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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI CIDADANIA, ÉTICA E MEIO AMBIENTE ESPÍRITO SANTO FATORES QUE INFLUENCIAM AS MUDANÇAS CULTURAIS Por outro lado, a continuidade cultural tem seus custos. No campo da tecnologia, por exemplo, a inovação leva, em geral, a uma maior eficiência no uso da energia e do tempo humano, a uma melhoria no padrão de vida e amplia as possibilidades em diversas áreas. Da mesma forma podem ser grandes os benefícios com as mudanças no campo das organizações sociais. Nenhuma sociedade é perfeita ou adquiriu uma forma acabada e definitiva para a vida em comum. Especialmente no mundo moderno e contemporâneo, após a Revolução Industrial e o desenvolvimento da ciência moderna, a mudança sociocultural tornou-se permanente e intensa. Nos dias de hoje, as sociedades que incluem um mais amplo componente de mudança, tendem a favorecer uma melhor qualidade de vida para uma parcela cada vez maior da sua população. São vários os fatores que contribuem para a mudança e inovação em uma sociedade: fatores internos à própria sociedade ou fatores externos do ambiente que a cerca. Em nossos dias, tornou-se muito clara a extrema importância da relação entre a sociedade e o seu ambiente. O meio ambiente não é somente uma fonte crucial para o sustento da sociedade com suas características climáticas e geográficas em geral, suas riquezas naturais, suas fontes de energia, sua flora e fauna, tudo isso funcionando como um conjunto de condições em relação ao qual a sociedade deve se adaptar. Nesse processo, a sociedade pode interagir com o seu ambiente em diferentes formas e direções: seja contribuindo para melhorar ou para piorar e prejudicar suas condições de vida. As mudanças no ambiente acabam por forçar mudanças na sociedade. As sociedades, ao longo da história, tiveram necessidade de ajustar-se às mudanças no ambiente. Esse é um processo de adaptação inquestionável. O ambiente a que uma sociedade deve adaptar-se inclui, também, outras sociedades com as quais ela mantém contato. Uma mudança maior em uma costuma desencadear um processo em cadeia gerando consequências para as outras e obrigando a ajustamentos e inovações. Mas há outras fontes de mudanças. A dinâmica das forças no interior das sociedades, que fazem parte da própria condição do ser humano, impede que a sociedade permaneça estável permanentemente. Em primeiro lugar, na transmissão da herança cultural de uma geração para outra ocorrem alterações de vários tipos. Como vimos anteriormente, os indivíduos não são passivos na formação dos hábitos, na aprendizagem dos costumes e na recepção das informações ao longo de seu crescimento e desenvolvimento. Os seres humanos aparentemente, por sua própria natureza, são motivados a tentar novos padrões de ação. Muitas vezes, a motivação é a simples curiosidade que pode ser intensificada pelo mundo cultural. Ou, então, a motivação pode ser o simples auto interesse material. Os homens buscam maximizar suas recompensas, isto é, ganhar mais e melhor como resultado de suas ações. Dessa forma, a experimentação e as inovações são inevitáveis. O acaso ou as “chances” desempenham uma parte importante no processo da inovação e das descobertas, mas o conhecimento, a inteligência e a ação com propósito, que movem a disposição maior para a pesquisa, são essenciais. As novas descobertas e as inovações resultam da combinação de “chance”, conhecimento e persistência em uma ação com propósito. A quantidade de informação acumulada por um grupo social é, talvez, o fator mais importante para a capacidade de inovação e mudança positiva para a vida de seus membros. As invenções que constituem um dos processos básicos de inovação são essencialmente recombinações de elementos existentes da cultura. Outro fator dos mais importantes no mundo atual é o contato com outras sociedades. Quanto maior for o relacionamento com outros povos e culturas maiores são as oportunidades para incorporar suas descobertas e inovações. É sempre possível incorporar a herança cultural de outras sociedades. É importante assinalar que esses fatores mencionados, que estimulam e promovem as mudanças e a inovação nas sociedades, são mutuamente interdependentes. Há outro aspecto na relação entre diferentes sociedades e culturas que devemos considerar. É um engano pensar que a paz entre nações seja um estado normal e que a hostilidade, o conflito e a guerra são condições anormais. Gostaríamos que fosse verdade, mas os registros históricos e a realidade de nosso tempo indicam que é diferente. São várias as razões para explicar porque as guerras e outros confrontos são tão comuns. A causa básica parece ser a mesma que motiva a competição no mundo biológico de maneira geral, isto é, a escassez de recursos. Tanto Malthus quanto Darwin reconheceram que uma oferta finita de recursos, independente de seu tamanho, nunca seria suficiente para uma população com uma infinita capacidade para o crescimento. A não ser que uma população, animal ou humana, controle seu crescimento, em algum momento ela esgotaria seus recursos. Isso ajuda a explicar as ações de invasão de territórios e apropriação de recursos de outros grupos sociais, ou povos ou nações. Na medida em que esses recursos são essenciais, a sociedade atingida reage. O conflito, assim, torna-se inevitável. No caso dos humanos o problema tornou-se especialmente complicado pela existência da cultura. O problema da escassez torna-se mais agudo nas sociedades humanas porque a cultura multiplica enormemente nossos desejos e necessidades. Os desejos dos animais são limitados enquanto os dos seres humanos quanto mais os realizam mais, de um modo geral, desejam. O cientista social americano Thorstein Veblen viu isso com clareza. Em um livro publicado no final do século IXX ele desenvolveu a tese de que uma vez que uma sociedade é capaz de produzir mais do que o necessário para viver, seus membros lutam para adquirir bens e serviços não essenciais por causa de seu valor de prestigio. Um pouco antes, na metade do mesmo século, Karl Marx havia diagnosticado esse mesmo problema ao descrever as sempre novas necessidades criadas artificialmente pelo processo de desenvolvimento da sociedade moderna. Considerando que o prestígio é sempre, para as diferentes pessoas das diversas classes sociais, uma questão relativa (é uma medida da posição social de alguém em relação aos demais), é impossível satisfazer a demanda por bens e serviços gerada pela permanente busca de sempre mais prestígio. A escassez seria, portanto, inevitável não importando o quanto de tecnologia se desenvolva e em quanto se aumente a produção. Guerras podem destruir culturas e civilizações. E, com isso, acabam gerando grandes transformações sociais e culturais. Formas não militares de poder também acarretam destruição de culturas através de um processo de incorporação de sociedades culturalmente mais vulneráveis porque tecnologicamente menos desenvolvidas. É o caso de muitas sociedades, tribos e etnias antigas, que acabam abandonando sua cultura tradicional, minando sua autonomia como grupo social. Isso acontece especialmente com a cultura de sociedades menores e economicamente menos desenvolvidas quando entram em contato com sociedades maiores e economicamente mais fortes. Considerem como exemplo o que ocorreu, e continua ocorrendo, com as culturas indígenas e asde etnias africanas, tanto no Brasil como em outros países. SOCIALIZAÇÃO: UMA APRENDIZAGEM PERMANENTE O processo através do qual aprendemos a cultura da sociedade em que vivemos é o que chamamos de socialização. De um modo geral, os seres humanos são dotados de uma grande capacidade para aprender a agir de maneira socialmente responsável. A socialização é um processo sócio psicológico bastante complexo que se inicia no momento do nascimento. O objetivo principal de tal processo é adaptar o indivíduo aos costumes, comportamentos e modos da cultura do seu ambiente social para que possa aprender a sobreviver por si mesmo e ser capaz de, gradativamente, controlar seu comportamento de acordo com as exigências da vida em sociedade. Ao aprender o significado que a Sociologia atribui ao processo de socialização e as maneiras como este processo se desenvolve, podemos ampliar nossa visão e conhecimento sobre os mecanismos que operam nas sociedades e que dizem respeito à vida cultural. Isso possibilita uma melhor compreensão do modo e estilos de vida da sociedade em que nascemos e no qual nossas identidades, pessoal e de grupo, se desenvolvem. Através do processo de socialização nos tornamos, gradualmente, pessoas autoconscientes e capazes de lidar de forma competente com o mundo a nossa volta. O estudo dos processos de socialização pode contribuir para uma melhor compreensão de fatores que influenciam na construção das identidades pessoais (auto identidade) e das identidades dos grupos sociais a que pertencemos como a família, o gênero, o grupo religioso, o grupo de convivência social, o profissional e outros. O processo de socialização é o principal mecanismo que uma sociedade possui para a transmissão da cultura através do tempo e das gerações. A socialização, além de estar diretamente relacionada com as identidades sociais, deve ser vista como um processo que dura à vida toda na medida em que as nossas ideias e o nosso comportamento são continuamente influenciados pelos relacionamentos sociais e pelo ambiente em que vivemos. É através da socialização que aprendemos e incorporamos os hábitos, os costumes, valores e normas da vida cultural de nossa sociedade. Desde o nascimento, através da infância e da adolescência e mesmo na vida adulta, estamos continuamente a aprender comportamentos e formas de interagir em diversos e novos ambientes a que somos expostos em nossa trajetória de vida. Nossa identidade se modifica ao atingirmos diferentes estágios de desenvolvimento e ao assumirmos papéis sociais diversos que se alternam e multiplicam ao longo da vida. O PAPEL SOCIALIZADOR DA FAMÍLIA É importante reconhecer como desde o nascimento somos socializados na cultura de nossa família e como a infância é um período de intensa aprendizagem cultural. Aprendemos a falar com aqueles que cuidam de nós na primeira infância. Nesse primeiro período da vida é quando as crianças aprendem a língua e os padrões básicos de comportamento que formam a base para toda a socialização posterior. É de destaque a importância da família nessa fase primária da socialização. Os relatos dos estudos de casos de crianças que vivenciaram o isolamento social evidenciam o quanto essas crianças foram incapazes de adquirir as habilidades humanas básicas e tenderam a se parecer mais com os animais. É o caso de um menino encontrado em um bosque no sul da França, em 1800. “Ele estava sujo, nu, era incapaz de falar e não aprendera a usar o sanitário. (...) Nenhum pai ou mãe jamais o procurou. Tornou-se conhecido como o menino selvagem de Aveyron. Um exame médico completo não encontrou quaisquer anormalidades físicas ou mentais importantes. Por que, então, o menino parecia mais animal que humano?” (caso citado no livro, de vários autores, Sociologia – sua Bússola para um Novo Mundo, p. 106). São vários os casos semelhantes relatados na literatura de ciências sociais. O filme alemão O enigma de Kaspar Hause apresenta outro caso de isolamento social na infância e que acarretou sérios danos para o desenvolvimento pessoal de um ser humano, aparentemente, com capacidades normais. Devemos, aqui, mencionar Freud como um dos principais estudiosos da formação da identidade pessoal (o self) que, há mais de cem anos, reconheceu na família o agente mais importante da socialização primária. Em nossos dias, questões importantes têm sido levantadas em relação à transformação das famílias nas últimas décadas e ao crescimento das taxas de divórcio. Tais transformações podem estar afetando o cuidado com as crianças e, portanto, a forma de sua socialização, sem ainda termos clareza sobre as suas consequências. PARCERIA ENTRE FAMILIA E ESCOLA A parceria família e escola deu certo e sempre dará, desde que haja realmente a parceria. A família é a base principal na formação e desenvolvimento da criança e do adolescente. A partir do nascimento, começam a receber a educação básica para viver em sociedade e exercer a sua cidadania, como: pedir licença, pedir desculpas, agradecer, obedecer, pedir por favor, dividir, compartilhar, respeitar-se, respeitar os pais, os colegas os mais velhos, aprende a se comportar adequadamente nos lugares, a esperar a sua vez. A escola por sua vez, dará continuidade a esse processo educativo vindo da família (a chamada educação de berço) e introduzirá a formação acadêmica indispensável para a formação intelectual e profissional, além de caminhar lado a lado com a família, favorecendo e fortalecendo a formação de valores. O que vem acontecendo ultimamente é que as famílias muitas vezes, estão perdendo a noção da sua importância e estão deixando toda a responsabilidade de educar para a escola, sendo que a verdadeira educação se da no seio da família, principalmente através dos exemplos vivenciados pelos pais e familiares próximos, exemplos estes responsáveis pela conduta das crianças, como por exemplo: De nada adiantaria falar para o filho não fumar, não falar palavrões, não falar da vida dos outros se eles próprios o fazem. Ao efetuar um pagamento e receber o troco errado para mais a seu favor e não devolver, burlar as leis de trânsito avançando sinais, enfim, serão esses exemplos que ficarão como verdades na cabecinha de nossos filhos, serão os que eles reproduzirão. A educação familiar é à base de todo cidadão, a escola sozinha não faz milagres, até porque ele permanece na escola apenas por quatro horas e as outras vinte horas do dia, são com a família. O que vemos hoje, por conta da correria atual, é que os pais estão delegando a outros essa tarefa tão importante que é EDUCAR, sendo esta tarefa de responsabilidade exclusiva dos pais e não de babás, tias, avós, sendo estas pessoas muito importantes, como apoio desse processo educativo quando seguem a mesma linha de educação. Os pais precisam entender que o filho será amanhã o que eles „pais‟, fizerem hoje por seus filhos. Muitas vezes a escola é responsabilizada mas, não depende apenas dela a tarefa de educar. Para haver realmente parceria entre a família e a escola, é preciso que cada um saiba exatamente quais as suas atribuições, ou seja o que é responsabilidade da escola e o que é responsabilidade da família. Nesta parceria é importantíssimo que a família “vista a camisa” da escola escolhida para colocar seu filho e a partir daí caminhar juntos sem teratitudes adversárias, como por exemplo: Quando o filho comenta em casa que o professor chamou sua atenção por causa de comportamento inadequado, a mãe precipitadamente diz que o professor que é enjoado, chato, não tem o que fazer.... com essa atitude estará motivando o filho a desrespeitar o professor, sendo que o ideal é se interar melhor sobre o acontecimento e fazer a intervenção correta, da mesma forma quando o filho não realiza uma atividade de casa por que esqueceu, ou preferiu ficar na Internet, orkut, ou saiu com o colega, e ao ser cobrado pelo professor, a mãe ou o pai escreve um bilhete a pedido do filho, dando uma desculpa convincente como: ele (a) não estava passando bem, ou precisou sair com ele de ultima hora, enfim, abonando erradamente a falta, ou melhor, a irresponsabilidade do filho perdendo assim, a oportunidade de ensinar a responsabilidade, o compromisso, à verdade, valores fundamentais para a formação do seu caráter. Nessa parceria, ambos tem o mesmo objetivo que é EDUCAR a criança e o adolescente num todo. Muitas vezes na escola, ouvimos os pais preocupados e reclamando: “Eu não sei mais realizar essas tarefas, não me lembro de mais desses conteúdos que estudei há tantos anos, como vou fazer para ensinar meu filho em casa? Como é que eu vou acompanhá-lo nos estudos?”. A escola não quer que a família ensine conteúdos, pois isso é pertinente à escola fazê-lo, o que ela precisa é que os pais acompanhem seus filhos no sentido de organizá-los quanto aos horários de estudo, descanso e lazer, sendo o hábito de estudo diário, fundamental para que ele possa realizar suas tarefas com responsabilidade e autonomia. Cabe à família, apenas cobrá-lo as responsabilidades e orientá-lo, no caso de dúvidas tirá-las com o professor na escola e também orientá-lo quanto à importância da escola e dos estudos para sua vida no futuro. Outro aspecto muito importante é a vigilância dos materiais levados para a escola e trazidos para casa. Atualmente é grande o número de “sumiços” na escola, porque não há controle dos pais no sentido de verificar e investigar o que seus filhos carregam em suas mochilas, levando a escola a utilizar o recurso de câmeras para fiscalizar os alunos, sendo esta uma instituição de ensino. É muito importante também, que a família valorize os trabalhos e os compromissos de seus filhos, sendo estes pertinentes a sua faixa etária e o seu nível de escolaridade, pois são nesses momentos que eles estarão desenvolvendo seus conceitos de responsabilidade, assiduidade, respeito, pontualidade. Se for banalizado seu compromisso, o que ficará registrado para ele é que não precisa ter importância e atenção com os mesmos. Como é que esse aluno se transformará num cidadão consciente e responsável com suas atribuições pessoais e profissionais? É preciso que a família ajude seu filho a se programar, tendo como prioridade sua responsabilidade com seus estudos, pois essa é a sua ocupação atual enquanto criança e adolescente que é ser “estudante”, e precisa ser valorizada e motivada para que seja uma atividade prazerosa e com motivos de orgulho para seus pais e familiares. O PAPEL SOCIALIZADOR DA ESCOLA Outro agente fundamental na socialização é o sistema escolar. O papel socializador da educação escolar está relacionado com a formação intelectual e cultural das novas gerações no sentido de prepará-las para a vida social, seu desenvolvimento pessoal mais amplo e para o mundo do trabalho. A educação escolar tem sido analisada criticamente por alguns estudiosos que identificam no sistema escolar uma organização devotada principalmente a reproduzir o sistema de valores e padrões de vida estabelecidos. Entretanto, podemos observar como são frequentes as situações de tensão e conflito no ambiente escolar, do nível fundamental até o nível superior, quando questionamentos e atividades críticas são desenvolvidas, tanto por estudantes como por professores, visando à superação das limitações identificadas no processo de socialização. A aprendizagem de hábitos, costumes e valores culturais é um processo de natureza complexa, como já foi mencionado anteriormente, na medida em que as influências culturais que recebemos e a que estamos submetidos em nosso ambiente são confrontadas com reações e orientações de caráter propriamente individual ou grupal e que podem ser mais ou menos conscientes. Não podemos desconsiderar que é através do processo de socialização que as sociedades se tornam um sistema viável, isto é, capaz de existir de forma previsível e de durar no tempo, e que as características de vida que são distintamente humanas só aparecem como resultado de nossa vida em comum, em associação com outros seres humanos. Podemos então dizer, como afirma o sociólogo Gerhard Lenski, que “o potencial genético que cada indivíduo possui só é realizado quando compartilhamos com os outros indivíduos na vida da sociedade”. Ao sistema escolar é atribuída, pela sociedade, a tarefa de ensinar as novas gerações a aprender com os meios disponíveis o que as culturas acumularam de fundamental através dos tempos – nas artes, nas ciências, desenvolvendo habilidades e proporcionando atividades que contribuam para a formação nos modos do bem viver com os outros. Esses são conteúdos, valores e costumes culturais que expressam as formas civilizadas da vida. Ao comentar agressões violentas e assassinatos descabidos ocorridos em principais cidades de nosso país, o sociólogo José de Souza Martins, em artigo publicado em jornal, escreveu que tais fatos “confirmam a deterioração dos valores sociais que, de algum modo, têm assegurado a ordem nesta nossa sociedade minada. Ordem superficial constantemente ameaçada, não só em relação à vida, mas também em relação a tudo que possa ser violado quando não há princípios sólidos regulando a conduta de cada um.” Esses assassinatos praticados por pessoas aparentemente “normais”, “dão bem as indicações de quanto todos nós estamos ameaçados”. E indica que talvez não se trate de casos que possam ser resolvidos com mais segurança, dizendo -“o que se precisa é de mais educação”. (publicado no jornal O Estado de São Paulo; 15/08/2010) Pesquisas em Psicologia e na Neurociência têm mostrado que a criança recém nascida carrega necessidades imperiosas e a determinação de satisfazê-las sem muita preocupação com as outras pessoas. Mas mostram, também, a existência da dependência de base genética de um sistema sociocultural, isto é, os seres humanos possuem um potencial genético para a construção de ambientes culturais o que os faz, ao mesmo tempo, seres individuais auto interessados e seres sociais preocupados e identificados com os outros. Essa talvez seja a principal razão porque a vida das sociedades humanas seja feita de cooperação, solidariedade e harmonia, por um lado, e de conflitos, violência e guerras, por outro. O QUE É MEIO AMBIENTE? Para esta pergunta poderemos obter as mais diferentes e variadas respostas, que indicam as representações sociais, o conhecimento científico, as experiências vividas histórica e individualmente com o meio natural. Para a realização da educação ambiental popular, é importante termos um conceito que oriente as diferentes práticas. Assim, definimos meio ambiente como o lugar determinado ou percebido onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformaçãodo meio natural e construído. Nesta definição de meio ambiente fica implícito que: 1 - Ele é "determinado": - quando se trata de delimitar as fronteiras e os momentos específicos que permitem um conhecimento mais aprofundado. Ele é "percebido" quando cada indivíduo o limita em função de suas representações sociais, conhecimento e experiências cotidianas. 2 - As relações dinâmicas e interativas indicam que o meio ambiente está em constante mutação, como resultado da dialética entre o homem e o meio natural. 3 - Isto implica um processo de criação que estabelece e indica os sinais de uma cultura que se manifesta na arquitetura, nas expressões artísticas e literárias, na tecnologia, etc. 4 - Em transformando o meio, o homem é transformado por ele. Todo processo de transformação implica uma história e reflete as necessidades, a distribuição, a exploração e o acesso aos recursos de uma sociedade. A definição de meio ambiente acima exige um aprofundamento teórico que conta com a contribuição de diferentes ciências que se aglutinam no que se convencionou chamar de Ciência Ambiental. Tem se tornado cada vez mais claro e consensual que a Ciência Ambiental só se realizará através da perspectiva interdisciplinar. A problemática ambiental não pode se reduzir só aos aspectos geográficos e biológicos, de um lado, ou só aos aspectos econômicos e sociais, de outro. Nenhum deles, isolado, possibilitará o aprofundamento do conhecimento sobre essa problemática. À Ciência Ambiental cabe o privilégio de realizar a síntese entre as ciências naturais e as ciências humanas, lançando novos paradigmas de estudo onde não se "naturalizarão" os fatores sociais e nem se "socializarão" os fatores naturais. Diferentes áreas de estudo de disciplinas diversas podem contribuir para o desenvolvimento da Ciência Ambiental dentro da ideia de interdisciplinaridade. No entanto, esta ideia enfrenta algumas dificuldades para se concretizar, tanto em nível teórico como em nível prático. Se, atualmente, temos cada vez mais trabalhos teóricos que se baseiam no conhecimento acumulado nas diferentes ciências (incluindo as exatas), podemos ainda notar a dificuldade para muitos autores se lançarem nas ciências que não dominam com a mesma profundidade atingida nas suas especialidades. Esses autores não ousam trilhar por ciências onde não terão o mesmo reconhecimento de seus pares e ainda serem alvos fáceis de críticas dos especialistas dessas outras ciências. Devemos também considerar o extremo corporativismo ainda presente nos meios acadêmicos e científicos, que impede a troca de experiências e informações entre cientistas de especialidades diferentes e supostamente antagônicas. A Ciência Ambiental exige dos atores envolvidos conhecimento aprofundado, espírito curioso e modéstia diante do desconhecido. Na sua fase atual, que é de busca da síntese e da perspectiva interdisciplinar, é fundamental a troca de conhecimentos de origens científicas diversas, possibilitando dar algumas respostas às complexas questões que fazem parte do seu quadro teórico. ALGUNS PARADIGMAS DA CIÊNCIA AMBIENTAL Desenvolvimento Sustentado Observamos que nos últimos anos o conceito de desenvolvimento sustentado tem substituído na literatura especializada os conceitos de desenvolvimento alternativo e eco desenvolvimento. Porém, esses conceitos são originados da Conferência de Estocolmo de 1972, sendo que o de desenvolvimento alternativo lhe é anterior. A partir dessa Conferência, o eco desenvolvimento foi o conceito mais fundido na literatura especializada, até, principalmente, a publicação do Report Brundtland em 1987. Pearce et alii (1989) observam que existem diferentes definições de desenvolvimento sustentado que ilustram as diferentes perspectivas apresentadas, sobretudo na segunda metade da década de 80, na literatura anglo-saxônica. À parte esta questão de conceitualização, o que nos parece importante enfatizar é que atualmente as propostas de desenvolvimento econômico que não levam em consideração os fatores ambientais estão condenadas ao esquecimento. As recentes mudanças no cenário político internacional têm mostrado que tanto sob o capitalismo como sob o socialismo a questão ambiental tem um peso político muito grande que interessa tanto a uns quanto a outros. Motivo pelo qual a ideia de desenvolvimento sustentado tem estado presente nos debates e acordos internacionais. Porém, ela não se apresenta de forma homogênea, como já foi assinalado por Pearce et alii (1989). Nas sociedades capitalistas periféricas, a ideia de desenvolvimento sustentado não pode se restringir à preservação de recursos naturais, visando o abastecimento de matérias primas às gerações futuras, como tem sido enfatizado nos países de capitalismo avançado. Elementos básicos das necessidades humanas e intimamente dependentes da problemática ambiental, como transportes, saúde, moradia, alimentação e educação, estão longe de terem sido resolvidos. Nos pontos comuns e divergentes entre sociedades capitalistas desenvolvidas e periféricas, podemos considerar que, para a realização do desenvolvimento sustentado em nível global, é de fundamental importância o estabelecimento de uma nova ordem econômica e ecológica, onde países dos hemisférios Norte e Sul possam dialogar em igualdade de condições. Porém, esse diálogo (se ocorrer) não será sem dificuldades, pois a falta de homogeneidade dos países do Terceiro Mundo e a passividade frente ao poderio econômico (e militar) dos países do Norte são duas dificuldades evidentes. Em face disso, qualquer que seja o conceito de desenvolvimento, dificilmente podemos garantir, pacificamente, às gerações futuras de qualquer parte do globo, o patrimônio natural e cultural comum da humanidade. Participação Social Os movimentos ecológicos surgidos nas sociedades capitalistas desenvolvidas nos anos 70 se caracterizam inicialmente por uma crítica ao modelo de sociedade industrial. A esse início "contra-cultural", foram se aglutinando tanto os movimentos preservacionistas de espécies animais e vegetais, como movimentos pacifistas e anti-nucleares. O surgimento e a evolução desses movimentos devem ser vistos dentro do contexto da participação civil em sociedades democráticas. A organização de grupos e a posterior constituição de "partidos verdes" só se tornaram possíveis graças à crescente mobilização da população frente a decisões do Estado. Nos países onde a democracia é incipiente, a organização da população se faz com resultados menos satisfatórios, mas não menos combativos. É importante assinalar que a visão de Estado e da participação da sociedade civil nas diferentes ideologias políticas, que se posicionam nos países da América Latina, influi na prática de organizações civis frente à questão ambiental. Se o que aparece com mais freqüência é a ideia de autonomia frente ao Estado, no entanto ela apresenta conotações ideológicas muito diferentes. Num primeiro momento, tivemos a influência das ideias autonomistas surgidas nos anos 60, onde se caracteriza a perspectiva crítica ao Estado centralizador e autoritário, às suas opções de desenvolvimento e de saque ao meio ambiente com as suas consequências sociais. No entanto, esta posição mais crítica foi perdendo terreno nos últimos anos a favor de tendências que, embora contrárias à interferência do Estado, se posicionam e atuam no terreno das ideias neo-liberalizantes. A participação da população nas questões ambientais, tem basicamente se destacado nos grandescentros urbanos, mas também fora deles, aglutinando diferentes camadas sociais em torno de questões específicas. Inúmeras entidades ecológicas e/ou ambientalistas surgiram no continente nos últimos anos, porém com penetração mais localizada, e muitas delas atreladas a interesses econômicos e políticos nem sempre muito claros. Podemos considerar que essa quantidade de novas organizações ocorre devido ao processo de democratização. A atuação de cada um desses movimentos e a sua continuidade ficará por conta daqueles que: apresentarem respostas aos graves problemas ambientais, puderem discuti-las democraticamente e tiverem meios econômicos e técnicos para viabilizá-las. Várias propostas de participação têm sido colocadas à sociedade, porém só a autonomia dos movimentos sociais frente ao Estado, aos partidos políticos, meios de comunicação de massa, monopólios econômicos e seitas religiosas poderá garantir o seu potencial crítico ao modelo de desenvolvimento, favorecendo a consolidação da democracia no continente. Isso não ocorrerá, no entanto, sem o desenvolvimento da consciência de cidadania, possível através da educação popular ambiental. EDUCAÇÃO AMBIENTAL POPULAR Depois da reunião do "Clube de Roma" em 1968 e da "Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano" em Estocolmo em 1972, a problemática ambiental passou a ser analisada na sua dimensão planetária. Nesta última conferência, uma das resoluções indicadas no seu relatório final apontava para a necessidade de se realizarem projetos de educação ambiental. Em 1977, a Unesco realizou em Tbilisi, URSS, a primeira Conferência Mundial de Educação Ambiental, após a realização de inúmeras outras a nível regional, nos diferentes continentes. Em 1987, em Moscou, foi realizada a segunda Conferência Mundial que reafirmou os objetivos da educação ambiental indicados em Tbilisi. Surgidos do consenso internacional, os objetivos da educação ambiental são: 1 - Consciência: Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem uma consciência e uma sensibilidade acerca do meio ambiente e dos problemas a ele associados. 2 - Conhecimento: Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a ganharem uma grande variedade de experiências. 3 - Atividades: Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem um conjunto de valores e sentimentos de preocupação com o ambiente e motivação para participarem ativamente na sua proteção e melhoramento. 4 - Competência: Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem competências para resolver problemas ambientais. 5 - Participação: Propiciar aos grupos sociais e aos indivíduos uma oportunidade de se envolverem ativamente, em todos os níveis, na resolução de problemas relacionados com o ambiente (Unesco, 1977, p.15). Esses elementos fundamentam experiências diversas em educação ambiental a nível escolar e extraescolar. Muito recentemente temos visto o surgimento do que tem sido chamado de educação ambiental popular, no que o ICAE é um dos centros pioneiros na sua divulgação e está implementando uma politica de realização. Onde então a educação popular e a educação ambiental se encontram e se unem? Nesta perspectiva de educação popular se incluem os objetivos da educação ambiental, só que a primeira tem uma tradição pedagógica e política voltada para o avanço das camadas populares. Avanço este que inclui melhores condições de vida, democracia e cidadania. A opção politica explícita da educação popular não se encontra facilmente nos projetos de educação ambiental que têm sido realizados no Brasil, em particular. Um estudo mais aprofundado sobre isso na América Latina, é necessário ser feito. São também poucas as opções e projetos de educação ambiental para as camadas populares, embora esta necessidade e reivindicação já tenham sido apontadas em trabalhos que se situam nos limites da educação realizada em escolas públicas de São Paulo (Reigota, 1987 e 1990). A educação ambiental popular, no entanto, deverá ser realizada prioritariamente com os movimentos sociais, associações e organizações ecológicas, de mulheres, de camponeses, operários, de jovens, etc., procurando fornecer um salto qualitativo nas suas reivindicações políticas, econômicas e ecológicas. A sua realização possibilitará recuperar o potencial critico dos movimentos ecológicos, que têm se caracterizado pelo conservadorismo, tecnocracismo, elitismo, entre outros "ismos", assim como propiciar a participação social nas questões ambientais das principais vítimas do modelo de desenvolvimento econômico, que ignora as suas consequências sociais e ecológicas. A educação ambiental popular terá certamente um papel importante nos próximos anos, já que muito resta a fazer nos planos teórico e prático para atingirmos uma melhor qualidade de vida, a democracia e a cidadania. O papel que a América Latina tem e terá nos próximos anos, no debate internacional sobre o meio ambiente, será de importância fundamental para estabelecimento de uma nova ordem econômica e ecológica internacional. Se queremos que os setores populares participem desse debate, é urgente desenvolvermos projetos educativos para impedir que, mais uma vez, a maior parte da população fique alheia à tomada de decisões que lhe concernem direta e cotidianamente. ENSINAR E APRENDER EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação. Gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes, participação em pequenas negociações são exemplos de aprendizagem que podem ocorrer na escola. Assim, a grande tarefa da escola é proporcionar um ambiente escolar saudável e coerente com aquilo que ela pretende que seus alunos apreendam, para que possa, de fato, contribuir para a formação da identidade como cidadãos conscientes de suas responsabilidades com o meio ambiente e capazes de atitudes de proteção e melhoria em relação a ele. Por outro lado, cabe à escola também garantir situações em que os alunos possam pôr em prática sua capacidade de atuação. O fornecimento das informações, a explicitação e discussão das regras e normas da escola, a promoção de atividades que possibilitem uma participação concreta dos alunos, desde a definição do objetivo, dos caminhos a seguir para atingi-los, da opção pelos materiais didáticos a serem usados, dentro das possibilidades da escola, são condições para a construção de um ambiente democrático e para o desenvolvimento da capacidade de intervenção na realidade. Entretanto, não se pode esquecer que a escola não é o único agente educativo e que os padrões de comportamento da família e as informações veiculadas pela mídia exercem especial influência sobre os adolescentes e jovens. No que se refere à área ambiental, há muitas informações, valores e procedimentos aprendidos pelo que se faz e se diz em casa. Esses conhecimentos poderão ser trazidos e debatidos nos trabalhos da escola, para que se estabeleçam as relações entre esses dois universos no reconhecimento dos valores expressos por comportamentos, técnicas, manifestaçõesartísticas e culturais. Além disso, o rádio, a TV e a imprensa constituem uma fonte de informações sobre o Meio Ambiente para a maioria das pessoas, sendo, portanto, inegável sua importância no desencadeamento dos debates que podem gerar transformações e soluções efetivas dos problemas locais. No entanto, muitas vezes, as questões ambientais são abordadas de forma superficial ou equivocada pelos diferentes meios de comunicação. Notícias de TV e de rádio, de jornais e revistas, programas especiais tratando de questões relacionadas ao meio ambiente têm sido cada vez mais frequentes. Paralelamente, existe o discurso veiculado pelos mesmos meios de comunicação quando propõem uma ideia de desenvolvimento que não raro entra em conflito com a ideia de respeito ao meio ambiente. São propostos e estimulados por meio do incentivo ao consumismo, desperdício, violência, egoísmo, desrespeito, preconceito, irresponsabilidade e tantas outras atitudes questionáveis dentro de uma perspectiva de melhoria de qualidade de vida. Por isso, é imprescindível os educadores relativizarem essas mensagens, ao mostrar que elas traduzem um posicionamento diante da realidade e que é possível haver outros. Desenvolver essa postura crítica é muito importante para os alunos, pois isso lhes permite reavaliar essas mesmas informações, percebendo os vários determinantes da leitura, os valores a elas associados e aqueles trazidos de casa. Isso os ajuda a agir com visão mais ampla e, portanto, mais segura ante a realidade que vivem. Para tanto, os professores precisam conhecer o assunto e buscar com os alunos mais informações, enquanto desenvolvem suas atividades: pesquisando em livros e levantando dados, conversando com os colegas das outras disciplinas, ou convidando pessoas da comunidade (professores especializados, técnicos de governo, lideranças, médicos, agrônomos, moradores tradicionais que conhecem a história do lugar etc.) para fornecer informações, dar pequenas entrevistas ou participar das aulas na escola. Ou melhor, deve-se recorrer às mais diversas fontes: dos livros, tradicionalmente utilizados, até a história oral dos habitantes da região. Essa heterogeneidade de fontes é importante até como medida de checagem da precisão das informações, mostrando ainda a diversidade de interpretações dos fatos. Temas da atualidade, em contínuo desenvolvimento, exigem uma permanente atualização; e fazê-lo junto com os alunos é uma excelente oportunidade para que eles vivenciem o desenvolvimento de procedimentos elementares de pesquisa e construam, na prática, formas de sistematização da informação, medidas, considerações quantitativas, apresentação e discussão de resultados etc. O papel dos professores como orientadores desse processo é de fundamental importância. Essa vivência permite aos alunos perceber que a construção e a produção dos conhecimentos são contínuas e que, para entender as questões ambientais, há necessidade de atualização constante. Como esse campo temático é relativamente novo no ambiente escolar, os professores podem priorizar sua própria formação/informação à medida que as necessidades se configurem. Pesquisar sozinho ou junto com os alunos, aprofundar seu conhecimento com relação à temática ambiental será necessário aos professores, por, pelo menos, três motivos: • para tê-lo disponível ao abordar assuntos gerais ou específicos de cada disciplina, vendo-os não só do modo analítico tradicional, parte por parte, mas nas inter-relações com outras áreas, compondo um todo mais amplo; muitas vezes é possível encontrar informações valiosas em documentos oficiais. • para ter maior facilidade em identificar e discutir os aspectos éticos (valores e atitudes envolvidos) e apreciar os estéticos (percepção e reconhecimento do que agrada à visão, à audição, ao paladar, ao tato; de harmonias, simetrias e outros) presentes nos objetos ou paisagens observadas, nas formas de expressão cultural etc. • para obter novas informações sobre a dimensão local do ambiente, já que há transformações constantes seja qual for a dimensão ou amplitude. Isso pode ser de extrema valia, se, associado a informações de outras localidades, puder compor informações mais globais sobre a região. O acesso a novas informações permite repensar a prática. É nesse fazer e refazer que é possível enxergar a riqueza de informações, conhecimentos e situações de aprendizagem geradas por iniciativa dos próprios professores. Afinal, eles também estão em processo de construção de saberes e de ações no ambiente, como qualquer cidadão. Sistematizar e problematizar suas vivências, e práticas, à luz de novas informações contribui para o reconhecimento da importância do trabalho de cada um, permitindo assim a construção de um projeto consciente de educação ambiental. Ou seja, as atividades de educação ambiental dos professores são aqui consideradas no âmbito do aprimoramento de sua cidadania, e não como algo inédito de que eles ainda não estejam participando. Afinal, a própria inserção do indivíduo na sociedade implica algum tipo de participação, de direitos e deveres com relação ao ambiente. Reconhece-se aqui a necessidade de capacitação permanente do quadro de professores, da melhoria das condições salariais e de trabalho, assim como a elaboração e divulgação de materiais de apoio. Sem essas medidas, a qualidade desejada fica apenas no campo das intenções. Da mesma forma, a estrutura da escola, a ação dos outros integrantes do espaço escolar devem contribuir na construção das condições necessárias à desejada formação mais atuante e participativa do cidadão. A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA Apesar de já existirem algumas regras sobre a utilização e extração de árvores, foi na década de 30 que surgiram as primeiras normas específicas de bens ambientais, tal como o Código Florestal (Decreto 23.793/34), Código de Águas (Decreto 24.643/34 – ainda hoje com dispositivos em vigor), a disciplina sobre a Caça (Decreto 24.645/34), o regulamento sobre patrimônio cultural (Decreto-lei 25/37). Na década de 60, foi editado o novo Código Florestal, que ainda hoje se encontra em vigor (Lei 4.771/65) e a Lei de Proteção à Fauna (Lei 5.197/1967). Na década seguinte, alguns Estados instituíram seus sistemas de combate à poluição, como é o caso do Rio de Janeiro que editou o Decreto-lei 134/75, instituindo o Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras. Não havia, contudo, a proteção do meio ambiente de modo integral e como um sistema, tal como ficaria evidente a necessidade e cuja conscientização aumentava a partir da Conferência de Estocolmo. No entanto, foi com a edição da Lei Federal 6.938/81 que o Direito Ambiental brasileiro alcança o patamar que hoje se encontra. Esta Lei, conhecida como a Lei da Polícia Nacional de Meio Ambiente, traz o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” e inaugura uma nova fase no direito ambiental: o do tratamento ao meio ambiente como um macro-bem. Além disso, a Lei tem como mérito o estabelecimento de um regime de responsabilidade civil por danos ambientais em que não se verifica a culpa do causador do dano – responsabilidade civil objetiva; uniformiza o licenciamento ambiental para todo o território nacional; estabelece os conceitos de poluidor e de degradação ambiental; constitui o SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente). Em seguida, contribuindo para a efetividade do direito ambiental,foi editada a Lei 7.345/85, que disciplina a ação civil pública por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Esta Lei trata de um dos instrumentos judiciais mais utilizados para a proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado, que pode ser utilizado pelo Ministério Público, União, Estados, Municípios e associações civis. Em contribuição ao avanço do direito ambiental, foi promulgado, em 1988, um dos textos constitucionais mais avançados do planeta: a Constituição da República Federativa do Brasil. As disposições constitucionais sobre o meio ambiente estão dispersas em todo o texto, disposto em diversos títulos e capítulos. O dispositivo de mais destaque, no entanto, é o artigo 225, que estabelece: Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. § 2º – Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º – As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º – A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5º – São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º – As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. Dentre as importantes leis sobre proteção do meio ambiente, mencione- se ainda: - Lei 4.717/1965: ação popular; - Lei 6.766/1979: parcelamento do solo urbano; - Lei 7.661/1988: Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro; - Lei 8.723/1993: emissão de poluentes por veículos automotores; - Lei 9.055/1995: utilização do asbesto/amianto; - Lei 9.433/1997: Política Nacional de Recursos Hídricos; - Lei 9.605/1998: crimes ambientais; - Lei 9.795/1999: Política Nacional de Educação Ambiental; - Lei 9.985/2000: institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação; - Lei 10.257/2001: Estatuto da Cidade; - Lei 10.650/2003: acesso público aos dados e informações do SISNAMA; - Lei 11.105/2005: biossegurança; - Lei 11.284/2006: institui o Sistema Florestal Brasileiro e cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal; - Lei 11.428/2006: utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica; - Lei 11.445/2007: saneamento básico. BIBLIOGRAFIA CARSON, R. Silent, Spring. 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