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Brasília-DF. Planejamento, Controle e Confiabilidade na manutenção Elaboração Gabriela Lima Menegaz Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção ................................................................................................................................. 4 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5 introdução.................................................................................................................................... 7 unidAdE i PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO .......................................................................... 11 CAPítulo 1 EsTRUTURA ORGANIZAcIONAL DA MANUTENÇÃO ................................................................... 11 unidAdE ii PLANEJAMENTO E cONTROLE DA MANUTENÇÃO (PcM) ...................................................................... 26 CAPítulo 1 EsTRUTURA DO sIsTEMA DE cONTROLE DA MANUTENÇÃO ...................................................... 27 CAPítulo 2 sIsTEMAs INfORMATIZADOs PARA MANUTENÇÃO ................................................................... 35 unidAdE iii cONfIABILIDADE, DIsPONIBILIDADE E MANUTENIBILIDADE ..................................................................... 47 CAPítulo 1 cONfIABILIDADE .................................................................................................................... 47 CAPítulo 2 DIsPONIBILIDADE .................................................................................................................... 52 CAPítulo 3 MANUTENIBILIDADE ................................................................................................................ 58 unidAdE iV As fALHAs NOs EQUIPAMENTOs .......................................................................................................... 66 CAPítulo 1 cOMO OcORREM As fALHAs NOs EQUIPAMENTOs ............................................................... 66 CAPítulo 2 cOMO DEsENvOLvER UM sIsTEMA DE TRATAMENTO DAs fALHAs ........................................... 78 CAPítulo 3 fERRAMENTAs PARA O AUMENTO DA cONfIABILIDADE ........................................................... 94 rEfErênCiAS ................................................................................................................................ 115 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 introdução Toda empresa quer que seus equipamentos, sistemas e intalações operem de forma confiável e eficaz, funcionando corretamente durante o período esperado, para que a produção e os resultados da planta sejam alcançados. Infelizmente, não existe um mundo ideal no cenário emprasarial, nenhum ativo físico funciona perfeitamente por um tempo indeterminado. Na maioria das organizações, as falhas e paradas são constantes, resultando na perda de qualidade e produtividade. Muitos problemas são relacionados à manutenção, fazendo com que a área e seus integrantes sejam, por muitas vezes, responsabilizados pelas dificuldades que acometem as plantas, instalações e corporações. É comum observar que, em várias empresas, é dada atenção para a manutenção quando a produção exige que os equipamentos parados, devido à alguma falha, retomem o seu funcionamento rapidamente. Com isso, o trabalho de manutenção é feito de forma reativa, sem planejamento e controle. Realizar o planejamento e o controle adequados da manutenção é um requisito fundamental para a sobrevivência a longo prazo de todas as empresas. Ignorar esse requisito é uma garantia de que a planta sofrerá consequências que causarão o aumento do custo operacional e a perda da capacidade de competir no mercado mundial de hoje. O papel da manutenção deve mudar para apoiar e auxiliar o crescimento da empresa diante da concorrência mundial. A manutenção não pode apenas limitar o seu papel de ação às atividades emergenciais, que são solucionadas com o uso de mão de obra e recursos não planejados. A partir do momento em que os sistemas, infraestrutura, processos e procedimentos corretos estiverem implantados e forem executados de forma consistente, mudanças podem ocorrer na cultura da empresa. As perdas podem ser minimizadas, a operação se tornará estável, a produção será maximizada e a elevada qualidade dos produto se tornará uma norma, atingindo um estado de excelência em manutenção. A excelência em manutenção é um subconjunto da excelência em confiabilidade e redefine os papéis e responsabilidades tradicionais, bem como os processos de manutenção necessários para assegurar a confiabilidade dos ativos. Assim, a função de manutenção se torna um parceiro igual dentro da corporação, sendo executada como um negócio com fins lucrativos e que deve atender às expectativas da organização. A obtenção dealta confiabilidade nas operações de manutenção minimiza o desperdício, maximiza a 8 produção e minimiza o custo, além de provocar o maior envolvimento dos integrantes da equipe que resultam em um melhor rendimento. O estudo e a busca por conhecimentos e ações inovadoras na área de manutenção devem ser contantes, já que essa é uma área complexa e importante para a empresa e por muitas vezes é negligenciada. A complexidade da área de manutenção pode ser ilustrada pela citação de Mobley; Higgins; Wikoff (2008): A manutenção não é apenas manutenção preventiva, embora este aspecto seja um ingrediente importante. A manutenção não é lubrificação, embora a lubrificação seja uma das principais funções. Nem a manutenção é simplesmente uma corrida frenética para reparar uma parte quebrada da máquina quebrada ou um segmento de construção, embora esta seja frequentemente a atividade de manutenção dominante. Em uma perspectiva mais positiva, a manutenção é uma ciência, uma vez que sua execução depende, mais cedo ou mais tarde, de quase todas ou senão de todas as ciências. É uma arte, pois problemas aparentemente idênticos exigem e recebem abordagens e ações diferentes, e também porque alguns gerentes, supervisores e técnicos de manutenção apresentam maior aptidão para isso do que outros mostram ou podem alcançar. É sobretudo uma filosofia, porque é uma disciplina que pode ser aplicada de forma intensiva, modesta ou não, dependendo de uma ampla gama de variáveis que frequentemente transcendem soluções mais imediatas e óbvias. Além disso, a manutenção é uma filosofia, porque deve ser cuidadosamente adaptada à operação ou à organização, servindo como um traje fino que é ajustado ao seu usuário e, também, porque a forma como é vista pelos seus executores moldará sua eficácia. A prática da manutenção de equipamentos e instalações industriais é realizada em empresas de diferentes portes e áreas de atuação há muitos anos. Apesar de existirem vários cursos e materiais abordando o assunto, é comum encontrar integrantes, técnicos, supervisores, gerentes e diretores, que não têm conhecimentos fundamentais das suas atividades profissionais e dos conceitos relacionados à ela. Entender e saber como executar o planejamento, o controle e as ferramentas de confiabilidade envolvidos na manutenção são essencias para o bom funcionamento e o aprimoramente dos profissionais da área e dos serviços executados. Esses temas serão abordados nesse material didático e os objetivos específicos relacionados estão apresentados a seguir. 9 objetivos » Promover embasamento teórico para o entendimento do planejamento e da estrutura da organização da manutenção. » Analisar as estruturas de controle da manutenção. » Analisar os sistemas informatizados que podem ser usados como ferramenta de auxilio no planejamento e controle da manutenção. » Compreender os conceitos de confiabilidade, disponibilidade e manutenibilidade. » Entender o conceito de falhas nos equipamentos, como as falhas ocorrem e quais os sistemas de tratamento de falhas. » Compreender as ferramentas que podem ser usadas para o aumento da confiabilidade. 10 11 unidAdE i PlAnEJAMEnto E orgAnizAção dA MAnutEnção CAPítulo 1 Estrutura organizacional da manutenção A atividade de manutenção é de extrema importância em empresas de diversos setores de atuação. A organização da manutenção em cada empresa pode variar devido a diferenças nas atividades exercidas e no porte de cada uma delas. Imagine quantas diferenças podem existir na manutenção de uma usina sucroalcooleira, em um hospital, uma pequena empresa ou nas aeronaves de um aeroporto. A manutenção deve ser cuidadosamente adaptada às situações técnicas, geográficas e de pessoal existentes. No entanto, existem regras organizacionais básicas e algumas regras gerais que abrangem condições específicas que regem a estruturação do departamento de engenharia de manutenção. divisão de responsabilidades As relações de subordinação na área de manutenção variam de acordo com alguns fatores, como o tamanho da empresa, a política organizacional e o impacto das atividades de manutenção nos resultados. Nas empresas menores, as funções técnicas são agrupadas e incluem os setores de manutenção, engenharia, inspeção e serviçoes gerais. A função suprimentos pode ser incorporada na manutenção, porém, está geralmente ligada à área administrativa. (KARDEC; NASCIF, 2009) No decorrer das últimas décadas, foi possível observar a crescente consolidação da manutenção no nível gerencial e a redução da subordinação à diretoria e à superintendência das empresas. Esse fenômeno ocorreu devido a movimentos como a reengenharia, downsizing e a redução dos níveis hierárquicos. (KARDEC; NASCIF, 2009) 12 UNIDADE I │ PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO Embora a prática da manutenção seja específica para cada instalação e indústria e apresente um conjunto específico de problemas e tradições, é possível agrupar atividades e responsabilidades em duas classificações gerais: » funções primárias, que exigem o trabalho diário da área de manutenção, e » funções secundárias, que são atribuídas à manutenção por razões de necessidade, know-how ou precedente. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) funções primárias Manutenção da planta de equipamentos existente Essa atividade representa a razão física para a existência do profissional de manutenção. A responsabilidade nessa função é simplesmente fazer reparos necessários ao maquinário de produção de forma rápida e econômica, antecipando os reparos e empregando a manutenção preventiva, sempre que possível, para preveni-los. Para isso, uma equipe de engenheiros e técnicos qualificados para a execução do trabalho devem ser treinados, motivados e constantemente mantidos para assegurar que as habilidades adequadas estejam disponíveis, realizando uma manutenção eficaz. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) Manutenção de construções e terrenos existentes Entre as tarefas geralmente atribuídas ao grupo de engenharia de manutenção estão os reparos de edifícios, telhados, pintura, substituição de vidro, concertos elétricos, e das instalações externas pertencentes à empresa, como estradas, vias férreas, sistemas de esgotos internos e instalações de abastecimento de água. Podem ser incluídos aspectos adicionais da manutenção de edifícios e terrenos nessa área de responsabilidade. Os serviços de limpeza podem ser separados e gerenciados por outro departamento ou terceirizados para empresas especificas do setor. É importante isolar os registros de custos para limpeza geral da manutenção e reparo de rotina para que a administração tenha uma perspectiva real das despesas necessárias para manter a planta e seu equipamento. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) inspeção de equipamentos e lubrificação Tradicionalmente, as inspeções e lubrificação de equipamentos foram atribuídas à organização ou função da manutenção. As inspeções que exigem ferramentas especiais 13 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO │ UNIDADE I ou desmontagem parcial do equipamento necessitam de operadores treinados nessa tarefa crítica. Isso tmabém se aplica à lubrificação, que devido à sua proximidade com os sistemas de produção, necessita de operadores treinados para executar a lubrificação de rotina. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) Serviços de geração e distribuição Nas plantas em que é feita a geração própria de eletricidade e vapor para serem usados em seus processos, são assumidas as funções de uma pequena empresa de serviços públicos, o que pode justificar a existência de um departamento operacional próprio. Essa atividade enquadra-se no campo da engenharia de manutenção, mas pode ser administrada comouma área separada ou como parte de alguma outra função, dependendo das exigências da gerência. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) Alterações e novas instalações Três fatores, geralmente, determinam em que nível essa área envolve o departamento de manutenção: » tamanho da planta, » tamanho da empresa como um todo e » a política da empresa. Em uma pequena fábrica de uma empresa com uma única unidade, esse tipo de trabalho pode ser realizado por empresas externas. Em uma pequena fábrica que faz parte de uma empresa de grande porte com várias unidades, a maioria das novas instalações e grandes alterações podem ser realizadas pelo departamento de engenharia central da empresa. Em uma grande fábrica, uma organização separada deve lidar com a maior parte desse trabalho. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008). funções secundárias O departamento de manutenção muitas vezes assume atividades ímpares que nenhum outro departamento pode ou quer lidar. Diante disso, deve-se ter atenção para não diluir as responsabilidades primárias de manutenção com esses serviços secundários. Quaisquer que sejam as responsabilidades atribuídas ao departamento de manutenção, é importante que sejam claramente definidas e que os limites de autoridade e responsabilidade sejam estabelecidos e acordados por todos os interessados. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) 14 UNIDADE I │ PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO Algumas dessas funções secundárias que podem fazer parte das atividades da área de manutenção estão apresentadas a seguir. Armazenamento Na maioria das fábricas é essencial diferenciar o armazenamento dos itens de manutenção mecânica daqueles itens de uso geral. A administração do estoque das peças para manutenção está normalmente dentro da área de engenharia de manutenção devido à estreita relação dessa atividade com outras operações do setor. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) Segurança da fábrica Nessa categoria estão, geralmente, inseridas as atividades e profissionais responsáveis por garantir a proteção e a segurança da fábrica e de seus funcionários, incluindo guardas, vigias e esquadrões de bombeiros. A incorporação dessas funções à engenharia de manutenção é uma prática comum. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) depósito dos rejeitos da fábrica A área de manutenção pode ser responsável pelo manejo e depósito dos rejeitos da fábrica, além da manutenção da parte externa, como jardins. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) formas de atuação da manutenção A definição da forma de atuação da manutenção é a abordagem inicial no aspecto estrutural. A escolha deve ser feita em função do tamanho e dos produtos da planta, podendo ser centralizada, descentralizada ou mista. Caso a opção adotada seja a forma de atuação descentralizada, é necessário caracterizar se a divisão será por área, linha de produto, unidade de negócios, departamento ou uma combinação desses. (KARDEC; NASCIF, 2009) forma de atuação centralizada A manutenção centralizada é composta por um único órgão de manutenção, com o mesmo nível dos órgãos operativos e que atende às necessidades de intervenção em qualquer setor demandado, como mostra o esquema da figura 1 (SOUZA, 2008). Exemplos de manutenção centralizada podem ser observados em pequenas e médias empresas, grandes edifícios e hospitais, onde é necessário centralizar devido a características geográficas. A manutenção também pode ser centralizada por características do layout da produção que concentra equipamentos em uma área relativamente pequena. 15 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO │ UNIDADE I Isso ocorre em grande parte das indústrias de processamento, como plantas petroquímicas, fábricas de cimento e refinarias. (KARDEC; NASCIF, 2009) figura 1. Estrutura Organizacional da Manutenção centralizada. Direção Industrial Operação 1 Operação 5 Operação 2 Operação N Engenharia/PCM Operação N Manutenção Execução fonte: adaptado de souza, 2008. forma de atuação descentralizada A forma de atuação descentralizada é encontrada, por exemplo, nas grandes indústrias siderúrgicas como consequência das características dos processos e das distâncias maiores que existem entre as diversas linhas de produção. A manutenção descentralizada, é caracterizada por uma equipe própria de manutenção para cada área de processo, sendo essa responsável pela execução, planejamento e controle. A estrutura organizacional dessa forma de atuação da manutenção está esquematizada na figura 2. (SOUZA, 2008) figura 2. Estrutura Organizacional da Manutenção Descentralizada. Direção Industrial Operação 1 PCM e Execução da Manutenção Operação 2 Operação N PCM e Execução da Manutenção PCM e Execução da Manutenção fonte: adaptado de souza, 2008. 16 UNIDADE I │ PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO forma de atuação mista A manutenção mista é uma combinação das formas de atuação centralizada e descentralizada que agrega as vantagens de ambas e tem sido aplicada em plantas industriais de grande porte (KARDEC; NASCIF, 2009). Essa estrutura oferece autonomia a cada área de processo para realizações cotidianas e, ao mesmo tempo, é gerida por um único órgão onde são disponibilizados os métodos e processos de controle padronizados, como é exemplificado na figura 3. (SOUZA, 2008) figura 3. Estrutura Organizacional da Manutenção Mista. Direção Industrial Operação 1 Operação 2 Execução de Manutenção Execução de Manutenção Execução de Manutenção Operação N Manutenção Engenharia PCM Oficina Central fonte: adaptado de souza, 2008. Evolução da forma de atuação da manutenção no Brasil Segundo Kardec e Nascif (2009), a tendência moderna de forma de atuação é baseada na formação de times multifuncionais alocados por unidades com o objetivo de realizar um pronto atendimento, sendo aplicada em plantas mais complexas. Essa forma de atuação é aplicada em empresas brasileiras de alta competitividade e tem apresentado excelentes resultados, com as seguintes vantagens (KARDEC; NASCIF, 2009): » entrosamento entre as diversas especialidades; » aumento da produtividade; » aumento da qualidade; » maior conhecimento da unidade; 17 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO │ UNIDADE I » atuação multifuncional; » maior integração entre as pessoas e a unidade. A situação da estrutura organizacional da manutenção no Brasil pode ser ilustrada pelos dados obtidos no Documento Nacional “A situação da Manutenção no Brasil”, realizado em 2013 pela Associação Brasileira da Manutenção (ABRAMAN). As análises foram feitas a partir de dados e informações coletadas de 151 empresas de diversos setores, como petróleo, prestação de serviço, energia elétrica, automotivo, industrial e metalúrgico. A tabela 1 e a figura 4 apresentam a forma de atuação da manutenção adotada nas empresas analisadas: centralizada, descentralizada, mista e unidade de negócios. A comparação entre os dados coletados em 1995 e 2013 mostra que a manutenção centralizada se mantém como a mais usada entre as empresas, seguida pela manutenção descentralizada e mista, 47,30%, 29,05% e 23,65%, respectivamente. Ao longo dos anos, a manuntenção descentralizada teve seu uso reduzido, passando de 13,70% para 23,65%. Em contrapartida a manutenção mista ganhou espaço nas empresas, aumentando de 33,50% para 29,05%. Tabela 1. formas de atuação da Manutenção no Brasil entre os anos de 1995 e 2013. Forma de Atuação da Manutenção % 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 Centralizada 46,20 42,50 40,52 36,62 42,52 36,14 26,28 32,59 31,72 47,30 Descentralizada 13,70 15,83 21,55 21,13 21,26 27,20 33,97 26,67 27,59 23,65 Mista 33,50 41,67 37,93 42,25 36,22 35,96 39,75 40,74 40,69 29,05 Unidade de Negócio 6,60- - - - - - - - - fonte: ABRAMAM, 2013. figura 4. formas de atuação da Manutenção no Brasil entre os anos de 1995 e 2013. fonte: ABRAMAM, 2013. 18 UNIDADE I │ PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO Vantangens da Manutenção Centralizada (KARDEC; NASCIF, 2009): » O efetivo de manutenção tende a ser menor. » A eficiência global é maior do que a da manutenção descentralizada, pela maior flexibilidade na alocação da mão de obra em vários locais da planta, possibilitando o desenvolvendo de maiores habilidades. » A aquisição em menor número de instrumentos e equipamentos, quando comparada à manutenção descentralizada. » A aplicação de polivalência é favorecida. » A estrutura de supervisão é mais enxuta. Desvantangens da Manutenção Centralizada (KARDEC; NASCIF, 2009): » A supervisão dos trabalhos apresenta maiores dificuldades devido à necessidade de deslocamento a várias frentes de serviço que podem ser distantes umas das outras. » Para o desenvolvimento de especialistas com conhecimentos específicos dos equipamentos é demandado um período de tempo maior do que na manutenção desecentralizada. » Maiores custos com transporte em plantas que ocupam grandes áreas. » Menor cooperação entre operação e manutenção. Na manutenção descentralizada a convivência diária com a mesma equipe favorece o espírito de cooperação e trabalho em grupo. Estruturas da manutenção A manutenção deve ser cuidadosamente adaptada às situações técnicas, geográficas e de pessoal existentes. No entanto, existem regras organizacionais básicas. Além disso, existem algumas regras gerais que abrangem condições específicas que regem a estruturação do departamento de engenharia de manutenção. É igualmente essencial que exista alguma relação reconhecida estabelecida formalmente para determinar linhas firmes de autoridade, responsabilidade e prestação de contas. Essa organização baseada em teorias universais, adaptada às situações locais e dotada de pessoas que interagem positivamente e com um forte espírito de cooperação, é aquela que, provavelmente, terá êxito. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) 19 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO │ UNIDADE I A escolha da forma de atuação organizacional da manutenção deve ter início nos seguintes conceitos básicos da Teoria da gestão (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008): 1. Estabelecer uma divisão de autoridade razoavelmente clara e com mínima sobreposição. A autoridade pode ser dividida funcionalmente, geograficamente ou com base na conveniência. Outra possibilidade é que a divisão de autoridade seja baseada na combinação dos fatores anteriores. Independente da divisão adotada, sempre deve haver uma definição clara da linha de separação para evitar a confusão e o conflito que pode resultar da sobreposição de autoridade, especialmente no caso de assistentes de pessoal. 2. Manter linhas verticais de autoridade e responsabilidade, que sejam o mais próximo possível. O acúmulo de camadas de supervisão intermediária ou a aplicação de vários auxiliares funcionais especializados, deve ser minimizada. Quando tais práticas são consideradas essenciais, é necessário que sejam estabelecidas divisões claras de deveres. 3. Manter um número adequado de integrantes que reportam a um indivíduo de liderança. Algumas organizações limitam o número de pessoas que se comunicam a um único supervisor, sendo de no máximo de três a seis. Naturalmente, existem diversos fatores que podem afetar essa limitação, já que esse número depende de quanto a supervisão de uma liderança é realmente necessária. Quando a supervisão requerida é razoavelmente pequena, o líder pode acompanhar as atividades de doze ou mais indivíduos. Os conceitos básicos anteriores aplicam-se de forma generalizada em qualquer tipo de organização. Especificamente na manutenção, os fatores locais podem desempenhar um papel importante na organização e em como será o seu funcionamento. Alguns desses fatores locais são (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008): 1. Tipo de operação: a manutenção pode ser predominante em uma única área, como edifícios, máquinas-ferramentas, equipamentos de processo, tubulação ou elementos elétricos. Essa especificidade afetará o caráter da organização e a supervisão requerida. 2. Continuidade das operações: as jornadas de trabalho, por exemplo 5 por 1 com um turno ou 7 por 1 com três turnos, presentes na empresa fazem uma diferença considerável na forma como o departamento de 20 UNIDADE I │ PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO manutenção será estruturado e no número de integrantes que farão parte das equipes. 3. Situação geográfica: a manutenção que opera em uma planta compacta vai ter variações em relação àquela que opera em uma unidade dispersa através de vários edifícios e sobre uma grande área. As plantas maiores frequentemente necessitam de camadas adicionais da supervisão intermediária em centros locais. 4. Tamanho da planta: assim como as considerações geográficas, comentadas acima, o tamanho real da planta ditará o número de funcionários na área de manutenção e a supervisão adequada para esse número. Uma quantidade maior de subdivisões em linha e de pessoal podem ser justificadas quando a sobrecarga de trabalho puder ser distribuída em mais departamentos. 5. Alcance das atividades do departamento de manutenção da planta: o alcance das atividades da manutenção tem relação direta com a política de gestão da empresa. A inclusão de um número considerável de funções secundárias à manutenção significa uma necessidade maior de supervisão e de chefias relacionadas à área. 6. Nível de treinamento e confiabilidade dos trabalhadores: essa característica altamente variável tem um forte impacto na organização da manutenção, pois dita o volume de trabalho que poderá ser realizado e o quanto será bem feito. Em indústrias onde predominam equipamentos de alta tecnologia, com alto desgaste e incidência de falhas, uma quantidade maior de mecânicos e supervisores será requerida. Os fatores comentados acima são de extrema relevância para a organização de um departamento de manutenção eficiente. Em muitos casos, é preciso que no início algumas áreas sejam comprometidas para que se alcance uma operação ordenada e se obtenha os resultados esperados. Isso ocorrerá até que seja mantida a flexibilidade suficiente para que no futuro possam ser feitas as modificações necessárias. Os dados obtidos pela ABRAMAM em 2013 mostram que o cenário nas empresas brasileiras segue a tendência mundial, onde os níveis hierárquicos da manutenção são em sua maioria gerenciais, como pode ser observado na tabela 2 e na figura 5. O percentual de empresas em que a manutenção está no nível hierárquico gerencial teve um aumento de 27,83%, em 1999, para 54,36%, em 2013. 21 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO │ UNIDADE I Tabela 2. Níveis Hierárquicos da Manutenção. Níveis Hierárquicos da Manutenção Percentual de Empresas (%) 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 Diretoria 44,34 37,50 39,13 33,80 30,71 28,21 25,00 20,77 24,83 29,53 Superintendência 41,74 42,50 30,43 26,76 29,13 20,51 21,25 26,92 11,03 14,77 Gerencial - - 27,83 37,32 37,01 50,43 52,50 52,31 62,07 54,36 Outros 13,92 20,00 2,61 2,12 3,15 0,85 1,25 0,00 2,07 1,34 fonte: ABRAMAM (2013). figura 5. Níveis hierárquicos na Manutenção no Brasil entre os anos de 1995 e 2013. fonte: ABRAMAM, 2013. A tendência atual é buscar estruturas organizacionais que permitam equipes mais enxutas. Para isso, algumas ações podem ser adotadas, como: » Eliminar níveis de chefia e supervisão. » Contratar integrantes que sejam polivalentes, ou seja, que tenham habilidades e conhecimentos diversificados para que possam ser aproveitados e desenvolvidosem várias áreas. » Fazer contratos de serviços por parceria. Exemplificando: em uma fábrica de cimento, a manutenção deve ser responsável por algumas atividades (KARDEC; NASCIF, 2009): » Manutenção mecânica (mecânica, caldeiraria, soldagem e lubrificação): equipamentos rotativos e estacionários, incluindo equipamentos de mineração e correias. 22 UNIDADE I │ PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO » Manutenção de caminhões. » Manutenção elétrica. » Manutenção de instrumentação/automação. » Manutenção complementar: pinturas, limpeza, refratário, montagem de andaimes, isolamento. » Planejamento da manutenção: inclui o dia a dia e o planejamento de paradas. Entretanto, também podem fazer parte da manutenção os seguintes serviços: » Inspeção de equipamentos. » Suprimentos: inclui administração do almoxarifado, previsão e compra de material. » Ferramentaria. » Segurança do trabalho. » Engenharia de manutenção: inclui pequenos projetos, condução de obras mais simples, estudos e análises. » Contratação: elaboração de contratos, fiscalização e apropriação. » Manutenção de prédios e pátios. Segundo Kardec e Nascif (2009), a estrutura organizacional da manutenção é comumente encontrada nas empresas das seguintes formas: » Em linha reta, convencional ou tradicional. » Em estrutura matricial. » Em estruturas mistas, a partir da formação de times. Estrutura organizacional em linha (convencional) A estrutura organizacional em linha preserva a identidade da manutenção, pois funciona como um agrupamento coeso, tendo a subordinação técnica e hierárquica ao mesmo gerente, como é mostrado na figura 6. Apresenta a vantagem de se ter um efetivo menor devido à possibilidade de um remanejamento fácil dos recursos. 23 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO │ UNIDADE I Outra vantagem é a garantia do domínio tecnológico e a incorporação de novas tecnologias. Como desvantagem pode-se observar situações em que a manutenção se torna um fim em si mesmo, sendo executada sem planejamento e objetivos claros. (KARDEC; NASCIF, 2009) figura 6. Estrutura Organizacional da Manutenção em Linha (convencional ou tradicional). Gerente Geral da Planta Gerente Administrativo Gerente de Manutenção Gerente de Operação Gerente de Engenharia Mecânica Elétrica e Instrumentação Complementar Planejamento Engenharia de manutenção fonte: Adaptado de Kardec e Nascif (2009). Estrutura organizacional matricial A estrutura matricial é caracterizada por duas linhas de autoridade, vertical e horizontal, esquematizadas na figura 7. A linha de autoridade vertical tem caráter funcional e define, normalmente, o que e quando fazer as ações. Enquanto que a linha de autoridade horizontal é responsável pelas decisões técnicas, determinando como e com quem executar a intervenção. Assim, a equipe de manutenção da unidade está hierarquicamente ligada à Gerência de Operação e tecnicamente ligada à Gerência de Manutenção. (KARDEC; NASCIF, 2009) A estrutura matricial privilegia a formação de equipes preocupadas com o funcionamento da Unidade, o que gera um elevado grau de cooperação entre a operação e a manutenção, entretanto, essa estrutura pode apresentar algumas distorções, como (KARDEC; NASCIF, 2009): » Descentralização dos arquivos da manutenção. » Resistência dos integrantes da manutenção em adaptar-se à dupla gestão. » Maior inércia no auxílio mútuo entre os grupos de unidades distintas, provocando uma tendência de aumento do efetivo global da planta. » Falta de padronização dos procedimentos, ocasionando procedimentos diferentes para serviços iguais. 24 UNIDADE I │ PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO figura 7. Estrutura Organizacional Matricial da Manutenção. Gerente da Planta Gerente de Engenharia Gerente de Manutenção Gerente de Operação PCM PCM PCM PCM Engenharia de Manutenção Mecânica Elétrica Instrumentação Complementar Análise de Falhas e Preditiva Mecânica Mecânica Mecânica Elétrica Instrumentação Elétrica Instrumentação Elétrica Instrumentação Complementar Complementar Complementar Operação Unidade 1 Operação Unidade 2 Operação Utilidades fonte: adaptado de Kardec e Nascif, 2009. Estrutura organizacional mista – formação de times A estruturação dos times de manutenção pode variar de acordo com as características da indústria e o seu tamanho. Para as plantas de médio e grande porte, uma solução que tem gerado bons resultados é a congregação de um grupo responsável por uma área ou unidade, formado por supervisores das especialidades da manutenção, inspeção, segurança e operador da unidade, como é apresentado no esquema da figura 8. Esse grupo realizada as atividades de programação, análise, facilitação e supervisão dos serviços, além de garantir o registro e alimentação das informações no sistema informatizado. Seu vínculo técnico-funcional é com a manutenção, porém o seu local de trabalho é na área, dentro da unidade (KARDEC; NASCIF, 2009). figura 8. Estrutura Organizacional de Times da Manutenção. Manutenção Oficial de Complementar Inspetor Planejador Técnico de Segurança Mecânico fonte: adaptado de Kardec e Nascif, 2009. 25 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO │ UNIDADE I Equipes de trabalho autodirigidas: uma vantagem competitiva As equipes de trabalho autodirigidas representam uma nova abordagem em relação ao design organizacional convencional, indo além dos círculos de qualidade ou equipes de resolução de problemas. Essas equipes são grupos de trabalho naturais que trabalham juntos para desempenhar uma função ou produzir um produto ou serviço. As equipes não só fazem o trabalho, mas também assumem a responsabilidade pelo gerenciamento desse trabalho, uma função anteriormente desempenhada por supervisores e gerentes. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) O conceito de equipes autodirigidas vem crescendo e os motivos variam de um esforço mal dirigido da corporação para reduzir o número de funcionários assalariados, para os esforços genuínos de organizações que querem capacitar a sua força de trabalho. O uso efetivo de equipes de trabalho autodirigidas gera: » melhor qualidade, produtividade e serviço; » maior flexibilidade; » redução dos custos operacionais; » resposta mais rápida às mudanças tecnológicas; » menos classificações de trabalho e mais simplificadas; » melhor resposta aos valores dos trabalhadores; » aumento do compromisso dos funcionários com a organização; » capacidade de atrair e reter as melhores pessoas. O gerenciamento dessas equipes deve demonstrar paciência e tolerância, pois a transição levará tempo e ocorrerão atrasos e erros. O conceito de equipe de trabalho autodirigido não é para todos. Algumas corporações simplesmente não podem perder a mentalidade assalariada tradicional, que acaba por restringir a capacidade de competir no mercado mundial. Para essas corporações, a sobrevivência pode ser de curto prazo. Para outros que estão dispostos a abraçar novas ideias e novas formas de fazer negócios, o futuro é promissor. Tente fortalecer sua força de trabalho! Os resultados podem ser surpreendentes! 26 unidAdE ii PlAnEJAMEnto E ControlE dA MAnutEnção (PCM) A função manutenção representa papel de igual importância ao da função produção, contribuindo de forma decisiva para atingir os objetivos traçados para a empresa. Por isso, seu planejamento deve estar adequado aos propósitos da organização e gerar os lucros esperados para ela. O gerenciamento eficaz da manutenção possibilita uma perfeita relação dos objetivos e metas da empresa. No entanto, para que os objetivos sejam atingidos é necessário oenvolvimento de toda a empresa, direcionando e definindo as ações da manutenção de acordo com a criticidade desejada ao processo. De acordo com Souza (2008): Neste sentido, a função manutenção deve promover os cinco elementos básicos de competitividade propostos por Slack (1993), para poder contribuir de forma significativa para o desempenho da empresa. A gestão da função manutenção com base na qualidade, velocidade, confiabilidade, flexibilidade e custos é, sem dúvida, desempenho, à luz de ser relacionamento com a função produção. O planejamento estratégico da manutenção é um conjunto de tarefas em equipe que tem como propósito assegurar o progresso do seu nível tecnológico e administrativo, a continuidade na sua gestão com eficiência de seus processos, a adequação contínua de sua estratégia, capacitação e estrutura, alinhando-se sempre com as metas e objetivos da produção (SOUZA, 2008). Dessa forma, o Planejamento e Controle da Manutenção (PCM) é uma ferramenta de importância fundamental para as tomadas de decisões da empresa e pode ser definido como: Conjunto estratégico de ações para preparar, programar, controlar e verificar o resultado da execução das atividades da função manutenção contra valores pré-estabelecidos e adotar medidas de correções de desvios para a consecução das metas e objetivos da produção, consequentemente da missão da empresa. (SOUZA, 2008) 27 CAPítulo 1 Estrutura do sistema de controle da manutenção Para que ocorra a harmonização e a sintonia entre os processos que tem interação na manutenção é essencial que exista um Sistema de Controle da Manutenção. Esse sistema de controle possibilitará identificar de maneira clara informações importantes, como (KARDEC; NASCIF, 2009): » quais serviços serão executados; » quando os serviços serão executados; » quais recursos serão requisitados para a execução dos serviços; » qual será o tempo gasto em cada um dos serviços executados; » quais os custos de cada serviço (o custo por unidade ou global); » quais os materiais necessários; » quais serão as máquinas, dispositivos e ferramentas usados. Dessa forma, o sistema permite: » o nivelamento de mão de obra e recursos; » a programação de máquinas de elevação de carga ou operatrizes que porventura sejam necessárias; » o registro para alimentação do sistema e consolidação do histórico; » a priorização dos trabalhos adequadamente. Segundo Kardec e Nascif (2009), no Brasil, até 1970, os Sistemas de Controle e Planejamento da Manutenção eram todos manuais. O uso de computadores de grande porte, como os IBM, teve início a partir desse ano para aplicações corporativas em empresas de grande porte. Os softwares para o controle da manutenção eram desenvolvidos, até 1983, dentro das grandes empresas e processados em máquinas robustas. A oferta de softwares com essa finalidade cresceu a partir da evolução dos microcomputadores e da disponibilidade de novas linguagens, sendo desenvolvidos e comercializados por empresas nacionais e estrangeiras. 28 UNIDADE II │ PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) Os softwares para o planejamento e controle da manutenção são compostos por módulos, que são baseados em certos processos básicos adotado nas empresas. A seguir, esses processos serão descritos de forma sucinta segundo a metodologia proposta por Kardec e Nascif (2009): 1. Processamento das Solicitações de Serviço: é a entrada (input) do sistema em relação ao serviço de manutenção a ser executado, excluindo-se apenas os serviços emergenciais, que não devem ser programados. As solicitações de serviços podem ser advindas de setores diversos, como a produção, inspeção de equipamentos e da própria manutenção. Antes da inclusão da solicitação do serviço, deve haver uma sistemática de verificação da procedência, da prioridade e do tipo de serviço a ser executado, de maneira a melhorar sua programação. Os seguintes questionamentos exemplificam o processo: › A solicitação é procedente? – Verificação pela manutenção. › Qual a sua prioridade? – Negociação com a produção ou outro solicitante. › O serviço se enquadra na manutenção de rotina, é um serviço de parada ou um serviço especial? › O serviço é realmente uma atividade da manutenção? O planejamento deve atuar filtrando os serviços solicitados e programando apenas aqueles que se justificam. Toda solicitação que estiver de acordo é incluída no sistema e recebe número, prioridade, detalhamento, definição dos recursos necessários (máquinas, ferramentas e mão de obra) e registro do centro de custo correspondente. Além disso, recebe um código que relaciona a solicitação ao equipamento ou posto de serviço, com o objetivo de alimentar o histórico do equipamento e fornecer dados para a análise de falhas. 2. Planejamento dos Serviços: é uma etapa de grande importância independente da complexidade e do tamanho do serviço a ser executado. O planejamento pode ser realizado em um curto tempo, quando o padrão para a execução do serviço já está pré-definido, por ser um serviço rotineiro; ou pode demandar meses de trabalho, quando ocorre, por exemplo, uma parada da unidade. 29 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) │ UNIDADE II › Detalhamento do serviço: nessa fase definem-se as principais tarefas que compõem o serviço, os recursos necessários, o tempo estimado para cada tarefa e dependência entre elas. A tabela 3 mostra, como exemplo, as tarefas a serem realizadas no serviço de revisão geral de uma bomba centrífuga de processo. Observa-se que existe a dependência entre as tarefas, pois as tarefas 2 e 3 podem ser executadas apenas após a tarefa 4. O serviço exemplificado é relativamente simples e à medida que a complexidade aumenta, tem-se a necessidade de definir um microdetalhamento do serviço. Tabela 3. Detalhamento do serviço de revisão geral de uma bomba centrífuga. Tarefa Descrição Dep. Recurso Qte. Horas 1 Desenergizar, drenar e liberar equipamento Operador 1 1 2 Soltar flanges e retirar tubulações auxiliares e desacoplar 1 Mecânico 2 1 3 Retirar instrumentos 1 Instrumentista 1 0,5 4 Retirar bomba da base e levar para a oficina 2,3 Mecânico 2 0,5 5 Lavar o equipamento, desmontar e inspecionar peças 4 Mecânico 2 2 6 Pintar a base conforme a recomendação de inspeção 4 Pintor 1 3 7 Substituir peças, balancear e montar 5 Mecânico 2 4 8 Levar equipamento para a base e instalar 6 Mecânico 2 2 9 Montar instrumentos 7 Instrumentista 1 0,5 10 Testar e fazer relatório de manutenção 8 Mecânico 1 1 fonte: adaptado de Kardec e Nascif, 2009. › Microdetalhamento: nessa fase são detalhadas ferramentas, máquinas de elevação de carga e máquinas operatrizes necessárias para a execução do serviço. Um exemplo de microdetalhamento pode ser observado na seguinte situação: considerando que na oficina central da manutenção apenas uma mandrilhadora está disponível para os serviços do dia a dia e também para os serviços de parada da unidade, será preciso identificar os serviços que usarão esse equipamento, cadastrá-lo no sistema e definir as prioridades de execução para que o sistema faça a programação adequada e as manutenções ocorram de forma ordenada. 30 UNIDADE II │ PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) › Orçamentação dos serviços: de forma geral, os sistemas informatizados de controle da manutenção possuem um módulo de orçamentação e apropriação de custos. Nesse módulo o usuário fornece as tabelas com os valores de materiais, hora/máquina e recursos humanos e o sistema gera a orçamentação do serviço detalhado nas etapas anteriores. As informações dos custos são usadas pela contabilidade da empresa e ficam disponíveis para utilizaçõesfuturas, realimentando o modulo de planejamento de serviço. › Facilitação dos serviços: a facilitação do serviço é uma sistemática que tem como principal objetivo o aumento da produtividade nos serviços de manutenção. Dessa forma, consiste na análise prévia do serviço a ser executado, fornecendo informações básicas aos executantes, evitando a perda de tempo com o deslocamento do local de trabalho para buscar ferramentas esquecidas (Figura 9), analisar desenhos ou consultar catálogos. Os pontos principais que devem ser previamente analisados são: · Ferramentas necessárias. Exemplo: Algumas ferramentas não fazem parte da caixa de ferramentas do executante para o uso diário, pois são especiais para algumas aplicações. Como no caso em que o mecânico necessita de uma chave 23/4’’ para soltar os parafusos de fixação dos pés de um motor elétrico. · Facilidades existentes no local do serviço. Exemplo: Para a alimentação de uma bomba para esgotamento de um tanque, será necessária a instalação de um painel elétrico de campo. Essa necessidade deve ser previamente constatada e analisada para que, ao iniciar o serviço, já se saiba de onde e como deve ser realizada a ligação e não sejam percebidos detalhes apenas no momento da execução. · Aspectos ligados à segurança: devem ser feitas recomendações aos executantes relacionadas ao serviço e à segurança na execução. · Dados sobre o equipamento: informações sobre o produto, pressão, vazão, temperatura, entre outros. 31 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) │ UNIDADE II figura 9. Importância da etapa de Planejamento de serviços – facilitação dos serviços. fonte: <https://cdn.pixabay.com/photo/2015/08/18/14/09/astronaut-894185_960_720.jpg>. 3. Programação dos Serviços: nessa etapa são definidos os serviços a serem executados no próximo dia, em função das prioridades pré- estabelecidas, datas de recebimento das solicitações dos serviços, recursos disponíveis, como mão de obra, material e máquinas, e liberação pela produção. Algumas regras consagradas no setor de manutenção regem a programação dos serviços, tanto a programação manual quanto aquela usando softwares, e são citadas abaixo: › Nível de prioridade: são definidas, usualmente, quatro tipos de prioridades para classificação dos serviços. Primeiramente, são programados os serviços de maior prioridade, em seguida os serviços de prioridade imediatamente inferior, até os recursos disponíveis naquele dia se esgotarem. · Emergência: quando já se está diante de uma situação de fato. · Urgência: quando a situação indesejada está por acontecer. · Normal Operacional. · Normal Não Operacional. 32 UNIDADE II │ PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) › Data de recebimento da solicitação de serviço: para as solicitações com mesmo nível de prioridade, a programação deve priorizar a solicitação mais antiga. › Serviços com data marcada: os serviços com data marcada têm prioridade em relação às solicitações mais antigas. É um meio que se usa para que a execução de um serviço importante e pré-programado inicie em uma data determinada. › Bloqueios: o sistema permite fazer bloqueios que interrompem a programação do serviço, até que a causa do bloqueio seja solucionada. Exemplos de problemas que causam bloqueios na programação são: falta de material, ausência de informações importantes para a execução, falta de ferramentas, necessidade de serviços externos ou ausência de liberação. 4. Gerenciamento da Execução dos Serviços: a etapa de gerenciamento da execução dos serviços consiste, do ponto de vista do planejamento, nas seguintes atividades: › Acompanhar as causas de bloqueio de serviços. › Controlar a carteira de serviços da manutenção, chamada de back-log. O controle engloba a carga de serviço geral e por especialidade, auxiliando no dimensionamento das equipes de manutenção. › Acompanhar a execução para que a programação seja cumprida, verificando se os serviços programados estão sendo executados e, se não estiverem, por qual razão isso ocorre. › Acompanhar os desvios em relação ao tempo de execução previsto. 5. Registro dos Serviços e Recursos: o registro de serviços e recursos visa informar ao sistema quais recursos foram usados, quantos homens/hora foram gastos, os materiais aplicados, os gastos com serviços de terceiros e a conclusão ou não do serviço. 6. Gerenciamento de Equipamentos: a etapa de gerenciamento dos equipamentos consiste no fornecimento de informações relevantes para o histórico do equipamento, como o tipo de equipamento, o serviço executados e dados para a análise de falhas. Os dados adquiridos e arquivados são usados em programações futuras. 33 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) │ UNIDADE II 7. Administração da Carteira de Serviços: a administração da carteira de serviços da manutenção tem como função fazer o acompanhamento e a análise para que seja possível ter as informações sobre: › Acompanhamento do orçamento (previsto x real), dividido por especialidade, área ou unidade operacional. › Cumprimento da programação pelas diversas áreas e especialidades. › Tempo médio para execução dos serviços. › Índices de atendimento, considerando o tempo transcorrido entre a solicitação e o início do serviço. › Back-log global, por área e especialidade. › Composição da carteira de serviços, informando o percentual por especialidades, prioridade, área ou unidade. › Índices de ocupação da mão de obra disponível. › Índices de bloqueios da programação, especificando seus motivos. 8. Gerenciamento dos Padrões de Serviço: os serviços de manutenção apresentam características diversas, entretanto, a determinação de certos padrões de referência é possível. O gerenciamento dos padrões de serviços executados pela manutenção é importante para que as próximas programações possam ser baseadas nesse padrão já definido, que podem incluir detalhes e particularidades do equipamento. Além disso, o gerenciamento permite a interligação com os programas de manutenção preventiva e preditiva, que dependem de um detalhamento padrão para sua execução. Um exemplo pode ser observado na manutenção de trocadores de calor que apresenta procedimentos conhecidos que podem ser especificados no detalhamento do serviço, com os recursos necessários e o tempo previsto. 9. Gerenciamento dos Recursos: o gerenciamento de recursos envolve a gestão da mão de obra e das máquinas cadastradas. O planejamento deve ter uma visão geral da distribuição da mão de obra por toda planta, com o número de integrantes definidos por cada área de atuação. Visando à otimização da sua aplicação, a mão de obra é o recurso que mais exige gerenciamento. A indisponibilidade de mão de obra deve ser informada, seja por férias, licença, afastamento médico ou outra 34 UNIDADE II │ PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) causa, para que a programação feita seja confiável. Com o intuito de que a programação das máquinas cadastradas no sistema, como máquinas operatrizes, máquinas de elevação de carga, dentre outras também seja confiável. A disponibilidade desses recursos deve ser de conhecimento do planejamento. 10. Administração de Estoques: a administração do estoque engloba as informações sobre o estoque, o acompanhamento de compras e o recebimento de materiais. Em muitas empresas, a informatização da área de suprimentos ocorreu anteriormente à informatização da área de manutenção, por isso existe uma tendência para que cada área utilize o seu software próprio e seja desenvolvida uma interface entre eles. Atualmente, os softwares disponíveis no mercado disponibilizam um módulo de Gestão de Estoques para facilitar a relação manutenção/suprimentos. Os processos que compõe o sistemade planejamento e controle da manutenção, descritos anteriormente, podem ser sintetizados e apesentados de um modo global em um Diagrama de Fluxo de Dados, mostrado na a seguir. figura 10. Diagrama de fluxo de Dados do sistema de Planejamento e controle da Manutenção. Processamento das Solicitações de Serviço (SS) Planejamento dos Serviços Programação dos Serviços Coordenação da Execução dos Serviços Registro dos Serviços Executados e Recursos Aplicados Gerenciamento de Ativos Matriz de Criticidade Administração da Carteira de Serviços Gerenciamento dos Padrões de Serviço Gerenciamento dos Recursos Disponíveis (Máquinas, Mão de obra, Ferramentas) Administração de Estoque (Materiais e Sobressalentes) C M M S/ EA M fonte: adaptado de Kardec e Nascif, 2009. 35 CAPítulo 2 Sistemas informatizados para manutenção Os primeiros sistemas informatizados para o planejamento e controle da manutenção foram desenvolvidos dentro das próprias empresas e eram exclusivos de grandes empresas, pois possuíam computadores eficientes e integrantes especializados em processamento de dados. No cenário atual, o desenvolvimento de softwares próprios não é mais viável, por ser um processo caro, demorado e que na maioria das vezes não alcançará o nível de funcionalidades existentes nos softwares comerciais. A variedade de sistemas informatizados disponíveis no mercado é grande e os mais usados são os softwares das classes conhecidas como CMMS (Computer Maintenance Management System) e EAM (Enterprise Asset Management). (KARDEC; NASCIF, 2009) A maioria dos softwares disponíveis tem recursos que possibilitam a comunicação por meio de periféricos com ou sem fio (wireless), usando equipamentos portáteis. A comunicação sem fio tem a vantagem de proporcionar um aumento na produtividade devido à economia de tempo com entradas, transferências e consulta de dados, em diversas funções, como inspeção, coordenação e lubrificação. A figura 11 ilustra a configuração de rede e acesso sem fio. (KARDEC; NASCIF, 2009) figura 11. configurações de rede e acesso wireless. 36 UNIDADE II │ PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) fonte: adaptado de Kardec e Nascif, 2009. Na década de 1980, foram introduzidos os CMMS que davam destaque ao processamento das Ordens de Serviço. Com a evolução do sistema, os CMMS se tornaram mais sofisticados e agregaram funções de controle dos indicadores, o nivelamento de recursos e o compartilhamento de banco de dados (Oracle, SQL). Os softwares da classe EAM são mais recentes e foram criados com o objetivo de se integrar com outros sistemas da empresa, como o de suprimentos, financeiro e de recursos humanos. A maioria dos CMMS já passaram a ser EAM após as melhorias que foram realizadas. Além das classes apresentadas, existem os softwares ERP (Enterprise Resource Planning) que tem como característica principal a integração em um sistema unificado de todos os dados e processos de uma organização, sendo uma tendência mundial de utilização. A tabela 4 mostra alguns dos softwares disponíveis no mercado nacional e internacional. (KARDEC; NASCIF, 2009) 37 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) │ UNIDADE II Tabela 4. Softwares disponíveis no mercado. Origem ER P CM M S - EA M Nome Comercial Empresa Brasil Datasul ERP DataSul eManut Man-It Engeman Engecompany LS Maestro Logical Soft Mantec Semapi Sistemas Mega Mega Sistemas RM Corpore – Engeman* RM Sistemas SIM Astrein Informática SMI Spes Engenharia de Sistemas Outros Avantis PRO Invensys Avantis Baan SSA Global Coswin 7i Siveco Group Facility Asset Management Software Sol. TMA Systems Maintelligence V4.0 DMSI MaintSmart Maintenance Software Inc. Máximo MRO Software (IBM) MicroMain XM MicroMain Corporation MP2 Enterprise DataStream Systems Inc. MS2000 MicroMain Corporation PeopleSoft – Enterprise Maint. Management* Oracle Proteus Eagle Technology Inc. Protheus 8 MicroSiga Sabre 32 Rushton International SAP PM* SAP Smart Maintenance Smartware Group Ultimaint Peral Computer Systems Inc. *Módulo de manutenção do ERP. fonte: adaptado de Kardec e Nascif, 2009. É importante que a empresa e seus integrantes compreendam que o sistema informatizado CMMS é uma ferramenta usada para auxiliar na melhoria da manutenção e atividades relacionadas à área. Os programas apenas gerenciam os dados que são inseridos ou aquelas informações que foram criadas a partir dos resultados dos dados inseridos anteriormente. Portanto, eles não têm como objetivo gerenciar a operação da manutenção, o que é função dos integrantes e da liderança dessa área. As funcionalidades do CMMS são normalmente agrupadas em subsistemas para atividades específicas, que podem incluir os seguintes recursos (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008): 38 UNIDADE II │ PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) » Entrada e manutenção de equipamentos/ativos. » Contas de manutenção e material de entrada de equipamentos ativos. » Histórico de equipamentos/ativos e ordens de serviço. » Controle de inventário. » Criação, execução e conclusão da ordem de serviço. » Desenvolvimento, manutenção e agendamento do plano de manutenção preventiva (PM). » Planejamento da ordem de serviço e agendamento das ordens de serviço. » Recursos humanos. » Compras e recebimentos. » Correspondência de fatura e contas a pagar. Observa-se que em muitas empresas existe a interpretação equivocada de que os integrantes da área de manutenção são os únicos usuários do CMMS. Enquanto, a organização da manutenção é o usuário primordial, outras organizações da planta podem ser beneficiadas com o acesso à informação disponível no sistema. Essas organizações incluem a engenharia, produção, controle de inventário, compras, contabilidade/financeiro e o gerenciamento executivo. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) O software CMMS será capaz de realizar algumas funções, entretanto, várias atividades apenas serão feitas pela própria equipe. O CMMS é uma ferramenta para aprimorar a maneira como a manutenção e outras áreas organizacionais armazenam, manipulam e recuperam seus dados. Além disso, irá gerar ordens de serviço baseada em pontos de triagem definidos, agendará as ordens de serviço e reordenará peças de substituição de forma automática. Sendo assim, o CMMS pode ser programado para “lembrar” automaticamente e realizar atividades fundamentadas em padrões determinados previamente. Ao contrário do que algumas pessoas acreditam ou querem que os outros acreditem, o CMMS não substituirá as boas práticas de manutenção e gerenciamento, não substituindo, por exemplo, o gerente de manutenção, os coordenadores, os mecânicos ou demais integrantes das áreas. (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) 39 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) │ UNIDADE II o que o CMMS pode fazer? (MOBLEY; HIGGINS; WIKOFF, 2008) Manter, classificar, resumir e exibir dados: o CMMS é capaz de realizar essas ações para que os integrantes da equipe possam revisar e tomar decisões a partir dos dados. O programa consegue fazer essas funções de forma mais rápida, com maior precisão e em um volume maior do que os humanos podem fazer manualmente. As mudanças feitas em uma informação do sistema são alteradas automaticamente em todos os outros arquivos onde essa informação é encontrada. Automatizar e controlar um programa confiável de Manutenção Preventiva: um programa de Manutenção Preventiva bem estruturado é o item principal para melhorar o desempenho de manutenção, a confiabilidade do equipamento e reduzir o custo de manutenção. Uma vez que os planos e os horários da Manutenção Preventiva são desenvolvidosno CMMS, o sistema agenda e cria automaticamente as ordens de serviço. Automatizar e controlar um programa confiável de Reabastecimento de Inventário: o CMMS criará automaticamente requisições de compra para itens de inventário com base em pontos de pedidos definidos ou calculados, de forma consistente e precisa. Fornecer um agendamento de trabalho preciso com base na disponibilidade de recursos: a programação manual dos trabalhos a serem realizados, especialmente quando há uma grande demanda de serviço, pode ser difícil e tornar-se tedioso. O CMMS pode agendar ordens de serviço baseadas em critérios como: a prioridade da ordem de serviço, o equipamento/criticidade de ativos, o tipo de ordem de serviço, a data de conclusão solicitada e a data de origem do pedido. Um bom programa de agendamento também agendará com base na disponibilidade de recursos. o que o CMMS não pode fazer? Substituir o gerente de manutenção e os integrantes da área: o gerente de manutenção está, em grande parte do tempo, lidando com situações emergenciais e por vezes não realiza a sua real função, que é planejar e organizar o trabalho a ser executado pela equipe, distribuindo as tarefas de acordo com a disponibilidade e as habilidades específicas de cada integrante. O CMMS pode auxiliar em algumas dessas tarefas como, manter um backlog dos serviços a 40 UNIDADE II │ PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) serem feitos criando um agendamento rápido e eficiente, além de mostrar a disponibilidade de recursos para os serviços. Assim, o gerente pode aplicar o seu tempo e energia em seu objetivo principal de trabalho, que é gerenciar as pessoas e a organização. Substituir os responsáveis pelo planejamento: a implementação do CMMS em uma empresa pode gerar a necessidade de aumento de pessoas responsáveis pelo planejamento da manutenção, pois o planejamento torna-se mais fácil e eficiente com o uso do sistema e um volume maior de informações organizadas fica disponível para a equipe. Por exemplo, com a conta de materiais disponíveis, o responsável pelo planejamento é capaz de selecionar, diretamente do plano da ordem de serviço, as peças necessárias para o reparo. Fazer as atribuições dos serviços: o CMMS não atribuirá serviços para indivíduos ou grupos específicos, embora alguns programas fornecem a ferramenta para nomear integrantes da equipe para uma ordem de serviço, a partir da sua disponibilidade. Em ambos os casos, o CMMS provém uma vasta quantidade de informações que possibilita que o gerente de manutenção ou o responsável pelos agendamentos tome as decisões para distribuição dos serviços. Ordenar o caos em que a área se encontra: é preciso que haja cuidado na preparação para a seleção e implementação do CMMS na empresa. O primeiro passo na preparação desse processo é realizar uma avaliação das operações já existentes, não apenas na manutenção, mas em todas as áreas que podem ser afetadas pela implantação, como a produção, engenharia, controle de inventario, contabilidade, compras, recursos humanos e sistema de informações. O objetivo inicial é determinar qual é a situação atual em cada área e definir quais mudanças devem ser feitas para que alcancem os objetivos estipulados. Somente após essas análises e avaliações poderão ser desenvolvidas as especificações do CMMS. Manter os problemas já existentes após a implementação do CMMS resultará na combinação de antigos e novos problemas que precisarão ser solucionados. Melhorar a confiabilidade do equipamento ou a qualidade do produto: o programa CMMS não provocará mudanças como o aumento da confiabilidade dos equipamentos, o aumento da qualidade da produção, a redução dos custos com a manutenção ou a diminuição das requisições de serviço. O software ajudará a alcançar esses objetivos, porém, é apenas uma ferramenta a ser utilizada. Juntamente com um programa de manutenção preditiva bem estruturado, o CMMS permitirá que a manutenção realize ações de economia de custos. Após a sua implementação, o investimento será pago em um prazo de 18 a 24 meses. 41 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) │ UNIDADE II Deve ser feito o treinamento adequado dos seus usuários e as informações devem ser inseridas da forma correta, caso contrário, o uso do CMMS poderá ter o efeito inverso e causar o aumento dos custos da manutenção e inventário da empresa. Por que o CMMS falha? » Implementação parcial. » Falta de recursos. » Fragmentação de aplicação. » Sobrecarga de pessoal ou pessoal insuficiente. » Expectativas inapropriadas. » Confrontação ao invés de colaboração. » Problemas de comunicação. » Falta de experiência. » Confiança nos consultores. » Modificações no CMMS. » Restrições na cultura de trabalho. Seleção do software O sistema informatizado para o gerenciamento da manutenção é uma ferramenta essencial para a otimização dos recursos. Por isso, a escolha do software a ser adquirido e o domínio sobre a sua operação é fundamental para o bom desempenho do PCM e da Manutenção. Dentre os critérios de seleção para aquisição de um software CMMC/EAM deve-se considerar prioritariamente (KARDEC; NASCIF, 2009): » Existência dos programas-fonte e o suporte técnico oferecido pelo fornecedor. » Sistemas multiusuário e multiempresa. » Facilidade na alteração do layout e do tamanho do campo, pelo usuário. 42 UNIDADE II │ PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) » Interface com outros sistemas existentes ou com banco de dados. » Programação automática a partir de agendamento. » Nivelamento de recursos (importante para a otimização da programação e uso dos recursos disponíveis). » Acesso e controle de materiais e sobressalentes. » Interface com outros aplicativos, como Word, Excel e MS Project. » Possibilidade de adicionar texto ilimitada (importante para instruções em ordens de serviço, por exemplo). » Possibilidade de inserir gráficos, fotos e figuras em documentos do sistema, como ordens de serviço, histórico de equipamentos e relatórios de falhas. O documento nacional elaborado pela ABRAMAN, em 2009, mostra os resultados obtidos em relação ao uso de programas informatizados na manutenção. Analisando os dados, observa-se que de 1995 a 2009 houve uma redução no número de empresas que utilizam softwares próprios, reduzindo de 46,89% para 11,36%. Dentre as empresas entrevistadas, ocorreu um aumento do número de empresas que empregam em seu planejamento e controle da manutenção programas externos, crescendo de 16,95% para 35,80% ao longo dos anos analisados. Apesar de grande parte das empresas usarem os programas externos, ainda existia, em 2009, uma parcela considerável de empresas nacionais, aproximadamente 20%, que usavam apenas planilhas eletrônicas. Essa informação mostra que a oportunidade de investimentos e inovações do setor de manutenção em sistemas informatizados é grande e pode trazer importantes melhorias nos resultados das áreas e das empresas como um todo. Tabela 5. Tipos de programas (softwares) utilizados na Manutenção no Brasil. Tipos de programas utilizados na Manutenção (% de respostas) Ano Próprio Externos Adaptados Pacotes Externos Próprio e Externos Apenas Planilhas Eletrônicas Não Utiliza Softwares 2009 11,36 18,18 35,80 14,20 18,75 1,70 2007 12,63 16,32 35,79 20,53 13,16 1,58 2005 17,60 19,20 24,80 20,80 13,60 4,00 2003 20,14 11,51 34,53 18,71 11,51 3,60 2001 18,59 17,31 19,87 33,33 5,77 5,13 1999 23,85 13,85 26,15 24,62 8,45 3,08 1997 25,19 20,74 11,85 28,15 8,15 5,92 1995 46,89 12,43 16,95 23,73 - - fonte: ABRAMAN, 2009. 43 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) │ UNIDADE II O controle manuale o controle informatizado apresentam vantagens e desvantagens. Algumas delas estão apresentadas na tabela 6. Tabela 6. comparação entre sistemas de controle manual e informatizado. CONTROLE MANUAL CONTROLE INFORMATIZADO VANTAGENS » Facilidade e agilidade na implantação e execução. » Baixo custo. » Possibilita uma visão global da manutenção. » Aceita menor envolvimento dos integrantes para a implantação. » Processamento de grandes volumes de informações. » Fácil apresentação de relatórios. » Mais confiável. » Rapidez na pesquisa de dados históricos de equipamentos. » Levantamentos atualizados da programação, execução e custos. DESVANTAGENS » Dispersão dos dados. » Necessidade de um grande número de integrantes para fornecer os dados. » A implantação demanda custos e prazos maiores. » Necessidade de treinamentos específicos para os responsáveis pelos dados. » Perda da noção de conjunto do plano de manutenção. » Rejeição eventual por parte dos integrantes da empresa, por não se adaptarem com os processos de lançamentos de dados. fonte: Reis; Denardin; Milan, 2010. Sistema para planejamento de paradas A parada de manutenção é um tipo de manutenção cíclica feita nas instalações industriais com o intuito de restaurar ou melhorar as condições dos equipamentos e instalações da empresa. Essa atividade é organizada a partir de informações da operação, manutenção e inspeção de equipamentos e pode-se considerar como a atividade preventiva mais importante no ciclo de operação da planta ou instalação. (KARDEC; NASCIF, 2009) Muitas empresas, principalmente aquelas com grandes instalações, adotam um grupo multidisciplinar para realizar a parada. A coordenação do “grupo de parada” é exercida por um gerente da área de produção ou manutenção ou pelo superintendente responsável pelas duas áreas. O grupo deve ser formado por no mínimo um integrante de cada uma das áreas envolvidas no processo, que são as seguintes (KARDEC; NASCIF, 2009): » Manutenção: Planejamento/Programação. » Suprimentos: Materiais/Sobressalentes. » Inspeção de equipamentos (área de ensaios não destrutivos e materiais). » Operação ou Produção. 44 UNIDADE II │ PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) O planejamento de uma parada de manutenção envolve várias atividades, entre as mais significativas estão (KARDEC; NASCIF, 2009): » Definir o cronograma geral de paradas de unidades da planta. » Definir o cronograma específico de parada de uma determinada unidade operacional. » Formar o grupo de paradas, que terá as seguintes atribuições: › Relacionar, analisar e definir os serviços da parada. › Discutir as interfaces existentes em nível local, na empresa e com terceiros. › Definir a filosofia da parada, como tempo mínimo e custo mínimo. › Definir estratégias globais que incluem compras, contratação e regime de trabalho. » Delinear os serviços de parada. » Fazer a programação. » Emitir as ordens de serviço. » Determinar o caminho crítico. » Nivelar os recursos. » Projetar as facilidades de manutenção, os dispositivos para melhoria da manutenibilidade e as melhorias da segurança geral da parada. » Contratar mão de obra externa. » Comprar material. » Realizar os preparativos preliminares: preparação da área, montagem de dispositivos, preparação de possíveis rotas de fuga quando necessárias, construção de acessos alternativos, montagem de andaimes, montagem de painéis elétricos para ligação de maquinas, montagem de containers etc. » Acompanhar os serviços. » Atualizar no sistema as tarefas programadas e incluir novos serviços. 45 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) │ UNIDADE II » Apropriar os dados e lançar no programa. » Catalogar as recomendações de inspeção. » Fazer o registro fotográfico e documental das condições dos equipamentos, a partir da elaboração de relatórios técnicos. » Acompanhar os testes finais. » Acompanhar a partida da unidade. » Avaliar a parada e emitir os relatórios técnicos e gerenciais. O planejamento e a programação das paradas de manutenção envolvem um grande número de tarefas e recursos de diferentes naturezas e, por isso, o uso de algumas ferramentas torna-se fundamental. As ferramentas usadas são o Pert-COM e o Nivelamento de Recursos (KARDEC; NASCIF, 2009). O PERT (Program Evaluation and Review Technique), também conhecido como Técnica de Avaliação e Revisão, foi usado pela primeira vez em 1958 pela Marinha Americana no programa Polaris. O PERT pode ser entendido com um prognóstico do método de planejamento e controle que apresenta, de forma gráfica, o caminho mais adequado para se atingir um objetivo pré-determinado, em função do tempo. Segundo a metodologia adotada, todos os empreendimentos devem ter uma sequência ótima de atividades, permitindo o entrosamento entre o controle e a execução. Um diagrama de flechas é usado para mostrar a sequência de atividades e a interdependência entre elas. (KARDEC; NASCIF, 2009) O método CPM (Critical Path Method) ou Método do Caminho Crítico foi desenvolvido, paralelamente ao PERT, pela Dupont, para o controle das suas atividades de manutenção. As duas metodologias possuem motivações filosóficas distintas, mas chegam ao mesmo resultado. No PERT a pergunta seria “Em quanto tempo a tarefa “X” estará finalizada?”, enquanto que no CPM, o objetivo é realizar o serviço dentro do prazo estabelecido, tendo em vista que o período de um serviço é definido por um acerto entre a manutenção e a produção, e esse período será sempre o menor possível. (KARDEC; NASCIF, 2009) Os diagramas podem ser representados seguindo dois sistemas: o americano e o francês. As tarefas e os eventos são representados por flechas e círculos, respectivamente, de acordo com o sistema americano. No sistema francês, as tarefas são representadas por uma figura geométrica, usualmente um quadrado, e a sequência entre elas é representada com o uso de flechas. Os sistemas estão ilustrados na figura 12. (KARDEC; NASCIF, 2009) 46 UNIDADE II │ PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO (PCM) figura 12. Diagramas de representação da sequência de atividades, segundo o sistema americano e o sistema francês. 1 2 A A B B tA tA tB tB 1,2 = Eventos A, B = Atividades ou Tarefas tA, tB = Tempo de duração das tarefas fonte: adaptado de Kardec e Nascif, 2009. O método de Nivelamento de Recursos é caracterizado como a busca pela utilização de recursos da forma mais constante possível, durante a execução dos serviços de parada. O nivelamento é realizado com base no Método do Caminho Crítico. Caso o planejamento da manutenção faça a previsão dos recursos para atender o período de pico dos serviços, existirá mão de obra ociosa em grande parte do tempo de duração da parada. Por outro lado, se a previsão dos recursos for baseada na situação de menor demanda de mão de obra, haverá a necessidade de contratação ou empréstimos de mão de obra para a conclusão do serviço de parada da manutenção. (KARDEC; NASCIF, 2009) A elaboração do planejamento, o nivelamento de recursos e o acompanhamento do serviço da parada da manutenção podem ser feitos com o auxílio de softwares que utilizam a metodologia PMI (Project Management Institute). Alguns dos softwares comumente usados são (KARDEC; NASCIF, 2009): » MS – Project; » Primavera Project Planner; » WBS Chart Pro; » PERT Chart Pro; » MS – Visio. 47 unidAdE iii ConfiABilidAdE, diSPoniBilidAdE E MAnutEniBilidAdE Os conceitos de Confiabilidade, Disponibilidade e Manutenibilidade são presença constante no dia a dia da manutenção e daqueles que trabalham com ela. A missão da manutenção pode ser entendida como: “Garantir a disponibilidade da função
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