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3ºAula Os gêneros textuais: um novo olhar Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • utilizar, adequadamente, as teorias em torno dos gêneros textuais de modo que elas sirvam de suporte para a prática de ensino da Língua Portuguesa; • identificar os gêneros textuais presentes no meio social e escolher os que são adequados ao ensino da Língua Portuguesa nos anos iniciais; • planejar as aulas de Língua Portuguesa a partir dos gêneros textuais considerando o tipo textual coerente para o ensino nos anos iniciais. Nesta aula estudaremos sobre os gêneros textuais, cujo conteúdo de estudo é recomendado pelos PCN’s, haja vista que temos de formar leitores críticos e produtores de texto, reflexivos. Para tanto, também estudaremos sobre os tipos textuais, os quais também são importantes para que possam ensinar os alunos que, para a composição do gênero textual, é necessário que conheçam os tipos textuais. Bons estudos! Conteúdo e Metod. do Ensino da Língua Port. e Lit. nos anos Iniciais do Ensino Fundamental 22 Seções de estudo 1 - Definição de tipos e gêneros textuais 2 - Refletindo sobre a tipologia textual 3 - Os gêneros textuais e o ensino da Língua Portuguesa 4 - Gêneros textuais: características e funcionalidade 5 - Gêneros textuais e sequências tipológicas 1 - Defi nição de tipos e gêneros textuais 2 - Refl etindo sobre a tipologia textual Os inúmeros textos existentes nos meios sociais de comunicação são distinguidos como gêneros textuais, cuja lista de exemplos é imensa e infinita, mas podemos identificar estes gêneros a partir de sua funcionalidade. Em contrapartida, em meio a esta lista infinita de textos é importante também destacarmos que no meio escolar existem, também, os tipos textuais, os quais são chamados por alguns autores como sendo “textos da tradição escolar”. A este grupo podemos elencar três tipos textuais, são eles: narração, descrição e dissertação (argumentação). A principal ideia adotada para a distinção de um tipo diz respeito à construção da sequência textual em que ocorre a presença de algumas marcas linguísticas, como flexão do verbo em modo e tempo e emprego de adjetivos; esses recursos ocorrem, com maior frequência, em determinado tipo e, com menor frequência, em outro. Como afirma Marcuschi (2002, p.27) “(...) entre as características básicas dos tipos textuais está o fato de eles serem definidos por seus traços linguísticos predominantes”. Algumas dessas referidas marcas são comumente utilizadas em determinados textos, onde o recebedor consegue ativar seus conhecimentos prévios a ponto de identificá-las como pertencendo a um tipo ou outro. Do ponto de vista pragmático, o funcionamento do tipo ocorre mediante sua intencionalidade, visto que cada tipo promove, durante a comunicação, uma ação objetivada, como narrar/ relatar; explicar; convencer/persuadir; orientar; prever. A tipologia textual (estudo do tipo) considera de suma importância que o seu processo de construção ocorra de acordo com aspectos teóricos estabelecidos para esse grupo. É importante salientar que enquanto alguns autores consideram os tipos textuais como sendo apenas três, outros autores como as autoras Koch & Fávero (1987, p. 05), enunciam os tipos textuais como sendo: narração, descrição, exposição, argumentação, injunção e predição. Quanto aos gêneros, eles são textos existentes no cotidiano sócio-comunicativo, os quais desempenham funções determinadas por diferentes situações de emprego. O processo de construção ocorre, sobretudo, por meio da funcionalidade que esse grupo desempenha no meio social. Na tipologia, as marcas linguísticas apresentam-se como características definidoras destes textos; ao contrário, no gênero, a presença desses recursos ocorre de acordo com a exigência de cada texto. Marcuschi (2002, p. 23), aponta alguns dos inúmeros gêneros existentes no cotidiano social como: telefonema, bilhete, carta pessoal, lista de compras, inquérito policial, piada, edital de concurso, entre outros. Além disso, o mesmo autor faz uma breve definição das duas noções: a) usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de seqüência teoricamente defi nida pela natureza lingüística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. (...); b) usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas defi nidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. As definições feitas sobre tipos e gêneros textuais mostram como ocorrem as identificações de dado texto como fazendo parte de um grupo ou outro. Porém, é necessário salientar que as várias pesquisas realizadas na Linguística Textual mostram atualizações de alguns conceitos anteriormente adquiridos. Enquanto Koch & Fávero (1987), enumeram os tipos textuais como sendo seis (narração, descrição, explicação, argumentação, injunção e predição), ocorreu, recentemente, a publicação de um trabalho elaborado por Marcuschi (2002), o qual aponta os tipos como sendo apenas cinco, já que o último- preditivo-, passa a compor o grupo de gênero e não mais o de tipo, isso porque os textos preditivos passam a ser analisados como uma construção que obedece a uma funcionalidade social. No entanto, após a publicação deste trabalho de Marcuschi (2002), outros trabalhos foram publicados com vistas a repensar as noções de tipo textual e depois de várias discussões acerca desta questão, chegou-se a conclusão de que se pode considerar tipo textual estes: narração, descrição e dissertação. Por isso, adotaremos o conceito acima para darmos sequência aos nossos estudos; afinal de contas trata-se de um estudo mais recente, por isso, mais atual. 2.1 - Tipo narrativo O texto narrativo diz respeito ao ato de narrar um fato, um acontecimento tido como verdadeiro ou fictício. Para conceituar um dado texto como sendo uma narração, esse tem de obedecer a alguns requisitos característicos de sua estruturação: os elementos da narrativa. (Ilustração de uma cena do conto Chapeuzinho Vermelho de Irmãos Grimm- exemplo de um gênero textual Conto- tipo textual narrativo) Fonte: http://gracitacordel.blogspot.com.br/2011/11/chapeuzinho- vermelho-cordel.html Acesso em: 15 de janeiro de 2013. 23 Fonte: http://soprodepalavraspequenas.blogspot.com. br/2010/09/escrevendo.html Acesso em: 20 de janeiro de 2013. Primordialmente, a narração tem de apresentar o narrador da história. Essa peça fundamental do jogo narrativo pode apresentar-se de duas maneiras: se o foco de visão exterior ocorrer em terceira pessoa do discurso, então o narrador será tido como narrador-observador, mas se o narrador desempenhar a função de personagem da história, será tido como narrador-personagem enunciado em primeira pessoa do discurso. Outro elemento de suma importância para o texto narrativo, tanto quanto o narrador, é o personagem, que desempenha funções distintas e pode ser nomeado como sendo protagonista, antagonista ou personagem secundário. A atuação desse elemento ocorre mediante o desencadeamento de fatos na sequência narrativa, obedecendo ao tempo, ao ambiente e ao lugar. A superestrutura do texto narrativo é organizada de acordo com uma sequência de acontecimentos que desencadeia sempre uma nova ação. Assim, o texto começa com a apresentação das personagens e seu cotidiano; em seguida, vão surgindo vários problemas em torno das ações praticadas pelas personagens e, consequentemente, essas ações chegam em um nível superelevado (clímax) em que algo tem de ser feito para resolver os problemas - é o que se chama resolução. A conclusãodesse tipo de texto exige a formulação de um conceito, o qual transmite uma mensagem ao recebedor. Às vezes, a mensagem do texto narrativo aparece explicitamente, em outros momentos sua captação exige do leitor /ouvinte maior atenção para que, enfim, possa perceber o que está sendo transmitido. De acordo com tais características, existem vários estilos de textos narrativos e a distinção entre um e outro ocorre em consequência da intencionalidade do texto, extensão e estilo. 2.2 - Tipo descritivo O texto descritivo tem como propósito principal caracterizar um lugar, um objeto, uma pessoa ou um acontecimento. Tal procedimento ocorre, essencialmente, pelo uso indispensável dos adjetivos que retratam e especificam o que afinal está sendo descrito. Esse recurso é usado no gênero textual apresentado abaixo, o qual se trata de uma crônica escrita por Mário Prata, cujo título é “Minha vizinha divina, maravilhosa”. O texto em questão apresenta o tipo descritivo em sua estrutura de composição. Ao lado do meu prédio construíram um enorme edifício de apartamentos. Onde antes eram cinco românticas casinhas geminadas, hoje instalaram-se mais de 20 andares. Da minha sala vejo a varandas (estilo mediterrâneo) do novo monstro. Devem distar uns 30 metros, não mais. E foi numa dessas varandas que o fato se deu (Mário Prata. 100 Crônicas. São Paulo, Cartaz Editorial, 1997). Esse tipo de texto, em sua elaboração, sugere a inserção de outro tipo textual para que se possa construir a descrição, como por exemplo, a narração. É como se estabelecesse uma cooperação textual, afinal, a tipologia distingue os diversos tipos de textos de acordo com a relevância que cada um desempenha O texto argumentativo é caracterizado pelo ato de defender ou atacar uma ideia, um ponto de vista ou uma dúvida sobre dado assunto. Abreu (2003, p. 25), enfatiza que essa ação ocorre por meio da mediação de dois outros processos, pois “argumentar é arte de convencer e persuadir”. Segundo o autor, convencer está relacionado à informatividade que o enunciador deve ter para que consiga provar o que está dizendo. Nessa sequência, a ação de persuadir refere-se ao bom relacionamento que o produtor do discurso deve ter junto ao seu público. A ação de argumentar exige, em relação às informações, a exploração de argumentos consistentes baseados em dados e fatos que acabam por concretizar determinado ponto de vista, sendo esse pró ou contra. A estrutura do texto argumentativo é constituída de sequenciarão de argumentos que apresentam sempre proposição de causa e efeito. Esse recurso tem função interpelativa, pois explicita o ponto de vista do enunciador e também as consequências apresentadas através dos argumentos. É importante salientar que o desencadeamento dos argumentos requer a organização adequada do enunciado apresentado ao longo do texto, assim, a argumentação deve apresentar, primeiramente, o tema a ser discutido, seguido do posicionamento crítico do enunciador, o qual aponta uma ideia favorável ou contrária, mas tudo isso baseado em dados concretos que envolvam o recebedor a ponto de convencê-lo pela precisão dos argumentos. Considerando esse tipo de texto como sendo composto por elementos reais e não imaginários, o autor trabalha a verdade dos fatos, os quais são analisados pelo produtor do discurso, de maneira defensiva e crítica. É essencial que haja a impessoalidade do autor, caso o tipo textual dissertativo esteja compondo o gênero Dissertação (redações do vestibular) devendo esse evitar o uso de expressões “eu acho”, “eu penso” ou até mesmo “meu ponto de vista é...”. Porém, se os argumentos pertencentes à construção da tese forem baseados em fonte tão consistente a ponto do produtor do discurso conseguir desenvolvê-los de forma adequada, então, é permitido o uso da 1ª pessoa do discurso, sem que esse seja durante a comunicação, mas é importante salientar que é possível e aceitável a presença de um tipo textual em outro tipo. 2.3 - Tipo argumentativo/ dissertativo Conteúdo e Metod. do Ensino da Língua Port. e Lit. nos anos Iniciais do Ensino Fundamental 24 um procedimento incoerente. Além disso, esse aspecto é relativo, haja vista que outros gêneros que apresentam em sua estrutura de composição a dissertação permitem que se mostre a pessoalidade no texto. Isso porque cada gênero possui características próprias que o definem e o classificam. Um exemplo de gênero textual que apresenta dissertação de forma mais parcial é o editorial. Esse gênero de texto traz em sua composição o posicionamento de determinado veículo de comunicação que, por sua vez, não tem compromisso com a imparcialidade ou objetividade. Para que vocês possam visualizar mais claramente a distinção entre tipo textual e gênero textual, apresentamos a seguir um quadro sinótico apresentado por Marcuschi (2010, p. 24): A partir dos exemplos de gêneros textuais citados acima, você pôde perceber que os mesmos podem ser encontrados nas modalidades oral e escrita. Mas, cada um destes textos possui características bem definidas e estrutura própria. Depois de ter estudado um pouco sobre os tipos textuais, é necessário tratar um pouco mais sobre os gêneros textuais, os quais são frequentemente encontrados no nosso cotidiano. As teorias, os conteúdos e as metodologias que envolvem estes textos são extremamente importantes, pois desde a implantação dos PCN’s, as orientações que envolvem o ensino da Língua Portuguesa direcionam que a prática de ensino desta disciplina tenha como parâmetro o uso dos gêneros textuais na prática de leitura e produção textual (oral e escrita), os quais devem ser apresentados em sala de aula a partir de sequências didáticas. Isso porque o ensino da Língua Portuguesa deve ser mais contextualizado, ou seja, é preciso que o aluno perceba a linguagem em uso. Para tanto, é preciso trazer estes textos que circulam no meio social para a sala de aula, para fazermos com que eles os identifiquem-os e possam lê-los reflexivamente e produzi-los e reproduzi-los quando necessário. O uso dos gêneros textuais em sala de aula possibilita ao professor ensinar a Língua Portuguesa a partir de um foco mais real, mais próximo da realidade do aluno. Isso porque textos que somente existem no contexto escolar não serão produzidos fora da escola, já os textos trazidos da sociedade para a escola serão lidos, produzidos e reproduzidos no ambiente escolar e social. Sobre isso, Bronckart (1999, p. 71), conceitua o texto como sendo “toda unidade de produção de linguagem que veicula uma mensagem linguisticamente organizada e que tende a produzir um efeito de coerência sobre o destinatário”. Para tanto, é preciso que haja uma funcionalidade social nele. Por isso, não podemos solicitar aos nossos alunos textos os quais jamais serão usados. Ao contrário devemos trazer os diversos gêneros textuais para a sala de aula. Segundo os PCN’s, o uso dos gêneros textuais em sala de aula é uma forma de preparar o aluno para “ler o mundo” e, consequentemente, produzir textos nos vários contextos comunicacionais. E, então? Compreenderam a importância dos gêneros textuais para o ensino da Língua Portuguesa? Saibam que estes textos nos “abrem um leque” de possibilidades metodológicas. Vamos estudar um pouco mais sobre os gêneros textuais (características, funcionalidade, estilo, estrutura)? Que os tipos textuais são encontrados nos gêneros textuais? E que alguns gêneros apresentam um tipo textual com mais predominância que outro tipo? Percebam, caros(as) acadêmicos(as), que acima falamos um pouquinho sobre o grupo composto por seis tipos textuais, os quais eram tidos como tal, mas que foi repensada sua classifi cação de uns anos para cá. Assim, os apresentamos nesta aulaapenas para conhecimento, uma vez que é necessário e importante que saibam que hoje consideremos tipos textuais apenas o narrativo, o descritivo e o dissertativo. Estão percebendo que estou apresentando as teorias que envolvem os Estudos da Linguagem e ao mesmo tempo estou contextualizando essas teorias, isto é, estou situando-as no contexto escolar, fazendo vocês refl etirem, a partir da teoria, sobre a prática? Acredito que ao longo de sua vida escolar, em vários momentos foi solicitado que vocês produzissem textos ora narrativo, ora descritivo e, mais recentemente, textos dissertativos, por isso alguns autores os denominam de textos da tradição escolar. TIPOS TEXTUAIS 1. construtos teóricos defi nidos por propriedades linguísticas in- trínsecas; 2. constituem sequências linguís- ticas ou sequências de enuncia- dos e não são textos empíricos; 3. sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspec- tos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal; 4. designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descri- ção, injunção e exposição. GÊNEROS TEXTUAIS 1. realizações linguísticas concre- tas defi nidas por propriedades sociocomunicativas; 2. constituem textos empirica- mente realizados, cumprindo funções em situações comunica- tivas; 3. sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações con- cretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função; 4. exemplos de gêneros: telefo- nema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de con- domínio, horóscopo, receita culi- nária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor, inquérito poli- cial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate – papo virtual, aulas virtuais etc. Tabela extraída de Marcuschi (2010). 3 - Os gêneros textuais e o ensino da Língua Portuguesa 25 Como dissemos anteriormente, a lista de gêneros textuais é infinita, pois de tempos em tempos novos gêneros surgem no meio social. A seguir, apresentaremos alguns exemplos de gêneros textuais e, posteriormente, apontaremos algumas possíveis atividades a serem aplicadas nos anos iniciais: O exemplo acima é uma tirinha da Turma da Mônica, cuja temática é a “Crise aérea”. A partir disso, pode-se observar que a mesma possui certo nível de informatividade e que o referente, neste contexto, é a crise aérea que aconteceu no País em 2007. Por mais que seja um gênero textual destinado ao público infantojuvenil, o tema refere-se a um acontecimento atual, o qual é o conhecimento de todos. Portanto, este gênero pode ser trabalhado em sala de aula, pois poderá servir de pretexto para a leitura e a produção textual. Além disso, poder-se-á explicar, também, a diferença entre linguagem verbal e não verbal, visto que o gênero possui os dois tipos de linguagens. O trabalho com os gêneros textuais não deve ser um fim em si mesmo, ou seja, deve ser uma sequência didática como já vimos anteriormente. Assim, a partir da tirinha acima é possível trabalhar com outros gêneros textuais. Como se trata de uma crítica a Crise aérea no Brasil, o professor poderá solicitar que os alunos produzam uma Carta de Solicitação a alguma empresa aérea para que a mesma faça o reembolso das passagens, cujos vôos foram cancelados em razão dos atrasos na decolagem ou, dependendo da série, um texto narrativo a partir da situação apresentada. Sabemos que os gêneros textuais podem ser na modalidade escrita ou na modalidade oral. Por isso, o professor poderá, a partir do tema da tirinha acima, aplicar uma atividade de produção de texto oral. Nesse sentido, poderá ser montado em sala de aula um telejornal, por exemplo, ou mesmo um jornal impresso, cuja manchete seja a “crise aérea”. Lembrem-se, caros(as) alunos(as), que as metodologias propostas acima são apenas sugestões, para que vocês pensem em atividades, as quais serão aplicadas em sala de aula. O gênero apresentado acima pode perfeitamente ser usado nas séries iniciais como atividade de interação sócio-discursiva. As atividades a serem trabalhadas são várias. Assim, após o professor expor as noções de carta pessoal, o aluno poderá ser solicitado a escrever uma carta, a qual pode ser endereçada a outro aluno da mesma classe ou ainda um grupo social que vive em um contexto diferente da turma, pois, isso permitirá que os alunos aprendam mais sobre comunidades distintas. Ao planejar suas aulas a partir dos gêneros textuais, é preciso considerar o nível de conhecimento dos alunos. 4 - Gêneros textuais: características e funcionalidade Já disse anteriormente que os gêneros textuais têm uma função sociocomunicativa. Essa é a principal característica dos gêneros, haja vista que em vários momentos nos deparamos com eles (os gêneros de texto). Por exemplo: antes de preparar uma receita deliciosa de Torta de Prestígio, o que faremos? Recorreremos a receita da mesma a fim de encontrarmos nela as instruções necessárias para a preparação da torta. Ou, ainda, quando enviamos um e-mail para um amigo ou mesmo uma carta de amor para a pessoa amada, estamos utilizando os gêneros textuais para fazer a comunicação. Percebeu como os gêneros textuais são presentes no nosso cotidiano, mas, nem sempre nos damos conta disso. Nesse sentido, é importante que o docente “apresente” estes textos para os alunos, de modo que os mesmos percebam que a todo o momento estamos nos comunicamos por meio dos mais variados textos, visto que a lista de gêneros textuais é interminável. Por isso, além de trabalhar com os tipos textuais, um exemplo são os textos narrativos (fábulas, lendas, contos de fadas etc.), os quais são extremamente importantes para a alfabetização e a formação do leitor e produtor de texto, é necessário também que se trabalhe com os gêneros textuais, os quais possibilitam ao docente trabalhar a leitura e a produção textual em diversos contextos. Para exemplificar melhor este conteúdo, a seguir, mostraremos alguns exemplos de gêneros textuais, suas características e funcionalidade sócio-comunicativa. E-mail: Defi nição: O e-mail, como gênero textual, é uma mensagem eletrônica, Carta pessoal: Defi nição: este gênero textual é utilizado mais frequentemente na comunicação com amigos ou parentes. Por sua característica pessoal, não existe um padrão deste tipo de carta, haja vista que o tipo de linguagem utilizada é a coloquial. Característica: a comunicação é breve e pessoal, haja vista que o conteúdo é livre. Em termos de estrutura, a carta pessoal apresenta estes elementos: local, data, vocativo, corpo (conteúdo da carta) e assinatura (identifi cação do remetente). Em relação ao tipo de linguagem, ela vai depender do grau de intimidade existente entre os interlocutores, por isso, poderá ser mais ou menos formal. Tira (tirinha de HQ – Histórias em Quadrinhos): Defi nição: segundo o Dicionário de Gêneros Textuais, este gênero de texto é um segmento ou fragmento de Histórias em Quadrinhos. Nesse caso, a comunicação é feita por meio da apresentação dos mesmos em jornais e revistas em seções de entretenimento. Características: ele é composto de três ou quatro quadros, cuja linguagem mescla o visual e o verbal ao mesmo tempo. As tiras são produzidas de acordo com o público a que se destina. Fonte: <http://www.monica.com.br/hot/criseaeroporto/pag6.htm>. Conteúdo e Metod. do Ensino da Língua Port. e Lit. nos anos Iniciais do Ensino Fundamental 26 a qual é trocada por usuários da internet, por meio do computador ou do celular. Ele é denominado de gênero emergente, pois apresenta características de outros gêneros textuais já existentes, como: carta,bilhete e recado. Características: possui marcas linguísticas próprias, isso decorrente do processo de comunicação, o qual pode ser mais ou menos formal. Diferentemente da carta, a mensagem eletrônica pode ser modifi cada e/ ou alterada. Além disso, ela pode ser encaminhada para outros usuários e, também, respondida, haja vista a possibilidade de interação entre seus usuários. Receita culinária: Defi nição: este gênero textual tem a funcionalidade de instruir a preparação de um alimento. Características: neste texto há a predominância de uma linguagem instrucional por meio de formas verbais, como: imperativo e infi nitivo. Segue sempre a mesma estrutura, assim, é dividido em duas partes: Ingredientes e Modo de Preparo. Receita de Brigadeiro Ingredientes 1 colher(es) (sopa) de manteiga 2 lata(s) de leite condensado 1 xícara(s) (chá) de chocolate granulado 4 colher(es) (sopa) de chocolate em pó Modo de Preparo Numa panela junte o leite condensado, a manteiga e o chocolate em pó. Misture bem até incorporar tudo. Leve ao fogo brando mexendo sempre. Utilize panela de fundo grosso. Quando a massa começar a se desprender do fundo da panela (o tempo varia de acordo com a panela) passe a massa para um prato com manteiga e deixe esfriar. Unte as mãos com manteiga e enrole os brigadeiros, passando-os no granulado. Coloque em forminhas de papel. Fonte: http://cadernoreceitasimples.com/receita-de-brigadeiro-simples/. Acesso em: 27 de fevereiro de 2013. A partir do gênero textual receita culinária, poder-se-á desenvolver um trabalho interdisciplinar, haja vista que a matemática também está presente na receita por meio das medidas dos ingredientes. Assim, se o professor achar viável e a instituição escolar apresentar espaço físico adequado, poderá ser feita uma aula prática em que os alunos “colocarão a mão na massa” e farão a receita estudada na aula. Ao longo desta aula estudamos acerca de diversos aspectos que envolvem o ensino da Língua Portuguesa por meio dos gêneros textuais. Sobre isso, é importante destacar que no ambiente escolar, segundo os PCN’s (1998), os textos que circulam no meio social devem ser trazidos para a sala de aula e não o contrário, haja vista que os textos da tradição escolar raramente serão solicitados em contextos de comunicação social. Assim, percebemos que as sequências tipológicas (narração, descrição e dissertação) devem ser estudadas a partir dos gêneros textuais, visto que cada gênero possui um desses tipos textuais ou mais de um. Desse modo, percebemos que os gêneros textuais ocupam, no âmbito discursivo, um espaço bem mais amplo do que os tipos textuais, isso decorre, primeiramente, em função da característica infinita dos gêneros e de sua funcionalidade no meio social. Além disso, é inegável que as sequências tipológicas encontram-se no interior dos gêneros, haja vista que elas são responsáveis pela composição textual do gênero. No entanto, sobre o ensino dos gêneros na escola é importante salientar que a produção destes textos deve ter um propósito, um objetivo pré- estabelecido, por isso, o professor jamais deve propor aos alunos a seguinte situação: “produza uma ata!”. Para que haja esta solicitação é preciso a contextualização do conteúdo, antes de mais nada é preciso explicar o que vem a ser a ata, para que ela serve, em que esfera ela é usada. Outro ponto importante a ser mencionado é que o trabalho com o gênero textual na escola não deve exigir do aluno que o mesmo produza determinado texto tal como o é. Sobre isso, Schneuwly e Dolz (2010, p. 69) destacam que: Para compreender bem a relação entre os objetos de linguagem trabalhado na escola e os que funcionam como referência é preciso, então, de nosso ponto de vista, partir do fato de que o gênero trabalhado na escola é sempre uma variação do gênero de referência, construída numa dinâmica de ensino-aprendizagem, para funcionar numa situação cujo objetivo primeiro é precisamente este. Assim, os modelos didáticos apresentados aos alunos devem ser simulações, ou seja, o professor deve propor a produção de determinado gênero, mas fazendo com que o aluno se imagine na referida prática social. Por exemplo: se for solicitar a produção escrita de uma entrevista com uma personalidade, é preciso que o aluno se imagine como repórter. Entretanto, o professor não deve esperar que a atividade resulte em um gênero textual perfeito, haja vista que o aluno se colocará no papel de jornalista, mas ele não o é. 5 - Gêneros textuais e sequências tipológicas 27 ATENÇÃO: ao selecionar quais os gêneros devem ser usados em sala de aula, é preciso que faça leitura dos Parâmetros Curriculares Nacionais – primeiro e segundo ciclos - de Língua Portuguesa, bem como aportes teóricos que indiquem quais os gêneros textuais podem ser ensinados nos anos iniciais, haja vista que não há necessidade de ensinar determinados gêneros, pois os alunos já os dominam. No item “leituras”, que está colocado ao fi nal desta aula, constam os nomes de autores que abordam sobre esta temática e que apresentaram um quadro com indicações dos gêneros que devem ser usados em cada um dos anos iniciais do Ensino Fundamental. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Â. et al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. SCHNEUWLY, B. & DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004. <http://www.revistaletras.ufpr.br/edicao/66/ IaraCosta-GenerosTextuaisETradicaoEscolar.pdf> <http://www.revistaprolingua.com.br/wp-content/ uploads/2010/01/claudia.pdf>. Vale a pena Vale a pena ler Vale a pena acessar Minhas anotações
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