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TESE EXPLORADORES DE CAVERNA

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TESE DE DEFESA
CASO: No início do mês de maio de 4299 os quatro réus aqui sendo julgados, juntamente com Roger Whetmore, todos membros da Sociedade Espeleológica – organização que explora cavernas, adentraram no interior de uma caverna, já estavam longe da entrada da caverna quando ocorreu um desmoronamento que bloqueou a única abertura da caverna. Quando deram-se por conta da difícil situação em que se encontravam concentraram-se próximo a abertura obstruída na esperança de serem resgatados o mais breve possível. Ao perceber o não retorno para suas residências rapidamente as famílias dos exploradores entraram em contado com o secretário da Sociedade, que assim que foi notificado deu início ao resgate, Um enorme campo temporário de trabalhadores, engenheiros, geólogos e outros técnicos, foi instalado, porém, o resgate se mostrou uma tarefa extremamente difícil e arriscada, por diversas vezes o trabalho de obstrução o local foi frustrado por novos deslizamentos, durante um desses deslizamentos dez operários foram atingidos e assim levados a óbito. No trigésimo segundo dia após a sua entrada na caverna foram libertados. 
Quando os homens foram finalmente libertados soube-se que Whetmore tinha sido morto e servido de alimento a seus companheiros.
Evidencia-se que Whetmore foi o primeiro a propor que buscassem alimento na carne de um dentre eles, sem o que a sobrevivência seria impossível, foi também o próprio Whetmore que propôs que fosse tirada na sorte, aquele se seria sacrificado e servido de alimento para a sobrevivência dos demais, sorte essa tirada através de um par dados que casualmente trazia consigo.
Os quatro sobreviventes foram denunciados pelo homicídio de Roger Whetmore, e assim, estão sendo julgados para que sejam libertos ou condenados diante de nossa justiça.
CAUSAS: O desgaste físico, a tensão psicológica e a necessidade fisiológica são fatores que levaram os exploradores a ansiedade de desespero diante da possibilidade de morrerem dentro daquela caverna. Somado à isso, tiveram que suportar altas temperaturas, pouca luz e um ambiente muito úmido. Com fome, escassez de alimentação, em verdadeira situação aterrorizante a qual foram submetidos, esses homens foram levados ao extremo em nome da sobrevivência. Ao decidir a sorte em um jogo de dados e assim selar o destino de um de seus companheiros, eles apenas pensavam na sobrevivência coletiva: O sacrifício de um para a sobrevivência de quatro, um ato que demonstra o quanto desesperados estavam com a possibilidade de saírem sem vida daquele local.
O pavor vivido por esses homens só pode ser compreendido por alguém que passou por algo de tamanha semelhança.
ESTADO DE NECESSIDADE: Inegavelmente os acusados passaram por verdadeiras situações de risco e uma delas seria o da morte por desnutrição, sendo assim acharam naquele momento viável o sacrifício de um para o bem da coletividade, algo ocorrido e decidido em um momento de total transtorno desses homens que estavam isolados por um longo período de vinte e um dias, que haviam sobrevivido até aquele momento com suprimentos escassos e em estado de fome extrema, vendo naquele ato de sacrificar um de seus companheiros a única possibilidade de sobreviver. Deve-se ser ressaltado neste julgamento de que a ideia de jogar a sorte nos dados e ocorrer o sacrifício para a posterior alimentação dos demais partiu de Whetmore, que assim tornou-se o causador de um pânico maior entre seus companheiros. O estado de necessidade em que encontravam-se não era algo premeditado, assim sendo os acusados não tiveram lucidez para com suas ações e não existe a responsabilidade pelo ocorrido a eles após o soterramento e o estado crítico vivenciado pelos réus dentro daquela caverna.
Os exploradores devem ser julgados pelo seu estado de necessidade, assim sendo não há crime.
Eis a previsão legal do estado de necessidade no Código Penal Brasileiro:
 
“Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
 I - em estado de necessidade; 
II - em legítima defesa;
 III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. 
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.” 
FATOS: Somente após o vigésimo primeiro dia de confinamento os exploradores tiveram comunicação com pessoas que estavam do lado de fora da caverna, através de um rádio, ao comunicar-se os engenheiros responsáveis pela operação de salvamento, comunicou aos exploradores, que precisavam de pelo menos mais dez dias para libertá-los. Ao saber da escassa quantidade de alimentos e com o risco de novos desmoronamentos, os médicos presentes no local afirmaram que a possibilidade de sobrevivência por mais dez dias seria mínima. Após essa afirmação se fez o silêncio na comunicação durante um período de oito horas. Desesperados, estes homens passaram o resto do dia pensando num plano que pudesse evitar suas mortes. Roger Whetmore tem a ideia e convence o restante do grupo de que um dentre eles deveria ser sacrificado para que servisse de alimento para os demais.
Quando a comunicação foi restabelecida os homens pediram para falar novamente com os médicos, o que conseguido, Whetmore, falando em seu próprio nome e em representação dos demais, indagou se eles seriam capazes de sobreviver por mais dez dias se se alimentassem da carne de um dentre eles. O presidente da comissão respondeu, a contragosto, em sentido afirmativo. Whetmore inquiriu se seria aconselhável que tirassem a sorte para determinar qual dentre eles deveria ser sacrificado. Nenhum dos médicos se atreveu a enfrentar a questão. Whetmore quis saber então se havia um juiz ou outra autoridade governamental que se dispusesse a responder à pergunta. Nenhuma das pessoas integrantes da missão de salvamento mostrou-se disposta a assumir o papel de conselheiro neste assunto. Whetmore insistiu se algum sacerdote poderia responder àquela interrogação, mas não se encontrou nenhum que quisesse faze-lo. Depois disto não se receberam mais mensagens de dentro da caverna, supondo-se (erroneamente como depois se evidenciou) que as pilhas do rádio dos exploradores tinham –se descarregado.
DIREITO NATURAL: A caverna foi fechada confinando esses homens dentro dela, e ali permaneceram aprisionados por um longo período, sendo submetidos a condições sub-humanas, sentido fome extrema, ficando debilitados e cada vez mais fora do estado de sanidade mental plena. Ao ficarem aprisionados naquele lugar, tiveram que estabelecer novas regras, estavam fora do estado de direito passando a agir dentro do direito natural. Dentro do direito natural o que prevalece é o direito a sobrevivência, o direito a lutar pela vida sob qualquer circunstância, ali nenhuma lei era maior do que a necessidade de viver.

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