temos na observação de Assmann (2006, p. 121) que: 
O alemão Georg F. W. Hegel (1770-1831), no início do Século XIX, insiste em 
afirmar que os verdadeiros sujeitos da história são os Estados, e não os grupos 
econômicos, nem os que sabem mais. Assim, de fato, bem é tudo o que é bom 
para o Estado, correndo-se com isso um duplo risco: em nome da centralidade 
do Estado pode-se cair no totalitarismo, mas também se pode defender, mais 
democraticamente, que não devem ser os interesses econômicos privados os 
principais, mas os interesses públicos do conjunto dos cidadãos. Mais uma vez 
se percebe quanto os extremos às vezes se tocam! Devemos lembrar também 
que nem todos os pensadores modernos afirmam esta primazia da política sobre 
as outras dimensões da vida humana. 
Tratando-se da fenomenologia, Chauí (2003, p. 121) observa que: 
 
o filósofo Hegel ampliou o conceito de fenômeno, afirmando que tudo o que 
aparece só pode aparecer para uma consciência e que a própria consciência 
mostra-se a si mesma no conhecimento de si, sendo ela própria um fenômeno. 
Por isso, foi Hegel o primeiro a usar a palavra fenomenologia, para com ela 
indicar o conhecimento que a consciência tem de si mesma através dos demais 
fenômenos que lhe aparecem. 
 
 
 
II.V Razão contemporânea – Hussell: fenomenologia. 
Nas palavras de Chauí, (2003, p. 302): 
Kant equivocou-se ao distinguir fenômeno e nôumeno, pois, com essa distinção, 
manteve a velha ideia metafísica da realidade em si ou do “Ser enquanto Ser”, 
mesmo que dissesse que não a podíamos conhecer. Hegel, por sua vez, aboliu a 
 
 
 
63 
diferença entre a consciência e o mundo, porque dissera que este nada mais é 
do que o modo como a consciência se torna as próprias coisas, torna-se mundo 
ela mesma, tudo sendo fenômeno: fenômeno interior –a consciência –e 
fenômeno exterior –o mundo como manifestação da consciência nas coisas. 
Husserl mantém o conceito kantiano e hegeliano, mas amplia ainda mais a 
noção de fenômeno. Para compreendermos essa ampliação precisamos 
considerar acrítica que endereça a Kant e a Hegel. Contra Kant, Husserl afirma 
que não há nôumeno, não há a “coisa em si” incognoscível. Tudo o que existe é 
fenômeno e só existem fenômenos. Fenômeno é a presença real de coisas reais 
diante da consciência; é aquilo que se apresenta diretamente, “em pessoa”, “em 
carne e osso”, à consciência. Contra Hegel, Husserl afirma que a consciência 
possui uma essência diferente das essências dos fenômenos, pois ela é doadora 
de sentido às coisas e estas são receptoras de sentido. A consciência não se 
encarna nas coisas, não se torna as próprias coisas, mas dá significação a elas, 
permanecendo diferente delas. 
II. V. I Edmund Husserl (1859-1938) 
Filósofo e matemático alemão fundador da FENOMENOLOGIA, a corrente filosófica cujo 
objetivo era transformar a filosofia numa ciência rigorosa, mediante a descrição do modo 
como as coisas surgem na CONSCIÊNCIA, independentemente de quaisquer 
pressupostos teóricos ou metafísicos. A ideia central é a de descrever os fenómenos 
(ver FENÓMENO) na sua pureza; descrever o que aparece na consciência, 
suspendendo as nossas crenças de senso comum sobre a natureza e até sobre a 
existência de objetos exteriores. Esta atitude opõe-se à "atitude natural", pois trata-se de 
"pôr entre parênteses" tudo o que vai além da experiência subjetiva. Há, assim, uma 
"redução fenomenológica" — uma redução aos fenómenos, também chamada EPOCHÊ 
— através da qual seja possível fazer uma descrição rigorosa e objetiva do conteúdo da 
consciência; o que interessa para a fenomenologia não são as coisas do mundo e muito 
menos saber se os conteúdos da consciência correspondem a algo real ou irreal no 
mundo exterior. A fenomenologia é, assim, caracterizada como uma ciência da 
consciência, que se demarca quer do NATURALISMO, ao exigir a suspensão de 
quaisquer crenças acerca do mundo exterior e dispensar os dados empíricos nos quais 
elas se baseiam, quer do psicologismo, dado o seu alegado carácter rigoroso e objetivo. 
Neste aspecto, a fenomenologia de Husserl aproxima-se, por um lado, do subjetivismo 
cartesiano (ver DESCARTES) e, por outro lado, do IDEALISMO transcendental de 
KANT. Outra das ideias centrais da fenomenologia de Husserl deve-se ao filósofo 
austríaco Franz BRENTANO — de quem Husserl foi aluno em Viena e que o fez 
interessar-se decisivamente pela filosofia. Trata-se da ideia de INTENCIONALIDADE: 
toda a consciência é consciência de algo, sendo este um dos factos mais importantes 
acerca dos nossos conteúdos mentais. A filosofia é considerada por Husserl como uma 
ciência de rigor porque se atém ao essencial — a experiência da consciência — 
 
 
 
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afastando-se da atitude natural e de todo o tipo de preconceitos e de interesses práticos 
ou teóricos que lhes estão associados. Isto consegue-se não através da INDUÇÃO nem 
na DEDUÇÃO, mas da redução, que constitui o método desta ciência de rigor. A 
fenomenologia de Husserl influenciou muitos filósofos, entre os quais se contam 
HEIDEGGER, MERLEAU-PONTY, SARTRE, GADAMER e LÉVINAS, sendo, por isso, 
um dos mais influentes filósofos do séc. XX. As suas obras mais importantes são 
Investigações Lógicas (1900-01), Ideias Diretrizes para uma Pura Fenomenologia e para 
uma Filosofia Fenomenológica (1913) e Meditações Cartesianas (1931). (AIRES, 20013) 
Mas afinal, o que é o fenômeno? 
Segundo Chauí (2003, p. 303): 
É a essência. O que é a essência? É a significação ou o sentido de um ser, sua 
ideia, seu eidos. A Filosofia é a descrição da essência da consciência (de seus 
atos e correlatos) e das essências das coisas. Por isso, a Filosofia é uma 
eidética – descrição do eidos ou das essências. Como o eidos ou essência é o 
fenômeno, a Filosofia é uma fenomenologia. 
Segundo Aires (2003): 
Palavra de origem grega que, em geral, designa o que aparece à consciência e 
tem origem nos SENTIDOS, por oposição ao que é apreendido apenas pelo 
intelecto. Em PLATÃO, o fenómeno é o que pertence ao MUNDO SENSÍVEL, 
enquanto o NÚMENO (a IDEIA ou Forma) pertence ao mundo inteligível. Para 
KANT, o fenómeno é o objeto (sic.) da EXPERIÊNCIA possível, o que é dado no 
espaço e no tempo e opõe-se ao NÚMENO ou coisa em si. 
 
 
 
 
 
65 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
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Disponível em: < http://www.defnarede.com/>. Acessado em: 20 jan 2014. 
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Edição 2. ed. São Paulo : Moderna, 1998 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: 
introdução à filosofia. 3. ed.rev. São Paulo: Moderna, 2003. 
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http://www.dicionariodoaurelio.com/Filosofia.html >. Acessado em: 20 jan 2014. 
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1999 
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KANT, Immanuel. CRÍTICA DA RAZÃO PURA. São Paulo: Abril Cultural, 1980. 
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a pensar. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2002. 
 
 
 
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2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. 
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Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. 
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia, vol.1. São Paulo: Paulus, 
2007. 
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segundo grau e de graduação. 11. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

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