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UFU Apostila de Filosofia

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FILOSOFIA – UFU E UEG 
 
Prof. Gilberto Soares – gilbertosoares52@gmail.com 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
 
I – Filosofia Antiga: as origens da filosofia e os filósofos gregos 
 
1. O nascimento da filosofia: mito e razão 
2. Os filósofos pré-socráticos: Heráclito e Parmênides 
3. Sócrates e Platão 
4. Aristóteles 
 
II – Filosofia Medieval 
 
1. Principais períodos da filosofia medieval 
2. Santo Agostinho 
3. Tomás de Aquino 
4. A questão dos universais: um problema não apenas medieval 
 
III – Filosofia Moderna – A questão do conhecimento 
 
1. O conhecimento como problema filosófico 
2. René Descartes 
3. David Hume 
4. O criticismo de Immanuel Kant 
 
IV – Filosofia Moderna – A questão política 
 
1. Maquiavel: a política como categoria autônoma 
2. Thomas Hobbes e o Estado absoluto 
3. John Locke e o Estado liberal 
4. Jean-Jacques Rousseau e o Estado democrático 
 
V – Filosofia Contemporânea 
 
1. George W. F. Hegel 
2. Karl Heinrich Marx 
3. Nietzsche e Foucault 
4. O Existencialismo de Jean-Paul Sartre 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
I - FILOSOFIA ANTIGA 
AS ORIGENS DA FILOSOFIA E OS FILÓSOFOS GREGOS 
 
Introdução 
 
Embora de um modo ou de outro o ser humano sempre tenha exercido seus dons filosóficos, a 
filosofia ocidental como um campo de conhecimento coeso e estabelecido, surge na Grécia antiga com a 
figura de Tales de Mileto, que foi o primeiro a buscar uma explicação para os fenômenos da natureza 
usando a razão e não os mitos, como era de costume. 
A filosofia ocidental perdura há mais de 2.500 anos, tendo sido a mãe de quase todas as ciências. 
Psicologia, Antropologia, História, Física, Astronomia, Matemática, Biologia e praticamente qualquer outra 
derivam direta ou indiretamente da filosofia. Entretanto as "filhas" ciências se ocupam de objetos de 
estudo específicos, e a "mãe" se ocupa do todo, da totalidade do real. 
Nada escapa à investigação filosófica. A amplitude de seu objeto de estudo é tão vasta, que foge a 
compreensão de muitas pessoas, que chegam a pensar ser a filosofia uma atividade inútil. Além disso 
seu significado também é muito distorcido no conhecimento popular, que muitas vezes a reduz a 
qualquer conjunto simplório de idéias específicas, as "filosofias de vida", ou basicamente a um exercício 
poético. 
Entretanto como sendo praticamente o ponto de partida de todo o conhecimento humano 
organizado, a filosofia estudou tudo o que pôde, estimulando e produzindo os mais vastos campos do 
saber, mas diferente da ciência, a filosofia não é empírica, ou seja, não faz experiências. Mesmo por que 
geralmente seus objetos de estudo não são acessíveis ao empirismo. 
A razão e a intuição são as principais ferramentas da filosofia, que tem como fundamento a 
contemplação, o deslumbramento pela realidade, a vontade de conhecer, e como método primordial a 
rigorosidade do raciocínio e da linguagem, para atingir a estruturação do pensamento e a organização do 
saber. 
Capítulo 1: O nascimento da filosofia: mito e razão 
 
 
 
Fonte: www.meusestudos.com/.../partenon-da-acropole.jpg/12/12/2008 
 
A Palavra “Filosofia” 
 
 A palavra filosofia é originalmente grega e é composta por outras duas: philos, que significa 
amor/amizade e sophia, que significa sabedoria; portanto, filosofia é amor pela sabedoria ou amizade 
pelo saber. Não um amor de quem já possui ou detém aquilo que ama, mas de quem ainda procura a 
sabedoria, que busca alcançar a verdade. 
 A tradição nos apresenta o filósofo grego Pitágoras de Samos (Século VI-V a.C.) como o “inventor” 
do termo filosofia. Segundo o autor do famoso teorema matemático, a sabedoria plena só é possível aos 
deuses, mas aos homens devem desejá-la, tornando-se filósofos, amante do saber. 
 A verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diante de nós para ser 
contemplada e vista, se tivermos olhos (do espírito) para vê-la. Ter esses olhos é ser filósofo! 
 
 Pitágoras: O criador do termo filosofia. 
Fonte: http://www.mundoeducacao.com.br/filosofia/origem-filosofia.htm 24/11/2008 
 
Mito e Filosofia 
 
 O homem grego foi, por séculos, educado pelo mito. A palavra mito vem do grego mythos, que 
significa contar, narrar algo a alguém. O mito é uma narração fabulosa de origem popular e não refletida, 
dotada de forte sentido simbólico e pedagógico, que tem por finalidade a explicação do mundo, da 
realidade que nos circunscreve. 
 Admirado e amedrontado diante dos fenômenos que o cercam (sem entender o dia, a noite, a 
chuva, o terremoto, a origem do cosmos, a morte, o amor, entre outras coisas), o homem recorre aos 
mitos – primeira tentativa de situar-se no mundo – como fonte de explicação para o que vê, mas, como 
dissemos, já não compreende. Forças sobrenaturais são invocadas, deuses revestem-se de formas 
humanas (antropomorfismo) e se materializam nos mitos criados para desvendar o inefável. 
 Em suma, o mito é desprovido daquilo que os gregos chamam de logos, isto é, de razão ou 
racionalidade; é uma intuição acrítica, pré-reflexiva de um espírito cientificamente primitivo, narrada por 
um poeta-rapsodo, que a tornava sagrada e, por isso, incontestável e inquestionável. 
 No século VII a.C., na Jônia, região dominada pelos gregos, o comércio se intensificava, gerando 
riquezas que favoreceram importantes progressos materiais e culturais. Nesse ambiente de grandes 
transformações no modo de vida urbano, surgiram questões para as quais as explicações mitológicas 
soavam cada vez mais insuficientes. Foi nesse cenário que surgiram os filósofos pré-socráticos, assim 
chamados porque antecederam Sócrates, o primeiro dos três grandes filósofos da Grécia antiga. 
 Os pré-socráticos são também conhecidos como filósofos da natureza, e essa primeira fase do 
pensamento grego é chamada naturalista (ou período cosmológico), já que a investigação filosófica é 
dirigida para o mundo exterior, para a natureza, onde se acreditava ser possível encontrar o princípio de 
todas as coisas, isto é, aquilo que está em todos os seres existentes, que é comum a tudo. Segundo os 
filósofos dessa época, esse princípio (arché) seria a chave para conhecer e explicar tudo o que existe no 
universo. 
 O período cosmológico confunde-se com os primeiros passos da filosofia no Ocidente e se origina 
na necessidade intuída pelo homem de explicar de maneira racional – e, portanto, não mítica – a ordem 
do mundo e/ ou da natureza (physis, para os gregos). A cosmologia é, então, uma filosofia da natureza; 
daí os primeiros filósofos serem chamados de “físicos” – isto é, só diz respeito ao homem na medida em 
que ele é parte de um universo natural que o engloba e determina. Dos filósofos pré-socráticos, os mais 
notáveis são Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia. 
 
O Nascimento da filosofia 
 
 Aristóteles afirmava que a filosofia tinha a sua origem no espanto, na estranheza e perplexidade 
que os homens sentem diante dos enigmas do universo e da vida. É o espanto que os leva a formularem 
perguntas e os conduz à procura das respectivas soluções. Com efeito, o espanto torna o evidente em 
algo incompreensível, o vulgar extraordinário. 
Os historiadores da filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do século VII e 
início do século VI a.C., nas colônias da Ásia Menor, na cidade de Mileto. Apesar da segurança desses 
dados, existe um problema que, durante séculos, vem ocupando os historiadores da filosofia: o de saber 
se a filosofia – que é um fato especificamente grego – nasceu por si mesma ou dependeu de 
contribuições da sabedoria oriental (egípcios, assírios, persas, babilônios, caldeus) e da sabedoria de 
civilizações que antecederam à grega (Minos, Tirento, Micenas). 
 Durante muito tempo, considerou-se que a filosofia nascera por transformações que os gregos 
impuseram aos conhecimentos da sabedoria oriental.No entanto, nem todos aceitaram essa tese, 
chamada “orientalista”, e muitos, sobretudo no século XIX da nossa era, passaram a falar na filosofia 
como sendo o “milagre grego”. Com a palavra “milagre”, queriam dizer queriam dizer que a filosofia surgiu 
inesperada e espantosamente na Grécia, sem que nada anterior a preparasse, ressaltando a 
excepcionalidade intelectual do povo grego. 
 Retirados os exageros das duas teses acima, percebe-se que, embora a filosofia tenha dívidas com 
a sabedoria dos orientais, não se pode negar as profundas mudanças que os gregos operaram naquilo 
que receberam dos orientais. De fato, tais mudanças foram tão profundas, que até parecia terem criado 
sua própria cultura a partir de si mesmos. 
 
Exercícios 
 
1. (UFU) A palavra Filosofia é resultado da composição em grego de duas outras: philo e sophia. A 
partir do sentido desta composição e das características históricas que tornaram possível, na Grécia, o 
uso de tal palavra, pode-se afirmar que 
 
a) Sólon, mesmo sendo legislador, pode ser incluído na lista dos filósofos, visto que ele era dotado de 
um saber prático. 
b) a palavra, atribuída primeiramente a Parmênides, indica a posse de um saber divino e pleno, 
tornando os homens verdadeiros deuses. 
c) a Filosofia, como quer Aristóteles, é um saber técnico, possibilitando, pela posse ou não de uma 
habilidade, tornar alguns homens os melhores. 
d) a Filosofia, na definição de Pitágoras, indica que o homem não possui um saber, mas o deseja, 
procurando a verdade por meio da observação. 
 
2. (UFU) No poema Teogonia, as Musas aparecem ao poeta Hesíodo e dizem-lhe o seguinte: 
“sabemos dizer muitas mentiras semelhantes aos fatos e sabemos, se queremos, dar a ouvir verdades” 
 
Com base neste trecho é correto afirmar: 
 
I. A Filosofia assemelha-se ao mito por entender que a verdade baseia-se na autoridade de quem a 
diz. 
II. No mito, há espaço para contradições e incoerências, pois a verdade nele se estabelece em um 
plano diverso daquele em que atua a racionalidade humana. 
III. O mito entende que a verdade é, por um lado, uma conformidade com alguns princípios lógicos e, 
por outro, a verdade deve ser dita em conformidade com o real. 
IV. A crença e a confiança no mito provêm da autoridade religiosa do poeta que o narra. 
 
a) I e III são corretas. 
b) II e III são corretas. 
c) II e IV são corretas. 
d) III e IV são corretas. 
 
3. A respeito do nascimento da filosofia no mundo grego, assinale a ÚNICA alternativa incorreta: 
 
a) A filosofia está intimamente ligada à cosmologia, tentando oferecer uma explicação racional para a 
origem e a ordem do mundo. 
b) A filosofia, como continuidade da tradição helênica dava uma nova dimensão para o mito, 
inaugurando uma nova maneira de explicar os conflitos e as tensões sociais, conservando a base mítica. 
c) A filosofia pode ser também concebida como o resultado do contato entre povos antigos e a 
herança recebida de outras civilizações. 
d) Os primeiros filósofos dedicaram seus estudos a respeito de questões relacionadas ao cosmos ou à 
natureza. 
 
Capítulo 2: Os filósofos pré-socráticos – Heráclito e Parmênides 
 
Heráclito de Éfeso 
 
 Heráclito. Detalhe da Escola de Atenas, de Rafael. 
 
O Ser como movimento ou devir 
 
Nascido em Éfeso, na Jônia, Heráclito (540?-480? a.C.) é considerado por numerosos autores da 
história da filosofia o mais importante dos pré-socráticos, apesar de ter sido conhecido como o “obscuro”, 
por apresentar seu pensamento por meio de aforismos, com um estilo propositadamente enigmático. Sua 
idéia mestra é o devir eterno, a transformação incessante, pela qual as coisas se constroem e se 
dissolvem em outras. Assim, a idéia absolutamente original trazida por Heráclito é a de que o mundo não 
é um lugar estático, mas um fluxo, uma mudança permanente de todas as coisas, um constante vir-a-ser. 
Para Heráclito, nada permanece o mesmo, nem por um instante. O que é hoje, amanhã não mais será. 
São frases dele: 
 
“O Sol é novo a cada dia” e “Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos”. 
 
 Tudo flui, tudo passa, tudo se move sem cessar. A vida se transforma em morte, a morte em vida; o 
úmido seca, o seco umedece; a noite torna-se dia, o dia torna-se noite; a vigília cede ao sono, o sono 
cede à vigília; o jovem torna-se velho, o velho se faz criança. O mundo é um perpétuo renascer e morrer, 
rejuvenescer e envelhecer. Nada permanece idêntico a si mesmo. Assim, para Heráclito, a essência 
verdadeira está na transformação, na mudança ou devir. 
 
Céu e água, por Maurits C. Escher 
 
Além disso, tudo tem o seu ser, mas também o não-ser, o seu oposto. Assim, tudo no universo está 
em permanente guerra contra o seu contrário. Os seres vivos morreriam porque já trariam em si a morte, 
como que oculta. Conhecer qualquer coisa só é possível porque existe o seu contrário; sabemos o que é 
a alegria porque experimentamos a tristeza, e vice-versa. O mesmo, segundo Heráclito aconteceria com 
as qualidades de tudo o que existe, sempre aos pares. Por exemplo, a guerra e a paz, o quente e o frio, o 
amor e o ódio. 
 Heráclito concebia o universo e todos os seus fenômenos como uma unidade. Entretanto, a 
afirmação de que tudo é Um assume em sua concepção um caráter completamente novo: a unidade só 
existe enquanto processo; a unidade, não vista como algo que permanece na imutabilidade, só 
permanece enquanto movimento de transformações contínuas. Havia no mundo uma lei, uma 
racionalidade – o que Heráclito chama de Logos – que dirigia seu movimento, constituindo a sua unidade. 
Para Heráclito, como já foi dito, tudo flui (panta rei); mas não se trata de um fluxo caótico e 
desarmonioso, pelo contrário, a guerra e a luta das forças antagônicas é harmonia no mais alto grau, isto 
é, a unidade do mundo decorre da tensão gerada pelos opostos. Para Heráclito, enfim, o princípio ou ser 
nada mais é que o vir-a-ser. 
 
Parmênides de Eléia 
 
 Fonte: www.educ.fc.ul.pt/.../images/Parmenides.jpg/24/11/2008 
 
 
O Ser é e o não-ser não é 
 
Entre os pensadores eleatas, Parmênides (515?-450? a.C.) é o mais ilustre. Ele, ao investigar a 
physis (a natureza) e a arché (o princípio de todas as coisas), praticamente deu início às reflexões sobre 
a lógica e a ontologia (estudo do ser). 
 Parmênides considera que o pensamento humano pode atingir o conhecimento genuíno e a 
compreensão. Essa percepção do domínio do "ser" corresponde às coisas que são percebidas pela 
mente. O que é percebido pelas sensações, por outro lado, é, segundo ele, enganoso e falso, e pertence 
ao domínio do não-ser. Trata-se de uma oposição direta ao mobilismo defendido por Heráclito de Éfeso, 
para quem "tudo passa, nada permanece". Seu pensamento influenciou a chamada "teoria das formas", 
de Platão. 
Através dos sentidos, dizia o filósofo, os homens percebem os mais diversos fenômenos naturais, 
constatam mudanças nas pessoas e nos seres vivos em geral; em resumo, testemunham um mundo que 
está em constante transformação. Segundo Parmênides, entretanto, o que é percebido pelos sentidos 
não permite que o homem conheça realmente a verdade, o Ser universal. Por exemplo, ainda que um 
broto de árvore se transforme em uma frondosa árvore, ele continua sendo um broto de árvore; sua 
essência não muda. 
 Segundo esse filósofo, o ser é e o não-ser não é. Em outras palavras, o não-ser simplesmente não 
existe; é inconcebível mesmo para o pensamento, pois, se pudesse ser pensado, existiria pelo menos 
como idéia. Por outro lado, Parmênides afirma que o Ser é imutável e eterno, porque, se sofresse uma 
transformação qualquer, teria de deixar de ser (isto é, tornar-se não-ser) para tornar-se outra coisa (isto 
é, de não-ser, tornar-se ser). Mas isso seria impossível, pois nada pode surgir do não-ser. 
 Ao afirmar que o que é, é e não pode não-ser,Parmênides afirmava um ser já completo, nada mais 
a ele se poderia acrescentar nem retirar; não sujeito a nenhuma mudança. O Ser imutável era o limite do 
real e do possível de ser pensado, não havia a possibilidade de pensar qualquer coisa como não 
existindo, não havia a possibilidade de pensar o “não-ser” e de, portanto, o “não-ser, ser”. 
 O Ser, para Parmênides, deve ser incriado (ingênito) e indestrutível; não pode ter-se originado do 
nada nem de qualquer outra coisa, pois é absurdo que algo dê origem àquilo que já é. O que é, nunca 
veio a ser (nunca esteve no devir), pois se veio a ser, um dia não era e, se não era, nunca poderia vir a 
ser. O Ser não se move, pois, se se movesse, iria para o não-ser, o que é absurdo! O ser é, em suma, 
objeto de pensamento, pois “pensar é ser”. 
 Em seus poemas, Parmênides estabelece uma distinção, duas vias do conhecimento: a via da 
verdade (aletheia) e a via da opinião (doxa). A via da opinião ou da aparência, baseada nas informações 
recebidas pelos sentidos, podia fornecer conhecimento sobre o mundo sensível, mas, exatamente por 
captá-lo como múltiplo, instável e transitório, era insuficiente e enganadora para apreender a essência 
desse mundo, o seu verdadeiro Ser. Este só seria apreendido pela vida da verdade que, desprezando e 
recusando as informações fornecidas pelos sentidos, fundava-se no uso da razão. Ser, pensar e dizer 
seriam a mesma coisa. Não-ser, perceber, opinar teriam o significado oposto, nada representando 
perante o pensamento. Para Parmênides, os sentidos nos oferecem uma visão enganadora do mundo, 
diferentemente da razão. A razão humana seria o verdadeiro caminho de conhecimento, e não os 
sentidos. 
 
Exercícios 
 
1. Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático, compreendia que 
 
I. o ser é vir-a-ser. 
II. o vir-a-ser é a luta entre os contrários. 
III. a luta entre os contrários é o princípio de todas as coisas. 
IV. da luta entre os contrários origina-se o não-ser. 
 
Assinale 
a) se apenas I, II e III estiverem corretas. 
b) se apenas I, III e IV estiverem corretas. 
c) se apenas II, III e IV estiverem corretas. 
d) se apenas I, II e IV estiverem corretas. 
 
2. (UFU) o poema Sobre a Natureza Parmênides afirma: "os únicos caminhos de inquérito que são 
a pensar: o primeiro que é e portanto que não é não ser, de Persuasão é caminho (pois à verdade 
acompanha); o outro, que não é e portanto que é preciso não ser, este então, eu te digo, é atalho 
de todo incrível; pois nem conhecerias o que não é nem o dirias." 
Pode-se daí inferir que: 
 
a) apenas o ser pode ser dito e pensado. 
b) o não ser de algum modo é. 
c) o ser e o pensar são distintos. 
d) o ser é conhecido pelos sentidos. 
 
 
Capítulo 3: Sócrates e Platão 
 
Sócrates 
 
 Sócrates no leito de morte, Jacques-Louis David, 1787 
 
O método socrático 
 
Tudo o que sabemos sobre a vida e o pensamento de Sócrates (470?-399 a.C.) é proveniente dos 
comentários dos filósofos que seguiram suas idéias, pois ele não deixou nenhum escrito. A figura de 
Sócrates era, com freqüência, associada à dos sofistas; contudo, o filósofo não vendia os seus 
ensinamentos – até porque afirmava não possuir nenhum: “Só sei que nada sei”, dizia Sócrates – e, ao 
contrário daqueles, buscava antes de tudo, a verdade e não a aparência do saber. Mas, o que propunha 
Sócrates? 
Propunha que, antes de querer persuadir os outros, cada um deveria, primeiro e antes de tudo, 
conhecer-se a si mesmo. A expressão “conhece-te a ti mesmo”, que estava gravada no pórtico do templo 
do deus Apolo, patrono grego da sabedoria, tornou-se a divisa de Sócrates. 
Sócrates fazia perguntas sobre as idéias, sobre os valores nos quais os gregos acreditavam e que 
julgavam conhecer. Suas perguntas deixavam os interlocutores embaraçados, surpresos, percebendo 
que não sabiam responder e que nunca tinham pensado em suas crenças, seus valores e idéias. 
A filosofia socrática era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses 
diálogos eram constituídos, de modo geral, por dois momentos: a ironia e a maiêutica. No início do 
diálogo, Sócrates convida seu interlocutor a filosofar sobre determinado assunto, a buscar a verdade 
acerca daquilo sobre o que falam. Geralmente, o filósofo começa com uma pergunta do tipo: “O que é a 
justiça?”; é óbvio, caso o assunto fosse do diálogo fosse “justiça” e assim por diante. Ao receber as 
primeiras respostas, Sócrates passa a analisá-las para ver se ali encontra um conceito (definição) da 
coisa procurada. Aqui, ao perceber que é uma definição, inicia-se, então a ironia (refutação), que visa 
demonstrar àquela pessoa que o que ela pensava saber sobre determinado assunto é, na verdade, 
aparência de saber, opiniões subjetivas, e não a definição buscada. 
Na ironia, Sócrates atacava de modo implacável as respostas de seus interlocutores: com 
habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições das afirmações e os novos problemas que 
surgiam como conseqüência de determinada resposta. Seu objetivo inicial era demolir o orgulho, a 
arrogância e a presunção do saber. A primeira virtude do sábio é adquirir consciência da própria 
ignorância. A ironia socrática tinha um caráter purificador, na medida em que levava os discípulos a 
confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir certezas e 
verdades. Nesta fase do diálogo, a intenção fundamental de Sócrates não era propriamente dito destruir 
o conteúdo das respostas dadas pelos interlocutores, mas fazê-los tomar consciência profunda de suas 
próprias respostas, das conseqüências que poderiam ser tiradas de suas reflexões, muitas vezes repletas 
de conceitos vagos e imprecisos. 
Após ter reconhecido, o interlocutor estava apto para o segundo momento do diálogo: a maiêutica. 
Maiêutica é um termo de origem grega que significa “a arte de trazer à luz”, ou ainda “a arte de 
parturejar”. Sócrates dizia-se um parteiro de idéias e evocava a imagem de sua mãe – que era parteira – 
para, numa linguagem metafórica, explicar seu papel de filósofo. Na qualidade de filho de uma parteira, 
Sócrates, perito em partos, assiste ao parto dos espíritos, dos pensamentos que eles – os espíritos dos 
interlocutores – contêm sem o saber. 
Sócrates, por meio de perguntas, destrói o saber constituído para reconstruí-lo na procura da 
definição do conceito. Esse processo aparece bem ilustrado nos diálogos de Platão, e é bom lembrar 
que, no final do diálogo, nem sempre Sócrates tem a resposta: ele também se põe em busca do conceito 
e às vezes as discussões não chegam a conclusões definitivas ou não têm uma resposta precisa. Daí a 
razão pela qual alguns dos diálogos de Sócrates possuem um caráter aporético, insolúvel (aporia). 
 
Texto complementar 
 
Os sofistas 
 
No século V a.C., Atenas vivia o auge de um regime de governo no qual os homens livres decidiam os interesses comuns 
a todos os cidadãos. Em outras palavras, eles determinavam, em discussões públicas, como a cidade devia ser administrada. 
Era considerado cidadão o homem que possuísse alguma propriedade (uma casa, pelo menos), que tivesse escravos, e que não 
fosse estrangeiro. Ou seja, nem todos participavam das decisões públicas; as mulheres, por exemplo, eram excluídas. Esse 
regime de governo era a democracia ateniense que, embora não garantisse os mesmos direitos para todas as pessoas, 
representou uma importante mudança no modo de ver o mundo, pois tinha como fundamento a idéia de que o homem tem 
soberania sobre seu destino. 
No mesmo período deu-se o auge da produção de um gênero de teatro conhecido como tragédia. Esse gênero dramático 
tematizava acontecimentos terríveis, muitas vezes míticos, e tinha a intenção de mostrar as conseqüências de atos imorais e 
passionais dos homens. A tragédia também era uma reflexão sobre o conflito entre a liberdade individuale o destino, tema que 
incomodava os cidadãos da democracia: afinal de contas, até que ponto eles teriam poder sobre suas vidas? Como exemplo, 
temos a história de Édipo Rei, escrita por Sófocles (497?-406 a.C.); baseada num mito, narra como Édipo veio inadvertidamente 
a assassinar seu pai e se casar com sua mãe, Jocasta, e as punições que o destino reservou para ele, sua família e sua cidade 
por causa desses crimes. 
As propostas que os cidadãos atenienses defendiam publicamente eram feitas por meio de discursos proferidos na ágora. 
Para obter a aprovação da maioria, esses pronunciamentos deveriam conter argumentos sólidos e persuasivos: falar bem e de 
modo convincente era considerado, portanto, um dom muito valioso. Por isso, havia cidadãos que procuravam aperfeiçoar sua 
habilidade de discursar, a fim de melhor convencer os outros. A necessidade de se expressar bem, juntamente com a 
importância que foi dada ao indivíduo, naquele período concebido como o senhor de seu destino, favoreceu o surgimento de um 
grupo de filósofos chamados sofistas, que dominavam a arte da oratória, isto é, o uso habilidoso da palavra. Esses filósofos eram 
originários de diferentes cidades e viajavam pelas póleis governadas da mesma forma democrática, especialmente Atenas, onde 
discursavam em público e ensinavam sua arte em troca de pagamento. 
Os sofistas, entretanto, não foram somente professores, mas também estabeleceram uma corrente de pensamento 
própria. Sua preocupação filosófica se voltava para o homem e a vida em sociedade; as questões que ocuparam os pré-
socráticos, dirigidas para a natureza e a essência do universo, foram colocadas em segundo plano. 
Alguns pensadores sofistas foram Górgias (483?-376 a.C.), Hípias (século V a.C.) e Protágoras (485?-410? a.C.), a quem 
se atribui uma famosa frase: "O homem é a medida de todas as coisas". 
Para os sofistas, tudo devia ser avaliado segundo os interesses do homem e de acordo com a forma como este vê a 
realidade social. Isso significava que, segundo essa corrente de pensamento, as regras morais, as posições políticas e os 
relacionamentos sociais deveriam ser guiados conforme a conveniência individual. Para esse fim, qualquer pessoa poderia se 
valer de um discurso convincente, mesmo que falso ou sem conteúdo. Os sofistas usavam, de fato, complicados jogos de 
palavras, trocadilhos, raciocínios sem lógica, todos os recursos do discurso para demonstrar a "verdade" daquilo que se 
pretendia alcançar. Esse tipo de argumento ganhou o nome de sofisma. 
Segundo a sofística, o que importava para o ser humano era obter prazer com a satisfação de seus instintos, de seus 
desejos individuais. Assim, até mesmo dominar outros cidadãos seria justificado, se isso gerasse alguma vantagem pessoal. 
Em resumo, a sofística destruía os fundamentos de todo conhecimento, já que tudo seria relativo e os valores seriam 
subjetivos, assim como impedia o estabelecimento de um conjunto de normas de comportamento que garantissem os mesmos 
direitos para todos os cidadãos da pólís. 
Foi nesse contexto que surgiu um pensador cuja doutrina se opunha profundamente à sofística: Sócrates. 
 
Platão 
 
 Detalhe de Platão, n'A Escola de Atenas, obra do renascentista Rafael. 
 
A teoria das idéias 
 
Um dos filósofos que mais influenciaram a cultura ocidental, Platão, cujo nome verdadeiro era 
Aristócles, nasceu de uma família rica, envolvida com políticos. Muitos estudiosos de sua obra dizem que 
o grego ficou conhecido como Platão por causa do seu vigor físico e ombros largos ("platos" significa 
largueza). A excelência na forma física era muito apreciada na Grécia antiga e os seus "diálogos" estão 
repletos de referências às competições esportivas. 
Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão é a sua teoria das idéias – o termo “idéia” 
vem do grego eidos, que significa forma – que procura explicar como se desenvolve, ou deveria se 
desenvolver – o conhecimento humano. Vejamos, então, sua teoria do conhecimento. 
Para Platão, o processo do conhecimento se desenvolve por meio de uma passagem progressiva 
do mundo sensível – da realidade material, corpórea – para o mundo inteligível – lá onde as coisas são, 
isto é, onde tudo está enquanto essência imutável, imóvel, pura perfeição. Com efeito, a realidade 
sensível (dos sentidos), da qual, obviamente, fazemos parte, não nos oferece a possibilidade do 
verdadeiro conhecimento, uma vez que a matéria de que as coisas sensíveis foram feitas tornam tais 
coisas imperfeitas, mutáveis, corruptíveis e contingentes. O mundo material é contraditório e, por isto, 
dele só nos chegam as aparências das coisas e sobre eles temos tão-somente opiniões, nunca 
conhecimento. 
 
fonte: filosofartecultura.blogspot.com/20/11/2008 
 
O mundo sensível não constitui a verdadeira realidade: é um pálido reflexo de uma realidade 
superior, de um mundo supra-físico. O mundo sensível, que desliza entre o Ser e o não-ser, só tem 
realidade na medida em que participa do mundo inteligível ou das idéias. As coisas materiais que nos 
rodeiam são como sombras das idéias, isto é, simulacros das suas formas primordiais e modelos eternos 
que habitam o supra-físico. Esses modelos eternos, segundo Platão, são incorpóreos e imutáveis. 
Embora Platão os chame também de “idéias”, eles não existem na mente humana, ao contrário, existem 
fora do sujeito e fora dos objetos, num plano que o filósofo denomina “Hiperurânio”; um plano metafísico 
ao qual se tem acesso apenas pelo pensamento. Quando vemos uma mesa, por exemplo, ela pode 
mudar de cor, envelhecer, se estragar; contudo, a essência da mesa permanece sempre a mesma, em 
qualquer época ou lugar é sempre a “idéia” de mesa. Sobre a essência de mesa se faz conhecimento, 
mas, sobre a mesa material, tudo o que temos é mera opinião (doxa) e aparência. Assim, todo o nosso 
esforço deve ser concentrado na tentativa de acessarmos o mundo das idéias para transcendermos esse 
mundo de devir, vir-a-ser (como demonstrou o filósofo Heráclito). 
 
 Mito da caverna. 
Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/platao/images/caverna4.jpg 
 
Portanto, o conhecimento verdadeiro deve, para Platão, ultrapassar a esfera das impressões 
sensoriais (mundo sensível) e penetrar na esfera racional do mundo das idéias. Ora, de acordo com 
Platão, a dialética é, por excelência, o conhecimento verdadeiro, o método filosófico que pode nos levar, 
num processo ascendente, da realidade sensível – da crença e da opinião – para o plano supra-físico – 
das idéias e essências. A dialética promove uma espécie de separação da alma inteligível com o corpo 
físico, fazendo com que a alma capte, num plano superior, as coisas totais e perfeitas: a bondade em si, 
a coragem em si, a sabedoria em si, entre outros. Vale ressaltar que para estar apto a fazer a dialética, o 
indivíduo deve obedecer a uma fortíssima preparação que vai, em estágios, escolhendo aqueles que tem 
o espírito mais preparado para encontrar as formas ideais. Deste modo, não são todos que possuem a 
natureza adequada à dialética; ela está reservada aos que Platão chama de aristoi: os melhores. 
 
A teoria da Reminiscência 
 
Platão supõe que os homens já teriam vivido como puro espírito quando contemplaram o mundo 
das idéias. Mas tudo esquecem quando se degradam ao se tornarem prisioneiros do corpo, que é 
considerado o “túmulo da alma”. Pela teoria da reminiscência, Platão explica como os sentidos se 
constituem apenas na ocasião para despertar nas almas as lembranças adormecidas. Em outras 
palavras, conhecer é lembrar. No diálogo Menon, Platão descreve como um escravo, ao examinar figuras 
sensíveis que lhe são oferecidas, é induzido a “lembrar-se” das idéias e descobre uma verdade 
geométrica. 
 
Política: a função do filósofo 
 
Para compreender o aspecto político da teoria platônica das idéias, é necessáriofazer uma 
analogia com o mito da caverna, segundo o qual os homens viviam, desde a infância, acorrentados no 
interior de uma caverna, aonde só conheciam sombras do real. O prisioneiro que se libertou das 
correntes (isto é, o filósofo), ao sair da caverna e contemplar a verdadeira realidade e ter passado da 
opinião (doxa) à ciência (episteme), deve retornar ao meio dos homens para orientá-los. 
Eis assim a dimensão política do mito da caverna, surgida da pergunta: como influenciar os homens que 
não vêem? Cabe ao sábio ensinar e governar. Trata-se da necessidade da ação política, da 
transformação dos homens e da sociedade, desde que essa ação seja dirigida pelo modelo ideal 
contemplado. Portanto, para que o Estado seja bem governado, é preciso que “os filósofos se tornem 
reis, ou que os reis se tornem filósofos”. 
Platão propõe um modelo aristocrático de poder. No entanto, não se trata de uma aristocracia da 
riqueza, mas da inteligência, em que o poder é confiado aos melhores, ou seja, é uma sofocracia 
(governo dos sábios). 
 
Texto complementar 
 
O mito da caverna de Platão* 
 
Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um muro alto. Entre o muro e o chão da caverna há uma fresta 
por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde o nascimento, geração 
após geração, seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados sem poder mover a cabeça nem se 
locomover, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do sol, sem 
jamais ter efetivamente visto uns aos outros nem a si mesmos, mas apenas as sombras dos outros e de si mesmos por que 
estão no escuro e imobilizados. 
Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as 
coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Do lado de fora, 
pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres e animais cujas sombras 
também são projetadas na parede da caverna, como num teatro de fantoches. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas 
e pessoas, os sons de suas falas e as imagens que transportam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os artefatos 
projetados são seres vivos que se movem e falam. 
Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandoná-la. Fabrica um instrumento 
com o qual quebra os grilhões. De inicio, move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. 
Enfrentando os obstáculos de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela 
luminosidade do sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo 
realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que 
havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento. 
Ao permanecer no exterior o prisioneiro, aos poucos se habitua a luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a 
felicidade de ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras. 
Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as forças para jamais regressar a ela. No entanto 
não pode deixar de lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio 
para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também. 
Só que os demais prisioneiros zombam dele, não acreditando em suas palavras e, se não conseguem silenciá-lo com 
suas caçoadas, tentam fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, 
certamente acabam por matá-lo. Mas quem sabe alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidir sair da 
caverna rumo à realidade? 
 
*Fonte: giulianofilosofo.blogspot.com/2007/08/o-mito-da-caverna-de-plato.html 
 
Exercícios 
 
1. Sócrates é tradicionalmente considerado como um marco divisório da filosofia grega. Os filósofos que 
o antecederam são chamados pré-socráticos. Seu método, que parte do pressuposto "só sei que nada 
sei", é a maiêutica que tem como objetivo: 
 
I. "dar luz a idéias novas, buscando o conceito". 
II. partir da ironia, reconhecendo a ignorância até chegar ao conhecimento. 
III. encontrar as contradições das idéias para concluir pela impossibilidade de qualquer conhecimento. 
IV. "trazer as idéias do céu à terra". 
 
Assinale 
a) se apenas I e II estiverem corretas. 
b) se apenas I e III estiverem corretas. 
c) se apenas II, III e IV estiverem corretas. 
d) se apenas III e IV estiverem corretas. 
 
2. O “O mito da caverna” (livro, A república, Platão) tem como pressuposto a teoria das idéias. 
Considera-se então que seja 
 
I. uma metáfora do conhecimento: o movimento de saída e a contemplação da luz significam o 
processo de aquisição do conhecimento, o qual se inicia com a opinião indo até o entendimento (idéias). 
II. Um simples e mero relato da libertação das correntes que prendiam os homens no interior da 
caverna. 
III. uma forma de Platão representar a importância e a superioridade do filósofo, como aquele que chega 
ao conhecimento e tem a missão de transmiti-lo aos outros. 
IV. uma história que simboliza a vida do homem das cavernas. 
 
Assinale a correta: 
a) I e II são interpretações possíveis. 
b) II e IV são interpretações possíveis. 
c) I e IV são interpretações possíveis. 
d) I e III são interpretações possíveis. 
 
3. Marque a alternativa correta. 
 
O livro VII da Republica de Platão, também conhecido como “O mito da Caverna”, nos apresenta 
 
a) a explicação para o surgimento das civilizações antigas que se originaram a partir dos homens das 
cavernas. 
b) o ideal platônico de formação do filósofo, sendo que este modelo de formação possui uma dimensão 
ética e política. 
c) uma fábula sobre a origem do homem, que esclarece o aparecimento das civilizações antigas. 
d) a teoria platônica cuja essência é a dialética, entendida por Platão com sendo a arte da sofística. 
 
4. A Alegoria da Caverna de Platão, além de ser um texto de teoria do conhecimento, é também um texto 
político. No sentido político, é correto afirmar que Platão sustentava um modelo 
 
a) monárquico, cujo governo deveria ser exercido por um filósofo e cujo poder deveria ser absoluto, 
centralizador e hereditário. 
b) aristocrático, baseado na riqueza e que representava os interesses dos comerciantes e nobres 
atenienses, por serem eles os mecenas das artes, das letras e da filosofia. 
c) democrático, baseado, principalmente, na experiência política de governo da época de Péricles. 
d) aristocrático, cujo governo deveria ser confiado aos melhores em inteligência e em conduta ética. 
 
Capítulo 4: Aristóteles 
 
 Aristóteles. Detalhe da Escola de Atenas de Rafael 
 
A metafísica aristotélica 
 
Aristóteles (384-322 a.C.) Nasceu em Estagira, na península macedônica da Calcídica (por isso é 
também chamado de o Estagirita). Era filho de Nicômano, amigo e médico pessoal do rei Amintas 2o, pai 
de Filipe e avô de Alexandre, O Grande. Aos 16 ou 17 anos, Aristóteles mudou-se para Atenas, então o 
centro intelectual e artístico da Grécia, e estudou na Academia de Platão até a morte do mestre, no ano 
347 a.C. 
Aristóteles retoma a problemática do conhecimento e se preocupa em definir a ciência como 
conhecimento verdadeiro, conhecimento pelas causas, capaz de superar os enganos da opinião e de 
compreender a natureza do devir. Mas ao analisar a oposição entre o mundo sensível e o inteligível 
segundo a tradição de Heráclito, Parmênides e Platão, Aristóteles recusa as soluções apresentadas e 
criticapormenorizadamente o mundo “separado” das idéias platônicas. 
A teoria aristotélica se baseia em três distinções fundamentais, que passamos a descrever 
simplificadamente: substância-essência-acidente; ato-potência; forma-matéria, que por sua vez 
desembocam na teoria das quatro causas. Todos esses conceitos são desenvolvidos na sua Metafísica 
ou Filosofia Primeira. 
Aristóteles “traz as idéias do céu à terra”: rejeita o mundo das idéias de Platão, fundindo o mundo 
sensível e o inteligível no conceito de substância, enquanto “aquilo que é em si mesmo”, ou enquanto 
suporte dos atributos. 
Ora, quando dizemos algo de uma substância, podemos nos referir a atributos que lhe convêm de 
tal forma que, se lhe faltassem, a substância não seria o que é. Designamos esses atributos de essência 
propriamente dita, e chamamos de acidente o atributo que a substância pode ter ou não, sem deixar de 
ser o que é. Então, a substância individual “este homem” tem como características essenciais os atributos 
pelos quais este homem é homem (Aristóteles diria, a essência do homem é a racionalidade) e outros, 
acidentais (como ser gordo, velho ou belo), atributos esses que não mudam o ser do homem em si. 
No entanto, o problema das transformações dos seres ainda não se resolve com os conceitos de 
essência e acidente, e por isso Aristóteles recorre às noções de forma e matéria. Matéria é o princípio 
indeterminado de que o mundo físico é composto, é “aquilo de que é feito algo”, o que não coincide 
exatamente com o que nós entendemos por matéria, na física, por se caracterizar pela indeterminação. 
Forma é “aquilo que faz com que uma coisa seja o que é”. 
Todo ser é constituído de matéria e forma, princípios indissociáveis. Enquanto a forma é o princípio 
inteligível, a essência comum aos indivíduos da mesma espécie, pela qual todos são o que são, a matéria 
é pura passividade, contendo a forma em potência. Numa estátua, por exemplo, a matéria (que nesse 
caso é a matéria segunda, pois já tem alguma determinação) é o mármore; a forma é a idéia que o 
escultor realiza na estátua. É através da noção de matéria e forma que se explica o devir. Todo ser tende 
a tornar atual a forma que tem em si como potência. Assim, a semente, quando enterrada, tende a se 
desenvolver e se transformar no carvalho que era em potência. 
Percebe-se aí o recurso aos dois outros conceitos, de ato e potência, que explicam como dois 
seres diferentes podem entrar em relação, agindo um sobre o outro. O conceito de potência não deve ser 
confundido com força, mas sim com a ausência de perfeição em um ser capaz de vir a possui-la. Pois 
uma potência é a capacidade de tornar-se alguma coisa e, para tal, é preciso que sofra a ação de outro 
ser já em ato. A semente que contém o carvalho em potência foi gerada por um carvalho em ato. 
Potência é, portanto, o que está contido numa matéria e pode vir a existir, se for atualizado por alguma 
causa; por exemplo, a criança é um adulto em potência. O ato, por sua vez, é a atualidade de uma 
matéria, isto é, sua forma num dado instante do tempo; o ato é a forma que atualizou uma potência 
contida numa matéria. Por exemplo, a árvore é o ato da semente. Potência e matéria são idênticos, assim 
como forma e ato são idênticos. A matéria ou potência é uma realidade passiva que precisa do ato e da 
forma, isto é, da atividade que cria os seres determinados. 
 
 fonte: fatosefotosdacaatinga.blogspot.com 
Processo de germinação: a semente está em potência para se tornar uma planta. 
 
O movimento é, pois, a passagem da potência para o ato. O movimento é “o ato de um ser em 
potência enquanto tal”, é a potência se atualizando. Tais considerações levam à distinção dos diversos 
tipos de movimento e às causas do movimento ou teoria das quatro causas: as mudanças derivam da 
causa material, da causa formal, da causa eficiente e da causa final. 
A causa material (ou matéria) é “aquilo de que é feita” uma coisa; por exemplo, a matéria dos 
animais são a carne e os ossos; a matéria da esfera é o bronze, da taça é o ouro, da casa são os tijolos e 
cimento, e assim por diante. 
A causa eficiente (ou motora) é aquilo que promove a mudança e o movimento das coisas; por 
exemplo, os pais são causa eficiente dos filhos, a vontade é a causa eficiente de várias ações do homem, 
e assim por diante. 
A causa formal é, como dissemos, a forma ou essência das coisas, a configuração dada a 
determinada matéria pela ação da causa eficiente. A Causa formal torna a coisa cognoscível. 
A causa final ou teleológica constitui o fim ou objetivo das coisas e das ações; ela constitui aquilo 
em vista de que ou em função de que cada coisa é ou advém; e isso, diz Aristóteles, é o bem de cada 
coisa. 
Mesmo ainda considerando o postulado parmenídeo de que o ser é idêntico ao pensar, Aristóteles 
pôde superar Parmênides e Platão ao usar os conceitos acima expostos, pelos quais se compreende a 
imutabilidade e a mudança, o acidental e o essencial, o individual e o universal. Se conhecer é lidar com 
conceitos universais, é também aplicar esses conceitos a cada coisa individual. Com isso, nem é preciso 
justificar a imobilidade do ser, nem criar o mundo das essências imutáveis. 
 
Lógica 
fonte: os13fantasmas.wordpress.com/24/11/2008 
 
 Para Aristóteles, a lógica não era uma ciência teorética (como a metafísica), nem prática (como a 
ética), mas um instrumento para as ciências. Eis por que o conjunto das obras lógicas aristotélicas 
recebeu o nome de organon, palavra que significa instrumento. 
 O objeto da lógica é a proposição, que exprime, através da linguagem, os juízos formulados pelo 
pensamento. O juízo é o ato do pensamento pelo qual se afirma ou nega alguma coisa e, como tal, 
suscetível de uma valorização em termos de verdade ou falsidade, conforme o seu acordo ou desacordo 
com a realidade. Como ato do pensamento, o juízo tem a sua expressão verbal na proposição ou 
enunciado. Como exemplo de proposição temos “O homem é um ser violento”. Uma proposição é 
constituída por elementos que são seus termos. Os termos são palavras ou conceitos que utilizamos 
para pensarmos e comunicarmos os nossos pensamentos aos outros. 
 Aristóteles define os termos ou categorias como “aquilo que serve para designar uma coisa”. São 
palavras não combinadas com outras e que aparecem em tudo quanto pensamos e dizemos. As 
categorias ou termos indicam o que uma coisa (substância) é ou faz, ou como está. São aquilo que nossa 
percepção e nosso pensamento captam imediata e diretamente numa coisa, não precisando de qualquer 
demonstração, pois nos dão a apreensão direta de uma entidade simples. Há dez categorias ou termos: 
 
1. substância (por ex.: homem, Sócrates, animal); 
2. quantidade (por ex.: dois metros de comprimento); 
3. qualidade (por ex.: branco, grego, agradável); 
4. relação (por ex.: o dobro, a metade); 
5. lugar (por ex.: em casa, na rua, no alto); 
6. tempo (por ex.: ontem, hoje, agora); 
7. posição (por ex.: sentado, deitado, de pé); 
8. posse (por ex.: armado, isto é, tendo armas); 
9. ação (por ex.: corta, fere, derrama); 
10. paixão ou passividade (por ex.: está cortado, está ferido). 
 
Propriedades lógicas dos termos ou categorias 
 
 Os termos possuem, basicamente, duas propriedades lógicas: a extensão e a compreensão. A 
primeira é o conjunto de objetos designados por um termo. A maneira como um termo define uma classe 
lógica é designando as qualidades específicas dos objetos que a formam. Estas qualidades específicas 
constituem a compreensão do termo. 
 Assim, por exemplo, a extensão do termo “homem” será o conjunto de todos os seres que podem 
ser designados por ele e que podem ser chamados de homens; a extensão do termo “metal” será o 
conjunto de todos os seres que podem ser designados como metais. Se, porém, tomarmos o termo 
“homem” e dissermos que é um animal, vertebrado,mamífero, bípede, mortal e racional, essas 
qualidades formam sua compreensão. Se tomarmos o termo “metal” e dissermos que é um bom condutor 
de calor, reflete a luz, etc., teremos a compreensão desse termo. 
 Entre a compreensão e a extensão estabelece-se uma relação quantitativa, que pode ser 
caracterizada do seguinte modo: quanto maior a compreensão, menor a extensão; vice-versa, quanto 
maior a extensão, menor a compreensão. Se, por exemplo, tomarmos o termo “João”, veremos que sua 
extensão é a menor possível, pois se refere a um único ser; no entanto, sua compreensão é a maior 
possível, pois possui todas as qualidades do termo homem (de maior extensão) e mais suas próprias 
qualidades enquanto uma pessoa determinada. Essa distinção permite classificar os termos em três 
tipos: 
 
1. Gênero: extensão maior, compreensão menor. Exemplo: animal; 
2. Espécie: extensão média e compreensão média. Exemplo: homem; 
3. Indivíduo: extensão menor, compreensão maior. Exemplo: João. 
 
O silogismo categórico 
 
 Aristóteles elaborou uma teoria do raciocínio como inferência. Segundo Marilena Chauí, Inferir é 
tirar uma proposição como conclusão de uma ou de várias outras proposições que a antecedem e são 
sua explicação ou sua causa. O silogismo é um tipo de inferência ou raciocínio que, segundo Aristóteles, 
apresenta três características principais: 
1. é mediato, pois exige um percurso de pensamento e de linguagem para que se possa chegar a uma 
conclusão; 
2. é dedutivo, pois parte de certas afirmações gerais e verdadeiras para chegar a outras (particulares) 
também verdadeiras e que dependem necessariamente das primeiras; 
3. é necessário, pois é dedutivo (as conseqüências a que se chega na conclusão resultam 
necessariamente da verdade do ponto de partida). Por ser necessário, Aristóteles designou o silogismo 
com o nome de ostensivo, pois ostenta ou mostra claramente a relação necessária e verdadeira entre o 
ponto de partida e a conclusão. O exemplo mais famoso do silogismo ostensivo é: 
 
Todos os homens são mortais. 
Sócrates é homem. 
Logo, Sócrates é mortal. 
 
 Um silogismo é constituído por três proposições. A primeira é chamada de premissa maior, a 
segunda, de premissa menor e a terceira, de conclusão, inferida das premissas pela mediação de um 
termo chamado termo médio. 
 O silogismo, para chegar a uma conclusão verdadeira, deve obedecer a um conjunto complexo de 
regras. Dessas regras, apresentaremos as mais importantes, tomando como referência o silogismo 
clássico que oferecemos acima: 
 a premissa maior deve conter o termo maior (no caso, “mortais”) e o termo médio (no caso, 
“homens”); 
 a premissa menor deve conter o termo menor (no caso, “Sócrates”) e o termo médio (no caso, 
“homem”); 
 a conclusão deve conter o maior e o menor e jamais deve conter o termo médio (no caso, deve 
conter “Sócrates” e “mortal” e jamais deve conter “homem”). Sendo função do méd io ligar os extremos (os 
termos maior e menor), deve estar nas premissas, mas nunca na conclusão. 
 
A idéia geral da dedução ou inferência silogística é: 
 
A é verdade de B. 
B é verdade de C. 
Logo, A é verdade de C. 
 
 
Fonte: http://malprg.blogs.com/francoatirador/images/silogismo.jpg/03/12/2008 
 
Regras do silogismo 
 
São em número de oito. Quatro referem-se aos termos e as outras quatro às premissas. 
 
Regras dos termos 
 
1. Apenas existem três termos num silogismo: maior, médio e menor. Esta regra pode ser violada 
facilmente quando se usa um termo com mais de um significado: "Se o cão é pai e o cão é teu, então é 
teu pai." Aqui o termo "teu" tem dois significados, posse na segunda premissa e parentesco na 
conclusão, o que faz com que este silogismo apresente na realidade quatro termos. 
 
2. Nenhum termo deve ter maior extensão na conclusão do que nas premissas: "Se as orcas são 
ferozes e algumas baleias são orcas, então as baleias são ferozes." O termo "baleias" é particular na 
premissa e universal na conclusão, o que invalida o raciocínio, pois nada é dito nas premissas acerca 
das baleias que não são orcas, e que podem muito bem não ser ferozes. 
 
3. O termo médio não pode entrar na conclusão. 
4. Pelo menos uma vez o termo médio deve possuir uma extensão universal: "Se os britânicos são 
homens e alguns homens são sábios, então os britânicos são sábios." Como é que podemos saber se 
todos os britânicos pertencem à mesma sub-classe que os homens sábios? É preciso notar que na 
primeira premissa "homens" é predicado e tem uma extensão particular. 
 
Regras das premissas 
 
5. De duas premissas negativas, nada se pode concluir: "Se o homem não é réptil e o réptil não é 
peixe, então..." Que conclusão se pode tirar daqui acerca do "homem" e do "peixe"? 
 
6. De duas premissas afirmativas não se pode tirar conclusão negativa. 
 
7. A conclusão segue sempre a premissa mais fraca. A particular é mais fraca do que a universal e a 
negativa mais fraca do que a afirmativa. Isto significa que se uma das premissas for particular, a 
conclusão sê-lo-á igualmente; o mesmo acontecendo se uma das premissas for negativa: "Se os 
europeus não são brasileiros e os franceses são europeus, então os franceses não são brasileiros." 
Que outra conclusão se poderia tirar? 
 
8. Nada se pode concluir de duas premissas particulares. De "Alguns homens são ricos" e "Alguns 
homens são sábios" nada se pode concluir, pois não se sabe que relação existe entre os dois grupos de 
homens considerados. Aliás, um silogismo com estas premissas violaria também a regra 4. 
 
A ética de Aristóteles - as virtudes 
 
 Para Aristóteles, a ética é uma ciência da práxis humana, isto é, um saber que tem por objeto a 
ação. O fundamento da ética é o mesmo da metafísica, que afirma a tese segundo a qual todo ser tende 
necessariamente à realização de sua natureza, à atualização plena de sua potência: e nisto está o seu 
fim, o seu bem, a sua felicidade, e, por conseguinte, a sua lei. Logo, o fim último do ser humano é a 
felicidade (eudaimonia), cuja realização supõe a prática das virtudes morais, conseqüentemente, da 
razão. 
 No entanto, as virtudes morais não são mera atividade racional. Elas implicam, por natureza, um 
elemento sentimental, afetivo, passional (o desejo), que deve ser governado pela razão. Esta, apesar de 
dominar ou governar o desejo ou as paixões, não as aniquila ou destrói, como queria o ascetismo 
platônico. A virtude ética atua no sentido de educar o desejo, direcionando-o racionalmente, equilibrando-
o. A virtude ética não é, pois, razão pura, mas uma aplicação da razão no sentido de aperfeiçoar a ação 
humana. 
De fato, Aristóteles define a virtude como sendo “uma disposição de caráter para agir de um modo 
deliberado, consistindo numa medida relativa a nós, racionalmente determinada e tal como seria 
determinada pelo homem prudente”. Esta “medida relativa a nós” corresponde exatamente à noção de 
justo-meio ou meio termo, ou seja, ao equilíbrio e harmonia, que somente o homem prudente pode 
alcançar. Agir virtuosamente é atingir o meio termo ou equilíbrio, ou seja, evitar a falta e o excesso nas 
ações. 
 
Fonte: ferrao.org/uploaded_images/balance.jpg/13/12/2008 
 
Na Ética a Nicômaco, Aristóteles fornece uma relação de vícios e de virtudes, tendo como critério a 
noção de meio termo: por exemplo, a coragem é o meio-termo (virtude) entre a covardia (extremo da falta 
de coragem) e a temeridade (excesso de coragem); a transparência é o meio-termo entre a mentira 
(extremo da falta de transparência) e a franqueza (excesso de transparência). 
 Para Aristóteles, a educação ética (do caráter) consiste em nos fazer adquirir o hábito da virtude. O 
desejo é uma inclinação natural, uma propensão interna do nosso ser, do nosso caráter. A ética se refere 
ao estudo do caráter do homem para determinar como pode torná-lo virtuoso. 
Cada caráter,índole ou temperamento possui desejos diferentes, pois para cada um deles os 
objetos de prazer e dor são diferentes. Em todos eles, o vício é sempre excesso ou falta entre dois 
pontos extremos e opostos: temeridade é excesso de coragem, covardia é falta de coragem. 
Portanto, a virtude é a medida entre os extremos contrários, a moderação entre dois extremos, ou 
seja, o justo meio. Moderar é pesar, ponderar e deliberar. A ética, nesse sentido, é a ciência prática da 
moderação, é um saber prático que tem como virtude central a prudência (phronesis). O homem prudente 
é capaz de identificar, em cada ação, o seu justo meio. A ação virtuosa, nesse sentido, aperfeiçoa a 
natureza humana e, por extensão, a vida em comunidade, uma vez que, segundo Aristóteles, o homem é 
um “animal político”. Sem a prática das virtudes, a vida social se inviabiliza e, por isso, o homem não 
realiza sua função ou finalidade: a felicidade. 
 
Exercícios 
 
1. Sobre a teoria das quatro causas de Aristóteles é correto afirmar: 
 
I. É próprio da ciência primeira ou Metafísica investigá-las, pois são as causas do movimento e do 
repouso, ou seja, da passagem da potência ao ato. 
II. A causa eficiente atua sobre a forma, e não sobre a matéria do ser. 
III. A causa final é sinônimo de atualização das potências contidas numa matéria. 
IV. A forma é o princípio de indeterminação dos seres. Portanto, a causa formal não define ou 
determina um ser. 
 
Assinale a única alternativa que apresenta as assertivas corretas. 
a) Apenas I e III. 
b) I, III e IV. 
c) Apenas II e III. 
d) Apenas I e II. 
 
2. Nos Primeiros e nos Segundos Analíticos Aristóteles expõe a teoria geral dos silogismos, bem como 
as especificidades do silogismo científico. O exemplo clássico de silogismo é: 
 
"Todo homem é mortal. 
Sócrates é homem. 
Logo, Sócrates é mortal." 
 
Leia as seguintes afirmativas sobre esse silogismo: 
 
I. É composto por duas premissas e uma conclusão. 
II. O termo maior não aparece na conclusão. 
III. É um típico exemplo de raciocínio indutivo. 
IV. O termo "homem" é o termo médio. 
 
Assinale a alternativa correta. 
a) III e IV são verdadeiras. 
b) II, III e IV são verdadeiras. 
c) I, II e IV são verdadeiras. 
d) I e IV são verdadeiras. 
 
3. As diferenças básicas entre o pensamento de Platão e Aristóteles podem ser resumidas no seguinte: 
 
a) enquanto o primeiro privilegia o mundo das idéias, o segundo desqualifica a matéria. 
b) o segundo afirma a realidade da matéria, enquanto o primeiro nega o mundo inteligível. 
c) as idéias, para Platão, são as únicas verdades e para Aristóteles são expressões 'lógicas' da realidade 
mitológica. 
d) o segundo recupera realismo como forma de conhecimento enquanto o primeiro desqualifica o mundo 
material, concebendo-o como cópia das idéias. 
 
4. Para Aristóteles, o ser humano é um “animal político”, ou seja, um ser que naturalmente 
necessita da sociedade para sobreviver e se desenvolver. Para realizar-se como ser social, ou 
seja, para ser feliz no convívio com os outros, é necessária a prática ou exercício das virtudes. Agir 
virtuosamente, para Aristóteles significa: 
 
a. Aniquilar o desejo humano, uma vez que este, por ser egocêntrico, é nociva às relações 
humanas. 
b. Subordinar absolutamente o desejo humano, a fim de que as nossas ações sejam puramente 
racionais. 
c. Valorizar as faltas ou excessos de nossas ações, ora escolhendo as faltas, ora escolhendo os 
excessos, conforme exigir a situação. 
d. Educar os nossos desejos, a fim de que os mesmos possam alcançar o equilíbrio de nossas 
ações. 
 
 
II - FILOSOFIA MEDIEVAL 
 
Introdução 
 
A noção de Idade Média sempre gerou controvérsias: alguns a entenderam como mero intervalo 
cronológico entre duas culturas (a antiguidade clássica e o renascimento); outros, como um conceito 
cultural. Foi considerada como intervalo cronológico, principalmente pelos renascentistas e os iluministas 
do século XVIII (como Voltaire, Gibbon e outros). Para eles, a Idade Média foi vazia de arte, ciência e 
filosofia: foi a idade das sombras e das trevas, concepção que ainda permanece na visão de muitos 
escritores. 
Como conceito cultural, ao contrário, a Idade Média apresenta um ideal de vida cultural, política e 
religiosa, que deixou marcas estáveis na arte, na organização social e política e na cultura. Lembremo-
nos, por exemplo, da construção das catedrais românicas e góticas, da fundação das primeiras 
universidades como Paris e Oxford, do império de Carlos Magno, da Suma Teológica de Tomás de 
Aquino e da Divina Comédia de Dante e consideraremos impossível pensar a Idade Média como uma 
longa noite de mil anos que se estendeu entre o classicismo e o renascimento. 
È inegável que a filosofia tornou-se subordinada ao cristianismo. Não queremos dizer que não se 
possa fazer uma distinção entre filosofia e teologia, ou entre razão e fé. Na verdade, a questão da 
relação entre as duas teve um papel a desempenhar no debate. Queremos dizer que a filosofia não 
ocupava mais uma posição independente. Ela era estudada principalmente por pessoas que eram 
também teólogos, figuras fundamentais na história da Cristandade. 
O advento do Cristianismo originou novas concepções de vida, do homem e de Deus, que 
desafiaram o pensamento filosófico. Era necessário mostrar que seus problemas e respectivas soluções 
não contradiziam a razão, isto é, que a fé não se contrapunha à racionalidade, sem que com isso fosse 
preciso circunscrever a revelação divina aos limites da razão humana. A filosofia e os filósofos desse 
contexto, em sua grande maioria, não estavam preocupados em buscar a verdade, pois esta já teria sido 
revelada por Deus. Restava-lhes apenas demonstrar racionalmente as verdades da fé cristã. 
O pensamento clássico dos gregos encontrara um desenvolvimento e amadurecimento tão grandes 
que seria impossível ignorá-lo. No entanto, fazia-se necessária uma nova sistematização, elaborada a 
partir dos problemas já pensados pela filosofia pagã, conjugados com os agora propostos pelo 
cristianismo. Assim, a filosofia cristã ocupou-se da assimilação das novas experiências no contexto da 
filosofia clássica. 
 
Capítulo 1: Principais períodos da filosofia medieval 
 
A patrística 
 
Patrística é o nome dado à filosofia cristã dos primeiros séculos, elaborada pelos Padres da Igreja e 
pelo escritores escolásticos. Consiste na elaboração doutrinal das verdades de fé do Cristianismo e na 
sua defesa contra os ataques dos "pagãos" e contra as heresias. Quando o Cristianismo, para defender-
se de ataques polêmicos, teve de esclarecer os próprios pressupostos, apresentou-se como a expressão 
terminada da verdade que a filosofia grega havia buscado, mas não tinha sido capaz de encontrar 
plenamente, enquanto a Verdade mesma não tinha ainda se manifestado aos homens, ou seja, enquanto 
o próprio Deus não havia ainda encarnado, não existia ainda o Senhor. 
 
 Concílio de Nicéia 
fonte: www.igrejaservia.org/icones/icones_016.html 
 
De um lado se procura interpretar o Cristianismo mediante conceitos tomados da filosofia grega, do 
outro reporta-se ao significado que esta última dá ao Cristianismo. Sendo considerado como a figura mais 
importante dessa corrente de pensamento o cristão Santo Agostinho. Influenciado por Platão, ele 
afirmava que sem a fé a razão torna-se incapaz de promover a salvação e a felicidade do homem. 
Portanto, no contexto da Patrística, a razão perde sua autonomia no que diz respeito à busca e 
demonstração de suas próprias verdades. Ela se tornou, na prática, uma ferramenta utilizada pela 
teologia (ou fé), para demonstrar suas verdades, consideradas absolutas e inquestionáveis. É nesta 
perspectiva que a frase de Santo Agostinho “Creio para compreender”, reveste-se de um sentido mais 
amplo: a fé precede a razão, cabendo a esta última demonstrar aquilo que a primeirajá revelou. 
A patrística divide-se geralmente em três períodos: 
 até o ano 200 dedicou-se à defesa do Cristianismo contra seus adversários (padres apologistas, São 
Justino Mártir). 
 até o ano 450 é o período em que surgem os primeiros grandes sistemas de filosofia cristã (Santo 
Agostinho, Clemente Alexandrino). 
 até o século VIII reelaboram-se as doutrinas já formuladas e de cunho original (Boécio). 
O legado da Patrística foi passada à Escolástica. 
 
A escolástica 
 
A Escolástica é uma linha dentro da filosofia medieval, de acentos notadamente cristãos, surgida 
da necessidade de responder às exigências da fé, ensinada pela Igreja, considerada então como a 
guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade. Por assim dizer, responsável pela 
unidade de toda a Europa, que comungava da mesma fé. Esta linha vai do começo do século IX até ao 
fim do século XIV, ou seja, até ao fim da Idade Média. Este pensamento cristão deve o seu nome às artes 
ensinadas na altura pelos escolásticos nas escolas medievais. Estas artes podiam ser divididas em trivio 
(gramática, retórica e dialética) ou quadrívio (aritmética, geometria, astronomia e música). 
A Filosofia que até então possuía traços marcadamente clássicos e helenísticos sofreu influências 
da cultura judaica e cristã, a partir do século V, quando pensadores cristãos perceberam a necessidade 
de aprofundar uma fé que estava amadurecendo, em uma tentativa de harmonizá-la com as exigências 
do pensamento filosófico. Alguns temas que antes não faziam parte do universo do pensamento grego, 
tais como: Providência e Revelação Divina e Criação a partir do nada passaram a fazer parte de 
temáticas filosóficas. A Escolástica possui uma constante de natureza neoplatônica, que conciliava 
elementos da filosofia de Platão com valores de ordem espiritual, reinterpretadas pelo Ocidente cristão. E 
mesmo quando Tomás de Aquino introduz elementos da filosofia de Aristóteles no pensamento 
escolástico, esta constante neoplatônica ainda é presente. 
Basicamente, a questão chave que vai atravessar todo o pensamento escolástico é a harmonização 
de duas esferas: a fé e a razão. O pensamento de Agostinho, mais conservador, defende uma 
subordinação maior da razão em relação à fé, por crer que esta venha restaurar a condição decaída da 
razão humana. Enquanto que a linha de Tomás de Aquino defende uma certa autonomia da razão na 
obtenção de respostas, por força da inovação do aristotelismo, apesar de em nenhum momento negar tal 
subordinação da razão à fé. 
Para a Escolástica, algumas fontes eram fundamentais no aprofundamento de sua reflexão, por 
exemplo os filósofos antigos, as Sagradas Escrituras e os Padres da Igreja, autores dos primeiros 
séculos cristãos que tinham sobre si a autoridade de fé e de santidade. 
 
Exercícios 
 
1. A patrística (séculos II ao VIII d.C.) é movimento intelectual dos primeiros padres da Igreja, 
destinado a justificar a fé cristã, tendo em vista a conversão dos pagãos. Sobre a Patrística pode-
se afirmar, com certeza: 
 
 I. assume criticamente elementos da filosofia platônica na tentativa de melhor fundamentar a 
doutrina cristã. 
 II. considera que as verdades da razão estão sempre em contradição com as verdades 
reveladas por Deus. 
 III. incorpora as teses da metafísica aristotélica para fundar uma teologia estritamente 
racionalista. 
 IV. considera a razão como auxiliar da fé e a ela subordinada, tal como expressa a frase de 
Santo Agostinho “creio para compreender” 
a) II e IV são corretas. 
b) I e IV são corretas. 
c) III e IV são corretas. 
d) Apenas II é correta. 
 
2. A Escolástica é o período da filosofia cristã da Idade Média, que vai do século IX ao século XIV. 
Sobre a Escolástica é correto afirmar, EXCETO 
 
a) no século XIII, servindo-se das traduções das obras de Aristóteles, que foram feitas diretamente 
do grego, Tomás de Aquino realizou a síntese magistral entre a teologia cristã e a filosofia 
aristotélica. 
b) A fundação das universidades, já no século XI, permitiu a expansão da cultura letrada, 
secularmente guardada nos mosteiros, e a fermentação de idéias que culminaria nos grandes 
sistemas filosóficos e teológicos do século XIII. 
c) Na Escolástica, devido à incorporação do pensamento aristotélico, o pensamento platônico foi 
abandonado, diminuindo assim a influência de Santo Agostinho neste período. 
d) No século XIV surgiram pensadores, tais como Guilherme de Ockham, que criticaram a filosofia 
tomista pelo seu caráter substancialista; isto abriu perspectivas fecundas para o advento da 
ciência moderna. 
 
3. O filósofo grego que maior influência exerceu sobre Santo Tomás de Aquino foi 
 
a) Platão 
b) Aristóteles 
c) Sócrates 
d) Heráclito 
 
Capítulo 2: Santo Agostinho 
 
 Santo Agostinho 
Fonte: http://br.geocities.com/worth_2001/aug16.jpg 
 
A doutrina da iluminação divina 
 
Aurélio Agostinho (354-430) destaca-se entre os Padres como Tomás de Aquino se destaca entre 
os Escolásticos. E como Tomás de Aquino se inspira na filosofia de Aristóteles, e será o maior vulto da 
filosofia metafísica cristã, Agostinho inspira-se em Platão, ou melhor, no neoplatonismo. Pela 
profundidade do seu sentir e pelo seu gênio compreensivo, fundiu em si mesmo o caráter especulativo da 
patrística grega com o caráter prático da patrística latina, ainda que os problemas que fundamentalmente 
o preocupam sejam sempre os problemas práticos e morais: o mal, a liberdade, a graça, a predestinação. 
Para se compreender a doutrina agostiniana da iluminação divina, é importante perceber que, para 
Agostinho (354-430), existem dois tipos inteiramente diferentes de conhecimento. O primeiro, limitado aos 
sentidos e referente aos objetos exteriores ou suas imagens, não é necessário, nem imutável e nem 
eterno; o segundo, encontrado na matemática e nos princípios fundamentais da sabedoria, constitui a 
verdade. Essa distinção permite que se indague: Será o próprio homem a fonte dos conhecimentos 
perfeitos? Contra a resposta afirmativa depõe o fato de ser o homem tão mutável quanto as coisas dadas 
à percepção. Assim, só haveria uma resposta possível: a aceitação de que alguma coisa transcende a 
alma individual e dá fundamento à verdade. Seria Deus. 
Para explicar como é possível ao homem receber de Deus o conhecimento das verdades eternas, 
Agostinho elabora a doutrina da iluminação divina. Trata-se de uma metáfora recebida de Platão, que na 
célebre alegoria da caverna mostra ser o conhecimento, em última instância, o resultado do bem, 
considerado como um sol que ilumina o mundo inteligível. Agostinho louva os platônicos por ensinarem 
que o princípio espiritual de todas as coisas é, ao mesmo tempo, causa de sua própria existência, luz de 
seu conhecimento e regra de sua vida. Por conseguinte, todas as proposições que se percebem como 
verdadeiras seriam tais porque previamente iluminadas a extrair da alma sua própria inteligibilidade e 
nada se poderia conhecer intelectualmente que já não se possuísse antes, de modo infuso. 
Ao afirmar esse saber prévio, Agostinho aproxima-se da doutrina platônica segundo a qual todo 
conhecimento é reminiscência. Não obstante as evidentes ligações entre os dois pensadores, Agostinho 
afasta-se, porém, de Platão ao entender a percepção do inteligível na alma não como descoberta de um 
conteúdo passado, mas como irradiação divina no presente. A alma não passaria por uma existência 
anterior, na qual contempla as idéias, ao contrário, existiria uma luz eterna da razão que procede de Deus 
e atuaria a todo momento, possibilitando o conhecimento das verdades eternas. Assim como os objetos 
exteriores só podem ser vistos quando iluminados pela luz do Sol, também as verdades da sabedoria 
precisariam ser iluminadas pela luz divina para se tornarem inteligíveis. 
A iluminação divina, contudo, não dispensa o homemde ter um intelecto próprio; ao contrário, 
supõe sua existência. Deus não substitui o intelecto quando o homem pensa o verdadeiro; a iluminação 
teria apenas a função de tornar o intelecto capaz de pensar corretamente em virtude de uma ordem 
natural estabelecida por Deus. 
Essa ordem é a que existe entre as coisas do mundo e as realidades inteligíveis correspondentes, 
denominadas por Agostinho com diferentes palavras: idéia, forma, espécie, razão ou regra. 
A teoria agostiniana estabelece, assim, que todo conhecimento verdadeiro é o resultado de um 
processo de iluminação divina, que possibilita ao homem contemplar as idéias, arquétipos eternos de 
toda a realidade. Nesse tipo de conhecimento a própria luz divina não é vista, mas serve apenas para 
iluminar as idéias. Um outro tipo seria aquele no qual o homem contempla a luz divina, olhando o próprio 
sol: a experiência mística. 
 
A doutrina da Reminiscência 
 
 A filosofia agostiniana sobre o conhecimento apresenta uma semelhança importante com o 
pensamento de Platão. Para Santo Agostinho, Deus é a suprema verdade e, por ser onisciente 
(conhecedor de tudo) é a única origem possível do saber. A alma, também denominada de homem 
interior na filosofia agostiniana, está mais próxima da substância divina do que qualquer outra parte do 
indivíduo; por isso, é nela e por meio dela que todo conhecimento deve ser buscado. 
 Assim, nenhum conhecimento verdadeiro pode ser introduzido na mente de um indivíduo vindo de 
fora, por meio do ensino, da reflexão ou da observação do mundo. O saber sobre as formas dos seres e 
objetos, sobre a matéria em geral, os conceitos geométricos e matemáticos, as virtudes, as emoções 
encontram-se na alma, porque ela se origina da substância divina. Os conhecimentos de que temos 
consciência são os que já encontramos em nossa alma, como que ativados em nossa memória. Aquilo 
que ignoramos também está na alma, e simplesmente precisa ser desperto pela memória por meio da 
pesquisa em nosso mundo interior. Santo Agostinho afirmava ainda que as maiores verdades são 
atingidas quando a alma é conduzida por Jesus Cristo, o mestre interior que faz o homem enxergar 
claramente aquilo que ele já sabia, sem ter consciência de que sabia, e que o leva à redenção divina. 
 
Exercícios 
 
1. Em suas reflexões sobre a questão da fé, Santo Agostinho considera que 
 
 I. é preciso crer acima de tudo, mesmo que não se entenda por que acreditar. 
 II. a razão e a fé são duas disposições do espírito que dever ser consideradas no mesmo grau 
de importância. 
 III. Deus é a voz interior daqueles homens que se dedicam à busca do conhecimento; Ele os 
inspira em suas investigações. 
 IV. a razão deve estar sempre acima da fé, só assim se chega à verdade. 
 Assinale a ÚNICA opção que apresenta as afirmativas corretas. 
a) I e II 
b) I e III 
c) III e IV 
d) I e IV 
 
2. “Assim até as coisas materiais emitem um juízo sobre as suas formas, comparando-se àquela 
Forma da eterna Verdade e que intuímos com o olhar de nossa mente”. (Sto. Agostinho, A trindade, 
Livro IX, cap. 6. São Paulo: Paulus, 1994, p. 299). 
 Essa frase de Sto. Agostinho refere-se à 
a) teologia mística de Sto. Agostinho, que se funda na experiência imediata da alma humana com 
Deus. 
b) Moral agostiniana que propõe ao homem regras para uma vida santa e ascética, apartada do 
mundo. 
c) Doutrina da iluminação divina que afirma que o conhecimento humano é iluminado pela 
Verdade Eterna, isto é, Deus. 
d) Estética intelectualista de Agostinho, que consiste num profundo desprezo pela sensibilidade 
humana. 
 
3. Sobre a doutrina da iluminação divina de Santo Agostinho, considere o conteúdo das assertivas 
abaixo: 
 I. A iluminação divina dispensa o homem de ter intelecto próprio. 
 II. A iluminação divina capacita o intelecto humano para entender que há determinada ordem 
entre o mundo criado e as realidades inteligíveis. 
 III. Agostinho nomeia as realidades inteligíveis de forma pouco precisa como, por exemplo, 
idéia, forma, espécie, regra ou razão e afirma, platonicamente, que essas realidades já foram 
contempladas pela alma. 
 IV. A iluminação divina exige que o homem tenha intelecto próprio, a fim de pensar 
corretamente os conteúdos da fé postos pela revelação. 
 Assinale a alternativa que contém somente as afirmações corretas: 
a) II e III 
b) I e III 
c) II e IV 
d) III e IV 
 
Capítulo 3: Tomás de Aquino 
 Tomás de Aquino 
Fonte: www.esdc.com.br/imagens/santo_tomas_aquino.jpg 
 
A teoria tomista acerca do conhecimento 
 
Influenciado por Aristóteles, Santo Tomás (1225-1274) afirmava que teologia (fé) e filosofia (razão 
natural) são conciliáveis, desde que a razão ampare o caminho até a verdade revelada, isto é, um bom 
uso da razão faz com que possamos acessar a verdade de Deus. Portanto, não deve haver conflito entre 
fé e razão. De acordo com a sua teoria do conhecimento, o homem é um ser duplo, composto por um 
corpo material e por uma alma inteligível. O homem conhece porque é alma, mas não tem acesso direto 
a Deus porque também é corpo. Nosso conhecimento sempre parte dos sentidos, mas atinge o inteligível 
por meio da abstração. Desse modo, a teoria tomista do conhecimento é a do realismo, ou seja, 
considera que os conceitos que apreendemos pelo conhecimento possuem uma realidade autônoma e 
objetiva. O que a faculdade do conhecimento recebe do objeto é uma impressão deste. O que primeiro 
conhecemos são essas impressões, porque elas remetem de forma intencional ao objeto observado. 
Tomás fixou-se num realismo moderado, tomando como ponto de partida o ser captado pela 
inteligência no âmbito do conhecimento sensível, de onde o abstrai, para em seguida buscar novos 
resultados da especulação sem nunca ultrapassar o âmbito limitado do ser sensível. Rejeitou, portanto, a 
perspectiva platônica, do agostinismo, cujos princípios universais desenvolviam-se independentemente 
do sensível. 
 
As provas da existência de Deus 
 
Segundo Santo Tomás a razão pode provar a existência de Deus através de cinco vias, todas de 
índole realista: considera-se algum aspecto da realidade dada pelos sentidos como o efeito do qual se 
procura a causa. 
A primeira fundamenta-se na constatação de que no universo existe movimento. Baseado em 
Aristóteles, Santo Tomás considera que todo movimento tem uma causa, que deve ser exterior ao próprio 
ser que está em movimento, pois não se pode admitir que uma mesma coisa possa ser ela mesma a 
coisa movida e o princípio motor que a faz movimentar-se. Por outro lado, o próprio motor deve ser 
movido por um outro, este por um terceiro, e assim por diante. Nessas condições, é necessário admitir ou 
que a série de motores é infinita e não existe um primeiro termo (não se conseguindo, assim, explicar o 
movimento), ou que a série é finita e seu primeiro termo é Deus.) 
A segunda via diz respeito à idéia de causa em geral. Todas as coisas ou são causas ou são 
efeitos, não se podendo conceber que alguma coisa seja causa de si mesma. Nesse caso, ela seria 
causa e efeito no mesmo tempo, sendo, assim, anterior e posterior, o que seria absurdo. Por outro lado, 
toda causa, por sua vez, deve ter sido causada por outra e esta por uma terceira, e assim 
sucessivamente. Impõe-se, portanto, admitir uma primeira causa não causada, Deus, ou aceitar uma 
série infinita e não explicar a causalidade. 
A terceira via refere-se aos conceitos de necessidade e contingência. Todos os seres estão em 
permanente transformação, alguns sendo gerados, outros se corrompendo e deixando de existir. Mas 
poder ou não existir não é possuir uma existência necessária e sim contingente, já que aquilo que é 
necessário não precisa de causa para existir. Assim, o possível ou contingente não teria em si razão 
suficiente de existência e, se nas coisas houvesse apenas o possível, não haveria nada. Para que o

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