Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ACIDOSE RUMINAL Eugenio Derhon Junior¹ Willian Fernando Porto da Rocha² RESUMO A acidose ruminal é uma doença do foro digestivo bastante frequente em sistemas de engorda intensiva, de bovinos, levando a grandes quebras na performance dos animais. Trata-se de uma excessiva acumulação de ácido no rúmen que resulta de um desequilíbrio entre a sua produção, utilização e absorção. A gravidade desta doença está relacionada com a quantidade, frequência e duração da administração de dietas ricas em grão e pobres em fibra, podendo tratar-se de acidose aguda se houver acumulação de ácido láctico ou subaguda se houver acumulação de ácidos gordos voláteis. Palavras-chave: rúmen. pH. Carboidratos. 1 INTRODUÇÃO A criação de gado bovino no Brasil é a atividade econômica que ocupa a maior extensão de terras, segundo o senso agropecuário de 2006 as áreas de pastagens ocupam no pais aproximadamente 172 milhões de hectares. O Brasil ocupa o segundo maior rebanho de bovinos do mundo, ficando atrás apenas da Índia. Entre os anos 1990 e 2007, a produção de carne bovina mais que dobrou, passando 4,1 milhões para mais de 9 milhões de toneladas, com ritmo de crescimento superior ao de sua população e de consumo esta combinação de fatores fez com que o Brasil se tornasse desde 2004, o maior exportador mundial. Com isso os criadores de bovinos vêm tomando todos os devidos cuidados com seus rebanhos em relação ao bem-estar animal e a enfermidades que possam vir a causar prejuízos econômicos a sua propriedade sendo um delas a acidose ruminal que será dado destaque, também conhecida como Indigestão Aguda por Carboidratos em Ruminantes, Sobrecarga Aguda por Grãos, Impactação Ruminal Aguda, Sobrecarga Ruminal, Acidose Láctica, Indigestão Tóxica e Indigestão Ácida. A acidose ruminal é uma doença metabólica que na maioria das vezes age de forma aguda, causada na maioria das vezes pela ingestão de alimentos altamente fermentáveis em grandes quantidades, que acomete principalmente animais em confinamento e vacas leiteiras, levando produtores a grandes percas econômicas. A acidose ruminal é caracterizada por desidratação, diarreia, perda do apetite, depressão e se não efetuado o tratamento terapêutico pode ocasionar a morte do animal, a enfermidade acontece quando a uma alta no consumo de alimentos concentrados em proteínas e carboidratos ocasionando uma baixa no pH ruminal do animal, que acontece devido ao acúmulo de ácidos no rúmen, principalmente o ácido propiônico, que é um derivado da fermentação de carboidratos não fibrosos, principalmente do amido, principal constituinte dos grãos de cereais. 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 FISIOLOGIA PATOLOGICA Os animais ruminantes, também conhecidos como monogástricos são adaptados para digestão e metabolização predominantes de dietas à base de forrageiras, porem quando consomem dietas ricas em grãos a produção leiteira e a taxa de crescimento aumentam significativamente. Uma consequência da dieta com quantidade excessiva de carboidratos facilmente fermentáveis, junto com fibras inadequadas para ruminantes, é a acidose ruminal sabugada, caracterizada por períodos de baixo pH ruminal, menor ingestão de alimentos e subsequente problemas de saúde. Doenças crônicas segundarias a acidose ruminal sabugada podem anular o ganho na produção decorrente de dieta rica em grãos. Bovinos leiteiros e de corte e ovinos e caprinos em sistema de confinamento apresentam alto risco de desenvolver esta enfermidade, porem os bovinos leiteiros sejam alimentados com dietas mais ricas em fibras quando comparados com animais de engorda, esta vantagem é compensada por sua ingestão muito maior de matéria seca (KAHN, 2013). A principal manifestação clínica da acidose ruminal é a redução ou ingestão alimentar clínica, ou ambos. Outros sinais que possam ocorrer são a diminuição da produção de leite, redução do teste de gordura, baixo escore de condição corporal apesar de adequada ingestão calórica, diarreia por causa desconhecida e casos de laminete. Podem acontecer altas taxas de animais- refugo e mortes não esclarecidas no rebanho, sangramentos nasais esporádicos devido à cindrome da veia cava caudal também podem ser observados. Os sinais clínicos são tardios e insidiosos e episódios recentes de baixo pH ruminal não são detectados, pois no momento em que o animal está em jejum, seu pH ruminal retorna ao normal. Pode vir a ocorrer diarreia após períodos de pH ruminal baixo, porem este acontecimento pode estar relacionado a outros fatores alimentares (KAHN, 2013). A concentração de ácidos graxos voláteis aumenta inicialmente, contribuindo para a queda do pH ruminal. O pH baixo permite aos lactobacilos usarem grandes quantidades de carboidratos no rúmen e produzirem grande quantidade de ácido láctico resultando na acidose ruminal (RADOSTITS, et. al., 2012). 2.2 ETIOLOGIA O pH ruminal varia consideravelmente num período de 24 horas, determinado pelo equilíbrio dinâmico pela ingestão de carboidratos fermentáveis, a capacidade de tamponamento do rúmen e a taxa de absorção de ácidos pelo rúmen. Se o pH ruminal se mantem abaixo de 5,5 que é o menor pH fisiológico, por mais de algumas horas ao longo do dia considera-se que há acidose ruminal sabugada, por convecção a acidose ruminal é considerada sabugada quando o baixo pH do rúmen acontece devido ao acumulo de ácidos graxos voláteis (AGV), sem excesso persistente de ácido láctico e quando o pH ruminal volta ao normal pela ação das respostas fisiológicas do próprio animal (KAHN, 2013). A capacidade do rúmen de absorver rapidamente ácidos orgânicos contribui significativamente para a estabilidade do pH ruminal. É muito raro que os tecidos periféricos utilizem ácidos graxos voláteis prontamente absorvidos pelo rúmen, entretanto a absorção destes AGV no rúmen pode ter importante efeito tampão (KAHN, 2013) AGV ruminais são absorvidos passivelmente através da parede ruminal, essa absorção passiva é exacerbada pelas papilas das vilosidades, que se projetam para fora da parede do rúmen e atuam como área de superfície importante para a absorção. As papilas ruminais aumentam de tamanho quando os bovinos são alimentados com dietas ricas em grãos, possivelmente aumentando a área de superfície ruminal e a capacidade de absorção, protegendo o animal de acumulo de ácidos no rúmen, se a capacidade de absorção dessas células for prejudicada torna-se difícil o animal manter o pH estável após uma alimentação (KAHN, 2013). Uma forma de os animais acometidos corrigirem a acidose ruminal e restabelecem o pH ruminal normal é no momento da alimentação optarem por partículas de forrageiras longas, podendo ser pelo consumo de feno seco ou de rações misturadas que contem partículas de forragens maiores. Outro mecanismo é a redução do consumo de alimento, onde a menor ingestão de matéria seca é evidente quando o pH ruminal situa-se abaixo de 5,5. A redução de consumo pode ser medida por receptores de pH ou receptores de osmolalidade, no rúmen (KAHN, 2013). A medida que o pH ruminal diminui ocorre um aumento inerente da absorção de AGV. Estes ácidos são absorvidos apenas na forma ionizado, a proporção de ácidos dissociados aumenta drasticamente à medida que há redução do pH ruminal abaixo de 5,5, pois eles têm pKa em torno de 4,8. Em pH ruminal baixo ocorre desvio de fermentação ruminal de carboidratos para a produção de lactato o que pode compensar o ganho na produção de AGV (KAHN, 2013). Ocorrem respostas de adaptação adicionais quando inicia a produção de lactato, onde bactérias que utilizam lactatocomo Megasphaera elsdenii e Selenomonas ruminantium, proliferam-se. Estas bactérias benéficas convertem o lactato em outros AGV que, então, são facilmente ionizados e absorvidos, entretanto o turnover de utilizadores de lactato. Assim este mecanismo pode não ser estimulado rápido o suficiente para estabilizar completamente o pH ruminal (KAHN, 2013). Além do desiquilíbrio microbiano, a privação alimentar induz superalimentação quando o alimento é reintroduzido aos bovinos criando um duplo efeito na redução do pH ruminal. Ciclos de privação alimentar seguidos de superalimentação aumentam significativamente as chances de acidose ruminal sabugada. O pH ruminal baixo durante a acidose ruminal sabugada também reduz o número de espécies de bactérias no rúmen, embora a atividade metabólica das bactérias que permanecem seja muito alta. As populações de protozoários são particularmente limitadas em pH ruminal baixo, geralmente nota-se ausência de protozoários flagelados no fluido ruminal nos episódios de acidose ruminal sabugada. Quando há poucas espécies de bactérias e protozoários a microflora ruminal é menos estável e menos capaz de manter o pH do rúmen normal durante períodos de súbita mudança alimentar (KAHN, 2013). 2.3 DIAGNOSTICO Nos casos agudos, em que existe um histórico confiável, o apoio laboratorial é raramente necessário. O auxílio laboratorial mais valioso é uma avaliação do conteúdo ruminal para achados subjetivos, pH e atividade dos protozoários. O líquido ruminal obtido através de sonda ororuminal ou rumenocentese é cinza-leitoso e aquoso com odor ácido. O pH é variável, dependendo da duração do quadro e da dieta, mas é diagnóstico se for menor que 5,0 (NEUWALD, 2007). A acidose ruminal sabugada em um grupo do que em um indivíduo. A avaliação do pH no fluido ruminal de um número representativo de animais saudáveis em um grupo é um procedimento utilizado para auxiliar no diagnóstico de acidose ruminal sabugada em rebanhos leiteiros, onde a seleção dos animais deve ser feita em grupos de alto risco, vacas com 15 a 30 dias de lactação em rebanhos alimentados com dieta à base de um componente e vacas com cerca de 50 a 150 dias de lactação, em rebanhos alimentados com dieta de ração mista completa. O fluido ruminal é coletado por meio de punção do rúmen e seu pH é mensurado em aparelho medidor de pH. Tipicamente cerca de doze ou mais animais são avaliados de 2 a 4 horas após a alimentação com grãos ou 6 a 10 horas após a primeira alimentação diária com ração total misturada. Caso mais de 25% dos animais testados apresentem pH maior que 5,5 o grupo é considerado sob alto risco de acidose ruminal sabugada. Esse tipo de teste deve ser usado com juntamente com outros fatores, como exame de ração, avaliação das práticas de manejo e identificação de problemas de saúde no rebanho (KAHN, 2013). 2.4 TRATAMENTO O tratamento de acidose clínica pode ser de difícil recuperação do animal e as hipóteses de sucesso dependem da gravidade do caso. Quando se trata de casos graves com níveis de desidratação superiores a 8%, em colapso e com temperatura subnormal, com o rúmen estático e com evidência de diarreia, o tratamento poderá não ser eficaz (VIEIRA, 2017). O tratamento dos casos ligeiros de acidose inclui a retirada da alimentação composta e alimentar com feno para estimular a produção de saliva. Poderá fazer-se terapia adicional que inclui antiácidos orais tais como hidróxido de magnésio, óxido de magnésio e bicarbonato de sódio até 1g/kg peso corporal, inicialmente para alcalinizar o rúmen, e soluções orais de eletrólitos, preferencialmente as que contêm bicarbonato de sódio para tratar a acidose metabólica (VIEIRA, 2017). Pelo fato de a acidose ruminal sabugada não ser possível de detectar no momento da diminuição do pH do rúmen, não há tratamento especifico. As doenças segundarias podem ser tratadas conforme necessário (KAHN, 2013). 2.5 PREVENÇÃO O fator principal de prevenção é a redução da quantidade de carboidratos facilmente fermentáveis consumidos em cada refeição, requer boa formulação da dieta e excelente manejo do cocho de alimentos (KAHN, 2013). A acidose ruminal também pode ser causada por erros na distribuição da ração que possuem quantidades excessivas de carboidratos facilmente fermentáveis ou deficiência em fibras. Os erros no conteúdo de matéria seca em rações misturadas completas geralmente estão associados a falha no ajuste do teor de umidade das forragens (KAHN, 2013). As dietas para ruminantes devem ser formuladas para fornecer tamponamento adequado, que pode ser alcançado por meio da seleção da matéria-prima e pela adição de tampões alimentares com bicabornato de sódio e bicabornato de potássio (KAHN, 2013). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Devido à grande intensificação na exploração de bovinos, tanto de corte como em rebanhos leiteiros a acidose ruminal é uma enfermidade que vem acometendo rebanhos por todas as regiões, e consequentemente acarretando em grandes percas econômicas para criadores. E com isso a importância de sua etiologia, diagnostico, possíveis tratamentos e prevenções para evitar problemas relacionados a dieta introduzida aos animais, que se muito concentrada em carboidratos facilmente fermentáveis proporcionara uma baixa no pH ruminal do animal que acontece devido ao acumulo de ácidos no rúmen. REFERENCIAS Elisa Barp Neuwald, Acidose Ruminal, trabalho de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, segundo semestre de 2007, 13 pg. João Miguel Antunes Pereira, Acidose Ruminal, Dissertação defendida em prova pública na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, 2017. KAHN, cynthia., Manual Merck de Veterinária. 10. ed. São Paulo: roca, 2013. RADOSTITS, Otto., GAY, Clive., BLOOD, Douglas., HINCHCLIFF, Keneth. Clinica Veterinária - Um tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Suinos, Caprinos e Equinos. 9. ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2002.
Compartilhar