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2. APELAÇÃO NCPC

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2. INOVAÇÕES DOS RECURSOS (NOVO CPC) - APELAÇÃO
Apelação: continua sendo o recurso cabível contra a sentença. A grande alteração a ela imposta pelo CPC de 2015 é consequência da supressão do recurso de agravo retido. No CPC de 1973, as questões resolvidas na fase de conhecimento, não suscetíveis de agravo de instrumento, ficam preclusas (ressalvadas as questões que, por serem de ordem pública, não estão sujeitas à preclusão) se contra elas não for interposto agravo retido. 
Esse recurso não é interposto para julgamento imediato, mas para ser apreciado como preliminar, no julgamento da apelação, devendo ser reiterado nas suas razões ou contrarrazões, sob pena de não ser conhecido. A rigor, o agravo retido tem por finalidade impedir que a decisão preclua, permitindo que ela seja reexaminada quando do julgamento da apelação.
O CPC de 2015 altera essas regras, ao estabelecer, no art. 1.009, § 1º, que “as questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não ficam cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões”. 
E o § 2º acrescenta: “Se as questões referidas no par. 1º forem suscitadas nas contrarrazões, o recorrente será intimado para, em quinze dias, manifestar-se a respeito delas”.
O novo sistema passa a considerar, portanto, irrecorríveis as decisões interlocutórias proferidas no curso do processo, salvo aquelas suscetíveis de agravo de instrumento, enumeradas no art. 1.015. 
Desaparece o agravo retido, com o que se dá maior aplicabilidade ao princípio da oralidade e ao subprincípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias.
Haverá, pois, dois tipos de decisões interlocutórias: as que são suscetíveis de agravo de instrumento, enumeradas no art. 1.015, e que precluem caso o recurso não seja interposto no prazo de 15 dias, não podendo ser suscitadas em preliminar de apelação ou nas contrarrazões; e as não suscetíveis de agravo de instrumento, que são irrecorríveis, mas que não precluem, podendo ser reexaminadas se suscitadas como preliminar de apelação ou nas contrarrazões.
Amplia-se, com isso, o objeto da apelação, uma vez que por meio dela será possível impugnar não só aquilo que foi decidido na sentença e em seus capítulos, mas também as decisões interlocutórias, que não tiverem precluído, desde que suscitadas como preliminar ou nas contrarrazões.
Em observância ao princípio do contraditório, manda a lei que, se a questão for suscitada nas contrarrazões, sobre ela o apelante seja ouvido no prazo de 15 dias.
Caso haja a reforma de decisão interlocutória, suscitada na apelação, com a qual seja incompatível o julgamento do mérito do recurso, o órgão ad quem o considerará prejudicado.
O processamento da apelação permanece o mesmo, com algumas modificações. Uma delas, que merece destaque, é que, conquanto o recurso continue sendo interposto perante o órgão a quo, não caberá mais a ele fazer prévio juízo de admissibilidade, que fica agora exclusivamente a cargo do órgão ad quem (art. 1.010, § 3º). Este deverá julgar o mérito do recurso sempre que a causa estiver em condições de imediato julgamento, não apenas quando reformar a sentença meramente extintiva, mas quando decretar a sua nulidade por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; constatar omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; decretar nulidade de sentença por falta de fundamentação; ou reformar sentença que reconheça prescrição ou decadência.
DOS RECURSOS EM ESPÉCIE
APELAÇÃO
Conceito: A apelação é o recurso que cabe contra sentença, definida como o ato que põe fim ao processo, ou à fase condenatória. 
Cabimento: contra qualquer tipo de sentença: que julga processo de conhecimento (condenatório, constitutivo ou declaratório); que extingue as execuções, e que decide os processos cautelares. E também que aprecia os procedimentos de jurisdição voluntária. Serve tanto para as sentenças definitivas, em que há julgamento de mérito, quanto para as extintivas.
Exceções: sentença que julga embargos à execução de pequeno valor, contra a qual cabem embargos infringentes; que decreta a falência, contra a qual cabe agravo de instrumento.
No CPC de 2015, sentença é conceituada como o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487 (sem e com resolução de mérito), põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução, ressalvadas as disposições expressas nos procedimentos especiais.
Requisitos de admissibilidade
O prazo para a interposição é de quinze dias. 
Pode ser por fax, nos termos da Lei n. 9.800, de 26 de maio de 1999. Em cinco dias deverá ser apresentado o original.
O apelante deve recolher o preparo, observadas as disposições da Lei Estadual de Custas.
*O juiz só a receberá se a sentença não estiver em consonância com súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça (art. 518, § 1º). Obs. Nova regra: juízo a quo não faz mais juízo de admissibilidade.
Sob o aspecto formal, deverão ser observadas as exigências do art. 514: ser interposta no juízo a quo por petição, acompanhada das respectivas razões. A petição é endereçada ao juiz da causa, e não ao Tribunal, já que lhe cabe recebê-la. As razões, no entanto, são dirigidas ao Tribunal, pois competirá a ele examiná­las.
O recurso deverá conter os nomes e qualificação das partes. Na verdade, a qualificação só será necessária em caso de recurso de terceiro prejudicado, pois, nos demais, já deverá constar dos autos, sendo desnecessário repeti-la. 
Deverá ainda apresentar os fundamentos de fato e de direito em que se funda a pretensão recursal e formular o pedido de nova decisão. 
As razões devem acompanhar o recurso no ato de interposição, não podendo ser apresentadas posteriormente.
Não há necessidade de indicação do Tribunal para o qual o recurso é dirigido, pois cabe ao juízo encaminhá­la.
No CPC de 2015, a apelação é apresentada perante o órgão a quo, que intimará o apelado para as contrarrazões, em 15 dias. Após, os autos serão remetidos ao tribunal, independentemente de juízo de admissibilidade.
Efeitos da apelação
Devolutivo e Suspensivo.
Devolutivo: Uma das grandes inovações do CPC de 2015 é a extinção do agravo retido, com o que as decisões interlocutórias não suscetíveis de agravo de instrumento (art. 1015) serão irrecorríveis. As questões decididas, a respeito das quais não caiba agravo de instrumento, não precluirão e poderão ser suscitadas como preliminar de apelação ou nas contrarrazões. Assim, na apelação e nas contrarrazões, será possível postular não só o reexame daquilo que foi decidido na sentença, mas também das questões decididas no curso do processo que, por não serem recorríveis, não se tornaram preclusas. É o que dispõe o art. 1.009, § 1º.
Suspensivo: Em regra, a apelação é dotada de efeito suspensivo. Mas há casos, enumerados no art. 1.012 do NCPC, em que a lei lhe retira esse efeito.
“Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo.
§ 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que:
I - homologa divisão ou demarcação de terras;
II - condena a pagar alimentos;
III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado;
IV - julga procedente o pedido de instituição de arbitragem;
V - confirma, concede ou revoga tutela provisória;
VI - decreta a interdição.
§ 2o Nos casos do § 1o, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento provisório depois de publicada a sentença.
§ 3o O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1o poderá ser formulado por requerimento dirigido ao:
I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la;
II - relator, se já distribuída a apelação.
§ 4o Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderáser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação.”
No CPC de 2015, são mantidas as hipóteses anteriores, salvo a relativa ao processo cautelar (item c), já que ele deixa de existir. Em contrapartida, é acrescentada a hipótese da sentença que decreta a interdição.
Possibilidade de inovar na apelação
Em regra, não é possível inovar na apelação, uma vez que o art. 1.013, § 1º NCPC, limita o objeto da apreciação e julgamento pelo tribunal às questões suscitadas e discutidas.
No entanto, há duas situações em que o tribunal pode examinar questões não apreciadas em primeiro grau: na do art. 462 do CPC, quando, depois da propositura da ação, fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, influir no julgamento, caso em que caberá tomá­lo em consideração. Esse dispositivo pode ser aplicado tanto no momento da sentença quanto no do julgamento do recurso; e quando houver matéria de ordem pública que, embora não discutida anteriormente, pode ser conhecida de ofício no exame do recurso.
Processamento da apelação em primeira instância
No CPC de 2015, não cabe mais ao juiz fazer prévio juízo de admissibilidade do recurso de apelação, antes de recebê-lo. 
O juízo a quo determinará a intimação do apelado para as contrarrazões, em quinze dias.
Não cabe recurso contra o recebimento da apelação, mas admite-se o agravo de instrumento para impugnar os efeitos que o juiz lhe atribuir.
Processamento da apelação no Tribunal
Os autos serão registrados, distribuídos de acordo com o regimento interno e encaminhados ao relator, que os devolverá à Secretaria com um visto (CPC, art. 549). O relator fará um relatório sucinto, apontando os principais pontos controvertidos que são objeto do recurso.
Em seguida, os autos serão encaminhados a um revisor, salvo nas ações de despejo ou quando houver indeferimento da inicial.
Será marcada data para o julgamento, no qual haverá a participação de três juízes. Qualquer um poderá, durante o julgamento, pedir vista dos autos, se ainda não se sentir habilitado a proferir imediatamente o seu voto.
O art. 557, caput, do CPC autoriza o relator a negar seguimento ao recurso “manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior”. E o § 1º­A o autoriza a, de plano, dar provimento ao recurso “se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior”.
Em ambas as hipóteses, contra a decisão unilateral do relator, o prejudicado poderá, no prazo de 15 dias, interpor o agravo interno, que será examinado pela turma julgadora, a quem competiria o exame da apelação. A multa, em caso de manifesta inadmissibilidade ou improcedência, é reduzida para 1 a 5% do valor da causa no NCPC.
O art. 515, § 4º, do CPC autoriza o tribunal, em caso de nulidade sanável, a determinar a realização ou renovação de ato processual, intimando­se as partes; depois que a diligência for cumprida, o julgamento prosseguirá.
No CPC de 2015, o prazo para o agravo interno contra decisões unilataterais do relator será de 15 dias. O art. 932, incs. IV e V, enumera as hipóteses em que o relator poderá negar provimento ou dar provimento ao recurso, monocraticamente.
O julgamento
No julgamento votarão três juízes, e o resultado será colhido por maioria.
As questões referentes à admissibilidade do recurso devem ser votadas em primeiro lugar. Se houver mais de uma questão, cada qual deve ser votada separadamente, sob pena de falseamento do resultado.
Também o julgamento do mérito deve ser decomposto: cada uma das questões de fato que, por si só, constitua um fundamento do pedido ou da defesa, deve ser votado separadamente, sob pena de falseamento do resultado.
Casos especiais
Contra a sentença de indeferimento da inicial, cabe apelação, que permite ao juiz exercer direito de retratação. Se ele mantiver a sentença, determinará a remessa dos autos à instância superior, sem mandar citar o réu, e sem que ele apresente resposta. Já contra a sentença de improcedência de plano (art. 285­A, do CPC), a apelação permitirá a retratação do juiz, mas, se a sentença for mantida, o réu será citado, para apresentar contrarrazões.

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