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��������� �� �� ������� ����� �������������� Henry Mintzberg1 A imagem romântica do executivo, comparado ao maestro que conduz harmoniosamente as várias unidades de sua organização, dificilmente corresponde à realidade. Se você perguntar a um executivo qual a sua função, ele provavelmente responderá: planejar, organizar, coordenar e controlar. Observe, então, o que ele faz. E não se surpreenda se não conseguir relacionar seu trabalho com essas quatro palavras. Quando telefonam para avisar que uma das fábricas acaba de pegar fogo, e ele sugere que se adotem soluções de emergência, para garantir, por exemplo, o fornecimento aos clientes através de uma subsidiária estrangeira, ele está planejando, organizando, coordenando ou controlando? O que dizer, então, quando o executivo presenteia um funcionário que se aposenta com um relógio de ouro? Ou quando comparece a uma reunião a fim de encontrar pessoas e tratar de negócios? Ou, ainda, quando saindo da reunião, comenta com um de seus assessores a interessante idéia de um produto que lhe ocorreu ali? A verdade é que essas quatro palavras que vêm dominando o vocabulário da administração desde .que o industrial francês Henry Fayol introduziu-as, pela primeira vez, em 1916, dizem muito pouco sobre o que os executivos realmente fazem. Na melhor das hipóteses, indicam alguns objetivos vagos adotados pelos executivos em sua rotina. A administração, que tanto se preocupa com o progresso e as mudanças, há mais de meio século não enfrenta seriamente a pergunta fundamental: o que fazem os executivos? Sem uma resposta adequada, como podemos ensinar administração? Como podemos elaborar sistemas de planejamento e informação para executivos? Como podemos, enfim, melhorar a prática da administração? Nossa ignorância sobre a natureza do trabalho administrativo apresenta-se sob várias formas na organização moderna: no executivo bem sucedido que se gaba de nunca ter gasto um só dia em cursos de treinamento; na constante substituição dos homens de planejamento que nunca entenderam claramente o 1 Henry Mintzberg é professor na Faculdade de Administração da McGill University, em Montreal, Canadá. Entre suas atividades estão os inúmeros artigos que tem escrito sobre o gerente e seu trabalho, dentre os quais se destaca The Manager´s Job: Folklore and Fact, ganhador do McKinsey Award da Harvard Business Review, de 1975. Foi também professor visitante no Centre d’Étude et de Recherche sur les Organizations et la Gestion, em Aix-en-Provence, França. que o executivo queria; nos computadores cobertos de pó, porque os executivos jamais usaram o sofisticado sistema integrado de informação, que alguns analistas julgaram que lhes fosse necessário. O mais importante, talvez, é que nossa ignorância se revela na inabilidade com que as principais empresas públicas tratam de alguns de seus mais sérios problemas de planejamento. O certo é que, na corrida em busca da automação, no uso da ciência administrativa nas áreas de marketing e finanças e na aplicação do conhecimento dos cientistas do comportamento humano aos problemas da motivação do trabalhador, o executivo — a pessoa encarregada da organização ou de uma de suas subunidades — foi esquecido. A intenção deste artigo é simples: afastar o leitor das palavras de Fayol, apresentando-lhe uma descrição mais adequada e, em minha opinião, mais útil, do trabalho administrativo. Tal descrição é resultado do resumo e síntese das pesquisas disponíveis sobre como alguns executivos empregam seu tempo. Em alguns estudos, os executivos foram observados atentamente. Em outros, deixaram diários pormenorizados sobre suas atividades. Em outros, ainda, suas anotações foram analisadas. Todos os tipos de executivo foram estudados: chefes de seção, supervisores de fábricas, chefes de departamento, gerente de vendas, presidentes de empresas e de nações e, até mesmo, chefes de quadrilhas. Esses "executivos" trabalham nos Estados Unidos, Canadá Suécia e Inglaterra. Uma síntese dessas descobertas mostra um quadro interessante, tão diferente da visão clássica quanto uma pintura abstrata cubista de uma pintura renascentista. De certa forma, este quadro será facilmente reconhecido por todos aqueles que já passaram um dia na sala de um executivo — em frente ou atrás de sua escrivaninha. Não obstante, o quadro pode apresentar-se, ao mesmo tempo, como revolucionário, pelo fato de pôr em dúvida o mito de trabalho do executivo. Em primeiro lugar, discuto alguns desses mitos, contrastando-os com algumas descobertas da pesquisa sistemática: a crua realidade a respeito de como os executivos utilizam seu tempo. Depois, sintetizo essas descobertas na descrição de dez papéis que parecem exprimir o conteúdo essencial do trabalho dos executivos. Concluindo, discuto algumas implicações dessa síntese, para quem, tanto nas salas de aula como no mundo dos negócios, pretenda alcançar melhor desempenho administrativo. Existem quatro mitos sobre o trabalho do executivo que não resistem ao exame minucioso dos fatos: 1° Mito: O executivo é um planejador sistemático e reflexivo. A evidência sobre essa questão parece irresistível. No entanto, nada contribui para comprová-la. Realidade: Um grande número de estudos prova que os executivos trabalham num ritmo inexorável e que suas atividades se caracterizam pela brevidade, variedade e descontinuidade e que eles estão firmemente orientados para a ação, não apresentando inclinações para atividades de reflexão. Consideremos as seguintes provas: Metade das atividades às quais se dedicavam cinco diretores-presidentes, de um estudo que fiz, durava menos de nove minutos cada e somente dez por cento excediam uma hora. Um estudo sobre 56 chefes de seção mostrou que eles executavam, em média, 583 atividades no período de oito horas — média de uma atividade a cada 48 segundos. O ritmo de trabalho dos presidentes e dos chefes de seção mostrou-se inexorável. Os diretores-presidentes se vêem bombardeados por baterias de telefones, visitas e correspondência, do momento em que chegam ao trabalho até a hora da saída. O tempo reservado para o almoço e para os cafezinhos estava relacionado com o trabalho e os subordinados, sempre presentes, pareciam usurpar-lhes qualquer momento livre. Um estudo dos diários de 160 executivos ingleses de nível médio e alto mostrou que eles só trabalhavam sem interrupções, durante meia hora ou mais, uma vez a cada dois dias. Dos contatos verbais dos executivos de meu estudo, 93% foram realizados de improviso. Somente 1% do tempo dos executivos foi gasto em visitas de observação dentro da empresa. Apenas um em cada 368 contatos verbais não se relacionava com problemas específicos e pôde ser considerado de planejamento geral. Outros pesquisadores observaram que em nenhum caso o executivo declarou ter obtido uma importante informação externa de uma simples conversa ou de contatos pessoais indiretos. Nenhum estudo constatou a existência de padrões definidos na maneira como os executivos organizam seu tempo. Eles parecem ocupados com problemas, respondendo continuamente às solicitações do momento. É esse o planejador que a visão clássica descreve? Tudo indica que não. Então, como podemos explicar o seu comportamento? O executivo está simplesmente respondendo às pressões de seu trabalho. Constatei que os diretores-presidentes abandonaram muitas de suas próprias atividades, freqüentemente deixando reuniões antes de seu término, e interrompiam o trabalho de escritório para convocar subordinados. Um presidente de empresa não apenas colocou sua escrivaninha em determinado lugar, de maneira que pudesse ver um longo corredor, como também deixava a porta aberta quandose encontrava sozinho: um convite para os subordinados entrarem e interrompê-lo. Não há dúvida de que tais executivos procuravam encorajar o fluxo de informações. Mas, o que é mais significativo, pareciam estar condicionados à sua própria carga de trabalho. Eles apreciavam o custo-oportunidade de seu próprio tempo e se mostravam permanentemente cientes de suas obrigações: correspondência a ser respondida, visitantes e telefonemas a serem atendidos, etc. Parece que o executivo, não importa o que esteja fazendo, é pressionado pelas possibilidades do que poderia fazer ou precisa fazer. Quando o executivo precisa planejar, parece fazê-lo implicitamente no contexto das ações diárias e não por meio de algum processo abstrato reservado para um período de duas semanas no refúgio das montanhas. Os planos dos diretores-presidentes que estudei pareciam existir somente em suas próprias mentes, como intenções flexíveis, mas freqüentemente específicas. Apesar do que diz a literatura tradicional, o trabalho administrativo não desenvolve planejadores reflexivos. O executivo está sempre respondendo a estímulos temporais. É um indivíduo condicionado pelo trabalho á preferir o movimento à ação retardada. 2.° Mito: O verdadeiro executivo não executa tarefas de rotina. Pede-se constantemente aos executivos que gastem mais tempo planejando e delegando e menos encontrando-se com clientes e envolvendo-se em negociações. Estas não são, na verdade, as verdadeiras tarefas do executivo. Podemos dizer que o bom executivo, como o bom maestro, orquestra tudo, cuidadosa e antecipadamente, para depois sentar-se e desfrutar o produto de seu trabalho, enfrentando, ocasionalmente, situações imprevistas. Mas aqui, outra vez, a agradável abstração parece, simplesmente, não se ajustar à realidade. Seria melhor verificar cuidadosamente as atividades nas quais os executivos se sentem inclinados a envolver-se antes de defini-las arbitrariamente. Realidade: Além de se ocupar com exceções, o trabalho administrativo envolve a execução de uma série de deveres rotineiros, incluindo rituais e cerimônias, negociações e processamento de pequenas informações que ligam a organização a seu meio ambiente. Consideremos alguns fatos revelados por nossos estudos: Uma pesquisa sobre o trabalho do presidente de pequenas empresas mostrou que ele se ocupa de atividades de rotina, porque suas empresas não têm possibilidades de empregar pessoal especializado e porque o número de funcionários é tão pequeno que a simples falta de um deles freqüentemente requer que o presidente o substitua. Um estudo sobre gerentes de vendas e outro sobre executivos-chefes sugerem que é parte natural do trabalho de ambos os grupos, visitar os clientes importantes, admitindo-se que os executivos queiram manter tais clientes. Alguém já descreveu o executivo, em tom de gracejo, como sendo a pessoa que recebe os visitantes a fim de que todos os outros funcionários possam trabalhar. Em meu estudo observei que certos encargos cerimoniais, tais como reunir-se com visitas importantes, presentear alguém com um relógio de ouro ou presidir a festa natalina, são parte intrínseca da tarefa do executivo. Papéis do Execut ivo Papéis decisoriais Empreendedor Manipulador de distúrbios Alocador de recursos Negociador Papéis interpessoais Imagem do chefe Líder Contato Autoridade formal e status Papéis informacionais Monitor Disseminador Porta-voz Estudos sobre o fluxo de informações dos executivos sugerem que eles desempenham papel de destaque, no que se refere à obtenção de pequenas informações externas — muitas das quais se tornam acessíveis devido a seu status — e seu encaminhamento aos subordinados. 3.° Mito: Os principais executivos necessitam de informações agregadas, que podem ser melhor obtidas através de um sistema formal de informações gerenciais. Até recentemente, as palavras sistema integrado de informação estavam sempre presentes na literatura administrativa. Mantendo o ponto de vista clássico do executivo como indivíduo colocado no topo de um sistema hierárquico regular, o executivo deveria receber todas as informações importantes de um gigantesco e complexo sistema de informações gerenciais. Ultimamente, contudo, ao se constatar com evidência cada vez maior que os gigantescos sistemas de informações não funcionam — esses executivos não os usam mais —, o entusiasmo desvaneceu. Uma análise do modo como os executivos processam realmente a informação mostra claramente o motivo. Eles dispõem de quatro mídias: documentos, telefonemas, reuniões — programadas ou não — e inspeções de observação. Realidade: Os executivos preferem a mídia verbal, principalmente telefonemas e reuniões. Tal evidência apareceu em todos os estudos sobre o trabalho administrativo. Em duas pesquisas inglesas ficou constatado que os executivos gastam, em média, 66% de seu tempo em comunicação verbal (oral). Em meu estudo de cinco diretores-presidentes norte-americanos, a porcentagem foi de 78%. Esses cinco diretores-presidentes consideravam a correspondência uma carga que podia ser dispensada. Um deles chegou a processar, num sábado de manhã, 142 cartas em pouco mais de três horas, para "se livrar desse negócio". O mesmo executivo olhou para um relatório de custos-padrão e afastou-o com o seguinte comentário: "Eu nunca leio isto". Os mesmos cinco diretores-presidentes responderam imediatamente a dois dos 40 relatórios rotineiros que receberam durante as cinco semanas da minha pesquisa e a 4 dos 104 relatórios periódicos. Eles folhearam a maioria desses relatórios periódicos em poucos segundos, como num ritual. Em conjunto, esses diretores de grandes empresas iniciaram por sua própria conta um total de 25 correspondências durante os 25 dias que durou a pesquisa. Uma análise da correspondência recebida pelos executivos revela um fato interessante: somente 13% dela apresentavam alguma utilidade específica e imediata. Desse modo, temos uma nova peça em nosso quebra cabeças: uma pequena parte da correspondência forneceu informações vivas e atuais sobre a ação de um concorrente, disposições legais ou a audiência do programa de televisão da noite anterior. Mas esta é a informação que alimenta os executivos e que os leva a interromper reuniões e reorganizar suas jornadas. Consideremos outras descobertas interessantes. Os executivos parecem apreciar as pequenas informações, especialmente fofocas, boatos e especulações. Por quê? Sua intemporalidade. Pois a bisbilhotice de hoje pode ser o fato de amanhã. O executivo que não atende telefonemas para informá-lo de que seu principal cliente foi visto jogando golfe com seu maior concorrente pode vir a constatar uma dramática queda das vendas na leitura do próximo relatório trimestral. Para calcular o valor das informações reais e agregadas, consideremos dois dos principais usos que os executivos fazem delas: identificar problemas e oportunidades, construir seu próprio modelo a respeito das coisas que os cercam (por exemplo: como funciona o sistema de orçamento da empresa, como os clientes compram seu produto, como as mudanças na economia afetam sua organização e assim por diante). Tudo sugere que o executivo identifica situações de decisão e estabelece modelos não com informações abstratas fornecidas pelo sistema de informação, mas com dados específicos. Consideremos as palavras de Richard Neustadt, que estudou os hábitos de colher informações dos presidentes Roosevelt, Truman e Eisenhower: "Não é a informação de tipo geral que ajuda um presidente a perceber os interesses pessoais; nem sumários, levantamentos ou uma mistura de tudo isso, mas sim a miscelânea de pormenores tangíveis que, reunidos em sua mente, iluminam o fundo das questões quelhe são apresentadas. Para ajudar a si mesmo, ele precisa alcançar, tão amplamente quanto possível, todo fragmento de fato, opinião e bisbilhotice que se relacione, de uma ou de outra forma, com o presidente. Ele precisa ser sua própria agência de informações". A ênfase dada pelo executivo à mídia verbal levanta dois problemas importantes: Primeiro: a informação verbal é armazenada no cérebro das pessoas. Somente quando alguém escreve essa informação ela pode ser arquivada — seja nos arquivos metálicos seja nas fichas magnéticas; mas os executivos não parecem registrar grande parte do que ouvem. Assim, o banco de dados estratégicos da empresa não se encontra na memória de seus computadores, mas na cabeça de seus executivos. Segundo: o uso extensivo da mídia verbal pelo executivo ajuda a explicar por que ele se mostra relutante em , delegar tarefas. Quando notamos que a maioria das informações importantes é obtida na forma verbal e estocada em sua cabeça, podemos compreender sua relutância. Delegar uma tarefa não é como entregar um dossier a outra pessoa. Ele precisa recorrer à memória para dizer tudo o que sabe sobre o assunto. Mas isso pode levar tanto tempo que o executivo pode achar mais fácil realizar o trabalho ele mesmo. Desse modo, está condenado, por seu próprio sistema de informação, ao "dilema da delegação": fazer tudo ele mesmo ou delegar a seus subordinados com instruções insuficientes. 4.° Mito: A administração é, ou pelo menos está se transformando rapidamente, em ciência e profissão. Sob qualquer definição de ciência e profissão, tal afirmação é falsa. Uma breve observação de qualquer executivo nos confirmará a noção de que ele não exerce uma ciência. Uma ciência implica no desenvolvimento de processos ou programas sistemática e analiticamente determinados. Se nem mesmo conhecemos os métodos usados pelo executivo, como podemos determiná-los por meio de análise científica? E como podemos chamar a administração de uma profissão, se não podemos especificar o que os executivos devem aprender? Pois, além de tudo, uma profissão envolve o conhecimento de alguma parte do saber ou da ciência (dicionário Random House). Realidade: Os programas dos executivos — para organizar o tempo, processar informações, tomar decisões e outros coisas mais — permanecem trancados em suas cabeças. Assim, para descrever esses programas, nós empregamos palavras como julgamento e intuição, raramente constatando que elas são meros rótulos, para classificar nossa ignorância. O que me surpreendeu em meu estudo foi o fato de que os executivos observados — todos muito competentes sob qualquer padrão — mostraram-se fundamentalmente indistinguíveis de seus colegas de cem anos atrás (ou, talvez, de mil anos atrás). Se as informações de que necessitam são diferentes, eles a procuram, no entanto, da mesma maneira: pela palavra verbal. Suas decisões relacionam-se com a moderna tecnologia, mas os métodos usados para torná-las são os mesmos do executivo do século XIX. Mesmo o computador, tão importante para o trabalho especializado da organização, não teve, aparentemente, nenhuma influência sobre os métodos de trabalho dos gerentes gerais. Na verdade, o executivo encontra-se preso a uma situação onde é cada vez mais pressionado por um trabalho árduo, enquanto a ciência administrativa não lhe oferece qualquer ajuda. Considerando os fatos relacionados com o trabalho do executivo, vemos claramente que sua atividade é consideravelmente complicada. O executivo encontra-se sobrecarregado de obrigações. No entanto, não pode facilmente delegar tarefas. Como resultado, é levado a um trabalho exaustivo e muitas vezes forçado a executar tarefas superficialmente. Brevidade, fragmentação e comunicação verbal caracterizam seu trabalho. Contudo, são essas características do trabalho administrativo que impediriam o êxito das tentativas científicas para melhorá-lo. Assim, os cientistas da administração têm concentrado seus esforços nas funções especializadas da organização, onde podem facilmente analisar os métodos e quantificar as informações importantes. Entretanto, as pressões exercidas sobre o executivo estão se tornando cada vez piores. Enquanto no passado ele tinha que responder apenas aos proprietários e diretores, hoje ele percebe que os subordinados, sob as normas democráticas, reduzem continuamente sua liberdade de dar ordens sem fornecer explicações, ao mesmo tempo que um crescente número de influências externas — grupos de consumidores, órgãos governamentais, etc. — exige sua atenção. E o executivo não tem para onde se voltar em busca de ajuda. O primeiro passo tendente a lhe fornecer alguma ajuda resume-se em determinar em que consiste realmente seu trabalho. Agora, tentemos reunir algumas peças do quebra-cabeça. Anteriormente, defini o executivo como a pessoa encarregada de uma organização ou de uma de suas subunidades. Além de presidentes, tal definição incluiria vice-presidentes, bispos, chefes de seção, técnicos de futebol e primeiros-ministros. Mas será que todos esses indivíduos podem ter alguma coisa em comum? Claro que sim. Para começar, todos estão investidos de uma autoridade formal sobre uma unidade bem delimitada. Da autoridade formal deriva o status, que leva a várias relações interpessoais e daí o acesso à informação. A informação, por sua vez, capacita o executivo a tomar decisões e formular estratégias para sua unidade. Os Contatos do Execut ivo-chefe Obs.: Os números superiores indicam o total de tempo de contato gasto com cada grupo e os inferiores a proporção de correspondência originária de cada grupo. Diretores Executivos do mesmo nível Clientes, fornecedores, associados Independentes e outros Executivo-chefe Subordinados 7% 1% 16% 25% 8% 22% 48% 39% 20% 13% A tarefa do executivo pode ser descrita em termos dos vários "papéis" ou conjuntos organizados de condutas identificadas com uma posição. Minha descrição compreende dez papéis (ver quadro). Como veremos, a autoridade formal dá origem a três papéis interpessoais, que originam três papéis informacionais. Esses dois grupos de papéis capacitam o executivo a desempenhar os quatro papéis decisionais. Três desses papéis provêm diretamente de sua autoridade formal e envolvem relacionamentos interpessoais : 1) O papel ligado à imagem do chefe. Devido à sua posição de chefe de uma unidade organizacional, todo executivo precisa desempenhar algumas obrigações de natureza cerimonial. O presidente cumprimenta os dignitários visitantes, o chefe de seção comparece ao casamento do torneiro-mecânico, o executivo do setor de vendas convida um cliente importante para o almoço. Os diretores de meu estudo gastavam 12% do tempo dedicado aos contatos a funções cerimoniais, enquanto 17% da correspondência recebida eram agradecimentos e pedidos relacionados com seu status. Dois exemplos: uma carta dirigida ao presidente de uma empresa pedia mercadorias gratuitas para uma criança aleijada, aluna de uma escola; e diplomas eram colocados sobre a escrivaninha do superintendente da escola, para sua assinatura. Obrigações relacionadas com as funções interpessoais podem, às vezes, ser rotineiras, envolvendo comunicações pouco importantes e nenhuma decisão importante. Mas são importantes para o funcionamento de uma organização e não podem ser ignoradas. 2) Por estar encarregado de uma unidade organizacional, o executivo é responsável pelo trabalho de todos os funcionários da unidade. Suas ações, nesse sentido, correspondem ao papel do líder. Algumas dessas ações envolvem liderança direta, como é o caso da maioria das organizações onde o executivo é normalmente responsável pela comissão e treinamento de seu próprio pessoal. Além disso, existe o exercício indiretodo papel do líder. Todo executivo deve motivar e encorajar os funcionários, procurando conciliar suas necessidades individuais com os objetivos da empresa. Subordinados empenhados na identificação das características de liderança sondam suas ações em virtualmente todos os contatos que mantêm com os funcionários. "Será que ele aprova?" "Como ele gostaria que o relatório fosse feito?" "Estará ele mais interessado em participação no mercado do que em altos lucros?" A influência do executivo é mais claramente visível no papel de líder. A autoridade formal investe-o de grande poder potencial. A liderança determina em grande parte o uso que ele fará dela. 3) A literatura administrativa sempre reconheceu o papel do líder, especialmente os aspectos relacionados com a motivação. Por outro lado, até recentemente, nem sempre mencionado o papel do contato, graças ao qual o executivo mantém relações fora de sua cadeia vertical de comando. Surpreendentemente, de acordo com as constatações de, virtualmente, todas pesquisas sobre o trabalho administrativo, os executivos gastam com seus pares e outras pessoas estranhas às unidades o mesmo tempo que dedicam a seus subordinados e, para surpresa geral, muito pouco tempo com seus próprios superiores. No estudo de Rosemary Stewart, baseado em diários, os 160 executivos britânicos de nível médio e alto gastaram 47% de seu tempo com seus pares, 41 % com pessoas de fora e somente 12% com seus superiores. No estudo de Robert H. Guest sobre os chefes de seção nos Estados Unidos, os números são os seguintes: 44, 46 e 10%. Os diretores-presidentes de meu estudo apresentaram uma média de 44% com subordinados e 7% com diretores e membros do conselho de administração. Os contatos feitos pelos cinco diretores-presidentes apresentavam uma lista incrivelmente ampla de pessoas: subordinados, clientes, associados nos negócios, executivos de organizações semelhantes, altos funcionários governamentais e de organizações comerciais, colegas ligados a outras diretorias e outros sem filiação organizacional importante. O tempo gasto pelos diretores- presidentes com cada grupo e com a correspondência originada por eles é mostrado no segundo quadro. O estudo de Guest sobre os chefes de seção mostrou, da mesma forma, que seus contatos eram numerosos e amplos, raramente envolvendo menos de 25 indivíduos e, freqüentemente, mais de 50. Como veremos mais adiante, o executivo mantém tais contatos visando principalmente a obter informações. Com efeito, o papel do contato destina-se a estabelecer o sistema de informações externas do próprio executivo: informal, verbal mas, não obstante, eficiente. Devido a seus contatos interpessoais com os subordinados e com a rede de contatos, o executivo é o centro nervoso de sua unidade organizacional. Ele pode não conhecer tudo, mas sabe mais do que qualquer outro membro de seu quadro de funcionários. Estudos mostraram que esse relacionamento é comum a todos os executivos — dos chefes das quadrilhas aos presidentes dos Estados Unidos. Em The Human Group, George C. Homans explica como: já que eles se situavam no centro do fluxo de informação de suas próprias quadrilhas e também mantinham íntimo contato com outros líderes, os líderes de quadrilhas de rua estavam mais bem informados do que qualquer um de seus seguidores. Richard Neustadt descreve o seguinte fato em seu estudo sobre Franklin D. Roosevelt. "A essência da técnica de coleta de informações de Roosevelt consistia na competição. Ele chamava um assessor — contou-me certa vez um deles — e lhe pedia que levantasse um determinado caso complicado. O assessor voltava depois de alguns dias de árduo trabalho, com o que acreditava ser a parte mais importante da história, para, então, descobrir que o presidente já estava inteirado do fato, além de saber algo mais, que ele próprio desconhecia. Roosevelt geralmente não revelava onde obtinha tais informações. Depois de ser submetido uma ou duas vezes a tal confronto, o assessor passava a ser extremamente cauteloso com as próprias informações". Podemos entender onde Roosevelt conseguia tais informações, quando estudamos a relação entre os papéis interpessoais e informacionais. Como líder, o executivo tem acesso a todos os membros de sua equipe. Por isso ele tende a conhecer mais a respeito de sua própria unidade do que qualquer outra pessoa. Além disso, graças a seus contatos, tem acesso a informações externas, o que raramente acontece com seus subordinados. Muitos desses contatos são com outros executivos de idêntica posição, que também são os centros nervosos de suas próprias organizações. O processamento da informação é uma peça fundamental no trabalho do executivo. Em meu estudo, os diretores-presidentes empregavam 40% de seu tempo de contato em atividades ligadas à transmissão de informações e 70% da correspondência recebida eram puramente informacionais (em oposição aos pedidos que exigiam ação). O executivo não deixa as reuniões ou põe o telefone no gancho para voltar ao trabalho. Em grande parte comunicação é o seu trabalho. Três papéis descrevem esses aspectos informacionais do trabalho administrativo: 1) Como monitor, o executivo esquadrinha permanentemente seu meio ambiente em busca de informação, interrogando seus contatos e seus subordinados, além de receber informações não solicitadas, em grande parte como resultado da rede de contatos pessoais formada por ele. Não se pode esquecer que uma boa parte das informações coletadas pelo executivo em seu papel de monitor é verbal, freqüentemente sob a forma de fofocas, boato e especulação. Por meio desses contatos, o executivo possui uma vantagem natural na obtenção de informações para sua organização. 2) Ele precisa compartilhar e distribuir grande parte dessa informação. As informações reunidas por ele através de contatos pessoais externos podem ser necessárias dentro de sua organização. No seu papel de disseminador o executivo transmite algumas das informações privilegiadas diretamente a seus subordinados que, de outra forma, não teriam acesso a elas. Quando seus subordinados não mantêm bom contato entre si, o executivo tem, às vezes, de passar informações de um para o outro. 3) Em seu papel de porta-voz, o executivo envia algumas de suas informações a pessoas não pertencentes à sua unidade: um presidente faz um discurso procurando obter apoio para uma causa de sua organização; um chefe sugere a modificação de um produto a um fornecedor. Além disso, enquanto porta-vozes, os executivos precisam informar e satisfazer as pessoas influentes que controlam sua unidade organizacional. Para o chefe de seção, isso pode envolver apenas a ação de manter o executivo da fábrica informado a respeito do fluxo de trabalho na seção. O presidente de uma grande empresa, entretanto, pode gastar grande parte de seu tempo lidando com diferentes grupos de interesse. Diretores e acionistas precisam ser informados sobre os resultados financeiros alcançados; os políticos precisam estar seguros de que a organização está cumprindo suas responsabilidades sociais; os funcionários governamentais precisam sentir-se seguros de que a organização cumpre a lei. A informação não é, sem dúvida, um fim em si mesma. É um insumo fundamental para a tomada de decisões. Uma coisa ficou clara no estudo do trabalho administrativo: o executivo desempenha o principal papel no sistema decisional de sua unidade. Dotado de uma autoridade formal, somente ele pode introduzir novos e importantes métodos de ação em uma unidade. Como seu centro nervoso, somente ele possui informações completas e atuais para tomar o conjunto de decisões que determinam a estratégia da unidade. Quatro papéis definem o executivo como responsável pelas decisões: 1) Como empreendedor o executivo procura melhorarsua unidade, adaptando-a às mudanças do meio ambiente. No papel de monitor, o presidente está constantemente à procura de novas idéias. Quando surge uma que considera boa, ele dá início a um projeto de desenvolvimento que poderá ser supervisionado por ele mesmo ou por um subordinado (com a sujeição, talvez, da proposta final à sua aprovação). Primeiro, os projetos não envolvem uma única decisão ou mesmo um grupo unificado de decisões. Eles se apresentam como uma série de pequenas decisões e ações pontilhadas no tempo. Aparentemente, o diretor-presidente imprime a cada projeto um ritmo susceptível de ajustá-lo, parte por parte, à sua agenda atarefada, de modo a dominar, gradualmente, todos os seus aspectos, se for um problema complexo. Segundo, os diretores-presidentes estudados por mim supervisionaram até 50 desses projetos ao mesmo tempo. Alguns projetos referiam-se a novos produtos ou métodos; outros envolviam campanhas de relações públicas, melhoria da posição de caixa, reorganização de um departamento com desempenho insatisfatório, solução de um problema de conduta numa divisão estrangeira, compras em diferentes estágios de desenvolvimento, etc. O diretor-presidente parece manter uma espécie de inventário dos projetos de desenvolvimento que supervisiona: uns de vários estágios de desenvolvimento; outros, temporariamente congelados. Como um malabarista, ele mantém um certo número de projetos no ar. Periodicamente, um deles volta à terra para receber novo impulso e entrar novamente em órbita. A intervalos variáveis, ele lança novos projetos e abandona antigos. 2) Enquanto o papel de empreendedor define o executivo como aquele que promove voluntariamente as mudanças, o papel de manipulador de distúrbios descreve o executivo como aquele que responde, involuntariamente, às pressões. Neste caso, mudança ocorre sem seu controle. Ele se vê obrigado a agir, sob pressões demasiadamente fortes para serem ignoradas: a eclosão de uma greve, a falência de um cliente importante, o rompimento de um contrato por parte, de algum fornecedor. É moda hoje, como observei anteriormente, comparar o executivo ao maestro, como Peter F. Drucker escreveu em The Practice of Management: "O executivo tem como tarefa criar um todo maior do que a soma de suas partes, uma entidade que resulte maior do que a soma dos recursos nela lançados. Ele é como um maestro, graças a cujo esforço, visão e liderança as partes instrumentais, barulhentas individualmente, transformam-se no todo cheio de vida da música. Mas há uma diferença: enquanto o regente apenas interpreta o compositor, o executivo é, ao mesmo tempo, compositor e intérprete". Consideremos as palavras de Leonard R. Sayles, que realizou pesquisas sistemáticas sobre o trabalho do executivo: "O executivo é como o regente de uma orquestra sinfônica, esforçando-se por manter uma execução melodiosa, na qual as contribuições dos vários instrumentos são coordenadas e postas em seqüência, modeladas e compassadas, enquanto os integrantes da orquestra enfrentam dificuldades pessoais — as mãos manipulando as folhas das partituras, o excessivo calor ou frio criando problemas para o auditório ou para os instrumentos ou o patrocinador do concerto insistindo em impor alterações irracionais no programa". Com efeito, cada executivo é obrigado a empregar boa parte se seu tempo respondendo a interferências de grande intensidade. Nenhuma organização é tão bem dirigida, tão padronizada, que possa prever todas as contingências típicas de um meio ambiente incerto. As complicações surgem não somente porque executivos incompetentes ignoram certas situações, até que elas atinjam proporções de crise, mas também porque mesmo os bons executivos não podem, possivelmente, prever as conseqüências de todas as suas ações. 3) O terceiro papel decisional é o de alocador dos recursos. A ele cabe a responsabilidade de decidir sobre quem obterá o que na sua unidade organizacional. Talvez o mais importante recurso que o executivo distribui seja seu próprio tempo. Ter acesso ao executivo significa estar diante do centro nervoso das decisões da unidade. O executivo é, também, o encarregado de projetar a estrutura de sua unidade, o modelo de relacionamento formal que determina como o trabalho deve ser dividido e coordenado. Além disso, em seu papel de alocador de recursos, o executivo autoriza importantes decisões de sua unidade, antes que sejam executadas. É graças a esta prerrogativa que ele assegura uma interligação nas decisões: tudo passa por um único cérebro. Fragmentá-lo seria encorajar tomadas de decisões descontínuas e uma estratégia desarticulada. Há um certo número de aspectos interessantes nesta situação do executivo como elemento que autoriza os outros a tomarem decisões. Em primeiro lugar, apesar do uso bastante difundido de orçamentos programados — um meio de autorizar várias aplicações de capital ao mesmo tempo —, os executivos estudados por mim tomaram muitas decisões de autorização de improviso. Aparentemente, alguns projetos não podem esperar ou não apresentam custos e benefícios quantificáveis, como requer um orçamento. Em segundo lugar, constatei que os executivos-chefes têm de enfrentar alternativas incrivelmente complexas. São obrigados a considerar o impacto de cada decisão sobre outras decisões e sobre a estratégia da empresa. Devem estar seguros de que a decisão será aceitável para aqueles que exercem influência na organização, de que os recursos não serão alocados além da capacidade. Devem ter idéia dos custos e benefícios, assim como da exequibilidade da proposta. Têm, ainda, de levar em conta a questão da escolha do momento oportuno. Tudo isso é necessário para a simples aprovação de uma resposta. Ao mesmo tempo, porém, uma demora pode resultar em perda de tempo, uma rápida aprovação ser mal recebida e uma rejeição apressada desencorajar o subordinado que levou meses para desenvolver seu projeto. Uma solução adotada com freqüência consiste em escolher o homem ao invés da proposta. Isto é, o executivo aprova os projetos que lhe são apresentados por pessoas em quem confia. Mas nem sempre pode utilizar-se desse expediente. 4) O último papel decisional é o de negociador. Pesquisas sobre o trabalho administrativo em todos os níveis indicam que os executivos em todos os níveis gastam considerável tempo em negociações: o presidente de um clube de um clube de futebol é chamado a discutir o contrato de um jogador; o presidente de uma empresa dirige a sua equipe na negociação para solucionar uma greve; o chefe de seção discute um caso de injustiça relacionado com um dos vendedores. Como observou Leonard Sayles, as negociações são um "meio de vida" para o executivo sofisticado. As negociações são parte do trabalho do executivo. Talvez sejam até funções de rotina e não podem ser deixadas de lado. São parte integral de seu trabalho, pois somente ele tem autoridade para comprometer recursos da empresa e somente ele possui as informações do centro nervoso que as negociações importantes exigem. Não pode haver dúvida de que os dez papéis descritos por mim não são facilmente separáveis. Na terminologia do psicólogo, eles formam uma gestalt, um todo integrado. Nenhum papel pode ser destacado do conjunto, sem prejudicar fundamentalmente o trabalho do executivo. Por exemplo: um executivo sem contatos não consegue obter informações externas. Em conseqüência, não pode fornecer a seus subordinados as informações de que necessitam nem tomar decisões que reflitam adequadamente as condições externas (na realidade, esse é um problema para uma pessoa que ocupa uma função administrativa há pouco tempo, visto que ela não pode tomar decisões antes de formar sua rede de contatos). Aqui temos uma pista para os problemas de administraçãopor equipe. Duas ou três pessoas não podem compartilhar uma única entidade. Isso significa que elas não podem dividir entre si os dez papéis, a não ser que possam reintegrá-los cuidadosamente. A verdadeira dificuldade reside nos papéis informacionais. Sem uma total participação na informação administrativa — e, como indiquei anteriormente, ela é fundamentalmente verbal — a equipe administrativa não funciona. Uma tarefa administrativa não pode ser dividida arbitrariamente, por exemplo, em papéis internos e externos, pois a informação de ambas as fontes deve ser usada nas mesmas decisões. Dizer que os dez papéis formam uma gestalt não significa que todos os executivos dão igual atenção a todos os papéis. Na verdade, constatei pela análise de várias pesquisas que: • Os executivos do setor de vendas parecem gastar mais tempo com os papéis interpessoais, o que talvez seja um reflexo da natureza extrovertida da atividade de marketing. • Os executivos do setor de produção dão relativamente mais atenção aos papéis decisionais, o que talvez reflita sua preocupação com a eficiência do fluxo de trabalho. • Os executivos do setor de pessoal empregam a maior parte de seu tempo com os papéis informacionais, por serem especialistas que dirigem departamentos que orientam outros setores da organização. Ainda assim, em todos os casos os papéis interpessoais, informacionais e decisionais permanecem inseparáveis. Quais as lições para a administração encontradas nesta descrição? Acredito, em primeiro lugar, que essa descrição de trabalho administrativo será mais importante para os executivos do que qualquer receita que eles possam tirar dela. Isto é, a eficiência do executivo é consideravelmente influenciada por sua compreensão do próprio trabalho. Seu desempenho depende da maneira como ele entende e responde às pressões e dilemas de sua função. Assim, os executivos que tendem a ser introspectivos em relação a seu trabalho são, em geral, eficientes em suas funções. Estamos apresentando neste trabalho 14 grupos de perguntas (vide página 81) que os executivos devem fazer a si mesmos. Algumas podem parecer retóricas, mas não foi essa nossa intenção. Muito embora as perguntas não possam ser respondidas de maneira simples, o executivo deve fazê-las. Vamos agora voltar a atenção para três áreas de interesse. Na maioria das vezes o grande gargalo da administração — o dilema de delegar poderes, os bancos de dados centralizados numa única cabeça, o problema do trabalho com os cientistas da administração — gira em torno da natureza verbal das informações do executivo. Existe um grande perigo em centralizar o banco de dados da organização na cabeça de seus executivos. Quando deixam a empresa, levam a sua memória com eles. E, quando os subordinados estão fora do seu alcance verbal, estão em desvantagem informacional. 1) O executivo é desafiado a encontrar métodos sistemáticos que Ihe permitem compartilhar suas informações privilegiadas. Reunir-se regularmente com os principais subordinados; gravar semanalmente as informações guardadas na cabeça; manter um diário com informações importantes, destinadas a uma circulação limitada e outros métodos semelhantes podem afastar consideravelmente os obstáculos ao trabalho administrativo. O tempo gasto na divulgação de informações será mais do que recompensado, quando as decisões tiverem de ser tomadas. É evidente que alguém levantará a questão do aspecto confidencial. Entretanto, os executivos terão de pesar cuidadosamente os riscos de expor o privilégio da informação e a possibilidade de ter subordinados que possam tomar decisões acertadas. Um outro tema que deve ser abordado é o das múltiplas pressões que forçam o executivo a ser superficial em suas ações: sobrecarregar-se de trabalho, encorajar a interrupção, responder rapidamente a todos os estímulos, procurar o tangível e evitar o abstrato, tomar decisões homeopáticas e tratar de tudo abruptamente. 2) Aqui, novamente, o executivo é desafiado a tratar conscientemente das pressões da superficialidade, dando a devida atenção aos problemas que a exijam, e afastando-se dos aspectos tangíveis da informação a fim de captar um panorama amplo e utilizando as informações analíticas. Embora os executivos eficientes se inclinem a responder prontamente aos diferentes e múltiplos problemas, o perigo no trabalho administrativo é que eles tenderão a responder da mesma forma — ou seja, abruptamente — a todos os problemas, e jamais transformarão os pequenos pedaços tangíveis da informação numa visão mais ampla de seu mundo. Como observei anteriormente, o executivo usa esses pedaços de informação para construir modelos de seu mundo. No entanto, o executivo também pode utilizar-se dos modelos dos especialistas. Os economistas descrevem o funcionamento dos mercados, os pesquisadores operacionais simulam o fluxo financeiro e os cientistas do comportamento explicam as necessidades e objetivos do povo. O melhor desses modelos pode ser examinado e compreendido. Tratando de questões complexas, os executivos mais antigos têm muito a ganhar com um íntimo relacionamento com os cientistas administrativos de sua própria organização. Eles têm algo importante, que falta aos executivos: tempo para investigar os problemas complexos. Uma relação de trabalho eficiente leva à solução do que eu e um colega chamamos de "dilema do planejamento". Os executivos têm a informação e a autoridade; os analistas possuem tempo e tecnologia. Uma relação de trabalho bem sucedida entre os dois será estabelecida quando o executivo souber compartilhar sua informação, e o analista, por sua vez, aprender a adaptar-se às necessidades do executivo. Para o analista, adaptação significa preocupar-se menos com a elegância do método e mais com sua rapidez e flexibilidade. Acredito que os analistas podem ajudar os altos executivos especialmente no que se refere ao planejamento de seu tempo, ao fornecimento de informações analíticas, ao controle de projetos sob sua supervisão, ao desenvolvimento de modelos destinados a ajudar nas opções, à apresentação de planos de emergência — para complicações que possam ser previstas — e de análises rápidas e eficientes, para as que não possam ser previstas. Contudo, não poderá haver cooperação, se os analistas se mantiverem afastados do fluxo de informações do executivo. 3) O executivo é desafiado a controlar seu próprio tempo, ao reverter as obrigações em proveito próprio e ao transformar seus desejos em obrigações. Os executivos de minha pesquisa iniciaram apenas 32% de seus próprios contatos (e outros 5% por mútuo acordo). Contudo, em grande parte, eles pareciam controlar seu tempo. Havia dois fatores-chave que lhes permitiam agir assim: Primeiro o executivo é obrigado a gastar tanto tempo desincumbindo-se de suas obrigações que, se ele fosse encará-las apenas como tal, não deixaria marcas na sua organização. O executivo frustrado culpa as obrigações pelo fracasso; o executivo eficiente transforma suas obrigações em vantagens. Um discurso é uma oportunidade de obter apoio para uma causa; uma reunião pode levar à reorganização de um departamento deficiente; uma visita a um cliente é uma oportunidade para obter uma informação comercial. Em segundo lugar, o executivo reserva alguma parte de seu tempo para fazer as coisas que ele, — e talvez ninguém mais — julga importante, a ponto de transformá-las em obrigações. O tempo livre é conseguido e não simplesmente encontrado. É forçado na agenda. A esperança de deixar algum tempo livre para contemplação ou planejamento geral é o mesmo que esperar que as pressões do cargo se dissipem. O executivo que pretende inovar deve iniciar um projeto e obrigar os outros a informá-lo sobre seu andamento. O executivo que necessitade certas informações sobre o meio ambiente estabelece canais que o tornarão automaticamente bem informado; o executivo que tem de visitar as instalações da empresa se compromete publicamente. Finalmente, uma palavra sobre o treinamento de executivos. Nossas escolas de administração de empresas executaram um trabalho admirável no treinamento dos especialistas da empresa: cientistas administrativos, pesquisadores de mercado, contadores e especialistas em desenvolvimento organizacional. Entretanto, a maior parte delas não treinou executivos. As escolas de administração de empresas começarão um treinamento sério de executivos, quando o treinamento prático ocupar um lugar, importante, próximo ao do conhecimento cognitivo. O conhecimento cognitivo é tão imparcial e informacional quanto ler um livro ou assistir a uma aula. Não há dúvida de que os materiais cognitivos mais importantes precisam ser assimilados pelos candidatos a executivos. Não obstante, o conhecimento cognitivo não faz um executivo como não faz um nadador. O nadador afundará ao se lançar ao rio, se seu treinador nunca o levar da sala de aula para a água para depois analisar seu desempenho. Em outras palavras, aprendemos uma profissão por meio da prática e também da orientação numa situação real ou simulada. Nossas escolas de administração de empresas precisam identificar as habilidades usadas pelos executivos, selecionar estudantes que revelem potenciais e, para desenvolver tais habilidades, colocar os estudantes em situações onde possam praticar essas habilidades e, então, dar-lhes instruções sistemáticas sobre seu desempenho. Minha descrição do trabalho administrativo sugere uma série de importantes habilidades administrativas: desenvolver relações com seus pares, fazer negociações, motivar os subordinados, solucionar conflitos, estabelecer redes de informações e, posteriormente, difundir informações, tomar decisões diante de condições de extrema ambigüidade e alocar recursos. O executivo precisa ser introspectivo com relação a seu trabalho, para que continue a aprender no cargo. Muitas das habilidades do executivo, na verdade, podem ser praticadas usando-se técnicas que vão desde a representação de papéis até vídeo-tapes de reuniões reais. E nossas escolas de administração de empresas podem aperfeiçoar as habilidades por meio de cursos que estimulem a sensibilidade para o risco e para a inovação. Nenhuma profissão é mais vital à nossa sociedade do que a do executivo. É o executivo que determina se nossas instituições sociais funcionam bem ou se desperdiçam nossos talentos e recursos. Já é tempo de abandonar o que existe de irreal em torno do trabalho do executivo. É tempo também de estudá-lo realisticamente, para que se possa iniciar a difícil tarefa de melhorar significativamente o seu desempenho. 14 perguntas para o executivo fazer auto-análise 1) Onde e como obtenho informações? Posso fazer melhor uso de meus contatos para obter informações? Outras pessoas podem pesquisar em meu lugar? Em que setores meu conhecimento é menos satisfatório, e como poderei encontrar pessoas que forneçam as informações de que necessito? Tenho modelos de raciocínio claros a respeito das coisas que preciso entender, dentro e fora da organização? 2) Que informações dissemino em minha organização? Que importância atribuo ao fato de meus subordinados receberem minhas informações? Estarei guardando demasiada informação pelo simples fato de que sua difusão consome muito tempo ou é inconveniente? Como fornecer mais informações aos outros, para que possam tomar decisões mais acertadas? 3) Estabeleço alguma relação entre as informações colhidas e as ações tomadas? Minha tendência é agir antes de reunir as informações? Ou, ao contrário, me detenho excessivamente na coleta de todas as informações, perdendo, em conseqüência, as oportunidades e tornando-me um empecilho para o bom andamento da empresa? 4) Qual o ritmo de mudança que procuro imprimir à organização? Tal ritmo é suficientemente dosado, de modo a garantir que as operações não sejam excessivamente estáticas ou alteradas com muita freqüência? Temos analisado suficientemente o impacto dessas alterações sobre o futuro da empresa? 5) Estou suficientemente bem informado e, por conseqüência, em condições de julgar as propostas apresentadas por meus subordinados? É possível confiar aos subordinados a aprovação final da maioria dessas propostas? Será que temos problemas de coordenação porque os subordinados estão tomando muitas decisões por conta própria? 6) O que penso sobre os rumos da organização? Os planos estão na minha cabeça de forma vaga? Deveria explicitá-los, a fim de orientar melhor a decisão de outras pessoas na empresa? Ou preciso de flexibilidade para mudá-los à vontade? 7) Qual a reação de meus subordinados ao meu estilo de trabalho? Sou suficientemente sensível à poderosa influência que minhas ações exercem sobre eles? Compreendo perfeitamente suas reações às minhas ações? Consigo alcançar um equilíbrio adequado entre o encorajamento e a pressão? Estaria inibindo suas iniciativas? 8) Que tipo de relacionamento externo mantenho e de que maneira? Gasto demasiado tempo nesse relacionamento? Há certos tipos de pessoas que deveria conhecer melhor? 9) Sistematizo minha maneira de organizar o tempo ou simplesmente reajo às pressões do momento? Procuro contrabalançar adequadamente minhas atividades ou me inclino a concentrar-me numa função particular ou num determinado tipo de problema, apenas porque o julgo interessante? Sou mais eficiente em relação a um determinado tipo de trabalho, num horário especial do dia ou da semana? Meu horário de trabalho reflete esse fator? Alguém mais — além da minha secretária — influi na fixação de meu horário e o faz de maneira sistemática? 10) Trabalho em excesso? Qual o efeito da carga de trabalho sobre minha eficiência? Deveria tirar pequenas folgas no trabalho ou reduzir o ritmo de minhas atividades? 1I) Sou demasiadamente superficial no que faço? Posso, realmente, alterar minha disposição de ânimo tão rápida e freqüentemente como exigem os métodos de meu trabalho? Deveria tentar diminuir a fragmentação e interrupção do trabalho? 12) Costumo orientar-me excessivamente em direção a atividades tangíveis e movimentadas? Sou escravo da ação e do excitamento de meu trabalho, a ponto de não ser mais capaz de me concentrar nos problemas? Os problemas-chave recebem a atenção que merecem? Deveria gastar mais tempo lendo e analisando profundamente certos problemas? Poderia ser mais reflexivo? 13) Uso apropriadamente as diferentes mídias? Sou capaz de aproveitar ao máximo uma comunicação escrita? Dependo excessivamente da comunicação pessoal colocando, desse modo, a maioria de meus subordinados numa posição de desvantagem informacional? Organizo suficientemente minhas reuniões? Gasto o tempo necessário percorrendo a empresa, a fim de ter uma visão pessoal, sem intermediários, de sua atividade? Sou demasiadamente desligado do centro de atividades de minha empresa, vendo as coisas somente de maneira abstrata? 14) Como avalio meus direitos e obrigações? As obrigações consomem todo o meu tempo? Como poderia livrar-me das obrigações para ter certeza de que estou levando minha organização para onde quero que ela vá? Seria possível transformar minhas obrigações em vantagens? Referência: Coleção Harvard de Administração Trabalho do Executivo: O Folclore e o Fato Henry Mintzberg, Nova Cultural, S.P., 1986.
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