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Ricardo Melani Diálogo: primeiros estudos em Filosofia Componente curricular: FILOSOFIA 1o, 2o e 3o anos Ensino Médio Componente curricular: FILOSOFIA Diálogo: primeiros estudos em Filosofia 1o, 2o e 3o anos Ensino Médio Ricardo Melani Bacharel e mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Tem mais de 25 anos de experiência como educador. Durante 18 anos foi professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), instituição na qual ministrou aulas de filosofia para diversos cursos de graduação. Foi editor de inúmeras revistas científicas e informativas. É autor do livro paradidático O corpo na filosofia (Moderna, 2012). a edição São Paulo, 2016 3 5 9 10 8 6 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados EDITORA MODERNA LTDA. ua Padre Adelino, 758 – Belenzinho São Paulo – SP – Brasil – CEP 03303-904 Vendas e Atendimento: Tel. (0_ _11) 2602-5510 Fax (0_ _11) 2790-1501 www.moderna.com.br 2016 Impresso no Brasil Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Melani, Ricardo Diálogo : primeiros estudos em filosofia, volume único / Ricardo Melani. -- 2. ed. -- São Paulo : Moderna, 2016. “Componente curricular: Filosofia” Bibliografia. 1. Filosofia (Ensino médio) I. Título. 16-01033 CDD-107.12 Índices para catálogo sistemático: 1. Filosofia : Ensino médio 107.12 Coordenação editorial: Ana Claudia Fernandes Edição de texto: Ana Patricia Nicolette, Leonardo Canuto de Barros, Pamela Shizue Goya, Edmar Ricardo Franco, Bruno Cardoso Silva, José Maurício Ismael Madi Filho, Cynthia Liz Yosimoto, Audrey Ribas Camargo Assistência editorial: Rosa Chadu Dalbem Preparação de texto: Denise Ceron Gerência de des e produção gráfica: Sandra Botelho de Carvalho Homma Coordenação de produção: Everson de Paula Suporte administrativo editorial: Maria de Lourdes Rodrigues (coord.) Coordenação de design e projetos visuais: Marta Cerqueira Leite Projeto gráfico: Mariza de Souza Porto, Otávio dos Santos Capa: Douglas Rodrigues José Foto Em ór ita, instalação de Tomás Saraceno, em Düsseldorf, Alemanha. Foto de 2013. © Tomás Saraceno Coordena ão de arte: Rodrigo Carraro Moutinho Edição de arte: Márcia Cunha do Nascimento Editoração eletrônica: Setup Bureau Editoração Eletrônica Coordenação de revisão: Elaine C. del Nero Revisão: Barbara Arruda, Nancy H. Dias, Renato da Rocha Carlos, Salete Brentan, Simone Garcia Viviane T. Mendes Coordenação de pesquisa iconográfica: Luciano Baneza Gabarron Pesquisa iconográfica: Vanessa Manna, Aline Chiarelli Coordenação de bur au Américo Jesus Tratamento de imagens: Denise Feitoza Maciel, Marina M. Buzzinaro, Rubens M. Rodrigues Pré-impressão: Alexandre Petreca, Everton L. de Oliveira, Fabio N. Precendo, Hélio P. de Souza Filho, Marcio H. Kamoto, Vitória Sousa Coordenação de produção industrial:Viviane Pavani Impressão e acabamento: Apresentação Filosofia não é um conjunto de conhecimentos fixos e imutáveis que temos de decorar para passar de ano. Filosofia é, acima de tudo, admiração pelo que está à nossa volta, espanto e curiosidade pela natureza, pela sociedade e por nós mesmos. É vontade de conhecer e prazer pelo conhecimento. A palavra “filosofia” é composta de dois termos: “filo”, que sig nifica amizade; e “sofia”, que significa sabedoria. Então, a filosofia é o amor ou a amizade pela sabedoria; e o filósofo não é aquele que tem sabedoria, mas aquele que procura por ela, que investiga as coisas em busca de conhecimento. Assim, filosofar não é declarar verdades ou certezas, mas utilizar a razão para investigar as coisas e o que pensamos sobre elas. Que tipo de coisas? Praticamente tudo. Por exemplo, as angústias e os desejos que sentimos, a busca de felicidade, a vontade de liberdade e o prazer; mas também os problemas sociais e éticos que interferem na nossa vida, como a degradação da natureza, o consumismo, os direitos humanos, os preconceitos, as relações de Estado e de poder, a intervenção da tecnologia no cotidiano; assim como a forma de pensarmos e conhecermos as coisas, a ciência, a lógica e a argumentação. Tudo é passível de reflexão, até mesmo nossa identidade, o tempo e a crença em uma fé. Filosofar é pensar racionalmente de maneira radical sobre tudo o que nos encanta e aflige. Se fizermos isso, se filosofarmos habitualmente, não só teremos mais clareza sobre esse ou aquele aspecto investigado, mas também desenvolveremos habilidades e competências que favorecerão o conjunto de nosso entendimento ou da nossa capacidade de compreensão. Além disso, filosofar não é algo que fazemos sozinhos. Mesmo que estejamos solitários, isolados do mundo, quando pensamos sobre um problema filosófico, partimos de certas noções, ideias, conceitos ou concepções que foram pensados ou criados por outros. Parti- mos de certo entendimento que, por sua vez, foi fruto de outras reflexões. Dessa maneira, a filosofia sempre é uma conversa ou um diálogo; por isso, o filosofar e a filosofia andam juntos. A tradição do pensamento filosófico, isto é, a contribuição de centenas de filósofos e pensadores que refletiram sobre os mais diversos temas, pode nos ajudar a entender nossa realidade ou inspirar novas reflexões e novos olhares sobre o mundo e a sociedade. Este livro foi elaborado com base nessas ideias. O leitor encontrará nele o rigor conceitual necessário para a compreensão dos problemas filosóficos da tradição e, ao mesmo tempo, a possibilidade de desenvolver reflexões filosóficas sobre problemas mais diretamente ligados à vida contemporânea. Então, vamos filosofar juntos? Ótimo estudo! Organização do livro O Estado é a vontade divina como espírito presente ou atual que se desenvolve na formação e organização de um mundo. HEGEL, Georg W. Friedrich. Princípios da filosofia do direito 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1976. p. 232. Quem diz Estado, diz necessariamente dominação e, em conse- quência, escravidão; [...] eis por que somos inimigos do Estado. BAKUNIN, Mikhail. Estatismo e anarquia . São Paulo: Ícone, 2003. p. 212. Crise econômica, desemprego, mercado, bolsa de valores, mercadoria, capital, tra- balho, produtividade e lucro são termos muito utilizados nos dias atuais. O uso dessas expressões tem relação direta com o desenvolvimento do sistema capitalista. O capitalismo trouxe, além de benefícios, como o desenvolvimento técnico- científico, vários problemas, como as crises econômicas e precárias condições de vida e de trabalho para grande parte da população. Diante dessa complexidade, intensificaram- -se as reflexões sobre o sistema e o Estado. Na primeira citação desta abertura, o filósofo Georg W. Friedrich Hegel exalta o Estado, afirmando que ele é a realização da atividade livre e racional do Espírito. Na segunda, o pensador anarquista Mikhail Bakunin compreende o Estado como a afirmação da escravização dos trabalhadores. Afinal, o Estado capitalista é fonte de desenvolvimento ou de opressão? A morte do euro, grafite do artista francês Goin em muro no centro de Atenas, Grécia. Foto de 2015. Desde 2010, a Grécia passa por uma profunda crise econômica, marcada por cortes de benefícios sociais, desemprego e aumento de impostos. O Estado capitalista e nossa vida Reflita Aponte benefícios e prejuízos que o Estado traz ou pode trazer para a vida das pessoas. Qual é a relação entre sua educação e o Estado? CA PÍ TU LO 11 O que é sociedade capitalista?O Estado como fonte de desenvolvimento e opressão 235 e p ro d u ç ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . M IL L E R /D IS T. B Y U N IV E R S A L U C L IC K eral go é existência . Descobrindo a tradição cristalina em Teresina. qual é a causa ou o sentido Para pensar meio da revelação de suas causas. (1992), tirinha de Bill Watterson. C A L V IN & H O B B E S, B IL L W A T T E R S O N © 1 9 9 2 W A T T E R S O N/ D IS T. B Y U N IV E R S A L U C bebida típica sumo do caju. A abertura de unidade apresenta ideias e conceitos que serão abordados ao longo da unidade, relacionando-os às questões relevantes a respeito da existência humana ou da atualidade. Há ainda um sumário com o título e o resumo das argumentações filosóficas (temas-problema) tratadas nos seis capítulos da unidade. Esta obra é composta por uma introdução e 18 capítulos, distribuídos em 3 unidades. Ela foi concebida e estruturada para facilitar a conversa com a filosofia e aproximar os alunos dos principais temas filosóficos sem perder de vista sua perspectiva histórica. Veja, a seguir, a organização interna da obra: O texto principal é dividido em duas partes. Na primeira, Descobrindo a tradição o tema do capítulo é estudado em uma perspectiva histórica, apresentando citações de textos originais para o contato com a tradição filosófica. Na segunda parte, Outras perspectivas explora-se a polifonia da filosofia, isto é, são apresentadas outras opiniões sobre alguns conceitos e ideias abordados na primeira parte. Tais ideias podem opor-se às teses estudadas ou apenas afastar-se delas, estabelecendo um novo enfoque a respeito do tema. Nas aberturas dos capítulos ex os, magens e questões ntroduzem o estudo de noções e conce tos que serão apro undados no capítulo. Ampliando Cinema As horas (Estados Unidos, Inglaterra, 2002) Direção: Stephen Daldry – Duração: 114 min A história de três mulheres que viveram em períodos distintos é entrelaçada pelo livro Mrs. Dalloway. Na década de 1920, Virginia Woolf, a autora do livro, atravessa uma crise pessoal. Nos anos 1950, Laura Brown, uma dona de casa grávida, não consegue parar de ler o livro de Woolf enquanto planeja uma festa de aniversário para seu marido. Finalmente, no início do século XXI, vive Clarissa Vaughn, uma editora de livros. As três enfrentam diferentes questões e espelham a transformação de alguns costumes e a manutenção de outros no que se refere à condição da mulher. Vamos ficar atentos À montagem do filme, em que são intercaladas as três histórias. Às metáforas visuais e ao modo como elas ajudam a expressar o humor das personagens. Aos diferentes hábitos das personagens, que variam de acordo com o período em que elas vivem. Vamos refletir sobre o filme e buscar responder O que se pode depreender do filme a respeito da condição da mulher? Qual é o papel da memória na construção da identidade das personagens? Livro A visita cruel do tempo (Estados Unidos, 2012 Autora: Jennifer Egan O mundo do rock une os mais de dez personagens que compõem a obra. Os per sonagens contam a história em primeira pessoa ou são apresentados por um nar- rador onisciente, em capítulos que alternam o ponto de vista de um personagem para o outro. São membros de bandas, executivos do mundo musical, auxiliares de gravadoras e artistas que não tiveram a carreira de sucesso que esperavam. O livro trata da passagem do tempo e de seu poder avassalador de transformação. Vamos ficar atentos Ao procedimento narrativo, que traz pessoas distintas (primeira e terceira pes- soas) e cujo foco está em diferentes personagens. Aos diferentes estilos de escrita, em decorrência das diversas vozes que com- põem o relato. Ao papel do tempo na construção da narrativa. Vamos refletir sobre o livro e buscar responder Qual é a relação da obra com o conceito de pós-modernidade? Qual é a influência do tempo na vida dos personagens? Cartaz do filme As horas dirigido por Stephen Daldry. Capa do livro A visita cruel do tempo (2012), de Jennifer Egan. 394 ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Como vimos, o conceito de necessidade lógica implica a ideia de que algo seja de determinada forma e não possa ser diferente. Há uma obrigatoriedade de algo ser de uma maneira e não e outra, como ocorre com o teorema e Pitágoras. Em qua quer triân- quadrados dos comprimentos dos catetos (a lugar do mundo e em qualquer tempo, um triângulo retângulo apresentará essas relações de comprimento, assim como um triângulo sempre terá três lados, e a negação dessas afirmações implicará contradição. Hume não encontra essa necessidade de tipo matemáti- co nos acontecimentos a natureza ou a socie a e. Como todo dia o Sol nasce, nossa experiência indica que isso tornará a acontecer. Com toda probabilidade, o Sol nascerá amanhã, mas esse não é um evento logicamente necessário. Podemos pensar que um dia o Universo terá fim e o Sol não nascerá, e esse fato não im icará uma contradição. E, mesmo ue o Universo acabe, continuará sendo verdadeiro para um ser inteligente que qualquer triângulo tem três lados. Dito de outra forma, não é possível demonstrar, por meio da razão, a necessidade da conexão causal entre dois eventos. Apenas pela experiência unimos dois eventos distintos e estabelecemos uma relação entre eles. Isso é feito não por alguma razão necessária, mas pela força do hábito. Habituamo -nos a estabelecer uma relação causal entre dois eventos que sempre aparecem conjuntamente. A crítica de Hume abalou princípios centrais de todas as teorias do conheci- mento, o que acabou por gerar certo ceticismo. Afinal, de que se pode ter certeza sobre o mundo? De muito pouco, segundo Hume. O que existe são eventos dos quais se pode vislumbrar esta ou aquela frequência, uma ou outra relação de constância. A frequência e a constância, no entanto, não são necessárias, o que significa que os acontecimentos ou as conexões entre eventos podem ser diferentes, pois estão sujeitos ao acaso. Isso está muito distante da regularidade, da imutabilidade e da certeza que se esperava do conhecimento científico. Por que o princípio ou a ideia de causalidade é importante para a ciência? Para pensar Nasceu em Edimburgo, na Escócia. Considerado um dos pais da filosofia moderna e um dos principais artífices do pensamento iluminista, esse filósofo e historiador foi responsável por aplicar o método experimental ao estudo da mente humana. Acusado por muitos de ateísmo, não conseguiu ingressar no quadro de docentes das universi- dades escocesas. Foi bibliotecário na Faculdade de Direito e, mais tarde, obteve cargos públicos como secretário nos governos da Inglaterra e da França. Conhecido como um dos principais empiristas da história, Hume orientou seus estudos na leitura das obras de Locke e Berkeley. Suas principais obras foram o Tratado da natureza human Ensaios morais, políticos e literários e a primeira moderna História da Grã-Bretanha ume (1711-1776)David Hu C A R L O S C A M IN H A C A R L O S C A M IN H A 187 ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d i o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Limite do entendimento humano Se comparada ao pensamento de Locke e de Berkeley, a teoria de Hume apresenta um empirismo mais rigoroso. O filósofo se opunha a qualquer concepção metafísica ou ideia que buscasse explicações da realidade além da experiência sensível. Lembremo -nos e que Loc e supôs a existência e su stâncias materiais que seriam a causa as i eias simples, ou seja, admitia em sua argumentação algo que estaria além da experiência ou das ideias. Berkeley negava a existência de qualquer substância material, mas introduziu a existência de substâncias espirituais – que perceberiam as ideias – e de Deus, causa de todas as sensações. Esses elementos também ultrapassavam a experiência. Hume não aceitava nenhuma dessas explicações. Contudo, se na teoria de Hume a causa das impressões sensíveis não eram as coisas materiais e concretas,como dizia Locke, nem Deus, como afirmava Berkeley, de onde elas viriam ou como se manifestariam na mente humana? Quanto às impressões provenientes dos sentidos, sua causa última é, em minha opinião, inteiramente inexplicável pela razão humana, e será para sempre impossível decidir com certeza se elas surgem imediatamente do ob- jeto, se são produzidas pelo poder criativo da mente, ou ainda se derivam do autor de nosso ser. Tal questão, diga-se de passagem, não tem nenhuma importância para nosso propósito presente. Podemos fazer inferências par- tindo da coerência de nossas percepções, sejam estas verdadeiras ou falsas, representem elas a natureza de maneira correta ou sejam meras ilusões dos sentidos. HUME, David. Tratado da natureza humana: uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais. São Paulo: Editora Unesp/Imprensa Oficial do Estado, 2001. p. 113. Sua explicação é simples: não é possível saber. As impressões das sensações surgiriam na mente, mas sua causa seria desconhecida. A origem das impressões da sensação estaria, portanto, além da experiência e além do entendimento humano. Locke e Berkeley teriam se equivocado ao tentar explicar algo que não poderia ser explicado, pois a causa da sensação não poderia ser conhecida pelo entendimento humano. A influência das investigações científicas do século XVII Os filósofos empiristas estudados neste capítulo foram influenciados pelo desenvolvimento das ciências naturais do século XVII e início do século XVIII, responsável por fundar a ciência moderna. O modelo de in- vestigação instituído por diversos cientistas, em especial por Galileu Galilei e por Isaac Newton, baseava -se, entre outros princípios, na observação e na experimentação. Hume buscou utilizar, nas ciências humanas, essa metodologia até então bem-sucedida nas ciências naturais. Uma passagem da obra Óptica na qual Newton trata do método científico, pode explicar as características dessa metodologia: Réplica de disco de Newton do século XVII. Esse dispositivo é utilizado em demonstrações de composição de cores. Ao ser movimentado rapidamente, o disco aparenta ter a cor branca. Em suas pesquisas de ótica, Newton verificou que a luz branca era formada por uma série de cores. C O L E Ç Ã O Como na matemática, assim também na filosofia natural, a investigação de coisas difíceis pelo método de análise deve sempre preceder o método de composição. Esta análise consiste em fazer experimentos e observações, e em traçar conclusões gerais deles por indução, não se admitindo nenhuma obje- ção às conclusões, senão aquelas que são tomadas dos experimentos [...]. Pois as hipóteses não devem ser levadas em conta em filosofia experimental. NEWTON, Isaac. Óptica. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 297-298. (Coleção Os Pensadores) 185 ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d i o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . ........................................................................................................................................................................................................................................................................ Enem, vestibulares e concursos P IE T R O D E C R E S C E N Z I - M U S E U C O N D E (Enem-MEC/2015) seminada na esfera pública. A participação nas es sociais, a o sessão os selfies, tanto fa ar e ser falado quanto ser visto são índices do desejo de ‘espelhamento’. SODRÉ, Muniz. Liberdade de viver no espelho. O Estado de S. Paulo, 20 dez. 2014. Disponível em <http://alias. estadao.com.br/noticias/geral,liberdade-de-viver-no- espelho,1610001>. Acesso em 25 maio 2016. (Adaptado) A crítica contida no texto sobre a sociedade contemporânea enfatiza a prática identitária autorreferente. a dinâmica política democratizante. a produção instantânea de notícias. os processos difusores de informações. os mecanismos de convergência tecnológi- (Enem-MEC/2014) Parecer CNE/CP n. 3/2004, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa ção das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Procura-se oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afrodescendente, no sentido de polí- ticas de ações afirmativas. Propõe a divulgação e a produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial – descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação demo- crática, em que todos igualmente tenham seus direitos garantidos. BRASIL.Conselho Nacional de Educação. Disponível em <www.semesp.org.br>. Acesso em 25 maio 2016. (Adaptado) A orientação adotada por esse parecer funda- menta uma política pública e associa o princí- pio da inclusão social a práticas de valorização identitária. medidas de compensação econômica. lembrança da antiguidade da cultura local. triunfo da nação sobre os países africanos. declínio do regime de monarquia absolutista. Calendário medieval do Os calendários são fontes históricas importan- tes, na medida em que expressam a concepção de tempo das sociedades. Essas imagens com- põem um calendário medieval (1460-1475) e cada uma delas representa um mês, de janeiro a dezembro. Com base na análise do calendá rio, apreende-se uma concepção de tempo cíclica, marcada pelo mito arcaico do eterno retorno. humanista, identificada pelo controle das horas de atividade por parte do trabalhador. escatológica, associada a uma visão religio- sa sobre o trabalho. natural, expressa pelo trabalho realizado de acordo com as estações do ano. romântica, definida por uma visão bucólica (Enem-MEC/2015) Na sociedade contemporânea, onde as relações sociais tendem a reger-se por imagens midiáticas, a imagem de um indivíduo, principal- mente na indústria do espetáculo, pode agregar valor econômico na medida de seu incremento técnico: amplitude do espelhamento e da aten- ção pública. Aparecer é então mais do que ser; o sujeito é famoso porque é falado. Nesse âmbito, a lógica circulatória do mercado, ao mesmo tempo que acena democraticamente para as massas com supostos ‘ganhos distributivos’ (a informação ilimitada, a quebra das supostas hierarquias culturais), afeta a velha cultura dis- 395 e p ro d u ç ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . ........................................................................................ Atividades Sistematizando o conhecimento Ident ue as espec c dades das narrat vas da pós-modernidade, de acordo com Jean -François Lyotard. Descreva o processo de desconstrução defen- dido por Jacques Derrida. Defina o conceito de hiper-realidade. Aprofundando Leia a citação e responda às questões. Mas a moda não foi somente um palco de apreciação do espetáculo dos outros; desenca- deou, ao mesmo tempo, um investimento de si, uma auto-observação estética sem nenhum precedente. A moda tem ligação com o prazer de ver, mas também com o prazer de ser visto [...] faz dele uma estrutura constitutiva e permanen- te dos mundanos, encorajando-os a ocupar-se mais de sua representação-apresentação [...]. Primeiro grande dispositivo a produzir social e ularmente a personalidade aparente, a moda estetizou e individualizou a vaidade humana, conseguiu fazer do superficial um instrumento de salvação, uma finalidade da existência. LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu Companhia das Letras, 2009. p. 43. Defina a relação entre a moda e o efêmero. Relacione a influência da moda à fluidez do indivíduo na sociedade contemporânea, apontada por Lipovetsky. Leia o trecho citado, escrito por Lyotard, e ana- se a reprodução da obra de Eduardo Paolozz . Depois, explique por que,segundo os critérios de Lyotard, a obra de Paolozzi pode ser consi- derada kitsch O ecletismo é o grau zero da cultura geral contemporânea: ouve-se reggae, vê-se [...] usa-se perfume parisiense em Tóquio, e rou- pa retrô em Hong Kong [...]. Tornando-se kitsch a arte lisonjeia a desordem que reina no ‘gosto’ do amador. [...] faltando critérios estéticos, continua a ser possível e útil medir o valor das obras em fun ão do lucro [...]. LYOTARD, Jean-François. Resposta à pergunta: o que é o pós-moderno? In: O pós-moderno explicado às crianças correspondência 1982-1985. Lisboa: Dom Quixote, 1993. p. 19-20. Leia o trecho da entrevista de Zygmunt Ba - man e responda às questões. A diferença entre a comunidade e a rede é que você pertence à comunidade, mas a rede per tence a você. [...] nas redes, é tão fácil adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são necessárias. [...] As redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvér sia… Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som ue escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. QUEROL, Ricardo de. Zygmunt Bauman: “As redes sociais são uma armadilha”. El País an. 2016. Cultura. Disponível em <http://brasil.elpais.com/ brasil/2015/12/30/cultura/1451504427_675885.html>. Acesso em 26 maio 2016. Identifique as diferenças entre a comunida- de e as redes sociais. Por que as redes sociais podem atuar como empecilho ao diálogo? Valendo-se da leitura do trecho a seguir e com base em seus conhecimentos, elabore um tex- to dissertativo-argumentativo utilizando a es- crita formal da l ngua portuguesa sobre o tema A condição dos refugiados: a perda dos direi- tos e da identidade A calamidade dos que não têm direitos não decorre do fato de terem sido privados da vida, da liberdade ou da procura da felicidade, nem da igualdade perante a lei ou da liberdade de opinião [...], mas do fato de já não pertencerem a qualquer comunidade. ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo Companhia das Letras, 1989. p. 327. T R U S T E E S O F T H E P A O L O Z Z I F O U N D A T IO N /A U T V IS , B R A S IL , 2 0 1 6 . B R ID G E M A N I M A G E S /K E Y S T O N E B R A S IL - C O L E Ç Ã O P Pilha ex erimental zero energia volume (1970), obra de Eduardo Luigi Paolozzi. 375 ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Palavra de filósofo Liberdade e responsabilidade Neste trecho, retirado da obra O ser e o nada, o filósofo Jean-Paul Sartre discorre sobre a liberdade e a responsabilidade que ela acarreta, já que o sujeito não pode simplesmente atribuir suas ações a algo externo a ele. A consequência essencial de nossas observações anteriores é a que o homem, estando condenado a ser livre, carrega nos ombros o peso do mundo inteiro: é responsável pelo mundo e por si mesmo enquanto maneira de ser. Tomamos a palavra ‘responsabilida- de’ em seu sentido corriqueiro de ‘consciência [de] ser o autor incontestável de um acontecimento ou de um objeto’. Nesse sentido, a responsabilidade para-si é opressiva, já que o para-si é aquele pelo qual se faz com que haja um mundo, e uma vez que também é aquele que se faz ser, qualquer que seja a situação em que se encontre, com seu coeficiente de adversidade próprio, ainda que insuportável; o para-si deve assumi-la com a consciência orgulho- sa de ser o seu autor, pois os piores inconvenientes ou as piores ameaças que prometem atingir minha pessoa só adquirem sentido pelo meu próprio pro- jeto; e elas aparecem sobre o fundo de comprometi- mento que eu sou. ortanto, é insensato pensar em queixar-se, pois nada alheio determinou aquilo que sentimos, vivemos ou somos. [...] Além disso, tudo aquilo que me acontece é meu; deve-se entender por isso, em primeiro lugar, que estou sempre à altura do que me acontece, enquanto homem, pois aquilo que acontece a um homem por outros homens e por ele mesmo não poderia ser senão humano. [... As- sim, não há acidentes em uma vida; uma ocorrência comum que irrompe subitamente e me carrega não provém de fora; se sou mobilizado em uma guerra, esta guerra é minha guerra, é feita à minha imagem e eu a mereço. Mereço-a, primeiro, porque sempre poderia livrar-me dela [...] pela deserção [...]. Por ter deixado de livrar-me dela eu a escolhi; pode ser por fraqueza, por covardia frente à opinião pública, por- que prefiro certos valores ao valor da própria recu- sa de entrar na guerra (a estima de meus parentes, Pensando o texto Explique a afirmação de Sartre de que o sujeito “carrega nos ombros o peso do mundo inteiro”. Por que um indivíduo poderia ser responsabilizado por uma guerra da qual o Estado o obrigasse a participar? Partindo do existencialismo sartriano, em que medida alguém responsável por sua vida? Você concorda com isso? Justifique. Para-si: o ser da consciência, o sujeito que busca constituir-se projetando-se no futuro ou no nada (o que ainda não é). Difere do em-si: o que é, as coisas do mundo que aparecem para nós. Carrear: guiar, conduzir. a honra de minha família etc.). De qualquer modo, trata-se de uma escolha. Essa escolha será reiterada depois, continuamente, até o fim da guerra; portan- to, devemos subscrever as palavras de J. Romains: ‘Na guerra, não há vítimas inocentes’. Portanto, se preferi a guerra [...] tudo se passa como se eu carreasse inteira responsabilidade por essa guerra. Sem dúvida, outros declararam a guerra, e eu ficaria tentado, talvez, a me considerar simples cúmplice. Mas esta noção de cumplicidade não tem mais do que um sentido jurídico; só que, neste caso, tal sentido não se sustenta, pois de mim dependeu o fato de que esta guerra não viesse a existir para mim e por mim, e eu decidi que ela existisse. Não houve coerção alguma, pois a coerção não poderia ter qualquer domínio so- bre a liberdade; não tenho desculpa alguma, porque, como dissemos e repetimos nesse livro, o próprio da realidade-humana é ser sem desculpa. Só me resta, portanto, reivindicar esta guerra como sendo minha. [...] Assim, sou esta guerra que demarca e torna compreensível o período que a antecedeu. Nesse sentido, de forma a definir com maior nitidez a res- ponsabilidade do para-si, é necessário [...] acrescen- tar esta outra [fórmula]: ‘Cada qual tem a guerra que merece’. Assim, totalmente livre, indiscernível do período cujo sentido escolhi ser, tão profundamente responsável pela guerra como se eu mesmo a houves se declarado, incapaz de viver sem integrá-la à minha situação, sem comprometer-me integralmente nes sa situação e sem imprimir nela a minha marca, devo ser sem remorsos nem pesares, assim como sou sem desculpa, pois, desde o instante de meu surgimento ao ser, carrego o peso do mundo totalmente só, sem que nada nem ninguém possa aliviá-lo. SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 678-680. 271 R e p ro d u ç ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 A seção Atividade apresenta questões que ajudam a sistematizar o conhecimento adquirido ao longo do capítulo e a desenvolver habilidades e competências inerentes ao filosofar. A seção Palavra de filósofo é dedicada a um escrito da tradição filosófica com questões que auxiliam a compreensão dele. Os Boxes complementares apresentam informações adicionais ao texto, ampliando os conhecimentos sobre assuntos tratados no capítulo. O boxe Para pensar propõe questões relacionadas ao assunto estudado ampliando a reflexão sobre ele. Ao final de cada unidade: No boxe Biografia apresenta-se um breve resumo da trajetória intelectual dos filósofos estudadoscom o objetivo de auxiliar a compreensão dos rumos reflexivos seguidos por eles. Na seção Ampliando, propostas de trabalho com filmes e textos de diferentes gêneros ampliam a reflexão sobre os temas estudados, desenvolvem a compreensão leitora de diversas linguagens e a leitura filosófica de registros não filosóficos. Na seção Enem, vestibulares e concursos são apresentadas questões do Enem e dos principais vestibulares e concursos do país para testar conhecimento e se familiarizar com o formato das provas. Sumário As estranhas coisas familiares 10 INTRODUÇÃO O que é filosofia? O pensamento reflexivo e a nossa vida O estranhamento diante da realidade ..................................12 Nós e a filosofia ......................................................................14 Racionalidade: um bem comum, 15 / A centelha da filosofia é comum a todos, 16 / Múltiplas possibilidades do viver reflexivo, 17 Amor pelo saber ....................................................................18 Atitude crítica ........................................................................19 Atitude reflexiva ................................................................... 0 Investigação conceitual .........................................................21 Investigação rigorosa, 22 Problemas e dinâmica da filosofia ........................................22 Filosofia e filosofias ...............................................................23 Há unidade entre as filosofias?, 24 / As áreas de estudo da filosofia, 24 Filosofia: origem oriental ou “milagre grego”? ................... 25 Palavra de filósofo: René Descartes – Filosofia: a busca da sabedoria ....................................... 26 Atividades .............................................................................27 Ampliando ............................................................................ 29 Enem, vestibulares e concursos .......................................... 30 UNIDADE O que é? 321 1CAPÍTULO O que é isso? O ser e a ética Espanto e dom nio................................................................. 34 A unidade e a variabilidade da natureza ..............................35 O pensamento mítico ............................................................ 36 Filosofia: a busca pela explicação racional das coisas ....... 38 A tentativa de solução racional do problema do uno e do múltiplo, 39 / Os filósofos pluralistas, 40 / A novidade do pensamento filosófico, 41 A ciência como instrumento de domínio da natureza ........ 42 Dominação cega, 44 Pensando sobre os problemas ambientais .......................... 45 Repensando a relação entre o ser humano e a natureza, 46 / Mais reflexões e outras ações, 48 Palavra de filósofo: Hannah Arendt – Terra: a base da condição humana ............................... 49 Atividades ............................................................................. 50 2CAPÍTULO O que são valores? A reflexão sobre o ser humano Os robôs precisam de regras? ...............................................51 Investigando o ser humano e seus valores...........................52 O que é o ser humano, 53 / O diálogo: o filosofar socrático, 54 Existe só uma verdade? ........................................................ 56 A retórica e a verdade, 58 / Relativismo e absolutismo moral, 59 / É possível construir uma terceira via?, 60 Os direitos humanos universais .......................................... 62 Universalidade e diferença, 64 Sociedade contemporânea: uma fábrica de problemas éticos .............................................................. 66 Palavra de filósofo: Platão – A justiça e as aparências ..... 68 Atividades ............................................................................. 69 3CAPÍTULO O que é realidade? A descoberta do mundo suprassensível A escolha de Neo ....................................................................71 O que existe? ...........................................................................72 A aparência e a essência, 73 O movimento é a essência da natureza ................................74 Logos: a razão que governa o mundo, 75 A explicação racional da realidade .......................................7 O ser eterno e imutável de Parmênides, 76 A realidade suprassensível de Platão ...................................79 O aparente e o essencial, 80 / O mundo inteligível, 81 Crítica à metafísica ..................................................................82 O falso é o mundo-verdade, 84 Palavra de filósofo: Pla ã – Alegoria da caverna ............ 86 Atividades ............................................................................. 88 4CAPÍTULO O que é essência de algo? O conhecimento das causas Causa, ser e acontecer .......................................................... 90 A explicação aristotélica da realidade................................. 92 Ciência: conhecimento das causas, 93 / O necessário e o contingente, 94 / A essência para Aristóteles, 95 / Causa material e causa formal, 96 / Causa eficiente e causa final,97 O ato e a potência, 98 A estruturação das ciências ..................................................... 99 A filosofia primeira, 100 / A prática humana: ética e política, 101 Essencialismo e antiessencialismo ....................................103 A essência humana é social, 104 / A existência precede a essência, 105 Palavra de filósofo: Aristóteles – A cidade faz parte das coisas da natureza ............107 Atividades ............................................................................108 5CAPÍTULO O que é felicidade? A busca da paz interior Todos buscam a felicidade ................................................... 111 A busca pela paz interior .....................................................112 A vida cínica: indiferença diante de tudo, 114 / Epicuro: os prazeres e a felicidade, 115 / Estoicismo: a virtude como vida racional, 118 / Ceticismo: investigação e dúvida, 120 s problemas da felicidade .................................................122 A felicidade é uma quimera, 122 / Felicidade e satisfação dos instintos, 124 / Felicidade e consumo, 126 Palavra de filósofo: Sêneca – Como enfrentar a n el c dade ......................................128 Atividades ............................................................................129 6CAPÍTULO O que é Deus? A filosofia cristã “Se Deus não existe, tudo é permitido” ............................... 131 A filosofia do fim da Antiguidade à Idade Média ................132 Do cristianismo à filosofia cristã, 132 / Antecedentes místicos e religiosos da filosofia grega, 134 / O médio platonismo e o neoplatonismo, 135 Patrística: racionalização da fé ...........................................1 O combate à filosofia, 136 Agostinho: a filosofia e a procura de Deus .........................137 Deus, o ser verdadeiro, 138 / Deus criou o mal?, 138 / Viver segundo a carne ou segundo o espírito?, 139 / O logos se fez carne, 140 Escolástica: a filosofia das escolas cristãs ......................... 141 As primeiras universidades, 141 / As traduções e a redescoberta de Aristóteles, 142 Filosofia tomista: a unidade entre a razão e a f ................143 As comprovações da existência de Deus, 144 / A busca do bem e o livre-arbítrio, 145 Livre-arb rio ou determinismo? ........................................146 Deus: uma criação humana .................................................147 Teologia é antropologia, 148 / A religião é o ópio do povo,149 / Deus está morto, 149 Palavra de filósofo: Agostinho – A luta das vontades ....... 151 Atividades ............................................................................152 Ampliando ...........................................................................154 Enem, vestibulares e concursos .........................................155 UNIDADE O que podemos conhecer?1562 7CAPÍTULO O que conhecemos pela razão? O racionalismo e a busca pelo conhecimento seguro e verdadeiro A matemática como modelo para a ciência ........................158 A razão é a origem do conhecimento ..................................159 ar a dúvida m di a ............................................160 A substância pensante e a substância extensa .................. 161 A substância infinita e o inatismo, 162 / O mundo é uma máquina, 163 / O ser humano e o problema corpo-mente, 163 Espinosa: existe apenas uma substância, Deus .................164 Necessidade geométrica, 165 / Livre-arbítrio e liberdade, 166 Leibniz: as verdades da razão e as verdades de fato ..........167 Princípio da razão suficiente, 168 Críticas às filosofias racionalistas ......................................170 A ilusão da razão, 170 / Oposição ao inatismo, 172 / O tecnicismo cartesiano, 173 Palavra de filósofo: René Descartes – A importância do método ...........................................175 Atividades ...........................................................................176 8CAPÍTULO O que conhecemos pelos sentidos? Os filósofos empiristas O corpo e a percepção ..........................................................178 Locke: a experiência é a base do conhecimento .................179 Qualidades primárias e secundárias, 180 / Ideias e realidade, 180 / A existência das coisas exteriores, 181 Berkeley: ser é ser percebido ..............................................182 Os seres espirituais e a causa das ideias, 183 Hume: as impressões sensíveis e a natureza humana .......184 Limite do entendimento humano, 185 / Crítica ao princípio de causalidade, 186 O empirismo e a ciência .......................................................188 A observação é fiel à realidade?, 188 / Do particular das percepções ao universal da ciência: o problema da indução, 190 / Raciocínio indutivo e dedutivo, 190 / O caso hipotético do Mysterium cattus, 191 Palavra de filósofo: David Hume – A ciência da natureza humana como fundamento para a ciência em geral .................................1 Atividades ............................................................................193 9CAPÍTULO Como organizamos o conhecimento? A filosofia crítica ou transcendental As condições de nosso conhecimento .................................194 Investigando a razão ............................................................195 O despertar do sono dogmático, 196 / Conhecimento a priori e a posteriori, 197 / A experiência é um composto, 198 / Possibilidades e limites do conhecimento humano, 201 Fim da metafísica clássica...................................................201 Razão, autonomia e liberdade ............................................ 202 A universalidade do belo .................................................... 204 Críticas à filosofia transcendental ..................................... 206 O problema da coisa em si, 206 A Vontade além da razão .................................................... 208 A Vontade é irracional, 210 Arte como criação ................................................................210 A arte e os impulsos instintivos, 211 Palavra de filósofo: Immanuel Kant – O que é Esclarecimento? .............................. 1 Atividades ............................................................................214 10CAPÍTULO O que é sociedade moderna? Os direitos humanos Os direitos dos presos ..........................................................216 A teoria política anterior a Maquiavel ................................217 As exigências da política .....................................................218 Melhor ser temido que amado, 219 / A relação entre virtude e destino, 220 / As controvérsias em torno de Maquiavel, 220 Sumário O contrato social e as bases do Estado moderno ...............221 Hobbes: o estado de natureza, 221 / Locke: a sociedade civil organizada, 224/ Rousseau: o acordo entre iguais, 226 / Montesquieu: os Três Poderes, 228 O Estado e o poder .............................................................. 229 Liberalismo e Estado, 229 / O Estado de bem-estar social, 230 / O Estado neoliberal, 231 Palavra de filósofo: John Locke – Locke e a sociedade política ............................................232 Atividades ............................................................................233 11CAPÍTULO O que é sociedade capitalista? O Estado como fonte de desenvolvimento e opressão O Estado capitalista e nossa vida ....................................... 235 O positivismo ou a física social .......................................... Controle dos conflitos sociais e progresso, 237 / Os três estágios do desenvolvimento humano, 238 / A ordem positiva, 239 / Uma nova religião, 240 Marx e Engels e o materialismo histórico ......................... 240 Trabalho capitalista: valor e alienação ..............................242 Mais-valia: trabalho excedente não pago, 243 / Alienação humana, 243 O Estado capitalista e o comunismo .................................. 244 Sociedade sem classes e sem Estado 245 Estado totalitário ............................................................. 246 O mito do Estado, 247 / O sistema totalitário, 249 / As armas contra o totalitarismo 251 Palavra de filósofo: Karl Marx e Friedrich Engels – Rebelião contra o governo dos pensamentos ......................................252 Atividades ........................................................................... 253 12CAPÍTULO O que é liberdade? Poder e controle da expressão humana A escravidão no Brasil e a luta pela liberdade .................. 255 Os filósofos iluministas e a liberdade ................................ 256 O poder da razão humana, 256 / Liberdade: seguir o juízo da razão, 257 / A liberdade na Enciclopédia, 258 O ser humano está condenado a ser livre ..........................261 O indivíduo se faz a si, 262 Liberdade encarnada ...........................................................263 Política: o campo de manifesta ão da liberdade .............. 264 Somos livres? ...................................................................... 266 Disciplina e biopoder, 266 / Sociedade de controle, 269 Palavra de filósofo: Jean-Paul Sartre – Liberdade e responsabilidade ...............................271 Atividades ............................................................................272 Ampliando ...........................................................................274 Enem, vestibulares e concursos .........................................275 UNIDADE Qual é o sentido das coisas? 2763 13CAPÍTULO O que podemos entender? O pensamento e o sentido Os mundos das palavras .....................................................278 O problema da linguagem ...................................................279 Frege: sentido e referência ................................................. 280 O valor objetivo do sentido e o valor subjetivo da representação, 281 / Análise da linguagem e do pensamento, 282 Russell: clareza da análise lógica .......................................282 Conhecimento por familiaridade e por descrição, 283 / Teoria das descrições, 284 Moore: a refutação do idealismo e o apelo ao senso comum ..............................................................................286 Filosofia e linguagem comum, 286 Wittgenstein: dizer as coisas claramente ou calar ........... 288 Relação entre linguagem e mundo, 289 O Círculo de Viena e o positivismo lógico .......................... 290 Empirismo e análise lógica da linguagem, 290 Os múltiplos sentidos da linguagem .................................. Jogos de linguagem, 292 Palavra de filósofo: Gottlob Frege – Pensamento, ideia e coisas sensíveis ............................... 294 Atividades ........................................................................... 295 14CAPÍTULO Como podemosargumentar? Lógica e argumentação A redução da maioridade penal ..........................................297 O que é l ica ...................................................................... 298 A pérola falsa, 298 / Raciocínios, argumentos e proposições, 299 Tipos de raciocínio ou argumento ...................................... Falácias: argumentos incorretos, 302 A lógica aristotélica ............................................................ 304 Os três princípios lógicos, 304 / Silogismo, 305 / Lógica formal, 306 / As proposições da lógica aristotélica, 307 A lógica simbólica ............................................................... 309 Sistemas lógicos, 310 / Formalização mais rigorosa, 310 Proposições e valores de verdade .......................................31 Conectivos lógicos, 313 / Cálculo proposicional e tabelas de verdade, 314 A evolução da lógica e as lógicas não clássicas .................316 Palavra de filósofo: Rudolf Carnap – O emprego do simbolismo na lógica ........................ 317 Atividades ............................................................................318 15CAPÍTULO Qual é o sentido da vida? A consciência e a existência humana A vida em ul amento ..........................................................320 A fenomenologia: a ciência das essências ..........................321 Intuição de fatos e essências, 322 / Os diversos reinos das essências, 322 / A consciência é intencionalidade, 323 Existencialismo: o indivíduo e a existência humana..........323 Kierkegaard: olhando a existência concreta dos indivíduos, 324 / Heidegger e o sentido do ser, 327 A vida da mulher, 331 Não se nasce mulher, 332 / A existência da mulher brasileira, 334 Palavra de filósofo: Albert Camus – A existência e o ab urdo ........................................335 Atividades ............................................................................336 16CAPÍTULO O que é ciência? O conhecimento científico moderno e o contemporâneo A aventura da ciência ...........................................................338 A ciência moderna e seus antecedentes .............................339 O Universo hierarquizado, 339 / O Motor Imóvel, 340 / Galileu e o desenvolvimento da ciência moderna, 340 / A geometrização do Universo, 343 / Newton e a simplificação do Universo, 344 / A descrição matemática das causas físicas, 346 A ciência contemporânea e o estranho comportamento quântico ...................................................347 O mundo pequeno não funciona como o grande, 348 Afinal, o que é ciência? ........................................................ 349 Popper e o falsificacionismo, 350 / Kuhn e os paradigmas científicos, 351 / Feyerabend: contra o método, 353 Palavra de filósofo: Galileu Galilei – Ciência e fé ............ 355 Atividades ........................................................................... 356 17CAPÍTULO Quem é o indivíduo da sociedade contemporânea? Fim dos grandes relatos e a busca de identidade Em busca de nossa identidade ........................................... Identidade e sociedade ....................................................... 359 Múltiplas identidades na sociedade contemporânea, 360 A filosofia pós-moderna ..................................................... 360 Lyotard: as narrativas modernas e pós-modernas, 361 / Derrida e a desconstrução do logocentrismo, 363 / Deleuze: a experimentação de novos modos de vida e de pensamento, 365 / Lipovetsky: o predomínio do efêmero, 366 O mundo pós-moderno ...................................................... 366 O mundo de informações e a fragmentação da realidade, 368 / Fábrica de desejos e consumo obsessivo, 368 / O afastamento da realidade: império da imagem, 369 As identidades flutuam no ar ..............................................370 A complexa tarefa de criar uma identidade .......................371 A negação da identidade, 372 Palavra de filósofo: Gilles Lipovetsky – Tempo sobre o tempo ............................................. 374 Atividades ............................................................................375 18CAPÍTULO O que é tempo? O conceito de tempo na filosofia As águas inflamáveis do tempo ..........................................376 O tempo objetivo e o tempo subjetivo .................................377 O minuto da história humana, 378 / A temporalidade, 378 Os olhares de Platão e Aristóteles sobre o eterno e o temporal ........................................................................ 380 Santo Agostinho e a problemática do tempo .....................382 Onde estão o passado e o futuro?, 382 Bergson: consciência e tempo ............................................ 383 Tempo vivido, 384 Heidegger: a temporalidade do ser-aí ............................... 385 As dimensões do tempo e a existência, 386 O tempo contemporâneo .....................................................387 O tempo e o processo de produção, 388 / O empobrecimento da experiência, 389 / O fim da utopia, 390 / A hiperaceleração do tempo não é o fim da temporalidade, 390 Palavra de filósofo: Henri Bergson – O passado presente ............................................392 Atividades ........................................................................... 393 Ampliando .......................................................................... 394 Enem, vestibulares e concursos ........................................ 395 Bibliografia ....................................................................... 396 Passamos a vida conhecendo pessoas e coisas. Continuamente nos perguntamos sobre o mundo que nos cerca e sobre nós mesmos, tentando entender o que nos intriga. Em determinados momentos, podemos ter a impressão de que não é possível conhecer tudo o que desejamos ou de que aquilo que acreditávamos saber se mostrou um engano. Somos tomados pela sensação de que nossas percep- ções podem nos enganar, assim como ocorre quando observamos a escultura CloudGate (2006), reproduzida ao lado, que distorce a realidade a sua volta. Para Aristóteles, todas as pessoas naturalmente tendem ao saber e amam as sensações, pois estas proporcionam conheci- mento. De fato, as primeiras percepções que temos do mundo que nos cerca despertam em nós admiração e curiosidade, isto é, desejo de saber. O conhecimento, além disso, é fundamental para nossa so- brevivência. Aprendemos técnicas agrícolas para nos alimentar melhor. Conhecemos as leis da física para, entre outros aspectos, construir moradias e nos abrigar das intempéries da natureza. É por meio do conhecimento que satisfazemos nossas necessidades e, ao mesmo tempo, nos fazemos humanos. Nesta uni a e, estu aremos os i óso os que tiveram como preocupação principa o con ecimento. Boa parte a re exão so re esse assunto foi feita entre a Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea, por isso esse período foi chamado por alguns es- pecialistas deEpistemológico Episteme, em grego, significa “co- nhecimento” e denominava, na filosofia clássica, o conhecimento verdadeiro, que se opunha às opiniões irrefletidas. As reflexões dos filósofos desse período giravam em torno da pergunta: quais são as possibilidades e os limites do conhecimento humano? O período Epistemológico caracterizou-se, ainda, por impor- tantes reflexões sobre a política e a sociedade, que também serão estudadas nesta unidade. U N ID A D E 2 O que podemos conhecer? 156 RR P O O A N IS H //AAA U T V ISISS B RRR A S IL A S I A , 2 0 1 6 . RR A Y M OO A Y A N D B N D B O Y D /G E G E GG T T T TT YY M A M A M A M A GGG E S E S Cloud Gate (2006), escultura de aço de Anish Kapoor, em Chicago, Estados Unidos. Foto de 2013. A escultura reflete o seu entorno, distorcendo-o. Capítulo 7 O que conhecemos pela razão? O racionalismo e a busca pelo conhecimento seguro e verdadeiro. Capítulo 9 Como organizamos o conhecimento?A filosofia crítica de Kant e os limites do conhecimento. Capítulo 11 O que é sociedade capitalista? As concepções positivista e marxista de Estado; o Estado do bem-estar social; o neoliberalismo. Capítulo 8 O que conhecemos pelos sentidos? O empirismo e o conhecimento fundamentado nas sensações. Capítulo 10 O que é sociedade moderna? O realismo político e o jusnaturalismo; o liberalismo. Capítulo 12 O que é liberdade? A liberdade política; as relações de poder; o totalitarismo. 157 CA PÍ TU LO 7 O que conhecemos pela razão? O racionalismo e a busca pelo conhecimento seguro e verdadeiro Fábricas (1926), pintura de Franz Wilhelm Seiwert. B R ID G E M A N M A G E S /K E Y S T O N E B R A S IL - G A L E R IA D E A R T E D E H A M B U R G O A matemática como modelo para a ciência “A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o Universo), que não se pode com- preender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras; sem eles nós vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto.” GALILEI, Galileu. O ensaiador. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 46. (Coleção Os Pensadores) A matemática é um elemento importante na pintura do artista alemão Franz Wilhelm Seiwert, reproduzida abaixo, na qual se destacam as formas geométricas. Círculos, quadrados, retângulos e trapézios são utilizados para moldar a estrutura das fábricas e dos operários. O texto de Galileu, por sua vez, também põe em evidência a linguagem matemática, definindo-a como o instrumento por meio do qual o ser humano pode fazer a leitura do mundo, isto é, conhecer o Universo. As pa avras e Ga i eu estacam a importância a matemática na ciência mo erna. Por meio e órmu as e números, a apresentação as proposições torna-se sintética, c ara e e áci apreensão. A inguagem matemática apresenta e eva o grau e o jetivi a e, pois os seus resu ta os não variam e acor o com interpretações. As a irmações matemáticas têm ain a va i a e universa ; por isso, suas órmu as e sentenças são as mesmas em to- dos os lugares do mundo. Em outras palavras, “2 + 2 = 4” é uma sentença verdadeira em qua uer parte, e to o ser umano, por ser ota o e razão, a mite isso sem controvérsia. Por to os esses motivos, o con ecimento matemático constitui um mo e o para a ciência. Reflita Reúna-se com alguns colegas para discutir as questões. 1. Galileu defende a ideia de que o Universo pode ser compreendido pela linguagem matemática. Vocês concordam com essa ideia? 2. Como podemos saber se as afirmações abaixo são verdadeiras? a) capa este caderno é ver- de. b) 3 4 5 8. 158 R e p ro d u ç ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Descobrindo a tradição A razão é a origem do conhecimento “Mas quanto à verdade certa, nenhum homem a conheceu Nem vai conhecê-la; nem dos deuses Nem de todas as coisas de que falo. E mesmo se por sorte proferisse A verdade perfeita, ele mesmo não a conheceria, Pois tudo é apenas uma urdida teia de conjecturas.” Xenófanes. In: POPPER, Karl. O mundo de Parmênides São Paulo: Editora Unesp, 2014. p. 100. No texto acima, o filósofo Xenófanes de Cólofon (c. 570-475 a.C.) expressa uma po- sição cética em relação ao conhecimento. Ele declara que nenhum ser humano conheceu a verdade, nem irá conhecê-la, pois, mesmo que por acaso entrasse em contato com ela, não saberia distingui-la. As ideias e as teorias humanas não passariam de conjecturas. Será mesmo assim? Nunca poderemos afirmar que o conhecimento humano é ver- dadeiro? E a ciência, não é um conhecimento relativamente seguro? Esses são alguns dos problemas que se desdobram das afirmações céticas. Para os céticos, nenhum método de investigação é confiável para obter conhecimento verdadeiro, cabendo ao filósofo duvidar e investigar continuamente. As verdades matemáticas, orém, arecem in uestionáveis. Na maioria dos casos, sem muita polêmica, todos aceitam suas conclusões ou afirmações. Ninguém discute se 4 é a raiz uadrada de 16, se 9 é múlti lo de 3, se 100 é o resultado da subtração 150 50, se o quadrado tem quatro lados ou, ainda, se o resultado da soma dos ângulos de um triângulo euclidiano é 180°. As afirmações matemáticas parecem ser um conhecimento seguro. Além disso, para comprovar as verdades matemáticas basta raciocinar. Raciocinando, sabe- mos que o resultado da soma de duas unidades com duas unidades é igual a quatro unidades. Isso significa que, por meio da razão, o ser humano pode obter conhecimento seguro? Alguns filósofos do século XVII afirmariam que sim. Eles ficaram conhecidos como racionalistas, pois defenderam a ideia de ue a razão é a ori em ou a fonte de conhecimento se uro. En r esses filósofos, destacaram-se René Descartes, Baruch de Es inosa e Gottfried Leibniz. Filósofo em meditação (1632), pintura de Rembrandt. Essa tela pode ser interpretada como um símbolo da confiança na razão, tema constante durante a Modernidade. Observe que a luz que ilumina o filósofo é mais forte que a emanada pela fogueira, representação do poder do conhecimento. As escadas, por sua vez, podem ser indicadoras do árduo caminho em dire ão ao saber. R E M B R A N D T H A R M E N S Z O O N V A N VV R IJ N - M U U D O L U V R E , A R IS 159 R e p ro d u ç ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Descobrindo a tradição Descartes e a dúvida metódica Para o filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650), a ciência precisava fundamentar-se em conhecimento verdadeiro e seguro. Ele procurou estabelecer regras racionais e passos metodológicos para atingir um conhecimento claro, distinto e inques- tionável, ou seja, que não pudesse ser posto em dúvida. Afinal, tudo o que era duvidoso não pertencia ao campo da ciência. “[...] vários juízos apressados nos impedem agora de alcançar o conhe- cimento da verdade, e, de tal maneira nos tornam confiantes, que não há sinal aparente de que deles nos possamos libertar se não tomarmos a iniciativa de duvidar, uma vez na vida, de todas as coisas em que encon- trarmos a mínima suspeita de incerteza.” DESCARTES, René. Princípios da filosofia. 4. ed. Lisboa: Guimarães, 1989. p. 51. Descartes quis dizer com esse texto que, para desenvolver uma investigação rigorosa a fim de alcançar princípios gerais de conhecimento certo e seguro, é necessário duvidar de todas as coisas que, mesmo minimamente, despertem incerteza. Não se pode confiar nas crenças e nas tradições, pois nelas as ideias e as concepções não passam pelos crivos da razão e da reflexão criteriosa, ou seja, não são submetidas à investigação racional; constituem apenas reprodução de opiniões antigas. A filosofia escolástica também não era o campo da certeza; estava perpassada de polêmicas que não conduziam a uma conclusão satisfatória e sujeita, portanto, a dúvidas. Conforme o pensamento de Descartes, também não podemos considerar seguro o co- nhecimento adquirido por meio dos sentidos, pois muitas vezes os órgãos dos sentidos nos enganam. Devemos desconfiar até mesmo das demonstrações matemáticas, embora suas verdades pareçam evidentes, pois pode ser que nos equivoquemos raciocinando sobre elas. Então o conhecimento verdadeiro é impossível, como defendiam os céticos? De que certeza podemos partir para iniciar uma investigação científica? “Enquanto desta maneira rejeitamos tudo aquilo de que podemos du- vidar, e que simulamos mesmo ser falso, supomos, facilmente, que não há Deus, nem Céu, nem Terra, e que não temos corpo.Mas não poderíamos igualmente supor que não existimos, enquanto duvidamos da verdade de todas as coisas: porque, com efeito, temos tanta repugnância em conceber que aquele que pensa não existe verdadeiramente ao mesmo tempo que pensa que, apesar das mais extravagantes suposições, não poderíamos impedir-nos de acreditar que esta inferência eu penso logo existo, não seja verdadeira e, por conseguinte, a primeira e a mais certa que se apre- senta àquele que conduz os seus pensamentos em ordem.” DESCARTES, René. Princípios da filosofia. 4. ed. Lisboa: Guimarães, 1989. p. 55. Frank & Ernest (2007), tirinha de Bob Thaves. Na tirinha, é retomada a afirmação cartesiana “Penso, logo existo” para ironizar o personagem Ernie, que estaria “desaparecendo” por, supostamente, não pensar. F R A N K & E R N E S T, B B V AA E S © 2 0 0 7 T H A V AA E S /D IS T B Y U N IV E R S A L U C L IC K (C ) 2 0 0 7 T H A V E S /D S T B Y N E A N C 160 R e p ro d u ç ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Podem-se questionar ideias ou representações advindas da tradição, da especulação teórica ou dos sentidos; pode-se duvidar da verdade deste ou daquele conteúdo da mente; enfim, pode-se questionar tudo o que existe ou que se pensava existir – Deus, Céu, Terra ou corpo. Só uma coisa não pode ser questionada: quem duvida, cogita e questiona é um ser que pensa e, portanto, existe como ser pensante. É esse o sentido da conhecida frase latina: Cogito ergo sum (“Penso, logo existo”). A primeira certeza – ou o ponto de partida para o conhecimento verdadeiro – é a de que, se duvido, penso e, se penso, sou ou existo como ser pensante. Tudo o que é conhecido com a mesma clareza e distinção dessa primeira certeza é verdadeiro. O fundamento do conhecimento verdadeiro está no su eito ensante ou no ensamento. A substância pensante e a substância extensa A primeira certeza de Descartes é a existência de um ser pensante. Mas o que é pen- sar para ele? É imaginar, compreender, querer, sentir, perceber, enfim, tudo o que ocorre nos indivíduos e que estes percebem imediatamente. Pensar é uma atividade da alma – também denominada intelecto ou razão – e dela vem todo o conhecimento humano. “Agora não admito nada que não seja necessariamente verdadeiro: portanto, eu sou, por precisão, apenas uma coisa pensante, isto é, um es- pírito, ou uma alma, ou um intelecto, ou uma razão, termos cujas significa- ções ignorava antes. Porém, sou uma coisa verdadeira e verdadeiramente existente. Mas que espécie de coisa? Já o disse, uma coisa pensante.” DESCARTES, René. Meditações sobre a filosofia primeira Coimbra: Almedina, 1992. p. 122-123. Descartes declara que, entre as coisas criadas por Deus, há, antes de tudo, a substância pensante, fundamento do conhecimento humano e responsável por todas as ações do intelecto. Mas e as coisas materiais, como os cor os, são meras fantasias? Só existem na realidade do pensamento? Os cor os existem, orém não como a arecem aos sentidos. Um exem lo utilizado elo ró rio filósofo ode facilitar nossa com reensão sobre sua teoria a res eito dos corpos ou das coisas materiais: imaginemos um pedaço de cera recém-tirado de um favo. A doçura do mel e o aroma são intensos. A cera é fria, tem cor viva e apresenta forma consistente. Mas, se for aproximada ao fogo, seu sabor e consistência mudam, torna-se líquida; ou seja, ela esquenta e seu aroma se dissipa. O que subsiste da cera? Como posso afirmar que, apesar de todas as mudanças, ela ainda é cera ou mel? Se não é o sabor, a forma, a cor, o que determina sua essência? Segundo esse exemplo, a realidade das coisas materiais não está no sabor, na cor, na textura ou em qualquer outra qualidade apreendida pelos órgãos dos sentidos. A expe- riência sensorial não permite o conhecimento claro e preciso. Só a razão pensante pode expressar o verdadeiro mundo exterior. E o que caracteriza as coisas corporais, como um pedaço de cera, um caderno ou uma árvore? Diferentemente da substância pensante, as coisas corporais ocupam lugar no espaço e são divisíveis. Elas apresentam extensão, pois tudo o que é corpóreo tem comprimento, largura e profundidade. É possível pensar em algo que seja corporal e não tenha extensão? Pode-se imaginar uma coisa material sem cor, sem cheiro e sem sabor, mas não sem ex- tensão. Sem esse fundamento básico, a coisa corporal não existiria. No âmbito das coisas criadas por Deus, haveria, além da substância pensante, a substância extensa. Essas duas essências, a pensante e a extensa, abarcariam tudo o que existe. Essa é a base do dualismo de Descartes. Abelhas em favos de mel. Para Descartes, as diferenças observadas entre um favo e o mel líquido são exemplos de que a realidade das coisas materiais é determinada por sua extensão, e não por suas qualidades apreendidas pelos sentidos. K O S T IA N T Y N K R A V AA C H E N K O /S H U T T E R S T O C K 161 R e p ro d u ç ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Descobrindo a tradição A substância infinita e o inatismo Como vimos, o sistema cartesiano é dualista, ou seja, baseia-se na exis- tência de duas substâncias. Mas isso se refere às coisas criadas, que podem ser pensantes ou extensas. Há, para Descartes, no entanto, uma substância não criada, que precede a todos os seres e é responsável pela existência de todos eles: Deus. Descartes busca provar a existência de Deus com os seguintes argumentos: tudo o que distinguimos de maneira clara e distinta no pensamento é verda- deiro; temos a ideia clara e distinta da existência de Deus (sua essência é ser, é existir); portanto, Deus existe. Além disso, se Deus é a suma perfeição, nada pode lhe faltar. Deus sem a existência seria um ser perfeito sem um atributo da perfeição, o que seria contraditório. Cartesiano: expressão derivada do nome Descartes (Cartesius, em latim). Inatismo: doutrina de acordo com a qual as ideias são inatas ao ser humano, isto é, nascem com ele e, portanto, não decorrem da experiência sensível. Deus seria eterno, infinito, onisciente, onipotente e criador de todas as coisas. Seria a substância perfeita, visto que só precisaria de si para existir. Tudo o que estivesse fora de Deus, ou seja, as coisas finitas, seria sua criação. Mas como o ser humano, sendo finito e imperfeito, teria a ideia da perfeição ou de Deus? “Resta-me apenas examinar como recebi de Deus esta ideia. Porque nem a tirei dos sentidos, nem ela chegou nunca a mim contra a minha expectativa, como costuma acontecer com as ideias das coisas sensíveis, quando estas oferecem, ou parecem oferecer-se, aos órgãos externos dos sentidos; nem também a inventei, porque de nenhum modo posso tirar-lhe nada ou acrescentar-lhe nada. Assim, só resta que ela me seja inata, do mesmo modo como também me é inata a ideia de mim próprio. E, certamente, não é de admirar que Deus, criando-me, tenha posto em mim esta ideia, para que fosse como a marca do artista impressa na sua obra.” DESCARTES, René. Meditações sobre a filosofia primeira Coimbra: Almedina, 1992. p. 162-163. A ideia de Deus não é provocada pelas coisas sensíveis exteriores ao ser humano nem pode advir de alguma percepção, já que não percebemos Deus pelos órgãos dos sentidos. Também não pode ser inventada – como a ideia de sereia, por exemplo –, pois, como o ser humano é imperfeito, não pode inventar na a que ten a o grau e per eição e Deus ou a i eia e Deus. Do perfeito, nada pode ser tirado e a ele nada pode ser acrescentado. Assim, na concepção cartesiana, a ideia de Deus e todas as outras ideias claras e distintas, como a de alma, são inatas ao indivíduo. O ser humano já nasce com elas ou está propenso a tê-las quando pensa. Elas são, portanto, ideiasinerentes à substância pensante. A defesa de que certas ideias nascem com o indivíduo, tese conhecida como inatismo, foi apoiada e criticada por diversos filósofos. Você concorda com o argumento de Descartes sobre a existência de Deus? Para pensar r v r livr De homine figuris de René Descartes, escrito em 1633 e publicado em 1662, em Haia, na H n . D r r m teoria da visão na tentativa de explicar, ao menos em parte, como ocorre a percepção do mundo exterior. Segundo o filósofo, o ser humano já nasce com algumas ideias, como a de Deus. R E P R O D U Ç Ã O - B LI O TE C A D O N S T TU TO F R A N C Ê S , P A R IS PP 162 R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o C ó d ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . O mundo é uma máquina O sistema cartesiano desenvolve uma visão mecanicista do mundo. Afinal, tudo o que é corpóreo pode ser analisado com base em sua característica essencial: a extensão. Isso é válido para os minerais, os vegetais e os animais. As coisas da natureza nada mais são do que extensão. Ora, a extensão pode ser mensurada pela largura, pelo comprimento e pela profundidade. Isso significa que a natureza pode ser quantificada. Ela pode ser descrita pela matemática e entendida pelas categorias da geometria. Assim, o mundo cartesiano é comparável a um relógio, o qual é composto de partes que se inter-relacionam mecanicamente. Entender o funcionamento dessa máquina implica conhecer suas partes e as rela- ções mecânicas entre elas – por exemplo, compreender a relação que se estabelece entre determinada engrenagem, uma alavanca e um pêndulo. Da mesma maneira, entender um fenômeno da natureza implica decompor esse fenômeno em partes simples e perceber suas relações mecânicas. A queda de um corpo ou a trajetória de uma pedra podem ser explicadas pela relação das forças e dos materiais envolvidos durante o movimento. Para explicar qualquer elemento da natureza basta, portanto, desvendar a sua estrutura mecânica. O conhecimento da mecânica do mundo, isto é, o conhecimento das forças e das relações entre as coisas extensas, torna-nos, de acordo com Descartes, senhores da natureza, pois podemos empregar esse conhecimento para atuar sobre ela de acordo com nossos interesses. O ser humano e o problema corpo-mente Todas as coisas da natureza são substâncias extensas. Dessa ideia deriva a possibilidade de entender o mundo como uma máquina. E como fica o corpo humano na concepção cartesiana? O corpo humano, como qualquer matéria ou corpo da natureza, tem como propriedade central a extensão. Nessa me- dida, também pode ser mensurado e seu funcionamento pode ser revelado com o estudo minucioso de suas partes, como ossos, músculos, tendões e coração. A medicina deve investigar os processos mecânicos e fisiológicos de seus órgãos e sistemas principalmente por meio de dissecações. Há, entretanto, uma peculiaridade do corpo humano em relação aos ou- tros corpos: sua união com a alma. O ser humano é um composto de alma e corpo. Mesmo que seja caracterizado fundamentalmente por seu pensamento – a substância pensante –, não é possível negar que este tem algum tipo de relação com o corpo – a substância extensa. Afinal, isso pode ser percebido pelos movimentos corporais voluntários, comandados pelo intelecto, ou nas moléstias do corpo, que muitas vezes provocam sensações como a dor. O ser humano não é apenas a soma de duas substâncias distintas, mas uma uni a e. Descartes tentou ex icar essa re ação atri uin o a uma ân u a o cé- re ro o e o entre as uas su stâncias, mas não conseguiu esenvo ver uma teoria convincente. Seu sistema ua ista imitava as possi i i a es e ex icar a re ação entre a ma e corpo, pois as consi erava uas su stâncias istintas e in epen entes. Posteriormente, essa discussão sistematizada pela metafísica de Descartes foi batizada de roblema corpo-mente. Essa problemática foi alvo de reflexão de outros racionalistas, de filósofos de correntes distintas e de diversos intelectuais. Mecanismo interno de um relógio analógico. Para Descartes, o mundo funciona como um relógio, em que as partes se inter-relacionam mecanicamente. É possível dar um exemplo atual sobre o problema corpo-mente? Justifique. Para pensar G A L U S H K O S E R GG E Y /S H U T T E R S T O 163 R e p ro d u ç ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Descobrindo a tradição Espinosa: existe apenas uma substância, Deus O filósofo holandês Baruch de Espinosa, que viveu no século XVII e recebeu profun- da influência de Descartes, também era um racionalista. Acreditava que só era possível obter conhecimento verdadeiro por meio de procedimentos racionais e que o Universo era regido por leis geométricas necessárias, ou seja, fixas e imutáveis, que podiam ser compreendidas pelo ser humano. Seu sistema metafísico, porém, era muito diferente do sistema cartesiano, como se pode perceber em algumas definições presentes em sua obra principal, Ética: “[Parágrafo] 3. Por substância compreendo aquilo que existe em si mesmo e que por si mesmo é concebido, isto é, aquilo cujo conceito não exige o conceito de outra coisa do qual deva ser formado. [...] [Parágrafo] 6. Por Deus compreendo um ente absolutamente infinito, isto é, uma substância que consiste em infinitos atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita.” ESPINOSA, Baruch de. Ética. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. p. 13. No parágrafo 3, Espinosa reproduz o conceito de substância elaborado por Descartes. É substância o que existe por si mesmo, ou seja, aquilo que não depende de nada, a não ser dele mesmo, para existir. O que apresenta essas características? Descartes afirmava que, entre as coisas criadas, existiam duas substâncias: a pensante e a extensa. A alma, o corpo humano e a natureza, entretanto, não tinham existência por si, mas dependiam da existência de Deus. Sem Deus nada existiria. Então, Espinosa con- cluiu que nem a coisa pensante nem a coisa extensa podiam ser consideradas substâncias. Segundo o pensamento de Espinosa, o único ser que não depende de outra realidade para existir é Deus, pois sua essência e existência coincidem. Portanto, Deus é a única substância existente, pois é a única causa de si mesmo. Se não são substâncias, o que as coisas corpóreas e as coisas pensantes são, no sistema de Espinosa? Como descrito no parágrafo 6, Deus é um ser infinito com infinitos atribu- tos, cada um dos quais expressa a essência divina. Assim, tudo o que existe é atributo ou modo de Deus. O pensamento e a extensão não são substâncias, mas atributos de Deus. O ser humano, as ideias, os outros animais, as plantas, os minerais, a terra, as estrelas, os planetas, tudo é manifes- tação divina. A natureza e Deus são uma coisa só. Assim, a concepção espinosana de Deus rompe com a concepção judaico-cristã, para a qual Deus é criador do Universo e se mantém como um ser apartado do mundo e do ser humano. Na filosofia de Espinosa, como única substância existente e infinita, Deus ou a natureza está presente em tudo o que existe, e o ser humano é parte dessa divindade, ou parte da ordem divina. Com esse tipo de abordagem, o sistema espinosano abriu novas possibilidades de entendimento do Universo e do ser humano. Além disso, diluiu o problema cartesiano corpo-mente ao defender a ideia de que o ser humano não era um composto de duas substâncias, como entendia Descartes. A extensão e o pensamento seriam, para Espinosa, atributos de Deus e se manifestariam de muitas formas. As manifestações corpóreas (movimentos e percepções) e pensantes (ideias) teriam a mesma essência, a divina, e, portanto, não haveria problema de comunicação entre elas. Ou seja, diferentemente do sistema dualista de Descartes, a concepção de Espinosa era monista Monista: relativo a monismo, concepção
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