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1 MEDIDAS DE SEGURANÇA 1. CONCEITO: Medida de segurança → espécie de sanção penal. Medida com que o Estado reage contra a violação da norma punitiva, por agente inimputável ou semi-imputável. 2. FINALIDADES: Pena Medida de segurança Prevenção Finalidade essencialmente preventiva. Retribuição Ressocialização Trabalha com a culpabilidade Trabalha com a periculosidade. O Juiz, quando aplica a pena, olha o passado, observa o fato. Por outro lado, quando aplica a medida de segurança, ele olha para o futuro, para o agente, pois esta tem finalidade curativa. STJ – a medida de segurança deve atender a dois interesses (HC 113016): à segurança social; ao interesse da obtenção da cura daquele a quem é imposta ou à possibilidade de um tratamento que minimize os efeitos da doença mental. 3. PRINCÍPIOS DA MEDIDA DE SEGURANÇA A medida de segurança é orientada por praticamente todos os princípios que orientam a pena, merecendo 2 observações: 1. Legalidade (art. 1º do CP) → reserva legal + anterioridade. Como o dispositivo só se refere a pena, surgem 2 correntes: 1ª corrente → considerando a finalidade da medida de segurança, qual seja, curativa, ela não se submete ao princípio da legalidade; 2ª corrente → considerando ser espécie de sanção penal, submete-se ao princípio da legalidade. Prevalece essa corrente; 2. Proporcionalidade: Pena Medida de segurança A pena deve ser proporcional à gravidade do fato praticado. A medida de segurança deve ser igual ao grau de periculosidade do agente. Aqui a pena da ameaça não pode ser maior do que a pena de homicídio. Nesse caso, é possível que a duração da medida de segurança possa do crime de ameaça seja superior à aplicada ao crime de homicício. O art. 3º do com, obedece o princípio da reserva legal, porém não observa o princípio da anterioridade; portanto, esse dispositivo não foi recepcionado pela CF/88. 2 4. PRESSUPOSTOS Os pressupostos da medida de segurança são (art. 93): prática de fato previsto como crime; periculosidade do agente: inimputabilidade (art. 26 caput); semi-imputabilidade (art. 26, pu). Se o fato for previsto como contravenção penal, é possível a aplicação de medida de segurança, na forma do art. 12 do CP. No Brasil, a medida de segurança é sempre pós-delitual, pressupondo a prática de um crime. Não há medida de segurança preventiva, pré-delitual. Periculosidade → personalidade de certos indivíduos, militando ser possuidor de clara inclinação para o crime. Inimputabilidade → o juiz absolve a aplica medida de segurança. Trata-se de uma absolvição imprópria. Semi-imputabilidade → o juiz condena, diminuindo a pena ou substituindo por medida de segurança. Pelo fato de o juiz condenar o semi-imputável, a doutrina não aceita essa expressão, preferindo o termo imputável com responsabilidade diminuída. Antes de 1984, o juiz condenava e diminuía a pena e aplicava medida de segurança. Aqui vigorava o sistema do duplo binário ou sistema dos dois trilhos. Esse sistema foi abolido pela reforma de 1984, pois configurava um bis in idem. Assim, hoje, o juiz condena, porém, ou ele diminui a pena ou ele aplica medida de segurança. Trata-se do sistema vicariante ou sistema unitário. Na verdade o sistema vicariante, ele é alternado, quando o agente está doente, aplica-se medida de segurança, se há melhora, aplica-se a pena, e assim, sucessivamente, durante todo o cumprimento da pena. Mas, na 1ª fase do concurso, esse sistema deve ser adotado. Na realidade, o Brasil adota o sistema alternativo, assim, ou só é medida de segurança, ou só é pena. Não é direito subjetivo do semi-imputável a aplicação de medida de segurança. STJ – o art. 26 do CP é claro ao distinguir duas situações diferentes, atribuindo-lhes soluções diversas: ao inimputável, absolvição cumulada com medida de segurança; ao semi-imputável, condenação, podendo o juiz diminuir a pena ou substituí-la por medida de segurança. Nesse caso, afastada a necessidade da internação ou tratamento, não há que se falar em substituição da pena por medida de segurança. 5. ESPÉCIES DE MEDIDA DE SEGURANÇA O art. 96 estabelece duas espécies de medida de segurança: a. detentiva → com privação da liberdade, qual seja, a internação; b. restitiva → com restrição da liberdade, qual seja, o tratamento ambulatorial. Segundo o art. 97, a regra é a aplicação da medida de segurança detentiva, salvo se o crime praticado for punido com detenção, aplicando-se medida de segurança restritiva. 3 Movimento anti-manicomial → corrente doutrinária que busca inverter a regra de aplicação da medida de segurança, sendo a restritiva a regra e a detentiva a exceção. A Lei de Drogas (Lei 11.434/06) é norteada pelo movimento anti-manicomial. 6. DURAÇÃO DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA Está prevista no art. 97, §1º, do CP. A medida de segurança será imposta por prazo indeterminado. Só está previsto prazo mínimo para a realização da perícia médica. Esse prazo mínimo deve variar conforme o grau de periculosidade. A ausência de termo final para medida de segurança foi recepcionada pela CF/88? Há divergência na doutrina: 1ª corrente → o prazo indeterminado na medida de segurança configura verdadeira pena de caráter perpétuo vedada pela CF. Logo a medida de segurança fica adstrita ao período máximo de 30 anos (art. 75 do CP). Corrente adotada pelo STF; 2ª corrente → o prazo indeterminado da medida de segurança foi recepcionado pelo CF, pois não se trata de pena, e sim medida curativa. Adotada pelo STJ. A maioria da doutrina entende que o prazo de prisão provisória deve ser descontado do prazo mínimo de medida de segurança. Após a realização da 1ª perícia (no prazo de 1 a 3 anos), as próximas perícias devem ser realizadas ano a ano (art. 97, §2º). Todavia, o juiz da execução pode adiantar a perícia. Vale ressaltar que o juiz da execução não pode jamais adiar a perícia. O art. 43 da LEP estabelece que o condenado pode escolher médico particular para acompanhar o tratamento e até mesmo realizar a perícia. Se houver divergência entre o médico particular e o oficial, o juiz da execução decidirá. A desinternação ou liberação é condicional pelo prazo de 1 ano, ou seja, é realizada a título de ensaio (art. 97, §3º). O fato indicativo de periculosidade a que a lei se refere não é necessariamente um fato típico. O art. 97, §4º, determina que o agente submetido a tratamento ambulatorial pode ser internado. Não se trata de regressão, pois não tem finalidade punitiva, mas curativo. Assim, esse dispositivo não pode ser chamado de regressão. A transferência da internação para o tratamento ambulatorial não tem previsão legal. Assim, se a internação não é mais necessária, na prática, substitui-se por tratamento ambulatorial. Todavia, essa analogia é em malem partem, pois, se não é mais necessária a internação, o agente deve ser posto em liberdade e não submetido a tratamento ambulatorial. Segundo o art. 99, o doente metal não pode ficar internado em prisão comum, cadeia ou penitenciária, mesmo que em compartimento separado (STJ). Segundo o art. 96, pu, todas as causas extintivas da punibilidade aplicáveis à pena, se aplicam à medida de segurança. Prescrição → segundo o STF, a medida de segurança é espécie de sanção penal e, por isso mesmo, se sujeita à regra contida no art. 109 do CP, considerando-se a pena máxima em abstrato para o crime. Durante a execução sobrevém doença mental → há duas opções: 4 no caso de distúrbio passageiro, o juiz deve determinar a transferência para estabelecimento adequado (art. 41 do CP). O tempo de internação não pode ser suplantar o da pena efetivamente imposta; no caso de distúrbio não passageiro(e não perpétuo), deve ser preferida a substituição da pena por medida de segurança. (art. 183 da LEP). Nesse caso, o tempo de internação segue a regra do art. 97, §1º, do CP, ou seja, será por tempo indeterminado. O STJ vem traçando limites para o segundo caso, determinado que a internação deve observar o máximo da pena imposta. REABILITAÇÃO 1. Conceito: Temos que estudar a reabilitação antes e depois da Reforma de 1984: ANTES da reforma 84 DEPOIS da reforma de 84 A reabilitação era espécie de causa extintiva da punibilidade A reabilitação depois da reforma do instituto declaratório que garante ao condenado que garante: I – Sigilo dos registros dos processos / condenações. Art. 202 da LEP, extinguiu a primeira finalidade da reabilitação, pois a LEP garante automaticamente o sigilo, mas este sigilo não é absoluto (exceção: para instruir processo pela prática de nova infração e concurso). II – Garante ao condenado a suspensão de alguns efeitos extra penais da condenação (art.92 do CP). Obs: No Código Militar Penal a extinção continua como causa extintiva de punibilidade. Art. 123, V do CMP. Pois, este código não foi alcançado pela reforma de 84. Obs.: Em caso de anistia ou de abolitio criminis os efeitos extrapenais da condenação permanecem. 2. Efeitos extrapenais que desaparecem com a reabilitação: A reabilitação vai ser considerada somente em relação aos efeitos extra penais da condenação. Conforme o art. 92 do CP, os efeitos da condenação que serão suspensos quando houver uma reabilitação bem sucedida são: 2.1. Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo. a) Crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública: i. Pena privativa de liberdade igual ou superior a um ano Obs.: Apesar de haver séria divergência, ele só perde cargo, função pública ou eletivo se a pena a ser cumprida por privativa de liberdade, pois se ele conseguir [G1] Comentário: Art. 202. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em lei. [G2] Comentário: Art. 92. São também efeitos da condenação: I – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a quatro anos nos demais casos; II – a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; III – a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. 5 substituí-la não perde o cargo (ou seja, se for restritiva de direitos, multas ou sursis não perde o cargo). Em outras palavras, pena restritiva de direitos e multa não geram esse efeito (pena do cargo). b) Crimes comuns: i. Pena privativa de liberdade SUPERIOR a 4 anos (e não apenas igual) 2.2. Incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela, ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra o filho, tutelado ou curatelado; Tem requisitos novos no CC que aqui na doutrina penal não são necessários. a) Crime doloso (preterdoloso), b) Punido com reclusão, c) O crime tem que ser praticado em face (vítima) do filho do tutelado ou do curatelado. 2.3. Inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. Não necessariamente um veículo automotor, pode até ser embarcações, por exemplo. Esses efeitos são automáticos ou dependem de decisão motiva do juiz? Dispõe o parágrafo único do art.92 do CP NÃO são automáticos, devendo ser assim declarados na sentença pelo juiz. A mera condenação não é um motivo. Obs.: Segundo o parágrafo único do art. 93, nas hipóteses 1 e 2 a reabilitação é parcial, pois veda a volta para a situação anterior. Ou seja, “a reabilitação vai permitir que continue no cargo, função pública ou mandato eletivo, mas em cargo diferente do anterior”. Somente no caso 3 que a reabilitação é total, ou seja, o réu volta ao status quo anterior “volta a dirigir o mesmo veículo”. 3. Requisitos - Art. 94 do CP Art. 94. A reabilitação poderá ser requerida, decorridos dois anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde que o condenado: I – tenha tido domicílio no País no prazo acima referido; II – tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom comportamento público e privado; III – tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida. a) Decurso do prazo de 2 anos do cumprimento ou de extinção da pena (computado o período de prova do “sursis” e do livramento condicional). [G3] Comentário: Parágrafo único. A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da condenação, previstos no artigo 92 deste Código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo. 6 b) Domicílio no país no prazo acima. Isso não significa que o sujeito não possa sair do país. Para Defensoria Pública: Cezar Roberto Bittencourt questiona a constitucionalidade desse artigo, por entender que esse dispositivo traz uma limitação indevida e desnecessária ao status libertis do indivíduo, que já cumpriu sua pena. c) Bom comportamento público e privado. d) Ressarcimento do dano ou comprovado impossibilidade de fazê-lo ou novação ou renúncia da vítima. Esses requisitos são cumulativos, faltando um deles será negada a reabilitação. Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários (art. 94, § único do CP). É igual a reabertura de inquérito policial, que só é possível com novas provas. 4. Pluralidade de condenações No caso de várias condenações, deve aguardar o cumprimento de cada pena ou pode ir reabilitando cada pena conforme a sua extinção? Prevalece na doutrina e na jurisprudência que a reabilitação pressupõe o cumprimento de TODAS as penas não existe reabilitação individual. O pedido de reabilitação deve aguardar dois anos do cumprimento ou extinção da última sanção penal, não podendo ser feito individualmente. Já Alberto Silva Franco entende que a reabilitação é individual. 5. Revogação da reabilitação – art. 95 Art. 95. A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa. É possível haver a revogação da reabilitação. A reabilitação segue o espírito de clausula sic stantibus. Revogar a reabilitação é trazer a tona aquele efeito que a suspensão concedeu. É possível a suspensão da revogação. A reabilitação só pode ser revogada de ofício ou a requerimento do MP. A vítima não pode requerer a revogação, mesmo que a ação que gerou a ação foi a privada. Assistente também não pode requerer revogação da reabilitação. A legitimidade é do juiz e do MP. A revogação da reabilitação depende de condenação definitiva com trânsito em julgado. Ademais, o condenado tem que serconsiderado como reincidente. Multa não gera a revogação da reabilitação. É possível reabilitação em medida de segurança? A lei é silente, mas a doutrina admite a reabilitação, principalmente, para o semi-imputável porque esse tem condenação. A antiga lei de falências e de drogas tinha uma reabilitação especial. Foram revogadas, e agora tanto a lei de falências quanto a de drogas possuem a reabilitação do CP. 7 6. Endereçamento do pedido de reabilitação: O pedido de reabilitação é endereçado para o juiz da execução, para o Tribunal respectivo ou para o juiz da condenação? R: É endereçado ao juiz da condenação, pois a execução já terminou há dois anos do cumprimento da pena (art. 743 do CPP). * A revisão criminal é endereçado ao Tribunal. O juiz da condenação negou o pedido de reabilitação, pode recorrer? Sim, a decisão que nega o pedido de reabilitação é recorrível por meio do recurso apelação (art. 593, II do CPP). Já da decisão que concede a reabilitação cabe apelação e recurso de ofício pelo MP (art. 746 do CPP). Tem doutrina NÃO admitindo recurso de ofício como recurso. Tem doutrina dizendo que o recurso de ofício não foi recepcionado pela CF, porque falta-lhe voluntariedade. É um desdobramento do direito de ação e o juiz não pode agir. [G4] Comentário: Art. 743. A reabilitação será requerida ao juiz da condenação, após o decurso de quatro ou oito anos, pelo menos, conforme se trate de condenado ou reincidente, contados do dia em que houver terminado a execução da pena principal ou da medida de segurança detentiva, devendo o requerente indicar as comarcas em que haja residido durante aquele tempo. [G5] Comentário: Art. 746. Da decisão que conceder a reabilitação haverá recurso de ofício.
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