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HISTÓRIA DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA CAPÍTULO 3 - COMO NASCE UM IMPÉRIO? INICIAR Introdução Você já deve ter se perguntado, em algum momento, se todas as cidades antigas viviam sem guerra. Afinal, o mundo que conhecemos hoje possui muitos conflitos, o que torna difícil acreditarmos em épocas de paz. Contudo, nem tudo eram flores com as poleis gregas. Os persas, por exemplo, foram uma grande ameaça ao mundo grego, de forma que as poleis se uniram para combatê-los. Assim, o que poderia ter sido o início de uma unificação, acabou causando grandes desgastes que levaram à Guerra do Peloponeso, deixando todo o território fragilizado. Mas o que foi a Guerra do Peloponeso? Qual é a sua importância para a Grécia? Felipe da Macedônia, junto a seu filho, Alexandre, o Grande, aproveitou a deixa e unificou a Grécia sobre seu domínio, dando início ao período helenístico. Entretanto, não foi considerado um dos mais longos, pois, após um tempo, a Macedônia se tornou uma província romana. Mas como surgiu a Roma nesse contexto? De acordo com os mitos de fundação da cidade romana, teria sido por volta do século VIII a.C. (FUNARI, 2011). E, após um período de Monarquia, teria começado sua expansão no período Republicano, quando conseguiu conquistar a Macedônia, acrescentando a Grécia em seu território. Esses e outros assuntos serão abordados ao longo deste capítulo. Vamos aos estudos! 3.1 A guerra no mundo grego: a Guerra do Peloponeso O mundo antigo esteve em muitos conflitos. Assim, podemos entender que a guerra não era estranha para os gregos, uma vez que Esparta tinha mentalidade e disciplina voltadas para o militar, assim como outras poleis também contavam com alguma estratégia bélica, o que nos leva a acreditar que possuíam a guerra como parte de suas culturas. Dessa forma, ao combaterem um inimigo comum (os persas) nas Guerras Médicas, as poleis se uniram na Liga de Delos, e, sob a liderança de Atenas, venceram a guerra, garantindo a expansão democrática (EYLER, 2014). No entanto, as cidades não ficaram contentes com essa dinâmica e acabaram se dividindo: de um lado, temos a Liga de Delos, sob a liderança de Atenas; do outro lado, temos a Liga do Peloponeso, com Esparta no comando. Mas como esse conflito se desenvolveu? O que aconteceu com as cidades-estados gregas após a guerra? Essas são algumas das questões que norteiam nosso estudo a partir de agora. 3.1.1 As documentações e as tensões entre Atenas e Esparta O mundo grego era composto por muitas poleis, ou seja, cidades-estados independentes. Isso facilitava os desentendimentos entre elas, bem como a maior DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 1 of 14 14/11/18 11:48 guerra conhecida: a Guerra do Peloponeso. De acordo com Funari (2012, p. 113), “[...] a Guerra do Peloponeso foi a primeira guerra do período do mundo ocidental, e continuou, durante séculos, a ser tema de discussão tanto para os militares quanto para os políticos”. Ainda na opinião do historiador, esse foi o primeiro conflito entre duas alianças políticas de características claramente diferentes: de um lado há Atenas, uma democracia dinâmica e comercial; do outro, há Esparta, uma potência militar terrestre e oligárquica. Duas cidades modelos, tanto para serem imitadas quanto para serem evitadas, que marcaram e dividiram o mundo grego, chegando a um conflito direto. Embora Tucídides seja o autor mais relevante para conhecermos os detalhes do embate, outros da antiguidade também retrataram aspectos do conflito. Eurípedes e Aristófanes, autores de peças de teatros — um de tragédia e outro de comédia, respectivamente —, trouxeram para suas obras discussões sobre o que estava acontecendo no mundo em que viviam. Xenofonte também traz a guerra como pano de fundo de suas obras. 3.1.2 O conflito propriamente dito As cidades-estados gregas eram independentes e tomavam suas próprias decisões, o que as deixavam vulneráveis frente a uma ameaça externa. Foi isso que aconteceu quando a Pérsia resolveu conquistar a Grécia. Para impedir o avanço, as cidades se juntaram na Liga de Delos e, uma vez que Esparta não demonstrou interesse (pois eram capazes de proteger a si mesmo), Atenas, que contava com uma marinha forte devido ao comércio, assumiu a liderança e administrou todos os recursos da guerra. Dessa forma, as cidades participantes cediam barcos ou marinheiros (FINLEY, 1963). No entanto, conforme destacou Finley (1963), isso não significava um mundo grego sem guerras internas. Pelo contrário, muitos conflitos entre as cidades-estados existiam, sendo que, entre os motivos, podemos citar as crises nas fronteiras, a busca por escravos e o controle de rotas comerciais. A forte política imperialista imposta por Atenas, após a guerra contra a Pérsia, conhecida como Guerras Médicas, acabou gerando inúmeros atritos com algumas poleis da Grécia. Esparta, sendo uma dessas poleis, fundou, junto a outras cidades, a Liga do Peloponeso, fazendo frente a Liga de Delos, dominada por Atenas. Em um primeiro momento, a Liga de Delos (chefiada por Atenas) e a Liga do Peloponeso (liderada pelos espartanos) conseguiram evitar conflitos, mas isso não durou por muito tempo, pois desencadearam a Guerra do Peloponeso, em que as duas alianças político-militares entraram em conflito (FINLEY, 1963). A luta entre Atenas e Esparta começou em 431 a.C. e, em meio a momentos de paz e guerras, e durou por longos 27 anos, terminando com a derrota de Atenas em 404 a.C. De acordo com Funari (2011, p. 74), “[...] a luta entre Atenas e Esparta foi o resultado das disputas pelo controle das cidades gregas e, mesmo após a derrota de Atenas, as guerras entre as cidades gregas continuaram a ocorrer, resultando no enfraquecimento das cidades e na ruína para os camponeses artesãos”. Já nas palavras de Silvia (2017), a Guerra do Peloponeso, por ter envolvido todo o mundo grego e durado um longo período, extrapolou todos os conflitos que existiam no período, os quais se restringiram a determinadas cidades e por um curto período de tempo. Silva (2017) ainda sublinha que as inovações militares foram outra característica desse conflito, em que os atenienses elaboraram estratégias como o abandono de campo, a proteção da população com a concentração na cidade e o fortalecimento da marinha. Podemos dizer que a Guerra do Peloponeso foi uma complexa luta pelo poder, a qual envolveu muitas cidades-estados em disputas internas e externas. Esparta saiu vitoriosa, acabando com o domínio ateniense, porém não conseguiu formar uma liderança com as cidades-estados. 3.1.3 A Grécia Pós-Guerra do Peloponeso A oposição entre a democracia e a oligarquia marcou o conflito entre Atenas e Esparta, A obra “História da Guerra do Peloponeso”, de Tucídides, retrata o conflito que dividiu a Grécia, em que atenienses e espartanos lutaram por suas hegemonias. O historiador ateniense traz uma rica narrativa histórica com sua perspectiva do conflito. Ela pode ser encontrada no link: <https://edisciplinas.usp.br /pluginfile.php/3020663/mod_resource/content/1/Hist %C3%B3ria%20da%20Guerra%20do%20Peloponeso.pdf (https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php /3020663/mod_resource/content/1/Hist%C3%B3ria%20da%20Guerra%20do%20Peloponeso.pdf)>. VOCÊ QUER LER? DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 2 of 14 14/11/18 11:48 acentuando a disputa entre as duas classes sociais em que se apoiavam. Segundo Eyler (2014, p. 115), no decurso do século IV a.C., “[...] o abismo entre ricos e pobres se aprofundou, e as aspirações igualitárias implícitas na noção dos cidadãosagravaram as tensões, e as desigualdades sociais eram vivamente sentidas”. Isso proporcionou revoluções, exílios e confiscações. Além disso, o fato da base da sociedade esparta ser a guerra, fez com que a paz não fosse mantida. Conflitos e abismos sociais levaram a um retorno da tirania, uma vez que eles eram, também, líderes militares que defendiam as suas cidades contra perigos externos. Dessa forma, segundo Eyler (2014, p. 115), a novidade do século IV residiu no retorno a modelos arcaicos, “[...] como o da realeza e o da separação entre camponês e cidadão, que haviam sido outrora ultrapassados”. Com a derrota ateniense, os conflitos continuaram se aprofundando e enfraquecendo as cidades, tanto político como militarmente. Um exemplo é o fato de que os mercenários começaram a serem pagos para proteger as cidades, finalizando com o ideal de soldado-cidadão — já que eram os cidadãos gregos que tinham a honra de lutar por sua cidade —, sendo a base da polis grega clássica. Esparta, por suas instituições, tradições e compromissos — como livrar a Grécia do imperialismo ateniense —, ao sair vitoriosa da guerra, deveria ter retornado as suas bases no Peloponeso, deixando as cidades-estados dirigirem a si mesmas. Todavia, ela colocou nas cidades subjugadas um representante de seu domínio com uma guarnição, “Com isto, a liderança grega passou das mãos dos atenienses, que a sabiam exercer de forma esclarecida, para espartanos que se impunham despoticamente” (JAGUARIBE, 2001, p. XXXIX). No entanto, a dominação espartana não conseguiu se sustentar por muito tempo, logo sendo superada por Tebas e, até mesmo, por uma segunda liga ateniense, que buscava retomar seu antigo poder. Dessa forma, todo o conflito político-militar e a falta de uma liderança consistente desgastou as cidades-estados gregas, deixando-as vulneráveis a ameaças estrangeiras Corroborando essa ideia, Funari (2006) destaca que o mundo grego após a Guerra do Peloponeso foi marcado pela ausência de uma potência hegemônica, o que deixou a Grécia Antiga ainda mais fragmentada, favorecendo o retorno da pirataria, o domínio persa sobre as cidades da Ásia menor e, principalmente, beneficiando a tomada da Grécia pelo macedônicos. Felipe da Macedônia, aproveitando a fragilidade do mundo grego para exercer seu domínio sobre as cidades-estados, alcança total êxito com seu filho, Alexandre, o Grande — o qual venceu os persas e fez todo o caminho até a Índia —, estabelecendo um imenso império. Fonte: Marzolino, Shutterstock, 2018. 3.2 Alexandre Magno: a criação do mundo helenístico A Grécia vivenciou outro momento com a dominação macedônica, contudo, sua cultura e sua língua continuaram influenciando não só os macedônicos, mas também o Império Romano e, consequentemente, todo o Ocidente. O século IV a.C. trouxe a expansão do Império Macedônico, que iniciou com Felipe da Macedônia e teve seu auge com seu filho, Alexandre, o Grande. A fragilidade das cidades-estados gregas, nessa época, facilitou a entrada de Felipe na Grécia, porém, foi por meio da força militar que a Grécia continental se submeteu a Macedônia. De acordo com Guarinello (2003, p. 110, grifos nossos), DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 3 of 14 14/11/18 11:48 A expansão do reino da Macedônia, de Felipe II a Alexandre, o futuro conquistador da Pérsia, representou um novo caminho na integração da bacia oriental do Mediterrâneo. Embora pudesse parecer mais primitivo politicamente que o mundo das poleis, representou, na verdade, um avanço sobre elas, circunscritas por seus territórios limitados. Um rei legítimo, dominando vastas áreas heterogêneas, podia agregar exércitos muito maiores. Podia, assim, quebrar a antiga relação entre força militar e cidadania. Podia impor-se às cidades, apesar e, às vezes, por causa mesmo de suas diferenças internas. Na sequência, veremos uma nova configuração ganhar corpo na Grécia, que só será dissolvida com a entrada dos romanos no território do mundo helenístico. 3.2.1 Quem foi Alexandre, o Grande? Todo mundo já ouviu falar, em algum momento, sobre Alexandre, o Grande, também conhecido como Alexandre Magno. No entanto, quem teria sido esse personagem? Mossé (2004) o coloca como uma das figuras mais importantes da história da civilização grega. Apresentando-se como o herdeiro do helenismo clássico, ele trouxe para suas conquistas no Oriente Mediterrânico a cultura grega. Além disso, o historiador francês ainda ressalta que, ao mesmo tempo, o reinado de Alexandre, o Grande simboliza a ruptura entre a civilização grega clássica e a do mundo que nasceria de suas conquistas, entendido como mundo helenístico. Plutarco — um biógrafo nascido em Queroneia, na Beócia no século I d.C. —, dentro de sua obra “Vidas Paralelas”, propôs-se a escrever também sobre a vida de Alexandre. Embora narrando a vida de um personagem que teria vivido 400 anos antes, o biógrafo é uma das fontes mais importantes para o estudo do macedônico que conquistou toda a Pérsia (JOSÉ, 2016). Alexandre teria nascido em meados de julho de 354 a.C., na cidade de Pela, capital da Macedônia. Filho do Rei Felipe II e de Olímpia, seu nascimento é rodeado por lendas e sonhos. Plutarco (VII, 2) deixa a entender que ele poderia ser filho de Zeus, assim como menciona que o nascimento de Alexandre foi no mesmo dia do incêndio do templo de Artemis, em Éfaso, que estava ocupada com a celebração da vida no rapaz. Além disso, o biógrafo ainda cita que o Rei Felipe II teria recebido essa notícia junto com outras três notícias de vitórias, o que tornaria seu filho invencível. Há relatos que podem ter sido divulgados depois da ascensão de Alexandre ao trono ou instigados pelo próprio, a fim de mostrar seu poder e ascendência divina, colocando-o como destinado a grandes feitos desde o seu nascimento. O certo é que Alexandre, o Grande realmente teve grandes realizações em sua vida. Figura 2 - Uma das inúmeras moedas de ouro do século III a.C., com a representação da imagem de Alexandre, o Grande, em seu elmo de guerra. Fonte: airphoto.gr, Shutterstock, 2018. A obra “Vidas Paralelas”, de Plutarco, descreve a vida de grandes personalidades do mundo antigo, tanto grego quanto romano. Alexandre e César são dois exemplos de personagens citados no livro. Ele é considerado uma documentação riquíssima, estando disponível em português pela Editora Ediouro. VOCÊ QUER LER? DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 4 of 14 14/11/18 11:48 Aos 20 anos (334 a.C.), sucedeu seu pai e se tornou rei dos macedônios. Doze anos depois, já havia conquistado todo um império, derrotando os persas e chegando até a Índia, além de ter fundado muitas cidades com seu nome, a exemplo de Alexandria, no Egito, considerada um grande polo cultural e intelectual (FUNARI, 2011). Alexandre teve como professor Aristóteles, que lhe ensinou sobre filosofia, moral, política, religião, lógica, artes e até medicina. De acordo com Plutarco (VIII, 8), o pupilo de Aristóteles nutria grande admiração por seu professor, o qual lhe ensinou sobre ter uma vida honrada. Após conquistar seu vasto império, Alexandre morreu aos 32 anos (323 a.C.) imbatível, sem ter sofrido nenhuma derrota militar. Alexandre entrou para a história e influenciou os impérios seguintes, como o romano, que chegou a fazer mosaicos com a imagem do rei macedônio. Além disso, foi responsável pela derrota do império mais temido do período, o Persa. Com isso, buscou unificar os povos gregos e do Oriente sob um único governo (SILVA, 2017). 3.2.2 O que foi o Império Macedônico? Agoraque já sabemos quem foi Alexandre, o Grande, precisamos entender melhor sobre suas conquistas e sobre o império que construiu. A ideia inicial foi de seu pai, Rei Felipe II, que, após unificar as tribos da Macedônia, queria assumir a liderança dos gregos contra a Pérsia: “Felipe conseguiu construir um poderoso império baseado em um exército permanente e bem treinado, que mais tarde mostrar-se-ia invencível” (EYLER, 2014, p. 188). Inicialmente, o rei macedônico não queria usar seu exército e, aproveitando a fragilidade das cidades-estados gregas, propôs a unificação da Grécia em um reino aliado, mas sob a administração política e militar da Macedônia. A proposta de Felipe foi rechaçada pelas cidades-estados que estavam divididas entre o domínio persa ou o macedônico. Assim, eles preferiram lutar contra os macedônicos, pois acreditavam que estes os escravizariam, polindo sua liberdade. De acordo com Eyler (2014), a liderança Macedônica foi reconhecida em Corinto, em 338 a.C., após a vitória em Queroneia contra os gregos, formando uma aliança geral contra os persas. A única que se isentou foi Esparta. Em 334 a.C., Rei Felipe II morre, mas, como seu filho era bem quisto pelo exército, Alexandre foi reconhecido como rei da Macedônia, sem a necessidade de uma disputa sucessória (FUNARI, 2011). Antes de seguir com o plano de seu pai de derrotar a Pérsia, Alexandre, o Grande teve que se firmar no poder, contendo revoltas que surgiram nas cidades-gregas, uma vez que elas estavam relutantes em aceitar outro rei. Seguindo seu intuito de avançar sobre a Pérsia, Alexandre tinha uma série de questões para alcançar seu objetivo, a começar pela imensa frota marítima da Pérsia, que deveria ser enfraquecida. Para isso, resolveu ir por terra. Dessa forma, ao conquistar o Egito, Alexandre pôde se lançar sobre a Fenícia, privando a frota persa da única base que lhe restava (EYLER, 2014). O grande conflito com o Império Persa, comandado por Dario, deu-se na Babilônia. Alexandre, o Grande destruiu o exército e avançou para a Índia e para o Turquestão, completando a conquista de todos os territórios que estavam sobre o império inimigo. Figura 3 - O Império Macedônico em sua extensão geográfica, incluindo as regiões que foram conquistadas VOCÊ SABIA? Alexandre, o Grande fundou inúmeras cidades por onde passou, muitas delas recebendo seu nome e se tornando um sustentáculo da cultura helenística. A mais famosa é Alexandria, no Egito, que conta com uma biblioteca — famosa até os dias atuais — que serve como centro de conservação e produção de conhecimento. DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 5 of 14 14/11/18 11:48 Vale ressaltar que Alexandre não buscava alterar o sistema presente nas cidades que estavam sob seu domínio, de forma que apenas estabelecia seus homens de confiança na administração local, sem alterar o quadro de funcionários, já que eles sabiam a língua e os costumes locais. Outra de suas políticas era a de promover casamentos entre seus oficiais e soldados com a população local. Segundo Mossé (2004), Alexandre, o Grande teria tentado se associar a aristocracia persa, inclusive a colocando na frente de algumas cidades que haviam dominado. Contudo, mesmo com todas as precauções, Alexandre não deixou nenhum herdeiro, e a unidade de sua conquista não sobreviveu após sua morte. De acordo com Guarinello (2013, p. 120), o “Império foi dividido entre seus generais (os sucessores) que ocuparam, respectivamente, o Egito, a Ásia e a Macedônia”. No entanto, um dos maiores legados de Alexandre sobreviveu e foi ampliada com o passar do tempo: a propagação da cultura grega por todo o Oriente, que ficou conhecido como mundo helênico. 3.2.3 O que é o mundo helenístico? Chama-se helenístico o mundo nascido das conquistas de Alexandre. Conforme Funari (2011, p. 75-76) esse termo é usado para se “[...] referir à civilização que se utilizava do grego como língua oficial, a partir das conquistas de Alexandre, o Grande (336 a.C.), até o domínio romano da Grécia, em 146 a.C.”. O historiador brasileiro continua sua explanação destacando que, embora seja um termo usado para um curto período de tempo, ele ficou marcado por intensas interações culturais. Com a convivência com inúmeros povos, muitas línguas — governados pela elite macedônica e como elemento de comunicação oficial e universal — utilizavam o grego. (FUNARI, 2011). Logo, o mundo helenístico se caracterizava pelas intensas trocas culturais entre diversos grupos étnicos, tanto do ocidente quanto do oriente. Guarinello (2013) sublinha o cuidado que devemos ter ao usarmos o termo “helenização do Oriente”, pois a maior parte das regiões conquistadas por Alexandre mantiveram sua língua e sua cultura local, integrando-se a cultura dos conquistadores. Além disso, para o historiador, o que chamamos de helenismo diz respeito, sobretudo, à expansão da cultura grega entre as elites citadinas. Dessa forma, vemos uma ebulição cultural nesse período, destacada principalmente pela introdução da cultura grega em outros povos, os quais não abandonaram sua cultura natal, mas passaram a dialogar com os novos elementos que lhes eram apresentados. Mossé (2004) destaca os aspectos políticos, econômicos e artísticos que marcavam o mundo helenístico. Ele aponta a monarquia como uma nova forma de regime político. Além disso, embora o mundo grego não ignorasse a realeza e a tirania, ou seja, o poder concentrado em um único indivíduo, a monarquia não se concentrava mais no limite de uma cidade, e sim em grandes estados territoriais. No que tange a economia, o autor aponta a introdução da vinha e da oliveira (do vinho e do azeite) em outras regiões, ampliando o comércio. Já na parte artística, dá-se destaque para as esculturas e os planos urbanísticos. Por fim, na cultural, Mossé (2004) lembra a circulação das grandes obras do mundo grego. A partir do século II a.C., o território que um dia havia sido conquistado por Alexandre por Alexandre, o Grande. Fonte: Peter Hermes Furian, Shutterstock, 2018. Figura 4 - Antigo mosaico romano de Alexandre, o Grande, localizado em Pompéia, retratando o alcance da cultura grega dentro do Império Romano. Fonte: mountainpix, Shutterstock, 2018. DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 6 of 14 14/11/18 11:48 foi anexado ao território romano (FUNARI, 2011). No entanto, cabe ressaltar que as cidades continuaram se declarando herdeiras do mundo grego, assim como os romanos reconheceram o potencial e a riqueza da cultura grega, estabelecendo uma identificação com os antigos gregos. Mais do que uma imitação do mundo grego, o mundo helenístico deve ser reconhecido por suas características heterogêneas, formando um momento importante para a história mundial. Tendo marcado não só o seu período, mais toda uma geração seguinte, Roma, ao anexar os territórios helênicos, passou a interagir com a cultura e a se identificar com muitos elementos que a compunha. 3.3 As origens de Roma: a monarquia Para além da cidade que hoje conhecemos como capital da Itália, Roma foi a capital de um grande império presente em todo o mediterrâneo. A fundação de Roma envolve lendas e mitos, os quais ligariam os romanos aos deuses ou, até mesmo, aos antigos heróis gregos. Os relatos e vestígios arqueológicos apontam para o século VIII a.C., mais precisamente no ano de 753 a.C. No início da história da cidade romana, ela viveu uma monarquia, que se estendeu até 509 a.C., quando Roma se tornou uma República (FUNARI, 2011). Na sequência, vamos analisar melhor sobre o início da cidade de Roma, a qual viria a ser um grande império e influenciaria toda a culturaocidental. 3.3.1 O início de um império: seus mitos Todos os povos buscam explicar suas origens, e com os romanos não era diferente. Eles contavam lendas que repercutiam por toda Roma, sendo que a mais conhecida e popular dizia que a cidade teria sido fundada por Rômulo, filho do Deus da Guerra, Marte; e de Reia Sílvia, filha do Rei Numítor, de Alba Longa. A lenda ainda conta com o abandono de duas crianças e uma loba que as alimentavam. De acordo com ela, Amúlio, irmão ambicioso de Numítor, teria destronado seu irmão, prendendo-o. Assim, para impedir que os sucessores chegassem ao trono, matou o sobrinho e obrigou a sobrinha, Reia Sílvia, a virar sacerdotisa. Com isso, Reia é obrigada a jogar seus filhos gêmeos, Rômulo e Remo, nas águas do rio Tibre. As crianças teriam sobrevivido e acabaram sendo alimentados por uma loba. Depois, o pastor Fáustulo e sua esposa teriam encontrado e cuidado das crianças. Rômulo e Remo, então, crescem e voltam a Alba Longa para restituir o trono de seu pai, pedindo permissão para fundarem uma cidade às margens do Tibre. Contudo, os dois acabam brigando, e Remo é morto pelo irmão. Assim, Rômulo passou a ser considerado o fundador da cidade de Roma (FUNARI, 2011; SILVIA, 2017). Outro mito conhecido liga os romanos aos heróis da guerra de Tróia, em que Eneias — filho de Vênus e de Anquises, rei troiano de Dárdano — teria vagado pelo mediterrâneo após a vitória até chegar a Lácio, onde reinou por alguns anos. Teria sido seu filho, Ascânio, quem fundou Alba Longa, e entre seus descendentes estaria Numítor, pai de Reia Sílvia. Com essas lendas, Roma ligava suas origens ao Deus da Guerra, Marte, e à Deusa da Fertilidade, Vênus (FUNARI, 2011). Embora devamos considerar a história de Rômulo e Remo como parte da mitologia romana, ela nos chama a atenção para o fato de se integrar a criação de uma cidade. Dessa maneira, deu sustentáculo ideológico para a expansão territorial empreendida nos anos seguintes. Além disso, a ligação com os deuses conferia ao povo romano legitimidade frente aos outros povos, bem como a propagação de suas qualidades herdadas pelos divinos. O lobo era o animal que servia de sacrifício a Marte, portanto, trazer esse símbolo para a história da fundação de Roma impõe certo temor psicológico a seus adversários, além de incentivar seus combatentes nas batalhas e guerras. O mito teve sua proposta bem propagada, uma vez que a imagem da loba amamentando os gêmeos circulou por muitos territórios conquistados, por meio de moedas, esculturas e pingentes. De acordo com Funari (2011), arqueólogos encontraram vestígios das moradias dos primeiros moradores de Roma, o que comprovou alguns aspectos das lendas, que é o VOCÊ SABIA? O mito que liga os romanos ao passado heroico da Grécia foi escrito em versos, em um poema épico, intitulado “Eneida”, escrito por Virgílio no século I a.C. Sua grande inspiração foi Homero, que imortalizou os heróis gregos e troianos em Ilíada e Odisseia. Se quiser desfrutar dessa leitura, pode encontrar a Eneida de Virgílio em português no link: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/eneida.pdf (http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/eneida.pdf)>. DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 7 of 14 14/11/18 11:48 caso do domínio etrusco na região. 3.3.2 O início de um império: os etruscos Embora a lenda de Rômulo e Remo fosse aceita pelos romanos para explicar a origem de Roma, sabemos, hoje, que a cidade teve início na beira do rio Tibre, na região do Lácio, no centro da Península Itálica (SILVA, 2017). A Península era originalmente habitada por povos indo-europeus, como úmbrios, latinos, samnitas e sabinos da região central. Já os etruscos ficavam ao norte e, mais acima, os gauleses ou celtas. No sul, predominavam os gregos (EYLER, 2014). Os etruscos e gregos eram os povos mais desenvolvidos da região. Segundo Eyler (2014), os etruscos estavam reunidos em 12 cidades unidas, o que formava uma confederação, com governos autônomos. Essas cidades exploravam os minérios de ferro e cobre, cultivavam suas terras por meio da mão de obra escrava e estabeleciam relações comerciais com os fenícios, os gregos e os cartagineses. A cultura etrusca era original, mas combinava elementos gregos e orientais, além de, para a época, ter uma expressão artística e arquitetônica. Uma das hipóteses é que a cidade de Roma teria sido fundada em Lácio, por chefes etruscos que teriam unido em uma única comunidade diferentes povoados de sabinos e latinos (FUNARI, 2011). Considerando que a região tinha grandes possibilidades econômicas, tanto para a agricultura quanto para o comércio, ela logo se desenvolveu. De acordo com Fonte: KarSol, Shutterstock, 2018. Figura 6 - No sarcófago de Chiusi, na Toscana, elaborado pelos etruscos, podemos ver como a arte era composta e a herança que deixou para os romanos. Fonte: wjarek, Shutterstock, 2018. DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 8 of 14 14/11/18 11:48 Rostovtzeff (1960), o crescimento de Roma se deu por duas razões: proximidade da Etrúria e acesso à foz do Tibre, possibilitando que a cidade se tornasse um centro de trocas comerciais. Contudo, sabemos que, inicialmente, em 753 a.C., a região onde se instalou a cidade de Roma era formada por aldeias de camponeses e pastores, e, em 509 a.C., a cidade já apresentava algumas características, como calçadas, fortificações e sistema de esgoto (FUNARI, 2011). Assim, em pouco mais de duzentos anos, já tinham uma língua corrente: o latim. Ademais, existem poucas documentações escritas desse período da história romana, afinal, muito do que sabemos são relatos posteriores ou dos vestígios encontrados por arqueólogos. Nesse contexto, os arqueólogos têm um papel muito importante para desvendarmos como as culturas de antigamente se expressaram materialmente em suas culturas artística, política, econômica e militar. Com os vestígios materiais deixados pelos antigos povos, encontrados hoje pelos arqueólogos, podemos analisar como teria sido a vida nessa época. Logo, a arqueologia dialoga diretamente com a História, além de outras disciplinas, como a Antropologia e a Biologia. Assim como a História dialoga com a arqueologia para ter uma melhor análise das ações humanas em tempos antigos. 3.3.3 A monarquia romana Nos duzentos e quarenta e quatro anos iniciais, Roma esteve sob uma monarquia. A tradição romana — com autores como Lívio, Plutarco e Dionísio de Halicarnasso — cita a existência de sete reis nesse período: Rômulo, Numa Pompílio, Tulo Hostílio, Ango Márcio, Tarquínio Prisco, Sérvio Tulio e Tarquínio, o Soberbo. O último, inclusive, teria sido deposto para a implantação de um novo sistema político: a República (ROSTOVTZEFF, 1960). Os autores antigos destacaram, atribuindo a cada um dos sete governantes, uma implementação nas instituições romanas, desde a fundação da cidade por Rômulo, a criação das instituições religiosas, a destruição de Alba Longa, a fundação de Óstia, as construções em Roma, a divisão da sociedade e o característico tirano romano com Tarquínio (SALLES, 2008). Nossas informações sobre a constituição da Roma Antiga são poucas, assim como de seu sistema político. Rostovtzeff (1960) aponta, no entanto, que não há dúvidas de que ela foi governada por um rei, o qual exercia, além de suas funções governamentais, a função religiosa e militar. Outro ponto estabelecido pelo autor é que a sociedade, naquela época, estava dividida em grupos militares e religiosos, chamados de curiae, que tinham como atribuição política investir o magistrado de seu poder executivo. Rostovtzeff (1960) ainda menciona que havia um conselho de anciãos para assistir ao rei, o qual era denominado Senado,onde os membros seriam representantes das mais ricas e nobres famílias, comumente chamadas de “patrícios”. Os patrícios romanos eram identificados como os descendentes das primeiras famílias a chegarem na região, tendo se estabelecido e garantido suas posições sociais por meio de casamentos arranjados entre as famílias, mantendo, assim, um vínculo de parentesco. Havia, também, os homens livres, sem direitos políticos; e os escravos, pessoas endividadas ou vencidas em guerras. Em 509 a.C., os patrícios, sobre a liderança de Brutus, teriam se revoltado contra o governo de Tarquínio, o Soberbo, uma vez que ele havia se recusado a dialogar com o Senado. Assim, o rei etrusco teria sido deposto pelos nobres da cidade, e o Senado passou a ser a estrutura basal da República (FUNARI, 2011; SILVA, 2017). CASO Os textos antigos são ótimas fontes sobre os acontecimentos e personagens históricos. Um professor de História de uma escola, por exemplo, querendo trabalhar com períodos emblemáticos e personalidades marcantes — como Alexandre, Rômulo e César — buscou sua base nos textos da obra “Vidas Paralelas”, de Plutarco. Assim, ele conseguiu, por meio da análise desses textos em sala, trazer os estudantes para o universo da história. Isto é, eles puderam fazer suas próprias análises da documentação, compreendendo aquele momento pelos escritos de quem esteve mais próximo ao acontecido. 3.4 A República Romana: o sistema escravista e as novas interpretações da política de Pão e Circo Ao falarmos em República, logo lembramos do nosso sistema político. No entanto, é DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 9 of 14 14/11/18 11:48 um conceito que já era trabalhado na antiguidade clássica. Ao depor o último rei etrusco, os patrícios romanos implementaram um novo sistema de governo, que ficou conhecido como República, ou, melhor: Res publica. O termo “coisa do povo” ou “coisa pública” deu origem a palavra. Por quase 500 anos, a República esteve presente na vida dos romanos. Mas, como nem tudo eram flores, muito se tinha a ser trabalhado na sociedade, como revoltas, guerra e novos territórios (FUNARI, 2011). O período republicano marcou a história da cidade de Roma. De uma cidade na península Itálica, ela passou a conquistar territórios, primeiro da península e, depois, de todo o mediterrâneo. 3.4.1 A República Romana O período que precedeu a monarquia romana estava socialmente dividido entre patrícios, clientes e a plebe. O primeiro grupo era composto pelos nobres, chefes de família poderosas e proprietários de terra; o segundo pelos servidores ou protegidos dos nobres; e o terceiro, por sua vez, congregava todos os outros habitantes (FUNARI, 2011). No princípio da República Romana, os patrícios eram os detentores dos poderes políticos, de forma que o restante da sociedade não tinha o direito de opinar em questões do governo. Essa conjuntura favorecia os patrícios, que nem sempre advogavam em favor dos plebeus. Muito pelo contrário, eles incentivavam a servidão dos camponeses que não conseguiam pagar por suas dívidas. Após a deposição do rei, o poder político foi passado para dois cônsules eleitos pelo Senado, os quais detinham amplos poderes civis, militares e religiosos. Assim, para evitar o poder nas mãos de uma só pessoa, o cargo de cônsul era anual, e a cada ano o Senado escolhia os próximos cônsules. Haviam outros magistrados que compunham o governo republicano romano, como os questores, que cuidavam das moedas; os edis, encarregados de cuidar de edifícios, esgotos, ruas e do abastecimento; os pretores, que cuidavam da justiça; os censores, responsáveis pelo censo e pela classificação das cidades; e o pontífice máximo, chefe dos sacerdotes (FUNARI, 2011; EYLER, 2014; SANT’ANNA, 2015). Os plebeus não tinham voz nesse início da República Romana, bem como o clima de tensão interna só crescia entre patrícios e plebeus. Somente depois de mais de dois séculos de lutas os plebeus conseguiram conquistar progressivamente direitos políticos iguais aos nobres. No processo de lutas sociais, os plebeus tiveram conquistas significativas, como a abolição da escravidão por dívidas (pratica da escravização do plebeu que não conseguiu arcar com as dívidas de proprietários de terras mais abastados), a criação do cargo de Tribuna da Plebe (magistrado defensor dos plebeus, com o poder de vetar medidas que prejudicassem a plebe), reconhecimento e poderes da assembleia da plebe e a possibilidade de casamento entre nobres e plebeus (o que era proibido até então, pela Lei Canuleia de 445 a.C.) (FUNARI, 2011). Até meados de 450 a.C., as leis que julgavam as pessoas não eram escritas, sendo que os cônsules administravam a justiça como bem entendiam, segundo seus interesses pessoais. Contudo, esse cenário mudou quando os plebeus conseguiram que as leis fossem grafadas, com a chamada “Lei das Doze Tábuas”, texto fundamental do direito romano e uma das principais heranças que chegaram até nós. Dessa forma, a publicação das leis permitiu que todos os cidadãos romanos tivessem acesso as normas que conduziam sua sociedade, limitando o poder arbitrário de cônsules e patrícios. VOCÊ SABIA? Que os romanos utilizavam a sigla SPQR (Senatus Populusque Romantis) para se referirem ao seu próprio estado: “o Senado e o povo de Roma”? Essa sigla é encontrada em estandartes, monumentos, esculturas, textos e moedas por todo o território romano. Ainda hoje, se você for a Roma, encontrará a sigla em diferentes partes da cidade (FUNARI, 2011). A “Lei das Doze Tábuas” é um dos pilares fundadores do direito romano e, consequentemente, do direito civil Ocidental. Cada uma das doze tábuas aborda um assunto do direito, que influenciaram as sociedades VOCÊ QUER LER? DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 10 of 14 14/11/18 11:48 Não foram fáceis e nem rápidas as conquistas dos plebeus, pois usaram de outros artifícios, como negociar a ida aos campos de batalha. Aliás, naquele período, todo cidadão era também soldado, sendo assim, eram convocados para a guerra. No entanto, as terras conquistadas não eram divididas com os plebeus. Como Roma vivia um momento de muitas guerras expansionistas, os plebeus utilizaram sua participação como moeda de negociação. 3.4.2 A expansão romana e o sistema escravista na Roma Republicana Foi no período da República que Roma expandiu seu território, formando as bases territoriais que pertenceriam a seu grande império. Logo, foram anos de alianças ou intensas batalhas com povos vizinhos. Primeiro, nas regiões aos arredores, depois, por cada canto da península Itálica, até chegar ao mediterrâneo. Esse período de expansão se dá a partir da vitória dos romanos contra os cartagineses nas Guerras Púnicas, a qual viabilizou a política expansionista, a aquisição de escravos e formou uma rede comercial, colocando Roma como o centro desse comércio. Silva (2017) destaca que o controle das terras conquistadas se dava por uma rede de comércio e distribuição. Considerando a dificuldade de comunicação do período, podemos dizer que a estrutura militar e a política necessária para a manutenção do extenso território eram impressionantes, sendo motivos de orgulho para os romanos. Os povos que se aliavam a Roma recebiam direitos totais ou parciais de cidadania, enquanto que aqueles que eram derrotados ou subjugados poderiam ter acordos desiguais, favorecendo Roma ou sendo vendidos como escravos. Segundo Funari (2011), Roma sabia conviver com as diferenças e, muitas vezes, adotava a tática de conceder direitos as elites dos povos conquistados, incluindo-os na órbita romana.Assim, com cada povo conquistado, Roma estabeleceu uma relação, podendo ter sua cultura mantida (uma vez que estabelecia deveres, mas não mexia na estrutura do local) ou sofrer com a escravidão. Com a política expansionista adotada por Roma, há um aumento no número de escravos dentro do território, tendo em vista os cativos tomados em conflitos. Segundo Veyne (2009), a relação entre patrões e escravos era bastante complexa naquele período: os escravos eram posses dos seus senhores e podiam exercer qualquer função, tanto doméstica quanto do campo; os senhores, por sua vez, eram donos do destino dos escravos, podendo lhes imputar castigos ou a morte. Isso significava que, de acordo com Guarinello (2006), pelo menos teoricamente, o escravo não tinha a existência pública, uma vez que a sua inserção na sociedade era mediada necessariamente pela casa em que servia. Guarinello (2006) ainda acredita que o escravo e a plebe menos afortunada viviam em condições semelhantes, embora com status político distintos. Em sua teoria, os camponeses com menos condições financeiras se solidarizavam com a questão do escravo, justamente por acreditarem que eles também poderiam passar por algo semelhante. Foi dessa forma que algumas revoltas dos escravos contaram com o apoio de uma parte da plebe. No entanto, embora o escravo tivesse sua função na vida privada da Roma Antiga, Veyne (2009) destaca que, se o escravo tivesse uma capacidade peculiar, a qual pudesse despertar o interesse do senhor, ele poderia alcançar uma posição mais privilegiada do que alguns cidadãos pobres, que se preocupavam com a fome cotidiana. Sendo assim, podemos perceber que, diferentemente da escravidão que conhecemos no mudo moderno, na Roma Antiga a escravidão não estava ligada a uma etnia especifica, mas, sim, à dividas e guerras. subsequentes. Para estudar de forma mais intensa o tema, acesse o link: <https://edisciplinas.usp.br /pluginfile.php/2724745/mod_folder/content/0/3%20-%20A%20Lei%20das%20XII%20T%C3%A1buas %20%5Bobrigat%C3%B3rio%5D.pdf?forcedownload=1 (https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2724745 /mod_folder/content/0/3%20-%20A%20Lei%20das%20XII%20T%C3%A1buas%20%5Bobrigat %C3%B3rio%5D.pdf?forcedownload=1)>. Spartacus foi um escravo de origem trácia que promoveu uma rebelião, em que, segundo Plutarco (IV, VIII), deu-se devido aos maus-tratos que os escravos recebiam. Spartacus, então, teria conseguido fugir com seus companheiros, mas foram cerados e derrotados pelas tropas de Crasso. Filmes e séries foram dedicados ao personagem que desafiou a República Romana. VOCÊ O CONHECE? DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 11 of 14 14/11/18 11:48 3.4.3 A política do Pão e Circo Pão e Circo, ou, como os romanos falavam, Panem et Circenses, foi uma expressão usada pelo satirista latino Juvenal (50-130 d.C.), a fim de promover o riso. Posteriormente, ela serviu de exemplo para o comportamento da plebe, tida como uma política basicamente para manter a população pobre da cidade submissa e sob controle (FUNARI, 2011). Essa política consistia em, por meio de subsídios alimentícios e diversão, manter a plebe da cidade neutralizada politicamente. É errôneo, no entanto, acreditar que os pobres fossem uma massa sem desejos e interesses, e que sobreviviam com as benesses do Estado. Faversani (1999), ao fazer sua crítica a ideia de que os pobres na Roma Antiga viviam de pão e circo, menciona que essa é uma concepção muito simplista, principalmente pelo fato de que todos os pobres de Roma poderiam sobreviver com o trigo e a diversão dada pelo governo. Em seu argumento, o autor destaca que os números não corroboram com essa ideia, uma vez que apenas 0,5% da população recebia esse auxilio, já que eram destinados somente aos cidadãos romanos. Conforme Funari (2011), podia-se encontrar entre os habitantes da cidade de Roma inúmeros trabalhadores, artesãos, empregados ou pequenos funcionários, porém, em sua maioria, eram escravos ou libertos, originários das províncias ou estrangeiros. Logo, não podemos pensar em uma plebe citadina no ócio. Silva (2017) destaca que apenas recentemente a plebe começou a ser estudada em suas singularidades, e não mais como uma massa subordinada aos interesses dos mais afortunados. Pelo contrário, estudos recentes mostram que a plebe tinha uma expressão cultural própria, não uma imitação da cultura erudita apresentada pela elite. Vemos, assim, um mundo composto por muitas representações culturais, que buscou ampliar seus horizontes agregando ainda mais valor à sua cultura. O território foi expandido, ganhando uma dimensão gigante e difícil de administrar, bem como novos sistemas de governos foram aparecendo, como o Principado, que seguiu a República. Figura 7 - As lutas dos Gladiadores e outros jogos ou punições em feitas, em sua maioria, nos anfiteatros romanos, que podem ser vistos nas cidades onde o extenso Império se instalou. Fonte: Ivana Vrnoga, Shutterstock, 2018. O filme Gladiador, de Ridley Scott, retrata um pouco da vida dos Gladiadores romanos, que eram também escravos. Entre as cenas, é possível perceber a utilização tradicional do conceito de pão e circo, quando são atirados pães aos espectadores na arena. VOCÊ QUER VER? DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 12 of 14 14/11/18 11:48 Síntese Você concluiu os estudos sobre a ascensão do helenismo e o início da cidade de Roma com suas características sociais, culturais e políticas. Com essa discussão, esperamos que você se sinta competente para refletir e discutir em sala de aula as características da Grécia helenística e da origem de Roma. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: analisar a Guerra do Peloponeso e suas consequências para o mundo grego; conhecer o mundo conquistado por Alexandre, o Grande e a difusão da cultura helenística que ele proporcionou; compreender a origem da cidade de Roma; entender as características da República Romana em suas vertentes militares, cultural e política. DtCom https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-8140381-dt-c... 13 of 14 14/11/18 11:48 Referências bibliográficas EYLER, F. M. S. História Antiga Grécia e Roma: A formação do Ocidente. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2014. 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