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Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais UN ID AD E 4 PEDAGOGIA Curso de Graduação Online | UNISUAM Mídias e Aprendizagem Na unidade 4 vamos esclarecer conceitos de mídia, educação e aprendizagem, abarcando o papel das mídias, multimídias e hipermídias na aprendizagem. Aproveitaremos para conhecer a aplicação das redes sociais e dos recursos educacionais abertos, também chamados de objetos de aprendizagem, nos processos educacionais formais. Encerrando, vamos discutir quem é, ou quem deveria ser, o docente e discente (professor e aluno ou orientador de aprendizagens e aprendiz) na sociedade em rede. Para facilitar o seu aprendizado, esta unidade está estruturada em cinco tópicos: T1. O Que Entender por Mídia, Educação e Aprendizagem? T2. O Papel das Mídias, Multimídia e Hipermídias na Aprendizagem T3. Os Recursos Educacionais Abertos – Objetos de Aprendizagem T4. As Redes Sociais como Espaços Educativos T5. Perfis Docente e Discente na Sociedade em Rede Fo nt e : P lu g ci tá rio s Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 2 4 T1 Ao fi nal desta unidade, você será capaz de: • Relacionar mídia, educação e aprendizagem no contexto da sociedade em rede. • Analisar o papel dos diferentes tipos de mídia nos processos de aprendizagem. • Reconhecer e avaliar recursos educacionais abertos e objetos de aprendizagem. • Verifi car nas redes sociais suas possibilidades de atuação enquanto espaços de aprendizagem. • Analisar os perfi s do docente e do discente da sociedade em rede do século XXI. Prontos para estudar? Vamos lá! Que Entender por Mídia, Educação e Aprendizagem? Após as temáticas trabalhadas nas unidades anteriores, é chegada a hora de inter- relacionar os assuntos em função de nosso maior propósito com esta disciplina: Caminhar pelo conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação das questões apresentadas sobre a educação e a nova visão de mundo da sociedade contemporânea, enquanto uma sociedade que evoluiu de forma contundente na produção de tecnologias, mas necessita de encontrar caminhos para o uso inteligente e contextualizado destas, para que o humano não venha sucumbir ao tecnológico. Provavelmente, esse tenha sido, ao longo da história, o maior medo da humanidade e, consequentemente, dos educadores, que sempre mostraram resistência em trazer as tecnologias, as mídias para dentro das salas de aula. Nós já realizamos um importante debate que nos levou à compreensão do que são tecnologias, mas precisamos atentar para a teia de possibilidades que esse conceito engloba, atentar para o fato de que tecnologia pode ser um aparato (objeto, utensílio, como o computador, o celular etc) ou pode ser uma técnica elaborada (como a capacidade de pilotar um avião). E a Internet, É uma Tecnologia? Sim! A internet é um sistema desenvolvido a partir de pesquisa científi ca, aparatos da engenharia e técnicas apuradas, então nasce um sistema que parte de uma representação física, mas existe em um patamar virtual. 3 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem Então, vamos limpar terreno e elaborar alguns conceitos fundamentais ao contexto e aprofundamento do papel tecnológico na educação, na escola, na sala de aula. O Que É Educação? EDUCAÇÃO FORMAL Sistema de ensino organizado, mediado nas unidades de ensino estabelecidas e autorizadas pelo governo de um país, como as escolas, faculdades, centros universitários e universidades (ou outras regulamentadas) NÃO FORMAL Ocorre em cursos livres, como de idiomas, informática etc. Nas igrejas, grupos de estudos não designados por unidades de ensino formal, ONGs etc. INFORMAL Ocorre no dia a dia das pessoas, nas relações familiares, entre amigos, colegas de trabalho etc Estando o processo educacional formalizado em nossa nação, estado ou município, esse processo irá se consolidar nas unidades formais de ensino, como as escolas regulamentadas. Todo processo de ensino está pautado em práticas pedagógicas que resultam das experiências do próprio docente, somadas as suas aprendizagens e crenças, somadas à proposta pedagógica da escola. Esse conjunto de atributos estará diretamente relacionado a uma corrente fi losófi ca que norteia uma tendência pedagógica (visão fi losófi ca, visão de sujeito que se pretende formar). Cada tendência pedagógica abarca um conjunto de métodos ou metodologias que estejam de acordo com tal tendência. Por exemplo, não podemos utilizar uma metodologia construtivista em uma escola cujo o Projeto Político Pedagógico enfatize a tendência pedagógica tradicional. ESCOLA - formaliza a educação se organizando-se em projetos, currículos, classes de estudantes etc. Quando toda a organização, planejamento, é posto em prática, ocorre a educação formal. SALA DE AULA - onde ocorre a prática docente e esta engloba tecnologias do tipo: "técnicas apuradas de ensino" e "aparatos que auxiliem no ensino (recursos de ensino). Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 4 Aplicação de Método e Técnica na Educação A forma de aplicação de um método, é a sua técnica, a técnica de ensino conforme o método. Nenhuma técnica de ensino é pura em sua prática, posto que as técnicas de ensino são praticadas pelos docentes em suas práticas pedagógicas, que agregam a carga de subjetividade de cada docente em suas ações; são as questões pessoais. Assim, podemos dizer que o desenvolvimento de uma aula é uma tecnologia de ensino. Como resultado de qualquer processo de ensino, o que se almeja? Aprendizagem. Aprendizagem De acordo com a professora Amélia Hamze (s/d.), no Portal Brasil Escola: Aprendizagem é um processo de mudança de comportamento obtido através da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. Aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente. De acordo com a nova ênfase educacional, centrada na aprendizagem, o professor é coautor do processo de aprendizagem dos alunos. Nesse enfoque centrado na aprendizagem, o conhecimento é construído e reconstruído continuamente. Corrente Filosófi ca Tendência Pedagógica Projeto Político Pedagógico - construção do currículo Prática Docente - métodos e técnicas de ensino 5 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem Como bem disse a professora Hamze, para aprender é preciso: • Haver interação entre as estruturas mentais e o meio ambiente. • O professor ser coautor (nunca o foco principal). • Construção e reconstrução contínua do conhecimento. É nesse momento que iremos abordar mais um conceito desse tópico de estudos: Mídia Mídia O conceito de mídia é importante exatamente porque os variados tipos de mídia podem contribuir para a aprendizagem enquanto caminho de interação entre os processos mentais e o meio ambiente (ou seja, o conteúdo a ser aprendido). As mídias são tipos específi cos de tecnologias que possuem como papel divulgar a informação nas mais diversas formas. Antes do advento tecnológico que conhecemos atualmente, as mídias eram conhecidas como meios de comunicação de massa ou individualizados. EXEMPLOS DE MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA Jornal impresso TV Rádio Revistas EXEMPLOS DE MEIOS DE COMUNICAÇÃO INDIVIDUALIZADOS Telefone Carta Telegrama Mas, com a chegada do computador e da internet ao acesso das pessoas no mundo inteiro, os meios de comunicação mudaram de perfi l e se ampliaram enquanto mídias diversas, ganhando a terminologia “Tecnologias da Informação e da Comunicação – TIC”. A classificação apresentada no quadro anterior não comporta mais as possibilidades das mídias, ou possibilidades midiáticas, posto que as mídias, além de comunicarem,podem propiciar a troca entre comunicador e receptor, o que descaracteriza os polos de emissão-recepção. As tecnologias contemporâneas podem trabalhar com conteúdos fechados ou abertos. Quando fechados, constituem o fl uxo conhecido como: Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 6 Quando a mídia trabalha com conteúdos abertos, constitui um fluxo despolarizado, em que emissor e receptor trocam de papéis o tempo todo, construindo e reconstruindo juntos a mensagem: Exemplo de Mídia em Que Emissor e Receptor Trocam de Papéis Um exemplo desta situação são os programas de rádio. Alguns programas trabalham com conteúdo fechado, assim dão as notícias, tocam as músicas, tudo programado internamente na rádio que atua como emissor, sua programação é a mensagem e nós somos os receptores. Mas existem alguns programas que se estruturam enquanto acontecem, a partir da interação de seus ouvintes (receptores), que escolhem as músicas se comunicando via telefone ou ainda vão além, auxiliam a rádio a construir a notícia que vai se reestruturando o tempo todo. Por exemplo: para divulgar as condições do trânsito na cidade, as rádios contam com as informações em tempo real de seus ouvintes utilizando mecanismos de mensagem via celular. Assim, a emissora de rádio vai atualizando a informação o tempo todo e a informação/mensagem é construída por várias vozes, sem um único emissor, e dando voz àquele que seria receptor. É importante ressaltar que essa nova concepção midiática acaba sendo incorporada pelos sujeitos em seu dia a dia, ninguém está mais disposto a receber um pacote pronto de produtos ou serviços. Os bancos personalizam seus serviços para o perfi l e necessidades de cada cliente, porque o tipo de conta e benefícios que eu preciso não são os mesmos que você precisa. E assim segue com pacotes de viagem, planos de saúde, serviços telefônicos, de internet e de TV a cabo etc. Mais uma vez se ratifi ca que, o uso das tecnologias nas práticas docentes precisa ir além da aplicação do aparato tecnológico. A prática precisa estar inserida no conceito de interação e de construção que as tecnologias sugerem e defl agram. Atualmente podemos encontrar várias classifi cações das TIC ou mídias, mas essas não estão fechadas, e uma mesma mídia pode receber várias classifi cações ao mesmo tempo. 7 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem Mídias Impressas Mídias Digitais Mídias em Rede ou On-line Mídias Sociais Mídias Publicitárias Mídias Educacionais Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 8 O Papel das Mídias, Multimídias e Hipermídias na Aprendizagem Após tratarmos das concepções de mídia, precisamos considerar duas expressões que surgem a partir delas. Quando tratamos mídias em nosso texto, estamos nos referindo a qualquer uma dessas concepções. O importante é perceber e respeitar a proposta. A utilização das mídias, em sua concepção de hipermídia, agrega algumas características importantes: conectividade, interatividade, hipertextualidade, dialogia e coautoria. Hipertextualidade A hipertextualidade é mais um fenômeno que se propaga através das TIC, do ciberespaço e da cibercultura. Morin (2001), em sua obra “Introdução ao Pensamento Complexo”, articula teoricamente com as percepções de complexidade. Em seus argumentos, nos leva a percepção da não-linearidade de nossas estruturas de pensamento e de relação com o meio e com o outro: a ideia recursiva é portanto uma ideia em ruptura com a ideia linear de causa e efeito, de produto/produtor, de estrutura/superestrutura, uma vez que tudo o que é produzido volta sobre o que produziu num ciclo ele mesmo autoconstitutivo, auto-organizador e autoprodutor (MORIN, 2001, p. 108) T2 É a congruência de vários recursos midiáticos em uma só mídia - texto, imagem, som É a congruência de vários recursos midiáticos de forma aberta e on-line, onde é possível alterar o conteúdo 9 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem Pensando nessa ruptura com a linearidade, por ser a forma de lidarmos com nossas ideias, nosso pensar e nosso fazer, podemos começar a pensar na hipertextualidade. Segundo Ramal (2002, p. 87): Hoje aprendemos por hipertexto a apresentação de informações através de uma rede de nós interconectados por links que pode ser navegada livremente pelo leitor de um modo não-linear. [...] o hipertexto permite – ou, de certo modo, em alguns casos até mesmo exige – a participação de diversos autores na sua construção, a redefi nição dos papéis de autor e leitor e a revisão dos modelos tradicionais de leitura e de escrita. Por seu enorme potencial para se estabelecerem conexões, ele facilita o desenvolvimento de trabalhos coletivamente, o estabelecimento da comunicação e a aquisição de informação de maneira cooperativa. Embora haja quem identifi que o hipertexto exclusivamente com os textos eletrônicos [...] ele não deve ser limitado a isso, já que consiste numa forma organizacional que tanto pode ser concebida para o papel como para ambientes digitais. É da concepção de hipertexto que concebemos a hipertextualidade como um processo que nos permite interligar, interrelacionar as temáticas por meio da capacidade de ampliação do raciocínio. A Hipertextualidade na Educação Na educação, que se apropria das hipermídias em seu contexto, é muito importante saber lidar com essa nossa capacidade. Tanto o material impresso quanto o digital, assim como, os ambientes virtuais de aprendizagem e demais espaços de aprendizagem on-line, vão nos colocar o tempo todo em situações hipertextuais. Quantas vezes estamos lendo um texto na internet e nos deparamos com alguma palavra destacada em azul (hiperlink). Ao clicarmos nela, vamos para outro texto, imagem, vídeo, que complementa a informação que estamos buscando. E dali nos dirigimos para outra forma textual e assim por diante. Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 10 É como entrar em um labirinto com múltiplas possibilidades, mas a chave da hipertextualidade é exatamente se perder pelo universo enriquecedor de informações, mas sabendo exatamente manter o cerne da sua busca/questão. É um se perder sabendo voltar, é entrar no labirinto, explorar as passagens, mas saber a saída e, orientar essa saída é um dos fundamentais papéis do educador. Interatividade A expressão interatividade tornou-se comum nesse início de século XXI. Os programas de televisão, as empresas em geral, o mundo eletrônico, e mesmo as instituições de ensino presencial, a distância e on-line aderiram a esta expressão de forma contundente. Mas, por que a necessidade de utilização deste termo como uma forma de auto- afi rmação no mercado? E ainda, será que a utilização do termo tem respeitado sua real expressão? De acordo com Silva (2002), sociólogo que se esmerou em desvendar o surgimento do termo, diferentemente do que muitos imaginam, o termo interatividade surgiu na década de 1970 na área da comunicação e não da informática. Tal expressão buscava a bidirecionalidade entre emissão e recepção, proporcionando uma comunicação mais aberta e criativa que potencializava as trocas entre os polos. As intenções de um novo paradigma comunicacional pré-existiram ao termo interatividade, que nasceu como uma confi rmação de tais intenções. O desejo de mudança do esquema clássico: emissor – mensagem pronta – receptor vislumbra um fenômeno social de ruptura de paradigma. A comunicação é a base da sociedade, se os atores sociais modifi cam suas relações, o esquema comunicacional acompanha tais mudanças. Sendo assim, acompanhou-se a sociedade industrial, de relações uniformes e repetidoras, evoluir para a sociedade da informação, questionadora, cocriativa e coparticipativa,onde os atores, agora, são coautores. O espectador não se vê mais passivamente como um receptor da mensagem, agora ele é o “novo espectador” e seu desejo é ter participação ativa, coautoria no conteúdo da mensagem. O termo interatividade especifi ca um tipo singular de interações que, por esta ter um campo semântico tão vasto, não comporta tais especifi cidades 11 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem e singularidades. Inclusive as vantagens atribuídas à interatividade estão presentes no conceito de interação, o que não se caracteriza uma transmutação, mas possivelmente uma demarcação mais objetiva de certo modo de interação, mais específi ca em alguns fundamentos e indicadores . De acordo com Kratochwill (2006), a interatividade é uma dinâmica espiralada, que torna o sujeito ativo, não mais como espectador passivo, ele coparticipa, cocria de forma incessante, nem um continuum que permite outras participações, suas e de outros, possibilitando uma teia relacional um-todos e todos-todos que proporciona indefi nidas possibilidades. A interatividade é um conjunto de ações/reações, locuções/interlocuções que podem se dar em qualquer área da comunicação humana, na relação pessoa-pessoa ou pessoa-tecnologia. As interações pressupostas nesse processo estão além das interferências de um no outro e vice-versa, são interações no próprio conteúdo, na mensagem, propiciando a troca de papéis entre emissor/receptor e coautoria na mensagem/conteúdo. Silva (2002, p.20, grifo do autor) defi ne como “pedra angular” sua primeira formulação do conceito de interatividade: interatividade é a disponibilização consciente de um mais comunicacional de modo expressivamente complexo, ao mesmo tempo atentando para as interações existentes e promovendo mais e melhores interações – seja entre usuário e tecnologias, digitais ou analógicas, seja nas relações “presenciais” ou “virtuais” entre os seres humanos. Conectividade Podemos considerar a conectividade em diferentes aspectos. De acordo com Oliveira (2004, p.155, grifo nosso): A conectividade humana não consiste senão da compatibilidade na relação de troca entre duas ou mais pessoas, cada uma oferecendo à outra a dinâmica do conjunto dos seus potenciais que incluem sentimento e razão. Para Oliveira (2004), também existe a conectividade funcional, referindo-se às pessoas que atuam em uma mesma organização e compartilham forças, otimizam recursos, empreendem, mantendo a noção de que todos estão em um mesmo grupo, não pretende apenas realizar sua função, mas pensar na organização como algo vivo que se fortifi ca conforme o grupo se integra e percebe suas relações necessárias. Nenhum setor, nenhuma área ou função/cargo pode ser uma “ilha”, é preciso estabelecer integração, conectividade entre todos. Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 12 Mas, principalmente, precisamos reconhecer a função da conectividade social no contexto das sociedades contemporâneas, pensando na conexão entre pessoas, com os mais diversos propósitos: trabalho, estudo, relações sociais etc. Como nos demais aspectos da conectividade, no âmbito social também engloba seres humanos que se mantenham em conexão, comunicação, integração, utilizando-se de aparatos tecnológicos conectados à rede mundial de computadores – internet. A conectividade é uma das características hipermidiáticas exatamente por esse tipo de mídia necessariamente ocorrer em rede e pressupor todas as outras demais características que lhe apontamos, como a interatividade, por exemplo, que pressupões uma ação efetivamente de interação entre pessoa e pessoa ou pessoa e máquina. Dialogia Já dizia Paulo Freire, na relação dialógica entre educador e educando. O educador já não é mais o que apenas educa, mas o que enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. [...] Os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo (FREIRE, 2005, p. 78-79). De acordo com Koogan & Houaiss (2000, p.519) diálogo é “conversação entre duas ou mais pessoas, entre duas ou mais personagens de uma obra de fi cção”. Segundo Reboul (2004, p.231) “só se chega à verdade coletivamente, num debate em que cada um representa sua parte o melhor possível [...] O diálogo é então realmente heurístico: encontra alguma coisa”. Daí concluirmos que numa análise retórica o diálogo deve ser vislumbrado como um debate entre as partes em busca da verdade. Já a dialógica seria a relação entre sujeitos debatendo exclusivamente em busca da verdade, de um conhecimento, em qualquer área, conforme coloca Reboul (2004, p.230) “a dialógica é uma busca comum da verdade, que repousa na idêntica liberdade de cada um e utiliza autêntica argumentação”. Quando pressupomos dialogia como característica importante nas hipermídias, estamos indicando que tal tecnologia deve propiciar a dialógica, ou seja, o diálogo construtivo, em busca de um conhecimento, uma verdade. 13 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem A dialogia é importante para propiciar outras possibilidades das hipermídias, onde o conteúdo não é fechado e acabado, pois só é possível colaborar e reconstruir o conteúdo utilizando-se uma postura dialógica, de trocas e aberta às contribuições, pois segundo Bakhtin (2004, p.132): “a compreensão é uma forma de diálogo [...]. Compreender é opor à palavra do locutor uma contrapalavra” e também como forma de significação, visto que segundo o mesmo autor: a significação não está na palavra nem na alma do falante, assim como também não está na alma do interlocutor. Ela é o efeito da interação do locutor e do receptor produzido através do material de um determinado complexo sonoro. É como uma faísca elétrica que só se produz quando há contato dos dois polos opostos (BAKHTIN, 2004, p. 132). Sob esse aspecto, a produção do conteúdo deve estar acima de interesses e subjetividades, deve estar no encontro das vozes e dos saberes, ressignificando e recriando esses saberes/informações/conteúdos. Coautoria A troca de papéis entre emissor e receptor é a dinâmica crucial para que ocorra a coautoria, pois segundo Couchot (1997, p. 140), “A obra interativa só tem existência e sentido na medida em que o espectador interage com ela”. Para que ocorra a coautoria, é necessário haver interatividade, e obra/conteúdo devem estar abertos às possíveis inserções. Para tanto, deve- se disponibilizar uma rede de possibilidades que estejam abertas a diversos percursos, inserções e contribuições. Quando a tecnologia é bem delineada e os seus usuários estão disponíveis para uma construção coletiva, ressignificada por muitas vozes e enriquecida por diferentes informações, então temos a possibilidade de um conteúdo produzido coletivamente, ou de coautoria. A percepção de coautor ia prec isa ser internalizada pelos usuários e disponibilizada pe la míd ia em questão , po is mexer e reconstruir um conteúdo disponibilizado requer disponibilidade em dar e receber contribuição. Um grande exemplo de conteúdo de coautoria na internet é a Wikipédia. Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 14 Mas, e o Que Tudo Isso Tem a Ver com o Título Desse Tópico? Tem tudo a ver, ao analisarmos as concepções apresentadas enquanto características das hipermídias, procure integrá-las às relações de ensino a aprendizagem. Procure relacionar hipertextualidade às aulas, proporcionado aos estudantes a possibilidade de navegarem por uma teia de informações que se apresentam em textos, imagens, vídeos, diferentes linguagens que podem auxiliar na compreensão dos conteúdos. A hipertextualidade se desprende do livro didático e das quatro paredes da sala de aula, expandindo esse espaço para a biblioteca, o pátio, o entorno da escola, assimcomo outros espaços da cidade. Propiciar hipertextualidade, interatividade, dialogia e coautoria às dinâmicas de ensino e de aprendizagem requer uma apropriação de seus conceitos e de sua lógica pela escola e seus educadores. Os recursos considerados multimídias também devem ser utilizados com esses mesmos propósitos, mesmo que não estejam abertos à conectividade, podem ser explorados enquanto recursos midiáticos favorecedores da aprendizagem por abarcarem em seu uso uma lógica dinâmica, centrada no estudante e em sua capacidade de investigar, construir e testar seus próprios saberes. O papel das mídias é enriquecer a aprendizagem a partir do contexto histórico- social. Os Recursos Educacionais Abertos – Objetos de Aprendizagem Você sabe o que é recurso educacional aberto? Muitos materiais podem ser produzidos e considerados recursos educacionais, até mesmo uma simples imagem, um quadro de pregas, uma apresentação em Power Point, e por aí vai. A criatividade do ser humano é infi nita. T3 15 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem Mas quando falamos de recursos educacionais abertos (REA), falamos de: Materiais de ensino, aprendizagem e investigação em quaisquer suportes, digitais ou outros, que se situem no domínio público ou que tenham sido divulgados sob licença aberta que permite acesso, uso, adaptação e redistribuição gratuitos por terceiros, mediante nenhuma restrição ou poucas restrições. O licenciamento aberto é construído no âmbito da estrutura existente dos direitos de propriedade intelectual, tais como se encontram defi nidos por convenções internacionais pertinentes, e respeita a autoria da obra (DECLARAÇÃO DE PARIS SOBRE RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS, 2012). Logo, são recursos criados por pessoas ou instituições, disponibilizados para uso livre e, estão, necessariamente, em rede. E os Objetos de Aprendizagem, Você Conhece? Os objetos de aprendizagem (AOs) fazem parte dos recursos educacionais em rede; se estiverem disponíveis para uso livre, também serão considerados abertos. De acordo com a plataforma do Ministério da Educação (MEC), a Webeduc: Objetos de Aprendizagem (AOs) são recursos educacionais, em diversos formatos e linguagens, que têm por objetivo mediar e qualifi car o processo de ensino-aprendizagem. Uma de suas principais características é a reusabilidade, que diz respeito à capacidade de reutilização desses materiais, em diferentes contextos de aprendizagem, nas mais diversas áreas do conhecimento (WEBEDUC, s/d). Com base no conteúdo da disciplina, os OAs complementam o material impresso ou digitalizado, com o propósito de auxiliar na aprendizagem dos estudantes de forma mais dinâmica e interativa. Linguagem no Processo de Ensino nos Recursos Educacionais Conforme afi rma Vygotsky (2003), a linguagem é um elemento mediador entre o que é sabido e o que se está a saber. Usar diferentes linguagens nos processos de ensino é uma forma de atingir as diferenças de aprendizagem de um grupo que com certeza terá suas subjetividades, logo, suas heterogeneidades. Dentre os recursos educacionais, podemos incluir o material didático usual dos estudantes, podendo ser impresso ou digitalizado: Faça uma pesqu isa nos ob jetos de aprendizagem disponíveis no sistema RIVED, que produz atividades multimídia, interativas, na forma de animações e simulações. Clique no link abaixo e confi ra! http://rived.mec.gov.br/site_objeto_lis.php saiba mais? Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 16 São materiais de desenvolvimento do conteúdo, parte da ementa e do programa da disciplina ou do curso – quem produz o material é um docente conteudista da instituição de ensino ou de uma editora, quem produz a ementa e o programa é a equipe docente da instituição de ensino. A partir da ementa e do programa de cada disciplina, essa equipe produz um material didático ou busca algum produto pronto, que mais atenda a seu programa, para ser adotado. Este material pode ser impresso (como os livros que conhecemos) ou digitalizado e disponibilizado em uma plataforma de ensino da instituição ou ainda, salvo em mídia digital, como CD e DVD para ser entregue aos estudantes. Mas vamos complementar as aulas e enriquecer a dinâmica do livro didático utilizando outras possibilidades tecnológicas. Vamos conhecer algumas possibilidades dentre os REA e os OAs. Vídeos de Aprendizagem Existem muitos abertos na internet para uso individual, ou seja, alguém que está reforçando seus estudos fora da escola, ou mesmo para docentes enriquecerem suas aulas. Enriquecer a aula não signifi ca que o vídeo deve ser utilizado como substituto da mediação e da atenção docente. Vejamos os exemplos: Português - Gramática - Sintaxe – Concordância Nominal - Videoaula Concurso https://www.youtube.com/watch?v=NbGpchp9hkI Aulas em outras linguagens (aulas digitais) – EvoBooks 3D Aulas Digitais - Geografi a Mundial https://www.youtube.com/watch?v=Z6AHg4yQVD4 Fonte: techtudo 17 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem Mapas Conceituais São ferramentas gráficas visuais que organizam e representam um conhecimento. Silva (2014, p. 1), corroborando, informa que mapas conceituais “são representações gráficas, que indicam relações entre palavras e conceitos, desde aqueles mais abrangentes até os menos inclusivos”. Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 18 Guia de Estudos e Outros Tipos de Guias/Manuais É a visão geral do curso, da disciplina ou da atividade. Objetiva orientar os estudantes para que não se percam no processo. Vamos conhecer um exemplo? Clique no link abaixo e veja o guia/manual do candidato a estudante do Consórcio CEDERJ (Universidades públicas do Rio de Janeiro). http://www.infoconsumo.gov.br/painelsetorial/palestras/Masako_Oya_ Masuda_%20EaD_Modelo_Consorcio_CEDERJ.PDF Tutorial Conjunto de instruções passo a passo, que ensinam como realizar determinada tarefa ou utilizar determinada ferramenta. Clique no link abaixo para conhecer um passo a passo para o registro da sua empresa, do sistema Sebrae. https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/passo-a-passo-para- o-registro-da-sua-empresa,665cef598bb74510VgnVCM1000004c00210aRCRD Sites de Pesquisa Espaços para encontrar temas diversos, alguns desses espaços se especializam em certas temáticas. Clique no link abaixo para conhecer o Portal MiniWeb Educação, destinado ao aperfeiçoamento de docentes e discentes http://www.miniweb.com.br/projeto/projeto1.htm Google Acadêmico é um sistema do Google que oferece ferramentas específicas para que pesquisadores busquem e encontrem literatura acadêmica. Clique no link abaixo e confira! https://scholar.google.com.br Videoaulas Professores gravam aulas, utilizando ou não recursos ilustrativos, como lousas digitais, lousas simples, Power Point etc. Vejamos exemplos de videoaulas do curso de Tecnologia em Sistemas de Computação do CEDERJ, clicando no link abaixo. http://www.cederj.edu.br/videoaulas/ Outro exemplo de videoaula é do prof. Dr. Marco Silva que trata da Interatividade na Educação, vamos assistir? https://youtu.be/ShRODbkFIJ0 19 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem As Redes Sociais como Espaços Educativos Muitos educadores já perceberam o grande interesse dos estudantes pelas redes sociais, e a facilidade com a qual eles lidam com essas ferramentas. Perceberam também que as redes sociais integram características associadas às hipermídias, como: conectividade, interatividade, hipertextualidade, dialogia e coautoria. As redes sociais podem ser consideradas hipermídias, onde, além das características acima, convergem texto, áudio, imagem fi xa (fotos) e em movimento (vídeos). Pronto! Com toda essa plasticidade,por que não utilizar as redes sociais no ensino e na aprendizagem? Essa foi a primeira ideia dos docentes mais atentos ao mundo que nos cerca e do qual fazemos parte, usufruindo e contribuindo. Crianças, adolescentes e jovens são da geração tecnológica, logo, são os que mais se encantam com as possibilidades das redes, além da facilidade que possuem de sua usabilidade. O tempo todo podemos presenciar os mais jovens ensinando pais, tios e avós a utilizarem funções disponíveis nas redes. Esse grupo nativo da sociedade em rede também se encanta em participar de grupos de mensagens, possuindo, às vezes, dezenas desses grupos, conforme a temática de interesse: amigos da escola; melhores amigos; família; best friends; amigos do futebol etc. T4 Fonte: Resultados Digitais Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 20 Blog Os blogs também são ferramentas interessantes da internet, quando bem utilizados, elaborados de forma atrativa e preparados para permitir aos leitores usuários todas as possibilidades interativas que os atrai, podem envolver estudantes em temáticas do currículo educacional. De acordo com o site Ofi cina da Net, atualizado em 13 de abril de 2017, as 10 maiores redes sociais do mundo são: Mas, o que podemos considerar como redes sociais? “Redes não são [...] apenas uma outra forma de estrutura, mas quase uma não estrutura, no sentido de que parte de sua força está na habilidade de se fazer e desfazer rapidamente” (DUARTE; KLAUS, 2008, p. 156). Conforme nos apresenta o site Infoescola: Desde a década de 90 com a origem da Internet, a conexão entre as pessoas fi ca mais fácil e com o aprimoramento desta tecnologia da informação, surgem as Redes Sociais. A Rede Social é uma estrutura que inter-relaciona empresas ou pessoas, que estão conectadas pelas mais diversas relações. Cada qual se relaciona de acordo com as suas preferências e particularidades. Trata-se de uma ligação social e conexão entre pessoas (ADAMI, [s/d], [s/p]). 21 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem De acordo com Adami, usar as redes sociais para relações educacionais está perfeitamente de acordo com essa estrutura ou ‘não-estrutura’ em rede. É importante ressaltar que nenhuma ferramenta ou estrutura on-line obterá sucesso com os estudantes se for utilizada como simples repositório de informações/conteúdos, se não abarcar as 5 características, ou 5 premissas básicas das hipermídias: Conectividade, interatividade, hipertextualidade, dialogia e coautoria, além de suportar os diferentes tipos de linguagens: texto, áudio, imagem fi xa (fotos) e em movimento (vídeos). Quais os Principais Impactos Que as Redes Sociais Produzem entre Crianças, Adolescentes e Jovens? De acordo com a professora Esther Carvalho (2015), alguns efeitos das redes sociais são marcantes. A professora afi rma que a geração “neomillennial” tem demonstrado claramente outras formas de aprender, expressar-se e relacionar-se, devido à sua imensa capacidade de lidar com diversas mídias, acessando, fi ltrando, consumindo e produzindo informações e conhecimentos. Para Carvalho, todo esse movimento propicia novas oportunidades para expressão artística, participação política e investigação digital, cabendo aos adultos, mais velhos e educadores, a apropriação sobre tais recursos e movimentos para que possa interagir com os mais jovens e sejam capazes de leva-los à refl exões acerca dos limites entre o público e o privado. Do poder real da disseminação de informações, sejam falsas ou verdadeiras, benéfi cas ou maléfi cas. “Logo, algo que se publica, comenta-se ou registra-se numa determinada fase da vida permanecerá na rede por toda nossa existência (e depois dela) (CARVALHO, 2015). Os impactos das redes são profundos e permanentes nas vidas individuais, empresariais, políticas, econômicas e de toda uma geração. Possíveis Formas do Trabalho Educativo nas Redes Todo educador deve ter em mente que o uso de suas redes sociais nunca é particular, que seu perfi l e publicações estão sempre acessíveis a todos e, assim, não existe o ‘professor Carlos’ da escola e o ‘Carlos’ da vida privada. Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 22 Aos olhos de seus alunos, o professor é professor em todos os espaços físicos ou virtuais ao qual pertença. Será sempre visto como exemplo, como o conhecedor, o certinho, o chato, o legal, enfi m, terá sempre para seus alunos a imagem que construiu junto a eles no convívio escolar e inerente ao que se pressupõe à profi ssão. Além de estar sempre consciente de que seu perfi l nas redes sociais poderá ser conhecido a qualquer tempo por seus alunos, a melhor forma de agregar as redes sociais às aulas será sempre criando esses espaços nas redes. Um professor pode utilizar diversos subterfúgios das redes para criar páginas, sites ou grupos específi cos à interação educacional. A partir do Facebook A partir de sua conta pessoal, um professor pode criar e administrar uma página no Facebook. A página pode ser aberta ou fechada exclusivamente ao grupo desejado. O professor, como administrador, pode nomear outros administradores, nomear mediadores, eleger quem pode e quem não pode publicar e, a partir de então, dar usabilidade à página, sempre como uma proposta interativa e complementar às aulas. Não pode ser desconsiderado, caso algum estudante não tenha acesso às redes sociais, que se deve sempre criar estratégias para que este tenha acesso às mesmas informações. Cuidados Necessários com o Uso do Facebook • Principalmente por parte do professor, cuidar para que não ocorram erros ortográfi cos nas publicações. • Com exceção dos comentários, o professor deve revisar sempre as publicações dos estudantes antes que estejam visíveis a todos. • Ter cuidado com o uso de imagens (fotos e vídeos) de alunos e demais pessoas, pois o uso de imagem requer autorização prévia, além de observar conteúdo comprometedor. • Observar a legislação de Direitos Autorais antes de utilizar conteúdo de terceiros. • Estabelecer as fi nalidades de uso e os dias que o professor se compromete em responder a alunos. Quanto às fi nalidades, a página poderá ser utilizada para tirar dúvidas? Poderão ser explicados exercícios, tarefas etc. da aula na página? A página deve ser enriquecida com sugestões de textos, vídeos, fotos etc, solicitando sempre as contribuições e participações dos estudantes, estes devem sentir que o espaço é deles e não exclusivo do professor. 23 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem Os trabalhos podem ser produzidos de forma digital para que depois sejam publicados na página, onde terão maior visibilidade. Utilizando a ferramenta do Menssenger, que pode estar atrelada ao Facebook, podem ser criados grupos e estes podem ser com finalidade de estudos em que um auxilia o outro, podem ser para produção de trabalhos etc. O Messenger também é interessante para comunicações pessoais entre estudantes e também com o professor, pois seu conteúdo só é visível entre aqueles que estão na comunicação, é o famoso chamado inbox. Facebook O Facebook é uma ferramenta interessante porque aceita publicar, via compartilhamento, produtos que os estudantes tenham produzido em outras redes, como: O prOfessOr pOde gravar suas aulas e dispOnibilizar nO YOutube de fOrma aberta Ou fechada a um grupO; para issO, basta criar um canal, seguindO Os passOs indicadOs na ferramenta, e Optar pOr cOnteúdO abertO Ou fechadO. Criar um canal no Youtube é importante para que oportunize também aos alunos a poderem contar com um suporte para seus vídeos gravados em trabalhos, eventos, atividades. As aulas salvas na página do Youtube podem ser divulgadas na referida página do Facebook. Outras páginas, portais de recursos e objetosabertos, tudo pode ser divulgado e explorado a partir da página do Facebook. Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 24 T5 Perfi s Docente e Discente na Sociedade em Rede Parece-nos um tanto óbvio que se há uma mudança nos meios e formas comunicacionais, nos meios e formas de produção e disseminação do conhecimento, teremos também as mesmas mudanças nos meios e formas de ensinar e aprender, mais do que as formas, os conteúdos de interesse também mudariam, assim como mudaram as necessidades por produtos, serviços e produção cultural. Não se separa o consumidor, o trabalhador, o cidadão da cibercultura ou do estudante da cibercultura. Mas em qual nó dessa teia tais mudanças serão consideradas, ou mesmo percebidas? Não há como retroceder à forma como a cibercultura se engendrou na vida humana e como se tornou essencial aos mecanismos da globalização, reforçando tradições hegemônicas e, ao mesmo tempo, ressignificando as questões sociais. Tais mudanças ratif icam transformações signif icativas no modo de vida humana, acarretando mudanças paradigmáticas em todos os setores da sociedade, inclusive na educação e nas necessidades dos sujeitos. O Crescente Uso das Tecnologias O Brasil vem crescendo muito no uso das tecnologias e da internet, segundo pesquisa ofi cial divulgada em junho de 2014, pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação - Cetic.br. O Cetic.br é um departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (Nic.br), que implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet do Brasil (Cgi.br). Fo nt e: c ia rte ch -a bs ol ut ed ev .a zu re w eb si te s. ne t 25 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem Observamos que o Brasil praticamente dobrou, em cinco anos, a aquisição de computadores domésticos e que as classes mais pobres (D e E) mais que triplicaram essa posse. Esse cenário mostra uma evolução não só econômica e das políticas de acesso à tecnologia, mas também de interesse da população por esse acesso. O mesmo pode ser observado nos resultados obtidos quanto ao percentual de acesso. É fato que as populações mais carentes estão longe do considerado ideal, mas para um país com longo histórico de pobreza e miséria, saltar de Mais evidente fica o interesse do brasileiro pela tecnologia e a conectividade quando nos deparamos com os dados obtidos pelo uso da internet em tecnologias móveis, como o celular. No período de 5 anos, tivemos um crescimento de 4% para 31%, parecendo-nos que esses índices só não aumentaram ainda mais por conta dos altos valores para a obtenção de internet em aparelhos móveis ou “mídias locativas”. Como acreditamos que nada está isolado, precisamos ressaltar que estamos nesse momento pensando na escola de educação básica brasileira e pensando nos adolescentes e jovens da sociedade brasileira, principalmente dos grandes centros urbanos, onde há maior índice populacional, esse é o nosso contexto, esse é o nó da nossa rede cibercultural. Diante desse cenário, perguntamos: E o docente, qual deve ser sua postura de ensino nesse contexto? E o estudante, qual perfil deve assumir em sua aprendizagem? Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 26 O Docente e o Discente no Contexto de Ensino-Aprendizagem Os mestres ou professores ou docentes, são os sujeitos incentivadores do desejo de conhecer, os mediadores entre aquilo que se sabe e aquilo que se deseja saber. São essenciais para manter e despertar o desejo pelo conhecimento e pelos caminhos e formas mais eficazes de se chegar a esses conhecimentos, desde que não assumam o mero papel de detentores e transmissores do saber, mas assumindo a perspectiva de Vygotsky, conscientes de que são importantes para atuarem na Zona de Desenvolvimento Proximal dos sujeitos ‘aprendentes’, posto que esse espaço de aprendizagem define aquelas funções que ainda não se concretizaram no sujeito, mas que estão em processo de amadurecimento, em estado embrionário” (VYGOTSKY, 1984, p. 97) Somente na articulação desse estado embrionário o sujeito terá condições de evoluir na direção de suas potencialidades, cabendo ao docente mediar esse processo. Para o século XXI, os docentes mais do que precisam, necessitam adquirir novas habilidades e competências para que possam ser capazes de desenvolver nos estudantes os quatro pilares da educação, mencionados por Delors, no Relatório para a UNESCO, da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI (1999): • Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente ampla, com a possibilidade de estudar, em profundidade, um número reduzido de assuntos, ou seja: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida. • Aprender a fazer, a fim de adquirir não só uma qualificação profissional, mas, de uma maneira mais abrangente, a competência que torna a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Além disso, aprender a fazer no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho, oferecidas aos jovens e adolescentes, seja espontaneamente na sequência do contexto local ou nacional, seja formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho. • Aprender a conviver, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para gerenciar conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz. • Aprender a ser, para desenvolver, o melhor possível, a personalidade e estar em condições de agir com uma capacidade cada vez maior de autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal. Com essa finalidade, a educação deve levar em consideração todas as potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se. (DELORS, 2000, p.21) 27 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem A postura docente tradicional, de detentor do saber, de transmissor de conhecimentos, não comportará essa nova demanda da docência, posto que a postura professoral precisa assumir uma nova visão pedagógica, que reconhece as novas linguagens, as novas ferramentas, que admite as novas tecnologias e as transformações que elas defl agraram, para que assim possa efetivamente favorecer a aprendizagem das novas gerações. O Docente O docente também precisa capacitar-se a ser um gerenciador de conhecimentos e aprendizagens, visando orientar as melhores escolhas para desenvolver em seus pupilos as capacidades de conhecer, de fazer, de conviver e de ser. Novas habil idades técnicas também são necessárias para que esse gestor de aprendizagens adquira usabilidade tecnológica e das próprias técnicas de ensino para que melhor escolha e execute de acordo com cada realidade. Também é fundamental que os docentes da contemporaneidade estejam prontos para reconhecer e valorizar os conhecimentos de cada um, assim como as competências intelectuais de cada um, como sendo capacidades subjetivas e que não necessitam ser equiparadas entre todos. Avaliar aprendizagem precisa ser encarada como avaliação do progresso de cada um, e não a quantidade acumulada como um parâmetro igual para todos. No auxílio aos docentes, a Escola precisa se posicionar como: Espaço das práticas educacionais Espaço onde a educação se concretiza Espaço sem muros Espaço sem preconceitos Espaço para além das tecnologias Espaço sem classifi cações, separações, exclusões Espaço para a manifestação dos estudantes, suas expressões e contribuições. E os Estudantes, Quem Devem Ser Nesse Cenário? Se os estudantes encontrarem esse espaço escolar e esses docentesrevisitados em sua postura, com certeza estarão mais motivados para assumirem papéis essenciais à reciprocidade entre o ensinar e o aprender. Fonte: sociallearningcommunity Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 28 Muitos docentes se queixam da falta de interesse dos estudantes em aprender, em fazer exercícios e trabalhos escolares. Proíbem o uso de celulares nas aulas porque os estudantes se desprendem da aula e das explicações para “mexerem” em redes sociais, em mensagens e joguinhos. Há de se reconhecer que na adolescência, por exemplo, em qualquer época histórica, há muito mais coisas interessantes a ver e fazer no mundo do que “meter a cara nos livros”, não é mesmo? É disso que estamos falando esse tempo todo, em cada fase da vida o ser humano tende a determinadas motivações e a aprendizagem precisa integrar- se a essas motivações, então, todo tipo de interação na internet, que traz movimento e encantamento aos estudantes, pode ser aproveitada a favor da aprendizagem. Preparo da Escola e dos Docentes O preparo da escola e dos docentes é essencial para que as motivações dos estudantes: crianças, adolescentes ou jovens - sejam parceiras dos estudos, da aprendizagem, e que não pareçam situações opostas e desconectadas. Os nossos estudantes: Gostam de navegar na internet e têm facilidade. Não gostam de fi car muito tempo parados ouvindo alguém falar. Não acham graça em realizar exercícios escolares que não confi gurem um propósito. Gostam de produzir coisas (conteúdos). Às vezes não sabem discriminar entre conteúdos bons e ruins na internet. Apreciam a lógica da interatividade, da conectividade, da hipertextualidade, da dialogia e da coautoria, mas precisam de orientação para entenderem os limites. Os estudantes podem estar dispostos a aprender, sim, desde que esse aprendizado gere prazer, tenha sentido e valorize o que eles já são e qualquer coisa que desejem ser. Que tal uma dose de Rubem Alves como inspiração às nossas refl exões? Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=qjyNv42g2XU 29 Unidade 04 Mídias e Aprendizagem Conclusão A Educação não pode acontecer desconecta da sociedade e seu momento histórico-social. Ao considerar-se que a sociedade contemporânea pode ser tratada como uma sociedade em rede, a lógica da rede acaba infl uenciando o modo de vida das pessoas, o modo operacional da produção, do comércio e do consumo, logo, o formato midiático também se altera e a educação, enquanto espaço de formação dos cidadãos dessa sociedade, necessita se alterar também, buscando os melhores caminhos para atender a uma nova lógica estrutural sem comprometer a constituição e formação do humano. As mídias sempre foram consideradas meios para que circule a informação, a mensagem ou conteúdo. Com os avanços tecnológicos, as mídias tradicionais ganharam novos formatos e possibilidades, surgindo as multimídias, capazes de agregar recurso variados em um único meio (associando texto, imagem e som). Os recursos do digital e da internet potencializaram ainda mais as possibilidades desses meios de divulgação que, além de acoplarem diversas linguagens em um único meio, também deram plasticidade e possibilidade de coautoria aos conteúdos, mensagens, criando uma nova lógica entre emissor – mensagem – receptor, pois os dois polos dessa lógica se diluíram e os papéis de emissão e recepção se fundem na capacidade de coautoria e nas possibilidades de alteração, adaptação e atualização do conteúdo. Os recursos midiáticos favoreceram a criação de recursos e objetos de aprendizagem, viabilizando a concretização da criatividade dos educadores na busca de recursos que auxiliem na melhor aprendizagem dos estudantes, inclusive propiciando maior interação entre conteúdo e aprendiz. A intenção colaborativa de divulgação desses recursos deu origem a diversos repositórios, onde são encontrados os Recursos Educacionais Abertos (REA) e Objetos de Aprendizagem (OAs), disponíveis ao uso de qualquer um. O fascínio das novas gerações pela internet e seus recursos, como as redes sociais, fez com que alguns educadores despertassem para a aproximação dessas redes com a educação e assim, aquilo que seria um espaço de lazer e relações sociais também demonstrou características interessantes para as relações de ensinar e aprender, criou novos espaços e possibilidades de aproximação entre estudantes desmotivados e a escola, os estudos. Tecnologias Educacionais e Mídias Culturais Graduação | UNISUAM 30 É fato que o estudante do século XXI não é mais o mesmo do século passado, então, a escola também precisa se adequar a uma nova realidade e os educadores se prepararem para formação de uma nova sociedade. Novas perspectivas são almejadas para o estudante da atualidade, conforme concebem os quatro pilares da educação (DELORS, 2000): Aprender a conhecer; Aprender a fazer; Aprender a conviver e Aprender a ser. Esse deve ser o novo cidadão, e o novo estudante deve ser capaz de desenvolver criticidade, disciplina, autonomia, autoria e coautoria, posto que a proposta de Delors prevê o desenvolvimento individual sempre em conexão com o coletivo. Referências ADAMI, Anna. Redes sociais. In: Infoescola – navegando e aprendendo. Disponível em: <http://www.infoescola.com/ sociedade/redes-sociais-2/>. Acesso em: 14 abr. 2017. BAKHTIN, Mikhail (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hicitec, 2004. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000. BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1978. CARVALHO, Esther. O impacto das redes sociais na educação. In: Estadão Educação. 2015. Disponível em: <http://educacao.estadao. com.br/blogs/blog-dos-colegios-rio-branco/o-impacto-das- redes-sociais-na-educacao/>. Acesso em: 02 abr 2017. COUCHOT, Edmond. A arte pode ainda ser um relógio que adianta? 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