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Direito Educacional sob o prisma contratual e consumeirista

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Direito Educacional sob o prisma contratual e consumeirista
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II. RELAÇÃO DE CONSUMO EDUCACIONAL
Como já abordado anteriormente, a relação de consumo educacional é configurada a partir da formalização de contrato de prestação de serviços educacionais.
Costumeiramente, esse contrato é de adesão, ou seja, não possui uma fase pré-negocial, uma vez que ele já possui cláusulas e condições imutáveis e pré-estabelecidas, unilateralmente, pelo fornecedor de serviços de ensino, não havendo margem para que o estudante possa questionar ou modificar o seu teor. O art. 54 do Código de Defesa do Consumidor assim define contrato de adesão sendo: (...) aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
Dentro dessa sistemática, foi promulgada em 1999 a Lei 9.870[12] que, a pretexto de tratar das anuidades escolares, acabou por estabelecer limites e prerrogativas às partes envolvidas no contrato educativo.
Por conseguinte, a prestação de ensinar constitui-se numa obrigação de meio e não de resultado, isto é, não se compromete a escola com os resultados do contrato, os quais dependem, basicamente, do esforço e dedicação do aluno (NUNES, 2006).
Compromete-se a instituição de ensino com os meios pelos quais presta o serviço contratado, empenhando-se para desempenhar satisfatoriamente seus deveres contratuais e sociais.
Ainda segundo Nunes (2006, p. 6),
(...) haverá responsabilidade da escola se ela não utilizar os meios para a prestação dos serviços conforme tenha se obrigado; a obrigação, contudo, não passa dos meios, isto é, não pode a escola se comprometer em aprovar um aluno ao final do ano ou do semestre, pois se ele não quiser estudar, nada se pode fazer. Não há, portanto, falar-se em capacidade processual da escola de responder por perdas e danos ante a reprovação do aluno.
Entretanto, em face das novas tecnologias, não se faz mais necessária a assinatura e preenchimento manual do contrato, pois pode ser compilado e assinado virtualmente, no momento em que o aluno efetua sua matrícula.
Para tanto, deve existir no pacto três elementos indispensáveis: fundamental, estrutural e funcional.
No primeiro, deve existir a consolidação de duas ou mais vontades, objetivando um ponto em comum.
O segundo elemento, conforme Kümpel (2005, p. 4), é aquele:
(...) segundo o qual o contrato faz lei entre as partes contratantes, autorizando, portanto, que estas auto-regulamentem os seus próprios interesses nos limites da lei. As partes estão estabelecendo uma lei por meio do contrato, obviamente, de eficácia somente entre elas, não podendo vincular terceiros como uma lei propriamente dita, que tem eficácia erga omnes. Porém, o contrato opera tal qual uma lei, ou seja, tem a mesma estrutura, contendo um preceito primário e um preceito secundário. O preceito primário, que na lei é a disposição típica, no contrato traduz-se por meio das cláusulas contratuais, isto é, do conjunto de regras que fixa a vontade de ambas as partes. O preceito secundário, como ocorre na lei, é a incidência da sanção em caso de descumprimento das cláusulas contratuais.
O terceiro e último elemento, o funcional, fixa, impõe e estipula a finalidade do contrato, que pode ser a circulação de bens materiais ou imateriais. De acordo com o autor citado acima:
(...) o contrato exerce uma finalidade econômica e social, até por força do art. 170, III e IV, da CF. Por meio de seus diferentes tipos, visa cumprir não só uma função social, mas, também, econômica, representando o centro da vida dos negócios e compondo uma multiplicidade de interesses (KÜMPEL, 2005, p. 4).
Dentro do contrato firmado então entre a escola e o aluno, deverão constar cláusulas específicas que traduzam os direitos e obrigações das partes envolvidas. Dentre elas, podemos citar as que seguem.
II.I. QUALIFICAÇÃO
Nessa cláusula, que compõe o elemento fundamental das regras contratuais, far-se-á a qualificação das partes envolvidas, devendo conter elementos suficientes que possibilitem a individualização de cada uma das partes, devendo elas possuírem capacidade genérica e específica para consentirem com as cláusulas contratuais.
De um lado, os dados do aluno ou responsável legal, como nome, nacionalidade, estado civil, profissão, documentos que atestem a identidade e endereço. De outro, a instituição deverá fazer constar a sua razão social, cadastro nacional de pessoas jurídicas, com a finalidade específica de prestação de serviços de educação, o endereço e cidade de sua sede e o seu representante social.
Esse item se justifica pelo fato de proporcionar aos envolvidos maior segurança na relação comercial, de modo que atesta o responsável pelo pagamento de mensalidades e recebimento de serviços, formando assim, o vínculo contratual.
Especificamente, em relação à instituição, para Müller (2007, p. 75): “a identificação dos contratantes é condição básica de segurança para a instituição de ensino. O interesse aqui é pelos responsáveis financeiros, pois as informações sobre o aluno constarão de outros documentos: transferência, histórico, etc.”.
Como exemplo, podemos utilizar o seguinte modelo:
Pelo presente CONTRATO DE ADESÃO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS, publicado no site (...) e registrado perante o Cartório de Registro de Títulos e Documentos de ..., sob n. ..., de um lado a INSTITUIÇÃO DE ENSINO, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob n. ..., estabelecida nesta cidade..., na Avenida..., n. ..., bairro..., CEP.:..., fone..., por seu representante legal Dra. ..., doravante denominada simplesmente CONTRATADA, e, de outro lado, o ALUNO, denominado simplesmente CONTRATANTE, tem entre si, justo e contratado, as cláusulas abaixo especificadas e se obrigam, mutuamente, a cumpri-las.
II.II. OBJETO
Nessa cláusula, que compõe o elemento funcional da teoria dos contratos, deverá existir a descrição pormenorizada dos serviços educacionais a serem prestados, sua finalidade, alcance e período em que as atividades serão desempenhadas. Também, deverá o objeto ser lícito, possível, determinável e aferível economicamente.
Para se evitar que haja qualquer e eventual distorção com outros serviços, indica-se que seja explicitamente mencionado que o objetivo a que se propõe a instituição escolar é o ensino, mas orienta-se que seja expresso, ainda, qual nível: básico ou superior. Qualquer outra finalidade será acessória e terá custos adicionais.
Tal alerta é válido, pois pelo Código de Defesa do Consumidor, o fornecedor de serviços está vinculado à oferta[13]:
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a re-execução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.
Contudo, o estabelecimento de ensino estará autorizadoa desconsiderar o objeto inicial do contrato (oferta), quando oferecer produto educativo gerador do aprimoramento pessoal do aluno melhor do que aquele anteriormente ofertado.
Isso permite, por exemplo, que a escola altere, no período contratual, o currículo do curso contratado pelo aluno consumidor, num expresso reconhecimento, pelo Poder Judiciário[14], da hierarquia dos preceitos do direito educacional quando confrontado com o direito do consumidor.
Conforme Goldschimidt (2007, p. 26): “O princípio jurídico educacional que impulsiona os tribunais a julgarem nessa linha é o da qualidade e aprimoramento do ensino, segundo o qual toda e qualquer iniciativa que vise a efetiva melhoria na qualidade da prestação de serviço deve ser prestigiada”.
II.III. FUNDAMENTOS JURÍDICOS
Em muitos contratos é habitual que escolas insiram inúmeras citações de artigos de leis e da constituição federal, de modo que inflam, desnecessariamente, um pacto que poderia ser mais objetivo e esclarecedor.
Deve-se atentar ao fato de que a descrição destes dispositivos em nada contribui para a elucidação ou informação (art. 31/CDC) do consumidor, visto que o contratante não terá a sua disposição as leis citadas para confronto e consulta.
Além disso, o fato de as normas não constarem no instrumento particular – contrato – não significa que não serão aplicadas.
Mister lembrar do princípio da mihi factum, dabo tibi jus, que proclama que bastaria a exposição do fato para que o magistrado tenha condições de aplicar o direito, ainda que não alegado.
II.IV. PRAZO CONTRATUAL
O prazo contratual é o tempo de duração de um contrato, sendo ele um elemento importante, mas não fundamental, pois podem existir contratos sem prazo determinado – ao contrário do que ocorre com a administração pública (§ 3º do art. 57 da Lei 8.666/1993).
No direito privado, as partes podem eleger livremente o prazo dos contratos por elas entabulados, desde que esses se encaixem dentro de seus interesses e vontade.
No ensino, os contratos possuem uma regra peculiar, advinda da Lei 9.870/1999, em que os pactos sob a égide escolar devem ser semestrais ou anuais, sendo algo valioso, ainda mais em se tratando de instituição particular, que depende do pagamento pontual e mensal das mensalidades para a manutenção de seus preciosos serviços.
O prazo de duração de um contrato escolar pode ser da forma semestral, anual ou, conforme prevê o art. 23 da LDB, “(...) por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar”.
Quando se pactua semestralmente, a escola reúne maiores condições de exigir o pagamento em dia das mensalidades, de forma que o aluno terá possibilidade de rematricular-se e cursar o semestre seguinte mediante o pagamento integral do período anterior.
Do contrário, no contrato formalizado anualmente, a inadimplência pode perdurar pelo período de um ano, ou seja, só poderá haver o bloqueio de sua rematrícula no início do ano posterior.
Essas assertivas estão respaldas nos arts. 1º e seus parágrafos 1º, 5º e 6º, art. 5º e art. 6º, parágrafo 1º da citada Lei n. 9.870/1999, in verbis:
Art. 1o O valor das anuidades ou das semestralidades escolares do ensino pré-escolar, fundamental, médio e superior, será contratado, nos termos desta Lei, no ato da matrícula ou da sua renovação, entre o estabelecimento de ensino e o aluno, o pai do aluno ou o responsável.
§ 1o O valor anual ou semestral referido no caput deste artigo deverá ter como base a última parcela da anuidade ou da semestralidade legalmente fixada no ano anterior, multiplicada pelo número de parcelas do período letivo.
(...)
§ 5o O valor total, anual ou semestral, apurado na forma dos parágrafos precedentes terá vigência por um ano e será dividido em doze ou seis parcelas mensais iguais, facultada a apresentação de planos de pagamento alternativos, desde que não excedam ao valor total anual ou semestral apurado na forma dos parágrafos anteriores.
§ 6o Será nula, não produzindo qualquer efeito, cláusula contratual de revisão ou reajustamento do valor das parcelas da anuidade ou semestralidade escolar em prazo inferior a um ano a contar da data de sua fixação, salvo quando expressamente prevista em lei.
Art. 5o Os alunos já matriculados, salvo quando inadimplentes, terão direito à renovação das matrículas, observado o calendário escolar da instituição, o regimento da escola ou cláusula contratual.
Art. 6o São proibidas a suspensão de provas escolares, a retenção de documentos escolares ou a aplicação de quaisquer outras penalidades pedagógicas por motivo de inadimplemento, sujeitando-se o contratante, no que couber, às sanções legais e administrativas, compatíveis com o Código de Defesa do Consumidor, e com os arts. 177 e 1.092 do Código Civil Brasileiro, caso a inadimplência perdure por mais de noventa dias.
§ 1o  O desligamento do aluno por inadimplência somente poderá ocorrer ao final do ano letivo ou, no ensino superior, ao final do semestre letivo quando a instituição adotar o regime didático semestral.
II.V. VALOR DA MENSALIDADE (SEMESTRALIDADE OU ANUIDADE)
O valor da mensalidade escolar deve ser fixo e previamente conhecido pela parte contratante, de forma que o aluno saiba quarenta e cinco dias antes da data final para matrícula, os valores que terá que pagar no próximo período contratual.
Essa regra advém do art. 2º da Lei 9.870/1999 que assim dispõe:
O estabelecimento de ensino deverá divulgar, em local de fácil acesso ao público, o texto da proposta de contrato, o valor apurado na forma do art. 1o e o número de vagas por sala-classe, no período mínimo de quarenta e cinco dias antes da data final para matrícula, conforme calendário e cronograma da instituição de ensino.                       
A partir de tal preceito existe a confirmação da natureza comutativa do contrato de prestação de serviços educacionais, de forma que essa antevisão das prestações conduza o contratante a um clima de segurança jurídica e social.
Entretanto, a menção sobre os valores e preços dos cursos no semestre ou ano poderão estar presentes em instrumentos institucionais distintos, que não seja o contrato de prestação de serviços. Entre eles, podemos citar os Editais de Encargos Educacionais, de Abertura de Vestibular ou processo seletivo de curso.
A título de curiosidade, transcrevemos abaixo o § 3º do art. 32 da Portaria Normativa 40/2007 do MEC, que instituiu o e-MEC, sistema eletrônico de fluxo de trabalho e gerenciamento de informações relativas aos processos de regulação da educação superior no sistema federal de educação, que aborda os requisitos de um edital, mas falha por não contemplar o valor das anuidades como item imprescindível de informação editalícia:
O edital de abertura do vestibular ou processo seletivo do curso, a ser publicado no mínimo 15 (quinze) dias antes a realização da seleção, deverá conter pelo menos as seguintes informações:
I-denominação e habilitações de cada curso abrangido pelo processo seletivo;
II-ato autorizativo de cada curso, informando a data de publicação no Diário Oficial da União, observado o regime da autonomia, quando for o caso;
III-número de vagas autorizadas, por turno de funcionamento, de cada curso e habilitação, observado o regime da autonomia, quando for o caso;
IV-número de alunos por turma;
V-local de funcionamento de cada curso;
VI-normas de acesso;
VII-prazo de validade do processo seletivo.
Por derradeiro, o importante é que haja informação prévia das condições econômicas do contrato.                       
II.VI. FORMA DE PAGAMENTO                       
A forma de pagamento das mensalidades escolares costuma ser exigida por meio de boleto bancário enviado aos alunos ou responsáveis legais, como uma forma de se evitar as ultrapassadas e repudiáveis aglomerações e filas, quando se recebia as mensalidades por meio da tesouraria na sede do estabelecimento de ensino.
A cobrança via boleto bancário pode ser feita das seguintes formas:
Cobrança simples - funciona como um impressode depósito fornecido ao cliente, que só pode pagá-lo no próprio banco de emissão. O custo é baixo, mas a desvantagem de limitar a rede de pagamento a uma só instituição pode provocar atrasos involuntários. Seu uso é raro nos dias atuais.
Cobrança compensada - forma em que o boleto é emitido pelo banco com todos os dados fornecidos pela instituição de ensino credora (sacado, número, valor, vencimento etc) e pode ser pago em qualquer agência bancária até o vencimento, inclusive por meio de digital com código de barras. Se estiver em atraso, o banco de emissão recebe até um dia pré-agendado, com a cobranças dos acréscimos previstos em contrato e inseridos no documento.
Cobrança sem registro - modalidade variante da cobrança compensada, possuindo as mesmas características, mas a emissão é diferenciada. O banco fornece os carnês em branco, que deverão ser preenchidos pela instituição de ensino com o nome do sacado, endereço, valor, vencimento etc. Como os dados do devedor são desconhecidos pela instituição bancária, nos relatórios constará apenas o registro de cada boleto. Apesar do custo menor, a desvantagem é que o envio fica por conta do credor, mas também pode ser emitido por meio digital (MÜLLER, 2007, p. 103).
Essa última maneira de cobrança via boleto dificulta muito a baixa dos títulos, uma vez que nas instituições de ensino, a baixa e os sistemas de computação são feitos pelo nome dos alunos.
O boleto deve conter as seguintes características e informações:
Modelo de boleto disponível em: (http://www.devmedia.com.br/articles/viewcomp.asp?comp=4946). Acesso em: 28 dez. 2009.
Cada um dos campos numerados corresponde a:
1- Código do Banco         É composto do código do banco.
2-Representação numérica do código de barras    É utilizada para pagamento do boleto via internet e também quando o código de barras estiver danificado.
3-VencimentoCampo obrigatório e deve conter as data de vencimento ou a expressão “à vista” ou “na apresentação”.
4-Agência código cedente         Este campo varia conforme o banco, mas em geral é composto pelo número da carteira, agência, conta e dígito.
5-Nosso Número   Identificador do boleto pago.       
6- Valor do Documento   Deverá estar preenchido sempre na moeda corrente do país e é campo obrigatório. 7-Código de Barras            Contém as informações para captura dos dados do boleto, sendo item obrigatório.No total o código de barras é composto por 44 dígitos numéricos, que representam o valor, data de vencimento, podendo conter o número da agência, conta corrente, código do cliente etc.
8-CarteiraContém o código da carteira que está sendo utilizada.        
9-SacadoEste campo contém os dados da pessoa responsável pelo pagamento do boleto, constando seu nome completo e endereço.
10-Data do Documento   Data em que o boleto foi gerado ou emitido, no caso de segunda via por internet.
11-Cedente  Este campo contém o nome de quem emitiu o boleto, que em geral é o titular da conta, podendo ser pessoa física ou jurídica.
No que se refere à educação fundamental e média, em que os alunos não são maiores de idade e não possuem capacidade civil, nos boletos bancários e contratos deve constar o nome do verdadeiro responsável financeiro pelo adimplemento das parcelas, ou seja, os pais, avós etc., sob pena de se tornarem inexigíveis.
Do contrário, haverá discussões judiciais quanto à exigência desse crédito, ante um vício na representação ou na pessoa do devedor.
Já no que se refere à corriqueira taxa de boleto, existe a proibição de sua cobrança, tanto por inúmeras decisões judiciais, como por Nota Técnica n. 777/2005 emitida pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, da Secretaria de Direito Econômico, do Ministério da Justiça.
De outra banda, existe também, em vista da pulverização tecnológica, a possibilidade de ser aceito o pagamento através de cartões de crédito (presencial ou online) ou débito, depósito em conta etc.
II.VII. SANÇÕES ACADÊMICAS E CONTRATUAIS           
Sanção nada mais é do que uma medida repressiva adotada por um sujeito que se sinta lesado por outrem.
Na esfera escolar, as sanções devem possuir lastro na lei, mas possuirão seu contorno no contrato de prestação de serviços e também no Regimento Interno da instituição.
No entanto, não devemos nos esquecer que existem sanções extra-legais, sendo elas convencionadas pela sociedade quando determinado sujeito acaba por infringir determinada regra social.
Exsurge ressaltar que no recinto escolar existem as seguintes modalidades repressivas:
-Acadêmica ou Administrativa: que é aquela relacionada ao aspecto pedagógico e
-Contratual: que é aquela relacionada ao aspecto comercial da relação.
Na modalidade acadêmica ou administrativa, costuma-se adotar as seguintes medidas, concernente ao estudante:
-Retirada do aluno de sala de aula ou atividade em curso e encaminhamento à diretoria para orientação (escola de nível básico);
-Advertência verbal;
-Comunicação escrita dirigida aos pais ou responsáveis (escola de nível básico);
-Suspensão temporária de participação em visitas ou demais programas extracurriculares (escola de nível básico);
-Suspensão por até 5 dias letivos;
-Suspensão pelo período de 6 a 10 dias letivos, no caso de reincidência;
-Expulsão.
Os exemplos acima descritos são adotados quando o aluno descumpre uma exigência do estabelecimento de ensino, tendo o condão de restabelecer a ordem e propiciar a regeneração da postura do discente.
Entre os comportamentos considerados inadequados do aluno temos:
5.1. Ausentar-se das aulas ou dos prédios escolares, sem prévia justificativa ou autorização da direção ou dos professores da escola;
5.2. Ter acesso, circular ou permanecer em locais restritos do prédio escolar;
5.3. Utilizar, sem a devida autorização, computadores, aparelhos de fax, telefones ou outros equipamentos e dispositivos eletrônicos de propriedade da escola;
5.4. Utilizar, em salas de aula ou demais locais de aprendizado escolar, equipamentos eletrônicos como telefones celulares, pagers, jogos portáteis, tocadores de música ou outros dispositivos de comunicação e entretenimento que perturbem o ambiente escolar ou prejudiquem o aprendizado;
5.5. Ocupar-se, durante a aula, de qualquer atividade que lhe seja alheia;
5.6. Comportar-se de maneira a perturbar o processo educativo, como, por exemplo, fazendo barulho excessivo em classe, na biblioteca ou nos corredores da escola;
5.7. Desrespeitar, desacatar ou afrontar diretores, professores, funcionários ou colaboradores da escola;
5.8. Fumar cigarros, charutos ou cachimbos dentro da escola;
5.9. Comparecer à escola sob efeito de substâncias nocivas à saúde e à convivência social;
5.10. Expor ou distribuir materiais dentro do estabelecimento escolar que violem as normas ou políticas oficialmente definidas pela Secretaria Estadual da Educação ou pela escola;
5.11. Exibir ou distribuir textos, literatura ou materiais difamatórios, racistas ou preconceituosos, incluindo a exibição dos referidos materiais na internet;
5.12. Violar as políticas adotadas pela Secretaria Estadual da Educação no tocante ao uso da internet na escola, acessando-a, por exemplo, para violação de segurança ou privacidade, ou para acesso a conteúdo não permitido ou inadequado para a idade e formação dos alunos;
5.13. Danificar ou adulterar registros e documentos escolares, através de qualquer método, inclusive o uso de computadores ou outros meios eletrônicos;
5.14. Incorrer nas seguintes fraudes ou práticas ilícitas nas atividades escolares:
Comprar, vender, furtar, transportar ou distribuir conteúdos totais ou parciais de provas a serem realizadas ou suas respostas corretas;
Substituir ou ser substituído por outro aluno na realização de provas ou avaliações;
Substituir seu nome ou demais dados pessoais quando realizar provas ou avaliações escolares;
Plagiar, ou seja, apropriar-se do trabalho de outro e utilizá-lo como se fosse seu, sem dar o devido crédito e fazer menção ao autor, como no caso de cópia de trabalhosde outros alunos ou de conteúdos divulgados pela internet ou por qualquer outra fonte de conhecimento.
5.15. Danificar ou destruir equipamentos, materiais ou instalações escolares; escrever, rabiscar ou produzir marcas em qualquer parede, vidraça, porta ou quadra de esportes dos edifícios escolares;
5.16. Intimidar o ambiente escolar com bomba ou ameaça de bomba;
5.17. Ativar injustificadamente alarmes de incêndio ou qualquer outro dispositivo de segurança da escola;
5.18. Empregar gestos ou expressões verbais que impliquem insultos ou ameaças a terceiros, incluindo hostilidade ou intimidação mediante o uso de apelidos racistas ou preconceituosos;
5.19. Emitir comentários ou insinuações de conotação sexual agressiva ou desrespeitosa, ou apresentar qualquer conduta de natureza sexualmente ofensiva;
5.20. Estimular ou envolver-se em brigas, manifestar conduta agressiva ou promover brincadeiras que impliquem risco de ferimentos, mesmo que leves, em qualquer membro da comunidade escolar;
5.21. Produzir ou colaborar para o risco de lesões em integrantes da comunidade escolar, resultantes de condutas imprudentes ou da utilização inadequada de objetos cotidianos que podem causar danos físicos, como isqueiros, fivelas de cinto, guarda-chuvas, braceletes etc.;
5.22. Comportar-se, no transporte escolar, de modo a representar risco de danos ou lesões ao condutor, aos demais passageiros, ao veículo ou aos passantes, como correr pelos corredores, atirar objetos pelas janelas, balançar o veículo etc.;
5.23. Provocar ou forçar contato físico inapropriado ou não desejado dentro do ambiente escolar;
5.24. Ameaçar, intimidar ou agredir fisicamente qualquer membro da comunidade escolar;
5.25. Participar, estimular ou organizar incidente de violência grupal ou generalizada;
5.26. Apropriar-se de objetos que pertencem a outra pessoa, sem a devida autorização ou sob ameaça;
5.27. Incentivar ou participar de atos de vandalismo que provoquem dano intencional a equipamentos, materiais e instalações escolares ou a pertences da equipe escolar, estudantes ou terceiros;
5.28. Consumir, portar, distribuir ou vender substâncias controladas, bebidas alcoólicas ou outras drogas lícitas ou ilícitas no recinto escolar;
5.29. Portar, facilitar o ingresso ou utilizar qualquer tipo de arma, ainda que não seja de fogo, no recinto escolar;
5.30. Apresentar qualquer conduta proibida pela legislação brasileira, sobretudo que viole a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Código Penal. (MARTORELLI, 2009, p. 10-13).                                                                                  
Já as sanções comerciais possuem a chancela do já citado art. 6º da Lei 9.870/1999, que na segunda parte autoriza a incidência de penas privadas aos alunos, desde que sejam respeitadas as regras consumeiristas e civis.
Dentre as penalidades comerciais existem:
- Multas contratuais: que são as cláusulas penais;
- Juros: são a quantia paga em virtude do inadimplemento de uma obrigação pelo devedor[15];
- Atualização monetária: é um ajuste que tem por fim compensar a perda de valor de uma moeda, tendo por base o valor da inflação de um período.
Sobre a primeira, salientamos que cláusula penal ou multa contratual são sinônimas.
A cláusula penal no direito brasileiro possui natureza jurídica eclética (FRANÇA, 1988), ou seja, ao mesmo tempo serve de reforço, de pré-avaliação das perdas e danos e de pena.
Assim, pode ser classificada em moratória ou compensatória[16].
Será moratória quando decorrer da simples mora do devedor (WALD, 1995); para o caso de inexecução no prazo dado ou nas hipóteses de descumprimento de alguma cláusula especial ou simplesmente da mora (PEREIRA, 2000).
Já a cláusula compensatória tem por objetivo substituir a obrigação principal, conferindo ao credor a possibilidade de exigir a penalidade ao invés da obrigação principal.[17]
O limite da cláusula penal moratória, salvo previsão em lei especial é de 10% do valor da dívida, conforme prevê o art. 9º do Decreto 22.626/33.
No que tange à cláusula penal compensatória, não poderá ela exceder o valor da obrigação principal, nos termos do art. 412 do Código Civil.
Nessa linha, verificamos ser habitual a cumulação das duas espécies de cláusulas penais nos contratos de prestação de serviços educacionais. Moratória no caso do inadimplemento da parcela de mensalidade e compensatória quando o aluno rescinde (tranca matrícula) o contrato.
Tal situação é plenamente aceita[18], eis que possuem naturezas e origens diversas ou decorrem de fatos ou atos distintos.
Vale ponderar que, nos contratos sob a égide do Código de Defesa do Consumidor, o percentual da multa moratória admitido é de 2%, visto que o limite está previsto no § 1º do art. 52 do CDC.
Já para o percentual da pena compensatória, é aconselhável que seja de 30% sobre o total das mensalidades vincendas no semestre ou ano, para se evitar onerosidade em demasia, uma vez que a rescisão não seria do contrato todo e não teria o condão de substituir a obrigação do aluno em ter que arcar com o pagamento semestral ou anual sem ter usufruído dos serviços, ainda, por possivelmente ter que suportar uma eventual redução da pena, de ofício, por um juiz, levando-se em consideração o percentual de descumprimento da obrigação, a natureza e finalidade do contrato (art. 413/CC).
Confirmando essa posição, o pesquisador Cassetari (2009, p. 84) afirma que, atualmente, vivemos:
(...) Sob os auspícios da “crise da vontade” em decorrência da proliferação dos contratos de adesão não só no âmbito consumeirista, mas também no civil que exterminou a autonomia da vontade das relações contratuais, fazendo com que houvesse uma autonomia privada limitada aos princípios contratuais sociais, pilares do atual direito contratual brasileiro.
Entretanto, é possível que haja a cumulação de duas cláusulas penais moratórias, caso não houvesse o limite legal de 2% e a origem da penalidade moratória fosse diversa, ou seja, decorresse de alguma cláusula ou descumprimento especial, que não seja simplesmente a mora no pagamento da mensalidade. Por exemplo, multa moratória além da legal, tendo em conta uma provável mora do aluno em entregar os certificados ou habilitação escolar para ingressar em curso superior de graduação ou pós-graduação.
II.VIII. COBRANÇA DE TAXAS
Existem inúmeras taxas que são cobradas pelas instituições de ensino.
Oportuno se torna dizer que a unidade lexical taxa a que fazemos referência não é aquela advinda do inciso II do art. 145 da Constituição Federal ou aquela prevista no art. 77 do Código Tributário Nacional, que podem ser instituídas pela União, Estados, Município e Distrito Federal, uma vez que essas possuem a sua hipótese de incidência numa atuação estatal em prol do contribuinte, como sendo uma forma de retribuição por um serviço público prestado ou posto a sua disposição.
Já a nomenclatura que adotamos não se configura como um tributo. Ao contrário disso, ela é regida pelo direito privado, tendo a característica de tarifa ou contribuição pecuniária extra ao contrato firmado entre aluno e empresa escolar.
Assim, no que se refere à cobrança de taxas administrativas não há lei que a vede. Porém, devemos lembrar que não se podem estabelecer taxas que inviabilizem o pagamento de parcelas, ou seja, que exijam do consumidor vantagem manifestamente excessiva (inciso V do art. 39/CDC) ou que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou seja, incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade (inciso IV do art. 51/CDC).
II.VIII.I. TAXA DE JUROS
Juro, sob o prisma econômico, é a importância cobrada, por unidade de tempo, pelo empréstimo de dinheiro. É o rendimento do capital investido. É uma recompensa.
Juridicamente, é fruto civil, considerado coisa acessória, sendo o preço a ser pago pelo uso do capital. Ele, ao mesmo tempo remunera o credor por ficar privado de seu capital e paga-lhe o risco em que incorre de o não receber devolta (RODRIGUES, 2002).
Também os juros são a quantia paga em virtude do inadimplemento da obrigação pelo devedor, bastando a mora com seus elementos (retardamento e culpa).
Ressalta-se que os juros não se limitam ao dinheiro. Podem consistir na exigência de qualquer coisa fungível a título de juros (Ex: Exigir cinco sacos de café a título de juros).
No direito brasileiro, os juros estão previstos no Código Civil da seguinte forma:
Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.
Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes.                              
Numa análise simplista da disposição legal, constatamos que o diploma civil não estabelece uma taxa de juros fixa para o mundo civil.[19] O legislador preferiu não enfrentar e estabelecer uma taxa rígida de juros.
Ao contrário disso, ele apenas sinaliza que o cidadão deve obedecer e observar a taxa de juros utilizada naquele momento pela Fazenda Nacional para o pagamento dos impostos.
Essa espécie de “delegação” utilizada pelo legislador tem sua razão de ser. Afinal, os juros servem, num dado momento, como meio de se estabilizar ou controlar a economia de um país.[20]
Assim, a partir da escolha feita pela Fazenda Nacional para o pagamento de impostos é que teremos a taxa de juros que estamos obrigados a obedecer.
Enfrentadas as premissas iniciais, adentraremos ao estrondoso campo dos juros e suas taxas no direito brasileiro.  
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abordamos neste trabalho a educação, vista sob o prisma de um processo de desenvolvimento da capacidade física, moral e intelectual do ser humano e que lhe propicia a integração social e cultural, e seus pontos de contato com o Direito brasileiro.
As razões que nos impeliram a estudá-la foram os constantes questionamentos acerca das maneiras de se poder melhor amparar e auxiliar juridicamente os clientes e os estabelecimentos de ensino. Por conta disso, houve o que se atribuiu o nome de judicialização da educação, ou seja, a sistematização jurídica da educação, conforme apresentamos, em que inúmeros pesquisadores e estudiosos de ambas as áreas se tornaram partícipes da sistematização e da aplicabilidade das normas relacionadas ao ensino. Formou-se, assim, um novo ramo da ciência do direito: o direito educacional.
Essa emancipação pode ser atestada pela sua inclusão nas contemporâneas decisões proferidas pela cúpula do Poder Judiciário Brasileiro:
ADMINISTRATIVO E EDUCACIONAL – MANDADO DE SEGURANÇA – LIMINAR – ENSINO À DISTÂNCIA – CURSO SUPERIOR DE DIREITO – CREDENCIAMENTO E AUTORIZAÇÃO – PROCESSO ADMINISTRATIVO – NEGATIVA PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – AUTORIZAÇÃO POR VIA JUDICIAL – IMPOSSIBILIDADE – PRESSUPOSTOS DA TUTELA DE URGÊNCIA NÃO CARACTERIZADOS – INDEFERIMENTO DA LIMINAR MANTIDO
1. In casu, o Poder Judiciário não pode, sem violar o princípio da separação de poderes estatuído no art. 2º da CF/88, adentrar no juízo técnico-administrativo do Poder Executivo em caráter mais amplo que uma simples verificação de ofensas formais ao contraditório e à ampla defesa.
2. Ausentes os pressupostos da tutela de urgência que justificariam a concessão da medida liminar.
Agravo regimental improvido.
(AgRg no MS 13.997/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/08/2009, DJe 21/08/2009).
ADMINISTRATIVO E EDUCACIONAL - MANDADO DE SEGURANÇA - CONVALIDAÇÃO DE TÍTULO DE MESTRADO - UNIVERSIDADE SEM RECOMENDAÇÃO - ATO DE MINISTRO DE ESTADO- DESCARACTERIZAÇÃO - AUSÊNCIA DE CARÁTER NORMATIVO - SÚMULA 177/STJ - PROVA INEXISTENTE - ILEGITIMIDADE PASSIVA - SEGURANÇA EXTINTA SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.
1. Mandado de segurança contra parecer do CNES - Conselho Nacional de Educação e CES - Câmara de Ensino Superior, sem homologação pelo Ministro de Estado, que se pronunciou contrariamente ao direito da impetrante de ver convalidado seu título de mestrado.
2. Ausência de prova da prática de ato do Ministro de Estado.
Natureza puramente opinativa do parecer, cuja exequibilidade dependeria da homologação pelo Ministro, o que não está provado nos autos.
3. Ilegitimidade passiva da autoridade. Súmula 177/STJ.
Mandado de segurança extinto sem resolução do mérito.
(MS 13.411/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/03/2009, DJe 06/04/2009).
DIREITO EDUCACIONAL. EXECUÇÃO — PROCESSO EXTINTO PELA AUSÊNCIA DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. INADMISSIBILIDADE. Contrato de Prestação de Serviço Educacional firmado pelas partes e subscrito por duas testemunhas constitui título executivo extrajudicial (artigo 585, Inciso II do CPC), revestido de certeza, liquidez e exigibilidade. Prestado o serviço, a apuração do valor depende de simples operação aritmética. (Apelação sem revisão n. 1240566- 0/1, Rel. Des. JULIO VIDAL, 28ª. Câmara, julgado em 19/05/2009, DJe 23/06/2009).
Com esses exemplos, confirmamos que vários Tribunais pátrios já admitem e reconhecem o Direito Educacional como ramo autônomo do direito.
Dentro dessa nossa pesquisa, o capítulo primeiro versou sobre o conceito do mesmo, a saber, um conjunto de normas que encaminha a conduta de entes públicos e privados no emprego de diretivas justas e equilibradas entre discentes, docentes e instituições de ensino, almejando a consolidação do aprendizado.
Postulamos que o Direito Educacional se assenta no que nomeamos de “triangularização”: um tipo de relação igualitária entre o aluno, professor e escola, que propicia resultados positivos, respectivamente, no ensino/aprendizagem, na transmissão do conhecimento e na prestação de serviços.
Acrescentamos a esse capítulo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que fundamenta a educação nacional e destacamos alguns dos ramos do direito, por meio dos quais a prestação do serviço educacional é moldada.
No contato com o Direito Civil, vimos que ele é imprescindível para o estabelecimento das relações contratuais e obrigacionais.
Já o Direito Administrativo se relaciona ao Direito Educacional na caracterização da mesma como um serviço público, sob controle estatal, visando à satisfação das mais primárias necessidades da coletividade. Ainda que o ensino seja particular, é concebido como uma atividade pública porque tem importância social e, por esse motivo, regulamentado pelo Estado.
Concernente ao Direito Penal, ele se coaduna com o Direito Educacional na medida em que uma das partes da relação educacional (aluno, professor ou instituição de ensino) é passível de cometer uma prática delituosa.
O Direito do Consumidor detém, por sua vez, estreita ligação com o educacional, pois a relação comercial que se estabelece entre a escola e o discente é do tipo consumeirista.
No segundo capítulo, enfatizamos a relação de consumo educacional, que é formada a partir do estabelecimento do contrato de prestação de serviços educacionais. Delineamos que a instituição de ensino e o aluno devem se comprometer com os meios pelos quais oferece e recebe, respectivamente, o serviço contratado, ambos esforçando-se para cumprir os deveres assumidos no contrato.
Nos limites do contrato firmado entre a escola e o aluno, apresentamos as cláusulas específicas que devem constar nos contratos e expressar os direitos e obrigações das partes envolvidas. Dentre elas, explicamos em detalhes a qualificação, o objeto, os fundamentos jurídicos, o prazo contratual, o valor da mensalidade, a forma de pagamento, as sanções acadêmicas e contratuais e a cobrança de taxas.
Almejamos trazer, com o estudo que ora finalizamos, reflexões sobre os âmbitos do Direito que se relacionam à educação e ao Direito Educacional, enfatizando e exemplificandoregras contratuais que devem ser assumidas entre a escola e seu consumidor, o aluno.
Pretendemos, enfim, mostrar que a plenitude pedagógica só poderá ser plenamente efetivada e alcançada quando aluno, professor e instituição de ensino souberem e cumprirem, coerentemente, seus deveres e direitos.
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