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Direito contra a vida

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Direito Penal 
Crimes contra a vida 
Prof. Felipe Abelleira 
 
CRIMES CONTRA A VIDA 
 
- o direito a vida não pode ser considerado absoluto; basta lembrar que pode o sujeito 
vir a matar alguém em legitima defesa; da mesma forma é possível a instituição da pena 
de morte (executada por meio de fuzilamento – art. 56 do CPM) nos tempos de guerra; 
 
- Vida intra-uterina e vida extra-uterina: 
i) a vida intra-uterina tem início a partir do fenômeno chamado nidação (trata-se 
da fixação do óvulo no útero, que ocorre em regra 14 dias após fecundação); 
ii) no momento em que é iniciado o parto, a vida extra-uterina se origina; no parto 
normal se dá com a dilatação do colo do útero, preparando-se para a expulsão do 
feto; no parto cesariana, tem início com o rompimento da membrana amniótica; 
iii) a vida intra-uterina é tutelada pelos arts. 124, 125 e 126, todos do CP; por sua 
vez, a vida extra-uterina é tutelada pelos arts. 121, 122 e 123, todos do CP; 
 
HOMICÍDIO 
 
1) Sujeitos do crime 
 - trata-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa; 
 - na hipótese de xifópagos (irmãos siameses): 
i) homicídio praticado por um dos xifópagos – o gênio responsável pelo delito 
deve ser condenado, mas a pena fica suspensa até sua prescrição ou até que o 
outro irmão pratique um delito; 
ii) no caso de homicídio dos xifópagos – se o agente quer matar apenas um dos 
irmãos e acaba resultando na morte de ambos em face de terem órgãos comuns, 
responderá por dois crimes de homicídios em concurso formal impróprio
1
; 
 
1
 Concurso material (art. 69 do CP) – o agente por meio de duas ou mais ações ou omissões pratica dois 
ou mais crimes; o critério que se aplica em relação a pena é o chamado critério do cúmulo material, ou 
seja, as penas são somadas; a doutrina divide em homogêneo (os delitos praticados são semelhantes), e 
heterogêneo (os delitos praticados são distintos); 
 Concurso formal (art. 70 do CP) – o agente mediante uma ação ou omissão pratica dois ou mais crimes 
idênticos (homogêneo) ou não (heterogêneo); o exemplo de crime de roubo praticado no interior de um 
ônibus, trata-se de uma única ação desdobrada em vários atos; tem-se o concurso formal próprio (1ª 
parte do art. 70), cujo critério de aplicação da pena é a sua exasperação (será aumentada de 1/6 até a 
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- quando o sujeito passivo do delito de homicídio for o Presidente da República, 
Senador Federal, Deputado Federal e Ministro do STF, e desde que o crime tenha 
sido praticado por motivos políticos, responde o agente pelo crime do art. 29 da Lei 
7.170/83 (Lei de Segurança Nacional); 
- a ação tendente a matar um cadáver é crime impossível pela absoluta 
impropriedade do objeto; 
 
2) O crime de homicídio é um crime material 
- no crime material o resultado do crime está inserido dentro do tipo penal; 
- o crime material que deixa vestígio, em regra, a sua materialidade deve ser 
comprovado por exame de corpo de delito (exame de corpo de delito direto); porém, 
quando desaparecerem os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir a ausência do 
exame de corpo de delito direto (trata-se de exame de corpo de delito indireto) (arts. 
158 e 167 do CPP); 
- no entanto, existem hipóteses de crimes materiais que deixam vestígios e a 
materialidade pode ser provada por outros meios: 
 a) Lei dos Juizados Especiais Criminais – basta um simples boletim médico; 
 b) Lei 11.340 (Lei Maria da Penha) – basta também um boletim médico; 
c) laudo preliminar de constatação, o qual deve ser confirma pelo exame 
definitivo; 
 
3) Tipo subjetivo do delito de homicídio 
A) Dolo 
 
metade); já no concurso formal impróprio (2ª parte do art. 70 do CP), o agente tem vontade de praticar 
cada um dos delitos, porém o faz mediante uma só ação ou omissão, o critério de aplicação da pena é a do 
cúmulo material; 
 Crime continuado (art. 71 do CP) – trata-se de uma ficção jurídica criada em favor do acusado; são 
seus requisitos: a) o agente deve praticar duas ou mais ações ou omissões; b) dois crimes da mesma 
espécie (mesmo tipo penal); c) homogeneidade de circunstâncias de tempo, lugar, modus operandi, etc. (o 
prazo construído pela jurisprudência é de 30 dias); o critério de aplicação da pena é o da sua exasperação; 
a Súmula 605 do STF está ultrapassada diante da nova (desde 1984) redação do § único do art. 71 do CP. 
Desta feita, é possível a continuidade delitiva nos crimes contra a vida; 
 
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- é composto da consciência e vontade (elementos, respectivamente, cognitivo e 
volitivo); conceitua-se como sendo a consciência e vontade de praticar um fato 
definido como infração penal; pode ser: 
 a) dolo direto 
- dolo direto de 1º grau: trata-se do fim diretamente desejado pelo agente; 
- dolo direito de 2º grau (ou dolo de conseqüências necessárias): o 
resultado é desejado como conseqüência necessária do meio escolhido; 
 b) dolo eventual 
- o agente prevê a superveniência do resultado, assumindo o risco de 
produzi-lo; (predomina a teoria do assentimento); 
 B) Culpa 
- é a inobservância do dever objetivo de cuidado, causadora de um resultado não 
desejado, mas objetivamente previsível; são suas modalidades: 
 a) imprudência 
- culpa na sua forma comissiva; 
 b) negligência 
- culpa na sua forma omissiva; 
 c) imperícia 
- falta de aptidão técnica no exercício de arte, profissão ou ofício; 
Obs: não existe crime culposo sem a produção do resultado; 
 
4) Consumação e tentativa 
 A) Consumação 
- art. 3º da Lei 9.434/97
2
 (Lei que regula o transplante de órgão); o critério legal 
adotado nesse dispositivo tem como finalidade dizer quando se consuma o crime 
de homicídio, ou seja, somente com diagnóstico da morte encefálica da pessoa; 
 
2
 Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou 
tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois 
médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios 
clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. 
 
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 B) Tentativa 
 - é possível a tentativa; 
- o elemento subjetivo do delito de homicídio, para que possa ser diferenciado 
do elemento do crime de lesões corporais, deve ser comprovado a partir dos 
dados objetivos do caso concreto; 
 
5) Homicídio Simples 
 - art. 121, caput, do CP; 
- o delito de homicídio simples poderá ser considerado hediondo, quando praticado 
em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente; a 
eficiência dessa previsão da Lei 8.072 é discutida sendo indagadas duas questões: 
1) a atividade típica de grupo de extermínio certamente incorrerá em um 
homicídio qualificado, sendo todos esses tipos considerados hediondo; 
2) o que é considerado grupo de extermínio: 
 - existem três correntes: 
 a) composto de duas pessoas; 
 b) composto de três pessoas; 
c) composto por quatro pessoas; 
- uma característica chave do homicídio praticado em atividade típica de grupo de 
extermínio é a questão de ser indeterminado ou impessoal em relação à vítima. 
Este sujeito passivo simplesmente pertencea determinado grupo ou classe social, 
racial, etc.; 
 
6) Genocídio 
- art. 1º da Lei 2.889/56; 
- o bem jurídico tutelado pelo crime de genocídio é a existência de grupo racial, 
étnico, nacional e religioso; não se fala em crime contra a vida; 
- a morte é uma das formas de se praticar o genocídio (art. 1º, a, da lei 2.889/56), 
mas não a única (vide as demais alíneas deste dispositivo); 
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- caso o agente mate 10 (dez) índios com homogeneidade de circunstâncias, deverá 
responder pelos dez crimes de homicídios (em continuidade delitiva) em concurso 
formal impróprio com o delito de genocídio; 
- não é possível a aplicação do princípio da consunção, na medida em que os bens 
jurídicos são distintos (ou seja, o delito de genocídio não absorve o delito de 
homicídio); 
- de quem é a competência criminal para julgar genocídio contra índios? 
- súmula 140 do STJ; em regra, crime cometido por ou contra índio é da 
competência da Justiça Estadual; 
- porém, caso o delito envolva direitos indígenas (art. 231 da CF/88), a 
competência será da Justiça Federal (será julgado por um juiz singular federal, 
por não se tratar de crime doloso contra a vida)
3
; 
 
7) Homicídio Privilegiado (art. 121, § 1º do CP) 
- quando se fala que um crime é privilegiado ou qualificado, ele, em regra, deve ter 
um novo mínimo e um novo máximo de pena já estabelecido pelo legislador; desta 
forma, a doutrina critica a denominação do tipo do art. 121, § 1º do CP, por ter-se 
uma causa de diminuição de pena (não há um novo mínimo e máximo); 
- tecnicamente não se trata de um homicídio privilegiado, e sim de um homicídio 
com causa de diminuição de pena (1/6 a 1/3); 
- é possível um homicídio privilegiado e qualificado
4
, desde que a qualificadora 
tenha natureza objetiva; nesse caso não será o homicídio considerado crime 
hediondo; 
- causas de diminuição de pena: 
 a) relevante valor moral (interesse particular) 
- valor que atende aos interesses do próprio cidadão (valor egoisticamente 
considerado); Ex: eutanásia; 
 
3
 Contudo, caso o genocídio seja praticado mediante morte de membro do grupo, os homicídios deverão 
ser julgados por um Tribunal do Júri Federal, que exercerá força atrativa em relação ao crime conexo 
de genocídio (STF, RE 351.487). 
4
 A denominação ideal deste homicídio é qualificado e privilegiado, por incidir o privilégio, na aplicação 
da pena, na última fase do sistema trifásico de Nelson Hungria. Todavia, pode-se usar as duas expressões 
(homicídio privilegiado e qualificado), em face do quesito relativo ao privilégio anteceder o quesito 
relativo às qualificadoras. 
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 b) relevante valor social (interesse coletivo) 
 - é o valor que atende aos interesses de toda a coletividade, diferencia-se do 
previsto no art. 65, III, a)
5
; 
c) sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da 
vítima 
- sob a “influência...” (alguns examinadores trocam as expressões domínio 
por influência), esta é uma circunstância atenuante e não de causa de 
diminuição; 
- “...logo em seguida”, entende-se que enquanto houver o domínio de 
violenta emoção, qualquer reação será imediata; 
- provocação não se confunde de agressão; 
 Elementares x Circunstância 
- elementares são dados essenciais da figura típica, cuja ausência pode gerar uma 
atipicidade absoluta (não será mais considerado crime) ou relativa (haverá uma nova 
tipificação); são dados que interferem no tipo penal; Ex: funcionário público; no 
infanticídio “...sob a influência de estado puerperal”; 
- circunstâncias são dados periféricos que gravitam ao redor da figurar típica, 
podem aumentar ou diminuir a pena, mas não interfere no crime; Ex: o relevante 
valor moral no caso de eutanásia; 
 - art. 30 do CP; conclui-se deste dispositivo que: 
 a) elementares se comunicam ao terceiro, desde que dela tenha consciência; 
b) circunstâncias e condições de caráter pessoal não se comunicam ao 
terceiro; 
c) circunstâncias de caráter objetivo se comunicam ao terceiro, desde que dela 
tenha consciência; Ex: emprego de fogo; 
 - exemplo de questões acerca do assunto: 
- a aplicação da causa de diminuição de pena, uma vez reconhecido o privilégio 
pelos jurados, se torna obrigatória, limitando-se a discricionariedade do juiz ao 
quantum da minoração; 
 Comparativo entre a privilegiado do art. 121 e a previsão geral 
 
5
 Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: 
III - ter o agente 
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral 
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Privilegio do art. 121§1º Privilegiadora do art. 65, III, c) 
Homicídio doloso Qualquer crime 
Domínio de violenta emoção Influencia de violenta emoção 
Injusta provocação da vitima Ato injusto da vitima 
Reação imediata Em qualquer momento 
 
 Compatibilidade com o aberratio ictus6 
 
8) Homicídio Qualificado 
 - art. 121, § 2º do CP; este dispositivo preceitua as qualificadoras: 
 I) mediante paga, promessa de recompensa ou por outro motivo torpe 
 - motivo torpe é aquele repugnante, que causa desprezo; 
- a construção “...ou por outro motivo torpe” feita pelo legislador é 
denominado de interpretação analógica
7
; 
- com relação a “...promessa de recompensa...”, para a corrente 
majoritária, esta deve ter natureza econômica; lembrando-se o que interessa 
é o móvel do agente (o que lhe levou para praticar o delito). Assim, mesmo 
que a promessa não seja efetivada responderá pelo homicídio qualificado; 
- o inciso I em análise é conhecido como homicídio mercenário ou por 
mandato remunerado; 
- para a doutrina, como o inciso I é uma circunstância de caráter pessoal (não 
se trata de elementar do tipo), só se aplica ao executor e não ao mandante; 
 II) por motivo fútil 
 - não há interpretação analógica; 
 
6
 Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a 
pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra 
aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a 
pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código 
7
 Analogia x Interpretação analógica – a analogia é um método de integração, consiste basicamente em 
métodos utilizados para suprir lacunas; é aplicado dispositivo legal para um caso semelhante não regulado 
por lei. Exemplo, art. 128, II do CP (se a gravidez resulta de atentado violento ao pudor é possível a 
aplicação desse dispositivo). Permite-se no Direito Penal a analogia em bonam partem. 
Já a interpretação analógica trata-se de uma forma casuística, exemplificativa, seguida de uma fórmula 
genérica. É perfeitamente admitida, e amplamente utilizada pelo Direito Penal, por exemplo, art. 121, §2º 
I, III e IV do CP. 
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 - considera-se fútil como insignificante/ sem importância; 
- para a corrente majoritária, a ausência de motivos é perfeitamente 
considerada como qualificadora do crime de homicídio (se o motivo fútil o é, 
o que dizer da ausência de motivos); 
 III) “com emprego de veneno, fogo, explosivo....resultar perigo comum” 
- emprego de veneno, ou também conhecida como venefício; para que o 
enseja essa qualificadora, a vítima não pode saber que estásendo 
envenenada; o veneno deve ser utilizado de maneira dissimulada; 
- homicídio qualificado pela tortura (art. 121, §2º, III, CP) x tortura 
qualificada pelo resultado morte (art. 1º, § 3º, 2ª parte da Lei 9.455/97); 
no primeiro sempre há a presença da vontade de causar o resultado morte 
(animus necandi). Já no segundo a intenção do agente era a de torturar, de 
forma culposa resultou a morte (exemplo de crime preterdoloso); 
 IV) “a traição, de emboscada...dificulte a defesa do ofendido” 
- ter-se-á homicídio qualificado, por exemplo, quando o agente atingiu com 
um tiro efetuado pelas costas e não necessariamente o tiro nas costas da 
vítima; 
- a idade avançada ou eventual deficiência da vítima (homicídio praticado 
contra senhor de oitenta anos; ou contra portador de deficiência) não são 
recursos procurados pelo agente, mas sim características inerentes a própria 
vítima. Portanto, isoladamente, não qualifica o homicídio; 
- a premeditação, por si só não qualifica o delito de homicídio (homicídio 
premeditado); 
 V) “para assegurar a execução....ou vantagem de outro crime...” 
 - a ocultação reflete a idéia de que o crime já fora praticado; 
Obs. Homicídio duplamente qualificado 
- tecnicamente é incorreto afirmar que o homicídio será duplamente qualificado. Na 
verdade só será qualificado por um motivo, devendo as demais qualificadoras serem 
levadas em consideração na análise das circunstâncias judiciais (posição que 
prevalece na doutrina); há ainda quem entenda (corrente minoritária) que as demais 
qualificadoras serão levadas em consideração como circunstâncias agravantes; 
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Obs. O motivo fútil não concorre com a torpeza, ou um ou outro. 
 
9) Homicídio Culposo 
- atentar no caso de delito praticado na direção de automotor (art. 302 da Lei 
9.503/97 - CTB); verifica-se, contudo, que a pena deste dispositivo é de 2 a 4 anos, e 
a do CP é de 1 a 3 anos (comportando este último o benefício da suspensão 
condicional do processo – art. 89 da Lei 9.099/95); 
- para os Tribunais Superiores, a título de princípio da isonomia, não é possível 
que o julgador aplique a pena do homicídio culposo do CP ao homicídio culposo do 
CTB; a justificativa dada pela jurisprudência com relação a pena mais grave desta 
última codificação, é a questão do desvalor da conduta; 
- outro ponto importante de divergência entre os dispositivos do CP e CTB é com 
relação ao perdão judicial: 
 i) trata-se de causa extintiva da punibilidade; (art. 107, IX do CP); 
ii) o art. 121, § 5º do CP (incluído pela Lei 6.416/77) prevê o perdão judicial; 
contudo, nessa década de 70 a industria automobilística estava em ampla 
expansão; a doutrina afirma que fora criado este dispositivo em relação aos 
acidentes de trânsito; 
iii) não cabe, em relação ao perdão judicial, a aplicação de analogia; somente 
nos casos previstos em lei é possível a sua aplicação; 
iv) o legislador especial, ao elaborar o CTB, não teve o cuidado de positivar o 
preceito com relação ao perdão judicial no CTB; todavia, no projeto inicial 
estava previsto, tendo sido vetado em razão de já estar previsto no CP; assim, 
segundo a jurisprudência majoritária aplica-se o perdão judicial aos delitos 
praticados na direção de veículo automotor, mesmo sem previsão legal; 
v) conceito – instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um injusto 
penal por um agente culpável, deixa de lhe aplicar a pena nas hipóteses 
taxativamente previstas em lei; 
vi) a natureza jurídica da sentença concessiva de perdão judicial é de decisão 
declaratória da extinção da punibilidade (súmula 18 do STJ); afirma ainda a 
súmula que não subsiste nenhum efeito condenatório, assim, como não se trata 
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de uma decisão condenatória, não pode ser executada no juízo civil para a 
reparação do dano; 
vii) quanto ao momento para a concessão do perdão judicial têm-se duas 
correntes: 
1- corrente tradicional – o perdão judicial pressupõe o reconhecimento de 
uma conduta típica, ilícita e culpável; assim, seu reconhecimento dar-se-á 
ao final do processo, sob pena de violar o princípio da não-culpa; (para a 
prova é a corrente sugerida); 
2- corrente moderna (minoritária) – verifica as condições da ação, 
principalmente no tocante ao interesse de agir; este se subdivide no 
trinômio: necessidade, adequação e utilidade; destarte, questiona-se, qual 
seria a utilidade de se levar adiante um processo, referente a um caso 
concreto, no qual estivesse patente uma hipótese de perdão judicial; 
Obs. É incompatível com a modalidade tentada 
Obs. Comporta os benefícios da lei 9099/95 
 
10) Homicídio culposo qualificado 
 - previsto no art. 121, § 4º, 1ª parte do CP; majorado em até 1/3 da pena; 
- será majorado quando ocorrer: 
a) a inobservância de regra técnica de arte, profissão ou ofício (Ex: cirurgião que 
não faz assepsia no material); ou também; 
b) se por acaso o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura 
diminuir as conseqüências do ato ou foge para evitar a prisão em flagrante; 
- imperícia X inobservância de regra técnica de arte, profissão ou ofício 
i) a primeira é a falta de aptidão técnica; na segunda, o agente tem o 
conhecimento técnico, mas não observa no caso concreto; 
- para a doutrina essas majorantes não se aplicam em três hipóteses: 
 a) morte instantânea da vítima
8
; 
 b) quando a vítima for socorrida por terceiros; 
 c) quando o agente se afasta do local por temor de represarias; 
 
8
 Um caso concreto chegou ao STF, no qual o Min. Gilmar Mendes afirmou que o autor do delito não é 
dotado de poderes advinhatórios para prevê se a vítima vai ou não morrer, incidindo a majorante em tela. 
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11) Homicídio doloso majorado praticado contra menor de 14 e maior de 60 anos 
 - atente-se que somente nos casos de homicídio doloso; 
 - nesses casos sofrerá aumento de até 1/3; 
- a idade será provada sendo observada as restrições do Direito Civil (art. 155, p.ú 
do CPP); 
- por adotar o CP a teoria da atividade (art. 4º do CP) interessa o momento da ação 
ou omissão; assim, se a vítima era menor de 14 anos quando o agente atirou, incide 
a majorante; 
 
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXILIO AO SUICÍDIO 
1) Introdução 
 - art. 122 do CPP; esse delito também é conhecido como autoquíria ou autocídio; 
- o suicídio, assim como sua tentativa é uma conduta atípica no ordenamento 
jurídico brasileiro; no entanto, não se trata de conduta lícita e sim ilícita (chega-se a 
essa conclusão, pois, o emprego de violência contra aquele que está tentado cometer 
suicídio não é uma conduta típica - vide art. 146 do CP); 
2) Tipo objetivo 
 - é composto de três verbos: induzir, instigar e auxiliar, sendo: 
 a) induzir – criar uma idéia até então inexistente; 
 b) instigar – reforçar uma idéia pré-existente; 
c) auxiliar – significa ajudar materialmente; no entanto, não é possível a 
intervenção em atos executórios de matar alguém, sob pena do agente responder 
pelo crime de homicídio; 
- para que se possa falar nessa espécie de crime a vítima deve ser certa e 
determinada; 
- com relação as condições subjetivas do sujeito passivo, tem-se: 
i) se a vítima é menor de 14 (quatorze) anos, por não ter discernimento suficiente 
para compreender os seus atos, responderá o agente por homicídio; 
ii) se praticado o crime contra vítima maior de 14 (quatorze) e menor de 18 
(dezoito) anos o delito praticado éo do parágrafo único do art. 122 do CP; 
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iii) se a vítima tem mais de 18 (dezoito) anos, responde pelo delito do caput do 
art. 122 do CP; 
- se a vítima tem sua capacidade suprimida, responde o agente por homicídio; se 
somente diminuída responde pelo art. 122, parágrafo único do CP; 
3) Consumação e tentativa 
 - três são as correntes: 
1ª Corrente) corrente mais antiga (Nelson Hungria), defende que o crime 
consuma-se com o induzimento, a instigação e o auxílio, ficando a punibilidade 
condicionada ao implemento do resultado morte ou lesão corporal grave, que 
funcionam como condição objetiva de punibilidade; assim se: 
 a) induziu e produziu o resultado morte – art. 122 consumado – pena de 2 a 6; 
 b) induziu e produziu lesão grave – art. 122 consumado – pena de 1 a 3; 
 c) induziu e não produziu resultado – conduta impunível; 
 Obs: não é admitida a tentativa; 
2ª Corrente) induzimento, instigação e auxilio não configuram consumação 
(Mirabete – posição que prevalece), mas sim execução do delito. Na verdade, o 
crime se consuma com resultado morte ou lesão corporal grave; 
 a) induziu e produziu o resultado morte – art. 122 consumado – pena de 2 a 6; 
 b) induziu e produziu lesão grave – art. 122 consumado – pena de 1 a 3; 
 c) induziu e não produziu resultado – trata-se de fato atípico; 
 Obs: também não é admitida a tentativa
9
; 
3ª Corrente) corrente minoritária (Bittencourt), afirma que o induzimento, a 
instigação e o auxilio configuram execução do delito, que se consuma com a 
produção do resultado morte. Se ocorrer lesão corporal grave, estaremos diante 
de um crime tentado (tentativa sui generis); 
 a) induziu e produziu o resultado morte – art. 122 consumado – pena de 2 a 6; 
 b) induziu e produziu lesão grave – art. 122 tentado – pena de 1 a 3; 
 c) induziu e não produziu resultado – trata-se de fato atípico; 
 Obs: a tentativa é admitida; 
4) “Pacto de Morte” 
 
9
 O crime do art. 122 do CP com resultado lesão grave é exemplo de um crime material 
plurissubsistente que não admite tentativa. 
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- imagine o seguinte exemplo: A e B em ambiente fechado com torneira de gás 
fizeram um pacto de morte, onde ocorre: 
i) se B abre a torneira de gás, e este vem a falecer, e A sobrevive; A responde 
pela participação em suicídio; 
ii) se B abre a torneira de gás e A vem a falecer; B nesse caso responde por 
homicídio (por ter praticado ato executório); 
iii) se B abre a torneira de gás, mas terceiro abre a porta do ambiente e os dois 
(A e B) sobrevivem; nesse caso, B, por ter praticado atos executórios não 
ocorridos por intervenção de um terceiro responderá por homicídio tentado; e A 
não responderá por nada (conduta atípica); 
5) Aumento de pena: (a pena é duplicada) 
 - Motivo egoístico 
 - Vitima menor 
 - Vitima que tem diminuída a capacidade de resistência (portadora de enfermidade 
física ou mental e ébrio) 
 
 
INFANTICÍDIO 
1) Introdução 
 - art. 123 do CP; 
- o infanticídio trata-se de um delito de homicídio com elementos especializantes, 
são eles: 
 a) é um delito da parturiente, ou seja, crime de delito próprio; 
b) praticado contra o nascente ou neonato; trata-se, assim, de crime bi-próprio 
(tanto o sujeito ativo como o sujeito passivo devem ser específicos); 
 c) elemento temporal; durante o parto ou logo após; 
 d) sob a influência do estado puerperal
10
; 
- por ser uma elementar do tipo, o estado puerperal se comunicará com o terceiro, se 
este estiver consciência; 
 
10
 O estado puerperal sempre está presente na parturiente, contudo, manifesta-se em intensidades 
diversas, prescinde de exame pericial. 
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- o infanticídio somente é punido a título de dolo (direto ou eventual), ou seja, no 
caso a parturiente em estado puerperal adormecer por cima do neonato e este vir a 
óbito, não tipifica tal conduta como infanticídio, pois, a morte foi produzida a título 
de culpa (responderá por homicídio culposo, podendo incidir o perdão judicial); 
- no erro sobre a pessoa responde-se como se tivesse atingido a pessoa que 
pretendia ofender; portanto, no caso de parturiente, sob a influência do estado 
puerperal, causar a morte de neonato de outrem pensando que era o seu, responde 
pelo crime de infanticídio (aberratio ictus); 
- a circunstância agravante do art. 61, II, e, do CP não é aplicada ao delito de 
infanticídio sob pena de bis in idem; (vide caput do art. 61 do CP); 
 Parto – inicia-se com dilatação do colo do útero, é a expulsão do nascente do 
mesmo, junto com a placenta. 
 
ABORTO (ABORTAMENTO) 
 
1) Introdução 
 - são três as espécies de aborto: 
a) Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (art. 124 do CP) 
b) Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (art. 125 do 
CP); 
c) Aborto provocado com o consentimento da gestante (art. 126 do CP) 
 - Teorias sobre o concurso de pessoas 
 a) teoria pluralística 
 - existem tantos crimes quanto o número de co-autores e partícipes; 
 b) teoria dualística 
- de acordo com essa teoria haveria dois crimes um para os co-autores e outro 
para os partícipes; 
 c) teoria monística 
- independentemente do número de co-autores e partícipes, o delito 
permanece único e indivisível; 
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- o CP adotou essa teoria em seu art. 29; todavia, a pena de cada um irá 
variar na medida de sua culpabilidade (esta deve ser entendida como juízo de 
reprovação); 
- contudo, é possível visualizar no nosso ordenamento exceções
11
 a aplicação 
dessa teoria: 
 1- arts. 124 e 126 do CP; 
 2- arts. 317 e 333 do CP; 
 3- arts. 342, § 1º e 343 do CP; 
 4- art. 235, caput e o seu § 1º do CP; 
 5- a Lei de Drogas (Lei 11.343/06) trouxe outras duas exceções: 
 - arts. 33 e 36 da Lei 11.343/06; 
 - arts. 33 e 37 da Lei 11.343/06 
 - as três modalidades de aborto somente são punidas a título doloso; 
2) Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (art. 124 do CP) 
- trata-se de crime de mão-própria
12
; os outros dois delitos de abortamento são 
exemplos de crimes comuns; 
- é perfeitamente possível o concurso de pessoas na prática desse tipo penal, porém, 
somente na modalidade de participação (ex: namorado que induz namorada a prática 
de manobra abortiva); 
3) Conceito de Aborto 
- trata-se da interrupção voluntária da gravidez, com a morte do produto da 
concepção dentro ou fora do útero; 
- imagine os exemplos: 
a) gestante pratica manobra abortiva e o feto é expulso vindo a falecer, em razão 
da prática da manobra, três semanas depois; responde por aborto consumado; 
 
11
 Por essa razão alguns doutrinadores afirmam que nosso ordenamento aplica a teoria monista 
temperada. 
12
 Crime comum – não exige qualidade especial do agente podendo ser praticado por qualquer pessoa. 
Admite tanto a co-autoria quanto a participação; 
Crime próprio – exige uma qualidade especial do agente (ex: art 312 do CP – delito de peculato). 
Admite tanto co-autoria quanto a participação; 
Crime de mão-própria – também exige uma qualidade especial do agente, no entanto, sua execução não 
pode ser delegada (ex: falso testemunho). Não admite co-autoria, porém, nada impede a participação (Ex: 
advogadono crime de falso testemunho). 
 
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b) gestante pratica manobra abortiva e o feto vem a ser expulso e sobrevive; 
responde pelo aborto tentado; se nesse caso, após expulso vier a matar o feto, 
responde por homicídio; 
- são chamados de delitos de cifra negra (são amplamente praticados, mas não 
conhecidos); 
4) Aborto de gêmeos 
- gestante que sabe está grávida de gêmeos, e provoca aborto, responderá pela pratica 
de dois crimes de aborto em concurso formal impróprio; 
5) Figuras majoradas de aborto 
- art. 127 do CP; este dispositivo somente se aplica aos arts. 125 e 126 do CP; os 
resultados que agravam previstos são: lesão corporal grave e morte; 
- esses resultados somente serão atribuídos ao agente a título de culpa; é exemplo de 
crime preterdoloso; assim, no exemplo de um agente que de forma intencional atira 
em gestante grávida de seis meses, responderá por art. 121 (homicídio) e 125 do CP 
(aborto provocado), em concurso formal impróprio; 
- o médico responsável pela prática do aborto, não consegue interromper a gravidez 
(dolo do agente – tentado), mas a mulher acaba falecendo (culpa no resultado – 
consumado), responderá (duas correntes): 
a) pelo art. 126 c/c a última parte do art. 127, na modalidade consumada; 
(Fernando Capez); critica-se essa corrente por considerar a pratica de aborto 
consumado, tendo, contudo o feto sobrevivido; 
b) pelo art. 126 c/c art. 127, última parte, na modalidade tentada; (LFG); 
questiona-se se a tentativa em crime preterdoloso é possível? Não se admite a 
tentativa em crime preterdoloso quando o que ficar frustrado for o resultado, 
atribuído ao agente a título de culpa. Porém, quando o que ficar frustrado for a 
conduta do agente, praticada a título doloso será possível tentativa em crime 
preterdoloso; 
6) Excludentes da ilicitude no crime de aborto 
 6.1) Aborto necessário ou terapêutico (art. 128, I do CP) 
 - funciona como um estado de necessidade; 
 - são requisitos para verificação dessa excludente: 
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 a) risco de morte da gestante; 
 b) inexistência de outro meio para salvá-la; 
 c) deve ser praticado por médico
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; 
- não é necessária a autorização da gestante, nem tampouco judicial, para a 
prática do aborto; o médico acaba agindo no estrito cumprimento do dever legal 
(art. 146, § 3º, I do CP); 
 6.2) Aborto sentimental, humanitário ou ético (art. 128, II do CP) 
 - para a prática dessa excludente deve-se observar: 
 a) deve ser praticado por médico; 
 b) depende do consentimento da gestante ou de seu representante legal; 
 c) a gravidez deve advir de estupro
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; 
 - não depende de autorização judicial (há divergências); 
- para a doutrina, deve o médico, dentro do possível, certificar-se da ocorrência 
do crime sexual; 
7) Aborto eugênico ou eugenésico 
 - trata-se do exemplo do feto anencefálico (sem atividade cerebral); 
 - vide julgado do STF, ADPF no. 54; 
- apesar de não está previsto no rol dos abortos previstos como causa de excludente 
da ilicitude, há projeto de lei para inseri-lo; 
- para a doutrina o fato seria típico e ilícito, mas não seria culpável em virtude da 
presença de uma causa excludente da culpabilidade (inexigibilidade de conduta 
diversa); 
8) Aborto miserável ou econômico social 
 - ocorre nos casos de incapacidade financeira; 
- sua prática é conduta típica, não havendo que se falar em hipótese de excludente 
da ilicitude; 
 
 
13
 Caso praticado por enfermeira, utiliza-se a regra geral do art. 24 do CP (estado de necessidade) para 
excluir a ilicitude. 
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 Pode-se inserir de forma analógica (analogia em bonnan partem) o atentado violento ao pudor.

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