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Endocardite Definição É uma infecção no endotélio das válvulas, das câmaras, das próteses e das grandes artérias; ou seja, é uma infecção de qualquer estrutura cardíaca. Epidemiologia Incidência – 15 casos/ 100.000 pessoas/ano Mais comum no sexo masculino Até 1 ano após a troca de válvula o risco de endocardite é de 1,5-3% Fatores de risco: Doença valvar Nativa Protética Usuários de drogas endovenosas Cardiopatias congênitas Procedimentos cirúrgicos Cateterismo Acessos profundos Idosos acima de 65 anos Hemodiálise Histórico de cirurgias cardíacas prévias Etiologia Bactérias Gram positivas – causas comuns Estafilococos – causam infecções graves Staphylococcus aureus Estreptococos Streptococcus viridans do grupo bovis Streptococcus viridans do grupo mutans Streptococcus viridans do grupo mitis Enterococos Enterococcus faecalis; Enterococcus spp ***Por serem as principais bactérias causadoras de endocardite, a cobertura antimicrobiana empírica se baseia na eliminação desses três microorganismos, principalmente. Fisiopatologia Endocardite trombótica não-infecciosa: A lesão endotelial prévia da válvula cardíaca (estenose ou insuficiência) estimula a agregação de plaquetas e estimula mecanismos de coagulação com depósito de plaquetas e fibrinas, tendo esse processo o nome de endocardite trombótica não-infecciosa. Processo vegetativo da válvula que ainda não é infeccioso. Colonização da placa fibrótica: Aderência da bactéria circulante no sangue por uma infecção prévia à endocardite trombótica, infectando a válvula e causando bacteremia constante. Condições importantes propiciadoras de endocardite: Alterações anatômicas – válvulas lesadas ou válvulas protéticas Bacteremia – bactérias circulantes Aderência bacteriana a placa Colonização – proliferação Formação da vegetação Aspecto patológico da lesão por endocardite infecciosa: Vegetação: conglomerado de plaquetas, fibrina. Ausência de vasos sanguíneos: é uma condição excelente para o crescimento bacteriano, já que com a falta de vasos sanguíneos há dificuldade de chegada das células imunológicas. A vegetação pode causar alterações nas estruturas das válvulas, como ruptura, perfuração, levando a insuficiência valvular. As vegetações também podem causar trombos emboligênicos por se desprenderem e embolizar um vaso a distância. Classificação da endocardite De acordo com a duração da evolução: Aguda: Duração de dias/semanas Toxicidade importante Febre e sopro sempre pensar em endocardite Febre Destruição valvar Disseminação metastática Subaguda: Processo mais lento, com duração de semanas/meses Raramente metastática De acordo com o tipo de válvula acometida: Nativa Saudável – menos comum Com alteração estrutural – processos de insuficiência ou estenose. Protética Precoce < 2 meses Intermediária 2- 12 meses Tardia > 12 meses De acordo com os fatores de risco predisponentes: Usuários de drogas endovenosas Hemodiálise Marca-passo e desfibrilador implantado De acordo com a origem da bactéria: Comunitária Nosocomial Quadro clínico Quadro infeccioso Mal estar Febre Anorexia Emagrecimento Repercussão anatômica valvar Insuficiência aórtica Insuficiência mitral Embolias Cerebral Coronária Pulmonar De membros inferiores Baço Intestinal Glomerulonefrite – causada pelo estímulo imunogênico prolongado, que leva a deposição de imunocomplexos nos capilares renais. Hemorragias subconjuntivais Alterações vasculares periféricas Petéquias Nódulos de Osler – vasculite por deposição de imunocomplexos (migração das vegetações com formação de microembolos nas extremidades dos dedos) Costumam ser dolorosos Podem se tornar abscessos Aparece nas formas subagudas Manchas de Janeway São microembolias sépticas Sopro cardíaco Exames complementares Laboratorial: Hemocultura Feita na suspeita e antes de começar o tratamento antibiótico empírico 3 hemoculturas para aeróbios e anaeróbios Incubação prolongada para o grupo HASEK Hemograma Anemia Leucocitose VHS aumentado EAS Hematúria – indicativo de glomerulonefrite Provas imunológicas – elevadas Proteína C reativa Imunoglobulinas Imagem: Raio X de tórax Congestão pulmonar – quando a insuficiência valvar é aguda e não ocorrer mecanismos de adaptação. Fundo de olho Ecocardiograma transesofágico Identifica a vegetação Obs.: O ECO transtorácico é importante e um bom exame, com especificidade alta, mas sensibilidade não tão alta quanto a do ECO transesofágico, que é a ideal para analisar a presença de vegetações. Complicações Cardíacas Insuficiência cardíaca Insuficiência aórtica/mitral aguda Manifestações embólicas coronarianas Neurológicas AVC – embolia cerebral Abscesso cerebral Aneurisma Encefalopatia tóxica Renais Glomerulonefrite Infarto renal Musculo-esqueléticas Artralgias Artrites Diagnósticos diferenciais Cardiológico: Mixoma Embolismo pulmonar Dissecção de aorta Febre reumática ativa Não-cardiológico Neoplasias Doenças do colágeno Infecção – sepse Tratamento Antibioticoterapia Na endocardite aguda, o tratamento empírico com antibiótico deve ser iniciado assim que houver a coleta para hemocultura. Cobertura do tratamento empírico: Estafilo Estrepto Enterococo Na endocardite subaguda, o resultado da hemocultura é esperado para o início do tratamento com antibiótico. Até porque, de forma geral, a endocardite subaguda é causada por uma bactéria menos virulenta. Esquema básico para tratamento empírico de endocardite de válvula nativa e bactérias comunitárias Oxacilina – prevendo estafilo Penicilina G – prevendo estrepto e enterococos Gentamicina Obs.: Em caso de alergia a penicilina ou de bactéria resistente, ela pode ser trocada por vancomicina. Duração do tratamento: 4 semanas Após o resultado da hemocultura, deve ser utilizado o antibiótico indicado pelo TSA durante o restante do período de tratamento. Para infecção por enterococos, em caso de alergia à penicilina, deve ser usada a associação entre gentamicina e ampicilina. O tratamento da infecção por enterococos pode ter duração de até 6 semanas. Como as maiores bactérias causadoras de endocardite de válvulas protéticas são as mesmas da nativa, os tratamentos empíricos são iguais, com oxacilina, gentamicina e penicilina G cristalina. Obs.: Mas podem ser recomendados outros esquemas terapêuticos para válvulas cardíacas protéticas, como: ***Na endocardite de válvula protética sempre deve ser trocada a oxacilina por vancomicina. Grupo HACEK Composição do grupo: Haemophilus parainfluenza, Haemophilus aphrophilus, Actinobacilus actinomycetemcomitans, Cardiobacterium hominis, Eikenella corrodens e Kingella Kingae Ceftriaxone 2g/dia 24/24h EV ou IM + Gentamicina 1 mg/Kg IM ou IV de 8/8 h por 4 semanas OU Ampicilina IV 12 g/24 h divididos em 4/4h + Gentamicina IV 1 mg/kg/dia 8/8h por 4 semanas Tratamento cirúrgico Indicações: Disfunção valvar grave, com ICC Disfunção valvar grave, sem ICC, mas com edema Abscesso perivalvar vegetações grandes (> 1 cm) com alto risco (móvel; localização anterior do folheto mitral) de embolização ou embolização recorrente durante o tratamento antibiótico adequado Falha do tratamento médico conservador, incluindo a febre persistente ou resultados positivos de culturas de sangue com o aumento da vegetação no ecocardiograma após 7 dias de tratamento antimicrobiano adequado ***A troca da válvula é importante para a impedir a formação de trombos intracardíacos. Profilaxia A profilaxia antibiótica feita em pacientes com algum tipo de valvulopatia já conhecida está indicada quando: Procedimentos dentários que incluem sangramento gengival ou das mucosas, incluindoraspagem e limpeza profissional. Amigdalectomia ou adenoidectomia Cirurgia envolvendo mucosa gastrointestinal ou respiratórias superiores Broncoscopia com broncoscópio rígido Escleroterapia para varizes esofagianas Dilatação esofágica Em caso de acalasia Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica Cirurgia de vesícula biliar Cistoscopia e dilatação ureteral Cateterismo uretral quando houver infecção urinária concomitante Cirurgia de trato urinário, incluindo cirurgia de próstata A profilaxia antibiótica não é recomendada quando: Procedimento dentário que provavelmente não causará sangramento, como ajuste e colocação de aparelhos ortodônticos e simples restauração acima da gengiva. Injeção intra-oral ou anestesia local (não-intraligamentar) Extração de dentes primários Inserção de tubo orotraqueal Broncoscopia com broncoscópio flexivel, com ou sem biopsia Ecocardiograma transesofágico Cateterismo cardíaco e angioplastia coronária transluminal percutânea Implante de marcapasso Endoscopia com ou sem biópsia Incisão ou biópsia de pele não-infectada Terapia profilática de escolha: Amoxacilina Via Oral – prioritária Endovenosa ou IM – casos específicos Dose Adulto: 2 g – 1 hora antes do procedimento Criança 50 mg/kg – 1 hora antes do procedimento ***Tumores do cólon esquerdo podem ser propiciadores de endocardite, porque ele pode ser contaminado por estreptococos bovis, que faz bacteremia e tem chances de causar endocardite.
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