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CENTRO UNIVERSITÁRIO LA SALLE - RJ CURSO DE DIREITO BEATRIZ MANSO MACHADO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL NITERÓI – RJ. JUNHO DE 2018. CENTRO UNIVERSITÁRIO LA SALLE – RJ CURSO DE DIREITO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL Beatriz Manso Machado Monografia apresentada ao curso de Direito para obtenção do certificado de Bacharel em Direito, como parte dos requisitos para conclusão de curso. Orientador: Professor Doutor Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro Niterói - RJ. Junho de 2018. BEATRIZ MANSO MACHADO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL Monografia apresentada ao Centro Universitário La Salle-RJ como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel no curso de Direito Aprovada em: / /2018. BANCA EXAMINADORA Prof. Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro (Orientador) CENTRO UNIVERSITÁRIO LA SALLE – RJ Prof. CENTRO UNIVERSITÁRIO LA SALLE – RJ Prof. CENTRO UNIVERSITÁRIO LA SALLE – RJ GRAU NITERÓI – RJ, 2018. AGRADECIMENTOS Dar início aos agradecimentos talvez tenha sido a parte mais difícil de todo este trabalho, não por não saber a quem agradecer, mas por não conseguir escolher as palavras para expressar tal gratidão. Começo agradecendo aos meus pais, que me incentivaram e apoiaram, sempre me dando forças para continuar. À minha irmã Thaís, que é como se fosse o meu norte num mar revolto, sempre me guiando, sempre estando lá para mim, até mesmo para ouvir várias vezes eu treinando a defesa do trabalho, e ainda fazendo comentários, mesmo sem entender uma frase do que eu falava. Obrigada pela paciência irmã, te amo! Agradeço ao meu padrinho, sem a ajuda dele, eu provavelmente não estaria me formando. Obrigada dindo, por toda cobrança e insistência, você provavelmente foi quem me deu persistência durante todos esses cinco anos, sempre querendo que eu fosse o meu melhor. Agradeço à Stephannie, minha amiga de infância, que mesmo morando em outro país nunca deixou de me incentivar e estar ao meu lado, que sempre atendeu minhas ligações de madrugada, enquanto eu não conseguia dormir por causa da ansiedade das provas, ou de apresentação de trabalhos, ou só pra passar o tempo. Você sempre me deu força mesmo quando você não conseguia achar a sua. Agradeço à Lu, minha melhor amiga, que sempre acreditou em mim, que me enxerga de um jeito único, que nunca me deixou desistir, que sempre teve uma palavra de conforto e esteve ao meu lado mesmo em momentos em que eu não queria companhia. Obrigada, te amo! À Maitê, minha colega de turma, que se tornou uma grande amiga, por todo o incentivo, pela ajuda e pelo apoio durante as horas difíceis que compartilhamos durante o curso de direito, e por ter entrado na minha vida pra ficar. Obrigada Golden Girl!! À Mariana, a pessoa mais inesperada para eu criar uma amizade, já que somos tão diferentes, que esteve comigo desde o primeiro dia, compartilhando toda a pressão, todas as notas boas e ruins. E você sempre pensou que era eu quem te incentivava, mas na verdade provavelmente foi você quem me incentivou a ser melhor, a estudar mais, porque eu sempre queria te ajudar... engraçado, né? Obrigada Maricota, você é 10! Aproveito para agradecer, por fim, a UniLaSalle, por fornecer um ambiente no qual podemos aprender com excelência, através de professores maravilhosos, que nos incentivam sempre e nos ensinam com amor. Obrigada! “A garantia dos direitos no plano internacional só será implementada quando uma jurisdição internacional se impuser concretamente sobre as jurisdições nacionais, deixando de operar dentro dos Estados, mas contra os Estados e em defesa dos cidadãos.” Norberto Bobbio, A era dos direitos. LISTA DE SIGLAS TPI Tribunal Penal Internacional ONU Organização das Nações Unidas RPF Rwanda Patriotic Front RTLM Radio Television Libres Des Mille Collines RESUMO O presente trabalho tem como finalidade mostrar toda a trajetória que o Direito Internacional percorreu para a criação de um Tribunal Penal Internacional de natureza permanente. Visa também explicar seu funcionamento, destacando o genocídio, os crimes de guerra, os crimes contra a humanidade e os crimes de agressão, que são de competência do TPI. Além de apresentar casos concretos em andamento e já encerrados do Tribunal. Palavras-chave: Funcionamento, genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade, crimes de agressão. SUMÁRIO LISTA DE SIGLAS ................................................................................................. 7 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10 CAPÍTULO I: ANTECEDENTES DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL .... 11 1. O LEGADO DO TRIBUNAL DE NUREMBERG .......................................................... 11 2. O TRIBUNAL AD HOC PARA A EX-IUGOSLÁVIA ...................................................... 13 3. O TRIBUNAL AD HOC PARA A GUERRA CIVIL DE RUANDA ....................................... 15 CAPÍTULO II: FUNCIONAMENTO E ESTRUTURA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL ................................................................................................ 19 1. DOS CRIMES ................................................................................................... 19 2. COMPETÊNCIA LEGAL ...................................................................................... 23 3. OS 10 FATOS SOBRE O PROCESSO LEGAL .......................................................... 24 4. SISTEMA DO ESTATUTO DE ROMA ..................................................................... 26 CAPÍTULO III: CASOS CONCRETOS DO TPI ................................................... 27 1. PROMOTORIA VS. OMAR HASSAN AHMAD AL BASHIR .......................................... 27 2. PROMOTORIA VS. ABDALLAH BANDA ABAKAER NOURAIN .................................... 28 3. PROMOTORIA VS. JEAN-PIERRE BEMBA GOMBO................................................. 29 4. PROMOTORIA VS. UHURU MUIGAI KENYATTA ..................................................... 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 32 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 34 10 INTRODUÇÃO O objetivo do presente trabalho monográfico é analisar os acontecimentos prévios à criação do Tribunal Penal Internacional, bem como sua estrutura interna e observar a investigação e julgamento de casos concretos, de modo a perceber a importância do tribunal na esfera internacional para o direito humanitário. No primeiro capítulo será demonstrada, de forma detalhada, a história prévia aos Tribunais ad hoc, um pouco dos crimes cometidos, os fatores chaves do irrompimento das guerras civis na Ex-Iugoslávia e em Ruanda. No segundo capítulo, será possível visualizar a estrutura eficiente do Tribunal, os crimes que competem ao mesmo, à competêncialegal, fatos sobre o TPI que podem ser desconhecidos para a maioria, e o sistema do Estatuto de Roma. Já no terceiro e último capítulo são apontados quatro casos concretos em diferentes fases processuais. Ao longo do trabalho será possível apontar aspectos históricos que desencadearam a necessidade de um mecanismo de justiça internacional permanente, com competência jurisdicional complementar, e que é capaz de julgar alguns dos crimes mais bárbaros que o ser humano pode cometer. 11 CAPÍTULO I: ANTECEDENTES DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL Em 1948 foi feita a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no período pós-segunda guerra, momento em que o mundo estava em choque com as atrocidades cometidas durante a Era Hitler. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada a fim de resguardar a integridade, tanto física quanto mental, e os direitos do ser humano quando o Estado falhasse em fazê-lo. A partir daí, o conceito de soberania Estatal começa a ser redefinido, pois até então era tida como absoluta e ilimitada, já que começou a ser reconhecido que o indivíduo também é sujeito de Direito internacional, e não apenas o Estado.1 Os tribunais ad hoc foram criando inúmeros precedentes, para mais tarde haver a criação do Tribunal Penal Internacional. 1. O LEGADO DO TRIBUNAL DE NUREMBERG Ao fim da segunda guerra, e após muita conversa sobre as formas de punir os nazistas por seus crimes, os aliados chegaram a um consenso através do Acordo de Londres, em 1945, ficando estabelecida a criação de um Tribunal Internacional Militar. 2 Em 20 de Novembro de 1945, houve a criação formal do Tribunal Militar Internacional, com o intuito de julgar os crimes cometidos pelos nazistas durante a 2ª Guerra. O tribunal foi sediado na cidade de Nuremberg, na Alemanha, ficando conhecido popularmente como Tribunal de Nuremberg, contudo, já em 18 de Outubro os principais promotores já haviam lido as acusações contra 24 Altos Oficiais nazistas. 3 Tanto a composição do Tribunal quanto seus procedimentos básicos foram fixados com base no Acordo de Londres, sendo assim, destacam Henry J. Steiner e Philip Alston que: 1 Manual de Direitos Humanos Internacionais, Acesso aos sistemas Global e Regional de proteção dos Direitos Humanos, Jayme Benvenuto Lima Jr, Fabiana Gorenstein, Leonardo Jun Ferreira Hidaka, Cap. I, pág. 23, 3§. São Paulo. Edições Loyola: 2002 2 Direitos Humanos e Justiça Internacional, Piovesan, Flávia, 5ª edição, capítulo III, pag. 73. São Paulo. Sarava: 2014 3 Disponível em:<https://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10007069> Enciclopédia do Holocausto, Tribunal Militar Internacional de Nuremberg, último acesso em 22 de Maio de 2018 12 “ao definir os crimes abarcados pela jurisdição do Tribunal, a Carta [anexada ao Acordo de Londres de 1945] foi além dos tradicionais „crimes de guerra‟ (parágrafo (b) do artigo 6) em dois aspectos. Primeiro a Carta incluiu os „crimes contra a paz‟ – os denominados jus ad bellum , que contrastavam com a categoria de direitos de guerra ou jus in bello. Segundo, a expressão „crimes contra a humanidade‟ poderia ter sido lida [não o foi] de modo a incluir a totalidade do programa do governo nazista de exterminação dos judeus e de outros grupos civis, dentro e fora da Alemanha, „antes ou durante a guerra‟, e a incluir, consequentemente, não apenas o Holocausto, mas também a elaboração dos planos e a perseguição inicial dos judeus e de outros grupos em um momento anterior ao Holocausto” (Henry J. Steiner e Philip Alston, International human rights in contexto – law, politics, and morals, p. 114, 115 e 123) O Tribunal usou do costume internacional para condenação de indivíduos implicados na prática de crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, mencionados no Acordo de Londres. 4 Com o julgamento e condenação ocorridos no Tribunal de Nuremberg, foi consolidado o entendimento de que ao passo que crimes contra a ordem internacional são cometidos por uma pessoa e não por um ente abstrato, o indivíduo que realizou o ato deve ser responsabilizado, pois somente assim as previsões do Direito Internacional poderiam ser aplicadas. “A emergência do Direito Internacional dos Direitos Humanos com o julgamento de Nuremberg e a Declaração Universal de 1948 têm sido concebidos como o mais radical desenvolvimento de toda a história do Direito Internacional, tendo em vista tão rapidamente terem estabelecido que os indivíduos, tal como os Estados, são sujeitos de Direito Internacional” (Humprey, The revolution in the international law of human rights, 4 Human Rights Law Journal, 205, 208-209, 1974-1975) Sendo assim, a condenação dos Altos Oficiais se deu baseada na violação dos costumes internacionais, gerando polêmica em torno da alegação de afronta ao Princípio da Anterioridade da Lei Penal, sob o argumento de que quando os crimes foram cometidos, não eram considerados crimes pelo Tribunal de 4 Direitos Humanos e Justiça Internacional, Piovesan, Flávia, 5ª edição, capítulo III, pag. 75. São Paulo. Saraiva: 2014 13 Nuremberg.5 Para Hans Kelsen, em “Will the judgment in the Nuremberg Trial constitute a precedente in international law?”, de 1947, o princípio da retroatividade da lei não seria válido no plano do Direito Internacional, valendo apenas para o Direito Interno e com exceções. Além da crítica de que estaria havendo afronta do Princípio da Anterioridade da Lei Penal, o tribunal foi criticado pelo fato de os “vencedores” da guerra estarem julgando os “vencidos”, por ser um tribunal de exceção e precário, já que foi criado post facto para julgar crimes específicos, entre diversas outras críticas. 6 Apesar de todos os problemas, o Tribunal de Nuremberg passou a ser um ícone na justicialização dos direitos humanos. Pela primeira vez um Estado foi julgado, e considerado responsável, na esfera internacional por fato ocorrido dentro de seu território com seu próprio povo7. Seu legado, apesar de controverso, permitiu o avanço dos direitos humanos na ordem internacional. 2. O TRIBUNAL AD HOC PARA A EX-IUGOSLÁVIA No fim dos anos 80 e início dos 90 a antiga Iugoslávia era formada por seis repúblicas: Bósnia e Herzegovina, Croácia, Macedônia, Montenegro, Sérvia e Eslovênia, e duas regiões separadas eram conhecidas como províncias autônomas com a República da Sérvia, Kosovo e Vojvodina. Nesta época houve o colapso do comunismo e o nacionalismo começou a ressurgir no Leste Europeu, causando uma grande instabilidade política e econômica.8 Partidos políticos foram criados, parte reivindicando a independência das repúblicas e outras pedindo mais poder para certas repúblicas dentro da federação. Em 1991, a Eslovênia e a Croácia culparam o povo sérvio de dominar o governo, o exército e as finanças da Iugoslávia, e em contra partida a Sérvia acusou as duas repúblicas de separatismo. No mesmo ano, a Eslovênia declarou sua independência, desencadeando uma intervenção do exército iugoslavo, tornando-se um breve 5 Direitos Humanos e Justiça Internacional, Piovesan, Flávia, 5ª edição, capítulo III, pag. 77. São Paulo. Saraiva: 2014 6 Direitos Humanos e Justiça Internacional, Piovesan, Flávia, 5ª edição, capítulo III, pag. 78 7 Henry Steiner, International law and human rights, material do curso ministrado na Harvard Law School, Spring, Cambridge, Massachusetts. Harvard Law School: 1994 8 Disponível em:<http://www.icty.org/en/about/what-former-yugoslavia/conflicts>,último acesso em 22 de Maio de 2018 14 conflito militar, conhecido como “Guerra dos 10 dias”. A Eslovênia saiu vitoriosa, fazendo com que o exército se retirasse de seu território.9 A Croácia, no entanto, ao tentar obter sua independência, no mesmo dia da Eslovênia, se arrastou em diversos conflitos com os sérvios que viviam em seu território, pois os mesmos se recusavam a reconhecer a independência da república. Assim, com a ajuda do exército iugoslavo, os sérvios se rebelaram, reivindicando pelo menos um terço do território croata, para que fosse um Estado Independente dos sérvios. Croatas e não sérvios foram expulsos do território, com uma violenta campanha de limpeza étnica.10 A ONU chegou a declarar um cessar-fogo em 1992, mas sem sucesso, pois a Croácia estava determinada a retomar seu território, sendo assim, formaram um exército próprio e o equiparam, e após duas grandes ofensivas realizadas no território reclamado pelos sérvios, o retomaram, finalizando a guerra em 1995.11 Em 1992 começaram os conflitos na Bósnia e Herzegovina. Os bósnios- sérvios organizaram um boicote, fazendo com que mais de 60% da população votasse na independência da república. Em seguida, se rebelaram com o apoio do exército da Iugoslávia e da Sérvia, declarando que os territórios que estavam sob seu controle seriam parte da República Sérvia na Bósnia e Herzegovina, tomando 60% do país. Os bósnios-croatas logo declararam sua própria república com o apoio da Croácia. Esse foi um dos maiores, se não o maior, conflito por território dentro da antiga Iugoslávia, abrigando crimes absurdos e perseguições étnicas. A pior das atrocidades desta guerra ocorreu no verão de 1995, quando uma cidade Bósnia, chamada de Srebrenica, foi atacada, após a ONU declará-la como segura, pelo comandante bósnio-sérvio. Mais de 8 mil homens e meninos foram executados pelas forças sérvias em um ato de genocídio. A guerra de independência acabou no mesmo ano.12 9 ibid 10 ibid 11 ibid 12 ibid 15 Em 1993, o Conselho de segurança da ONU estabeleceu a criação de um Tribunal para julgar crimes de guerra, através da Resolução n. 827, a fim de apurar as violações dos Direitos Humanos no âmbito Internacional que teriam ocorrido no território da antiga Iugoslávia.13 O conflito mais recente ocorreu em 2001, em Macedônia. O país declarou independência no outono de 1999 de forma pacífica, tendo a maior parte da população de macedônios e uma minoria de albaneses. Em janeiro de 2001 o exército dos albaneses acabou com as forças de segurança da República, com o objetivo de obter mais autonomia ou independência. O conflito durou por poucos meses, tendo como desfecho um acordo pacífico, concordando as duas partes em dividirem o poder.14 Atualmente, o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia encerrou suas atividades, pois já serviu ao seu propósito. Durou de 1993-2017, mudando por completo o panorama dos Direitos Humanos no âmbito internacional, levando os culpados por todas as atrocidades cometidas durante os conflitos, à prisão, bem como trazendo justiça para as vítimas.15 Este tribunal acabou por ser mais uma prova de que os incitadores de violência e os que a cometem, durante conflitos armados, por pura maldade, podem sim ser responsabilizados por seus crimes, e as vítimas não serão somente vítimas, elas tem, ali, a oportunidade de tomar as rédeas de suas vidas testemunhando e colaborando com a prisão de seus carrascos e podendo viver com a certeza de que estes não farão com mais ninguém o que lhes fizeram. 3. O TRIBUNAL AD HOC PARA A GUERRA CIVIL DE RUANDA Em 1994, a população de Ruanda era composta por 85% Hutu, 14% Tutsi e 1% Twa. Os Tutsis sempre ocuparam altas posições na sociedade, desde a 13 Direitos Humanos e Justiça Internacional, Piovesan, Flávia, 5ª edição, capítulo III, pag. 80-81. São Paulo. Saraiva: 2014 14 Disponível em: <http://www.icty.org/en/about/what-former-yugoslavia/conflicts> último acesso em 22 de Maio de 2018 15 Disponível em: <http://www.icty.org> último acesso em 22 de Maio de 2018 16 época colonial, podendo haver mobilidade social se um Hutu possuísse grande número de gado ou outra riqueza semelhante à dos Tutsi.16 Até a 1ª Guerra Mundial, a colonizadora de Ruanda era a Alemanha, que perdeu a posse da mesma, restando a Bélgica como administradora da antiga colônia. No fim dos anos 50, durante a descolonização, as tensões entre os povos aumentaram, e foi no ano de 1959 que o primeiro ataque, por parte dos Hutus, atingiu os Tutsis, matando milhares de pessoas, e forçando as que sobreviveram a se refugiar em países vizinhos. Esse marco ficou conhecido como “A Revolução Social”, perdurando até 1961, significando o fim do poder dos Tutsi. Em 1962, quando Ruanda conquistou sua independência, mais de 120.000 pessoas, principalmente Tutsis, se refugiaram em países vizinhos para escapar da violência que vinha crescendo com a entrada dos Hutus no poder.17 Os Tutsi que se refugiaram na Tanzânia e Zaire, começaram a organizar e realizar ataques contra os Hutus e contra o seu governo. Esses ataques levaram os Hutus a retaliarem os ataques matando grandes números de Tutsis que ainda viviam em Ruanda, criando uma nova onda de refugiados. Já no fim dos anos 80, mais de 480.000 ruandeses haviam se tornado refugiados em algum país vizinho. Apesar de refugiados, os mesmos continuaram a reivindicar seus direitos de voltar ao seu país de origem, contudo, o presidente de Ruanda, Juvenal Habyarimana, defendeu que as tensões eram muitas e haviam poucos empregos, logo, não havia como os refugiados retornarem ao seu país, pois eles eram muitos18. Em 1988 foi fundado o Fronte Patriótico de Ruanda (RPF, em inglês) em Kampala, Uganda, como um movimento militar e político, defendia a repatriação dos refugiados e a reforma do governo de Ruanda, inclusive o compartilhamento do poder. O RPF era constituído principalmente por Tutsis exilados em Uganda, mas havia, também, alguns Hutus.19 16 Disponível em: http://www.un.org/en/preventgenocide/rwanda/education/rwandagenocide.shtml último acesso em 22 de Maio de 2018 17 ibid 18 ibid 19 ibid 17 Em Outubro de 1990, o RPF lançou um enorme ataque em Ruanda, de Uganda, com sete mil guerrilheiros. Devido aos ataques do RPF e a uma propaganda massiva por parte do governo, todos os Tutsi dentro do país foram marcados como cúmplices do RPF, e os Hutus que eram membros da oposição dentro do governo foram rotulados como traidores. A mídia continuou a espalhar rumores infundados, aumentando os problemas étnicos.20 Em agosto de 1993, através dos esforços da Organisation of African Unity e dos governos da região, foi assinado do Tratado de paz de Arusha, e parecia que os conflitos entre Hutus e a oposição Fronte Patriótico de Ruanda finalmente teriam um fim. Em Outubro de 1993, o conselho de segurança estabeleceu a Missão de assistência para Ruanda das Nações Unidas, com o objetivo de dar assistência humanitária, bem como apoiar o processo de pacificação em Ruanda. Contudo, alguns partidos políticos, que fizeram parte do acordo, começaram a atrasar a implementação de medidas, as violações dos direitos humanos ficaram mais evidentes e corriqueiras, e a situação da segurança se deteriorou. Mais tarde, foram encontradas evidências irrefutáveis de que extremistas da maioria Hutu, que falavam de paz, na verdade planejavam uma campanha para exterminar os Tutsie Hutus moderados.21 Em 6 de abril de 1994, a morte dos Presidentes Burundi Ciprien e Juvenal Habyarimana, num acidente de avião causado por um míssil, desencadeou semanas de massacres intensos e sistemáticos. As mortes chocaram a comunidade internacional, e se mostravam claramente como atos de genocídio. Aproximadamente 250,000 mulheres foram estupradas. Os membros da guarda presidencial começaram a matar civis Tutsis em Kigali, perto do aeroporto. Menos de meia hora após o ataque, estradas foram fechadas por paramilitares e militares, afim de identificar Tutsis.22 Em 7 de abril a Radio Television Libres Des Mille Collines (RTLM) atribuiu, durante a transmissão, o acidente do avião ao RFP e soldados enviados pela ONU, bem como incitaram a “eliminação” dos Tutsi. Mais tarde, nesse dia, a 20 ibid 21 ibid 22 ibid 18 Primeira Ministra Agathe Uwilingiyimana e 10 pacificadores belgas, que foram designados para proteger a Primeira Ministra, foram brutalmente assassinados pelos soldados do governo de Ruanda. Outros líderes Hutu moderados também foram assassinados de forma similar. 23 A ausência de comprometimento para a conciliação de alguns partidos de Ruanda era um problema, mas a tragédia também ocorria devido a falta de resposta da comunidade internacional. A capacidade da ONU de diminuir do sofrimento humano em Ruanda foi severamente prejudicada pela falta de ajuda dos Estados Membros, que deveriam ter ajudado a reforçar o mandato da Missão de assistência para Ruanda das Nações Unidas, bem como enviado mais tropas.24 Em 22 de junho, o Conselho de Segurança autorizou a França a iniciar outra missão humanitária, chamada de Operação Turquoise, salvando centenas de civis no sudoeste de Ruanda. Em outras áreas, as mortes continuaram até 4 de julho de 1994, que foi quando o RFP tomou o controle militar de todo o território de Ruanda.25 Em 8 de Novembro de 1994, por recomendação do Conselho de Segurança da ONU, foi aprovada, por intermédio da Resolução 955, a criação do Tribunal Penal Internacional para Ruanda, para julgar as sérias violações dos direitos humanos na esfera internacional, previstas na Convenção de Genebra e de Crimes Contra a Humanidade ocorridos em Ruanda. O tribunal, com sede em Arusha, na Tanzânia, teria competência para julgar pessoas que instigaram o genocídio, que planejaram, executaram e ajudaram. Neste tribunal, o Estado não seria responsabilizado pelos crimes cometidos por seu povo, mas sim os indivíduos, um por um, que estavam envolvidos de alguma forma nos crimes, não importando sua nacionalidade.26 23 ibid 24 ibid 25 ibid 26 TRIBUNAIS INTERNACIONAIS, Jurisdição e Competência, MENEZES, Wagner, p. 211. São Paulo. Saraiva: 2013 19 CAPÍTULO II: FUNCIONAMENTO E ESTRUTURA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL A partir dos tribunais penais internacionais ad hoc para julgar os crimes cometidos tanto na segunda guerra mundial, quanto nos conflitos separatistas da ex-Iugoslávia e civis em Ruanda, bem como o enraizamento dos Direitos Humanitários no âmbito internacional, a comunidade internacional começou a analisar a criação de um tribunal permanente e especializado, que pudesse julgar crimes cometidos contra a sociedade internacional de forma imparcial e que tivesse normas pré-estabelecidas.27 Neste sentido, em julho de 1998 foi aprovado o Estatuto do Tribunal Penal Internacional, em conferência que reuniu delegações de 148 países, com 120 votos a favor, 07 contra e 21 abstenções, ficando estipulado que o Tribunal só vigoraria se houvessem 60 ratificações. Em abril de 2002, o Estatuto de Roma já havia alcançado um número maior que o necessário para seu estabelecimento, tornando-se uma das maiores conquistas dos Direitos Humanos e do Direito Penal Internacional, dando fim às polêmicas instituições dos tribunais ad hoc, já que o Tribunal Penal Internacional tinha natureza permanente.28 O Tribunal Penal Internacional29 foi institucionalizado como uma OI (Organização Internacional), com sede em Haia, na Holanda, com personalidade jurídica de Direito Internacional, e com jurisdição complementar às nacionais sobre responsáveis por crimes graves, com cobertura internacional.30 1. DOS CRIMES O Estatuto de Roma, que fundou o Tribunal, determina que o mesmo terá jurisdição sobre, principalmente, quatro crimes: genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes de agressão.31 Os crimes julgados pelo 27 INAZUMI, Mitsue. Universal jurisdiction in modern international law: expansion of national jurisdiction for prosecuting serious crimes under international law. Oxford: Intersentia, 2005] 28 TRIBUNAIS INTERNACIONAIS, Jurisdição e Competência, MENEZES, Wagner, p. 217. São Paulo. Saraiva: 2013 29 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/ último acesso em 22 de Maio de 2018 30 INGADOTTIR, Thordis. The international criminal court: recommendations on policy and practice: financing, victims, judges and immunities. New York: Transnational Publishers, 2003 31 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/about/how-the-court- works/Pages/default.aspx#organization último acesso em 22 de Maio de 2018 20 tribunal são imprescritíveis, e deve-se ressaltar que a competência do tribunal é complementar, logo, só deve ser acionado quando as autoridades nacionais forem omissas ou incapazes de julgar tais crimes em seus territórios. Outro ponto que devemos salientar é que o tribunal não tem competência retroativa, ou seja, só vale para crimes ocorridos após sua institucionalização32. O primeiro crime citado, de competência do TPI, é o genocídio33 que é caracterizado pela intenção de exterminar num todo ou em parte nações, etnias, raças ou grupos religiosos, assassinando seus membros, ou através de tortura, tanto física quanto mental, do grupo alvo. Imposição de condições de vida calculadas para prejudicar fisicamente o grupo alvo, também caracteriza o genocídio, bem como impor medidas para prevenir o nascimento de crianças no grupo, ou tirar uma criança e colocar em outro grupo, com o uso de força.34 Artigo 6º do Estatuto de Roma Crime de Genocídio Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "genocídio", qualquer um dos atos que a seguir se enumeram, praticado com intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal: (Inazumi, 2005) a) Homicídio de membros do grupo; b) Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo; c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição física, total ou parcial; d) Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo; e) Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo. Um exemplo de genocídio é a Segunda Guerra Mundial, onde os Nazistas matavam judeus em campos de extermínio espalhados por toda a Europa, tudo em prol da soberania Ariana e por acreditarem que os judeus eram um povo sujo. Foi genocídio com base étnica, racial e contra outras nações, pois além de 32 TRIBUNAIS INTERNACIONAIS, Jurisdição e Competência, MENEZES, Wagner, p. 217. São Paulo. Saraiva: 2013 33 Artigo 6º alíneas do Estatuto de Roma, Decreto 4388 de 25 de SETEMBRO de 2002 34 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/about/how-the-court- works/Pages/default.aspx#organization último acesso em 22 de Maio de 2018 21judeus, eles acreditavam que somente o povo ariano era puro, e a soberania ariana deveria prevalecer. Citando caso análogo, temos também a Guerra Civil em Ruanda, onde os Hutu, que eram maioria, cometeram diversas atrocidades contra os Tutsi, que também não deixaram barato, garantindo quase que destruição mútua. O segundo crime citado, são os crimes contra a humanidade, que são sérias violações cometidas como parte de uma escala maior de ataques contra qualquer população civil.35 Artigo 7º do Estatuto de Roma Crimes contra a humanidade 1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se como “crime contra a humanidade” , qualquer um dos atos seguintes, quando cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque: a) Homicídio; b) Extermínio; c) Escravidão; d) Deportação ou transferência forçada de uma população; e) Prisão ou outra forma de privação de liberdade física grave, em violação das normas fundamentais do direito internacional; f) Tortura; g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada, ou qualquer outra violência no campo sexual de gravidade comparável; h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 3o, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional, relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da competência do Tribunal; i) Desaparecimento forçado de pessoas; j) Crime de apartheid; 35 ibid 22 k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental; Como exemplo, podemos citar os estupros ocorridos durante a Guerra Civil em Ruanda após a morte dos presidentes Burundi Ciprien e Juvenal Habyarimana36,bem como a maioria dos crimes ocorridos durante esta guerra, que foram julgados pelo Tribunal Penal Internacional para Ruanda. O terceiro é o crime de guerra, que é uma grande falha nas Convenções de Genebra no contexto de conflitos armados, e inclui, por exemplo, o uso de crianças como soldados; o assassinato ou tortura de pessoas, tanto civis quanto prisioneiros de guerra; direcionar, intencionalmente, ataques contra hospitais, monumentos históricos, ou prédios em que atos religiosos são praticados, ou que sejam usados para educação, arte, ciência ou para propósitos de caridade.37 Podemos usar o artigo 8º do Estatuto de Roma38, 2 alínea “b”, XVIII, a utilização de gazes asfixiantes ou outros gazes em ataques contra civis, como exemplo de crime de guerra, na Síria, em 4 de Abril de 2017, no povoado de Khan Shaykhun, província de Idleb, nordeste da Síria, houve um ataque com uso de gás sarin, ficando o painel conjunto da ONU e da OPAQ (Organização para a Proibição de Armas Químicas) responsáveis pelas investigações do ataque, chegando a conclusão de que o governo de Bashar Al-Assad foi responsável pelos ataques.39 Este não é um caso atual do Tribunal Penal Internacional, pois não se encontra em seus registros40, mas com toda certeza virá a ser. E o último crime de competência do Tribunal Penal Internacional é o crime de agressão, que significa o uso de força armada por parte de um Estado contra a soberania, integridade ou independência de outro Estado. A definição deste crime foi adotada através de emenda ao Estatuto de Roma, na primeira Conferência de 36 Disponível em: http://www.un.org/en/preventgenocide/rwanda/education/rwandagenocide.shtml último acesso em 22 de Maio de 2018 37 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/about/how-the-court- works/Pages/default.aspx#organization último acesso em 22 de Maio de 2018 38 Anexo. 39 Disponível em: https://veja.abril.com.br/mundo/onu-governo-da-siria-foi-responsavel-por-ataque- com-gas-sarin/ último acesso em 22 de Maio de 2018 40 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/Pages/search-results.aspx?k=bashar%20al-assad último acesso em 22 de Maio de 2018 23 Revisão do Estatuto, em Kampala, Uganda, em 2010.41 Em 15 de Dezembro de 2017, a Assembleia dos Estados Partes adotou por consenso a resolução que atribui competência ao Tribunal pelo crime de agressão a partir de 17 de Julho de 2018.42 2. COMPETÊNCIA LEGAL Como é um Tribunal Internacional, o processamento do TPI não é igual ao do Brasil. O TPI pode exercer jurisdição sobre os crimes já citados, cometidos após 1º de Julho de 2002 e sobre crimes que foram cometidos por um nacional de um Estado Parte, ou no território de um Estado Parte, ou em um Estado que tenha aceitado a jurisdição do Tribunal; ou sobre os crimes que forem passados para o promotor do TPI pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, nos termos da resolução adotada no capítulo VII da Carta da ONU, sob o título “Ação Relativa a Ameaças à Paz, Ruptura da Paz e Atos de Agressão”.43 Ainda, um Estado-Membro pode fazer denúncia ao procurador do TPI em qualquer situação, se houver indícios da prática de algum ou vários dos crimes de competência do TPI, indicando fundamentos do caso.44 No caso de inércia por parte do Conselho de Segurança em relação a atos de agressão, o promotor pode iniciar investigação por conta própria ou a pedido de um Estado-Membro, depois de obter autorização do juízo de instrução do Tribunal.45 O promotor deve também verificar se o Conselho de Segurança determinou que houve ato de agressão por parte do Estado preocupado.46 Quanto à admissibilidade do processo pelo TPI, o mesmo poderá ser rejeitado se: 41 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/about/how-the-court- works/Pages/default.aspx#organization último acesso em 22 de Maio de 2018 42 ibid 43 ibid 44 MENEZES, Wagner; TRIBUNAIS INTERNACIONAIS, Jurisdição e Competência, p. 219-220, São Paulo, Saraiva: 2013 45 ibid 46 MENEZES, Wagner; TRIBUNAIS INTERNACIONAIS, Jurisdição e Competência, p. 219-220, São Paulo, Saraiva: 2013 24 a) o caso estiver sendo investigado ou com inquérito aberto sob jurisdição doméstica do Estado, salvo se o mesmo não levar adiante as investigações ou não tiver capacidade efetiva para fazê-lo;47 b) o objeto do inquérito, sob jurisdição do Estado, e o mesmo tenha decidido não continuar com o procedimento criminal contra a pessoa acusada, exceto se esta decisão seja resultado do Estado não querer ou não ter os meios para prosseguir com tais diligências;48 c) caso o sujeito em pauta já tenha sido julgado pela conduta a que se refere a denúncia, e não puder ser julgado “por conta de fraude à lei e à aplicação dos dispositivos de competência do Tribunal”;49 d) o processo também poderá ser rejeitado na hipótese de o referido caso não ser gravoso o suficiente para justificar a intervenção do Tribunal.50 Os sujeitos que poderão impugnar a abertura de inquérito admissibilidade do processo para o Tribunal são: a) o arguido ou a pessoa contra a qual tenha sido emitido um mandado ou ordem de detenção ou comparecimento;51 b) um Estado que detenha o poder de jurisdição sobre o caso, por estar a investigar ou a julgar; ou por já o ter feito antes;52 c) um Estado cuja aceitação da competência do Tribunal seja exigida.53 3. OS 10 FATOS SOBRE O PROCESSO LEGAL a) O Tribunal Penal Internacional não processa os que eram menores de 18 anosquando o crime foi cometido; 47 ibid 48 ibid 49 ibid 50 ibid 51 ibid 52 ibid 53 ibid 25 b) Antes que o Promotor possa investigar, ele deve conduzir um exame preliminar considerando se as evidências são suficientes, a jurisdição, a complementariedade e os interesses da justiça; c) Enquanto investiga, o Promotor deve colher e divulgar tanto as evidências incriminadoras quanto as que provam inocência; d) O acusado é considerado inocente até que se prove culpado. O dever de provar a culpa do acusado é do Promotor; e) Durante todos os estágios dos procedimentos (pré-julgamento, julgamento e apelação), o acusado tem o direito de ouvir o julgamento em língua em que ele tenha pleno domínio, por isso, os julgamentos do Tribunal Penal Internacional conduzem seus procedimentos e julgamentos em diversas línguas, com times de intérpretes e tradutores; f) Os juízes do pré-julgamento emitem mandados de prisão e asseguram que há evidências suficientes antes de o caso ir a julgamento; g) Antes do caso ser mandado a julgamento, durante o pré-julgmento, o sujeito em pauta é chamado de suspeito, mas uma vez que o caso é mandado a julgamento, o sujeito passa a ser chamado de acusado; h) Os juízes de julgamento ouvem o Promotor, a Defesa e os advogados das vítimas para chegar a um veredito, e se o réu for considerado culpado, é dada a sentença e a decisão de reparações; i) Juízes de apelação dão decisões somente em apelações, tanto do Promotor quanto da Defesa; j) Se um caso é encerrado sem um veredito de culpa, pode ser reaberto se o Promotor apresentar novas evidências. 54 54 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/about/how-the-court- works/Pages/default.aspx#organization último acesso em 22 de Maio de 2018 26 4. SISTEMA DO ESTATUTO DE ROMA O Estatuto de Roma estabelece três órgãos diferentes: a Assembleia dos Estados Partes, o Tribunal Penal Internacional e o Fundo em favor das vítimas. A Assembleia é composta pelos Estados signatários do Estatuto de Roma, sendo assim, os representantes desses Estados se reúnem para, por exemplo, discutir e aprovar o orçamento do Tribunal, eleger juízes e promotores.55 O Tribunal Penal Internacional é desmembrado em quatro órgãos distintos, sendo eles: presidência, que é exercida por um dos juízes especialmente eleito para a função; seção de julgamento, que é formada por dezoito juízes, que são distribuídos em pré-julgamento, julgamento e recursos, conduzindo todos os procedimentos judiciais.56 E por último, o Fundo em favor das vítimas, que não faz parte do Tribunal, mas foi criado pela Assembleia dos Estados Partes seguindo o artigo 79 do Estatuto de Roma. 57 O objetivo deste fundo é apoiar e implementar programas para as vítimas dos quatro crimes previstos pelo Estatuto. O Fundo tem duas tarefas principais: 1. Realizar as reparações determinadas pelo Tribunal, e 2. Providenciar assistência física, psicológica e suporte material para as vítimas e suas famílias. Ao ajudar as vítimas a voltarem para uma vida digna e contributiva dentro de suas comunidades, o Fundo contribui com uma paz mais sustentável e duradoura, promovendo a justiça e reconciliação.58 55 ibid 56 ibid 57 Anexo. 58 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/tfv último acesso em 23 de Maio de 2018 27 CAPÍTULO III: CASOS CONCRETOS DO TPI No presente capítulo, serão apresentados quatro casos concretos, que ainda se encontram em pré-julgamento, julgamento, apelação e um que já foi concluído. Serão apontados os réus, os crimes alegados, e como estão sendo conduzidos os trâmites legais. 1. PROMOTORIA VS. OMAR HASSAN AHMAD AL BASHIR O primeiro caso está em pré-julgamento é o de Omar Hassan Ahmad Al Bashir, que é o presidente em exercício da República do Sudão e é acusado de crimes contra a humanidade, crimes de guerra e de crimes de genocídio que ocorreram em Darfur, no Sudão. Sendo suspeito de ser o mandante de ataques contra os grupos étnicos Fur, Masalit e Zaghawa de Darfur, pois supostamente acredita que os mesmos grupos de civis eram ligados ao Exército da Libertação Sudanês e ao Movimento da Justiça e Igualdade. É acusado de ser responsável pela morte de civis, pertencentes aos grupos étnicos citados acima, bem como de mandar que milhares de mulheres desses grupos fossem estupradas, de submeter a população civil a tortura e envenenar o solo e água de suas vilas, para que morressem de fome.59 Em 04 de Março de 2009 e 12 de Julho de 2010 foram emitidos mandados de prisão contra o Presidente do Sudão, mas não foram cumpridos, pois o Sudão não é um dos países signatários do Estatuto de Roma que regula o Tribunal Penal Internacional. O único motivo do TPI estar investigando um Estado não parte, é devido a submissão do caso ao mesmo, pelo Conselho de Segurança da ONU, através da resolução 1593 de 2005, que afasta qualquer imunidade atribuída a Al Bashir.60 Em 14 de Junho de 2015, o TPI solicitou a África do Sul que realizasse a prisão do Presidente do Sudão, que estava no país para participar da cúpula da União Africana, porém a solicitação não foi cumprida, sob pretexto de que Al Bashir teria imunidade diplomática. Ocorreu fato semelhante novamente, quando 59 Disponível em: <https://www.icc-cpi.int/darfur/albashir> último acesso em 23 de Maio de 2018 60 “Decision on the Cooperation of the Democratic Republic of the Congo Regarding Omar Al Bashir’s Arrest and Surrender to the Court”,The Hague 9 April 2014, ICC-02/05-01/09-195, para. 29 28 em 08 de Maio de 2016, Al Bashir compareceu à cerimônia de posse do Presidente Ismair Omer Gaili, de Djibuti, o TPI emitiu mandado de prisão contra Al Bashir às autoridades do país, que restaram inertes, sob a mesma justificativa da África do Sul.61 Ambos os países foram a julgados pela inércia quanto à prisão de Al Bashir pela II Câmara de Instrução, que refutou todas as justificativas de ambos os países, e deixando as devidas providências a serem decididas e tomadas pela Assembleia dos Estados-Partes do Estatuto de Roma, bem como para o Conselho de Segurança das Nações Unidas.69 Atualmente o julgamento se encontra suspenso, pois uma das prerrogativas do TPI é de não julgar um indivíduo sem a presença do mesmo.62 2. PROMOTORIA VS. ABDALLAH BANDA ABAKAER NOURAIN O segundo caso, que está atualmente na fase de julgamento, é o de Abdallah Banda Abakaer Nourain, que até ser acusado pelo TPI, era o Comandante Chefe do Justice and Equality Mouvement Collective-Leadership, e é acusado de cometer três crimes de guerra em Darfur, no Sudão, que são a violência contra a vida, na forma de assassinato, intencionalmente direcionar ataques contra unidades, veículos e pessoal em missão de paz no país, e “pillaging”, que significa roubo de um local com o uso de violência, especialmente em tempos de guerra.63 Banda compareceu voluntariamente à primeira audiência, em 17 de Julho de 2010, em 07 de Março de 2011, a I Câmara de Pré-Julgamento considerou como verdadeiros os crimes que o Promotor apresentou contra Banda e Saleh Jerbo, e os enviou a julgamento.64 Em 11 de Setembro de 2014 foi emitido um mandado de prisão contra Banda, que ainda não foi cumprido, pois sua localização é desconhecida. Em 03 de Março de 2015 Abdallah Banda recorreu 61 Disponível em: http://centrodireitointernacional.com.br/tpi-decide-que-o-descumprimento-de-mandados-de-prisao-contra-omar-al-bashir-por-uganda-e-djibuti-viola-o-estatuto-de-roma/ último acesso em 22 de Maio de 2018 62 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/darfur/albashir último acesso em 22 de Maio de 2018 63 Disponível em: <https://www.icc-cpi.int/darfur/banda> último acesso em 22 de Maio de 2018 64 Disponível em: http://www.haguejusticeportal.net/index.php?id=11790 último acesso em 22 de Maio de 2018 29 da decisão da IV Câmara de Instrução, de emitir mandado de prisão contra ele. Atualmente ainda não foi marcada uma próxima audiência, por conta da localização desconhecida de Banda, pois como já foi esclarecido anteriormente, o TPI só inicia um julgamento quando o réu está presente, e apesar dos pedidos do TPI à República do Sudão, de que entregassem o acusado caso ele estivesse no país, os mesmos não foram atendidos, 65 fazendo com que ficasse confirmada a teoria de que Banda somente compareceria ao julgamento se fosse preso e levado ao mesmo. 3. PROMOTORIA VS. JEAN-PIERRE BEMBA GOMBO O terceiro caso, que está em fase de apelação, é o de Jean-Pierre Bemba Gombo, que antes de sua prisão, era o Presidente e Comandante Chefe do Movimento de Libertação do Congo. Foi preso para julgamento em 24 de Maio de 2008, sob as acusações de dois crimes contra a humanidade e três crimes de guerra, cometidos entre 2002 e 2003 na República Centro-Africana.66 Em 03 de Março de 2009 a III Câmara de Pré-Julgamento fez a confirmação das acusações contra Bemba, em 22 de Novembro de 2010 a III Câmara de Instrução começou o julgamento do acusado, com as partes, Promotor, Defesa e o Representante Legal das Vítimas, fazendo a abertura da audiência com as considerações iniciais. Em 23 de Novembro de 2010 foram apresentadas as evidencias de que o acusado era responsável pelos crimes citados. Foram 330 dias de trabalho da Corte, e 77 testemunhas foram escutadas, sendo 40 testemunhas de acusação, 34 de defesa, 2 pelo Representante Legal das Vítimas e 1 pelo Tribunal. Em 13 e 14 de Novembro de 2014 foram feitas as alegações finais.67 No dia 21 de Março de 2016, a III Câmara de Instrução declarou Bemba culpado, por unanimidade. Em 21 de Junho de 2016 a Câmara prolatou sentença condenando Jean-Pierre Bemba Gombo a 18 anos de prisão, deduzindo o tempo de prisão que já tinha da sentença.68 65 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/darfur/banda/Documents/BandaEng.pdf último acesso em 22 de Maio de 2018 66 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/car/bemba último acesso em 22 de Maio de 2018 67 Disponível em: <https://www.icc-cpi.int/car/bemba/Documents/BembaEng.pdf> último acesso em 22 de Maio de 2018 68 ibid 30 Atualmente, tanto o julgamento quanto a sentença estão em fase de apelação, tendo sido marcadas as audiências para 09, 10 e 11 de Janeiro de 2018, em que a Defesa argumentou que o Sr. Bemba deveria ter a sentença reduzida, por não ter estado presente durante a ocorrência de nenhum dos crimes pelos quais foi condenado, logo, por não ter sido responsável direto dos crimes, sua pena seria exagerada. Ainda o Sr. Bemba foi autorizado a falar na Corte, porém um de seus advogados falou por ele, agradecendo a Câmara de Apelação pela compaixão e pela oportunidade de se defender.69 4. PROMOTORIA VS. UHURU MUIGAI KENYATTA O quarto e último caso é o de Uhuru Muigai Kenyatta, que, quando foi convocado, era o Vice Primeiro Ministro e Ministro de Finanças da República do Quênia, e foi acusado de cinco crimes contra a humanidade entre 2007 e 2008 pós eleições, sendo eles: assassinato, estupro, deportação ou transferência forçada de população, perseguição e outros atos desumanos.70 Em 31 de Março de 2010 a II Câmara de Pré-Julgamento concedeu, por maioria, autorização ao Promotor para que abrisse investigação sobre os supostos crimes contra a humanidade ocorridos no Quênia. Em 08 de Março de 2011 a Câmara convocou Francis Kirimi Muthaura, Uhuru Muigai Kenyatta e Mohammed Hussein Ali para irem a Corte. Em 31 de Março de 2011 o Governo queniano peticionou para o Tribunal questionando a admissibilidade do caso perante a Corte, sendo a petição rejeitada em 30 de Maio de 2011 pela II Câmara de Pré-Julgamento, e após, confirmando a rejeição, a Câmara de Apelação proferiu a mesma decisão em 30 de Agosto de 2011. 71 Em 08 de Abril de 2011 a Câmara marcou a data para confirmação das acusações, ficando esta para 21 de Setembro de 2011, durando até 05 de Outubro do mesmo ano. Em 05 de Dezembro de 2014 o Promotor do caso retirou as queixas por insuficiência probatória e em 13 de Março de 2015 a Câmara de 69 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=807et9M14cI&feature=youtu.be último acesso em 22 de Maio de 2018 70 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/kenya/kenyatta/Documents/KenyattaEng.pdf último acesso em 22 de Maio de 2018 71 ibid 31 Instrução não viu alternativa se não encerrar o caso contra Kenyatta.72 Atualmente, o caso se encontra encerrado, podendo ser reaberto caso hajam novas evidências. Uhuru Muigai Kenyatta é hoje o Presidente da República do Quênia, ocupando o cargo desde 09 de Abril de 2013. 72 ibid 32 CONSIDERAÇÕES FINAIS As guerras estiveram sempre presentes na história da humanidade, e por conta deste fato, a comunidade internacional sempre viu a necessidade de limitar o uso da força dos Estados. Neste contexto, surgem diversos tratados humanitários, convenções para regulamentar estes tratados, e uma das maiores conquistas para o Direito Humanitário Internacional foi à criação do Tribunal Penal Internacional. Antes da criação do mesmo, houve os Tribunais ad hoc, que vieram a causar muitas controvérsias devido ao Princípio da Anterioridade Penal, pois esses Tribunais foram criados após os crimes terem sido cometidos, entre diversas outras divergências que foram discutidas ao longo de anos, até ser criado o Estatuto de Roma. Os Tribunais ad hoc significaram a quebra de um paradigma, onde somente entes abstratos eram sujeitos do Direito Internacional, a partir da criação destas Cortes Penais, foi possível entender, numa escala mundial, que um Estado não deve, necessariamente, responder pelos crimes cometidos por um grupo de indivíduos. O “necessariamente” é trazido devido ao fato do TPI julgar apenas quatro crimes, que estão determinados no Estatuto de Roma, e por existirem outras Cortes Internacionais que tem a competência para julgar os Estados na esfera criminal, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Conclui-se que, apesar de muitas controvérsias quanto aos Tribunais ad hoc, os mesmos foram de extrema importância para a criação do TPI, é possível observar também, que a abrangência que os crimes de guerra, crimes contra a humanidade, crime de violência e genocídio é absurda, e a definição dos mesmos busca exatamente isso, abranger o máximo possível, para que não haja impunidade. Constata-se ainda que os trâmites processuais do TPI são nada mais do que justos, pois as decisões que são proferidas pelas Câmeras de Instrução, por exemplo, não são tomadas por um único juiz, mas sim por vários, de diferentes nacionalidades, nunca pendendo mais para um lado do que para o outro, é simplesmente equilibrado. 33 O trabalho é encerrado, portanto, com a conclusão de que o Tribunal Penal Internacional é um marco histórico no Direito Internacional, talvez o maior do século XXI, pois, quando os Estados ratificaram e ratificam o Estatuto de Roma,eles se comprometem com a paz, tanto para sua população, quanto para a população mundial. 34 BIBLIOGRAFIA Decision on the cooperation of Democratic Republic of the Congo regarding Omar Al Bashir's arrest and surrender to the court, 02/05-01--195 (International Criminal Court, The Hague 09 de 04 de 2014). Inazumi, Mitsui. 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Yugoslavia, International Criminal Tribunal for the former (s.d.). icty. Disponível em: http://www.icty.org/en/about/what-former-yugoslavia/conflicts Acesso em 22 de Maio de 2018. 37 Anexo Artigo 8º do Estatuto de Roma Crimes de Guerra 1. O Tribunal terá competência para julgar os crimes de guerra, em particular quando cometidos como parte integrante de um plano ou de uma política ou como parte de uma prática em larga escala desse tipo de crimes. 2. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crimes de guerra": a) As violações graves às Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 1949, a saber, qualquer um dos seguintes atos, dirigidos contra pessoas ou bens protegidos nos termos da Convenção de Genebra que for pertinente: i) Homicídio doloso; ii) Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experiências biológicas; iii) O ato de causar intencionalmente grande sofrimento ou ofensas graves à integridade física ou à saúde; iv) Destruição ou a apropriação de bens em larga escala, quando não justificadas por quaisquer necessidades militares e executadas de forma ilegal e arbitrária; v) O ato de compelir um prisioneiro de guerra ou outra pessoa sob proteção a servir nas forças armadas de uma potência inimiga; vi) Privação intencional de um prisioneiro de guerra ou de outra pessoa sob proteção do seu direito a um julgamento justo e imparcial; vii) Deportação ou transferência ilegais, ou a privação ilegal de liberdade; viii) Tomada de reféns; 38 b) Outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos armados internacionais no âmbito do direito internacional, a saber, qualquer um dos seguintes atos: i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que não participem diretamente nas hostilidades; ii) Dirigir intencionalmente ataques a bens civis, ou seja bens que não sejam objetivos militares; iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material, unidades ou veículos que participem numa missão de manutenção da paz ou de assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre que estes tenham direito à proteção conferida aos civis ou aos bens civis pelo direito internacional aplicável aos conflitos armados; iv) Lançar intencionalmente um ataque, sabendo que o mesmo causará perdas acidentais de vidas humanas ou ferimentos na população civil, danos em bens de caráter civil ou prejuízos extensos, duradouros e graves no meio ambiente que se revelem claramente excessivos em relação à vantagem militar global concreta e direta que se previa; v) Atacar ou bombardear, por qualquer meio, cidades, vilarejos, habitações ou edifícios que não estejam defendidos e que não sejam objetivos militares; vi) Matar ou ferir um combatente que tenha deposto armas ou que, não tendo mais meios para se defender, se tenha incondicionalmente rendido; vii) Utilizar indevidamente uma bandeira de trégua, a bandeira nacional, as insígnias militares ou o uniforme do inimigo ou das Nações Unidas, assim como os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, causando deste modo a morteou ferimentos graves; viii) A transferência, direta ou indireta, por uma potência ocupante de parte da sua população civil para o território que ocupa ou a deportação ou transferência da totalidade ou de parte da população do território ocupado, dentro ou para fora desse território; 39 ix) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às artes, às ciências ou à beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate de objetivos militares; x) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de uma parte beligerante a mutilações físicas ou a qualquer tipo de experiências médicas ou científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico, dentário ou hospitalar, nem sejam efetuadas no interesse dessas pessoas, e que causem a morte ou coloquem seriamente em perigo a sua saúde; xi) Matar ou ferir à traição pessoas pertencentes à nação ou ao exército inimigo; xii) Declarar que não será dado quartel; xiii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que tais destruições ou apreensões sejam imperativamente determinadas pelas necessidades da guerra; xiv) Declarar abolidos, suspensos ou não admissíveis em tribunal os direitos e ações dos nacionais da parte inimiga; xv) Obrigar os nacionais da parte inimiga a participar em operações bélicas dirigidas contra o seu próprio país, ainda que eles tenham estado ao serviço daquela parte beligerante antes do início da guerra; xvi) Saquear uma cidade ou uma localidade, mesmo quando tomada de assalto; xvii) Utilizar veneno ou armas envenenadas; xviii) Utilizar gases asfixiantes, tóxicos ou outros gases ou qualquer líquido, material ou dispositivo análogo; xix) Utilizar balas que se expandem ou achatam facilmente no interior do corpo humano, tais como balas de revestimento duro que não cobre totalmente o interior ou possui incisões; 40 xx) Utilizar armas, projéteis; materiais e métodos de combate que, pela sua própria natureza, causem ferimentos supérfluos ou sofrimentos desnecessários ou que surtam efeitos indiscriminados, em violação do direito internacional aplicável aos conflitos armados, na medida em que tais armas, projéteis, materiais e métodos de combate sejam objeto de uma proibição geral e estejam incluídos em um anexo ao presente Estatuto, em virtude de uma alteração aprovada em conformidade com o disposto nos artigos 121 e 123; xxi) Ultrajar a dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos humilhantes e degradantes; xxii) Cometer atos de violação, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez à força, tal como definida na alínea f) do parágrafo 2o do artigo 7o, esterilização à força e qualquer outra forma de violência sexual que constitua também um desrespeito grave às Convenções de Genebra; xxiii) Utilizar a presença de civis ou de outras pessoas protegidas para evitar que determinados pontos, zonas ou forças militares sejam alvo de operações militares; xxiv) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e veículos sanitários, assim como o pessoal que esteja usando os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, em conformidade com o direito internacional; xxv) Provocar deliberadamente a inanição da população civil como método de guerra, privando-a dos bens indispensáveis à sua sobrevivência, impedindo, inclusive, o envio de socorros, tal como previsto nas Convenções de Genebra; xxvi) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou utilizá-los para participar ativamente nas hostilidades; c) Em caso de conflito armado que não seja de índole internacional, as violações graves do artigo 3o comum às quatro Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 1949, a saber, qualquer um dos atos que a seguir se indicam, cometidos contra pessoas que não participem diretamente nas hostilidades, incluindo os membros das forças armadas que tenham deposto armas e os que 41 tenham ficado impedidos de continuar a combater devido a doença, lesões, prisão ou qualquer outro motivo: i) Atos de violência contra a vida e contra a pessoa, em particular o homicídio sob todas as suas formas, as mutilações, os tratamentos cruéis e a tortura; ii) Ultrajes à dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos humilhantes e degradantes; iii) A tomada de reféns; iv) As condenações proferidas e as execuções efetuadas sem julgamento prévio por um tribunal regularmente constituído e que ofereça todas as garantias judiciais geralmente reconhecidas como indispensáveis. d) A alínea c) do parágrafo 2o do presente artigo aplica-se aos conflitos armados que não tenham caráter internacional e, por conseguinte, não se aplica a situações de distúrbio e de tensão internas, tais como motins, atos de violência esporádicos ou isolados ou outros de caráter semelhante; e) As outras violações graves das leis e costumes aplicáveis aos conflitos armados que não têm caráter internacional, no quadro do direito internacional, a saber qualquer um dos seguintes atos: i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que não participem diretamente nas hostilidades; ii) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e veículos sanitários, bem como ao pessoal que esteja usando os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, em conformidade com o direito internacional; iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material, unidades ou veículos que participem numa missão de manutenção da paz ou de assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre que estes tenham direito à proteção conferida pelo direito internacional dos conflitos armados aos civis e aos bens civis; 42 iv) Atacar intencionalmente edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às artes, às ciências ou à beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate de objetivos militares; v) Saquear um aglomerado populacional ou um local, mesmo quando tomado de assalto; vi) Cometer atos de agressão sexual, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez à força, tal como definida na alínea f do parágrafo 2o do artigo 7o; esterilização à força ou qualquer outra forma de violência sexual que constitua uma violação grave do artigo 3o comum às quatro Convenções de Genebra; vii) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou em grupos, ou utilizá-los para participar ativamente nas hostilidades; viii) Ordenar a deslocação da população civil por razões relacionadas com o conflito, salvo se assim o exigirem a segurança dos civis em questão ou razões militares imperiosas; ix) Matar ou ferir à traição um combatente de uma parte beligerante; x) Declarar que não será dado quartel; xi) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de outra parte beligerante a mutilações físicas ou a qualquer tipo de experiências médicas ou científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico, dentário ou hospitalar nem sejam efetuadas no interesse dessa pessoa, e que causem a morte ou ponham seriamente a sua saúde em perigo; xii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que as necessidades da guerra assim o exijam; f) A alínea e) doparágrafo 2o do presente artigo aplicar-se-á aos conflitos armados que não tenham caráter internacional e, por conseguinte, não se aplicará a situações de distúrbio e de tensão internas, tais como motins, atos de violência esporádicos ou isolados ou outros de caráter semelhante; aplicar-se-á, ainda, a conflitos armados que tenham lugar no território de um Estado, quando exista um 43 conflito armado prolongado entre as autoridades governamentais e grupos armados organizados ou entre estes grupos. 3. O disposto nas alíneas c) e e) do parágrafo 2o, em nada afetará a responsabilidade que incumbe a todo o Governo de manter e de restabelecer a ordem pública no Estado, e de defender a unidade e a integridade territorial do Estado por qualquer meio legítimo. Artigo 79 Fundo em Favor das Vítimas 1. Por decisão da Assembleia dos Estados Partes, será criado um Fundo a favor das vítimas de crimes da competência do Tribunal, bem como das respectivas famílias. 2. O Tribunal poderá ordenar que o produto das multas e quaisquer outros bens declarados perdidos revertam para o Fundo. 3. O Fundo será gerido em harmonia com os critérios a serem adotados pela Assembleia dos Estados Partes.
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