Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
5 CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO BACHARELANDO EM DIREITO DOS DIREITOS REAIS O DIREITO DE SUPERFICIE SALVADOR 2018 6 CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO Agda dos Santos Santana; Alana Maria Coutinho Teixeira; Alexandre Bonfim; Caroline Menezes da Cruz; Cristiane Batista Cerqueira; Edgar Felipe Correia Passos; Jaciara de Jesus Vaz; Marcele Alves Brito da Conceição; Sandrine Sousa de Jesus Atividade Acadêmica apresentada como requisito parcial para aprovação na AVII, da disciplina de Direitos Reais do Curso de Direito do Centro Universitário Jorge Amado. SALVADOR 2018 7 RESUMO O Direito de Superfície é instituto que retorna ao direito brasileiro no código de 2002, um antigo tema que renasce em razão de uma necessidade social. Ao mesmo tempo, o Código Civil exclui a Enfiteuse, fazendo com que deixe de ser um direito real, substituindo –a pelo o Direito de Superfície. Tudo isso com intuito de fazer atender para todos os imóveis a função social. Seu regulamento encontra se disciplinado no Código Civil bem como no Estatuto da Cidade, Lei 10.251/01. Seu objetivo principal é, evitar a permanência de imóveis sem utilização, favorecendo–lhes a oportunidade do uso do solo de maneira especifica, na plantação ou construção, dado –lhes a utilidade social que é ensejada pela Constituição Federal. 8 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO.......................................................................................................................05 2.CONCEITO ............................................................................................................................ 06 3.ELEMENTOS HISTORICOS DO DIREITO DE SUPERFICIE......................................06 4.REGUALMENTAÇÃO ......................................................................................................... 08 4.1. Estatuto da Cidade Lei 10.257/2001 ................................................................................ 08 4.2. Código Civil 2002.................................................................................................................09 5.MODOS DE CONSTITUIÇÃO DO DIREITO DE SUPERFICIE ................................... 10 6.TRANSFERENCIA DO DIREITO DE SUPERFICIE ..................................................... 10 7.EXTINÇÃO DO DIREITO DE SUPERFICIE .................................................................. 11 8.DIREITO DE SUPERCIE E OS BENS PUBLICOS ......................................................... 12 9.JURISPRUDENCIA ............................................................................................................. 13 10.CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 15 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 16 9 1.INTRODUÇÃO O Direto de superfície é um direito que está inserido dentre os direitos reais de gozo ou fruição, tipificados pelo artigo art. 1.225 do Código Civil de 2002. Estes tais direitos tratam de situações reais em que há uma divisão dos atributos relativos à propriedade ou domínio. Isso significa dizer que neste caso há uma transmissão a outrem nos atributos de gozar ou fruir a coisa, com maior ou menor amplitude. No Instituto do Direito de Superfície há situações de restrição e limitação, ou, em outras palavras, casos em que o titular do domínio não concentra, em suas mãos, todos os atributos da propriedade descritos no art. 1.228 do Código Civil. Isso ressalva que se há, o ius in re aliena (direito sobre coisa alheia) e não um direito de propriedade plena. O professor Clóvis Beviláqua declara que “Os Direitos Reais de gozo e fruição estão submetidos a três regramentos fundamentais: a) os direitos reais sobre imóveis constituem-se e transmitem-se, entre vivos, por escritura pública e registro imobiliário; b) os direitos reais aderem ao imóvel nas mutações da propriedade; c) os direitos reais sobre móveis, quando constituídos ou transmitidos por ato entre vivos, só se adquirem pela tradição, entrega da coisa. ” (BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das coisas..., v. I, p. 269-270). O art. 1.225 do Código Civil de 2002 dispõe quais são os diretos reais de gozo e ou fruição, sendo estes: A superfície (inciso II), as servidões (inciso III), o usufruto (inciso IV), o uso (inciso V), a habitação (inciso VI), a concessão de uso especial para fins de moradia (inciso XI), a concessão de direito real de uso (inciso XII). Cumpre destacar que os dois últimos direitos reais de gozo e fruição foram incluídos pela Lei 11.481/2007, não encontrando regulamentação no Código Civil, mas em legislação específica. Outro ponto também que deve ser destacado, é a subituição da enfiteuse, que assim então foi banida pela atual codificação e substituída pelo direito de superfície, no entanto, as já existentes permaneceram. 10 2.CONCEITO O direito de superfície pode ser definido de algumas maneiras por alguns doutrinadores como por exemplo: Paulo Nader que diz que, “Consiste no Direito Real de uso e gozo, concedido a alguém (superficiário) pelo proprietário do solo (concedente), para que nele construa (ad aedificandum) ou plante (ad plantandum), desdobrando-se o domínio em dois segmentos: o solo – propriedade do concedente – e a edificação ou plantação – patrimônio do superficiário. ” (NADER, Paulo,2016, p.385) Como define Flavio Tartuce “O Direito de Superfície é o mais amplo dos direitos reais de gozo ou fruição, em que figuram como partes dois sujeitos. O primeiro deles é o proprietário, também denominado fundieiro, aquele que cede o uso do bem imóvel a outrem. Na outra ponta da relação jurídica está o superficiário, que recebe a coisa para a realização de construções e plantações. ” (TARTUCE, Flávio,2017, p.227) Rodrigo Reis Mazzei afirma que “o Direito de Superfície pode ser conceituado como Direito Real complexo e autônomo, de ter temporariamente construção e/ou plantação em imóvel alheio, conferindo ao titular os poderes de uso, gozo e disposição sobre os implantes” (MAZZEI, Rodrigo,2013, p.179). Endente se então que Direito de Superfície, é um direito real de fruição ou gozo sobre coisa alheia onde se há a figura do superficiário, que é alguém que constrói ou planta em um terreno alheio, sem que haja a necessidade de ser proprietário deste imóvel. O proprietário então do bem imóvel cede o solo para determinado uso, e nesta condição é assim chamado de concedente ou fundieiro. No entanto este direito real é limitado, isto dignifica dizer que o superficiário não se torna dono do imóvel. 3.ELEMENTOS HISTORICOS DO DIREITO DE SUPERFICIE A origem do direito superficiário se faz no período romano, onde nessa época algumas conquistas foram realizadas o que contribuiu para o surgimento de grandes propriedades. 11 Como forma de gestão desses patrimônios o instituto da locação era suficiente. Posteriormente, a escassez da propriedade privada, influenciou a administração romana, a permitir edificações particulares em terras públicas,para o uso do gozo perpétuo ou temporário, mas não alienável. Quem construía, porém, não era proprietário da construção, mas possuía uma actio conducti pela qual podia valer os seus direitos em face do dominus. Nesse momento começa a surgiu a ideia de superfície. Já no período clássico, o superficiário possuía, além do direito de usar e gozar da coisa acrescida ao solo, tinha o poder de aliená-la e transmiti- la aos herdeiros. Podia hipoteca-la e grava-la com servidão apenas pelo tempo que durasse o seu direito de arrendamento. Ao final do prazo a coisa era restituída ao estado em que a recebeu, responsabilizando–se pelas eventuais deteriorações. No período chamado de “direito intermédio”, houve um grande desenvolvimento ao instituto graças ao direito germânico, onde nessa época era se atribuído maior valor ao trabalho ao construtor do que o direito de propriedade do solo, isso por conta do interesse da igreja em legitimar as construções feitas sobre os terrenos de propriedade eclesiástica. A superfície, neste momento, foi concebida como verdadeira propriedade paralela à propriedade do solo. Este perdurou até a Revolução Francesa, quando então, devido aos abusos cometidos pelos senhores feudais com a escravidão, os mesmos eram obrigados fazer uso da superfície através da enfiteuse. Na fase do direito contemporâneo, no código Civil de 1966, Portugal, foi o quem melhor regulamentou o direito de superfície, pois, sistematizou em título próprio e em disposições claras e abrangentes, permitindo sua concretização tanto para construções quanto plantações. No Brasil período colonial, o direito de superfície vigorou até o advento da lei publicada em 20 de outubro de 1823. Em 1900 Clóvis Bevilaqua, ao apresentar seu “Projeto de Código Civil Brasileiro”, manteve-se fiel à velha e clássica regra romana de que superfícies solo cedit, porém a Comissão Especial da Câmara dos Deputados, em parecer subscrito por Benedito de 12 Souza, pronunciou-se desfavoravelmente à inclusão da superfície no rol dos direitos reais sobre as coisas alheias. Em 1972, foi elaborado um novo Anteprojeto por comissão de notáveis juristas, supervisionados por Miguel Reale no Congresso Nacional. Ebert Chamoun, promoveu a redação legislativa do Direito das Coisas, que não contemplou o direito de superfície, mas foi revisto após a transformação em projeto de lei fazendo a inclusão do instituto direito de superfície. Em 2001 o Presidente da República sancionou parcialmente a lei federal n.º 10.257, denominada de Estatuto da Cidade, a qual estabelece diretrizes gerais da política urbana e regulamenta a aplicação da função social da propriedade urbana, que enseja o direito de superfície. 4.REGUALMENTAÇÃO 4.1. Estatuto da Cidade Lei 10.257/2001 A lei 10.257 de 10 de julho de 2001 denominada Estatuto da Cidade, regulamenta questões de Urbana a luz da Constituição brasileira. Seus princípios básicos são o planejamento participativo e a função social da propriedade. O estatuto da cidade como o próprio nome propõe, está relacionado restritamente a imóveis em área urbana. A superfície da lei específica é relativa a qualquer tipo de exploração dentro do contexto da política urbana. O artigo 21 desta lei é que dispõe sobre o direito de superfície, e se tratando de uma norma especial, vale ressaltar que, uma norma especial anterior, como o Estatuto da Cidade, deve prevalecer sobre uma norma geral posterior, como o CC/2002, pois o critério da especialidade é mais forte que o cronológico, bem como pondera Sílvio de Salvo Venosa; “Esse estatuto entrou em vigor antes do Código Civil. Ambos os ordenamentos devem ser harmonizados, não só porque o Estatuto da Cidade é um microssistema, como também por ser uma lei complementar à Constituição” (VENOSA, Sílvio de Salvo.2010, p. 1.236). 13 Vale ressaltar algumas características que estão dispostas neta lei especial que é a destinação especifica a bens imóveis urbanos, a exploração do solo destina-se ser mais ampla, podendo ser utilizada de acordo com políticas públicas, como regra, existe a utilização do solo em espaço aéreo ou subsolo e na questão do prazo de cessão que pode ser tanto determinado quanto indeterminado. 4.2. Código Civil 2002 O direito de superfície está inserido na parte especial do código, dentro dos títulos de direitos reais, mais especificamente do título de superfícies nos artigos 1.369 a 1377. Cada artigo dispor de elementos que compões o instituto, suas restrições, as condições e até a sua extinção de direito. Com relação ao Estatuto da Cidade o Código Civil, traz algumas características distintas do mesmo, dentre elas está a amplitude que ar do tipo de bens imóveis, que tanto podem ser urbanos como podem ser rurais, diferente da lei especial que rege apenas imóveis urbanos. No que tange a exploração do solo, código cível delimita a utilização sendo apenas para uso de plantações e construções, o que não acontece no Estatuto que vai sofrer variações conforme a políticas públicas implantadas. Outra restrição atribuída ao direito de superfície que descreve o código é de não autorização do uso do espaço aéreo ou do subsolo, fazendo uma ressalva no art. 1.369, § único, que no couber a utilização do subsolo só será concedida se o mesmo for inerente ao objeto de concessão. E por fim uma outra distinção entre as duas legislações é no que compete a cessão, que esta pelo código civil se dispõe por prazo determinado, diferentemente do estatuto deixa como facultativo, sendo então convencionado entre as partes. 14 5.MODOS DE CONSTITUIÇÃO DO DIREITO DE SUPERFICIE O art.1.369 do Código Civil exige que o direito de superfície seja constituído por meio de escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis. Tratando –se então de uma concessão temporária instituída pelo proprietário a um terceiro, que se caracteriza um negócio jurídico com tempo determinado e este por ser bem imóvel, faz se necessária a escritura para assim faça valida a vontade do ato. À escritura pública pode esta ser adquirido por ato de última vontade, cujo título é o testamento. O direito hereditário é, com efeito, modo aquisitivo e transmissível da propriedade e dos direitos reais sobre imóveis. Com isso o art. 1.227 do Código Civil deflagra que o registro formal de partilha deve ser efetuado na matricula do imóvel. Mesmo que o direito de superfície seja direito diverso do de propriedade, a lei demostra taxatividade quanto a realização do registro em qualquer hipótese. Isso porque no direito brasileiro, o contrato, por si só não se faz suficiente para transferência do domínio. O domínio só se adquire por meio do registro do título. No art. 1.370 do código, explana que a concessão temporária pode ser de maneira gratuita ou onerosa. Se for realiza por meio oneroso o proprietário-superficiario pagará ao cedente uma remuneração que pode ser esta periódica ou de uma única parcela, ficando a critério das partes a convenção do negócio jurídico. 6.TRANSFERENCIA DO DIREITO DE SUPERFICIE O direito de superfície pode transferir-se a terceiro e, por morte do superficiário aos seus herdeiros. Não poderá ser estipulado pela concedente, a nenhum título qualquer pagamento pela transferência. O direito de superfície é suscetível de transmissão a terceiros, seja inter vivos ou causa mortis, traçoque o distingue do usufruto, que faz extinguir o instituto pela morte do usufrutuário. 15 A transferência do direito de superfície se dá com o registro do negócio jurídico de cessão no Cartório do Registro de Imóveis, ou pode ser transferida aos herdeiros do superfíciários na sucessão hereditária. Em caso de alienação do imóvel ou do direito de superfície, o superficiário ou o proprietário tem o direito de preferência em igualdade de condições. Em caso de alienação do terreno, o superficiário terá que ser notificado para exercer o direito de preferência na sua aquisição e, na alienação do direito de superfície, o proprietário cedente também o terá. Quem for preterido do direito de preferência tem direito à reparação por perdas e danos, além do direito de depositar em juízo o valor correspondente recebido do terreno (o terceiro) adquirente, buscando a nulificação do negócio. O Enunciando 510 do Conselho da Justiça Federal: "Ao Superfíciário que não foi previamente notificado pelo proprietário para exercer o direito de preferência previsto no (art. 1373 CC) é assegurado o direito de, no prazo de seis meses, contado do registro da alienação, adjudicar para si o mediante deposito do preço". 7.EXTINÇÃO DO DIREITO DE SUPERFICIE A extinção do direito de superfície pode acontecer devido a três hipótese; A primeira hipótese é pelo o advento do termo final, o que é expresso no art. 23, inc. I, do Estatuto da Cidade e implícito no art. 1.374 Código Civil. Isso significa dizer que sendo vencido o prazo estipulado pelas partes, o negócio jurídico celebrado é extinto automaticamente, sem a necessidade de notificação do superficiário. Caso a coisa não seja devolvida, o fundieiro proprietário poderá ingressar com a ação de reintegração de posse em face do superficiário. A segunda hipótese que pode –se ter a extinção do direito se dá em razão do desvio de finalidade contratual. Com isso o direito superfície pode extinguir-se antes do termo final se o superficiário der ao terreno destinação diversa daquela para a qual lhe foi concedida (art. 1.374 do CC/2002 e art. 24, § 1.º, da Lei 10.257/2001). 16 As regras tratam do inadimplemento do negócio superficiário, quando a parte desrespeita a lógica do ato de constituição, dando ao bem uma finalidade que não foi prevista pelas partes. Como por exemplo, as partes convencionam que o imóvel deverá ser utilizado para plantações e o superficiário realiza construções, situação esta que viola aquilo que foi pactuado. Embora várias legislações, como foi dito, permitam seja a superfície constituída por tempo indeterminado, o Código Civil brasileiro só admite a sua contratação por tempo determinado (art.1.369). Terceira hipótese é extinção pela desapropriação, o art. 1.376 do Código Civil prevê outro modo de extinção da concessão superficiária: a desapropriação. Neste caso, “a indenização cabe ao proprietário e ao superficiário, no valor correspondente ao direito real de cada um. No que tange aos efeitos da extinção da concessão superficiária, ao artigo 1.375 do Código Civil declara que “extinta a concessão, o proprietário passará a ter a propriedade plena sobre o terreno, construção ou plantação, independentemente de indenização, se as partes não houverem estipulado o contrário”. O professor Flavio Tatuce afirma “O proprietário concedente tem, desse modo, a expectativa de receber a coisa com a obra ou plantação. Extinta a concessão, a construção ou a plantação incorporam -se ao solo em definitivo, retornando ao princípio superficies solo cedit”. (TARTUCE, Flávio,2017, p.233.). A extinção da superficies deverá ser averbada no Registro Imobiliário, da mesma forma que foi feita o registro de concessão superficiária. 8.DIREITO DE SUPERCIE E OS BENS PUBLICOS De origem romana, tal instituto surgiu da necessidade prática de se permitir edificações sobre bens públicos, permanecendo o solo em poder do Estado, hoje, no entanto, o retorno do direito de superfície à ordem pública constituída é o resultado das lutas e conquistas 17 dos movimentos sociais e setoriais pelo reconhecimento de seu direito à moradia e por instrumentos que proporcionem o acesso à moradia digna, e não um benefício dado aleatoriamente pelo poder legislador. Assim, o reingresso do direito de superfície no direito brasileiro inaugura sua nova fase: como instituto que torna possível a construção de um Brasil mais humano e solidário, no qual a valorização da pessoa humana e o direito à moradia digna não podem mais ser adiados, tornando-se, então, um instrumento, para que as propriedades territoriais, especialmente as urbanas, desempenhem sempre uma função social, e dentre estas, a de proporcionar moradia adequada e formal. O Direito de Superfície no Brasil apresenta uma nova configuração com atribuições técnicas voltadas para a concretização das finalidades propostas pelo Estado Democrático de Direito, de forma que ao se analisar os seus aspectos técnicos pode-se perceber que este pode, ao mesmo tempo, proporcionar e produzir moradia adequada, segurança jurídica da posse e propriedade formal e, com isso, um amplo espaço de inclusão social. Dentre outros instrumentos voltados para o alcance da Função Social da Propriedade, o Estatuto da Cidade regulamentou pela primeira vez em nosso ordenamento jurídico o direito de superfície, visando acima de tudo o incentivo à utilização do solo urbano de forma a buscar a promoção da função social da propriedade, bem como a melhoria da qualidade de vida nos grandes centros. Nesse diapasão a propriedade deixa de ser vista como uma prerrogativa de um direito subjetivo, para ser analisada como relação jurídica, ou seja, o proprietário passou a ter obrigações a cumprir para com a propriedade e os demais membros do corpo social, e o principal deles é exatamente o uso desta. 9.JURISPRUDENCIA A respeito da sua transmissibilidade, dispõe o art. 1.372 que “o direito de superfície pode transferir-se a terceiros e, por morte do superficiário, aos seus herdeiros”, não podendo “ser estipulado pela concedente, a nenhum título, qualquer pagamento pela transferência”. 18 Pablo Stolze Gagliano (2017, p. 1057 – 1058) informa que há entendimento, na jurisprudência, no sentido de que a transmissibilidade do direito pressupõe a sua constituição regular: “PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INVENTÁRIO E PARTILHA. DIREITO DE SUPERFÍCIE. TRANSMISSIBILIDADE. CÓDIGO CIVIL E ESTATUTO DA CIDADE (ART. 21). COMPROVAÇÃO. ESCRITURA PÚBLICA. 1. Agravo de instrumento tirado contra interlocutória proferida em sede de inventário e partilha, que determinou a exclusão de bem denominado Chácara Menino Jesus 123, Setor P Norte — Ceilândia/DF, diante da informação, prestada pela Terracap, quanto à impossibilidade da escrituração do imóvel em nome do espólio de Odilon Alves, haja vista não ter sido firmado contrato de concessão de uso junto à extinta Fundação Zoobotânica do Distrito Federal. 2. Destarte, uma das principais marcas do direito de superfície é sua transmissibilidade, por ato inter vivos, oneroso ou gratuito, ou causa mortis. 2.1 Todavia, apesar de o direito de superfície, entendido como sendo direito real de ter construção ou plantação em solo alheio, ser passível de transmissão aos herdeiros, por morte do superficiário (art. 1.372 do CCB), a forma legal de instituição do referido instituto é por meio de escritura pública (arts. 21 do Estatuto da Cidade e 1.369 do CC/2002). 2.2 No mesmo sentido, o art. 21, da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade),prescreve que ‘o proprietário urbano poderá conceder a outrem o direito de superfície do seu terreno, por tempo determinado ou indeterminado, mediante escritura pública registrada no Cartório de Registro de Imóveis’. 3. Inviável cogitar-se de transmissibilidade, aos herdeiros, de direito de superfície não instituído regularmente por meio de instrumento público, em razão de o imóvel ser objeto de parcelamento irregular. 4. Agravo improvido” (TJDF, AgI: 20130020274956-DF, 0028438- 16.2013.8.07.0000, Rel. João Egmont, julgamento 23-4-2014, 5ª Turma Cível, DJE, 29-4-2014, p. 152). Alguns enunciados das Jornadas de Direito Civil, a respeito do direito real de superfície, merecem atenção: 19 I JDC. Enunciado 93 — Art. 1.369: As normas previstas no Código Civilsobre direito de superfície não revogam as relativas a direito de superfície constantes do Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257/2001) 60 por ser instrumento de política de desenvolvimento urbano. I JDC. Enunciado 94 — Art. 1.371: As partes têm plena liberdade para deliberar, no contrato respectivo, sobre o rateio dos encargos e tributos que incidirão sobre a área objeto da concessão do direito de superfície. III JDC. Enunciado 249 — Art. 1.369: A propriedade superficiária pode ser autonomamente objeto de direitos reais de gozo e garantia, cujo prazo não exceda a duração da concessão da superfície, não se lhe aplicando o art. 1.474. JVI JDC. Enunciado 568 — O direito de superfície abrange o direito de utilizar o solo, o subsolo ou o espaço aéreo relativo ao terreno, na forma estabelecida no contrato, admitindo- se o direito de sobrelevação, atendida a legislação urbanística. 10.CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim concluímos, que o direito de superfície é uma concessão dada ao proprietário do terreno para outro, para a construção e possível uso durante um tempo, se caso a obra utilizar o espaço do subsolo não sendo este inerente ao objeto da concessão, poderá ser gratuita ou onerosa, dependendo do acordo feito entre as partes. Importante lembra que o direito de superfície pode ser transferido para terceiro, sem qualquer necessidade de autorização do proprietário do terreno, mas caso o proprietário decida pela alienação do terreno o superficiário tem preferência na compra, caso não se resolva desta maneira, deve ser pago as perdas e danos. Em linha geral a construção ficará sempre para o proprietário do terreno. 20 REFERÊNCIAS GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito /civil Brasileiro. Volume V Direito das Coisas. 4ª ed. Ver – São Paulo. Saraiva 2009. TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Vol. Único. 7 Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2017 NADER, Paulo. Curso de Direito Civil, vol.4: direito das coisas.7. Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2016. MAZZEI, Rodrigo Reis. Direito de superfície. Salvador: Juspodivm, 2013. FARIAS, Cristiano Chaves de; Rosenvald, Nelson. Curso de Direito Civil, Vol. 5 direito Ed. Salvador: Juspodivm, 2013. BORTOLUZZO, Joao Vitor Cainelli. Comentários acerca do direito de superfície no ordenamento jurídico brasileiro. Site: https://jus.com.br/artigos/44044/comentarios-acerca-do-direito-de-superficie-no- ordenamento-juridico-brasileiro. Acesso em 26.10.2018. http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura &artigo_id=3588. Acesso em https://www.conjur.com.br/2008-jul-03/uso_direito_superficie_estatuto_cidade. Acesso em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em CARBONARI, Regina Silvia de Assunção, O Direito de Superfície sob nova perspectiva. Site:http://www.ambito-juridico.com.br/site/index. Acesso em 26.10.2018.
Compartilhar