Buscar

O Princípio da Primazia da Decisão do Mérito e sua Aplicação no Processo do Trabalho.


Continue navegando


Prévia do material em texto

EVANDRO CARLOS RIBEIRO DE FRANÇA 
 
 
O PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA DECISÃO DO MÉRITO E SUA APLICAÇÃO 
NO PROCESSO DO TRABALHO. 
 
& 
 
O PRINCIPIO DO CONTRADITÓRIO SUBSTANCIAL E AS DECISÕES 
SURPRESA NO PROCESSO DO TRABALHO 
 
 
Trabalho elaborado e apresentado ao Curso de 
Bacharelado em Direito do Centro 
Universitário Luterano de Palmas 
(CEULP/ULBRA), como requisito parcial da 
avaliação da disciplina Direito Processual do 
Trabalho II – Turma 3044. 
 
Profª. Graziele 
 
 
 
 
Palmas-TO 
2018/2 
 
INTRODUÇÃO 
O presente trabalho visa dissertar sobre o Princípio da Primazia da Decisão do 
Mérito e sua Aplicação no Processo do Trabalho, bem como sobre o Princípio do 
Contraditório Substancial e as decisões surpresas no Processo do Trabalho. 
Trata-se de dois Princípios inseridos no Novo Código de Processo Civil que vem 
repercuti na seara trabalhista. 
 
1. O Princípio da Primazia da Decisão do Mérito e sua Aplicação no Processo do 
Trabalho. 
O Princípio da Primazia da Decisão do Mérito foi consagrado no novo Código 
de Processo Civil por meio do art. 4º o qual dispõe que 
As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do 
mérito, incluída a atividade satisfativa. (art. 4º CPC) 
Isto significa dizer que as partes têm o direito à solução de mérito. Este 
Principio consiste em deixar claro que a solução de mérito prefere a solução que não é 
de mérito. O juiz tem que julgar o mérito. 
Fredie Didier leciona que “de acordo com esse princípio, deve o órgão julgador 
priorizar a decisão de mérito, tê-la como objetivo e fazer o possível para que ocorra.” 
(DIDIER, 2015, p. 136). 
Em 2014 foi produzida a Lei nº 13.015 com base no então Projeto de Lei do 
novo Código de Processo Civil (NCPC), reproduzindo textos do mesmo que são 
importantíssimos para a seara trabalhista. 
Esta lei veio alterar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), para dispor 
sobre o processamento de recursos repetitivos no âmbito da Justiça do Trabalho. 
Para exemplificar tem-se da referida Lei em seu § 11 do artigo Art. 1o o seguinte: 
Quando o recurso tempestivo contiver defeito formal que não se repute grave, 
o Tribunal Superior do Trabalho poderá desconsiderar o vício ou mandar 
saná-lo, julgando o mérito. (§ 11 do artigo art. 1o, Lei nº 13.015/2014) 
Veio então o novo CPC e confirmou, após sua vigência em 2016, o referido 
artigo acima no § 3
o
 do artigo 1.029 demonstrando assim a concretização do Princípio 
da Primazia da Decisão do Mérito aludido no novo CPC que assim dispõe: 
O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá 
desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção, 
desde que não o repute grave. (art. 1.029, 3
o
 CPC) 
 
 
 
Este dispositivo legal é um dos mais relevantes do Código de Processo Civil e 
que consagra o Princípio da Primazia da Decisão do Mérito que decorre do artigo 4º do 
mencionado. 
Além do artigo 4º supracitado há outros dispositivos no CPC que reforçam e 
concretizam esse princípio como se vê a seguir: 
a) art. 6º, in fine, o qual estabelece o dever de todos os sujeitos do processo 
para que se obtenha, em tempo razoável, “decisão de mérito justa e efetiva”; 
b) art. 321, segundo o qual o juiz deverá, antes de indeferir a petição inicial, 
conceder prazo ao autor para que a emende ou a complete, “indicando com 
precisão o que deve ser corrigido ou completado”; 
c) art. 488, que enaltece, desde que possível, sempre que a resolução do 
mérito for favorável à parte a quem aproveitaria eventual sentença 
terminativa. 
 
Aduz o artigo 769 da Consolidação das Leis do Trabalho que 
 
Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do 
direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com 
as normas deste Título. (art. 769 CLT) 
 
Note-se que, conforme o artigo citado acima a aplicação de normas do direito 
processual comum está subordinada, concomitantemente, à: 
a) existência de omissão de regulamento expressa e específica pelas normas processuais 
trabalhistas; 
b) existência de compatibilidade com a ordem jurídica processual trabalhista; 
c) inexistência de afronta aos princípios do direito processual do trabalho 
Carlos Henrique Bezerra Leite (2016, p. 112) ensina que 
dessa forma, o princípio da primazia da decisão de mérito, que é aplicável ao 
processo do trabalho (CLT, art. 769; NCPC, art. 15), informa que somente 
em situações excepcionais e quando não for possível a correção de vícios ou 
irregularidades o juiz, depois de conceder oportunidade às partes, poderá 
extinguir o processo sem resolução de mérito. 
Neste sentido, o que se conclui é que a extinção do processo só se dará em 
razão de o juiz proporcionar às partes o direito realizarem correção de vícios e 
irregularidades. 
 
 
 
 
 
2. Principio do Contraditório Substancial e as decisões surpresa no Processo do 
Trabalho 
Sabe-se que o Princípio do Contraditório garante às partes o direito de poder se 
manifestar sobre qualquer questão que seja relevante para a solução da causa, mesmo 
que esta questão seja uma da qual o juiz conheça ex-oficio, ou seja, sem provocação. 
Aduz o artigo 10 do CPC que, 
O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em 
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se 
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. 
 
Deste modo o Juiz poderá examinar uma questão mesmo que ninguém 
provoque ou suscite como é o caso, por exemplo, da inconstitucionalidade da Lei, da 
incompetência absoluta, da decadência legal. 
Fredier Didier (2016) leciona que qualquer questão que seja levado em 
consideração pelo juiz na sua decisão tem de ser uma questão previamente submetida ao 
debate, ao diálogo processual e que se trata de uma garantia do contraditório. O que se 
fala é que essa exigência evita decisões surpresa. Evita que as partes sejam 
surpreendidas com uma decisão com base em uma questão a respeito da qual elas não 
puderam se manifestar. 
Fala-se que essa exigência decorre do que se chama de “dever de consulta” que 
se trata de um dever do juiz no qual ele tem que consultar as partes sobre questão a 
respeito da qual elas não se manifestaram. 
De acordo com Fredier Didider (2016) o artigo 10 do CPC enuncia uma regra 
que impõe ao juiz o dever de consulta ou que proíbe julgamento surpresa. Essa regra 
vem concretizar o Princípio do Contraditório. 
Se um juiz está para julgar uma causa e ele perceber que a Lei é 
inconstitucional e que ninguém havia suscitado isso, o juiz tem que intimar as partes 
para que se manifestem sobre uma suposta inconstitucionalidade a fim de se convencer 
diante de determinada questão. 
Ou seja, o juiz conheceu a questão de ofício e, para não decidir com base em 
questão a respeita da qual as partes não se pronunciaram, o juiz as ouve antes, como 
uma forma de garantir o contraditório de ambas. 
Em março de 2016 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO elaborou a 
Resolução de nº 203 a qual edita a Instrução Normativa n° 39, que dispõe sobre as 
 
normas do Código de Processo Civil de 2015 aplicáveis e inaplicáveis ao Processo do 
Trabalho, de forma não exaustiva. 
O art. 4º da Resolução acima dispõe: 
Aplicam-se ao Processo do Trabalho as normas do CPC que regulam o 
princípio do contraditório, em especial os artigos 9º e 10, no que vedam a 
decisão surpresa. 
Também, pela resolução acima tem-se o a definição do que venha ser a 
“decisão surpresa” 
Entende-se por “decisão surpresa” a que, no julgamento final do mérito da 
causa, em qualquer grau de jurisdição,aplicar fundamento jurídico ou 
embasar-se em fato não submetido à audiência prévia de uma ou de ambas as 
partes. (§ 1º do art. 4 da Resolução nº 203 do TST) 
Carlos Henrique Bezerra Leite (2016, p. 111), elucida que o princípio da 
vedação da decisão surpresa é expressamente extraído do art. 10 do NCPC, segundo o 
qual: O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a 
respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se 
trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. 
Diante do exposto acima, e com base legal, doutrinária e jurisprudencial fica 
consagrada a vedação dos julgamentos surpresa no Processo do Trabalho. 
 
 
 
 
 
BIBLOGRAFIA 
 
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual 
civil, parte geral e processo de conhecimento I – 17. ed. - Salvador: Ed. Jus Podivm, 
2015. v. 1. 
 
DIDIER JR., Fredie, PEIXOTO, Ravi. Novo Código de Processo Civil: comparativo 
com o código de 1973. – Salvador: Ed. Juspodivm, 2015. 
 
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito processual do trabalho. – 6ª ed. 
rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. 
 
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. – 14. ed. de 
acordo com o novo CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015. – São Paulo: Saraiva, 2016. 
 
SCHWARZ, Rodrigo Garcia. Artigo 760 da CLT. Disponível em: 
<https://www.direitocom.com/clt-comentada/titulo-x-do-processo-judiciario-do-
trabalho/capitulo-i-disposicoes-preliminares-titulo-x-do-processo-judiciario-do-
trabalho/artigo-769>. Acesso em 4 abr. 2018 
 
TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. RESOLUÇÃO Nº 203, DE 15 DE MARÇO 
DE 2016. Disponivel em: < http://www.tst.jus.br/documents/10157/429ac88e-9b78-41e5-
ae28-2a5f8a27f1fe> Acesso em: 09 ago. 2018.