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Conceituação e fundamentos das diversas estruturas clínicas neurose, psicose e perversão.

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Conceituação e fundamentos das diversas estruturas clínicas:
Neurose, Psicose e Perversão
Conceito de estrutura - Cristal
Em psicopatologia psicanalítica, a noção de estrutura corresponde àquilo que, em um estado psíquico mórbido ou não, é constituído pelos elementos metapsicológicos profundos e fundamentais da personalidade, fixados em um conjunto estável e definitivo. 
Estrutura de personalidade difere das manifestações sintomáticas: os sintomas são considerados de modo bastante relativizado, acreditando-se que qualquer estrutura de personalidade pode apresentar qualquer tipo de sintoma, neurótico ou psicótico, em virtude de todos os seres humanos partilharem todos os tipos de situações de ansiedade. (BERGERET, 1988, p. 50).
Sintoma X Estrutura
A doença propriamente dita manifesta-se a partir do sintoma, que é uma formação de compromisso patológica.
Importante: o sintoma não nos permite jamais, por si só, prejulgar acerca de um diagnóstico da organização estrutural profunda da personalidade.
Um neurótico pode apresentar defesas psicóticas (delírio, alucinação) e um psicótico pode apresentar defesas ditas neuróticas (idéias obsessivas, comportamento fóbico). (BERGERET, 1988, p. 46).
Neurose
Mecanismo de defesa: RECALQUE.
Organização da personalidade sob o primado do genital
Rumo da doença:
Experiência sexual (trumática, prematura, deve ser recalcada);
Recalcamento a posteriori; lembrança correspondente e formação de um sintoma primário;
Defesa bem-sucedida: Saúde;
Ideias recalcadas retornam, formação de novos sintomas (da doença propriamente dita). 
Principais diferenças entre as neuroses (Histeria e Neurose Obsessiva)
São demonstradas na forma como retornam as ideias recalcadas; 
Outras diferenças são evidenciadas na maneira como os sintomas se formam e no rumo tomado pela doença;
Porém, o caráter específico de uma determinada neurose está no modo como se realiza o recalque.
Neurose Obsessiva
Experiência sexual primária acompanhada de prazer, sem dor ou nojo;
Quando relembrada posteriormente (retorno do recalcado), surge desprazer, emergindo uma autocensura consciente;
Ambas são recalcadas (lembrança e autocensura) formando um sintoma antitético, com escrupulosidade, por exemplo;
Ocorre uma substituição, pois o sentimento de culpa não se relaciona ao evento real.
O ego consciente considera a obsessão como algo que lhe é estranho. 
Três espécies de sintomas na N.O.
1) O sintoma primário da defesa – escrupulosidade;
2) Os sintomas de compromisso da doença – ideias obsessivas ou afetos obsessivos;
3) Os sintomas secundários da defesa – ensimesmamento obsessivo, acumulação obsessiva de objetos, compulsão para a bebida, rituais obsessivos.
* Os neuróticos obsessivos são pessoas sujeitas ao perigo de que toda a tensão sexual cotidianamente gerada neles acabe por se transformar em autocensura, ou melhor, nos sintomas provenientes dela. 
Histeria
Experiência primária de desprazer em idade maior do que se dá na Neurose Obsessiva;
A produção de tensão nesta experiência primária é tão grande que o ego não resiste a ela e não forma nenhum sintoma psíquico, mas é obrigado a permitir uma manifestação de descarga - geralmente uma expressão exagerada de excitação;
O recalcamento e a formação de sintomas defensivos só ocorrem posteriormente, em conexão com a lembrança, 
A representação constrangedora destacada do afeto correspondente sofre uma conversão
Força do componente erótico;
Os investimentos objetais mostram-se facilmente móveis, variados e múltiplos, embora não permaneçam forçosamente em um plano puramente superficial;
Defesas: primado do mecanismo de recalque sobre os demais procedimentos;
Apresenta-se como histeria de angústia e histeria de conversão
Psicose
Corresponde a uma falência da organização narcísica primária dos primeiros instantes da vida;
É uma impossibilidade, para a criança, ser considerada como objeto distinto da “Mãe-sujeito” (parte indispensável ao ego da criança);
A relação nao é dual, ou mesmo triangular;
Superego não atingiu um papel organizador e o ego encontra-se de saída fragmentado;
Conflito entre ego e mundo externo;
Angústia centrada na fragmentação, morte por estilhaçamento. (BERGERET, 1988, p. 70)
Principais mecanismos de defesa:
Projeção;
Negação da realidade;
Foraclusão (recusa).
Na linguagem: “as palavras são consideradas a um certo nível como estranhas, estrangeiras e vazias” (BERGERET, 1988, p. 73).
Neurose: “Tocas violino com um prazer tão grande como se te masturbasses”. (Interpretação simbólica)
Psicose: “Já terminaste de te masturbar?” (forma brutal e direta). (IDEM).
Esquizofrenia
Foi chamada por Freud de Neurose Narcisista, corresponde a uma organização psicótica do ego fixado a uma economia pré-genital de dominância oral.
Relação “simbiótica” com a figura materna;
Operação destinada a manter com vida um ego bloqueado bem no início de sua emancipação (não-eu);
Aspectos linguísticos: relação de concretude com as palavras, o sujeito age com as palavras como o faria com objetos.
Paranóia
Organização psicótica do ego fixada a uma economia pré-genital de preponderância anal;
Constitui uma posição de retraimento diante de um fracasso na integração dos aportes do segundo sub-estágio anal;
Diagnóstico diferencial: Neurose Obsessiva;
Sentimento de perseguição (3 etapas):
- Negação do afeto: “é a ele que eu amo” → “Não, eu não o amo, eu o odeio”
- Projeção: “eu o odeio” → “ele é que me odeia”
- Percepção externa: “uma vez que ele me odeia, eu o odeio”
* Caso Schereber (obra analisada por Freud)
Melancolia
“A melancolia, cuja definição varia inclusive na psiquiatria descritiva, assume várias formas clínicas, cujo agrupamento numa única unidade não parece ter sido estabelecido com certeza, sendo que algumas dessas formas sugerem afecções antes somáticas do que psicogênicas. Nosso material, independentemente de tais impressões acessíveis a todo observador, limita-se a um pequeno número de casos de natureza psicogênica indiscutível.” (FREUD, 1915).
Desânimo profundamente penoso; Inibição de toda e qualquer atividade;
Cessação de interesse pelo mundo externo;
Perda da capacidade de amar (investimento libidinal);
diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar expressão em auto-recriminação e auto-envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição;
Empobrecimento do ego em grande escala;
Mecanismos de defesa: negação secundária de parte da realidade; Introjeção;
Está de alguma forma relacionada a uma perda objetal retirada da consciência, em contraposição ao luto, no qual nada existe de inconsciente a respeito da perda.
Perversão
Para falar desta estrutura, Freud trabalha na relação com as outras:
Os psiconeuróticos são todos seres de tendências perversas fortemente desenvolvidas, mas recalcadas e tornadas inacessíveis no decorrer de sua evolução;
Seus fantasmas inconscientes apresentam, em consequência, o mesmo conteúdo das ações autênticas dos perversos;
Além de manifestações patológicas (necrofilia, etc.), só se pode distinguir a perversão da normalidade porque a perversão se caracteriza por uma fixação prevalente do desvio quanto ao objeto, e pela exclusividade da prática quanto ao desvio com relação ao objetivo.
O fantasma perverso é inconsciente na neurose e consciente na perversão;
A tendência perversa de toda pulsão não basta para qualificá-la como perversão;
O que caracteriza a estrutura da perversão é a posição do sujeito no fantasma e não o objeto escolhido;
A perversão é uma posição subjetiva (e não uma manifestação instintual) sustentado por um fantasma consciente, se constitui no Édipo e tem uma relação remota com a castração.
Estrutura e castração
Neurose: Recalque 
Psicose: Foraclusão/Recusa
Perversão: Renegação, ou seja, uma dupla posição a um só tempo – reconhecimento de que a mãe não tem o falo e negação desse reconhecimento (a mãe o tem pelo fetiche como falo deslocado. A perversão é renegar a diferença sexual: todas
as mulheres têm o falo. (JULIEN, 2003, p. 107)
O diagnóstico estrutural não é feito em psicanálise com finalidade de classificação, mas trata-se de uma questão ética, pois a estrutura guia nossa ação enquanto analistas.
Referências
BERGERET, Jean. A personalidade normal e patológica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.
FREUD, Sigmund. As neuropsicoses de defesa. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. 3. Rio de Janeiro: Imago, 1894/2006.  
______. Rascunho K. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. 1. Rio de Janeiro: Imago, 1896/2006. 
______. Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. 12. Rio de Janeiro: Imago, 1911/2006.  
______. Luto e Melancolia. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. 14. Rio de Janeiro: Imago, 1915/2006.
JULIEN, Philippe. Psicose, perversão, neurose. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2003.

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