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depressao dos familiares pós morte

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE SÁ
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
DISCIPLINA: TANATOLOGIA
ACADÊMICOS: AGEU CIPRIANO; CARLA MOLINA; CHARLANA SCHMIDT; FERNANDA BASTOS; MARCIO NICKEL; NELCI ROECKER; LUANA APARECIDA STEFFEN; SIMONE CONRADI.
DEPRESSÃO DOS FAMILIARES NO PÓS-MORTE
Processo de Luto
	O luto consiste num processo necessário e fundamental que se segue em face da perda significativa de uma pessoa ou até de um objeto estimado, para que o vazio deixado com o tempo possa voltar a ser preenchido. Ocorre uma série de tarefas ou fases para que aconteça a adaptação à perda. Representa um termo global para descrever as inúmeras emoções, experiências, mudanças e condições que ocorrem como resultado da perda. 
	A procura e o choro percebidos nas pessoas que passam por um processo de luto podem ser considerados mecanismos adaptativos desenvolvidos para tentar recuperar a figura de vinculação perdida. Estes comportamentos se configuram como uma resposta automática a perda, vistos que são normalmente bem sucedidos no reencontro com as figuras próximas.
	Apesar de o processo de luto ser um mecanismo universal ele é sentido de forma diferente por cada pessoa, como também existem diferenças conforme a faixa etária em que o indivíduo se encontra. Isso também reflete dentro das relações familiares, onde se verifica que cada membro perante a perda reage de maneira própria e em tempos diferentes, o que pode gerar conflitos, afastamentos ou até mesmo rupturas no seio familiar.
	Quando a família apresenta um bom funcionamento o apoio mútuo entre seus membros colabora para um processo de ajustamento a situação de perda. Os principais requisitos para uma família funcional enfrentar situações de vida estressantes são: a liberdade de expressão de sentimentos e pensamentos, a coesão familiar e a resolução das diferentes opiniões. Pois quando o funcionamento familiar é mais limitado seus membros apresentar maior dificuldade para se adaptar as perdas e as chances de aparecimento de morbidades psicossociais, como por exemplo, sintomatologia depressiva, ansiosa, abuso de álcool são maiores.
	O sobrevivente tem que ter um papel ativo perante este processo, tendo que efetuar determinadas tarefas de modo a deixar ir o ente perdido e seguir em frente com sua vida. Quando o indivíduo não consegue realizar estas tarefas se transpassa a linha do luto normal para o luto patológico. No luto patológico verificasse que as características da fase inicial que se segue a perda, acaba por se prolongar por um período de tempo superior ao normal.
Sentimentos mais comuns no processo de luto:
	Quando pensamos no que sentiríamos na perda de um ente querido, várias idéias e suposições vêm à mente, e os sentimentos se misturam, variam, dependendo a quem nos referíamos, mas uma coisa é certa, a sensação de perda e vazio é um fato concreto, quase que palpável e independe de quem perdemos.
	
TRISTEZA: é o primeiro sentimento, obviamente falando de quem amamos ou que de alguma forma admiramos, manifestada geralmente através do choro.
RAIVA: é um dos sentimentos mais confusos para quem fica, nos deparamos com a frustração de não termos evitadode alguma forma a partida do outro, sensação de impotência ou muitas vezes a falta de merecimento em estar vivo que acreditamos ter, sentimos raiva ao pensar: “ porque ele e não eu “. A raiva pode tomar vários caminhos, tanto como uma defesa, como quando uma criança se perde da mãe e no reencontro mostra-se irritada, zangada, ao invés de feliz e aliviada, isto pelos sentimentos de ansiedade e pânico sentidos pela criança, trazendo para si o reconhecimento, mesmo que inconsciente, de que não somos capazes de viver sem aquela pessoa.
CULPA: geralmente afeta a todos, sendo esta também manifestada através de pensamentos diversos, como o porquê não tomou aquele café, tantas vezes, adiado, porque não demos mais atenção quando podíamos, etc. Mas também, com o tempo é normal que essa” culpa” passe e se torne apenas saudades.
ANSIEDADE: como já citado no exemplo da criança com a perda momentânea da mãe, gera este medo, temer ser incapaz de viver sozinho, esta que pode em níveis elevados sugerir uma reação de sofrimento patológico, assim como também esta ansiedade aumenta a consciência da morte.
SOLIDÃO: geralmente relacionada mais expressivamente em casais, quando uma das partes perde seu cônjuge, mas não somente, pois quem já não se sentiu sozinho? A solidão vem acompanhada da ausência de quem preenchia de alguma forma a rotina do nosso dia-a-dia.
FADIGA: nada mais do que a sensação de sobrecarga, como se o mundo estivesse em nossos ombros, como se não existisse mais forças para continuar, pois estamos cansados de simplesmente existir.
DESAMPARO: geralmente presente na fase inicial da perda, como uma extensão da solidão.
CHOQUE: ocorre frequentemente no caso de morte inesperada, mas muitas pessoas entram em choque mesmo quando a morte é previsível, por terem sempre a esperança de alguma melhora.
ANSEIO: ansiar pela pessoa perdida, deseja-la a todo instante que esta estivesse ali, é a expressão de saudades, imponente e devastadora, sentimento este incapaz de não existir durante este processo, e quando este se torna mais leve, demonstra que o sofrimento está virando conformidade.
EMANCIPAÇÃO: geralmente difícil de reconhecer, mas quando o parente que fica, de alguma forma sofria maus tratos do que se foi ou algo do gênero, a emancipação se torna um sentimento positivo após a perda, um sentimento de liberdade, assim como o ALÍVIO, de quando vemos alguém que amamos sofrendo durante anos, sendo esta liberdade remetida tanto a quem parte quanto a quem fica.
TORPOR: algumas pessoas relatam esta “falta” de sentimentos, sentem-se anestesiadas, como se estivessem vivendo um momento paralelo, em outra realidade; alguns se mantém assim, outros em pouco tempo despertam para o ocorrido de uma hora para outra e o mundo desaba sob seus pés. O torpor, nada mais é que uma reação de defesa, bloqueando o que de outra forma seria uma dor esmagadora e insuportável.
	Contudo, se percebe que os sentimentos são variados, e que não existe uma ordem ou uma regra para senti-los, mas sim que estes vêm como uma correnteza, um agrega-se ao outro, e por sermos seres singulares e completos de sentimentos, jamais estaremos preparados para saber o que vamos sentir em um momento tão crucial quanto a morte, pois se soubéssemos não se chamaria sentimentos, e sim razão.
Sensações físicas, Pensamentos e Comportamento após a perda do ente querido:
	O corpo começa a sentir a dor da perda, começa com uma fraqueza muscular, cansaço, a pessoa sente-se sem energia, sem folego nem para executar as mínimas atividades diárias, não tem forças nem mesmo para se alimentar. Dá um nó na garganta, boca seca, um aperto no peito que vem junto com um vazio no estômago, é uma sensação de despersonalização onde tudo está fora de lugar incluindo sua personalidade.
	O primeiro pensamento que ocorre no momento em que se recebe a notícia da morte de um ente querido é o pensamento que se prolonga os dias passam e a pessoa não quer acreditar que seu ente querido partiu. Seus pensamentos giram feito um turbilhão em um amontoado de recordações que se misturam com a realidade onde a pessoa tem dificuldade de concentração e esquecimento.
	A pessoa têm pensamentos obsessivos com seu ente querido, buscando entender o porquê de sua morte, ao mesmo tempo tem a impressão de sentir a presença de seu ente querido, muitos nas primeiras semanas após a perda tem a ilusão de ver e até mesmo ouvir seu ente querido. Estas sensações tendem a desaparecer com o passar do tempo.
	O comportamento do enlutado tem reflexo em seu corpo e afeta sua vida diária; a pessoa passa a ter insônia, distúrbios na alimentação onde passa a comer muito ou a não comer nada, passa a andar aéreo em um mundo ‘só seu’ entre seus pensamentos gerando um isolamento social. A pessoa pode se apegar a objetos ou lugares que lembrem seu ente querido ou evita-los; outros comportamentos comoa hiperatividade, agitação e choro também são comuns de acontecer.
Quatro tarefas essenciais do processo de Luto
	Durante o processo de adaptação à perda, existe uma série de tarefas de luto que têm de ser concretizadas para que se restabeleça o equilíbrio e para o processo ficar completo. As 4 tarefas básicas são:
Aceitar a realidade da perda: Quando alguém morre, mesmo sendo uma morte previsível, há sempre um sentimento de que tal não aconteceu. O dever-se a não acreditar na perda através de um determinado tipo de negação (Dorpat 1973 cit. Por Worden, 1991):
- factos da perda
- significado da perda
- irreversibilidade da perda
Um exemplo de negação através de delírio é os casos raros em que o enlutado mantém o corpo do falecido em casa durante um número de dias, antes de notificar alguém acerca da morte. Estas pessoas sofrem, na grande maioria, de psicoticismo, excentricidade ou isolamento (Gardiner & Pritchard cit por Wolden, 1991). Outra forma das pessoas se protegerem da realidade é negarem o significado da perda, permitindo que a perda aparente seja menos significativa do que na realidade foi exemplos comuns são afirmações como “ele não era um bom pai”, “não eramos assim tão chegados”. Uma estratégia utilizada para negar a finalidade da morte é o espiritualismo. A esperança de reunião com a pessoa morte é o sentimento normal, principalmente nos primeiros dias e semanas após a perda.
Trabalhar a dor advinda da perda: Muitas pessoas experimentam a dor física, bem como dor emocional e comportamental associada á perda. Uma vez que a pessoa em luto tem que passar pela dor causada pela perda, de modo a fazer o trabalho do sofrimento, então tudo o que permitir ao enlutado evitar ou suprimir essa dor irá muito provavelmente prolongar o processo de luto (Parkes cit. Por Worden, 1991). Outras formas possíveis são procedimentos para parar o pensamento, idealizar o falecido, evitar coisas que lembrem o falecido, utilizar álcool ou estupefaciente (entorpecentes/drogas). De acordo com Bowblby (cit. Por Worden, 1991) mais cedo ou mais tarde a maioria dos indivíduos que evita o sofrimento consciente, acabam por colapar normalmente alguma forma de depressão. 
Ajustar em um ambiente em que o falecido está ausente:  O ambiente em que o falecido está ausente pode ser inúmero e está relacionado ao papel que ele desempenhava se, por exemplo, por uma esposa, ela pode ter o papel de mãe, de costureira, de companheira, de dona de casa e outros diversos. O tempo que leva para se aperceberem como é viver sem os seus cônjuges é cerca de três meses após a perda, o ajuste necessário é seguir em diante fazendo as atividades que forem necessárias sem a pessoa que morreu e que as fazia, no caso do esposo, o ideal seria que ele conseguisse executar os papéis dela, ou seja, cuidar da casa, costurar as roupas dele e dos filhos, e os outros de acordo com a capacidade individual dele. A não completude deste item se daria quando o esposo não consegue fazer estas atividades sem se paralisar diante delas.
Transferir emocionalmente o falecido e prosseguir com a vida: Esta transferência é feita de forma com que o enlutado consiga seguir a vida, admitindo a ausência da pessoa em questão, mas não deixando de viver sua própria vida. No exemplo do esposo, se daria após o tempo que para ele for necessário, mas conseguiria se apaixonar e namorar novamente, consciente de que perdeu alguém muito importante, mas que a vida não parou por aí. A forma negativa deste item seria a negação de voltar a amar e se relacionar com outras mulheres.
Quando termina o processo de luto:
	Uma longa tristeza pelo luto é depressão? Quanto tempo o enlutado pode permanecer nesse estado de tristeza? Os amigos que tentam colocá-lo para cima ajudam ou atrapalham? Como falar e contar a nossa história pode ajudar? Essas e outras perguntas povoam nossa mente diante da morte de alguém querido ou de um amigo que perdeu alguém.Luto é uma palavra que acompanha o ser humano desde sempre, principalmente quando perdemos alguém de quem gostamos muito. É uma espécie de despedida forçada e para sempre. Mas afinal o que é o luto? Como se processa? É mesmo necessário esse doloroso processo?
	Não sabemos lidar com a morte e temos um compromisso cultural com a nossa própria felicidade e com a felicidade do outro. Agimos, instintivamente, na direção da eliminação da dor da perda de alguém ou da rápida recuperação de um amigo enlutado. E não sabemos falar sobre o assunto porque não nos preparamos para isso.O luto depois de uma perda significativa é uma etapa estressante da vida humana, porém ainda é pouco compreendido devido ao preconceito que o rodeia. Geralmente o enlutado não recebe apoio suficiente para ajudá-lo a superar este período que pode acarretar mudanças sociais, emocionais, econômicas e familiares. O apoio adequado é fundamental para que a reestruturação dê-se mais prontamente.
	As fases do luto, não possuem um tempo predefinido para acontecerem. Depende da perda e da pessoa. O primeiro ano após a perda é o mais difícil, porque é nesse ano que ocorrem todos os primeiros aniversários sem a pessoa próxima. Isso não significa que seja necessário um ano exato para superar a morte. Um processo de luto é bem sucedido e finalizado quando a pessoa consegue superar a perda e seguir em frente. Não é que ela vai esquecer a pessoa, pois as lembranças e a ausência continuarão. Entretanto, a perda não vai mais ocupar um lugar de destaque na vida dela. Porém sabe-se que a que leva mais tempo é da fase da depressão para a fase de aceitação, algumas pessoas levam décadas de vida e outras nunca conseguiram aceitar com serenidade a perda. Acontece principalmente no caso de perda de um filho.
Sentimentos na depressão e no luto
	Uma diferença fundamental reside nas emoções. Uma pessoa em luto certamente sente dores e tristezas profundas, mas tais sentimentos são contrabalanceados com momentos em que a lembrança da pessoa querida é mais forte e, paradoxalmente, traz sentimentos de alegria e contentamento. Ou seja, a pessoa vivencia altos e baixos. Por um lado, chora a ausência e, por outro, ao se lembrar da presença, ri e até agradece a possibilidade de ter tido a oportunidade de conviver com aquela pessoa tão especial. Já uma pessoa com depressão provavelmente não terá estes altos e baixos. Sua vivência tenderá a ser muito mais para “baixo”, para a tristeza, para a dor, para a falta de sentido ou vontade de fazer as coisas.
REFERÊNCIAS 
DELALIBERA, Mayra et al. A dinâmica familiar no processo de luto: revisão sistemática de literatura. Ciência e Saúde Coletiva, v.20, n.4, p.1119-1134, 2015.
MELO, R. Processo de Luto: o inevitável percurso face a inevitabilidade da morte. 2004.
SANTOS, Elionésia Marta dos Santos; SALES, Catarina Aparecida. Familiares Enlutados: Compreensão Fenomenológica Existencial de suas Vivências. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v.20, n.esp, p.214-22, 2011.
SOUZA, Karina Lucen Valença de; ROMERO, Giselda Martins. Depressão: Efeito após uma perda familiar. Faculdade Atenas. Minas Gerais, 2008.

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