Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
USO DE ATMOSFERA MODIFICADA NA CONSERVAÇÃO PÓS- COLHEITA DO MARACUJÁ AMARELO JOSANE MARIA RESENDE 1 EDUARDO VALÉRIO DE BARROS VILAS BOAS2 MARIA ISABEL FERNANDES CHITARRA 3 RESUMO - Com o propósito de avaliar o efeito do filme de PVC (0,015 mm espessura, rolopak, Alba Química SA), flexível, sem perfurações, juntamente com o benomyl P.C. a 1% e absorvedor de etileno (KMnO4, Green Keeper, 9,5g/kg de fruto) sobre a conservação e qualidade pós-colheita do maracujá amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.), instalaram-se 2 ensaios (EI e EII ). O EI constou de frutos embalados com filme de PVC, tratados com benomyl a 1%, com ou sem absorvedor de etileno (Green keeper) e um controle sem tratamento. O EII constou apenas de frutos embalados ou não com filme de PVC. Em ambos os ensaios, os frutos foram armazenados em câmara fria (temp. média de 10ºC e UR média de 90%), por 35 dias. Semanalmente, foram retiradas amostras de frutos do EI para análise de sólidos solúveis totais (SST); acidez total titulável (ATT); relação SST/ATT; pH; açúcares solúveis totais (AST) e identificação de fungos presentes nos tecidos da casca, e EII para a perda de massa dos frutos. Nos frutos do EI não foram observadas interações significativas entre os tratamentos e tempo de armazenamento para as variáveis, SST, ATT, pH e AST, exceto para a relação SST/ATT. A maior relação SST/ATT foi obtida em frutos tratados com benomyl + absorvedor de etileno aos 21 dias de armazenamento. Os teores de SST, ATT, AST e a relação SST/ATT apresentaram redução durante o armazenamento. A presença de fungos foi observada em todos os tratamentos no final do experimento, com menor incidência para frutos tratados com benomyl + absorvedor de etileno. Dentre os fungos identificados, apenas Colletotrichum gloeosporioides constitui problema, causando manchas escuras na casca, depreciando a aparência do fruto. Frutos controle, no 35º dia apresentaram maior incidência de fungos com alteração perceptível do sabor e aroma. Nos frutos do EII houve interação significativa entre embalagem e tempo de armazenamento. A utilização do filme PVC reduziu substancialmente a perda de massa dos frutos em 15% em relação ao controle, mostrando-se uma alternativa viável e barata para reduzir a perda de água, evitando-se o enrugamento da casca. A utilização do filme de PVC com benomyl + absorvedor de etileno propiciou a melhor conservação do maracujá até o 350 dia de armazenamento, determinando um efeito benéfico sobre a aparência dos frutos, com redução na perda de água e ausência de manchas escuras na casca. TERMOS PARA INDEXAÇÃO: Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg., conservação pós-colheita, armazenamento, atmosfera modificada, absorvedor de etileno e fungos. POSTHARVEST CONSERVATION OF YELLOW PASSION FRUITS (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) USING MODIFIED ATMOSPHERE ABSTRACT - With the purpose of evaluating film of flexible PVC (0,015 mm thickness), without perforations, benomyl 1% and potassium permanganate etylene absorbent (Green Keeper, 9,5g) on the conservation and postharvest quality of yellow passion fruits (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.), two essays (EI and EII ) were carried out. EI consisted of fruits wrapped on film of PVC treated, with benomyl 1%, with or without one sachet of ethylene absorbent and a control. EII consisted of wrapped and no wrapped fruits on PVC. In both essays, the fruits were stored in a cold storage room (Temp. average of 1. Enga Agra. MSc.,Ciência dos Alimentos, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Caixa Postal 37, 37.200.000 Lavras-MG. 2. Eng. Agr. Dr. Prof. Assistente/Departamento de Ciência dos Alimentos/UFLA. Ciênc. Agrotec., Lavras, v.25, n.1, p.159-168, jan./fev., 2001 160 3. Bioquímica, Dra. Profa. Titular/Departamento de Ciência dos Alimentos/UFLA. 10ºC and UR average 90%), during 35 days. Weekly, fruit samples of EI were analysed for total soluble solids (SST); titratable acidity (ATT); ratio SST/ATT; pH; total sugars (AST) and identification of fungi present on the skin. For EII the fruits were analyed only for mass loss. There were no significative interactions between treatments and time of storaging of E1, SST, ATT, pH and AST, except for the ratio SST/ATT. The highest ratio SST/ATT was obtained for fruits treated with benomyl + ethylene absorbent at 21 days of storaging. The SST, ATT, SST/ATT and AST contents decreased during the storaging. Fungi were detected in all of the treatments at the end of the experiment. The incidence of fungi; were smaller on treated fruits with benomyl + ethylene absorbent. The fungus, Colletotrichum gloeosporioides, caused dark spots on the skin of the fruits, depreciating the them. The incidence of fungi on fruits maintained as control was higher at 35 days, with perceptible alteration of the flavor. For EII there was significative interaction between packing and time of storaging. Using the PVC film reduced the mass losses of fruits in 15% in relation to control. It shows that PVC film is a viable economical alternative that can reduce the losses of water, avoiding the shrivelness of the skin. The use of film PVC treated with benomyl + ethylene absorbent provided the best conservation of passion fruits at 35 day of storaging. It had a beneficial effect on appearance of fruits, reducing losses of water and preventing of dark spots on the skin. INDEX TERMS: Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg, conservation and quality postharvest, storage, modified atmosphere, etylene absorbent, fungi. INTRODUÇÃO O cultivo do maracujá amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) tem-se expandido rapidamente em vários Estados do Brasil. Entre os maiores produtores, destacam-se Pará, Bahia, São Paulo e Sergipe (Carraro e Cunha, 1994). Embora diversos produtos possam ser obtidos do mesmo, o suco, tanto integral como concentrado, representa uma maior expressão econômica. Recentemente, tem-se constatado um aumento considerável no consumo de maracujá amarelo nos mercados americano, europeu e japonês, chegando a aproximadamente 30.000 toneladas anuais, sendo o fruto consumido tanto ao natural como na forma de suco puro ou em mistura com sucos de outras frutas como laranja, abacaxi, banana ou maçã (Suzuki e Lins, 1987; São José, 1994). A conservação pós-colheita do fruto tem sido uma grande preocupação nos Estados produtores, visto que o fruto é perecível e suporta, em condições normais, três a sete dias à temperatura ambiente (Arjona, Matta e Garner Júnior 1992). Após esse período sofrem murcha rápida, a polpa principia a fermentar e inicia-se o ataque de fungos. Atmosfera modificada tem sido utilizada com sucesso na preservação de frutos e hortaliças. Nesse processo, a atmosfera no interior da embalagem é, geralmente, alterada pelo uso de filmes de polietileno, como o cloreto de polivinil (PVC), que se caracteriza por apresentar boa barreira ao vapor d’água e permeabilidade relativa a O2 e CO2 (Kader, 1986; Kader, Zagory e Kerbel, 1989). Esse tipo de filme permite que a concentração de CO2 proveniente da respiração aumente, e a concentração de O2 diminua, à medida que é utilizado pelo processo respiratório (Chitarra e Chitarra, 1990). Com isso, o metabolismo do fruto é reduzido e sua vida pós-colheita pode ser prolongada substancialmente. Associado à atmosfera modificada, os absorvedores de etileno tais como K2MnO4-amargosite, sílica gel permanganato, permanganato de potássio, green keeper, clay, frubel e cycocel tem por finalidade absorver e oxidar o etileno liberado pelo próprio fruto durante o processo de amadurecimento. Lin et al. (1993) e Jiang et al. (1997) constataram queembalagens de PVC (0,07 mm de espessura) contendo absorvedores de etileno, K2MnO4-amargosite e KMnO4 respectivamente, são mais eficazes em prolongar a conservação pós-colheita de bananas, por proporcionar um pré-climatério mais longo. Morangos embalados com filme de PVC contendo absorvedor de etileno (KMnO4), armazenados a baixas temperaturas, apresentaram um decréscimo na taxa respiratória e um aumento da vida de armazenamento de 20 para 30 dias, mantendo a relação açúcares/ácidos aceitável para o consumo (Hao e Hao, 1993). As condições experimentais utilizadas por vários autores (Corrêa et al.,1995; Hong et al., 1996; Bhadra e Sen, 1997; Toivonen e Gorny, 1997; Yon, Rahman e Kader, 1997; Kim e Wills, 1998) são bastante variáveis no que se refere à espessura do filme de polietileno, com ou sem perfurações, uso ou não de absorvedores de etileno, temperatura, etc. No entanto, todos constataram Ciênc. Agrotec., Lavras, v.25, n.1, p.159-168, jan./fev., 2001 161 que a embalagem com filme de polietileno juntamente com os absorvedores de etileno e baixas temperaturas promovem um aumento considerável na vida de prateleira dos frutos, por aumentar a concentração de CO2, reduzir a perda d’água e a respiração, inibir a ação do etileno, conseqüentemente, reduzindo o metabolismo do fruto. O objetivo deste trabalho foi testar o efeito do filme de PVC, sem perfurações, associado ao fungicida benomyl e ao absorvedor de etileno (green keeper), na conservação pós-colheita do maracujá amarelo. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados frutos de maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg) produzidos na região de Carandaí, MG, colhidos com 2 cm de pedúnculo, no estádio fisiologicamente maturo (frutos pré-climatéricos) e peso médio de 152 g. Para aplicação dos tratamentos, foram montados dois ensaios experimentais, ambos conduzidos no laboratório de Fisiologia e Bioquímica Pós-colheita de Frutos e Hortaliças do Departamento de Ciência dos Alimentos da Universidade Federal de Lavras-UFLA. O primeiro ensaio (EI) constou de frutos imersos por um minuto em solução de benomyl, produto comercial (100g/L), acondicionados em bandejas plásticas envoltas por filme de PVC (0,015 mm de espessura, marca comercial rolopack, fabricado por Alba Química SA), flexível e auto-adesivo contendo ou não um sachê de absorvedor de etileno (KMnO4; green keeper, 9,5g). O controle consistiu de frutos embalados com filme de PVC, não tratados com benomyl e sem absorvedor de etileno. O segundo ensaio (EII) foi montado para avaliar-se o efeito do filme de PVC sobre a perda de massa fresca do fruto no decorrer do armazenamento. Os tratamentos constaram somente de frutos acondicionados em bandejas plásticas embaladas ou não com PVC. Ambos os ensaios foram mantidos em câmara fria, sob temperatura média de 100 C e umidade relativa média de 90%, por 35 dias. Os delineamentos experimentais utilizados foram inteiramente casualizados em esquemas fatoriais 3 x 5 (3 níveis do fator químico: controle, benomyl a 1% e benomyl a 1% + absorvedor de etileno; e 5 níveis do fator tempo: 0, 7, 14, 21 e 35 dias de armazenamento) e 2 x 6 (2 níveis do fator embalagem: com e sem PVC e 6 níveis do fator tempo: 0, 7, 14, 21, 28 e 35 dias de armazenamento), para os EI e EII respectivamente, com 3 repetições, sendo a unidade experimental composta de uma bandeja contendo quatro frutos. Semanalmente, foram retiradas amostras de ambos os ensaios, para análise das seguintes variáveis, EI: sólidos solúveis totais (SST), por refratometria (AOAC, 1992); acidez total titulável (ATT), em mg de ácido cítrico/100mL suco, de acordo com técnica do Instituto Adolfo Lutz, (1985); índice de qualidade obtido pelo cociente SST/ATT; pH por potenciometria (AOAC, 1992) e açúcares solúveis totais (AST) pelo método de Dische, (1962); EII: a perda de massa fresca foi calculada como a porcentagem diferencial entre a massa inicial dos frutos e a perda de massa no decorrer dos 35 dias de armazenamento. Durante todo o período experimental, amostras de tecidos da casca de frutos do EI foram coletadas e enviadas a Clínica Fitossanitária da UFLA, Departamento de Fitossanidade, para identificação dos fungos, segundo Barnett e Hunter, (1987). As variáveis avaliadas foram submetidas à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, no EI e Duncan, no EII em nível de 5%, utilizando o programa SANEST (Sarriés, Oliveira e Alves, 1992). RESULTADOS E DISCUSSÃO Pelo resumo das análises de variância apresentadas na Tabela 1, pode-se observar no EI que não houve interação significativa entre os tratamentos e tempo de armazenamento para as variáveis, SST, ATT, pH e AST, exceto para a relação SST/ATT, que mede o índice de qualidade dos frutos. Pelos resultados apresentados na Tabela 2, observa-se que a maior relação SST/ATT foi obtida em frutos tratados com benomyl + absorvedor de etileno (green keeper) aos 21 dias de armazenamento (6,18), embora essa diferença tenha sido detectada estatisticamente somente em relação ao tratamento com benomyl no mesmo período. O fato de os frutos tratados com benomyl + absorvedor de etileno terem atingido a máxima relação SST/ATT somente aos 21 dias de armazenamento, quando comparado aos demais tratamentos, pode ser atribuído ao absorvedor de etileno, cuja função é absorver e oxidar o etileno liberado pelo próprio fruto durante a maturação. Sabe-se que o etileno acelera o processo de maturação, e sua oxidação pelo absorvedor de etileno (green keeper) pode ter retardado o amadurecimento dos mesmos. Yon, Rahman e Kader (1997) constataram que o uso de absorvedor de Ciênc. Agrotec., Lavras, v.25, n.1, p.159-168, jan./fev., 2001 162 etileno (Clay, 20g) foi muito efetivo em manter a concentração de etileno em níveis indetectáveis, dentro das bolsas de polietileno (LDPE, 0,04 mm de espessura) usadas para embalar mamão papaya. TABELA 1 - Resumo ANOVA de SST, ATT, SST/ATT, pH, AST para interação entre tratamentos e tempo de armazenamento do maracujá amarelo. Variáveis Tratamentos Tempo armazenamento Tratamentos x Tempo armazenamento. STT ns * ns ATT ns * ns SST/ATT ns ns * PH ns * ns AST ns * ns ns= não significativo (p>5%), * =1% ££ p ££ 5% TABELA 2 - Médias para relação SST/ATT em maracujá amarelo armazenados por 35 dias, a 100C, sob atmosfera modificada por filme de PVC. Tratamentos Armaz. (dias) Controle Benomyl 1% Benomyl 1% + absorvedor de etileno 7 5,56ab 5,96a 5,29b 14 5,90a 5,22b 5,08b 21 5,81ab 5,43b 6,18a 35 5,58a 5,40a 5,63a Médias com a mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey 5%. Os frutos tratados com benomyl e controle atingiram a máxima relação SST/ATT aos 7 dias e 14 dias de armazenamento respectivamente (Tabela 2). Essas diferenças na relação SST/ATT durante o período de armazenamento entre os frutos tratados com benomyl e controle pode ser atribuída a diferenças no estádio de maturação do fruto, uma vez que o tratamento com benomyl influenciou muito pouco as variáveis que caracterizam a qualidade da polpa. Os frutos apresentaram uma redução nos teores de SST de 16,70 % para 14,84 % durante o período experimental (Figura 1), sugerindo um consumo de SST como substrato respiratório, com o decorrer da maturação. Uma vez colhidos, os frutos não dispõem mais dos compostos fornecidos pela planta e, então, passam a utilizar suas próprias reservas para produção de energia durante o climatérico. Esses valores (16- 14%) são superiores aos encontrados por Arjona et al. (1994), que estão na faixa de 11 a 10% para maracujá amarelo embalado com PVC, com 15 e 30 dias de armazenamento respectivamente. Landgraf(1978) constatou que os teores de SST do suco de maracujá são fortemente influenciados pela época do ano; frutos produzidos durante a época úmida (abril a junho) apresentaram teores de SST mais baixos (14,5 - 15,3%), em relação àqueles produzidos durante os Ciênc. Agrotec., Lavras, v.25, n.1, p.159-168, jan./fev., 2001 163 períodos secos (15,5 - 16,3%). No entanto, Nascimento (1996) verificou que as diferentes épocas de produção não tiveram influência sobre os teores SST (13,24%) do suco de maracujá amarelo produzido no Sul de Minas Gerais. FIGURA 1 – Regressão entre os teores de SST de maracujá amarelo e o tempo de armazenamento a 100C, sob atmosfera modificada por filme de PVC sem perfurações. Não foi observado efeito significativo dos diferentes tratamentos sobre o pH e os teores de ATT dos frutos. O pH manteve-se constante durante o armazenamento, variando de 2,50 aos 7 dias, para 2,53 aos 35 dias (Tabela 3), correspondendo a um decréscimo na ATT de 2,98 para 2,68, respectivamente (Figura 2). Os teores de AST, à semelhança dos SST, reduziram-se de 8,76 mg de glicose aos 7 dias para 7,46 mg aos 35 dias de armazenamento (Figura 3). Açúcares são constantemente consumidos como substratos respiratórios durante a maturação. O conteúdo máximo de SST no suco de maracujá amarelo ocorre por volta dos 63 dias após a floração, coincidindo com o início do amadurecimento. Em seguida, decresce rapidamente, refletindo a utilização dos açúcares como principal fonte de carbono para respiração e senescência (Pocasangre-Enamorado et al., 1995). As variações, na composição físico-química do maracujá amarelo, têm sido atribuídas a vários fatores, tais como: espécie, época de colheita, tamanho do fruto, estádio de maturação, fertilidade do solo, taxa de luminosidade e manuseio pós-colheita (Garcia, 1980). O acúmulo de AST no suco de maracujá amarelo é favorecido por condições moderadas de temperatura, precipitação pluvial e baixa insolação. A melhor época para se produzir maracujá amarelo no Sul de Minas Gerais é de outubro a dezembro, quando as condições climáticas são mais favoráveis para obtenção de frutos maiores e com teores elevados de AST, vitamina C e maior relação SST/ATT (Nascimento, 1996). Quanto ao ataque fúngico, observou-se a ocorrência de fungos nos frutos do controle, no décimo terceiro dia de armazenamento e, para os demais tratamentos, apenas no vigésimo dia de armazenamento, com menor incidência para os frutos tratados com benomyl + absorvedor de etileno, até ao final do experimento. Dentre os vários fungos identificados, apenas o Colletotrichum gloeosporioides, causador da antracnose, constitui problema sério, causando manchas escuras na casca e depreciando a aparência do fruto. Na maioria da vezes, o fruto já vem infectado do campo; portanto, os tratamentos devem ser preventivos, sendo realizados no campo até próximo à época da florada e após o aparecimento dos frutos. Os 3,5 10,5 17,5 24,5 31,5 14 15 16 17 0 S ó lid o s s o lú v e is to ta is ( % ) y = 16,887771 - 0,05542449 x r = 0,66**2 Armazenamento (dias) 0 7 14 21 35 Ciênc. Agrotec., Lavras, v.25, n.1, p.159-168, jan./fev., 2001 164 demais fungos identificados foram considerados saprofitas, contribuindo apenas para depreciar ainda mais a aparência externa do fruto. Embora o benomyl a 1% tenha sido efetivo no controle dos fungos por curto período, sugere-se a necessidade de se testar outras concentrações. Observou-se ainda que frutos do controle, no 35º dia, apresentaram maior incidência de fungos com alteração perceptível do sabor e aroma (observação pessoal). TABELA 3 - Médias para SST, ATT; SST/ATT; pH e AST de maracujá amarelo armazenados por diferentes tempos, a 100C, sob atmosfera modificada por filme de PVC. Tempo armaz.(dias) SST (%) ATT (mg ac.cítrico/100mL) SST/ATT pH Açúcares totais (mg/100mL) 7 16,70a 2,98a 5,62ab 2,50a 8,76a 14 15,50ab 2,88 a 5,40a 2,46a 8,20a 21 16,22a 2,80 a 5,81ab 2,43a 7,71ab 35 14,85a 2,68 a 5,54a 2,53a 7,46a CV (%) 4,09% 5,24% 5,77% 1,59% 8,89% Médias com a mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey 5%. FIGURA 2 - Regressão entre os teores de ATT de maracujá amarelo e o tempo de armazenamento, a 100C, sob atmosfera modificada por filme de PVC sem perfurações. 3,5 10,5 17,5 24,5 31,5 2,5 2,6 2,7 2,8 2,9 3,0 0 A .T .T . (m g d e á c. c ít ri co /1 0 0 m l) y = 3,233357 - 0,093581794 x 0,5 r = 0,99**2 Armazenamento (dias) 0 7 14 21 35 Ciênc. Agrotec., Lavras, v.25, n.1, p.159-168, jan./fev., 2001 165 FIGURA 3 - Regressão entre os teores de AST de maracujá amarelo e o tempo de armazenamento, a 100C, sob atmosfera modificada por filme de PVC sem perfurações. No EII, houve interação significativa entre o uso de atmosfera modificada por filme de PVC e o tempo de armazenamento. A modificação da atmosfera pela utilização de PVC reduziu substancialmente a perda de massa total dos frutos em 15%, em comparação com frutos-controle. A perda de massa dos frutos embalados com PVC e controle foram maiores aos 7 dias de armazenamento, com redução substancial até os 14 dias, permanecendo relativamente constante até ao final do período experimental (Figura 4). Comportamento semelhante também foi observado por Arjona (1990), que constatou uma maior perda de água do fruto nos primeiros 15 dias do armazenamento. A aparência externa do maracujá é quantificada geralmente como a porcentagem da superfície do fruto com sintomas característicos de enrugamento. Segundo Arjona et al. (1994), 14% de perda de massa são suficientes para afetar 18% da superfície de maracujás embalados com filme de PVC VF-60 armazenados a 10ºC, por 30 dias, sem, no entanto, prejudicar sua aparência externa. A utilização de embalagem de PVC associada ao benomyl e absorvedor de etileno determinou efeito benéfico sobre a manutenção da aparência externa dos frutos, em decorrência da redução da perda de água e praticamente ausência de fungos e manchas escuras na casca. Sabe-se que, para uma boa aceitação pelos consumidores, os frutos devem apresentar-se túrgidos, com casca amarela, cor característica da cultivar, lisa ou pouco enrugada, sem manchas e sem defeitos que possam afetar a qualidade da polpa, como rachaduras, fungos e sinais de ataque por insetos (CETEC, 1985). Por causa da rápida perda de massa, maracujás maduros devem ser comercializados o mais rápido possível, evitando-se assim grandes prejuízos para os produtores. Segundo Silva (1983), para a variedade amarela, essas perdas chegam a ser de 10 a 20% da massa. Collazos et al. (1984) constataram que o armazenamento do maracujá amarelo, utilizando-se 3,5 10,5 17,5 24,5 31,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 3521147 0 0 Armazenamento (dias) A çú ca re s t o ta is ( m g /1 0 0 m L) y = 9,57566818 - 0,12762662 x + 0,0019182746 x r = 0,99**2 2 Ciênc. Agrotec., Lavras, v.25, n.1, p.159-168, jan./fev., 2001 166 embalagens de PVC com espessura de 10µm e seis perfurações, mantidos sob refrigeração de 10-12ºC e umidade relativa em torno de 87-89%, apresentaram melhor conservação por um período de 30 dias, com apenas 3,6% de perda de massa. 3,5 10,5 17,5 24,5 31,5 0,0 0,8 1,6 2,4 3,2 4,0 3521147 0 0 Armazenamento (dias) % p e rd a d e m a ss a y = 2,348401 - 0,00000273 x + 1540,5725 e r = 0,99**2 3 28 Sem PVC y = 0,34967013 + 253,80273 e r = 0,72**2 -x -xCom PVC FIGURA 4 - Regressão entre a perda de massa fresca em maracujá amarelo e o armazenamento a 100C, sob atmosfera modificada por filme de PVC sem perfurações. O uso de embalagens de PVC associado a baixas temperaturas tem-se mostrado como uma alternativa viável e de baixo custo para produtores e cadeias de supermercados. Neste experimento, frutos embalados com PVC 0,015mm, sem perfurações, mantidos sob 10ºC e umidade relativa em torno de 90%, também apresentaram boa aparência externa por 35 dias, com 15% de perda de massa total, em relação aos frutos sem embalagem, minimizando, dessa forma, o enrugamento da casca e a perda de massa. Resultados semelhantes a esses foram obtidos por Arjona et al. (1994), que constataram que o pH e os teores de SST e AST da polpa são pouco influenciados pela embalagem com PVC e pelo tempo de armazenamento do fruto. Os mesmos autores constataram também que o uso do PVC minimizou a perda de massa e manteve a aparência externa dos frutos armazenados a 10ºC, por 30 dias. CONCLUSÕES a) O uso de PVC 0,015 mm, flexível, sem perfurações, mostrou-se uma alternativa viável e barata para os produtores, como forma de reduzir a perda de água, evitando, dessa forma, o enrugamento da casca e a perda de massa dos frutos e, conseqüentemente, os prejuízos durante a comercialização, tanto no peso quanto na aparência do fruto. b) A utilização do filme de PVC 0,015 mm, associado a benomyl P.C. (100g/L) e absorvedor de etileno (green keeper) e à temperatura de 10ºC, propiciou a conservação do maracujá amarelo em condições excelentes de comercialização até o 350 dia de armazenamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARJONA,H.E. Postharvest studies of passion fruit (Passiflora edulis Sims). Mississippi: Mississipi State University, 1990.( PhD Dissertation). ARJONA,H.E.; MATTA,F.B.; GARNER JÚNIOR, J.O. Temperature and storage time affect quality of yellow passion fruit. Hortscience, Alexandria, v.27, n.7, p.809-810, July 1992. ARJONA,H.E.; MATTA,F.B.; GARNER JÚNIOR, J.O. Wrapping in polyvinyl chloride film slows Ciênc. Agrotec., Lavras, v.25, n.1, p.159-168, jan./fev., 2001 167 quality loss of yellow passion fruit. Hortscience, Alexandria, v.29, n.4, p.295-296, April 1994 ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY. Official methods of analysis of the Association of Official Analytical Chemistry. 11. ed. Washington: AOAC, 1992. 1115p. BARNETT, H.L.; HUNTER, B.B. Ilustrated Genera of Imperfect Fungi. 4ed. New York: MacMillan Publishing Company, 1987. 218p. BHADRA, S.; SEN, S.K. Post-harvest storage of custard apple (Annona squamosa L.) fruit var. Local Green under various chemical and wrapping treatments. Journal of Inter academicia, v.1, n.4, p.322-328, 1997. CARRARO, A.F.; CUNHA, M.M. da Manual de exportação de frutas. Brasília, FRUPEX/IICA da Secretaria Desenvolvimento Rural do MARA, 1994. p.20-21. CETEC. Manual para fabricação de geléias. Belo Horizonte, 1985. 42p. (Série Publicações Técnicas/SPT-015). CHAN Jr., KWOR, S.C.M. Identification and determination of sugars in some tropical fruit products. Journal Food Science. Chicago, v.40, n.2, p.419-420, March/april, 1975. CHITARRA, M.I.F.; CHITARRA, A.B. Pós-colheita de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio. Lavras: ESAL / FAEPE, 1990. 208 p. COLLAZOS, O.; BAUTISTA, A.; MILLAN, B.; MAPURA, B. Efecto de bolsas de polietileno en la conservación de maracuyá (Passiflora edulis var.flavicarpa Degener), curuba (P. mollissima HBK Bailey) y tomate (Lycopersicon esculentum Miller). Acta Agronomica, Palmira, v.34, n.2, p.53-60, 1984. CORREA, P. C.; PLAZA PEREZ, J.L. de la; RUIZ ALTISENT, M. No destructive tests to evaluate postharvest maturity in avocado. Agro Ciencia, Chillan, Chile. v.11, n.2, p.197-200, july/dec. 1995. DISCHE, E. Color reactions of carbohydrates. In:WHISTLER, R.L.; WOLFRAN, M.L. (eds) Methods in carbohydrates chemistry. New York: Academic Press, v.1, p.477-512. 1962. GARCIA, J.M.L. Matéria-prima. In: MEDINA, J.C. et al. Maracujá, da cultura ao processamento e comercialização. Campinas: Instituto de Tecnologia de Alimentos, 1980. p.107-114. (Série frutas tropicais, 9). HAO, H.P.; HAO, L. Study on storing strawberry at a temperature near the freezing point of water. Journal of Fruit Science, v.10, n.1, p.21-24; 1993. HONG, Y.P.; HONG, S.S.; KIM, Y.B.; KIM, S.B. Effect ethylene absorbent (Frubel) on quality of “Hayward” kiwifruit during cold storage. RDA Journal of Agricultural Science, Far Management, Agricultural Engineering, Sericulture, and Farm Products Utilization. v.38, n.1 p.922-926; 1996. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas, métodos químicos e físicos para análise de alimentos. 3 ed. São Paulo, 1985. v.1, p.53. JIANG, Y.M.; CHEN, F.; LIU, S.X.; LI, Y.Y.B. Effect of pre- and post-harvest treatments on the keeping quality of banana. Journal of Fruit Science, v.14, n.2, p.115-116, 1997. KADER, A.A. Biochemical and physiological basis for effects of controlled and modified atmosphere on fruit and vegetables, Food Technology, Chicago, v.40, n.5, p.99-104, may 1986. KADER, A.A.; ZAGORY, D.; KERBEL, E.L. Modified atmosphere packaging of fruits and vegetable. Critical Reviews in Food Science and Nutrition, Baca Raton, v.28, n.1, p.1-30, 1989. KIM, G.H.; WILLS, R.B.H. Interaction of enhanced carbon dioxide and reduced ethylene on the storage life of strawberries. Journal of Horticultural Science and Biotechnology. Kent, v.73, n.2, p.181- 184, may1998. LANDGRAF, H. Perspectivas da comercialização do maracujá e de seus derivados. In: ENCONTRO ESTADUAL DA CULTURA DO MARACUJÁ, 1., 1978, Aracajú. Anais... Aracajú, SE: EMATER, 1978, p.95-100. Ciênc. Agrotec., Lavras, v.25, n.1, p.159-168, jan./fev., 2001 168 LIN, R.L.; ZHANG, Q.C. Preliminary report on study of treating banana with freshness-preserving agent K2MnO4-amargosite. Fujian Agricultural Science and Technology, Fuzhoa, China, n.3, p.15-16, 1993. NASCIMENTO, T.B. do. Qualidade do maracujá amarelo produzido em diferentes épocas no Sul de Minas Gerais. Lavras: UFLA, 1996. 56p. ( Dissertação – Mestrado em Fitotecnia). POCASANCRE- ENAMORADO, H.E.; FINGER, F.L.; BARROS, R.S.; PUSCHUMANN, R. Development and ripening of yellow passion fruit. Journal of Horticultural Science, Kent, v.70, n.4, p.573-576, july 1995. SÃO JOSÉ, A.R. Maracujá: Produção e Mercado. Vitoria da Conquista: UESB, 1994. 255p. SARRIÉS, G.A.; OLIVEIRA, J.C.V.; ALVES, M.C. C. SANEST. Piracicaba: CIAGRI, 1992. 80p. (Série Didática Ciagri,6). SILVA, J.B. da. Suco de maracujá. Informativo Semanal Cacex, Rio de Janeiro, n.835, p.1-32, 1983. SUZUKI, O.Y.; LINS, W.B.A. Considerações econômicas brasileiras In: RUGGIERO, C. (Coord.). Cultura do maracujazeiro. Ribeirão Preto: Legis Summa, 1987. p.8-19. TOIVONEN, P.M.A.; GORNY, J.R. Quality changes in packaged, diced onions (Allium cepa L.) containing two different absorbent materials. In: INTERNATIONAL CONTROLLED ATMOSPHERE RESEARCH CONFERENCE: Fruits other than apples and pears, 7.,1997, Davis, CA. Proceedings... Davis, CA: University of California. Departament of Pomology, 1997. v.3, p. 1-7. (Postharvest-Horticulture Series, 19). YON, R.M.; RAHMAN, A.S.A; KADER, A.A. M A shipment of papaya cv. Eksotika. In: INTERNATIONAL CONTROLLED ATMOSPHERE RESEARCH CONFERENCE: Frech cut fruits and vegetables and MAP, 7., 1997, Davis, CA. Proceedings... Davis, CA: University of California. Departament of Pomology, 1997. v.5, p.198-204. (Postharvest-Horticulture Series, 19).
Compartilhar