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Lição 03 / 1
Índice
1.Introdução
2. Teoria, pesquisa e valores
3. Teoria
4. Pesquisa
5. Conclusão
6.Notas complementares
7. Referências
Professor Rafael Alves Rezende
Sociologia Geral
Lição 03
Instrumentos de pesquisa
Lição 03 / 2
1. Introdução
Essa semana estaremos diante de um instrumento que, ao utilizá-lo, nos afastamos das opiniões do senso
comum. Não sei se você se importa em possuir bons argumentos numa discussão entre amigos, ou se você
gostaria de impressionar as pessoas com ideias interessantes, ou se apenas quer ter uma visão mais clara
da realidade.
Qualquer que seja seu objetivo, a melhor maneira de alcançá-lo é utilizando estes instrumentos, que
chamamos de método, pois só assim sairemos do terreno das opiniões e entraremos no terreno da ciência.
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2. Teoria, pesquisa e valores
O pensador social francês Auguste Comte (1798-1857) criou o termo Sociologia em 1838; Comte tentou
estabelecer o estudo da sociedade sobre bases científicas, enfatizando que deveríamos entender o mundo
social como ele é, e não como ele ou qualquer outra pessoa imaginava que deveria ser.
 
Fig.1 - Seleção Brasileira: cada cabeça, uma sentença
A maioria de nós tem dificuldade em adotar tal perspectiva, pois julgamos o mundo ao nosso redor com base
e m nossas experiências pessoais; acreditamos que as coisas acontecem exatamente como as
interpretamos ou como achamos que elas deveriam ser. No entanto, minhas experiências pessoais explicam
apenas minha interação com essa sociedade, não explicando como outros grupos de indivíduos (mais ricos ou
mais pobres do que eu, homem ou mulher, homossexuais, etc) interagem com essa mesma sociedade.
O maior exemplo disso acontece com a seleção brasileira [1]
A sociedade em que vivemos é uma só, mas as experiências vivenciadas dentro dela são inúmeras. .
Fig.2 - O que sabemos em comparação às experiências existentes é pouco
Nossa falta de conhecimento nos leva a pensar que podemos compreender a sociedade de maneira clara e
em todas as suas esferas.
Você já percebeu que todos gostam de opinar sobre política, religião, futebol, entre outros temas? Mas a
questão é: quem estuda e acompanha a política? Quem estuda de maneira aprofundada a religião e as
estratégias futebolísticas? A resposta é: quase ninguém. No entanto, quase todos se sentem no direito de
opinar sobre esses temas
O próprio Comte se via diante dessa dificuldade, pois embora estivesse ansioso por aplicar os métodos
científicos no estudo da sociedade, ele mesmo se via influenciado por seu conservadorismo e por sua forte
oposição à ideia de uma rápida mudança na sociedade francesa.
Mais detalhes sobre as dificuldades de Comte [2]
O papel fundamental da sociologia seria o de explicar a sociedade para manter a ordem vigente. Sendo
assim, Na clara síntese de Michel Löwy, o tipo ideal de positivismo, formulado por Auguste Comte, pode
ser dito em três idéias principais:
a primeira é a hipótese fundamental do positivismo: "a sociedade humana é regulada por leis naturais",
leis invariáveis, independentes da vontade e da ação humana, como a lei da gravidade ou do movimento da
terra em torno do sol, de modo que na sociedade reina "uma harmonia semelhante à da natureza, uma
espécie de harmonia natural
Dessa primeira hipótese decorre, para o positivismo, a conclusão epistemológica de que "a metodologia das
ciências sociais tem que ser idêntica à metodologia das ciências naturais, posto que o
funcionamento da sociedade é regido por leis do mesmo tipo das da natureza".
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A terceira idéia básica do positivismo, talvez a de maior conseqüência, reza que "da mesma maneira que as
ciências da natureza são ciências objetivas, neutras, livres de juízos de valor, de ideologias políticas,
sociais ou outras, as ciências sociais devem funcionar exatamente segundo esse modelo de
objetividade científica".
Com base no bloco acima, podemos concluir que:
o positivismo "afirma a necessidade e a possibilidade de uma ciência social completamente desligada de
qualquer vínculo com as classes sociais, com as posições políticas, os valores morais, as ideologias, as
utopias, as visões de mundo", pois este conjunto de opções são prejuízos, preconceitos ou prenoções que
prejudicam a objetividade das Ciências Sociais"
Com base nessa constatação de base científica, suas ideias acabaram influenciando outros pensadores, que
conseguiram realizar pesquisas sem serem influenciados por seus sentimentos de como a sociedade deveria
ser.
Fig.3 - A sobrevivência do mais apto
Herbert Spencer acreditava que as sociedades eram compostas de partes interdependentes, da mesma
forma que os organismos biológicos. Ele é o autor da expressão sobrevivência do mais apto [3] .
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3. Teoria
As ideias sociológicas são geralmente expressas sob forma de teorias. Teorias são conjecturas de algum
aspecto da vida social; elas nos dizem como e por que determinados fatos se relacionam.
Em As Regras do Método Sociológico, de 1895, Émile Durkheim propõe com sua sociologia formular uma
teoria do fato social, demonstrando que pode haver uma ciência sociológica objetiva e científica, como nas
ciências físico-matemáticas.
 
Fig.4 - Norbert Elias não aceita o pressuposto de que as sociedades têm fronteiras e limites especificáveis,
pois as cadeias de interdependência escapam a delimitações e definições abrangentes Saiba mais [4]
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4. Pesquisa
Depois que os sociólogos formulam teorias, eles podem conduzir pesquisas.
Pesquisa é o processo por meio do qual se observa cuidadosamente a realidade social, no intuito de testar
uma teoria ou determinar sua validade. Enquanto não se conduz uma pesquisa, a teoria não passa de
especulação, ou seja, uma hipótese sem dados que a comprovem.
 
A pesquisa sociológica procura superar os pensamentos não-científicos, tais como as tradições, as
experiências pessoais, as preferências pessoais, os meios superficiais de informação (ex:. jornais),
observações casuais ou descuidadas da realidade, supergeneralizações, etc.
Durkheim e seus colaboradores emanciparam a Sociologia da Filosofia Social e colocou-a como disciplina
científica rigorosa. Sua preocupação foi definir o método e as aplicações desta nova ciência. Ele formulou
com clareza o tipo de acontecimento sobre os quais o sociólogo deveria se debruçar: os fatos sociais que
deveriam ser o objeto da Sociologia.
 
Uma vez identificados e caracterizados os fatos sociais, a preocupação de Durkheim dirigiu-se para a
conduta necessária ao cientista, a fim de que seu estudo tivesse realmente bases científicas. Para Durkheim,
como para todos os positivistas, não haveria explicação científica se o pesquisador não mantivesse certa
distância e neutralidade em relação aos fatos, resguardando a objetividade de sua análise. É preciso que o
sociólogo deixe de lado seus valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento a ser estudado,
pois eles nada têm de científico e podem distorcer a realidade dos fatos.
Procurando garantir à Sociologia um método tão eficiente quanto o desenvolvido pelas ciências naturais,
Durkheim aconselhava o sociólogo a encarar os fatos sociais como coisas, exteriores, deveriam ser medidos,
observados e comparados independentemente do que os indivíduos pensassem ou declarassem a seu
respeito. As formulações dos indivíduos são apenas opiniões, juízos de valor individuais que nada tem de
científico e mascaram as leis de organização social, cuja racionalidade só é acessível ao cientista.
Para se apoderar dos fatos sociais, o cientista deve identificar, dentre os acontecimentos gerais e repetitivos,
aqueles que apresentam características exteriores comuns.
Os fenômenos devem ser sempre considerados em suas manifestações coletivas, distinguindo-se dos
acontecimentos individuais ou acidentais. Sendo assim, uma pesquisa sociológica seria conduzidalevando
em consideração os seguintes passos:
1. Formular o problema de pesquisa, ou seja, uma pergunta a ser respondida.
2. Revisar a literatura existente sobre o tema, estimulando a imaginação sociológica do pesquisador,
refinando suas ideias.
3. Selecionar o método de pesquisa, pois existem diferentes métodos para diferentes problemas
(estatística, observação participante).
4. Coletar dados por meio da observação das pessoas ou sujeitos da pesquisa, por meio de
entrevistas com os mesmos e da leitura de documentos produzidos por eles ou sobre eles.
5. Analisar os dados; nesse estágio, os dados confirmam algumas das expectativas do pesquisador e
negam outras, fazendo uma reavaliação da pesquisa, da literatura escolhida como suporte para a
pesquisa e até abandonar algumas ideias iniciais.
6. Divulgar os resultados através de um relatório ou de um artigo publicado numa revista científica,
pois a divulgação permite que outros pesquisadores avaliem e critiquem a pesquisa e, assim,
formulem problemas novos e mais sofisticados para o próximo ciclo.
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5. Conclusão
Após essa semana, espero que você tenha percebido a importância de um estudo mais aprofundado da
realidade, para que possamos nos afastar das opiniões simplistas dos ignorantes. Todos possuem suas
opiniões, mas para explicar a realidade de maneira satisfatória o cientista precisa de bons argumentos, que
são conseguidos através de estudos e pesquisas. Na próxima semana começaremos a estudar as teorias
sociológicas mais famosas, e perceberemos sua importância para a interpretação da realidade..
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6.Notas complementares
Exemplo
Fig.2 - 140 milhões de técnicos
Cada brasileiro possui uma seleção diferente em sua cabeça e na copa cada um de nós se torna um
técnico em potencial. Criticamos o técnico da seleção, chamamo-lo de “burro” por pensar diferente de nós e
acreditamos cegamente que estamos certos. 
Dificilmente os torcedores se perguntam a respeito da estratégia e do estilo do técnico, e se o time
escolhido por ele atende aos objetivos. Queremos que nossa opinião prevaleça, mesmo sem a utilização
de nosso senso crítico.
2.
Exemplo
Quando Comte se mudou de sua pequena e conservadora cidade natal para Paris, testemunhou as forças
democráticas liberadas pela Revolução Francesa, os estágios iniciais conturbados da industrialização da
sociedade e o rápido crescimento das cidades. 
A mudança social acelerada estava destruindo muitas coisas que ele valorizava e queria preservar. Ou
seja, não conseguiu livrar-se de seus sentimentos e de suas preferências para que pudesse fazer uma
análise objetiva e imparcial da sociedade; ele sabia que devia fazê-lo e por isso determinou a utilização de
métodos de pesquisa, para que suas opiniões não interferissem na pesquisa. Acreditava que a sociedade
pudesse ser analisada da mesma forma que os fenômenos da natureza.
A sociologia tem, assim, como tarefa, o esclarecimento de acontecimentos sociais constantes e recorrentes.
3.
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Sobrevivência do mais apto
Herbert Spencer (teórico social britânico, 1820-1903), acreditava ter descoberto leis científicas que
governavam o funcionamento da sociedade. 
Tendo vivido num tempo de grandes avanços científicos, o filósofo inglês Herbert Spencer foi o principal
representante do evolucionismo nas ciências humanas. Ele intuiu a existência de regras evolucionistas na
natureza antes de seu compatriota, o naturalista Charles Darwin (1809-1882), formular a revolucionária teoria
da evolução das espécies. 
É ele o autor da expressão "sobrevivência do mais apto", muitas vezes atribuída a Darwin.
Fig.3 - A adaptabilidade auxilia na perpetuação da espécie
O filósofo aplicou à sociologia idéias que retirou das ciências naturais, criando um sistema de pensamento
muito influente a seu tempo. Suas conclusões o levaram a defender a primazia do indivíduo perante a
sociedade e o Estado, e a natureza como fonte da verdade, incluindo a verdade moral. No campo
pedagógico, Spencer fez campanha pelo ensino da ciência, combateu a interferência do Estado na educação
e afirmou que o principal objetivo da escola era a construção do caráter. 
Herbert Spencer acreditava que as sociedades eram compostas de partes interdependentes, da mesma
forma que os organismos biológicos. Estas partes interdependentes incluiriam as famílias, os governos, a
economia, as religiões, etc. 
De acordo com ele, as sociedades evoluem da mesma forma que as espécies biológicas: os indivíduos lutam
para sobreviver e o mais apto vence a luta. Spencer admitia que existem grandes desigualdades na
sociedade, mas as coisas devem ser assim para que as sociedades evoluam. Estas ideias ficaram
conhecidas como “Darwinismo Social”. 
Apesar de as ideias de Spencer não serem populares como já foram num certo momento histórico, suas
ideias ainda nos interessam porque o autor estava entre os primeiros a afirmar que a sociedade funcionava
de acordo com leis científicas. Mesmo tendo criado um método de investigação pouco utilizado atualmente,
devemos a ele um dos primeiros métodos de estudo em sociologia, permitindo que outros estudiosos
melhorassem seu método ou criassem outros.
Teorias Sociológicas
Para que haja tal ciência são necessárias duas coisas: um objeto específico que se distinga dos objetos das
outras ciências e um objeto que possa ser observado e explicado, como se faz nas ciências. No caso da
sociologia, este objeto é a própria sociedade e as teorias a seu respeito devem ser baseadas na
observação de sua dinâmica. 
A teoria sociológica formulada pelo famoso sociólogo alemão Norbert Elias, por exemplo, concebe a tarefa
da sociologia como a de analisar os processos sociais baseados nas atividades dos indivíduos que, através
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de suas disposições básicas - ou seja, suas necessidades - são orientados uns para os outros e unidos uns
aos outros das mais diferentes maneiras. 
Esses indivíduos constroem teias de interdependência que dão origem a configurações de muitos tipos:
família, aldeia, cidade, estado, nações. O conceito de configuração pode ser aplicado onde quer que se
formem conexões e teias de interdependência humana, isto é, em grupos relativamente pequenos ou em
agrupamentos maiores. 
Elias não aceita o pressuposto de que as sociedades têm fronteiras e limites especificáveis, pois as cadeias
de interdependência escapam a delimitações e definições abrangentes. 
Ou seja, Norbert Elias cria um meio de olharmos para a sociedade de maneira mais refinada, enxergando
seus pormenores, seus detalhes, sua estrutura, que parecem invisíveis aos olhos destreinados. Uma teoria,
então, nos ajuda a mapear as relações sociais, os comportamentos dos indivíduos, a desvendar os
significados das ações dentro da sociedade. 
A partir de agora, não podemos mais nos dar ao luxo de emitir opiniões sobre a sociedade ou sobre os
processos sociais, sem antes nos perguntarmos sobre muitos elementos. 
O sujeito ignorante tem uma resposta e uma opinião para tudo porque ele ignora a existência de muitos
elementos; ele acredita ser fácil explicar o mundo.
Prefira o exemplo de Sócrates, que diante de uma realidade tão misteriosa e complexa como a nossa, ele
diz “só sei que nada sei”; ou o exemplo de Shakespeare quando diz que “existem mais coisas entre o céu e
a terra do que supõe a nossa vã filosofia”.
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7. Referências
DURKHEIM, Emile. As regras do método sociológico. São Paulo, Ed. Nacional, 1984.
LÖWY, Michel.Ideologias e Ciência Social. Elementos para uma análise marxista. São Paulo,
Ed. Cortez, 1985.
Robert Brym... [et al.]. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Thomson
Learning, 2006.