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Brasília-DF. Técnicas FarmacêuTicas e DesenvolvimenTo De Formas nuTricionais Elaboração Dra. Daniela Martins da Silva Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS ......................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 DEFINIÇÕES E CONCEITOS ...................................................................................................... 9 CAPÍTULO 2 CLASSIFICAÇÕES ................................................................................................................... 14 CAPÍTULO 3 ASPECTOS FARMACOCINÉTICOS E FARMACODINÂMICOS ...................................................... 17 UNIDADE II TÉCNICAS FARMACÊUTICAS................................................................................................................. 32 CAPÍTULO 1 FORMAS FARMACÊUTICAS ..................................................................................................... 32 CAPÍTULO 2 DESENVOLVIMENTO DE FORMAS NUTRICIONAIS ...................................................................... 43 CAPÍTULO 3 NUTRACÊUTICOS .................................................................................................................... 52 UNIDADE III ASPECTOS TOXICOLÓGICOS ............................................................................................................... 54 CAPÍTULO 1 TOXICOLOGIA DE NUTRIENTES ................................................................................................ 54 UNIDADE IV ASPECTOS LEGAIS ............................................................................................................................... 62 CAPÍTULO 1 LEGISLAÇÃO E ROTULAGEM DE PRODUTOS ............................................................................ 62 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 67 REFERÊNCIA .................................................................................................................................... 68 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Com o avanço da Ciência da Nutrição, hoje, muito se sabe sobre a ação dos nutrientes no organismo e a sua necessidade diária para que o organismo apresente suas funções fisiológicas normais. A maioria dos indivíduos não ingere os nutrientes necessários devido a motivos diversos como falta de acesso a uma alimentação mais saudável devido à baixa renda ou ingestão de alimentos pobres em nutrientes. Assim, a ciência foi buscando formas de incorporar alguns nutrientes na alimentação e através da legislação as indústrias foram obrigadas a adicionar ácido fólico à farinha, iodo ao sal ou enriquecer biscoitos com vitaminas. Os nutracêuticos definidos como compostos bioativos presentes em alimentos apresentados na forma farmacêutica de cápsulas, comprimidos, efervescentes ou até mesmo na forma de shakes, pirulitos, entre outros, apresentam uma alternativa para administração de nutrientes isolados de alimentos. Assim com a necessidade de melhor compreensão sobre as formas nutricionais e técnicas farmacêuticas utilizadas, essa disciplina visa apresentar conceitos básicos para profissionais da saúde interessados em aumentar seus conhecimentos sobre o assunto. Objetivos » Promover conhecimentos básicos sobre formulações farmacêuticas direcionadas às formas nutricionais. » Analisar conceitos sobre alimentos funcionais e nutracêuticos. » Compreender questões relacionadas à legislação e rotulagem. » Conhecer algumas classificações de nutrientes importantes. 8 9 UNIDADE INUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS CAPÍTULO 1 Definições e conceitos Na atualidade podemos verificarque existem inúmeros pesquisadores que estudam os efeitos benéficos dos alimentos para prevenção e tratamento de doenças. Tanto encontramos indicações do consumo de alimentos específicos, como também um grande arsenal de suplementos e medicamentos contendo nutrientes específicos isolados. Por um lado vemos uma boa parte da população alimentando-se de forma inadequada, pois o mercado oferece uma grande quantidade de alimentos ricos em gordura, açúcares e carboidratos e que são bem atraentes e viciantes como por outro lado já observamos uma boa parcela da população preocupada com a alimentação, buscando dietas mais saudáveis, não somente para controle do peso, mas também para tratamento e prevenção de doenças. Nutracêuticos vs. alimentos funcionais Em muitos países, os termos nutracêuticos e alimentos funcionais são bem esclarecidos e definidos, mas alguns profissionais ainda fazem confusão com os termos, pois na prática os nutracêuticos e os alimentos funcionais estão bem ligados. Podemos definir os alimentos funcionais como alimentos que possuem componentes que oferecem benefícios fisiológicos e não apenas nutricionais e são indicados para prevenção de doenças, podendo ser incorporados em dietas específicas, já os nutracêuticos são componentes isolados de alimentos e são vendidos em forma de barras, cápsulas, pó, comprimidos ou outras formas. O termo nutracêutico define uma ampla variedade de alimentos e componentes alimentícios com propriedades terapêuticas. Sua ação varia do suprimento de minerais e vitaminas essenciais até a proteção contra várias doenças infecciosas 10 UNIDADE I │NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS (HUNGENHOLTIZ; SMID, 2002). Tais produtos podem abranger nutrientes isolados, suplementos dietéticos e dietas para alimentos geneticamente planejados, alimentos funcionais, produtos herbais e alimentos processados tais como cereais, sopas e bebidas (KWAK; JUNES, 2001). Buscando um histórico do uso dos alimentos como tratamento e prevenção de doenças, encontramos uma referência de Hipócrates considerado pai da Medicina: “Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja o seu remédio”, isso há cerca de 2500 anos. Assim percebemos que desde a Antiguidade, a alimentação é ressaltada como um fator promotor de saúde. Durante a era naturalística (400 a.C. a 1750 d.C), as pessoas não tinham conhecimentos sobre os alimentos assim era comum a ideia dos poderes mágicos e alguns tabus eram muito disseminados a cerca dos alimentos e ervas medicinais. Já no período entre 1750 d.C a 1900 d.C, o conceito de nutrição começou a surgir graças ao francês Antoine Lavoisier, considerado o pai da Nutrição, que começou a estudar a respiração, a oxidação e a calorimetria sempre voltada aos alimentos. A partir de 1900 d.C iniciou a Era Biológica, nessa época os nutrientes começaram a ser estudados levando em conta o seu papel fisiológico. Inicialmente a preocupação maior era em relação aos aspectos curativo dos alimentos, mas com o tempo foram surgindo os estudos voltados aos aspectos preventivos. Os termos nutracêuticos e alimentos funcionais são recentes. A partir de 1920, os pesquisadores começaram a isolar componentes dos alimentos e a realizar pesquisas laboratoriais e na década de 1980, os japoneses iniciaram estudos com alimentos funcionais. Assim, em 1984, o Ministério da Educação japonês criou um departamento chamado Análise Sistemática e Desenvolvimento das Funções dos Alimentos que começou a financiar pesquisas nessa área. Segundo Goldberg (1994), o país chegou a movimentar 28 bilhões de dólares por ano com operações comerciais envolvendo alimentos funcionais. Na Europa Meridional, também chamada de Europa Mediterrânea, que compreende os países situados ao sul ou extremo sul ocidental do continente, como Portugal, e pelos países banhados pelo mar Mediterrâneo, como Espanha, a dieta é tradicionalmente pobre em gordura saturada, sódio e com alto consumo de fibras. Alguns estudiosos mostraram interesse em pesquisar o consumo de vegetais, grãos e outros produtos que compõe uma dieta saudável e demonstraram que o baixo consumo de gorduras saturadas, aliado ao alto consumo de gorduras monoinsaturadas e de hidratos de 11 NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS│ UNIDADE I carbono complexos, característicos da dieta mediterrânea, estão associados à reduzida mortalidade por doenças coronárias dos habitantes desta região (ROBERFROID, 1996). Já nos Estados Unidos, os estudos sobre a influência dos nutrientes e alimentos na saúde dos indivíduos surgiu devido à preocupação com o alto consumo de fast food, isto é, alimentação rápida causadora dos altos índices de doenças crônicas degenerativas. O governo americano começou a incentivar as pesquisas nessa área e notou importância de se ter uma dieta balanceada, baixa em sódio, em gordura saturada e colesterol, dieta essa que começou a ser aceita por sua população (GOLDBERG, 1994). O conceito de alimento funcional começou a ser difundido nos Estados Unidos a partir de 1990, quando o Instituto Nacional de Câncer iniciou um projeto chamado Designer Food Program (Programa de Alimentos Projetados) com duração de cerca de cinco anos e com um investimento de 20 milhões de dólares destinados à realização de pesquisas sobre componentes de alimentos naturais, principalmente os fitoquímicos, presentes em frutas e verduras, que apresentassem atividade anticancerígena (MILNER, 2000; PIMENTEL; FRANCKI; GOLLUCKE, 2005). Moraes e Colla (2006), em uma revisão de literatura sobre nutracêuticos e alimentos funcionais, apresentam as definições de alguns autores sobre os termos. Um alimento pode ser considerado funcional se for demonstrado que o mesmo pode afetar beneficamente uma ou mais funções alvo no corpo, além de possuir os adequados efeitos nutricionais, de maneira que seja tanto relevante para o bem-estar e a saúde quanto para a redução do risco de uma doença. Os alimentos funcionais são alimentos que provêm a oportunidade de combinar produtos comestíveis de alta flexibilidade com moléculas biologicamente ativas, como estratégia para consistentemente corrigir distúrbios metabólicos, resultando em redução dos riscos de doenças e manutenção da saúde. Os alimentos funcionais se caracterizam por oferecer vários benefícios à saúde, além do valor nutritivo inerente à sua composição química, podendo desempenhar um papel potencialmente benéfico na redução do risco de doenças crônico-degenerativas (WALZEM, 2004; ANJO, 2004; ROBERFROID, 2002; TAIPINA et al., 2002; NEUMANN et al., 2000). Por sua vez, o nutracêutico é um alimento que proporciona benefícios médicos e de saúde, incluindo a prevenção e ou tratamento de doenças. Tais produtos podem abranger desde os nutrientes isolados, suplementos dietéticos na forma de cápsulas e dietas até os produtos beneficamente projetados, produtos herbais e alimentos processados tais como cereais, sopas e bebidas. Vários nutracêuticos podem ser produzidos por métodos fermentativos com o uso de microrganismos considerados como GRAS (generally recognized as safe). Os nutracêuticos podem ser classificados como fibras dietéticas, 12 UNIDADE I │NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS ácidos graxos poliinsaturados, proteínas, peptídeos, aminoácidos ou cetoácidos, minerais, vitaminas antioxidantes e outros antioxidantes como a glutationa e o selênio (ROBERFROID, 2002; HUNGEHOLTZ, 2002; ANDLAUER; FURST, 2002; KWAK; JUKES, 2001). Fitoquímicos A fitoquímica é a ciência responsável pelo estudo dos componentes químicos dos vegetais. Estuda cada grupo da planta, desde a estrutura química molecular até as propriedades biológicas dos vegetais. Faz levantamentos e análises dos componentes químicos das plantas como os princípiosativos, os odores, pigmentos entre outros. Segundo a American Dietetic Association, os fitoquímicos também conhecidos como fitonutrientes ou fitoesteróis são encontrados em vários alimentos e podem ser consumidos diariamente em determinada quantidade pelos seres humanos como os vegetais, as frutas, os legumes, os grãos, nas sementes e servem de proteção contra várias doenças como câncer e doenças degenerativas (ANJO, 2004). A área de Farmácia que estuda os fitoquímicos é a Farmacognosia, termo criado em 1815 por Seydler em sua Analecta Pharmacognostica. Ciência criada para estudar as matérias de origem natural usadas no tratamento de enfermidades. Atualmente, o termo se refere com exclusividade às matérias de origem vegetal e animal. A origem do nome Farmacognosia vem de duas palavras gregas: Pharmakon que significa droga, veneno e Gnosis que significa conhecimento (OLIVEIRA; AKISUE; AKISUE; 1998). As pesquisas fitoquímicas têm por objetivo conhecer os constituintes químicos de espécies vegetais ou avaliar a sua presença. Quando não se dispõe de estudos químicos sobre as espécies de interesse, a análise fitoquímica preliminar pode indicar os seus grupos de metabólitos secundários relevantes (SIMÕES et al., 2002). Aspectos genéticos e moleculares da produção vegetal A utilização de plantas medicinais como recurso terapêutico ou para o desenvolvimento de novos medicamentos, a partir das substâncias delas isoladas, ou via plantas transgênicas, tem se mostrado uma forma não convencional de produção de matérias- primas vegetais, que começou a ser melhor explorada nos últimos anos (SIMÕES et al., 2002). 13 NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS│ UNIDADE I Além do melhoramento em si, feito no sentido de aumentar o teor de um produto específico naturalmente já codificado por uma espécie vegetal, as plantas podem ser utilizadas para produzir outras substâncias de interesse na saúde humana, se os genes adequados forem transferido a elas. Os avanços obtidos com a biologia molecular permitem o isolamento de um gene numa bactéria, vírus ou mesmo humano pode ser incorporado ao genoma de uma planta e essa expressar esse gene e produzir corretamente o produto gênico codificado. Dessa forma, vacinas e outros produtos farmacêuticos poderiam ser produzidos por plantas (NODARI; GUERRA, 2002). Plantas transgênicas são vegetais transformados geneticamente, são plantas que tem inserido em seu genoma, uma sequência de DNA manipulada em laboratório por técnicas moleculares ou biotecnológicas. O DNA inserido pode ser da mesma ou de outra espécie. Essa técnica conhecida como Técnica do DNA Recombinante possibilita o corte e a ligação de fragmentos de DNA de uma forma altamente precisa. Particularmente, sequências de DNA (genes) podem ser removidas de um organismo, ligadas a sequências regulatórias e inseridas em outros organismos. A fonte desses genes pode ser qualquer organismo vivo (microrganismo, inseto, planta, animal) e o organismo recipiente, nesse caso específico, plantas cultivadas (NODARI; GUERRA, 2002). Diversos genes de interesse agronômico já foram isolados como, por exemplo, o gene que codifica uma proteína de alto valor nutricional presente na castanha do Pará, pode ser usado para aumentar o valor nutricional de algumas culturas importantes como feijão, soja e ervilha (GANDER; MARCELLINO, 2014). Estima-se que mais de cem mil metabólitos secundários são produzidos pelas plantas, geralmente em baixas quantidades. A manipulação de genes de enzimas que catalisam os principais passos da rota de produção ou de fatores de transcrição pode aumentar a produção desses metabólitos e tornar executável o cultivo de plantas transgênicas com tal finalidade. Como consequência, o aumento do valor de certas espécies agrícolas pode ser alcançado por meio de modificações genéticas, que alteram a quantidade ou a composição de certos metabólitos, os quais são de grande importância para a saúde humana (NODARI; GUERRA, 2002). 14 CAPÍTULO 2 Classificações Alimentos funcionais Segundo Moraes e Colla (2006), uma grande variedade de produtos tem sido caracterizada como alimentos funcionais, incluindo componentes que podem afetar inúmeras funções corpóreas, relevantes tanto para o estado de bem-estar e saúde como para a redução do risco de doenças. Essa classe de compostos pertence à Nutrição e não à Farmacologia, merecendo uma categoria própria, que não inclua suplementos alimentares, mas o seu papel em relação às doenças estará, na maioria dos casos, concentrado mais na redução dos riscos do que na prevenção. Segundo os autores, os alimentos funcionais apresentam as seguintes características: » devem ser alimentos convencionais e serem consumidos na dieta normal/ usual; » devem ser compostos por componentes naturais, algumas vezes, em elevada concentração ou presentes em alimentos que normalmente não os supririam; » devem ter efeitos positivos além do valor básico nutritivo, que pode aumentar o bem-estar e a saúde e/ou reduzir o risco de ocorrência de doenças, promovendo benefícios à saúde, além de aumentar a qualidade de vida, incluindo os desempenhos físico, psicológico e comportamental; » a alegação da propriedade funcional deve ter embasamento científico; » pode ser um alimento natural ou um alimento no qual um componente tenha sido removido; » pode ser um alimento onde a natureza de um ou mais componentes tenha sido modificada; » pode ser um alimento no qual a bioatividade de um ou mais componentes tenha sido modificada. Já o alvo dos nutracêuticos é diferente dos alimentos funcionais, devido as seguintes razões (KWAK; JUNES, 2001): 15 NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS│ UNIDADE I » enquanto a prevenção e o tratamento de doenças são relevantes aos nutracêuticos, apenas a redução do risco da doença, e não a prevenção e tratamento da doença estão envolvidos com os alimentos funcionais; » enquanto os nutracêuticos incluem suplementos dietéticos e outros tipos de alimentos, os alimentos funcionais devem estar na forma de um alimento comum. Alguns fitoquímicos encontrados em alimentos funcionais são: » isoflavonas; » flavonoides e outros compostos fenólicos; » carotenoides; » ômega-3; » fitoesteróis; » fibras; » probióticos; » prebióticos. Veja na tabela abaixo, a diferença de alimento funcional e nutracêutico (LOBÃO, 2014). Tabela 1. Exemplos de alimentos funcionais e nutracêuticos. ALIMENTO FUNCIONAL NUTRACÊUTICOS Peixes com alto teor de gordura Óleos vegetais (linhaça) Ácidos graxos ômega-3 Peixes com alto teor de gordura Óleos vegetais (linhaça) Esteróis Estanóis Uva, amora, framboesa, frutas cítricas, brócolis, repolho, chá verde, soja e outros Flavonoides Frutas em geral (principalmente frutas vermelhas e roxas) Antocianinas Uva, morango, chá verde, chá preto Catequinas Caju, soja, maça, uva, manjericão, manjerona Tanino Cereais integrais, farelo de trigo, aveia, cevada, centeio, leguminosas Fibras solúveis e insolúveis Frutas cítricas Limonoides Casca de uva, vinho tinto, maçãs Resveratrol, quercetina Soja, leguminosas, amendoim, alcaçuz Proteína de soja Aveia, cevada, legume e alguns grãos Betaglucana Brócolis, repolho, agrião, couve-flor, rabanete e folha de mostarda Isotiacianatos e indois 16 UNIDADE I │NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS Tomate, goiaba, melancia Licopeno Folhas verdes (luteína), couve, espinafre, repolho e milho Luteína e Zeaxantina Linhaça Lignanas Alho e cebola Sulfetos e alílicos Grãos integrais, frutas e vegetais em geral Fibras/prebióticos (fibras insolúveis e solúveis, fruto- oligossacarídeos, inulina) Leite fermentado Iogurte Probióticos (Bifidobactérias e lactobacilos) Cebola, banana, alho, batata yacon, raizde chicória e alcachofra Prebióticos Pimentas Capsaicina Hortaliças verde-escuras, algas e plantas marinhas Clorofila Frutas e hortaliças amarelo alaranjada, abóbora, cenoura, mamão, manga e damasco Betacaroteno Hortaliças e frutas de cores roxas, azul ou violeta, berinjela, cereja e uva Compostos fenólicos Soja, lentilha, cevada, ervilha e feijão Isoflavonas Frutas cítricas, cenoura, berinjela e pimentão Monoterpenos Leguminosas (feijão, lentilha, grão de bico) Saponinas Castanha do Pará, nozes, cereais integrais Selênio Fonte: tabela adaptada de Lobão, 2014. 17 CAPÍTULO 3 Aspectos farmacocinéticos e farmacodinâmicos Compostos fenólicos Os compostos fenólicos podem ser encontrados em muitas espécies vegetais e em microrganismos que também fazem parte do metabolismo animal. Pertencem a uma classe de compostos com estrutura química que podem ser simples ou complexas e possuem pelo menos um anel aromático e no mínimo um hidrogênio é substituído por um grupamento hidroxila. Os animais são incapazes de sintetizar o anel aromático, e os compostos fenólicos são produzidos a partir do anel benzênico de substâncias presentes na dieta alimentar. Já os vegetais e a maioria dos microrganismos têm a capacidade de sintetizar o anel benzênico, e, a partir dele, principalmente, compostos fenólicos. Entre os compostos fenólicos pertencentes ao metabolismo secundário dos vegetais são encontradas estruturas tão variadas quanto a dos ácidos fenólicos, dos derivados da cumarina, dos pigmentos hidrossolúveis das flores, dos frutos e das folhas. Além disso, essa classe de compostos abrange as ligninas e os taninos, polímeros com importantes funções nos vegetais. Ainda, estruturas fenólicas são encontradas fazendo parte de proteínas, alcaloides e terpenoides (CARVALHO; GOSMANN; SCHENKEL, 2002). Flavonoides Os flavonoides representam um dos grupos fenólicos mais importantes e diversificados entre os produtos de origem natural, são conhecidos mais de 4200 flavonoides, sendo que o número de novas estruturas identificadas praticamente dobrou nos últimos vinte anos (ZUANAZZI, 2002). Segundo Pietta (2000), mais de 8000 flavonoides já foram identificados. Sua estrutura básica consiste em um núcleo fundamental, constituído de quinze átomos de carbono arranjados em três anéis (C6-C3-C6), sendo dois anéis fenólicos substituídos (A e B) e um pirano (cadeia heterocíclica de C) acoplado ao anel A conforme figura 1 (DI CARLO et al., 1999). 18 UNIDADE I │NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS Figura 1. Estrutura básica dos flavonoides. Fonte: (Dornas et al., 2007). Os flavonoides são divididos em: flavonas, flavonóis, chalconas, auronas, flavanonas, flavanas, antocianidinas, leucoantocianidinas, proantocianidinas, isoflavonas, neoflavonoides sendo que as flavonas e flavanonas são de origem biossintética muito próximas (BRAVO, 1998). Os flavonoides têm funções importantes nos vegetais, participando do crescimento, desenvolvimento e na defesa dos vegetais, protegendo-os do ataque de patógenos. Estão presentes nas plantas, concentrados em sementes, frutos, cascas, raízes, folhas e flores. As principais fontes de flavonoides incluem frutos como uva, cereja, maçã, groselha, frutas cítricas entre outros, hortaliças como pimenta, tomate, espinafre, cebola, brócolis, entre outros vegetais folhosos e estima-se que o seu consumo na dieta humana está em cerca de 1 a 2g (DORNAS et al., 2007). O tipo de flavonoide presente em um extrato de planta é determinado inicialmente pelo estudo das propriedades de solubilidade e reações de coloração. Esse procedimento é seguido por análise cromatográfica do extrato da planta. Os flavonoides podem ser separados por procedimentos cromatográficos e os componentes individuais identificados, quando possível, por comparação com padrões. As duas classes de flavonoides consideradas como mais importantes são os flavonois e as antocianidinas. Os pigmentos ocorrem geralmente na forma de antocianinas, que são derivadas das antocianidinas. As antocianidinas não possuem grupos glicosídeos e a maioria possui hidroxilas, isto é, grupos OH, em posições específicas na sua estrutura química (MARÇO; POPPI, 2008). Antocianidinas O termo antocianina, derivado do grego de flor e azul (anthos = flores; kianos = azul), foi inventado por Marquart em 1853 para se referir aos pigmentos azuis das flores. 19 NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS│ UNIDADE I Mas com o passar do tempo, foi demonstrado que não apenas a cor azul, mas também várias outras cores observadas em flores, frutos, folhas, caules e raízes são atribuídas a pigmentos quimicamente similares aos que deram origem ao “flor azul” (MARÇO; POPPI, 2008). Pigmentos antociânicos são responsáveis pela cor vermelha de sucos de frutas, de vinhos e doces de confeitaria. São considerados como aditivos eficazes e seguros na indústria alimentar, não sendo empregados em grande escala em razão de sua instabilidade decorrente de diferentes fatores físicos como luz e pH, dificuldades de purificação e síntese, e as possíveis reações com o dióxido de enxofre, muito empregado como conservante de alimentos. Também possuem algum interesse farmacológico resultante de suas atividades anti-inflamatórias e antiedematogênicas (ZUANAZZI, 2002). Isoflavonoides As isoflavonas são uma subclasse dos flavonoides e têm uma distribuição extremamente limitada na natureza. Os isoflavonoides são de ocorrência exclusiva das Fabaceae. Apesar dessa restrição a uma só família botânica, essa classe apresenta uma diversidade estrutural importante como isoflavonas, isoflavanonas, isoflavenos, aril-3-cumarinas entre outras. A isoflavona, particularmente, possui uma forma bioativa encontrada em poucos vegetais de consumo humano, sendo a soja a maior fonte. São conhecidas como fitoestrógenos (SALGADO, 2001). As isoflavonas de soja podem agir como: » estrógenos e antiestrógenos; » inibidores de enzimas ligadas ao desenvolvimento do câncer; » antioxidantes. A ação estrogênica se deve ao fato das isoflavonas se ligarem aos receptores de estrogênio, e a ação estrogênica e antiestrogênica vai depender do nível de hormônios sexuais endógenos. Como inibidor de enzimas relacionadas ao câncer, um exemplo seria a inibição da tiroxina quinase responsável pela indução tumoral. E a ação antioxidante se deve a inibição da produção de oxigênio reativo, que está envolvido na formação de radicais livres (PIMENTEL; FRANCKI; GOLLUCKE, 2005). Farmacocinética e farmacodinâmica dos flavonoides Os flavonoides quando absorvidos, após passarem pela metabolização no intestino delgado, são sujeitos a várias reações de biotransformação no fígado. Estudos em 20 UNIDADE I │NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS animais e humanos confirmaram que os flavonoides são encontrados na circulação pouco tempo após o consumo e são distribuídos nos tecidos. Quando o extrato de chá verde foi consumido por voluntários saudáveis, várias catequinas foram encontradas no plasma numa concentração variando entre 0,2 a 2% da quantidade ingerida, com uma concentração máxima entre 1,4 e 2,4 horas após a ingestão. A biodisponibilidade dos fenólicos é crucial para a sua eficiência como agentes anticancerígenos e antienvelhecimento. As catequinas, por exemplo, são prontamente absorvidas no intestino, de 70 a 80% delas passam para a circulação; no fígado, cerca de 90% das catequinas ingeridas são biotransformadas e cerca de 2 a 5% das catequinas ingeridas permanecem intactas na circulação. A propriedade mais importante dos flavonoides é a capacidade antioxidante. Os antioxidantes são compostos químicos capazes de reagir com radicais livres e dessa forma reduzir os seus efeitos maléficos no organismo(PIMENTEL; FRANCKI; GOLLUCKE, 2005). Alguns dos efeitos deletérios dos radicais livres no organismo são: » oxidação de LDL, aumentando o risco de aterosclerose; » formação de adesão plaquetária, acarretando trombose e aumentando o risco de AVC e enfarte; » dano ao DNA, gerando aberrações cromossômicas e neoplasias; » potencializa processos inflamatórios e altera o sistema imune. Os flavonoides interferem no processo de produção dos radicais livres, sendo assim combate os seus efeitos indesejáveis no organismo. Na literatura científica podemos encontrar muitos estudos comprovando o efeito benéfico de substâncias que contêm flavonoides em sua composição como, por exemplo, o extrato de uvas e o chá verde devido a seus efeitos anticarcinogênicos, anti-inflamatórios, anti-hepatotóxico, antiviral, antialérgico, antitrombótico e antioxidante. Veja a seguir, as propriedades das catequinas do chá verde. Catequinas do chá verde O chá verde é um produto heterogêneo que contém uma grande variedade de componentes. Os produtos predominantes são as quatro catequinas polifenólicas: epigalocatequina galato (EGCG), epicatequina galato (ECG), epigalocatequina (EGC) 21 NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS│ UNIDADE I e a epicatequina (EC) (figura 2), e segundo dados da literatura são os componentes responsáveis pelos principais efeitos benéficos dessa erva. A EGCG compõe cerca de 50 a 60% das catequinas do chá verde correspondendo a cerca de 200-300mg por xícara. Existem também outros monômeros das catequinas que se apresentam em menores quantidades: galatocatequina galato (GCG), galocatequina (GC), catequina galato (CG) e catequina (C). Os outros componentes incluem: flavonoides como kaempferol, quercetina e miricetina; os aminoácidos derivados de teaninas; os alcaloides: xantinas como cafeínas, teofilina e teobromina; saponinas ou seja cerca de 30 substâncias adicionais. Além disso, o chá verde deve conter traços de pesticidas como organoclorados, organofosforados e piretrinas. Segundo estudos in vivo e in vitro, antioxidantes, como o EGCG, presente no chá verde, podem reduzir o risco de obesidade e as consequências do estado de sobrepeso. Dentre os benefícios das catequinas estão prevenção do câncer e de doenças cardiovasculares, redução da colesterolemia, efeitos protetores contra danos ao fígado e estresse oxidativo, atividade antimutagênica, antitumoral, efeitos anti-inflamatórios, antiarrítmicos, antibacterianos, antivirais e neuroprotetor e melhora da tolerância à glicose. Muitos desses efeitos benéficos do chá verde têm sido atribuídos a sua catequina mais abundante, a EGCG. Tem sido mostrado que as catequinas do chá verde reduzem a atividade da alfa-amilase e da sacarose em intestino de ratos. Assim, vários estudos in vitro sugerem que as catequinas do chá verde podem reduzir a absorção de glicose pela inibição de enzimas gastrointestinais envolvidas na digestão de nutrientes. Além disso, estudos em animais mostraram que o chá verde modula o sistema de captação de glicose no tecido adiposo e no músculo esquelético e suprime a expressão e/ou ativação de fatores de transcrição relacionados à adipogênese, como os possíveis mecanismos de ação antiobesidade. O chá verde reduziu significativamente a captação de glicose acompanhado por uma diminuição na translocação dos transportadores de glicose 4 (GLUT4) no tecido adiposo, ao mesmo tempo que estimularam significativamente a absorção de glicose com translocação de GLUT4 no músculo esquelético. Os efeitos benéficos das catequinas do chá verde nas desordens do metabolismo de glicose implicados na diabetes tipo 2 parecem ser mediados por vários mecanismos relacionados a várias vias como através da modulação o balanço energético, sistema endócrino, consumo de alimentos, metabolismo de carboidratos e lipídeos, estado redox e atividade de diferentes tipos de células (adiposas, hepáticas, muscular e β-pancreáticas). Devido ao fato do receptor de EGCG, conhecido como receptor laminin 22 UNIDADE I │NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS 67-kDa, ser encontrado tanto em células cancerosas como em células normais, conclui- se que EGCG possui numerosas ações. O tratamento com EGCG inibiu a produção de IL-6 induzidas por IL-1β e diminuiu a expressão da proteína gp130 de membrana que se liga ao receptor de IL-6 e produz a transdução de sinal. Tem sido observado que a EGCG reduz o estresse oxidativo, inativa NF-κB e eleva a concentração sérica de adiponectina. Estudos recentes demonstraram que a expressão proteica de NFκB é reduzida em células tratadas com EGCG. EGCG inibiu a ligação de NF-κB ao DNA induzido por TPA (um agente tóxico) em pele de camundongo. A inativação de NF-κB pela EGCG foi relatado ser mediado pela supressão da fosforilação e subsequente degradação de IκBα, evitando a translocalização nuclear da subunidade p65. Entretanto, a modulação da atividade transcricional de NF-κB pela EGCG não depende unicamente da degradação de IκBα e subsequentemente liberação da subunidade NF-κB, como demonstrado por pesquisadores. EGCG inibi a fosforilação de IκBα induzida por lipopolissacarideos sem afetar a atividade luciferase de NF- κB em células de câncer de cólon humano (HT-29). Além disso, a interferência com a sinalização de IKK-IKB, a supressão da transdução de sinal mediada por MAPKs e PI3K-Akt pela EGCG tem implicado na inativação de NF-κB e supressão da indução de COX-2. Muitos trabalhos relatam a ação da EGCG, como um agente promotor anti-tumor. Essa catequina suprimiu a ação maligna de TPA (12-O-tetradecanoylphorbol-13-acetate) em células JB6 epidermais de camundongos através da inativação de AP-1 ou atividade de NF-κB. Em contrapartida, a administração oral de EGCG não afetou a ligação de AP-1 ao DNA induzido por TPA, mas inibiu a ativação de NF-κB, bloqueando a degradação de IκBα na pele de camundongos. Estudo recente revelou que EGCG estimula a secreção de adiponectina (adipocina anti- inflamatória) e reduz TLR-4 (receptor ativado por patógenos) em adipócitos, sugerindo, portanto, que a EGCG tem efeito anti-inflamatório. Adicionalmente, os resultados deste estudo também demonstram efeito dose-dependente sobre a expressão proteica de TNFR1 (receptor da via inflamatória), o que indica que em doses elevadas essa catequina pode desencadear efeito pró-inflamatório (SILVA, 2013). Taninos São substâncias fenólicas solúveis com massa molecular entre 500 e cerca de 3000 daltons, que apresentam a habilidade de formar complexos insolúveis em água com 23 NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS│ UNIDADE I alcaloides, gelatina e outras proteínas. Tais compostos possuem importância, pois são responsáveis pela adstringência de muitos frutos e outros produtos vegetais. A complexação entre taninos e proteínas é a base para suas propriedades como fator de controle de insetos, fungos e bactérias, assim como para seus principais usos industriais, como na manufatura do couro (MELLO; SANTOS, 2002). Os taninos podem ser classificados como hidrolisáveis e não hidrolisáveis. Os taninos hidrolisáveis por hidrólise ácida liberam ácidos fenólicos: gálico, caféico, elágico e um açúcar. O ácido tânico é um típico tanino hidrolisável, o qual é quebrado por enzimas ou de forma espontânea. Os taninos não hidrolisáveis também chamados de condensados (flavolanos) são polímeros dos flavonoides, formados predominantemente por unidades de flavan-3- ols (catequina) e flavan 3,4-diols (leucoantocianidina), presentes em maior quantidade nos alimentos normalmente consumidos. Em geral, a produção de altos níveis de fenóis na planta está relacionada com o processo de cicatrização. Próximo a “injúria” isto é, a algum tipo de agressão, os fenóis são oxidadospela polifenoloxidase a quinonas e complexos polímeros fitomelanina marrom, que são frequentemente mais tóxicos aos invasores do que os fenóis. Os taninos condensados estão presentes na fração da fibra alimentar de diferentes alimentos e podem ser considerados indigeríveis ou pobremente digeríveis. Em leguminosas e cereais os taninos têm recebido considerável atenção, por causa de seus efeitos adversos na cor, sabor e qualidade nutricional. Nossa dieta, de uma maneira geral, possui vários alimentos contendo considerável quantidade de taninos, tais como feijões secos, ervilhas, cereais, folhas, vegetais verdes, café, chá, cidra e alguns tipos de vinhos (SILVA; SILVA, 1999). Plantas ricas em taninos são empregadas na medicina tradicional como medicamento para o tratamento de diversas moléstias orgânicas, tais como diarreia, hipertensão arterial, reumatismo, hemorragias, feridas, queimaduras, problemas estomacais como azia, náuseas, gastrite e úlceras, problemas renais e do sistema urinário e processos inflamatórios em geral. Vários estudos recentes têm demonstrado os efeitos farmacológicos dos taninos (MELLO; SANTOS, 2002). Saponinas As saponinas são glicosídeos de esteroides ou de terpenos policíclicos. Esse tipo de estrutura, que possui uma parte com características lipofílicas (triterpeno ou esteroide) 24 UNIDADE I │NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS e outra parte hidrofílica (açúcares), determina a propriedade de redução da tensão superficial da água e suas ações detergentes e emulsificantes. As saponinas em soluções aquosas formam espuma persistente e abundante. Essa atividade se deve, como nos outros detergentes, do fato de apresentarem na sua estrutura, como citado anteriormente, uma parte lipofílica denominada aglicona ou sapogenina e uma parte hidrofílica constituída por um ou mais açúcares. A espuma formada é estável à ação de ácidos minerais diluídos, diferenciando-a daquela dos sabões comuns. Essa propriedade é a mais característica desse grupo de compostos, da qual deriva o seu nome (do latim sapone = sabão). Algumas propriedades físico-químicas e biológicas encontradas na maioria das saponinas são: » elevada solubilidade em água; » ação sobre membranas: muitos saponinas são capazes de causar desorganização das membranas das células sanguíneas (ação hemolítica); » complexação com esteroides: razão pela qual frequentemente apresenta ação antifúngica e hipocolesterolemiante. As saponinas são componentes importantes para a ação de muitas drogas vegetais, destacando-se aquelas tradicionalmente utilizadas como expectorantes e diuréticas como por exemplo: Ação expectorante: » Polygala senega L. (Polígala) » Primula veris L. (Prímula) » Grindelia robusta Nuh (Grindélia) » Hedera helix (hera) Como diurética: » Smilax spp (Salsaparilla) » Herniaria glabra L. (Herniária) » Betula pendula Roth (Bétula) » Equisetum arvense L. (Cavalinha) 25 NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS│ UNIDADE I O mecanismo de ação não foi completamente elucidado. Os autores argumentam que a irritação no trato respiratório aumentaria o volume do fluido respiratório, hidratando a secreção brônquica. O muco então ficaria com sua viscosidade diminuída. Outra possibilidade seria devida à atividade superficial das saponinas, também originando menos viscosidade e maior facilidade de expulsão do muco. Já a atividade diurética seria devido à irritação do epitélio renal causada pelas saponinas, ou ainda devido aos flavonoides, geralmente também presentes nessas drogas, ou mesmo pela presença de teores elevados de potássio (SCHENKEL; GOSMANN; ATHAYDE, 2002). Resveratrol O Resveratrol é uma substância encontrada na pele da uva vermelha. As fontes mais abundantes são as uvas Vitis vinífera, V. Labrusca, V. muscadine que são usadas na fabricação de vinhos. É encontrada nas videiras, nas raízes, sementes e talos, mas a concentração maior está na película das uvas, que contém entre 50 e 100 microgramas por grama. O Resveratrol é conhecido há muito tempo na terapêutica medicinal oriental, sendo utilizado pelos chineses e japoneses para o tratamento de aterosclerose, doenças inflamatórias e alérgicas. Suas características polifenólicas permitem explicar suas atividades antiagregante plaquetária, antioxidante e redutora de triglicerídeos. Os estudos científicos demonstram que o resveratrol diminui os níveis de lipídeos no soro sanguíneo e a agregação plaquetária, aumentando o colesterol HDL que ajuda a remover o colesterol LDL do sangue e assim previne a obstrução das artérias. A estrutura molecular do resveratrol é similar à do estrogênio sintético, o dietilestilbestrol. Portanto, tem propriedades farmacológicas semelhantes à do estradiol, principal estrogênio humano natural. Para saber mais sobre os efeitos benéficos do vinho, bebida que contém altas concentrações de resveratrol, leia o artigo: DAVID, S. M.P.; DAVID, J.P.; SANTOS, V. L. C. S.; SANTOS, M. L. S.; MOTA, M. D. Resveratrol: ações e benefícios à saúde humana. Diálogos e Ciência – Revista da rede de ensino FTC, ano V, no 10, p. 1-11, 2007. Disponível em: <http://www. farmaciareativo.com/artigos/Resveratrol.pdf> 26 UNIDADE I │NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS MORAES, V.; LOCATELLI, C. Vinho: uma revisão sobre a composição química e benefícios à saúde. Evidência, v.10, no 1-2, p. 57-68, 2010. Disponível: <http:// editora.unoesc.edu.br/index.php/evidencia/article/viewFile/1159/pdf_255> Carotenoides Em 1929, as obras de von Euler, Karrer e Moore demonstraram a relação entre os carotenoides e a vitamina A, revelando o seu valor nutritivo. A partir de então, o interesse nesses compostos tem crescido e, graças ao contínuo desenvolvimento de técnicas analíticas, o conhecimento do número de carotenoides que ocorrem naturalmente também aumentou, hoje mais de 650 são conhecidos (PINTO, 2010). Os carotenoides são substâncias coloridas amplamente distribuídas na natureza. Têm cor intensa, que varia do amarelo ao vermelho, mudando para azul por reação com ácido sulfúrico, e se divide em: » carotenos: carotenoides constituídos por carbono e hidrogênio; e » xantofilas: derivados do caroteno que possuem um ou mais átomos de oxigênio. Apesar dos carotenoides serem abundantes nos alimentos, apenas uma pequena parte é consumida em quantidades significantes. A maioria dos carotenoides são originados de alimentos vegetais, embora possam ser encontrados em alimentos de origem animal como ovos, leite, queijos, vísceras e alimentos processados, onde são adicionados para colorir alimentos. As fontes vegetais dos carotenoides são: cenoura, manga, abóbora, milho amarelo, páprica, mamão, açafrão, urucum, pimenta vermelha, tomate, melancia entre outros (PIMENTEL; FRANCKI; GOLLUCKE, 2005). Os carotenoides têm a capacidade de reduzir o risco de doenças cardiovasculares e cânceres, devido às suas propriedades antioxidantes. São capazes de: » interromper as reações de radicais livres que podem oxidar lipídios insaturados; » proteger o DNA contra o ataque de radicais livres. Aspectos farmacocinéticos e farmacodinâmicos » Absorção: a absorção dos carotenoides é facilitada pela presença de lipídios da dieta e enzimas digestivas, principalmente as lipases. A ação 27 NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS│ UNIDADE I das lipases produz ácidos graxos livres que são incorporados a uma micela mista. Fatores que dificultam a absorção de gorduras, como a presença de fibras solúveis, podem também reduzir a taxa de absorção de carotenoides. Doenças que prejudicam a absorção de lipídios como a fibrose cística, doença celíaca e deficiência de vitamina A podem também prejudicar a absorção de carotenoides, resultando em um baixo nível destes compostos no plasma.O uso de medicamentos que impedem a absorção de gordura como o Orlistate (Xenical) também podem prejudicar a absorção dessa vitamina. » Metabolismo: após absorção, o carotenoide liga-se a uma proteína e a um triacilglicerol formando um quilomicron, que é hidrolisado por lipases. Os carotenoides são então excretados pelo fígado na forma de VLDL que é metabolizado em LDL, IDL e HDL. Essas diferentes classes de lipoproteínas carreiam os carotenoides e os distribuem no corpo humano na seguinte forma: 80% na gordura corporal, 10% no fígado e o restante em locais variados. A retina dos olhos contém altos níveis de xantofilas (luteína e zeaxantina), associadas às proteínas. » Mecanismo de ação: alguns carotenoides são precursores de vitamina A, são conhecidos como pró-vitaminas A. E embora, possuem atividade pró-vitamina A, também apresentam outras funções como ações antioxidantes, antimutagênicas e efeito imunomodulador. Licopeno e Betacaroteno Licopeno O licopeno, dos carotenoides, é o que possui a maior atividade antioxidante in vitro contra as espécies reativas de oxigênio. Estudos demonstram que esta substância reduz o risco de doenças cardiovasculares. Não possui ação pró-vitamina A, mas possui efeitos benéficos à saúde, como ação antioxidante, regulação da comunicação célula-célula, crescimento celular, entre outras propriedades. Mais de 85% da ingestão de licopeno provém do consumo de tomates e seus derivados. Mas também pode ser encontrado em goiaba, melancia e grape fruit (PIMENTEL; FRANCKI; GOLLUCKE, 2005). 28 UNIDADE I │NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS Betacaroteno O betacaroteno constitui um pigmento natural sendo o mais abundante do grupo dos carotenoides presente nos alimentos. Pode ser encontrado em vegetais e frutas de cor amarelo-alaranjado e em vegetais folhosos de cor verde-escura. Nesses, a cor natural do carotenoide é mascarada pela clorofila, presente nos cloroplastos. Sua principal função biológica comprovada em humanos é sua capacidade em se converter em vitamina A. A maior parte do betacaroteno absorvido pela mucosa duodenal é convertida a retinol que em seguida é metabolizada a ésteres de retinila no enterócito. Esses agrupamentos com a molécula intacta do carotenoide atingem o fígado através da linfa, veiculados por remanescentes de quilomicrons. O betacaroteno é transportado no plasma por lipoproteínas e estocado principalmente no tecido adiposo e fígado. A conversão metabólica do carotenoide a retinoides pode ocorrer também em tecidos de diferentes órgãos, tais como o fígado, pulmão e rins. Leia mais sobre o betacaroteno e seus efeitos benéficos à saúde no artigo: NAVES, M.M.V. Beta-caroteno e câncer. Revista de Nutrição, v.11, no 2, p. 99-115, 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rn/v11n2/a01v11n2.pdf>. Fibras solúveis e insolúveis Os alimentos derivados das plantas como frutas, vegetais e alimentos feitos com grãos integrais contêm vitaminas e sais minerais e compostos como os fitoquímicos que podem proteger contra o câncer. As plantas são também uma excelente fonte de fibras, um nutriente especialmente importante para a digestão. A fibra vem em duas formas: solúvel e insolúvel. A forma solúvel absorve até 15 vezes seu peso em água e se desloca através do sistema digestório, produzindo fezes mais moles. As fibras solúveis são abundantes na aveia, nos legumes e nas frutas, já a fibra insolúvel, que se encontra nos vegetais e grãos integrais, proporcionam volume às fezes. O amolecimento e o volume das fezes ajudam a prevenir a constipação, alguns tipos de diarreia e os sintomas do intestino irritável. Essas ações diminuem também a pressão no trato intestinal, reduzindo o risco de hemorroidas e doença diverticular, um transtorno no qual se formam bolsas na parede intestinal. A fibra tem outros benefícios, há evidências de que a fibra solúvel pode diminuir o colesterol, aumentando a quantidade de ácidos biliares excretados nas fezes. Para elaborar mais ácidos biliares, o fígado extrai mais colesterol do sangue. A fibra pode melhorar também o controle do diabetes, tornando mais lenta a liberação de açúcar 29 NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS│ UNIDADE I no sangue. Esse efeito se deve tanto as fibras em si como também ao fato das dietas ricas em fibras geralmente serem baixas em gorduras e conter outros nutrientes que podem afetar o metabolismo do açúcar. Também existem diversos estudos mostrando os benefícios das fibras na prevenção do câncer. Os estudos sugerem que as dietas ricas em fibras protegem contra o câncer de cólon e de mama (KING, 2003). Recomendação para consumo de fibras: » Grãos – sete a oito porções: os grãos que podem ser consumidos através dos cereais, pão, arroz e massas, são ricos em carboidratos complexos cheios de energia e proporcionam importantes nutrientes, incluindo a fibra. Junto com os vegetais e as frutas, os grãos devem formar a base da dieta. » Vegetais – pelo menos três porções: os vegetais são naturalmente pobres em calorias e quase livres de gordura. Proporcionam fibra, vitaminas, sais minerais e fitoquímicos. » Frutas – pelo menos duas porções: as frutas geralmente têm poucas calorias e pouca ou nenhuma gordura e contém fibras, vitaminas, sais minerais e fitoquímicos. As frutas frescas são geralmente mais ricas em fibras, porém também em calorias. » Legumes: pobres em gordura e sem colesterol, os legumes como feijões, ervilhas e lentilhas secas são a melhor fonte de proteínas vegetais e excelentes fontes de fibras. Prebióticos vs. Probióticos A saúde do sistema gastrointestinal está bem relacionada com o estilo de vida, embora alguns transtornos digestivos sejam hereditários ou se apresentem por causas desconhecidas. Os fatores relacionados com o estilo de vida que influenciam o bom funcionamento do sistema gastrointestinal são: os alimentos que consome, a quantidade de exercício que pratica, as atividades do dia e o nível de estresse (KING, 2003). Como é extremamente adaptável, o sistema digestório humano pode ajustar- se a uma variedade infinita de alimentos, a menos que microrganismos prejudiciais e potencialmente patogênicos dominem. Manter um equilíbrio apropriado da microbiota pode ser assegurado por uma suplementação sistemática da dieta com probióticos, prebióticos e simbióticos (BIELECKA, BIEDRZYCKA, MAJKOWSKA, 2002). Em virtude desse fato, nos últimos anos, o conceito de alimentos funcionais passou a 30 UNIDADE I │NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS concentrar-se de maneira intensiva nos aditivos alimentares que podem exercer efeito benéfico sobre a composição da microbiota intestinal (ZIEMER, GIBSON, 1998). Os prebióticos e os probióticos são atualmente os aditivos alimentares que compõem esses alimentos funcionais (Figura 3). Figura 3. Os prebióticos como fatores bifidogênicos e os mecanismos de atuação dos probióticos. Fonte: Saad, 2006. Existem várias definições na literatura para probióticos, prebióticos e simbióticos mas segundo Saad (2006) as definições aceitas são: » Probióticos: são microrganismos vivos, administrados em quantidades adequadas, que conferem benefícios à saúde do hospedeiro. A influência benéfica dos probióticos sobre a microbiota intestinal humana inclui fatores como efeitos antagônicos, competição e efeitos imunológicos, resultando em um aumento da resistência contra patógenos. Assim, a utilização de culturas bacterianas probióticas estimula a multiplicação de bactérias benéficas, em detrimento à proliferação de bactérias potencialmente prejudiciais, reforçando os mecanismos naturais de defesa do hospedeiro. 31 NUTRACÊUTICOS E FITOQUÍMICOS│ UNIDADE I » Prebióticos: são componentes alimentares não digeríveis queafetam beneficamente o hospedeiro, por estimularem seletivamente, a proliferação ou atividade de populações de bactérias desejáveis no cólon. Além disso, o prebiótico pode inibir a multiplicação de patógenos, garantindo benefícios adicionais à saúde do hospedeiro. Esses componentes atuam mais frequentemente no intestino grosso, embora eles possam ter também algum impacto sobre os microrganismos do intestino delgado. » Simbiótico: é um produto no qual um probiótico e um prebiótico estão combinados. Após leitura do artigo: SAAD, S. M. I. Probióticos e prebióticos: O estado da arte. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 42, no 1, p.1-16, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S1516-93322006000100002>, responda: Quais são as substâncias que entram na categoria de prebióticos? Quais são as principais bactérias empregadas nos alimentos funcionais probióticos? Quais são as vantagens nutricionais e os mecanismos de atuação dos prebióticos e probióticos? Quais são os benefícios dos prebióticos e probióticos na prevenção de doenças? 32 UNIDADE IITÉCNICAS FARMACÊUTICAS CAPÍTULO 1 Formas farmacêuticas A parte da Farmacologia que estuda o preparo, a manipulação e a conservação dos medicamentos, visando à administração e assegurando uma perfeita eficácia terapêutica e conservação, chamamos de Farmacotécnica. Estuda as técnicas possíveis para transformar produtos naturais ou de síntese em medicamentos. Os medicamentos podem ser magistrais ou oficinais, mas qual seria a diferença? Os medicamentos magistrais são aqueles medicamentos prescritos pelo médico e preparados para cada caso, com indicação de composição qualitativa e quantitativa, da forma farmacêutica e da maneira de administração. Já os medicamentos oficinais são aqueles preparados na própria farmácia, de acordo com normas e doses estabelecidas por Farmacopeias ou formulários e com uma designação uniforme. A Farmacopeia é o Código Farmacêutico Oficial inscrito com a finalidade de regulamentar e imprimir rigor científico e uniformidade às práticas farmacêuticas, selecionando técnicas e métodos que sirvam de norma legal à preparação, caracterização, ensaio e doseamento das matérias primas empregadas e dos produtos acabados. Farmacopéias brasileiras: » 1ª. Edição (1926) » 2ª. Edição (1959) » 3ª. Edição (1976) » 4ª. Edição (1988) 33 TÉCNICAS FARMACÊUTICAS│UNIDADE II Aspectos fundamentais sobre medicamentos Segundo Korolkovas e Burckhalter (1988) existe distinção entre os termos droga, fármaco e medicamento que são termos usados para traduzir a única palavra inglesa drug. De acordo com os autores os três termos podem ser definidos como: » Droga: é a matéria prima mineral, vegetal ou animal da qual se podem extrair um ou mais princípios ativos; de acordo com esta acepção, os agentes terapêuticos de origem sintética não são drogas. » Fármaco: é a substância química de constituição definida que pode ter aplicação em Farmácia, seja como preventivo, seja como curativo, seja como agente de diagnóstico; a ser aceita esta definição, a matéria-prima mineral, vegetal ou animal da qual se podem extrair uma ou mais bases medicamentosas não é fármaco, pois sua constituição química não é necessariamente conhecida. » Medicamento: é o mesmo que fármaco, mas especialmente quando se encontra na sua forma farmacêutica. Já a Organização Mundial de Saúde não faz distinção entre fármaco e medicamento, pois define medicamento como “toda substância contida em um produto farmacêutico empregado para modificar ou explorar sistemas fisiológicos ou estados patológicos em benefício da pessoa a que se administra” e produto farmacêutico como “forma farmacêutica que contém um ou mais medicamentos juntamente com outras substâncias adicionadas no curso do processo de fabricação”. Alguns outros termos são muito utilizados, mas grande parte das pessoas não compreende o seu significado. É muito comum falar em medicamento de referência ou inovador, medicamento genérico e medicamento similar e quando se questiona sobre os medicamentos genéricos, a explicação convencional é que é um medicamento que precisa passar por testes de biodisponibilidade e bioequivalência. A seguir vamos compreender melhor esses termos. Diferença entre medicamento inovador, genérico e similar Podemos encontrar algumas definições na literatura sobre esses termos como os seguintes (SANTOS; TORRIANI; BARROS, 2013; WHO, 2012): » Medicamento Inovador ou de Referência: É o medicamento conhecido pelo nome fantasia, em geral mais recentemente lançado no 34 UNIDADE II │TÉCNICAS FARMACÊUTICAS mercado, com registro de propriedade intelectual, protegido por patentes e que costuma ser acompanhado do símbolo de marca registrada ®. » Medicamento Genérico: é o produto igual ou comparável ao de referência (também conhecido como: inovador, original ou de marca) em quantidade de princípio ativo, concentração, forma farmacêutica, modo de administração e qualidade; é bioequivalente, ou seja, pretende ser como ele intercambiável. Tem a mesma composição quantitativa e qualitativa de substâncias ativas. É geralmente produzido após expiração ou renúncia da patente e de direitos de exclusividade, comprovando sua eficácia, segurança e qualidade por meio de testes de biodispobilidade e equivalência terapêutica. O nome genérico da substância química é um nome sem proprietários. A International Nonproprietary Names (INN) facilita a identificação das substâncias farmacêuticas, os ingredientes farmacêuticos ativos. Cada INN é único, reconhecido globalmente e é de propriedade pública. O programa INN, da Organização Mundial de Saúde (OMS), visa “desenvolver, estabelecer e promover padrões internacionais em relação a produtos biológicos, farmacêuticos e assemelhados”. A OMS, o programa INN e o comitê de nomenclatura colaboram para selecionar um nome único, com aceitação internacional, para cada substância ativa a ser comercializada como produto farmacêutico, para evitar confusões capazes de prejudicar a segurança dos pacientes. » Medicamento Similar: é o medicamento que usa denominação genérica ou com marca, apresenta o mesmo fármaco, concentração, forma farmacêutica e via de administração que o medicamento de referência ou de marca registrada, mas não tem comprovada bioequivalência com o medicamento de referência e, por isso, não pode ser com ele intercambiável. O medicamento similar pode apresentar bioequivalência e biodisponibilidade diferente do medicamento de referência, pois muitas vezes contém excipientes diferentes. Os excipientes são os compostos inativos acrescentados na fórmula para proporcionar a forma farmacêutica ou dar as características dos adjuvantes. A Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2014) determina as definições de biodispobilidade e bioequivalência: » Bioequivalência: é o estudo de biodisponibilidade comparativa entre dois ou mais medicamentos administrados em uma mesma via extravascular. Avalia os parâmetros relacionados à absorção do fármaco, 35 TÉCNICAS FARMACÊUTICAS│UNIDADE II a partir da forma farmacêutica administrada, contendo a mesma dosagem e mesmo desenho experimental. Dois produtos são bioequivalentes se suas biodisponiblidades (velocidade e extensão da absorção) são semelhantes, após administração na mesma dosagem. Segundo o FDA- USA (Administração Federal de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos), produtos bioequivalentes são equivalentes farmacêuticos ou alternativas farmacêuticas que, ao serem administrados na mesma dose molar e nas mesmas condições experimentais, não demonstram diferenças significativas na quantidade defármaco absorvido e velocidade de absorção. » Biodispobilidade: característica relacionada à eficácia clínica do medicamento. Traduz-se na velocidade e quantidade do princípio ativo ou fármaco, contido no medicamento, que alcança a circulação geral. Para medicamentos administrados via intravenosa, essa propriedade não existe porque o processo de absorção não ocorre por essa via de administração. Assim como os estudos clínicos são úteis para determinar a segurança e eficácia terapêutica, os estudos de biodisponibilidade são úteis para definir, em termos de medicamentos, como sua formulação afeta a farmacocinética do princípio ativo, requisito indispensável para avaliar a qualidade de um medicamento. Conceitos importantes para prática terapêutica Dose A segurança e a dose eficaz de um medicamento dependem de vários fatores, incluindo características da substância ativa, forma farmacêutica, via de administração e vários fatores relacionados ao paciente, incluindo idade, peso corporal, estado geral de saúde, condições patológicas e uso de outras terapias. Todos esses fatores são integrados aos ensaios clínicos. Por conveniência de administração, a maioria dos produtos é formulada de modo a conter a dose usual do fármaco em uma única unidade de dosagem como, por exemplo, cápsulas, ou num volume específico, por exemplo, 5 ml ou uma colher de chá de uma forma farmacêutica líquida. Para contemplar as exigências de dosagens, os fabricantes formulam medicamentos em mais de uma forma farmacêutica e em mais de uma concentração (ALLEN JR; POPOVICH; ANSEL, 2007). 36 UNIDADE II │TÉCNICAS FARMACÊUTICAS A dose de um medicamento pode ser definida como a quantidade de medicamento que é necessária administrar por determinada via para se obter um efeito, observado pela resposta clínica. A dose pode ser denominada como terapêutica, máxima, mínima, tóxica ou letal. » Dose Terapêutica: é a quantidade de medicamento administrada, suficiente para se observar uma resposta clínica esperada. » Dose Máxima: é a quantidade máxima de medicamento que se consegue administrar em um organismo sem se observar reações indesejáveis. » Dose Mínima: é a quantidade mínima necessária do medicamento para se observar uma resposta clínica. » Dose Tóxica: é a quantidade de medicamento administrada onde já se observa efeitos de toxicidade. » Dose Letal: é a quantidade de medicamento administrada em um grupo controle onde 50% morrem. Efeito colateral vs. reações adversas » Efeito Colateral: um efeito diferente daquele efeito principal responsável pelo efeito e uso terapêutico do fármaco; assim, um efeito colateral pode ser benéfico ou indiferente. » Reações Adversas: de acordo com a RDC no 140, de 29 de maio de 2003, reação adversa é qualquer resposta a um medicamento que seja prejudicial, não intencional, e que ocorra nas doses normalmente utilizadas em seres humanos para profilaxia, diagnóstico e tratamento de doenças, ou para a modificação de uma função fisiológica. Índice terapêutico A dose eficaz mediana de um fármaco é a quantidade que produzirá a intensidade desejada do efeito em 50% dos indivíduos testados. A dose tóxica mediana é a quantidade que produzirá efeito tóxico definido em 50% dos indivíduos testados. A relação entre os efeitos desejados e não desejados de um fármaco é normalmente expressa como índice terapêutico, sendo definida como a razão entre a dose tóxica mediana (DT) e sua dose eficaz mediana (DE): DT50/DE50. 37 TÉCNICAS FARMACÊUTICAS│UNIDADE II Assim, espera-se que um fármaco com índice terapêutico de 15 tenha maior margem de segurança do que aquele com índice terapêutico de 5. Para determinados fármacos, o índice terapêutico pode ser tão baixo quanto 2, e cuidados extremos devem ser tomados na sua administração (ALLEN JR; POPOVICH; ANSEL, 2007). Na tabela abaixo, o índice terapêutico são apresentados. Tabela 2. Índices terapêuticos de vários fármacos MENOR QUE 5 ENTRE 5 E 10 MAIOR QUE 10 Amitriptilina Clordiazepóxido Difenidramina Etclorvinol Lidocaína Metadona Procainamida Quinidina Barbituratos Diazepam Digoxina Imipramina Meperidina Paraldeído Primidona Tioridazina Bromoprida Glutetimida Hidrato de cloral Meprobamato Nortriptilina Paracetamol Pentazocina Propoxifeno Fonte: Allen Jr; Popovich; Ansel, 2007. Formas farmacêuticas A forma farmacêutica é a maneira como se apresenta um medicamento pronto para ser administrado. Essa forma deve garantir estabilidade, ação farmacológica e compatibilidade de formulação. É o estado final que as substâncias medicamentosas se apresentam depois de submetidas a uma ou mais operações farmacêuticas, com o fim de facilitar a administração e se obter o efeito desejado. As formas farmacêuticas podem ser sólidas, líquidas, pastosas ou gasosas como pode ser visto na tabela abaixo. Tabela 3. Formas farmacêuticas. SÓLIDAS LÍQUIDAS PASTOSAS GASOSAS Pós Granulados Comprimidos Drágeas Cápsulas Pílulas Supositórios Óvulos Soluções Xaropes Elixires Suspensões Emulsões Injetáveis Tinturas Extratos Pomadas Cremes Pastas Ceratos Linimentos Unguentos Loções Géis Aerossóis Fonte: Destruti, 2004. 38 UNIDADE II │TÉCNICAS FARMACÊUTICAS Formas sólidas Pós De acordo com a Farmacopeia Brasileira II, “pós são preparações provenientes de drogas vegetais ou minerais, assim como substâncias químicas submetidas a um grau de divisão suficiente para assegurar homogeneidade e lhes facilita a administração ou extração dos princípios ativos”. O termo pó tem mais de uma conotação em farmácia. Ele pode ser usado para descrever a forma física de um material, ou seja, uma substância seca constituída de partículas finamente divididas, ou pode ser usado para descrever um tipo de preparação farmacêutica, isto é, um pó medicamentoso destinado ao uso interno como, por exemplo, pó oral ou externo como pó tópico. Os pós são misturas íntimas de fármacos secos, finamente divididos e/ou substâncias químicas que podem ser destinadas ao uso interno ou externo (ALLEN JR; POPOVICH; ANSEL, 2007). Assim, os pós são tanto um princípio ativo como uma forma farmacêutica pronta para uso. Suas principais vantagens são: » possibilidade de rápida preparação; » mascaramento de gosto e odor; » ausência de água; » maior estabilidade do princípio ativo; » facilidade de embalagem; » facilidade de absorção; » baixo custo de acondicionamento e transporte. Os pós tem apenas a desvantagem de somente poderem ser utilizados em preparações para as vias oral e tópica. Granulados De acordo com a Farmacopeia Brasileira II: “granulados são formas farmacêuticas sólidas que se apresentam na forma de grãos ou granulados irregulares”. Podem ser administrados diretamente ou utilizados na produção de comprimidos. Os granulados 39 TÉCNICAS FARMACÊUTICAS│UNIDADE II são mais estéticos do que os pós e mais agradáveis de ingerir, não aderem entre si e podem ser revestidos. Por outro lado, são mais suscetíveis ao calor e à umidade do que os comprimidos. Comprimidos De acordo com a Farmacopeia Brasileira II: “comprimidos são preparações farmacêuticas sólidas de formato variado, geralmente cilíndricas ou lenticulares, obtidas pela compressão de substâncias medicamentosas secas, acondicionadas ou não em excipientes inertes”. Também podemos definir como o pó comprimido em formato próprio, por exemplo, redondo ou ovalado. Pode ser sulcado, isto é, trazer uma marca que auxilia sua divisão em partes. Os comprimidos têm como vantagens: » boa estabilidade físico-química; » facilidade de preparação; » boa apresentação;» precisão de dosagem; » facilidade de administração. Os comprimidos têm como desvantagens: » impossibilidade de ajuste de dose; e » impossibilidade de obtenção econômica de pequenas quantidades. Tabela 4. Tipos especiais de comprimidos. Tipo de comprimido Característica De uso externo Preparação de soluções antissépticas e esterilizantes como, por exemplo, pastilhas de formol. Sublingual Proporciona rápida absorção do princípio ativo, entrando na corrente sanguínea sem passar pelo fígado; deve ser pequeno e de rápida desintegração. De dissolução na boca Chamada de pastilha, deve ter grande superfície de contato para facilitar a ação do princípio ativo e a atividade local. Deve dissolver-se de 30 a 60 minutos. Efervescente Dissolve-se na água e libera gás, o que causa sua desintegração. Como excipiente, temos o ácido cítrico, o ácido tartárico, o bicarbonato de sódio e o carbonato de sódio. Deve ser acondicionado em recipientes sem umidade. Revestido O revestimento visa proteger o princípio ativo contra a luz, a umidade, o oxigênio entre outros, e evitar a desintegração no estômago. Pellet Comprimido para implantação na pele. Deve ser estéril e de forma cilíndrica. Pode liberar o princípio ativo durante dias ou meses. Vaginal Deve apresentar ação local, microbicida ou regeneradora. 40 UNIDADE II │TÉCNICAS FARMACÊUTICAS Os adjuvantes são componentes importantes adicionados a formas farmacêuticas, são substâncias inertes, sendo assim não possuem atividade terapêutica. Em conjunto com o princípio ativo vão caracterizar o comprimido. A Farmacopeia possui uma série de adjuvantes, cujas características atendem às necessidades variadas da fabricação dos comprimidos, veja na tabela abaixo alguns exemplos. Tabela 5. Adjuvantes adicionados a comprimidos. TIPOS DE ADJUVANTES CARACTERÍSTICA Absorvente Tem a finalidade de absorver determinadas substâncias para que elas não alterem os comprimidos como por exemplo sílica-gel, sílica-aerossol. Aglutinantes Usados para a formação de uma liga dos pós depois da obtenção do granulado. São fundamentais para a desintegração do comprimido, agindo como um adesivo. Exemplos: lactose, gelatina, amido, carboximetilcelulose (CMC) e polivinilpirrolidona (PVP). Corantes Substâncias utilizadas para atender ao aspecto estético, para distinção de comprimidos e como auxiliares na homogeneização dos pós. Desagregantes ou desintegrantes Substâncias que promovem a desagregação ou desintegração dos comprimidos. Têm bom poder de absorção da água, inchando-se em contato com ela. Exemplos: amido e CMC. Diluentes Conferem peso adequado, completando-o, porque às vezes o princípio ativo não tem peso suficiente para o comprimido. Edulcorante e aromatizantes Adjuvantes usados para melhorar o sabor e o odor do medicamento. Um exemplo de edulcorantes é a sacarina, e exemplos de aromatizantes são essências de laranja, cereja, hortelã entre outros. Lubrificantes Permitem o escoamento dos pós e evitam a sua aderência. Exemplo: estearato de magnésio e talco. Molhantes Agem diminuindo a tensão superficial do comprimido, facilitando a desagregação, que é prejudicada pelos lubrificantes hidrófobos como, por exemplo, a trietanolamina e o tween 80. Tampões Agem mantendo o pH estável como, por exemplo, o citrato e o carbonato de cálcio. Drágeas A drágea é uma forma farmacêutica cujo princípio ativo fica envolvido por um revestimento de açúcar e corante. Contêm um núcleo com o medicamento, revestido por uma solução de queratina (goma-laca), açúcar e corante. Enquanto a maioria dos comprimidos se dissolve no estômago, as drágeas têm liberação entérica, isto é, liberam o princípio ativo no intestino. Suas vantagens são: » evita sabor e odor desagradáveis; » mascara substâncias que atacam as mucosas; e » facilita a deglutição. 41 TÉCNICAS FARMACÊUTICAS│UNIDADE II Suas desvantagens são: » impossibilidade de ajuste de dose; » impossibilidade de baixos custos; e » difícil preparação. Cápsulas Constituídas de um invólucro de gelatina e um medicamento em forma sólida, semissólida ou líquida (desde que o medicamento nessa forma não dissolva a cápsula). Suas vantagens são: » evita sabor e odor desagradáveis; » facilita a deglutição; » facilita a liberação do medicamento; » possibilidade de ter um invólucro gastrointestinal; » precisão de dosagem; » fácil administração. As cápsulas quando revestidas têm a desvantagem de não poderem ser produzidas em pequenas quantidades por encarecer o produto. Para que as cápsulas sejam viáveis, elas não devem sofrer alterações devido à temperatura que não deve exceder à 32oC e as substâncias ativas precisam ser estáveis a essa temperatura. As cápsulas podem ser classificadas como moles ou duras. As moles podem receber o nome de glóbulos, pérolas ou capsulinas. São utilizadas para acondicionar líquidos com volume de 0,25ml até 5ml. As duras são constituídas de gelatina, corantes, antioxidantes e agentes opacos, apresentam entre 8 e 16% de água. Tem formato cilíndrico, arredondado nas extremidades e são formadas de duas partes: corpo e cabeça, capa e tampa ou corpo e gorro. São usadas para fármacos sólidos e o enchimento pode ser manual ou industrial. Veja nesse link, um Videoaula de como manipular cápsulas: <http://www. youtube.com/watch?v=Z61m2g8wKlE>. 42 UNIDADE II │TÉCNICAS FARMACÊUTICAS Formas líquidas Elixir Forma farmacêutica para uso oral que contêm no mínimo 20% de álcool e 20% de açúcar. Deve ser usado para ativos solúveis em água e álcool, não podendo ser acrescentadas gomas. Suspensão É uma forma farmacêutica líquida constituída de duas fases: uma interna (sólida, insolúvel, descontínua ou dispersa) e outra externa, líquida (contínua). A fase sólida fica precipitada e ao administrar a suspensão, deve-se agitar o frasco para solubilizar a mistura. É uma forma líquida que pode ser empregada para ativos insolúveis em veículos usados normalmente. Solução oral As soluções são misturas homogêneas de dois ou mais componentes, o solvente é a água e o soluto ou dissolvido é a substância ativa com interesse nutricional. É uma forma que permite uma flexibilidade de dosagem, de fácil administração e rápida absorção, mas pode ser difícil mascarar o sabor ou odor desagradável do ativo e pode ser facilmente contaminado. Emulsões As emulsões são formas farmacêuticas líquidas de aspecto leitoso ou cremoso, resultantes da dispersão de um líquido em outro, no qual é imiscível, mas graças a um agente emulsificante ocorre a homogeneização das fases. Uma fase é oleosa e outra aquosa. 43 CAPÍTULO 2 Desenvolvimento de formas nutricionais Formas de apresentação dos nutracêuticos Fitoterapia Segundo Santos e colaboradores (2011), tem aumentado o uso da fitoterapia como prática médica integrativa em diversos países. A utilização de plantas medicinais no Brasil se deve a grande diversidade vegetal e o baixo custo associado à terapêutica, o que vem despertando a atenção dos programas de assistência à saúde e profissionais. O Ministério da Saúde, com a finalidade de evitar o uso inadequado dessa prática medicinal, tem demonstrado interesse por meio do incentivo de pesquisas relacionadas ao assunto, favorecendo a implantação de programas de saúde visando à distribuição e utilização desses medicamentos de forma racional. Baseado nesse contexto foi realizado levantamento de como esta temática vem sendo abordada e implementada no Sistema Único de Saúde (SUS). As pesquisas revelaram que nas duas últimas décadas, alguns estados e municípios brasileiros vêm realizando a implantação de programas de Fitoterapia na atenção primária à saúde, com o intuito de suprir as carências medicamentosas de suas comunidades. Apesar
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