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Monografia TPI

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CENTRO UNIVERSITÁRIO LA SALLE - RJ 
 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
BEATRIZ MANSO MACHADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NITERÓI – RJ. 
JUNHO DE 2018. 
CENTRO UNIVERSITÁRIO LA SALLE – RJ 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
Beatriz Manso Machado 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso 
de Direito para obtenção do 
certificado de Bacharel em 
Direito, como parte dos requisitos 
para conclusão de curso. 
 
 
Orientador: Professor Doutor 
Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro 
 
 
 
Niterói - RJ. 
Junho de 2018. 
BEATRIZ MANSO MACHADO 
 
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao 
Centro Universitário La Salle-RJ 
como requisito parcial para a 
obtenção do título de Bacharel 
no curso de Direito 
Aprovada em: / /2018. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
Prof. Jeancezar Ditzz de Souza 
Ribeiro (Orientador) CENTRO 
UNIVERSITÁRIO LA SALLE – RJ 
 
 
Prof. 
CENTRO UNIVERSITÁRIO LA SALLE – RJ 
 
 
Prof. 
CENTRO UNIVERSITÁRIO LA SALLE – RJ 
 
 
GRAU 
NITERÓI – 
RJ, 2018. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Dar início aos agradecimentos talvez tenha sido a parte mais difícil de 
todo este trabalho, não por não saber a quem agradecer, mas por não 
conseguir escolher as palavras para expressar tal gratidão. 
 Começo agradecendo aos meus pais, que me incentivaram e apoiaram, 
sempre me dando forças para continuar. À minha irmã Thaís, que é como se 
fosse o meu norte num mar revolto, sempre me guiando, sempre estando lá 
para mim, até mesmo para ouvir várias vezes eu treinando a defesa do 
trabalho, e ainda fazendo comentários, mesmo sem entender uma frase do que 
eu falava. Obrigada pela paciência irmã, te amo! 
 Agradeço ao meu padrinho, sem a ajuda dele, eu provavelmente não 
estaria me formando. Obrigada dindo, por toda cobrança e insistência, você 
provavelmente foi quem me deu persistência durante todos esses cinco anos, 
sempre querendo que eu fosse o meu melhor. 
 Agradeço à Stephannie, minha amiga de infância, que mesmo morando 
em outro país nunca deixou de me incentivar e estar ao meu lado, que sempre 
atendeu minhas ligações de madrugada, enquanto eu não conseguia dormir 
por causa da ansiedade das provas, ou de apresentação de trabalhos, ou só 
pra passar o tempo. Você sempre me deu força mesmo quando você não 
conseguia achar a sua. 
Agradeço à Lu, minha melhor amiga, que sempre acreditou em mim, que 
me enxerga de um jeito único, que nunca me deixou desistir, que sempre teve 
uma palavra de conforto e esteve ao meu lado mesmo em momentos em que 
eu não queria companhia. Obrigada, te amo! 
 À Maitê, minha colega de turma, que se tornou uma grande amiga, por 
todo o incentivo, pela ajuda e pelo apoio durante as horas difíceis que 
compartilhamos durante o curso de direito, e por ter entrado na minha vida pra 
ficar. Obrigada Golden Girl!! 
 À Mariana, a pessoa mais inesperada para eu criar uma amizade, já que 
somos tão diferentes, que esteve comigo desde o primeiro dia, compartilhando 
toda a pressão, todas as notas boas e ruins. E você sempre pensou que era eu 
quem te incentivava, mas na verdade provavelmente foi você quem me 
incentivou a ser melhor, a estudar mais, porque eu sempre queria te ajudar... 
engraçado, né? Obrigada Maricota, você é 10! 
Aproveito para agradecer, por fim, a UniLaSalle, por fornecer um 
ambiente no qual podemos aprender com excelência, através de professores 
maravilhosos, que nos incentivam sempre e nos ensinam com amor. Obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A garantia dos direitos no plano 
internacional só será 
implementada quando uma 
jurisdição internacional se 
impuser concretamente sobre as 
jurisdições nacionais, deixando 
de operar dentro dos Estados, 
mas contra os Estados e em 
defesa dos cidadãos.” 
 Norberto Bobbio, A era dos 
direitos. 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
 
TPI Tribunal Penal Internacional 
ONU Organização das Nações Unidas 
RPF Rwanda Patriotic Front 
RTLM Radio Television Libres Des Mille Collines 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem como finalidade mostrar toda a trajetória que o 
Direito Internacional percorreu para a criação de um Tribunal Penal Internacional 
de natureza permanente. Visa também explicar seu funcionamento, destacando o 
genocídio, os crimes de guerra, os crimes contra a humanidade e os crimes de 
agressão, que são de competência do TPI. Além de apresentar casos concretos 
em andamento e já encerrados do Tribunal. 
 
Palavras-chave: Funcionamento, genocídio, crimes de guerra, crimes contra a 
humanidade, crimes de agressão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
LISTA DE SIGLAS ................................................................................................. 7 
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10 
CAPÍTULO I: ANTECEDENTES DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL .... 11 
1. O LEGADO DO TRIBUNAL DE NUREMBERG .......................................................... 11 
2. O TRIBUNAL AD HOC PARA A EX-IUGOSLÁVIA ...................................................... 13 
3. O TRIBUNAL AD HOC PARA A GUERRA CIVIL DE RUANDA ....................................... 15 
CAPÍTULO II: FUNCIONAMENTO E ESTRUTURA DO TRIBUNAL PENAL 
INTERNACIONAL ................................................................................................ 19 
1. DOS CRIMES ................................................................................................... 19 
2. COMPETÊNCIA LEGAL ...................................................................................... 23 
3. OS 10 FATOS SOBRE O PROCESSO LEGAL .......................................................... 24 
4. SISTEMA DO ESTATUTO DE ROMA ..................................................................... 26 
CAPÍTULO III: CASOS CONCRETOS DO TPI ................................................... 27 
1. PROMOTORIA VS. OMAR HASSAN AHMAD AL BASHIR .......................................... 27 
2. PROMOTORIA VS. ABDALLAH BANDA ABAKAER NOURAIN .................................... 28 
3. PROMOTORIA VS. JEAN-PIERRE BEMBA GOMBO................................................. 29 
4. PROMOTORIA VS. UHURU MUIGAI KENYATTA ..................................................... 30 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 32 
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 34 
 
 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O objetivo do presente trabalho monográfico é analisar os acontecimentos 
prévios à criação do Tribunal Penal Internacional, bem como sua estrutura interna 
e observar a investigação e julgamento de casos concretos, de modo a perceber 
a importância do tribunal na esfera internacional para o direito humanitário. 
 No primeiro capítulo será demonstrada, de forma detalhada, a história 
prévia aos Tribunais ad hoc, um pouco dos crimes cometidos, os fatores chaves 
do irrompimento das guerras civis na Ex-Iugoslávia e em Ruanda. No segundo 
capítulo, será possível visualizar a estrutura eficiente do Tribunal, os crimes que 
competem ao mesmo, à competêncialegal, fatos sobre o TPI que podem ser 
desconhecidos para a maioria, e o sistema do Estatuto de Roma. Já no terceiro e 
último capítulo são apontados quatro casos concretos em diferentes fases 
processuais. 
Ao longo do trabalho será possível apontar aspectos históricos que 
desencadearam a necessidade de um mecanismo de justiça internacional 
permanente, com competência jurisdicional complementar, e que é capaz de 
julgar alguns dos crimes mais bárbaros que o ser humano pode cometer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
CAPÍTULO I: ANTECEDENTES DO TRIBUNAL PENAL 
INTERNACIONAL 
Em 1948 foi feita a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no período 
pós-segunda guerra, momento em que o mundo estava em choque com as 
atrocidades cometidas durante a Era Hitler. A Declaração Universal dos Direitos 
Humanos foi criada a fim de resguardar a integridade, tanto física quanto mental, 
e os direitos do ser humano quando o Estado falhasse em fazê-lo. 
A partir daí, o conceito de soberania Estatal começa a ser redefinido, pois 
até então era tida como absoluta e ilimitada, já que começou a ser reconhecido 
que o indivíduo também é sujeito de Direito internacional, e não apenas o 
Estado.1 Os tribunais ad hoc foram criando inúmeros precedentes, para mais 
tarde haver a criação do Tribunal Penal Internacional. 
1. O LEGADO DO TRIBUNAL DE NUREMBERG 
Ao fim da segunda guerra, e após muita conversa sobre as formas de punir 
os nazistas por seus crimes, os aliados chegaram a um consenso através do 
Acordo de Londres, em 1945, ficando estabelecida a criação de um Tribunal 
Internacional Militar. 2 
Em 20 de Novembro de 1945, houve a criação formal do Tribunal Militar 
Internacional, com o intuito de julgar os crimes cometidos pelos nazistas durante a 
2ª Guerra. O tribunal foi sediado na cidade de Nuremberg, na Alemanha, ficando 
conhecido popularmente como Tribunal de Nuremberg, contudo, já em 18 de 
Outubro os principais promotores já haviam lido as acusações contra 24 Altos 
Oficiais nazistas. 3 
Tanto a composição do Tribunal quanto seus procedimentos básicos foram 
fixados com base no Acordo de Londres, sendo assim, destacam Henry J. Steiner 
e Philip Alston que: 
 
1
 Manual de Direitos Humanos Internacionais, Acesso aos sistemas Global e Regional de proteção 
dos Direitos Humanos, Jayme Benvenuto Lima Jr, Fabiana Gorenstein, Leonardo Jun Ferreira 
Hidaka, Cap. I, pág. 23, 3§. São Paulo. Edições Loyola: 2002 
2
 Direitos Humanos e Justiça Internacional, Piovesan, Flávia, 5ª edição, capítulo III, pag. 73. São 
Paulo. Sarava: 2014 
3
 Disponível em:<https://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10007069> Enciclopédia 
do Holocausto, Tribunal Militar Internacional de Nuremberg, último acesso em 22 de Maio de 2018 
12 
 
“ao definir os crimes abarcados pela jurisdição do Tribunal, a 
Carta [anexada ao Acordo de Londres de 1945] foi além dos 
tradicionais „crimes de guerra‟ (parágrafo (b) do artigo 6) em dois 
aspectos. Primeiro a Carta incluiu os „crimes contra a paz‟ – os 
denominados jus ad bellum , que contrastavam com a categoria 
de direitos de guerra ou jus in bello. Segundo, a expressão „crimes 
contra a humanidade‟ poderia ter sido lida [não o foi] de modo a 
incluir a totalidade do programa do governo nazista de 
exterminação dos judeus e de outros grupos civis, dentro e fora da 
Alemanha, „antes ou durante a guerra‟, e a incluir, 
consequentemente, não apenas o Holocausto, mas também a 
elaboração dos planos e a perseguição inicial dos judeus e de 
outros grupos em um momento anterior ao Holocausto” (Henry J. 
Steiner e Philip Alston, International human rights in contexto – 
law, politics, and morals, p. 114, 115 e 123) 
 
O Tribunal usou do costume internacional para condenação de indivíduos 
implicados na prática de crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a 
humanidade, mencionados no Acordo de Londres. 4 
 Com o julgamento e condenação ocorridos no Tribunal de Nuremberg, foi 
consolidado o entendimento de que ao passo que crimes contra a ordem 
internacional são cometidos por uma pessoa e não por um ente abstrato, o 
indivíduo que realizou o ato deve ser responsabilizado, pois somente assim as 
previsões do Direito Internacional poderiam ser aplicadas. 
“A emergência do Direito Internacional dos Direitos Humanos com 
o julgamento de Nuremberg e a Declaração Universal de 1948 
têm sido concebidos como o mais radical desenvolvimento de 
toda a história do Direito Internacional, tendo em vista tão 
rapidamente terem estabelecido que os indivíduos, tal como os 
Estados, são sujeitos de Direito Internacional” (Humprey, The 
revolution in the international law of human rights, 4 Human Rights 
Law Journal, 205, 208-209, 1974-1975) 
Sendo assim, a condenação dos Altos Oficiais se deu baseada na violação 
dos costumes internacionais, gerando polêmica em torno da alegação de afronta 
ao Princípio da Anterioridade da Lei Penal, sob o argumento de que quando os 
crimes foram cometidos, não eram considerados crimes pelo Tribunal de 
 
4
 Direitos Humanos e Justiça Internacional, Piovesan, Flávia, 5ª edição, capítulo III, pag. 75. São 
Paulo. Saraiva: 2014 
13 
 
Nuremberg.5 Para Hans Kelsen, em “Will the judgment in the Nuremberg Trial 
constitute a precedente in international law?”, de 1947, o princípio da 
retroatividade da lei não seria válido no plano do Direito Internacional, valendo 
apenas para o Direito Interno e com exceções. Além da crítica de que estaria 
havendo afronta do Princípio da Anterioridade da Lei Penal, o tribunal foi criticado 
pelo fato de os “vencedores” da guerra estarem julgando os “vencidos”, por ser 
um tribunal de exceção e precário, já que foi criado post facto para julgar crimes 
específicos, entre diversas outras críticas. 6 Apesar de todos os problemas, o 
Tribunal de Nuremberg passou a ser um ícone na justicialização dos direitos 
humanos. Pela primeira vez um Estado foi julgado, e considerado responsável, na 
esfera internacional por fato ocorrido dentro de seu território com seu próprio 
povo7. Seu legado, apesar de controverso, permitiu o avanço dos direitos 
humanos na ordem internacional. 
2. O TRIBUNAL AD HOC PARA A EX-IUGOSLÁVIA 
No fim dos anos 80 e início dos 90 a antiga Iugoslávia era formada por seis 
repúblicas: Bósnia e Herzegovina, Croácia, Macedônia, Montenegro, Sérvia e 
Eslovênia, e duas regiões separadas eram conhecidas como províncias 
autônomas com a República da Sérvia, Kosovo e Vojvodina. Nesta época houve o 
colapso do comunismo e o nacionalismo começou a ressurgir no Leste Europeu, 
causando uma grande instabilidade política e econômica.8 Partidos políticos foram 
criados, parte reivindicando a independência das repúblicas e outras pedindo 
mais poder para certas repúblicas dentro da federação. Em 1991, a Eslovênia e a 
Croácia culparam o povo sérvio de dominar o governo, o exército e as finanças da 
Iugoslávia, e em contra partida a Sérvia acusou as duas repúblicas de 
separatismo. No mesmo ano, a Eslovênia declarou sua independência, 
desencadeando uma intervenção do exército iugoslavo, tornando-se um breve 
 
5
 Direitos Humanos e Justiça Internacional, Piovesan, Flávia, 5ª edição, capítulo III, pag. 77. São 
Paulo. Saraiva: 2014 
6
 Direitos Humanos e Justiça Internacional, Piovesan, Flávia, 5ª edição, capítulo III, pag. 78 
7
 Henry Steiner, International law and human rights, material do curso ministrado na Harvard Law 
School, Spring, Cambridge, Massachusetts. Harvard Law School: 1994 
8
 Disponível em:<http://www.icty.org/en/about/what-former-yugoslavia/conflicts>,último acesso em 
22 de Maio de 2018 
14 
 
conflito militar, conhecido como “Guerra dos 10 dias”. A Eslovênia saiu vitoriosa, 
fazendo com que o exército se retirasse de seu território.9 
A Croácia, no entanto, ao tentar obter sua independência, no mesmo dia da 
Eslovênia, se arrastou em diversos conflitos com os sérvios que viviam em seu 
território, pois os mesmos se recusavam a reconhecer a independência da 
república. Assim, com a ajuda do exército iugoslavo, os sérvios se rebelaram, 
reivindicando pelo menos um terço do território croata, para que fosse um Estado 
Independente dos sérvios. Croatas e não sérvios foram expulsos do território, com 
uma violenta campanha de limpeza étnica.10 
A ONU chegou a declarar um cessar-fogo em 1992, mas sem sucesso, 
pois a Croácia estava determinada a retomar seu território, sendo assim, 
formaram um exército próprio e o equiparam, e após duas grandes ofensivas 
realizadas no território reclamado pelos sérvios, o retomaram, finalizando a guerra 
em 1995.11 
Em 1992 começaram os conflitos na Bósnia e Herzegovina. Os bósnios-
sérvios organizaram um boicote, fazendo com que mais de 60% da população 
votasse na independência da república. Em seguida, se rebelaram com o apoio 
do exército da Iugoslávia e da Sérvia, declarando que os territórios que estavam 
sob seu controle seriam parte da República Sérvia na Bósnia e Herzegovina, 
tomando 60% do país. Os bósnios-croatas logo declararam sua própria república 
com o apoio da Croácia. Esse foi um dos maiores, se não o maior, conflito por 
território dentro da antiga Iugoslávia, abrigando crimes absurdos e perseguições 
étnicas. A pior das atrocidades desta guerra ocorreu no verão de 1995, quando 
uma cidade Bósnia, chamada de Srebrenica, foi atacada, após a ONU declará-la 
como segura, pelo comandante bósnio-sérvio. Mais de 8 mil homens e meninos 
foram executados pelas forças sérvias em um ato de genocídio. A guerra de 
independência acabou no mesmo ano.12 
 
9
 ibid 
10
 ibid 
11
 ibid 
12
 ibid 
15 
 
Em 1993, o Conselho de segurança da ONU estabeleceu a criação de um 
Tribunal para julgar crimes de guerra, através da Resolução n. 827, a fim de 
apurar as violações dos Direitos Humanos no âmbito Internacional que teriam 
ocorrido no território da antiga Iugoslávia.13 
O conflito mais recente ocorreu em 2001, em Macedônia. O país declarou 
independência no outono de 1999 de forma pacífica, tendo a maior parte da 
população de macedônios e uma minoria de albaneses. Em janeiro de 2001 o 
exército dos albaneses acabou com as forças de segurança da República, com o 
objetivo de obter mais autonomia ou independência. O conflito durou por poucos 
meses, tendo como desfecho um acordo pacífico, concordando as duas partes 
em dividirem o poder.14 
Atualmente, o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia encerrou 
suas atividades, pois já serviu ao seu propósito. Durou de 1993-2017, mudando 
por completo o panorama dos Direitos Humanos no âmbito internacional, levando 
os culpados por todas as atrocidades cometidas durante os conflitos, à prisão, 
bem como trazendo justiça para as vítimas.15 
Este tribunal acabou por ser mais uma prova de que os incitadores de 
violência e os que a cometem, durante conflitos armados, por pura maldade, 
podem sim ser responsabilizados por seus crimes, e as vítimas não serão 
somente vítimas, elas tem, ali, a oportunidade de tomar as rédeas de suas vidas 
testemunhando e colaborando com a prisão de seus carrascos e podendo viver 
com a certeza de que estes não farão com mais ninguém o que lhes fizeram. 
3. O TRIBUNAL AD HOC PARA A GUERRA CIVIL DE RUANDA 
 Em 1994, a população de Ruanda era composta por 85% Hutu, 14% Tutsi 
e 1% Twa. Os Tutsis sempre ocuparam altas posições na sociedade, desde a 
 
13
 Direitos Humanos e Justiça Internacional, Piovesan, Flávia, 5ª edição, capítulo III, pag. 80-81. 
São Paulo. Saraiva: 2014 
14
 Disponível em: <http://www.icty.org/en/about/what-former-yugoslavia/conflicts> último acesso 
em 22 de Maio de 2018 
15
 Disponível em: <http://www.icty.org> último acesso em 22 de Maio de 2018 
16 
 
época colonial, podendo haver mobilidade social se um Hutu possuísse grande 
número de gado ou outra riqueza semelhante à dos Tutsi.16 
 Até a 1ª Guerra Mundial, a colonizadora de Ruanda era a Alemanha, que 
perdeu a posse da mesma, restando a Bélgica como administradora da antiga 
colônia. No fim dos anos 50, durante a descolonização, as tensões entre os povos 
aumentaram, e foi no ano de 1959 que o primeiro ataque, por parte dos Hutus, 
atingiu os Tutsis, matando milhares de pessoas, e forçando as que sobreviveram 
a se refugiar em países vizinhos. Esse marco ficou conhecido como “A Revolução 
Social”, perdurando até 1961, significando o fim do poder dos Tutsi. Em 1962, 
quando Ruanda conquistou sua independência, mais de 120.000 pessoas, 
principalmente Tutsis, se refugiaram em países vizinhos para escapar da violência 
que vinha crescendo com a entrada dos Hutus no poder.17 
 Os Tutsi que se refugiaram na Tanzânia e Zaire, começaram a organizar e 
realizar ataques contra os Hutus e contra o seu governo. Esses ataques levaram 
os Hutus a retaliarem os ataques matando grandes números de Tutsis que ainda 
viviam em Ruanda, criando uma nova onda de refugiados. Já no fim dos anos 80, 
mais de 480.000 ruandeses haviam se tornado refugiados em algum país vizinho. 
Apesar de refugiados, os mesmos continuaram a reivindicar seus direitos de 
voltar ao seu país de origem, contudo, o presidente de Ruanda, Juvenal 
Habyarimana, defendeu que as tensões eram muitas e haviam poucos empregos, 
logo, não havia como os refugiados retornarem ao seu país, pois eles eram 
muitos18. 
 Em 1988 foi fundado o Fronte Patriótico de Ruanda (RPF, em inglês) em 
Kampala, Uganda, como um movimento militar e político, defendia a repatriação 
dos refugiados e a reforma do governo de Ruanda, inclusive o compartilhamento 
do poder. O RPF era constituído principalmente por Tutsis exilados em Uganda, 
mas havia, também, alguns Hutus.19 
 
16
 Disponível em: http://www.un.org/en/preventgenocide/rwanda/education/rwandagenocide.shtml 
último acesso em 22 de Maio de 2018 
17
 ibid 
18
 ibid 
19
 ibid 
17 
 
 Em Outubro de 1990, o RPF lançou um enorme ataque em Ruanda, de 
Uganda, com sete mil guerrilheiros. Devido aos ataques do RPF e a uma 
propaganda massiva por parte do governo, todos os Tutsi dentro do país foram 
marcados como cúmplices do RPF, e os Hutus que eram membros da oposição 
dentro do governo foram rotulados como traidores. A mídia continuou a espalhar 
rumores infundados, aumentando os problemas étnicos.20 
 Em agosto de 1993, através dos esforços da Organisation of African Unity 
e dos governos da região, foi assinado do Tratado de paz de Arusha, e parecia 
que os conflitos entre Hutus e a oposição Fronte Patriótico de Ruanda finalmente 
teriam um fim. Em Outubro de 1993, o conselho de segurança estabeleceu a 
Missão de assistência para Ruanda das Nações Unidas, com o objetivo de dar 
assistência humanitária, bem como apoiar o processo de pacificação em Ruanda. 
Contudo, alguns partidos políticos, que fizeram parte do acordo, começaram a 
atrasar a implementação de medidas, as violações dos direitos humanos ficaram 
mais evidentes e corriqueiras, e a situação da segurança se deteriorou. Mais 
tarde, foram encontradas evidências irrefutáveis de que extremistas da maioria 
Hutu, que falavam de paz, na verdade planejavam uma campanha para 
exterminar os Tutsie Hutus moderados.21 
 Em 6 de abril de 1994, a morte dos Presidentes Burundi Ciprien e Juvenal 
Habyarimana, num acidente de avião causado por um míssil, desencadeou 
semanas de massacres intensos e sistemáticos. As mortes chocaram a 
comunidade internacional, e se mostravam claramente como atos de genocídio. 
Aproximadamente 250,000 mulheres foram estupradas. Os membros da guarda 
presidencial começaram a matar civis Tutsis em Kigali, perto do aeroporto. Menos 
de meia hora após o ataque, estradas foram fechadas por paramilitares e 
militares, afim de identificar Tutsis.22 
 Em 7 de abril a Radio Television Libres Des Mille Collines (RTLM) atribuiu, 
durante a transmissão, o acidente do avião ao RFP e soldados enviados pela 
ONU, bem como incitaram a “eliminação” dos Tutsi. Mais tarde, nesse dia, a 
 
20
 ibid 
21
 ibid 
22
 ibid 
18 
 
Primeira Ministra Agathe Uwilingiyimana e 10 pacificadores belgas, que foram 
designados para proteger a Primeira Ministra, foram brutalmente assassinados 
pelos soldados do governo de Ruanda. Outros líderes Hutu moderados também 
foram assassinados de forma similar. 23 
 A ausência de comprometimento para a conciliação de alguns partidos de 
Ruanda era um problema, mas a tragédia também ocorria devido a falta de 
resposta da comunidade internacional. A capacidade da ONU de diminuir do 
sofrimento humano em Ruanda foi severamente prejudicada pela falta de ajuda 
dos Estados Membros, que deveriam ter ajudado a reforçar o mandato da Missão 
de assistência para Ruanda das Nações Unidas, bem como enviado mais 
tropas.24 
 Em 22 de junho, o Conselho de Segurança autorizou a França a iniciar 
outra missão humanitária, chamada de Operação Turquoise, salvando centenas 
de civis no sudoeste de Ruanda. Em outras áreas, as mortes continuaram até 4 
de julho de 1994, que foi quando o RFP tomou o controle militar de todo o 
território de Ruanda.25 
 Em 8 de Novembro de 1994, por recomendação do Conselho de 
Segurança da ONU, foi aprovada, por intermédio da Resolução 955, a criação do 
Tribunal Penal Internacional para Ruanda, para julgar as sérias violações dos 
direitos humanos na esfera internacional, previstas na Convenção de Genebra e 
de Crimes Contra a Humanidade ocorridos em Ruanda. O tribunal, com sede em 
Arusha, na Tanzânia, teria competência para julgar pessoas que instigaram o 
genocídio, que planejaram, executaram e ajudaram. Neste tribunal, o Estado não 
seria responsabilizado pelos crimes cometidos por seu povo, mas sim os 
indivíduos, um por um, que estavam envolvidos de alguma forma nos crimes, não 
importando sua nacionalidade.26 
 
23
 ibid 
24
 ibid 
25
 ibid 
26
 TRIBUNAIS INTERNACIONAIS, Jurisdição e Competência, MENEZES, Wagner, p. 211. São 
Paulo. Saraiva: 2013 
19 
 
CAPÍTULO II: FUNCIONAMENTO E ESTRUTURA DO TRIBUNAL 
PENAL INTERNACIONAL 
 A partir dos tribunais penais internacionais ad hoc para julgar os crimes 
cometidos tanto na segunda guerra mundial, quanto nos conflitos separatistas da 
ex-Iugoslávia e civis em Ruanda, bem como o enraizamento dos Direitos 
Humanitários no âmbito internacional, a comunidade internacional começou a 
analisar a criação de um tribunal permanente e especializado, que pudesse julgar 
crimes cometidos contra a sociedade internacional de forma imparcial e que 
tivesse normas pré-estabelecidas.27 Neste sentido, em julho de 1998 foi 
aprovado o Estatuto do Tribunal Penal Internacional, em conferência que reuniu 
delegações de 148 países, com 120 votos a favor, 07 contra e 21 abstenções, 
ficando estipulado que o Tribunal só vigoraria se houvessem 60 ratificações. Em 
abril de 2002, o Estatuto de Roma já havia alcançado um número maior que o 
necessário para seu estabelecimento, tornando-se uma das maiores conquistas 
dos Direitos Humanos e do Direito Penal Internacional, dando fim às polêmicas 
instituições dos tribunais ad hoc, já que o Tribunal Penal Internacional tinha 
natureza permanente.28 
 O Tribunal Penal Internacional29 foi institucionalizado como uma OI 
(Organização Internacional), com sede em Haia, na Holanda, com personalidade 
jurídica de Direito Internacional, e com jurisdição complementar às nacionais 
sobre responsáveis por crimes graves, com cobertura internacional.30 
 1. DOS CRIMES 
O Estatuto de Roma, que fundou o Tribunal, determina que o mesmo terá 
jurisdição sobre, principalmente, quatro crimes: genocídio, crimes contra a 
humanidade, crimes de guerra e crimes de agressão.31 Os crimes julgados pelo 
 
27
 INAZUMI, Mitsue. Universal jurisdiction in modern international law: expansion of national 
jurisdiction for prosecuting serious crimes under international law. Oxford: Intersentia, 2005] 
28
 TRIBUNAIS INTERNACIONAIS, Jurisdição e Competência, MENEZES, Wagner, p. 217. São 
Paulo. Saraiva: 2013 
29
 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/ último acesso em 22 de Maio de 2018 
30
 INGADOTTIR, Thordis. The international criminal court: recommendations on policy and 
practice: financing, victims, judges and immunities. New York: Transnational Publishers, 2003 
31
Disponível em: https://www.icc-cpi.int/about/how-the-court-
works/Pages/default.aspx#organization último acesso em 22 de Maio de 2018 
20 
 
tribunal são imprescritíveis, e deve-se ressaltar que a competência do tribunal é 
complementar, logo, só deve ser acionado quando as autoridades nacionais 
forem omissas ou incapazes de julgar tais crimes em seus territórios. Outro ponto 
que devemos salientar é que o tribunal não tem competência retroativa, ou seja, 
só vale para crimes ocorridos após sua institucionalização32. 
O primeiro crime citado, de competência do TPI, é o genocídio33 que é 
caracterizado pela intenção de exterminar num todo ou em parte nações, etnias, 
raças ou grupos religiosos, assassinando seus membros, ou através de tortura, 
tanto física quanto mental, do grupo alvo. Imposição de condições de vida 
calculadas para prejudicar fisicamente o grupo alvo, também caracteriza o 
genocídio, bem como impor medidas para prevenir o nascimento de crianças no 
grupo, ou tirar uma criança e colocar em outro grupo, com o uso de força.34 
Artigo 6º do Estatuto de Roma 
Crime de Genocídio 
 Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por 
"genocídio", qualquer um dos atos que a seguir se enumeram, 
praticado com intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo 
nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal: (Inazumi, 2005) 
 a) Homicídio de membros do grupo; 
 b) Ofensas graves à integridade física ou mental de membros 
do grupo; 
 c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida com 
vista a provocar a sua destruição física, total ou parcial; 
 d) Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos 
no seio do grupo; 
 e) Transferência, à força, de crianças do grupo para outro 
grupo. 
Um exemplo de genocídio é a Segunda Guerra Mundial, onde os Nazistas 
matavam judeus em campos de extermínio espalhados por toda a Europa, tudo 
em prol da soberania Ariana e por acreditarem que os judeus eram um povo sujo. 
Foi genocídio com base étnica, racial e contra outras nações, pois além de 
 
32
 TRIBUNAIS INTERNACIONAIS, Jurisdição e Competência, MENEZES, Wagner, p. 217. São 
Paulo. Saraiva: 2013 
33
 Artigo 6º alíneas do Estatuto de Roma, Decreto 4388 de 25 de SETEMBRO de 2002 
34
 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/about/how-the-court-
works/Pages/default.aspx#organization último acesso em 22 de Maio de 2018 
21judeus, eles acreditavam que somente o povo ariano era puro, e a soberania 
ariana deveria prevalecer. Citando caso análogo, temos também a Guerra Civil 
em Ruanda, onde os Hutu, que eram maioria, cometeram diversas atrocidades 
contra os Tutsi, que também não deixaram barato, garantindo quase que 
destruição mútua. 
O segundo crime citado, são os crimes contra a humanidade, que são 
sérias violações cometidas como parte de uma escala maior de ataques contra 
qualquer população civil.35 
Artigo 7º do Estatuto de Roma 
Crimes contra a humanidade 
1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se como “crime 
contra a humanidade” , qualquer um dos atos seguintes, quando 
cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, 
contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse 
ataque: 
a) Homicídio; 
b) Extermínio; 
c) Escravidão; 
d) Deportação ou transferência forçada de uma população; 
e) Prisão ou outra forma de privação de liberdade física grave, em 
violação das normas fundamentais do direito internacional; 
f) Tortura; 
g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, 
gravidez forçada, esterilização forçada, ou qualquer outra 
violência no campo sexual de gravidade comparável; 
h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser 
identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, 
culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 
3o, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos 
como inaceitáveis no direito internacional, relacionados com 
qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da 
competência do Tribunal; 
i) Desaparecimento forçado de pessoas; 
j) Crime de apartheid; 
 
35
 ibid 
22 
 
k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem 
intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a 
integridade física ou a saúde física ou mental; 
Como exemplo, podemos citar os estupros ocorridos durante a Guerra Civil 
em Ruanda após a morte dos presidentes Burundi Ciprien e Juvenal 
Habyarimana36,bem como a maioria dos crimes ocorridos durante esta guerra, 
que foram julgados pelo Tribunal Penal Internacional para Ruanda. 
 O terceiro é o crime de guerra, que é uma grande falha nas Convenções de 
Genebra no contexto de conflitos armados, e inclui, por exemplo, o uso de 
crianças como soldados; o assassinato ou tortura de pessoas, tanto civis quanto 
prisioneiros de guerra; direcionar, intencionalmente, ataques contra hospitais, 
monumentos históricos, ou prédios em que atos religiosos são praticados, ou que 
sejam usados para educação, arte, ciência ou para propósitos de caridade.37 
 Podemos usar o artigo 8º do Estatuto de Roma38, 2 alínea “b”, XVIII, a 
utilização de gazes asfixiantes ou outros gazes em ataques contra civis, como 
exemplo de crime de guerra, na Síria, em 4 de Abril de 2017, no povoado de Khan 
Shaykhun, província de Idleb, nordeste da Síria, houve um ataque com uso de 
gás sarin, ficando o painel conjunto da ONU e da OPAQ (Organização para a 
Proibição de Armas Químicas) responsáveis pelas investigações do ataque, 
chegando a conclusão de que o governo de Bashar Al-Assad foi responsável 
pelos ataques.39 Este não é um caso atual do Tribunal Penal Internacional, pois 
não se encontra em seus registros40, mas com toda certeza virá a ser. 
 E o último crime de competência do Tribunal Penal Internacional é o crime 
de agressão, que significa o uso de força armada por parte de um Estado contra a 
soberania, integridade ou independência de outro Estado. A definição deste crime 
foi adotada através de emenda ao Estatuto de Roma, na primeira Conferência de 
 
36
 Disponível em: http://www.un.org/en/preventgenocide/rwanda/education/rwandagenocide.shtml 
último acesso em 22 de Maio de 2018 
37
 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/about/how-the-court-
works/Pages/default.aspx#organization último acesso em 22 de Maio de 2018 
38
 Anexo. 
39
 Disponível em: https://veja.abril.com.br/mundo/onu-governo-da-siria-foi-responsavel-por-ataque-
com-gas-sarin/ último acesso em 22 de Maio de 2018 
40
 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/Pages/search-results.aspx?k=bashar%20al-assad último 
acesso em 22 de Maio de 2018 
23 
 
Revisão do Estatuto, em Kampala, Uganda, em 2010.41 Em 15 de Dezembro de 
2017, a Assembleia dos Estados Partes adotou por consenso a resolução que 
atribui competência ao Tribunal pelo crime de agressão a partir de 17 de Julho de 
2018.42 
 2. COMPETÊNCIA LEGAL 
 Como é um Tribunal Internacional, o processamento do TPI não é 
igual ao do Brasil. O TPI pode exercer jurisdição sobre os crimes já citados, 
cometidos após 1º de Julho de 2002 e sobre crimes que foram cometidos por um 
nacional de um Estado Parte, ou no território de um Estado Parte, ou em um 
Estado que tenha aceitado a jurisdição do Tribunal; ou sobre os crimes que forem 
passados para o promotor do TPI pelo Conselho de Segurança das Nações 
Unidas, nos termos da resolução adotada no capítulo VII da Carta da ONU, sob o 
título “Ação Relativa a Ameaças à Paz, Ruptura da Paz e Atos de Agressão”.43 
Ainda, um Estado-Membro pode fazer denúncia ao procurador do TPI em 
qualquer situação, se houver indícios da prática de algum ou vários dos crimes de 
competência do TPI, indicando fundamentos do caso.44 
 No caso de inércia por parte do Conselho de Segurança em relação a atos 
de agressão, o promotor pode iniciar investigação por conta própria ou a pedido 
de um Estado-Membro, depois de obter autorização do juízo de instrução do 
Tribunal.45 O promotor deve também verificar se o Conselho de Segurança 
determinou que houve ato de agressão por parte do Estado preocupado.46 
 Quanto à admissibilidade do processo pelo TPI, o mesmo poderá ser 
rejeitado se: 
 
41
 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/about/how-the-court-
works/Pages/default.aspx#organization último acesso em 22 de Maio de 2018 
42
 ibid 
43
 ibid 
44
 MENEZES, Wagner; TRIBUNAIS INTERNACIONAIS, Jurisdição e Competência, p. 219-220, 
São Paulo, Saraiva: 2013 
45
 ibid 
46
 MENEZES, Wagner; TRIBUNAIS INTERNACIONAIS, Jurisdição e Competência, p. 219-220, 
São Paulo, Saraiva: 2013 
24 
 
a) o caso estiver sendo investigado ou com inquérito aberto sob jurisdição 
doméstica do Estado, salvo se o mesmo não levar adiante as investigações ou 
não tiver capacidade efetiva para fazê-lo;47 
b) o objeto do inquérito, sob jurisdição do Estado, e o mesmo tenha decidido não 
continuar com o procedimento criminal contra a pessoa acusada, exceto se esta 
decisão seja resultado do Estado não querer ou não ter os meios para prosseguir 
com tais diligências;48 
c) caso o sujeito em pauta já tenha sido julgado pela conduta a que se refere a 
denúncia, e não puder ser julgado “por conta de fraude à lei e à aplicação dos 
dispositivos de competência do Tribunal”;49 
d) o processo também poderá ser rejeitado na hipótese de o referido caso não ser 
gravoso o suficiente para justificar a intervenção do Tribunal.50 
 Os sujeitos que poderão impugnar a abertura de inquérito admissibilidade 
do processo para o Tribunal são: 
a) o arguido ou a pessoa contra a qual tenha sido emitido um mandado ou ordem 
de detenção ou comparecimento;51 
b) um Estado que detenha o poder de jurisdição sobre o caso, por estar a 
investigar ou a julgar; ou por já o ter feito antes;52 
c) um Estado cuja aceitação da competência do Tribunal seja exigida.53 
 3. OS 10 FATOS SOBRE O PROCESSO LEGAL 
a) O Tribunal Penal Internacional não processa os que eram menores de 18 anosquando o crime foi cometido; 
 
47
 ibid 
48
 ibid 
49
 ibid 
50
 ibid 
51
 ibid 
52
 ibid 
53
 ibid 
25 
 
b) Antes que o Promotor possa investigar, ele deve conduzir um exame preliminar 
considerando se as evidências são suficientes, a jurisdição, a 
complementariedade e os interesses da justiça; 
c) Enquanto investiga, o Promotor deve colher e divulgar tanto as evidências 
incriminadoras quanto as que provam inocência; 
d) O acusado é considerado inocente até que se prove culpado. O dever de 
provar a culpa do acusado é do Promotor; 
e) Durante todos os estágios dos procedimentos (pré-julgamento, julgamento e 
apelação), o acusado tem o direito de ouvir o julgamento em língua em que ele 
tenha pleno domínio, por isso, os julgamentos do Tribunal Penal Internacional 
conduzem seus procedimentos e julgamentos em diversas línguas, com times de 
intérpretes e tradutores; 
f) Os juízes do pré-julgamento emitem mandados de prisão e asseguram que há 
evidências suficientes antes de o caso ir a julgamento; 
g) Antes do caso ser mandado a julgamento, durante o pré-julgmento, o sujeito 
em pauta é chamado de suspeito, mas uma vez que o caso é mandado a 
julgamento, o sujeito passa a ser chamado de acusado; 
h) Os juízes de julgamento ouvem o Promotor, a Defesa e os advogados das 
vítimas para chegar a um veredito, e se o réu for considerado culpado, é dada a 
sentença e a decisão de reparações; 
i) Juízes de apelação dão decisões somente em apelações, tanto do Promotor 
quanto da Defesa; 
j) Se um caso é encerrado sem um veredito de culpa, pode ser reaberto se o 
Promotor apresentar novas evidências. 54 
 
54
 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/about/how-the-court-
works/Pages/default.aspx#organization último acesso em 22 de Maio de 2018 
26 
 
 4. SISTEMA DO ESTATUTO DE ROMA 
 O Estatuto de Roma estabelece três órgãos diferentes: a Assembleia dos 
Estados Partes, o Tribunal Penal Internacional e o Fundo em favor das vítimas. 
 A Assembleia é composta pelos Estados signatários do Estatuto de Roma, 
sendo assim, os representantes desses Estados se reúnem para, por exemplo, 
discutir e aprovar o orçamento do Tribunal, eleger juízes e promotores.55 
 O Tribunal Penal Internacional é desmembrado em quatro órgãos distintos, 
sendo eles: presidência, que é exercida por um dos juízes especialmente eleito 
para a função; seção de julgamento, que é formada por dezoito juízes, que são 
distribuídos em pré-julgamento, julgamento e recursos, conduzindo todos os 
procedimentos judiciais.56 
 E por último, o Fundo em favor das vítimas, que não faz parte do Tribunal, 
mas foi criado pela Assembleia dos Estados Partes seguindo o artigo 79 do 
Estatuto de Roma. 57 
 O objetivo deste fundo é apoiar e implementar programas para as vítimas 
dos quatro crimes previstos pelo Estatuto. O Fundo tem duas tarefas principais: 1. 
Realizar as reparações determinadas pelo Tribunal, e 2. Providenciar assistência 
física, psicológica e suporte material para as vítimas e suas famílias. Ao ajudar as 
vítimas a voltarem para uma vida digna e contributiva dentro de suas 
comunidades, o Fundo contribui com uma paz mais sustentável e duradoura, 
promovendo a justiça e reconciliação.58 
 
 
 
 
55
 ibid 
56
 ibid 
57
 Anexo. 
58
 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/tfv último acesso em 23 de Maio de 2018 
27 
 
 CAPÍTULO III: CASOS CONCRETOS DO TPI 
 No presente capítulo, serão apresentados quatro casos concretos, que 
ainda se encontram em pré-julgamento, julgamento, apelação e um que já foi 
concluído. Serão apontados os réus, os crimes alegados, e como estão sendo 
conduzidos os trâmites legais. 
 1. PROMOTORIA VS. OMAR HASSAN AHMAD AL BASHIR 
 O primeiro caso está em pré-julgamento é o de Omar Hassan Ahmad Al 
Bashir, que é o presidente em exercício da República do Sudão e é acusado de 
crimes contra a humanidade, crimes de guerra e de crimes de genocídio que 
ocorreram em Darfur, no Sudão. Sendo suspeito de ser o mandante de ataques 
contra os grupos étnicos Fur, Masalit e Zaghawa de Darfur, pois supostamente 
acredita que os mesmos grupos de civis eram ligados ao Exército da Libertação 
Sudanês e ao Movimento da Justiça e Igualdade. É acusado de ser responsável 
pela morte de civis, pertencentes aos grupos étnicos citados acima, bem como de 
mandar que milhares de mulheres desses grupos fossem estupradas, de 
submeter a população civil a tortura e envenenar o solo e água de suas vilas, para 
que morressem de fome.59 
 Em 04 de Março de 2009 e 12 de Julho de 2010 foram emitidos mandados 
de prisão contra o Presidente do Sudão, mas não foram cumpridos, pois o Sudão 
não é um dos países signatários do Estatuto de Roma que regula o Tribunal 
Penal Internacional. O único motivo do TPI estar investigando um Estado não 
parte, é devido a submissão do caso ao mesmo, pelo Conselho de Segurança da 
ONU, através da resolução 1593 de 2005, que afasta qualquer imunidade 
atribuída a Al Bashir.60 
 Em 14 de Junho de 2015, o TPI solicitou a África do Sul que realizasse a 
prisão do Presidente do Sudão, que estava no país para participar da cúpula da 
União Africana, porém a solicitação não foi cumprida, sob pretexto de que Al 
Bashir teria imunidade diplomática. Ocorreu fato semelhante novamente, quando 
 
59
 Disponível em: <https://www.icc-cpi.int/darfur/albashir> último acesso em 23 de Maio de 2018 
60
 “Decision on the Cooperation of the Democratic Republic of the Congo Regarding Omar Al 
Bashir’s Arrest and Surrender to the Court”,The Hague 9 April 2014, ICC-02/05-01/09-195, para. 
29 
28 
 
em 08 de Maio de 2016, Al Bashir compareceu à cerimônia de posse do 
Presidente Ismair Omer Gaili, de Djibuti, o TPI emitiu mandado de prisão contra Al 
Bashir às autoridades do país, que restaram inertes, sob a mesma justificativa da 
África do Sul.61 
 Ambos os países foram a julgados pela inércia quanto à prisão de Al Bashir 
pela II Câmara de Instrução, que refutou todas as justificativas de ambos os 
países, e deixando as devidas providências a serem decididas e tomadas pela 
Assembleia dos Estados-Partes do Estatuto de Roma, bem como para o 
Conselho de Segurança das Nações Unidas.69 Atualmente o julgamento se 
encontra suspenso, pois uma das prerrogativas do TPI é de não julgar um 
indivíduo sem a presença do mesmo.62 
 2. PROMOTORIA VS. ABDALLAH BANDA ABAKAER NOURAIN 
O segundo caso, que está atualmente na fase de julgamento, é o de 
Abdallah Banda Abakaer Nourain, que até ser acusado pelo TPI, era o 
Comandante Chefe do Justice and Equality Mouvement Collective-Leadership, e é 
acusado de cometer três crimes de guerra em Darfur, no Sudão, que são a 
violência contra a vida, na forma de assassinato, intencionalmente direcionar 
ataques contra unidades, veículos e pessoal em missão de paz no país, e 
“pillaging”, que significa roubo de um local com o uso de violência, especialmente 
em tempos de guerra.63 
 Banda compareceu voluntariamente à primeira audiência, em 17 de Julho 
de 2010, em 07 de Março de 2011, a I Câmara de Pré-Julgamento considerou 
como verdadeiros os crimes que o Promotor apresentou contra Banda e Saleh 
Jerbo, e os enviou a julgamento.64 Em 11 de Setembro de 2014 foi emitido um 
mandado de prisão contra Banda, que ainda não foi cumprido, pois sua 
localização é desconhecida. Em 03 de Março de 2015 Abdallah Banda recorreu 
 
61
 Disponível em: http://centrodireitointernacional.com.br/tpi-decide-que-o-descumprimento-de-mandados-de-prisao-contra-omar-al-bashir-por-uganda-e-djibuti-viola-o-estatuto-de-roma/ último 
acesso em 22 de Maio de 2018 
62
 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/darfur/albashir último acesso em 22 de Maio de 2018 
63
 Disponível em: <https://www.icc-cpi.int/darfur/banda> último acesso em 22 de Maio de 2018 
64
 Disponível em: http://www.haguejusticeportal.net/index.php?id=11790 último acesso em 22 de 
Maio de 2018 
29 
 
da decisão da IV Câmara de Instrução, de emitir mandado de prisão contra ele. 
Atualmente ainda não foi marcada uma próxima audiência, por conta da 
localização desconhecida de Banda, pois como já foi esclarecido anteriormente, o 
TPI só inicia um julgamento quando o réu está presente, e apesar dos pedidos do 
TPI à República do Sudão, de que entregassem o acusado caso ele estivesse no 
país, os mesmos não foram atendidos, 65 fazendo com que ficasse confirmada a 
teoria de que Banda somente compareceria ao julgamento se fosse preso e 
levado ao mesmo. 
 3. PROMOTORIA VS. JEAN-PIERRE BEMBA GOMBO 
O terceiro caso, que está em fase de apelação, é o de Jean-Pierre Bemba 
Gombo, que antes de sua prisão, era o Presidente e Comandante Chefe do 
Movimento de Libertação do Congo. Foi preso para julgamento em 24 de Maio de 
2008, sob as acusações de dois crimes contra a humanidade e três crimes de 
guerra, cometidos entre 2002 e 2003 na República Centro-Africana.66 
 Em 03 de Março de 2009 a III Câmara de Pré-Julgamento fez a 
confirmação das acusações contra Bemba, em 22 de Novembro de 2010 a III 
Câmara de Instrução começou o julgamento do acusado, com as partes, 
Promotor, Defesa e o Representante Legal das Vítimas, fazendo a abertura da 
audiência com as considerações iniciais. Em 23 de Novembro de 2010 foram 
apresentadas as evidencias de que o acusado era responsável pelos crimes 
citados. Foram 330 dias de trabalho da Corte, e 77 testemunhas foram escutadas, 
sendo 40 testemunhas de acusação, 34 de defesa, 2 pelo Representante Legal 
das Vítimas e 1 pelo Tribunal. Em 13 e 14 de Novembro de 2014 foram feitas as 
alegações finais.67 No dia 21 de Março de 2016, a III Câmara de Instrução 
declarou Bemba culpado, por unanimidade. Em 21 de Junho de 2016 a Câmara 
prolatou sentença condenando Jean-Pierre Bemba Gombo a 18 anos de prisão, 
deduzindo o tempo de prisão que já tinha da sentença.68 
 
65
 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/darfur/banda/Documents/BandaEng.pdf último acesso em 
22 de Maio de 2018 
66
 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/car/bemba último acesso em 22 de Maio de 2018 
67
 Disponível em: <https://www.icc-cpi.int/car/bemba/Documents/BembaEng.pdf> último acesso 
em 22 de Maio de 2018 
68
 ibid 
30 
 
Atualmente, tanto o julgamento quanto a sentença estão em fase de 
apelação, tendo sido marcadas as audiências para 09, 10 e 11 de Janeiro de 
2018, em que a Defesa argumentou que o Sr. Bemba deveria ter a sentença 
reduzida, por não ter estado presente durante a ocorrência de nenhum dos crimes 
pelos quais foi condenado, logo, por não ter sido responsável direto dos crimes, 
sua pena seria exagerada. Ainda o Sr. Bemba foi autorizado a falar na Corte, 
porém um de seus advogados falou por ele, agradecendo a Câmara de Apelação 
pela compaixão e pela oportunidade de se defender.69 
 4. PROMOTORIA VS. UHURU MUIGAI KENYATTA 
O quarto e último caso é o de Uhuru Muigai Kenyatta, que, quando foi 
convocado, era o Vice Primeiro Ministro e Ministro de Finanças da República do 
Quênia, e foi acusado de cinco crimes contra a humanidade entre 2007 e 2008 
pós eleições, sendo eles: assassinato, estupro, deportação ou transferência 
forçada de população, perseguição e outros atos desumanos.70 
 Em 31 de Março de 2010 a II Câmara de Pré-Julgamento concedeu, por 
maioria, autorização ao Promotor para que abrisse investigação sobre os 
supostos crimes contra a humanidade ocorridos no Quênia. Em 08 de Março de 
2011 a Câmara convocou Francis Kirimi Muthaura, Uhuru Muigai Kenyatta e 
Mohammed Hussein Ali para irem a Corte. Em 31 de Março de 2011 o Governo 
queniano peticionou para o Tribunal questionando a admissibilidade do caso 
perante a Corte, sendo a petição rejeitada em 30 de Maio de 2011 pela II Câmara 
de Pré-Julgamento, e após, confirmando a rejeição, a Câmara de Apelação 
proferiu a mesma decisão em 30 de Agosto de 2011. 71 
 Em 08 de Abril de 2011 a Câmara marcou a data para confirmação das 
acusações, ficando esta para 21 de Setembro de 2011, durando até 05 de 
Outubro do mesmo ano. Em 05 de Dezembro de 2014 o Promotor do caso retirou 
as queixas por insuficiência probatória e em 13 de Março de 2015 a Câmara de 
 
69
 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=807et9M14cI&feature=youtu.be último 
acesso em 22 de Maio de 2018 
70
 Disponível em: https://www.icc-cpi.int/kenya/kenyatta/Documents/KenyattaEng.pdf último acesso 
em 22 de Maio de 2018 
71
 ibid 
31 
 
Instrução não viu alternativa se não encerrar o caso contra Kenyatta.72 
Atualmente, o caso se encontra encerrado, podendo ser reaberto caso hajam 
novas evidências. Uhuru Muigai Kenyatta é hoje o Presidente da República do 
Quênia, ocupando o cargo desde 09 de Abril de 2013. 
 
 
72
 ibid 
32 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
As guerras estiveram sempre presentes na história da humanidade, e por 
conta deste fato, a comunidade internacional sempre viu a necessidade de limitar 
o uso da força dos Estados. Neste contexto, surgem diversos tratados 
humanitários, convenções para regulamentar estes tratados, e uma das maiores 
conquistas para o Direito Humanitário Internacional foi à criação do Tribunal Penal 
Internacional. 
 Antes da criação do mesmo, houve os Tribunais ad hoc, que vieram a 
causar muitas controvérsias devido ao Princípio da Anterioridade Penal, pois 
esses Tribunais foram criados após os crimes terem sido cometidos, entre 
diversas outras divergências que foram discutidas ao longo de anos, até ser 
criado o Estatuto de Roma. Os Tribunais ad hoc significaram a quebra de um 
paradigma, onde somente entes abstratos eram sujeitos do Direito Internacional, 
a partir da criação destas Cortes Penais, foi possível entender, numa escala 
mundial, que um Estado não deve, necessariamente, responder pelos crimes 
cometidos por um grupo de indivíduos. O “necessariamente” é trazido devido ao 
fato do TPI julgar apenas quatro crimes, que estão determinados no Estatuto de 
Roma, e por existirem outras Cortes Internacionais que tem a competência para 
julgar os Estados na esfera criminal, como a Corte Interamericana de Direitos 
Humanos. 
 Conclui-se que, apesar de muitas controvérsias quanto aos Tribunais ad 
hoc, os mesmos foram de extrema importância para a criação do TPI, é possível 
observar também, que a abrangência que os crimes de guerra, crimes contra a 
humanidade, crime de violência e genocídio é absurda, e a definição dos mesmos 
busca exatamente isso, abranger o máximo possível, para que não haja 
impunidade. Constata-se ainda que os trâmites processuais do TPI são nada mais 
do que justos, pois as decisões que são proferidas pelas Câmeras de Instrução, 
por exemplo, não são tomadas por um único juiz, mas sim por vários, de 
diferentes nacionalidades, nunca pendendo mais para um lado do que para o 
outro, é simplesmente equilibrado. 
33 
 
 O trabalho é encerrado, portanto, com a conclusão de que o Tribunal Penal 
Internacional é um marco histórico no Direito Internacional, talvez o maior do 
século XXI, pois, quando os Estados ratificaram e ratificam o Estatuto de Roma,eles se comprometem com a paz, tanto para sua população, quanto para a 
população mundial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
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em: http://www.icty.org/en/about/what-former-yugoslavia/conflicts Acesso 
em 22 de Maio de 2018. 
37 
 
Anexo 
Artigo 8º do Estatuto de Roma 
Crimes de Guerra 
 1. O Tribunal terá competência para julgar os crimes de guerra, em particular 
quando cometidos como parte integrante de um plano ou de uma política ou como 
parte de uma prática em larga escala desse tipo de crimes. 
 2. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crimes de guerra": 
 a) As violações graves às Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 
1949, a saber, qualquer um dos seguintes atos, dirigidos contra pessoas ou bens 
protegidos nos termos da Convenção de Genebra que for pertinente: 
 i) Homicídio doloso; 
 ii) Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experiências 
biológicas; 
 iii) O ato de causar intencionalmente grande sofrimento ou ofensas graves à 
integridade física ou à saúde; 
 iv) Destruição ou a apropriação de bens em larga escala, quando não 
justificadas por quaisquer necessidades militares e executadas de forma ilegal e 
arbitrária; 
 v) O ato de compelir um prisioneiro de guerra ou outra pessoa sob proteção 
a servir nas forças armadas de uma potência inimiga; 
 vi) Privação intencional de um prisioneiro de guerra ou de outra pessoa sob 
proteção do seu direito a um julgamento justo e imparcial; 
 vii) Deportação ou transferência ilegais, ou a privação ilegal de liberdade; 
 viii) Tomada de reféns; 
38 
 
 b) Outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos 
armados internacionais no âmbito do direito internacional, a saber, qualquer um 
dos seguintes atos: 
 i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que 
não participem diretamente nas hostilidades; 
 ii) Dirigir intencionalmente ataques a bens civis, ou seja bens que não sejam 
objetivos militares; 
 iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material, 
unidades ou veículos que participem numa missão de manutenção da paz ou de 
assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre que 
estes tenham direito à proteção conferida aos civis ou aos bens civis pelo direito 
internacional aplicável aos conflitos armados; 
 iv) Lançar intencionalmente um ataque, sabendo que o mesmo causará 
perdas acidentais de vidas humanas ou ferimentos na população civil, danos em 
bens de caráter civil ou prejuízos extensos, duradouros e graves no meio 
ambiente que se revelem claramente excessivos em relação à vantagem militar 
global concreta e direta que se previa; 
 v) Atacar ou bombardear, por qualquer meio, cidades, vilarejos, habitações 
ou edifícios que não estejam defendidos e que não sejam objetivos militares; 
 vi) Matar ou ferir um combatente que tenha deposto armas ou que, não 
tendo mais meios para se defender, se tenha incondicionalmente rendido; 
 vii) Utilizar indevidamente uma bandeira de trégua, a bandeira nacional, as 
insígnias militares ou o uniforme do inimigo ou das Nações Unidas, assim como 
os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, causando deste modo a 
morteou ferimentos graves; 
 viii) A transferência, direta ou indireta, por uma potência ocupante de parte 
da sua população civil para o território que ocupa ou a deportação ou 
transferência da totalidade ou de parte da população do território ocupado, dentro 
ou para fora desse território; 
39 
 
 ix) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios consagrados ao culto 
religioso, à educação, às artes, às ciências ou à beneficência, monumentos 
históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que 
não se trate de objetivos militares; 
 x) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de uma parte 
beligerante a mutilações físicas ou a qualquer tipo de experiências médicas ou 
científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico, dentário ou 
hospitalar, nem sejam efetuadas no interesse dessas pessoas, e que causem a 
morte ou coloquem seriamente em perigo a sua saúde; 
 xi) Matar ou ferir à traição pessoas pertencentes à nação ou ao exército 
inimigo; 
 xii) Declarar que não será dado quartel; 
 xiii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que tais destruições ou 
apreensões sejam imperativamente determinadas pelas necessidades da guerra; 
 xiv) Declarar abolidos, suspensos ou não admissíveis em tribunal os direitos 
e ações dos nacionais da parte inimiga; 
 xv) Obrigar os nacionais da parte inimiga a participar em operações bélicas 
dirigidas contra o seu próprio país, ainda que eles tenham estado ao serviço 
daquela parte beligerante antes do início da guerra; 
 xvi) Saquear uma cidade ou uma localidade, mesmo quando tomada de 
assalto; 
 xvii) Utilizar veneno ou armas envenenadas; 
 xviii) Utilizar gases asfixiantes, tóxicos ou outros gases ou qualquer líquido, 
material ou dispositivo análogo; 
 xix) Utilizar balas que se expandem ou achatam facilmente no interior do 
corpo humano, tais como balas de revestimento duro que não cobre totalmente o 
interior ou possui incisões; 
40 
 
 xx) Utilizar armas, projéteis; materiais e métodos de combate que, pela sua 
própria natureza, causem ferimentos supérfluos ou sofrimentos desnecessários 
ou que surtam efeitos indiscriminados, em violação do direito internacional 
aplicável aos conflitos armados, na medida em que tais armas, projéteis, materiais 
e métodos de combate sejam objeto de uma proibição geral e estejam incluídos 
em um anexo ao presente Estatuto, em virtude de uma alteração aprovada em 
conformidade com o disposto nos artigos 121 e 123; 
 xxi) Ultrajar a dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos 
humilhantes e degradantes; 
 xxii) Cometer atos de violação, escravidão sexual, prostituição forçada, 
gravidez à força, tal como definida na alínea f) do parágrafo 2o do artigo 7o, 
esterilização à força e qualquer outra forma de violência sexual que constitua 
também um desrespeito grave às Convenções de Genebra; 
 xxiii) Utilizar a presença de civis ou de outras pessoas protegidas para evitar 
que determinados pontos, zonas ou forças militares sejam alvo de operações 
militares; 
 xxiv) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e 
veículos sanitários, assim como o pessoal que esteja usando os emblemas 
distintivos das Convenções de Genebra, em conformidade com o direito 
internacional; 
 xxv) Provocar deliberadamente a inanição da população civil como método 
de guerra, privando-a dos bens indispensáveis à sua sobrevivência, impedindo, 
inclusive, o envio de socorros, tal como previsto nas Convenções de Genebra; 
 xxvi) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais 
ou utilizá-los para participar ativamente nas hostilidades; 
 c) Em caso de conflito armado que não seja de índole internacional, as 
violações graves do artigo 3o comum às quatro Convenções de Genebra, de 12 
de Agosto de 1949, a saber, qualquer um dos atos que a seguir se indicam, 
cometidos contra pessoas que não participem diretamente nas hostilidades, 
incluindo os membros das forças armadas que tenham deposto armas e os que 
41 
 
tenham ficado impedidos de continuar a combater devido a doença, lesões, prisão 
ou qualquer outro motivo: 
 i) Atos de violência contra a vida e contra a pessoa, em particular o homicídio 
sob todas as suas formas, as mutilações, os tratamentos cruéis e a tortura; 
 ii) Ultrajes à dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos 
humilhantes e degradantes; 
 iii) A tomada de reféns; 
 iv) As condenações proferidas e as execuções efetuadas sem julgamento 
prévio por um tribunal regularmente constituído e que ofereça todas as garantias 
judiciais geralmente reconhecidas como indispensáveis. 
 d) A alínea c) do parágrafo 2o do presente artigo aplica-se aos conflitos 
armados que não tenham caráter internacional e, por conseguinte, não se aplica a 
situações de distúrbio e de tensão internas, tais como motins, atos de violência 
esporádicos ou isolados ou outros de caráter semelhante; 
 e) As outras violações graves das leis e costumes aplicáveis aos conflitos 
armados que não têm caráter internacional, no quadro do direito internacional, a 
saber qualquer um dos seguintes atos: 
 i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que 
não participem diretamente nas hostilidades; 
 ii) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e veículos 
sanitários, bem como ao pessoal que esteja usando os emblemas distintivos das 
Convenções de Genebra, em conformidade com o direito internacional; 
 iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material, 
unidades ou veículos que participem numa missão de manutenção da paz ou de 
assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre que 
estes tenham direito à proteção conferida pelo direito internacional dos conflitos 
armados aos civis e aos bens civis; 
42 
 
 iv) Atacar intencionalmente edifícios consagrados ao culto religioso, à 
educação, às artes, às ciências ou à beneficência, monumentos históricos, 
hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate 
de objetivos militares; 
 v) Saquear um aglomerado populacional ou um local, mesmo quando 
tomado de assalto; 
 vi) Cometer atos de agressão sexual, escravidão sexual, prostituição 
forçada, gravidez à força, tal como definida na alínea f do parágrafo 2o do artigo 
7o; esterilização à força ou qualquer outra forma de violência sexual que constitua 
uma violação grave do artigo 3o comum às quatro Convenções de Genebra; 
 vii) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou 
em grupos, ou utilizá-los para participar ativamente nas hostilidades; 
 viii) Ordenar a deslocação da população civil por razões relacionadas com o 
conflito, salvo se assim o exigirem a segurança dos civis em questão ou razões 
militares imperiosas; 
 ix) Matar ou ferir à traição um combatente de uma parte beligerante; 
 x) Declarar que não será dado quartel; 
 xi) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de outra parte 
beligerante a mutilações físicas ou a qualquer tipo de experiências médicas ou 
científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico, dentário ou 
hospitalar nem sejam efetuadas no interesse dessa pessoa, e que causem a 
morte ou ponham seriamente a sua saúde em perigo; 
 xii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que as necessidades da 
guerra assim o exijam; 
 f) A alínea e) doparágrafo 2o do presente artigo aplicar-se-á aos conflitos 
armados que não tenham caráter internacional e, por conseguinte, não se aplicará 
a situações de distúrbio e de tensão internas, tais como motins, atos de violência 
esporádicos ou isolados ou outros de caráter semelhante; aplicar-se-á, ainda, a 
conflitos armados que tenham lugar no território de um Estado, quando exista um 
43 
 
conflito armado prolongado entre as autoridades governamentais e grupos 
armados organizados ou entre estes grupos. 
 3. O disposto nas alíneas c) e e) do parágrafo 2o, em nada afetará a 
responsabilidade que incumbe a todo o Governo de manter e de restabelecer a 
ordem pública no Estado, e de defender a unidade e a integridade territorial do 
Estado por qualquer meio legítimo. 
 
Artigo 79 
Fundo em Favor das Vítimas 
 1. Por decisão da Assembleia dos Estados Partes, será criado um Fundo a 
favor das vítimas de crimes da competência do Tribunal, bem como das 
respectivas famílias. 
 2. O Tribunal poderá ordenar que o produto das multas e quaisquer outros 
bens declarados perdidos revertam para o Fundo. 
 3. O Fundo será gerido em harmonia com os critérios a serem adotados pela 
Assembleia dos Estados Partes.

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