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DIREITO PENAL II

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RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
1 
Aula 1 
Concurso de Pessoas 
 
CRIMES UNISSUBJETIVOS – crimes passíveis de ser executados por uma 
única pessoa. 
CRIMES PLURISSUBJETIVOS – crimes que só podem ser cometidos por duas 
ou mais pessoas. Ex: associação criminosa, rixa, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SISTEMAS QUANTO À DIVISÃO DA RESPONSABILIDADE 
Sistema Unitário: todos, independentemente do grau de participação, recebem 
a mesma pena. 
Sistema Diferenciador (ATUAL): cada um responde à medida da culpabilidade. 
Diferencia a responsabilização. 
 
REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS 
PLURALIDADE DE CONDUTAS – ambos têm que cometer a conduta. 
Art. 29 CP Quem de qualquer modo concorre para o crime incide nas penas a este 
cominado, na medida de sua culpabilidade. 
ESPÉCIES DE CRIMES PLURISSUBJETIVOS 
Condutas paralelas: as condutas auxiliam-se mutuamente, 
visando à produção de um resultado comum. Ex: associação 
criminosa (288 CP) Todas tem o mesmo fim. 
Condutas convergentes: as condutas, em posições distintas, 
tendem a encontrar-se, e desse encontro surge o resultado. Ex: 
bigamia (235 CP) 
Condutas contrapostas: as condutas são praticadas umas contra 
as outras. Os agentes são, ao mesmo tempo, autores e vítimas. 
Ex: rixa (137 CP) 
 
 
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RELEVÂNCIA CAUSAL DAS CONDUTAS – é necessário que a conduta seja 
relevante. 
VÍNCULO SUBJETIVO ENTRE OS PARTICIPANTES – deve existir um liame 
psicológico entre eles. 
IDENTIDADE NA INFRAÇÃO PENAL – o crime cometido deve estar no mesmo 
tipo penal. 
 
TEORIAS QUANTO À CLASSIFICAÇÃO DO ATO PRATICADO 
PLURALÍSTICA 
Cada conduta corresponde a um tipo penal diferente. Cada um dos participantes 
responde por delito próprio. Serão punidos por crimes diferentes. 
DUALÍSTICA 
Há dois crimes: um para os autores, aqueles que realizam a atividade principal, 
e outro para os partícipes. 
MONÍSTICA (ou Unitária) ATUAL 
Todos os que contribuem para a prática do delito cometem o mesmo crime, não 
havendo distinção. 
 
TEORIAS QUANTO À IDENTIFICAÇÃO DO AUTOR 
TEORIA SUBJETIVA (Animus auctoris/Animus socis) 
Tentava capturar a intenção das partes. 
TEORIA OBJETIVA FORMAL 
Somente é considerado autor aquele que pratica o verbo, o núcleo do tipo legal. 
TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO 
O autor é aquele que detém o controle final do fato, dominando toda a realização 
delituosa. 
 
ESPÉCIES DE AUTORIA 
AUTORIA DIRETA: aquele que pratica a conduta. 
 
 
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AUTORIA MEDIATA: aquele que se serve de pessoa sem condições de 
discernimento para realizar por ele a conduta típica 
AUTORIA FUNCIONAL: quando os atos executórios do iter criminis são 
distribuídos entre os diversos autores, de modo que cada um é responsável por 
um elo da cadeia causal (desde a execução até a consumação). 
AUTORIA COLATERAL: quando mais de um agente realiza a conduta, sem que 
exista liame subjetivo entre eles. Cada um responderá pelo crime que cometeu. 
Inaplicável a teoria monista. 
AUTORIA INCERTA: ocorre quando, na autoria colateral, não se sabe quem foi 
o causador do resultado. Ex: num homicídio, ambos responderiam por tentativa. 
 
ESPÉCIES DE PARTICIPAÇÃO 
PARTICIPAÇÃO MORAL: induzimento, instigação. Ocorre quando o partícipe 
atua sobre a vontade do autor, criando na mente da pessoa a ideia de cometer 
um crime, bem como animar, estimular, ou reforçar uma ideia existente. 
 
 
 
 
PARTICIPAÇÃO MATERIAL: fornecimento de ferramentas, instrumentos ou 
contribuição intelectual, como a senha do cofre. O partícipe exterioriza a sua 
contribuição, através de um comportamento, um auxílio. 
 
TEORIAS QUE FUNDAMENTAM A PARTICIPAÇÃO 
ACESSORIEDADE MÁXIMA (extrema) 
A relevância típica da conduta do partícipe estaria na dependência de o 
comportamento principal ser típico, antijurídico e culpável. Se o autor fosse 
inimputável ou incidisse em erro de proibição invencível, ou, por qualquer razão, 
fosse inculpável, o partícipe seria impunível. 
ACESSORIEDADE MÍNIMA 
É suficiente que a ação principal seja típica, sendo indiferente a sua juridicidade. 
Ex: se uma pessoa, faminta, for instigada a furtar um pacote de biscoito, comete 
um fato típico, porém, não antijurídico, uma vez que estará amparada pela causa 
Mero instrumento 
Participação em cadeia: A instiga B que instiga C 
Participação sucessiva: A e B instigam C 
Estaria condicionada à punibilidade da 
ação principal 
 
 
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de exclusão de ilicitude estado de necessidade. Ocorre, porém, que quem o 
instigou, para essa teoria, seria responsabilizado pelo crime de furto, na 
qualidade de partícipe. 
ACESSORIEDADE LIMITADA (Aplicada no Brasil) 
Exige que a conduta principal seja típica e antijurídica. Quer dizer que a 
participação é acessória até certo ponto. Ex: se uma pessoa for instigada a 
cometer um delito em legítima defesa (putativa), ela será absolvida pelo 
excludente de culpabilidade, porém seu instigador será indiciado como autor 
mediato. 
 
 
 
 
PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA 
Se a participação for de menor importância, a pena poderá ser diminuída de 1/6 
a 1/3. 
Ex: A roubou um banco com auxílio de B, sendo levado por C (carona) com o 
carro que D emprestou. – A: autor; B: partícipe; C: partícipe; D: partícipe de 
menor importância. 
COAUTORIA 
Todos os agentes, em colaboração recíproca e visando o mesmo fim, realizam 
a conduta principal. 
O coautor que concorre na realização do tipo também responderá pela 
qualificadora ou agravante e caráter objetivo quando tiver consciência desta e 
aceitá-la como possível. 
 
 
 
COMUNICABILIDADE E INCOMUNICABILIDADE DE ELEMENTARES E 
CIRCUNSTÂNCIAS 
Refere-se exclusivamente ao partícipe 
No crime culposo há autoria e 
coautoria, não participação. 
Na coautoria não há relação de acessoriedade, 
mas a imediata imputação recíproca, visto que 
cada um desempenha uma função fundamental 
na consecução do objetivo comum. 
 
Art. 30 CP “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, 
salvo quando elementares do crime. ” 
 
 
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CIRCUNSTÂNCIAS – são dados acessórios, não fundamentais para a existência 
da figura típica, que ficam a ela agregados, com a função de influenciar a pena. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ELEMENTARES – provém de elemento, que significa componente básico, 
fundamental, essencial, configurando assim todos os dados fundamentais para 
a existência da figura típica, sem os quais esta desaparece (atipicidade absoluta) 
ou se transforma em outra (atipicidade relativa). 
 
Aula 2 
Concurso de Crimes 
ESPÉCIE DE CONCURSO DE CRIMES 
CONCURSO MATERIAL (art. 69 CP) 
Ocorre o concurso material quando o agente, mediante mais de uma ação ou 
omissão pratica dois ou mais crimes. 
 
 
 
 
 
Apenas circundam o crime, não integram a sua essência. 
ESPÉCIES DE CIRCUNSTÂNCIAS 
Subjetivas (ou de caráter pessoal): dizem respeito ao agente e 
não ao fato. São elas: os antecedentes, a personalidade, a 
conduta social, os motivos do crime, a reincidência, etc. 
Objetivas: relacionam-se ao fato, e não ao agente. Por exemplo, 
o tempo do crime (se cometido à noite, de manhã); o lugar do 
crime (local público); o modo de execução (emboscada, traição, 
dissimulação); os meios empregados para a prática do crime 
(veneno, fogo, asfixia); a qualidade das coisas, a qualidade da 
vítima (grávida,criança, velho). 
 
Mais de uma conduta; 
Mais de um crime; 
Mesmo contexto fático; 
Cúmulo material (soma das penas) 
 
 
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Ex: um sujeito entra na sala, agride alguém, entra em outra, agride outra pessoa, 
depois foge de carro e atropela alguém. Houve três ações, três crimes. 
CONCURSO FORMAL (art. 70 CP) 
O concurso formal é a exceção: ocorre quando o agente, mediante uma única 
ação ou omissão, pratica vários crimes. 
 
 
 
 
 
 
Ex: bater contra um veículo e matar três pessoas. Ou então matar duas pessoas 
com um tiro só, com a intenção de matar. 
CONCURSO FORMAL PERFEITO (próprio) 
O agente deve querer realizar apenas um crime, obter um único resultado 
danoso. Não devem existir desígnios autônomos. Ex: o agente dirige um carro 
em alta velocidade e acaba por atropelar e matar três pessoas. 
Aplica-se a pena em qualquer dos crimes, acrescida de 1/6 até a metade; se for 
heterogêneo, aplica-se a pena do mais grave, aumentada de 1/6 até a metade. 
O aumento varia de acordo com o número de resultados produzidos. 
 
 
 
 
CONCURSO FORMAL IMPERFEITO (impróprio) 
O agente deseja a realização de mais de um crime, tem consciência e vontade 
em relação a cada um deles. Há uma só ação, mas o agente intimamente deseja 
os outros resultados ou aceita o risco de produzi-los. Ex: agente incendeia uma 
residência com a intenção de matar todos os moradores. 
As penas devem ser somadas, de acordo com a regra do concurso material 
(cúmulo) 
Uma só conduta; 
Mais de um crime; 
Mesmo contexto fático; 
Exasperação: 1/6 a 1/2 (aplica-se a pena 
do crime mais grave, aumentada de certo 
percentual) 
Concurso formal homogêneo (mesma natureza) 
– Ex: 2 homicídios. 
Concurso formal heterogêneo (natureza diversa) 
– Ex: estupro e homicídio. 
 
 
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CONCURSO MATERIAL BENÉFICO – se, da aplicação da regra do crime 
formal, a pena resultar superior à que estaria se somada as penas, aplica-se a 
regras de concurso material. 
 
CRIME CONTINUADO ((art. 71 CP) 
É aquele no qual o agente, mediante mais de uma 
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da 
mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, 
maneira de execução e outras semelhantes, devem 
os subsequentes ser havidos como continuação do 
primeiro. 
Aplica-se a pena de um só dos crimes, se idênticas, 
ou a mais grave, se diversas, aumentada, em 
qualquer caso, de um 1/6 a 2/3 (no simples) 
Em razões de política criminal, o crime continuado 
deverá ser aplicado sempre que beneficiar o agente, 
devendo-se desprezá-lo quando a ele for prejudicial. 
 
 
 
 
 
 
Ex: alguém deseja furtar uma coleção de quadros que só têm valor no conjunto. 
Então, o sujeito vai ao museu um dia e furta o primeiro, outro dia furta outro, etc. 
É uma reiteração de crimes, portanto concurso material, tratado como concurso 
formal para evitar penas excessivamente altas. 
 
CRIME CONTINUADO ESPECÍFICO (parágrafo único, CP) 
É uma forma mais dura de apenação do crime continuado. Ocorre quando, 
presentes todos os elementos do crime continuado, houver a presença dos 
seguintes elementos: crimes dolosos, violência ou grave ameaça, contra 
vítimas diferentes, circunstâncias favoráveis a ser levadas em conta pelo 
juiz. 
Mais de uma conduta; 
Mais de um crime da mesma espécie; 
Mesmas condições de tempo, lugar, 
maneira de execução e outras 
semelhanças; 
Unidade de desígnio 
Teoria objetiva: é 
dispensável a vontade de 
praticar os delitos em 
continuação, bastando 
que as condições objetivas 
semelhantes estejam 
presentes; 
Teoria objetiva-subjetiva: 
exige-se unidade de 
resolução, devendo o 
agente desejar praticar os 
crimes em continuidade. 
 
 
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A pena pode ser aumentada até o triplo. 
Se a pena se tornar maior que 30 anos, ela deverá ser unificada para 30. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 3 
Teoria da Pena 
Muito se tem discutido ultimamente a respeito das funções que devem ser 
atribuídas às penas. O nosso código penal, por intermédio do seu art. 59, prevê 
que as penas devem ser necessárias e suficientes à reprovação e prevenção do 
crime. 
Assim, de acordo com a nossa legislação penal, entendemos que a pena deve 
reprovar o mal produzido pela conduta praticada pelo agente, bem como prevenir 
futuras infrações penais. 
 
TEORIA RETRIBUTIVA (absoluta) 
A teoria da retribuição não encontra o sentido da pena na perspectiva de algum 
fim socialmente útil, senão em que mediante a imposição de um mal 
merecidamente se retribui, equilibra e expia a culpabilidade do autor pelo fato 
cometido. 
Se fala de uma pena absoluta porque para ela o fim da pena é independente, 
desvinculado de seu efeito social. 
Autores precursores: Kant e Hegel. 
 
Tipo simples: são 
os que descrevem 
uma única forma de 
conduta punível. 
Ex: art. 121 CP 
Tipo misto: são os 
tipos que 
descrevem mais de 
uma conduta. 
Tipo misto cumulativo: as 
condutas não são fungíveis 
porque atingem bens jurídicos 
distintos em suas titularidades. 
Ex: art. 242 CP. 
Tipo misto alternativo: as 
condutas são fungíveis, tanto faz 
o cometimento de uma ou de 
outra. Ex: art. 213 CP. 
 
 
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TEORIA PREVENTIVA (relativa) 
Prevenção Geral Negativa – prevenção por intimação. 
A pena aplicada ao autor da infração penal tende a refletir na sociedade, 
evitando-se, assim, que as demais pessoas, que se encontram com os olhos 
voltados na condenação de seus pares, reflitam antes de praticar qualquer 
infração penal. 
Impõe medo. Ex: decapitar uma pessoa em praça pública para os outros não 
praticarem o mesmo delito. 
Autores precursores: Beccaria e Feuerbach. 
 
Prevenção Geral Positiva – prevenção integradora. 
A pena tem o propósito de infundir, na consciência geral, a necessidade de 
respeito a determinados valores, exercitando a fidelidade ao direito; 
promovendo, em última análise, a integração social. 
Autores precursores: Welzel, Mezger e Jakobs. 
 
Prevenção Especial 
Não busca a intimidação do grupo social nem a retribuição do fato praticado, 
visando apenas àquele indivíduo que já delinquiu para fazer com que não volte 
a transgredir as normas jurídico-penais. 
Denota-se o caráter ressocializador da pena, fazendo com que o agente medite 
sobre o crime, sopesando suas consequências, inibindo-o ao cometimento de 
outros. 
Há a neutralização do agente, ocorrendo quando a ele for aplicada a pena 
privativa de liberdade. A retirada momentânea do agente do convívio social o 
impede de praticar novas infrações penais, pelo menos na sociedade da qual foi 
retirado. 
Autores precursores: Von Liset. 
 
TEORIA UNIFICADORA (eclética) – ADOTADA PELO CÓDIGO PENAL 
É a teoria adotada pelo nosso Código Penal, no art. 59. Ele conjuga a 
necessidade de reprovação com a prevenção do crime, fazendo, assim, com que 
 
 
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se unifiquem as teorias absolutas e relativas, que se pautam, respectivamente, 
pelos critérios da retribuição e da prevenção. 
 
TEORIA AGNÓSTICA 
Zaffaroni, um dos precursores dessa teoria, acredita que o modelo punitivo 
deixa a descoberto a sua pouca aptidão para de fato solucionar os conflitos, 
senão simplesmente suspendê-los. Isto é, há uma resolução meramente 
simbólica. 
Entende-se que a pena é uma coerção, que impõe uma privação de direitosou 
uma dor, mas não repara nem restitui, nem tampouco detém as lesões em curso 
ou neutraliza perigos iminentes. 
Essa teoria acredita que a pena seria meramente um mecanismo de exclusão. 
 
PRINCÍPIOS DA PENA 
LEGALIDADE – não existe pena sem prévia cominação legal. Não existe pena, 
nem conduta, sem que as mesmas estejam estabelecidas em lei. 
HUMANIDADE DAS PENAS – respeito à integridade física e moral do 
condenado. A Constituição Federal não admite penas vexatórias e proíbe penas 
insensíveis e dolosas. 
PERSONALIDADE – a pena não passa da pessoa do delinquente, ou seja, 
apenas o delinquente pode ser responsabilizado. Quando falamos em 
responsabilidade penal, estamos diante da apuração para verificar se o indivíduo 
é ou não responsável por aquele crime. Se não houver responsabilidade penal, 
não há que se falar em pena. 
Exceção: quando a pessoa atingida se beneficiou com a conduta ilícita. Como, 
por exemplo, a esposa que herdou dinheiro ilícito do marido (há a 
responsabilidade de reparar o dano). 
INDERROGABILIDADE – a pena deve atingir sua eficácia, e para isso é 
necessária a responsabilização do agente pelo crime cometido. O Estado-juiz 
não pode deixar de aplicar e executar a pena ao culpado pela infração penal, 
com apenas uma exceção: o perdão judicial. 
PROPORCIONALIDADE – a pena deve guardar proporcionalidade entre o crime 
e a sanção imposta. Tanto o juiz quanto o Ministério Público devem ter essa 
noção de proporcionalidade. 
 
 
 
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Aula 4 e 5 
Dosimetria da Pena 
A individualização da pena ocorre em três fases 
distintas – Art. 68 CP (SISTEMA TRIFÁSICO): 
Inicialmente, deverá o julgador determinar a pena-
base, sobre a qual incidirão os demais cálculos. 
No tipos penais incriminadores existe uma 
margem entre as penas mínimas e máxima. 
 
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS – 1ª Fase (art. 59 
CP) 
CULPABILIDADE - a culpabilidade é um dos 
elementos integrantes do conceito tripartido de 
crime. Assim, concluindo pela prática da infração 
penal, o juiz passará a aplicar a pena. Ela diz 
respeito à demonstração do grau de 
reprovabilidade ou censurabilidade da conduta 
praticada. 
A condenação somente é possível após ser 
afirmada a culpabilidade do agente. 
ANTECEDENTES – dizem respeito ao histórico criminal do agente que não se 
preste para efeitos de reincidência. Em virtude do princípio constitucional da 
presunção de inocência, somente as condenações anteriores com trânsito em 
julgado (até 5 anos após) é que poderão ser 
consideradas em prejuízo do sentenciado. 
Se o agente possuir condenações anteriores com o 
trânsito em julgado, porém praticar o delito antes 
deles, não poderá ser considerado reincidente. 
Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de 
transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado 
por crime anterior. 
A premeditação do crime 
evidencia maior 
culpabilidade do agente 
criminoso, autorizando a 
majoração da pena-base. 
O prazo de 5 anos do art. 
64, I do CP, afasta os efeitos 
da reincidência, mas não 
impede o reconhecimento 
de maus antecedentes. 
O registro decorrente da 
aceitação de transação 
penal pelo acusado não 
serve para o incremento da 
pena-base acima do mínimo 
legal em razão de maus 
antecedentes, tampouco 
para configurar a 
reincidência. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
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Havendo diversas condenações anteriores com trânsito em julgado, não há bis 
in idem se uma for considerada como maus antecedentes e a outra como 
reincidência. 
CONDUTA SOCIAL – o comportamento do agente perante a sociedade. Verifica-
se o seu relacionamento com seus pares, procura-se descobrir o seu 
temperamento, se calmo ou agressivo, se possui algum vício, a exemplo de 
jogos ou bebidas, enfim, tenta-se saber como é o seu comportamento social, que 
poderá ou não ter influenciado no cometimento da infração penal. 
Inquéritos em andamento não poderão servir para fins de aferição de conduta 
social. Pode acontecer, até mesmo, que alguém tenha péssimos antecedentes 
criminais, mas seja uma pessoa voltada à caridade, etc. 
PERSONALIDADE DO AGENTE – a personalidade não é um conceito jurídico, 
mas do âmbito de outras ciências – da psicologia, psiquiatria, antropologia – e 
deve ser entendida como um complexo de características individuais próprias, 
adquiridas, que determinam ou influenciam o comportamento do sujeito. 
Somente os profissionais de saúde é que, talvez, tenham condição de avaliar 
essa circunstância judicial. 
MOTIVOS – são as razões que antecederam e levaram o agente a cometer a 
infração penal. 
Em várias passagens, o CP valora os motivos pelos quais o agente foi impelido 
a levar a efeito a infração penal, fazendo, desse modo, com que diminua ou 
aumente a pena a ser aplicada. 
Se os motivos que levaram o agente a praticar a infração penal já estão fazendo 
com que sua pena fuja àquela prevista na modalidade básica do tipo penal, o 
julgador não poderá considerá-los negativamente, sob pena de incorrer no bis in 
idem. 
CIRCUNSTÂNCIAS – modus operandi. Refere-se à maior ou menor gravidade 
do delito em razão do modus operandi (instrumentos do crime, tempo de sua 
duração, objeto material, local da infração, relacionamento com a vítima, etc). 
CONSEQUÊNCIAS DO CRIME – é a intensidade 
da lesão produzida no bem jurídico protegido em 
decorrência da prática delituosa. São 
circunstâncias que extrapolam as consequências 
naturais do delito. 
COMPORTAMENTO DA VÍTIMA – a vítima não é 
colocada na condição de partícipe ou coautora, 
Os atos infracionais podem 
ser valorados 
negativamente na 
circunstância judicial 
referente à personalidade 
do agente. 
 
 
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mas, sim, aferindo seu comportamento no caso concreto, que pode ter 
influenciado, em seu próprio prejuízo, a prática da infração penal pelo agente. 
Ex: personalidades insuportáveis, criadoras de caso, pessoas irritantes, 
homossexuais e prostitutas (os últimos, por serem vítimas de violência diante da 
psicologia doentia de neuróticos com falso entendimento de justiça própria). 
Se o comportamento da vítima já estiver previsto em determinado tipo penal, 
diminuindo a reprimenda, ele não poderá ser considerado, por mais uma vez, em 
benefício do agente. 
 
CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES E AGRAVANTES – 2ª Fase (Arts. 61 e 62) 
Circunstâncias são dados periféricos que gravitam ao redor da figura típica e têm 
por finalidade diminuir ou aumentar a pena aplicada ao sentenciado. 
A ausência ou a presença de uma circunstância não interfere na definição do 
tipo penal. Por exemplo, o homicídio continuará a ser um crime de homicídio se 
praticado por motivo fútil (circunstância agravante). 
A jurisprudência entende que a pena-base agravada ou atenuada será em até 
1/6 do quantum fixado. 
 
Circunstâncias agravantes: 
 
Só haverá reincidência se o agente houver praticado dois crimes, não se 
podendo cogitar dessa circunstância agravante se a infração penal anterior ou 
posterior consistir em uma contravenção penal. 
 
 
 
 
 
Art. 61 CP – São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não 
constituem ou qualificam o crime: 
I- A reincidência; 
CARACTERIZAÇÃO 
1º) prática de crime anterior; 
2º) trânsito em julgado da sentença condenatória; 
3º) prática de novo crime, após o trânsito em julgado da 
sentença penal condenatória. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
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Comoregra geral, o CP afastou a chamada reincidência específica, sendo 
suficiente a prática de crime anterior – independente das suas características –, 
que pode ou não ser idêntico ou ter o mesmo bem juridicamente protegido pelo 
crime posterior, praticado após o trânsito em julgado da sentença condenatória. 
 
Motivo fútil é aquele motivo insignificante, gritantemente desproporcional. 
Torpe é o motivo abjeto, vil, que nos causa repugnância, pois atenta contra os 
mais basilares princípios éticos e morais. 
Exemplo de motivo fútil: o agente agredir o garçom que, equivocadamente, 
debitara-lhe uma cerveja a mais em sua conta. 
Exemplo de motivo torpe: aquele que espanca uma meretriz que não quer ser 
explorada ou a testemunha que prestou depoimento contra os interesses do 
agente. 
 
Na primeira hipótese, ou seja, quando o agente comete o crime para facilitar ou 
assegurar a execução de outro crime, existe, na verdade, uma relação de 
meio a fim. O crime-meio é cometido para que tenha sucesso o crime-fim. 
No segundo caso, o agente pratica o delito com a finalidade de ocultar outro 
por ele levado a efeito. Na terceira hipótese, o delito é conhecido, mas o agente 
procura manter desconhecida a sua ocorrência, assegurando-lhe a impunidade. 
Art. 61 CP - II- Ter o agente cometido o crime: 
a) por motivo fútil ou torpe; 
 
Art. 61 CP – b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a 
impunidade ou vantagem de outro crime; 
 
Art. 64 CP – Para efeitos de reincidência: 
I- Não prevalece a condenação anterior, se entre a data do 
cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido 
tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da 
suspensão ou do livramento condicional, se não houver revogação; 
II- Não se consideram os crimes militares próprios ou políticos. 
 
 
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Por fim, a prática da infração, em cuja pena está sendo aplicada a circunstância 
agravante, foi dirigida a assegurar a vantagem de outro crime por ele cometido. 
 
Traição é o delito cometido mediante ataque súbito e sorrateiro, atingindo a 
vítima, descuidada ou confiante, antes de perceber o gesto criminoso. 
Emboscada é a tocaia, ou seja, o agente aguarda a vítima passar, para, então, 
surpreendê-la. Dissimulação é a ocultação da intenção hostil, para acometer a 
vítima de surpresa. 
O artigo determina, ainda, que seja procedida uma interpretação analógica, 
uma vez que a sua fórmula genérica diz que anda agravará a pena qualquer 
outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. 
 
A prova do parentesco deverá constar obrigatoriamente nos autos, mediante 
documentos próprios (carteira de identidade, certidão de nascimento ou certidão 
de casamento etc), não podendo a circunstância agravante ser aplicada na sua 
ausência. 
 
Abuso é o uso ilegítimo, é usar mal, no caso, a autoridade que possui, seja de 
natureza particular ou pública, desde que não compreendida na alínea seguinte. 
Entende-se por relações domésticas aquelas estabelecidas entre os 
componentes de uma família, entre patrões e criados, empregados, professores 
e amigos da casa. 
 
Cargo e ofício dizem respeito aos chamados servidores públicos. 
Art. 61 CP – c) a traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro 
recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido; 
 
Art. 61 CP - d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro 
meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum; 
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; 
 
Art. 61 CP - f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações 
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a 
mulher na forma da lei específica; 
 
Art. 61 CP – g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, 
ofício, ministério ou profissão; 
 
 
 
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16 
Ministério encontra-se, normalmente, ligado a atividades religiosas. 
Profissão é a atividade habitualmente exercida por alguém, como seu meio de 
vida, a exemplo do médico, engenheiro, etc. 
 
Criança é uma pessoa até 12 anos de idade incompletos. 
Enfermo é aquele que está acometido por uma enfermidade que o torna 
debilitado, vulnerável, tendo, por essa razão, reduzida sua condição de defesa. 
Para que a agravante em relação a mulher grávida seja aplicada ao agente, é 
preciso que, obrigatoriamente, ela ingresse na sua esfera de conhecimento. O 
agente deve, efetivamente, ter conhecimento do estado de gravidez da vítima. 
 
O que se ofende não é só o bem do indivíduo, mas o respeito à autoridade que 
o tem sob sua imediata proteção e cresce ainda a reprovação do indivíduo pela 
audácia, a pertinácia com que leva adiante o seu desígnio criminoso. 
 
 
A agravante será aplicada também na hipótese de desgraça particular do 
ofendido. Ex: aproveitamento de situação de luto, acidente ou enfermidade da 
vítima ou de seus familiares, podendo-se acrescentar a essas hipóteses 
quaisquer outras que atinjam o ofendido de modo a deprimi-lo. 
 
A agravante de embriaguez não é a de somente embriagar-se, mas de se colocar 
em estado e embriaguez com o fim de praticar determinada infração penal. 
 
Art. 61 CP - h) contra criança, maior de 60 anos, enfermo ou mulher grávida; 
 
Art. 61 CP - i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da 
autoridade; 
 
Art. 61 CP – j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer 
calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido; 
 
Art. 61 CP – j) em estado de embriaguez preordenada; 
 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
17 
Agravantes no caso de concurso de pessoas 
 
Com essa redação, o inciso I do art. 62 do CP permite agravar a pena do chefe 
do grupo criminoso, aquele que se destaca pela sua capacidade de organizar e 
dirigir os demais. 
 
A coação pode ser irresistível ou resistível. Na irresistível, somente o coautor 
responderá pelo crime praticado pelo coagido. Na coação resistível, coautor e 
coagido responderão pela infração penal praticada por este último, porém a lei 
determina que sobre a pena aplicada ao primeiro se faça incidir a agravante. 
 
Instigar significa reforçar, acoroçoar uma ideia criminosa já existente. 
Determinação não possui o mesmo sentido que a indução, posto que na 
hipótese existe uma especial relação de autoridade (pública ou privada) que 
confere ao agente um poder de sujeitar à sua vontade o comportamento do outro 
indivíduo. 
Note-se que o inciso fala em não punível, que não se confunde com “inculpável”. 
Ex: furtar é uma conduta típica, ilícita e culpável, mas furtar o próprio pai é uma 
escusa absolutória existente no art. 181, II, do CP (ou seja, não punível). 
 
Demonstra a completa insensibilidade, a cupidez, a ausência de princípios 
morais básicos do agente. Tais hipóteses configuram motivo torpe. 
 
 
Art. 62 CP – A pena será agravada em relação ao agente que: 
I- promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos 
demais agentes; 
 
Art. 62 CP – II- coage ou induz outrem à execução material do crime; 
 
Art. 62 CP – III- instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua 
autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; 
 
Art. 62 CP – IV- executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou 
promessa de recompensa; 
 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
18 
Circunstâncias atenuantes: 
O rol disposto no art. 65 não é taxativo, uma vez que o art. 66 diz que a penapoderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou 
posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. 
 
 
 
 
Sobre os menores de 21 anos, há o entendimento 
de que eles ainda não estão completamente 
amadurecidos e vivem uma das fases mais 
complicadas do desenvolvimento humano que é a 
adolescência. 
A segunda hipótese, sobre os maiores de 70 anos, 
é estipulada segundo os dados de que a vida média 
do brasileiro vive em torno de 65 a 70 anos, portanto a lei penal entende que o 
castigo da pena poderá, muitas vezes, abreviar-lhe sua morte. 
Embora não tenha o condão, segundo o art. 21, de afastar a infração penal, o 
desconhecimento da lei servirá como circunstância legal atenuante. Quanto 
maior a influência do desconhecimento da lei, maior a redução de pena. 
Valor social é aquele que atende mais aos interesses da sociedade do que aos 
do próprio agente, individualmente considerado. Valor moral, ao contrário, é o 
valor individualizado, atributo pessoal do agente (ex: ofensa à honra do agente). 
O reconhecimento da 
menoridade do réu, 
assim como a idade do 
maior de 70, requerem 
provas por documentos 
hábeis. 
A incidência da circunstância atenuante não pode 
conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal 
(Súmula nº 231/STJ) 
Art. 65 – São circunstâncias que sempre atenuam a pena: 
I- ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 
(setenta) anos, na data da sentença; 
 
 
Art. 65 – II- O desconhecimento da lei; 
 
 
Art. 65 – III- Ter o agente: 
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral; 
 
 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
19 
É diferente do arrependimento eficaz ou mesmo o posterior. A primeira parte da 
alínea fala em evitar ou minorar as consequências do crime, ou seja, a infração 
já foi consumada e o agente somente procura minimizar os seus efeitos. 
Já o arrependimento posterior consiste na reparação 
do dano ou a restituição da coisa é feita até o 
recebimento da denúncia ou da queixa, e na 
atenuante em questão a reparação do dano é levada 
a efeito após o recebimento da denúncia ou da 
queixa, mas antes do julgamento do processo. 
Vale ressaltar que o arrependimento posterior apenas poderá ser aplicado se 
não for mediante violência e grave ameaça, enquanto as atenuantes sim. 
A coação aludida é aquela que o agente podia resistir, pois, caso contrário, 
sendo irresistível a coação, estaria afastada a culpabilidade em virtude de não 
lhe ser exigido outro comportamento. 
Há o mesmo raciocínio quando o agente cumpre a ordem emanada de seu 
superior, conhecendo a sua ilegalidade. Se não conhecesse, estaria também 
afastada a sua culpabilidade. 
Nas duas situações, coação resistível e cumprimento de ordem de autoridade 
superior, embora o agente responda pela infração penal, sua pena deve ser 
reduzida em razão da influência da coação ou da ordem emanada da autoridade 
superior sobre o seu comportamento. 
A última hipótese diz respeito ao crime cometido sob influência de violenta 
emoção, provocada por ato injusto da vítima. É diferente da causa de diminuição 
do homicídio privilegiado, pois neste a pena é reduzida de um sexto a um terço 
se o agente comete o crime sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida 
à injusta provocação da vítima. Nota-se que para a atenuante importa a 
influência, deixar-se influenciar e agir quando o ato poderia ter sido evitado. 
O arrependimento 
posterior é uma causa 
de diminuição de 
pena. 
(3ª fase) 
Art. 65 – b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após 
o crime, evitando-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do 
julgamento, reparado o dano; 
 
 
Art. 65 – c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em 
cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta 
emoção, provocada por ato injusto da vítima; 
 
 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
20 
Desde que o agente admita o seu envolvimento na 
infração penal, incide a atenuante para efeitos de 
minorar a sanção punitiva. Poderá o agente, 
inclusive, confessar o crime no qual foi preso em 
flagrante delito simplesmente com a finalidade de 
obter a atenuação de sua pena. 
Pode ocorrer que, num estádio de futebol, por exemplo, a briga entre torcidas 
desperte uma pancadaria indiscriminada. A ação do grupo pode, muitas vezes, 
influenciar o agente ao cometimento da infração penal. Se não foi ele quem 
provocou a situação de tumulto, poderá ser beneficiado pela atenuante. 
 
CONCURSO DE CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES E ATENUANTES 
 Motivos determinantes – são aqueles que 
impulsionaram o agente ao acometimento do 
delito, tais como o motivo fútil, torpe, de relevante 
valor social ou moral. 
 Personalidade do agente – refere-se a dados 
pessoais, inseparáveis da sua pessoa, como é o 
caso da idade (menor de 21 na data do fato e 
maior de 70 anos na data da sentença). 
 Reincidência – demonstra que a condenação 
anterior não conseguiu exercer seu efeito 
preventivo no agente, pois veio a praticar novo 
crime após o trânsito em julgado da sentença condenatória anterior, 
demonstrando, com isso, sua maior reprovação. 
 
O STJ tem considerado 
a circunstância 
atenuante na hipótese 
em que o julgador tenha 
se valido da confissão 
do agente, mesmo que, 
posteriormente, tenha 
ele se retratado. 
Art. 67 – No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se 
do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como 
tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do 
agente e da reincidência. 
 
Segundo o STJ, a 
atenuante da 
menoridade prepondera 
sobre todas as 
circunstâncias legais ou 
judiciais, desfavoráveis 
ao condenado, incluída 
a agravante de 
reincidência. 
Art. 65 – d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do 
crime; 
 
 
Art. 65 – e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não 
o provocou; 
 
 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
21 
No concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes de idêntico valor, 
a existência de ambas levará ao afastamento das duas, ou seja, não se aumenta 
ou diminui a pena nesse segundo momento. 
 
MAJORANTES E MINORANTES 
São circunstâncias que se observam na terceira etapa da aplicação da pena. 
Elas encontram-se dispostas tanto na parte geral do Código Penal (art. 71 CP) 
como na parte especial (art. 121, §4 CP), bem como na legislação complementar. 
Essas circunstâncias têm sua valoração determinada pela lei, sob forma 
fracionária, como por exemplo o aumento de 2/3 da pena ou diminuição de 1/6 
a 2/3 da pena. 
A terceira fase da pena é a única em que é permitido aplicar a pena abaixo do 
mínimo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 6 
Penas Privativas de Liberdade 
As penas privativas de liberdade previstas pelo Código Penal para os crimes ou 
delitos são as de reclusão e detenção (direcionadas a crimes de menor 
potencial ofensivo). Deve ser ressaltado, contudo, que a Lei das Contravenções 
Penais também prevê sua pena privativa de liberdade, que é a prisão simples. 
As qualificadoras modificam o tipo 
penal, alterando a pena cominada 
em abstrato. Elas se encontram 
sempre abaixo do tipo penal. 
 
São aceitas APENAS 3 
qualificadoras. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
22 
A pena privativa de liberdade vem prevista no preceito secundário de cada tipopenal incriminador, servindo à sua individualização, que permitirá a aferição da 
proporcionalidade entre a sanção que é cominada em comparação com o bem 
jurídico por ele protegido. 
 
PENAS DE RECLUSÃO E DETENÇÃO 
Deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, 
em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime 
fechado (art. 33, caput, CP). 
No caso de concurso material, aplicando-se cumulativamente as penas de 
reclusão e detenção, executa-se primeiro aquela (arts. 69, caput, e 76 do CP). 
Como efeito da condenação, a incapacidade para o exercício do pátrio poder, 
tutela ou curatela, somente ocorrerá com a prática de crime doloso, punido com 
reclusão, cometido contra filho, tutelado ou curatelado (art. 92, II, CP). 
No que diz respeito à aplicação de medida de segurança, se o fato praticado 
pelo inimputável for punível com detenção, o juiz poderá submetê-lo a tratamento 
ambulatorial (art. 97, CP). 
 
REGIMES DE CUPRIMENTO DE PENA 
Como se percebe pelo inciso III do art. 59 do Código Penal, deverá o juiz, ao 
aplicar a pena ao sentenciado, determinar o regime inicial de seu cumprimento, 
a saber, fechado, semiaberto ou aberto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Regime fechado 
Execução da pena em 
estabelecimento de 
segurança máxima ou 
média. 
Regime semiaberto 
Execução da pena em 
colônia agrícola, industrial 
ou estabelecimento 
similar. 
Regime aberto 
Execução da pena em 
casa de albergado ou 
estabelecimento 
adequado. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
23 
 
FIXAÇÃO LEGAL DO REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA 
O Código Penal determina que as penas privativas de liberdade deverão ser 
executadas em forma progressiva, sendo o mérito do condenado, e fixados os 
critérios para a escolha do regime inicial de cumprimento de pena, a saber: 
a) o condenado a pena de reclusão superior a oito anos deverá começar a 
cumpri-la em regime fechado; 
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a quatro anos e 
não exceda a oito, poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime 
semiaberto; 
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a quatro 
anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. 
d) em caso de crimes hediondos e equiparados, o art. 2º, §1º da Lei n. 8.072, 
de 1990, estabelece regime inicial fechado obrigatório. No entanto, a 
constitucionalidade dessa regra vem sendo questionada, pois a 
obrigatoriedade fere o princípio da individualização executória das penas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Art. 59, CP – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta 
social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e as 
consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, 
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e 
prevenção do crime: 
III- o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; 
IV- a substituição da pena privativa de liberdade aplicada, por outra espécie de 
pena, se cabível. 
O sistema adotado pelo Brasil é o 
PROGRESSIVO 
Súmula n. 718 – “A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato 
do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime 
mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada. 
Súmula n. 719 – “A imposição do regime de cumprimento mais severo 
do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea. 
Súmula n. 269 – “É admissível a adoção do regime prisional 
semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a 
quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
24 
REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO (RDD) 
É o regime de disciplina carcerária especial, com maior grau de isolamento e 
restrições de contato com o mundo exterior, aplicado como sanção disciplinar ou 
medida cautelar. 
O RDD é a espécie mais drástica de sanção disciplinar, restringindo, como 
nenhuma outra, a liberdade de locomoção do preso e alguns dos seus direitos. 
Ele tem incidência quando: 
 O condenado, ou o preso provisório, pratica de fato previsto como crime 
doloso ocasione subversão da ordem ou disciplina internas; 
 O preso provisório ou condenado, nacionais ou estrangeiros, apresenta 
alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da 
sociedade; 
 Há fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em 
organizações criminosas, quadrilha ou bando por parte do preso provisório 
ou o condenado. 
 
 
 
Características – 
I- duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição 
da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da 
pena aplicada; 
II- recolhimento em cela individual; 
III- visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração 
de duas horas; 
IV- o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol. 
 
REGRAS DO REGIME FECHADO 
O condenado ao regime fechado fica sujeito a trabalho no período diurno e a 
isolamento durante o repouso noturno. O trabalho é um direito do preso, 
segundo o inciso II do art. 41 da Lei de Execução Penal. 
Por essa razão, se o Estado, em virtude de sua incapacidade administrativa, não 
lhe fornece trabalho, não poderá o preso ser prejudicado por isso, uma vez que 
Há veementes protestos pela inconstitucionalidade do 
dispositivo, sob a alegação de que ele violaria o princípio 
da humanidade das penas. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
25 
o trabalho gera o direito à remição da pena, fazendo com que, para cada três 
dias de trabalho, o Estado tenha de remir um dia de pena do condenado. 
Sendo viabilizado o trabalho, este será comum dentro do estabelecimento, na 
conformidade das aptidões ou ocupações anteriores do condenado, desde que 
compatíveis com a execução da pena. 
O trabalho externo será admissível para os presos 
em regime fechado somente em serviços ou obras 
públicas realizadas por órgãos da administração 
direta e indireta, ou entidades privadas, desde que 
tomadas as cautelas contra a fuga em favor da 
disciplina (e o cumprimento mínimo de um sexto da 
pena). 
 
 
 
 
 
 
 
 
REGRAS DO REGIME SEMIABERTO 
Nesse regime poderá ser realizado exame criminológico, nos termos do 
parágrafo único do art. 8º da Lei de Execução Penal, a fim de orientar a 
individualização da execução, e da Súmula nº 439 do STJ, que diz ser admitido 
o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão 
motivada. 
A pena deverá ser cumprida em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento 
similar, sendo-lhe permitido o trabalho em comum durante o período diurno. 
É admissível o trabalho externo, bem como a frequência a cursos supletivos 
profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior. 
Também poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de 
educação profissional, parte do tempo de execução da pena, observado o 
disposto no inciso I do §1º do art. 126 da Lei de Execução Penal. 
 
Deverá ser concedida 
a remição, mesmo que 
não haja efetivo 
trabalho. 
A prisão de segurança máxima é destinada aos crimes de segurança 
pública, como ocorre nas hipóteses dos “chefes” de organizações 
criminosas, ou do próprio preso, condenado ou provisório, a exemplo 
daquele cujo segurança estaria comprometida em outro estabelecimento 
penal. A lei regulamentadora é a nº 11.671/08. 
A inclusão do preso nesse tipo de estabelecimento é de natureza 
excepcional, devendo, ainda, ser determinadoo prazo de sua duração, 
que não poderá ser superior a 360 dias, podendo ser renovado, também 
excepcionalmente, quando solicitado motivadamente pelo juízo de 
origem, observados os requisitos de transferência. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
26 
Remição por trabalho – está prevista na Lei de Execução Penal, garantindo um 
dia de pena a menos a cada três dias de trabalho. A remição pelo trabalho é um 
direito a quem cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto. 
Remição por estudo – o condenado que cumpre a pena em regime fechado ou 
semiaberto pode remir um dia de pena a cada 12 horas de frequência escolar, 
caracterizada por atividade de ensino fundamental, médio, inclusive 
profissionalizante, superior, ou ainda de requalificação profissional. 
Remição por leitura – o preso deve ter o prazo de 22 a 30 dias para a leitura de 
uma obra, apresentando ao final do período uma resenha a respeito do assunto, 
que deverá ser avaliada pela comissão organizadora do projeto. Cada obra lida 
possibilita a remição de quatro dias de pena, com o limite de 12 obras por ano, 
ou seja, no máximo 48 dias de remição por leitura a cada doze meses. 
 
REGRAS DO REGIME ABERTO 
O regime aberto é uma ponte para a completa reinserção do condenado na 
sociedade. O seu cumprimento é realizado em estabelecimento conhecido como 
Casa do Albergado. Esse regime, baseado na autodisciplina e no senso de 
responsabilidade do condenado, permite que este, fora do estabelecimento e 
sem vigilância, trabalhe, frequente curso ou exerça outra atividade autorizada, 
permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga. 
No regime aberto não há previsão legal para remição da pena pelo trabalho, uma 
vez que somente poderá ingressar nesse regime o condenado que estiver 
trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente. 
No entanto, há a possibilidade do condenado que cumpre pena em regime aberto 
remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, 
parte do tempo de execução da pena, observado o disposto no inciso I do §1º 
do art. 126 da Lei de Execução Penal. 
 
 
 
 
 
 
Tanto o juiz do processo de conhecimento, caso o regime seja inicialmente 
previsto para o cumprimento da pena, como o da execução, em caso de 
Sem trabalho não será possível o regime aberto. 
Exceções: condenado maior de setenta anos; 
condenado acometido de doença grave; condenada 
com filho menor ou deficiente físico ou mental; 
condenada gestante. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
27 
progressão de regime, poderão estabelecer condições especiais para a 
concessão de regime aberto. 
É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44, CP) como condição 
especial ao regime aberto – Súmula nº 493. 
 
 
 
 
PROGRESSÃO E REGRESSÃO DE REGIME 
 
 
 
PROGRESSÃO – 
O §2º do art. 33 do Código Penal determina que 
as penas privativas de liberdade deverão ser 
executadas em forma progressiva, segundo o 
mérito do condenado. 
A progressão é um misto de tempo mínimo de 
cumprimento de pena (critério objetivo) com o 
mérito do condenado (critério subjetivo). A 
progressão é uma medida de política criminal que serve de estímulo ao 
condenado durante o cumprimento de sua pena. 
O art. 112 da Lei de Execução Penal diz que a pena privativa de liberdade será 
executada em forma progressiva, com a transferência para regime menos 
rigoroso, a ser determinado pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos 
um sexto da pena no regime anterior. 
Nos crimes hediondos e equiparados, a 
regra é diferente: de acordo com o art. 2º, §2º 
da Lei n. 8.072, de 1990, a progressão de 
regime em tais delitos pressupõe cumprimento 
de dois quintos da pena, caso o condenado 
seja primário, ou três quintos, em caso de 
reincidência. 
 
A progressão deverá 
sempre obedecer ao 
regime legal imediatamente 
seguinte ao qual o 
condenado vem cumprindo 
sua pena. Ex: não há a 
possibilidade do condenado 
progredir diretamente do 
regime fechado para o 
regime aberto. 
Para a progressão de 
regime, o cumprimento 
de parcela da pena não 
é o suficiente. Mister se 
verifique o mérito do 
condenado. 
Art. 115, LEP – O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a 
concessão de regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e 
obrigatórias: 
I- permanecer no local que foi designado, durante o repouso e nos dias de 
folga; 
II- sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados; 
III- não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial; 
IV- comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando 
for determinado. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
28 
REGRESSÃO – 
Da mesma forma que o condenado pode progredir de regime prisional, a pena 
também poderá ser executada na forma regressiva, com transferência a regime 
mais restritivo. Essa é a inteligência do art. 118 da LEP. 
Isso ocorrerá quando o condenado praticar fato definido como crime doloso ou 
falta grave (art. 50 da LEP), de acordo com o inciso I do art. 118; ou sofrer 
condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em 
execução, torne incabível o regime (art. 111 da LEP), consoante o inciso II. 
O condenado, ainda, será transferido do regime aberto se, além das hipóteses 
referidas nos incisos, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a 
multa cumulativamente imposta, segundo redação do §1º do art. 118 da LEP. 
Nas hipóteses do inciso I e do §1º, o condenado terá direito à ampla defesa 
anterior à regressão. 
 
DETRAÇÃO 
Detração é o cômputo da pena ou na medida de segurança a ser executada do 
período em que o condenado ficou preso – seja a prisão processual ou 
administrativa –, internado em hospital de custódia e tratamento ou 
estabelecimento congênere, ou teve sua liberdade restringida por qualquer outro 
modo (art. 42 do Código Penal). 
 
 
 
 
 
Ex: se uma pessoa for condenada a uma pena privativa de liberdade de 6 anos 
de reclusão, mas ficou presa temporariamente 30 dias, e preventivamente outros 
90 dias, esse período de custódia cautelar – 120 dias – será deduzido do 
montante da sanção penal, restando 5 anos e 8 meses de pena a cumprir. 
A detração é aplicada também às penas restritivas de direitos. Ex: se a pena 
privativa de liberdade de 8 meses é substituída por prestação de serviços à 
comunidade, deverá a pena substitutiva ser cumprida no mesmo tempo. 
Entretanto, se, durante o processo, o então réu ficou preso preventivamente por 
um mês, a prestação de serviços se dará ao longo de sete meses, em virtude da 
detração. 
Detração é aplicada quando há prisão 
provisória ou medida de segurança, já a 
remição é aplicada ao preso após a sua 
condenação já sentenciada. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
29 
 
 
 
Aula 7 
Penas Restritivas de Direito 
Há casos em que podemos substituir a pena de prisão por outras alternativas, 
evitando-se, assim, os males que o sistema carcerário acarreta, principalmente 
com relação àqueles presos que cometeram pequenos delitos e que se 
encontram misturados com delinquentes perigosos. 
As penas substitutivas à prisão, apesar das posições em contrário, constituem 
uma solução, mesmo que parcial, para o problema relativo à resposta do Estado 
quando do cometimento de uma infração penal. 
Requisitos para a substituição: 
1- Quando aplicada pena privativa de liberdade não superior a 4 anos e o 
crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou,qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo (art. 44, I do 
CP); 
2- Inexistência da reincidência em crime doloso (art. 44, inciso II, do CP); 
Mesmo que se qualquer uma das duas infrações penais que estão sendo 
colocadas em confronto, a fim de aferir a reincidência, for de natureza culposa, 
mesmo sendo o réu for considerado tecnicamente reincidente, isso não impedirá 
a substituição. 
 
 
 
 
 
Ex: se o sujeito ativo for reincidente quando da condenação por crime de furto, 
já que cometera homicídio em épocas passadas, poderá ser beneficiado; se a 
reincidência se deu em virtude de dois furtos, não. 
O STJ entende que a detração só se opera 
para crimes cometidos antes da segregação 
cautelar, para que não se crie uma espécie de 
crédito de pena. 
Art. 44, §3 do CP – Se o condenado for reincidente, o juiz 
poderá aplicar a substituição, desde que, em face de 
condenação anterior, a medida seja socialmente 
recomendável e a reincidência não se tenha operado em 
virtude de prática do mesmo crime. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
30 
3- A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do 
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa 
substituição seja suficiente. 
Esse terceiro requisito serve de norte ao julgador para que determine a 
substituição somente nos casos em que se demonstrar ser ela a opção que 
atende tanto o condenado quanto a sociedade. 
Pena restritiva de direito não quer significar impunidade ou mesmo descaso para 
com a proteção dos bens jurídicos mais importantes tutelados pelo Direito Penal. 
A pena, como diz a última parte do caput do art. 59 do CP, deve ser necessária 
e suficiente para a reprovação e prevenção do crime. 
 
 
 
 
 
 
 
DURAÇÃO DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS 
Diz o art. 55 do Código Penal que as penas restritivas de direitos referidas nos 
incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma duração da pena privativa de 
liberdade substituída, ressalvado o disposto no §4º do art. 46. 
 
FORMAS DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA 
As formas de substituição da pena de prisão por pena restritiva de direitos 
dependem da quantidade de pena a ser substituída: se a pena de prisão for igual 
ou inferior a 1 ano, pode ela ser substituída por uma pena restritiva de 
direitos, ou por pena de multa; se superior a 1 ano, por duas penas 
restritivas de direitos ou por uma pena restritiva e multa (art. 44, §2º do CP). 
 
 
 
 
No caso das infrações de menor potencial ofensivo são 
aplicadas medidas alternativas à pena, como a transação 
penal. Nela o autor da infração, para evitar a ação penal 
contra si, poderá, desde logo, aceitar uma proposta do 
Ministério Público, se obrigando ao cumprimento de certas 
condições, que poderão ser análogas às penas restritivas de 
direitos. 
 
Art. 44, §4 do CP – Se a pena substituída for superior a 
um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena 
substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à 
metade da pena privativa de liberdade fixada. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
31 
PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA (art. 43, inciso I) – 
Consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus 
dependentes ou a entidade pública ou privada, com 
destinação social, de importância fixada pelo juiz, 
não inferior a um salário-mínimo nem superior a 
360 salários-mínimos. O valor pago será deduzido 
do montante de eventual condenação em ação 
penal de reparação civil, se coincidentes os 
beneficiários. 
Detalhes a serem observados: 
a) A vítima e seus dependentes têm prioridade no recebimento da prestação 
pecuniária, não podendo o juiz determinar o seu pagamento à entidade 
pública ou privada quando houver aqueles; 
b) Nas infrações penais onde não haja vítima, a exemplo do delito de 
formação de associação criminosa (art. 288 do CP) poderá a prestação 
pecuniária ser dirigida à entidade pública ou privada com destinação 
social; 
c) A condenação tem os seus limites estipulados em, no mínimo, 1 salário 
mínimo e, no máximo, 360 salários; 
d) O valor pago à vítima ou a seus dependentes será deduzido do montante 
em ação de reparação civil, no caso de serem coincidentes os 
beneficiários. 
O §2º do art. 45 do CP ressalva que, se houver aceitação do beneficiário, a 
prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza. Ex: a oferta 
de mão de obra e a doação de cestas básicas. 
 
 
 
 
 
PERDA DE BENS E VALORES (art. 43, inciso II) – 
A perda de bens (móveis ou imóveis) e valores (tanto a moeda corrente 
depositada em conta bancária como todos os papéis que, a exemplo das ações, 
representam importâncias negociáveis na bolsa de valores) pertencentes aos 
condenados dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo 
Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto – o que for maior – o montante 
Não há necessidade de 
ter ocorrido um 
prejuízo material, 
podendo ser aplicada 
nas hipóteses em que 
a vítima sofra um dano 
moral. 
Art. 17 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 – É 
vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou 
outras de prestação pecuniária, bem como a substituição 
de pena que implique o pagamento isolado de multa. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
32 
do prejuízo causado ou o proveito obtido pelo agente ou por terceiro, em 
consequência da prática do crime. 
Só cabe o confisco dos instrumentos do crime e dos produtos do crime ou do 
proveito obtido com eles (CP, art. 91), isto é, bens intrinsecamente antijurídicos; 
por seu turno, a perda de bens não requer sejam bens frutos de crime. O que o 
condenado vai perder são seus bens ou valores legítimos, os que integram seu 
patrimônio lícito. Nesse caso, portanto, dispensa-se a prova da origem ilícita 
deles. 
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE OU ENTIDADES PÚBLICAS 
(art. 43, inciso IV) – 
Consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado, que serão por ele 
levadas a efeito em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e 
outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais, 
sendo que as tarefas que lhe serão atribuídas devem ser de acordo com suas 
aptidões, devendo ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de 
condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho (art. 
46, §1º, §2º e §3º do CP). 
A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas somente será 
aplicada às condenações superiores a seis meses de privação de liberdade, 
sendo que até seis meses poderão ser aplicadas as penas substitutivas previstas 
nos incisos I (prestação pecuniária), II (perda de bens e valores), V (interdição 
temporária de direitos) e VI (limitação de fim de semana) do art. 43 do CP, além 
da multa. Exceção: delito de consumo de drogas (prazo máximo de 5 meses). 
INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS (art. 43, inciso V) – 
Formas de interdição de direitos: 
I- Proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem 
como de mandato eletivo; 
A autoridade deverá, em 24 horas, contadas do recebimento do ofício expedido 
pelo juiz da execução determinando a suspensão temporária do exercício de 
cargo, função ou atividade pública, bem com mandato eletivo, baixar ato, a partir 
do qual a execução terá início. 
II- Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que 
dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do 
poder público; 
Na hipótese, por exemplo, de um médico ter sido condenado por ter, no exercíciode suas atividades profissionais, culposamente causado a morte de um paciente. 
III- Suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo; 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
33 
Somente será cabível quando a infração penal cometida pelo condenado for de 
natureza culposa e relacionada com a condução de veículo automotor, uma vez 
que, se o crime tiver sido doloso e se o agente tiver utilizado o seu veículo como 
instrumento para o cometimento do delito, não terá aplicação tal modalidade de 
interdição temporária de direitos. 
IV- Proibição de frequentar determinados lugares e 
V- Proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame 
públicos. 
Para que a mencionada interdição temporária de direitos venha a ser aplicada, 
deverá ter alguma ligação a infrações penais que digam respeito a fatos que, de 
alguma forma, traduzam a finalidade do agente de beneficiar-se, 
fraudulentamente, com sua aprovação em concurso, avaliação ou exame 
públicos. 
LIMITAÇÃO DE FIM DE SEMANA (art. 43, inciso VI) – 
Consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por cinco horas 
diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado. 
Durante a permanência, poderão ser ministrados ao condenado cursos e 
palestras ou atribuídas atividades educativas. 
 
CONVERSÃO DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS 
A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer 
o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena 
privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena 
restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de 30 dias de detenção ou 
reclusão. 
A conversão também ocorre na hipótese de não comparecimento à entidade ou 
programa designado, bem como na recusa da prestação do serviço, desde que 
não haja justificativa para tanto. 
Assim, entende-se que, antes de ser levada a efeito a conversão, deverá o juiz 
da execução designar uma audiência de justificação, a fim de que o condenado 
nela exponha os motivos pelos quais não está cumprindo o disposto na 
sentença. 
A Lei de Execução Penal, em seu art. 181, consagra outras hipóteses de 
conversão: 
 Quando o condenado não for encontrado por estar em lugar incerto e não 
sabido, ou desatender a intimação por edital; 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
34 
 Não comparecer, injustificadamente, à entidade ou programa em que 
deva prestar serviço; 
 Recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe foi imposto; 
 Praticar falta grave; 
 Sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade cuja 
execução não tenha sido suspensa. 
 
 
 
 
 
 
Pena de Multa 
A multa é uma das três modalidades de pena cominadas pelo CP e consiste no 
pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em 
dias-multa. 
A pena de multa atende às necessidades atuais de descarcerização, punindo o 
autor da infração penal com o pagamento de importância determinada pelo juiz, 
cujo valor deverá obedecer aos limites mínimo e máximo ditados pelo Código 
Penal. 
A multa poderá substituir a pena aplicada desde que a condenação seja igual ou 
inferior a um ano. 
 
 
 
 
 
Na fixação da pena de multa, o juiz deve atender, principalmente, à situação 
econômica do réu, podendo seu valor ser aumentado até o triplo se o juiz 
considerar que é ineficaz, em virtude da saúde financeira do condenado, embora 
Sistema de dias-multa: a pena de multa será, no mínimo, de 10 e, no 
máximo, de 360 dias-multa. 
O valor do dia-multa será fixado pelo juiz, não podendo ser inferior a 
um trigésimo do valor do maior salário-mínimo mensal vigente à época 
do fato, nem superior a cinco vezes esse salário. 
 
Havendo a conversão, independentemente do tempo de 
cumprimento da sanção restritiva, adotou-se o princípio da 
detração penal, deduzindo-se o tempo de pena restritiva 
efetivamente cumprido. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
35 
aplicada no máximo (art. 60 e §1º do CP). O valor da multa será atualizado, 
quando da execução, pelos índices de correção monetária (art. 49, §2º do CP). 
Pagamento da pena de multa – uma vez transitada em julgado a sentença 
penal condenatória, a multa deverá ser paga dentro de dez dias. A requerimento 
do condenado e conforme as circunstâncias, o juiz pode permitir que o 
pagamento se realize em parcelas mensais (art. 50, CP). 
A cobrança da multa pode efetuar-se mediante desconto no vencimento ou no 
salário do condenado quando: 
a) Aplicada isoladamente; 
b) Aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos; 
c) Concedida a suspensão condicional da pena. 
O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do 
condenado e de sua família (art. 50, §1º e §2º, do CP). 
A multa perdeu o atributo da conversibilidade: quando adimplida, não mais 
pode ser convertida em pena de prisão. 
 
 
 
 
 
É suspensa a execução da pena de multa, se sobrevém ao condenado doença 
mental. (art. 52, CP) 
 
Aula 9 
Ação Penal 
Conceito: é ação, civil ou penal, um direito subjetivo de se invocar do Estado-
Administração a sua tutela jurisdicional, a fim de que decida sobre determinado 
fato trazido ao seu crivo, trazendo de volta a paz social, concedendo ou não o 
pedido aduzido em juízo. 
A ação penal, portanto, é o direito que o Estado – ou, eventualmente, o ofendido 
– tem de ir a juízo para obtenção de um provimento jurisdicional. 
Caso não haja o pagamento do valor correspondente à pena 
de multa no prazo de dez dias, e não tendo o condenado 
solicitado o seu parcelamento, deverá ser extraída certidão 
da sentença condenatória com trânsito em julgado, que 
valerá como título executivo judicial, para fins de execução. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
36 
ESPÉCIES 
O Código Penal e a legislação processual penal preveem duas espécies de ação 
penal, a saber: ação penal pública (de iniciativa pública) e ação penal privada 
(de iniciativa privada). A regra prevista no art. 100 do CP diz que toda ação penal 
é pública, salvo quando a lei expressamente declara privativa do ofendido. 
 
AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PÚBLICA – 
São promovidas pelo órgão oficial, ou seja, pelo Ministério Público. 
Ela pode ser: incondicionada ou condicionada à representação do ofendido 
ou à requisição do Ministro da Justiça. 
 
Ação penal de iniciativa pública incondicionada: 
Diz-se incondicionada a ação penal e iniciativa pública quando, para que o 
Ministério Público possa iniciá-la ou, mesmo, requisitar a instauração de 
inquérito policial, não se exige qualquer condição. É a regra geral das infrações 
penais. 
Pelo fato de não existir qualquer condição que impossibilite o início das 
investigações pela polícia ou que impeça o Ministério Público de dar início à ação 
penal pelo oferecimento de denúncia, é que o art. 27 do CPP diz que: 
 
Ação penal de iniciativa pública condicionada à representação do ofendido 
ou à requisição do Ministro da Justiça: 
Pode acontecer que a legislação exija, em determinadas infrações penais, a 
conjugação da vontade da vítima ou de seu representante legal, a fim de que o 
Ministério Público possa aduzir em juízo a sua pretensão penal, condicionando 
o início das investigações policiais e o oferecimento de denúncia à apresentação 
de sua representação. 
Deve ser ressaltado que a representação do ofendido ou de seu representante 
legal não precisa conter grandes formalismos. Nela, o ofendido ou o seu 
representante legal simplesmente declara, esclarece a suavontade no sentido 
de possibilitar ao Ministério Público a apuração dos fatos narrados, a fim de 
Art. 27 – Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério 
Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, 
informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os 
elementos de convicção, apresentando-lhe, pois, sua notitia criminis. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
37 
formar a sua convicção pessoal para, se for o caso, dar início à ação penal pelo 
oferecimento de denúncia. 
Tanto na hipótese de representação do ofendido ou requisição do Ministro da 
Justiça, o Ministério Público não está obrigado a dar início à ação penal, pois 
tem total liberdade para pugnar pelo arquivamento do inquérito policial ou das 
peças de informação após emitir, fundamentadamente, a sua opinio delicti. 
 
 
 
 
PRINCÍPIOS INFORMADORES DA AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PÚBLICA 
Obrigatoriedade – traduz-se no fato de que o Ministério Público tem o dever de 
dar início à ação penal desde que o fato praticado pelo agente seja, pelo menos 
em tese, típico, ilícito e culpável. Em suma, não há discricionariedade quanto à 
investigação ou quanto à conveniência da denúncia. 
Oficialidade – significa que o persecutio criminis in judicio será procedida por 
órgão oficial, qual seja, o Ministério Público, pois, segundo o inciso I do art. 129 
da CRFB/88, compete-lhe, no rol de suas funções institucionais, promover, 
privativamente, a ação penal pública, na forma de lei. 
Indisponibilidade – fica vedado ao órgão oficial encarregado de promover a 
ação penal – ou seja, ao Ministério Público – desistir da ação penal por ele 
iniciada. 
Indivisibilidade – determina que se a infração penal for praticada em concurso 
de pessoas, todos aqueles que para ela concorreram devem receber o mesmo 
tratamento, não podendo o Ministério Público escolher a quem acionar. 
Intranscendência – a ação penal somente deve ser proposta em face daqueles 
que praticaram a infração penal, não podendo atingir pessoas estranhas ao fato 
criminoso. 
 
AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA – 
É aquela que em que o direito de acusar pertence, exclusiva ou 
subsidiariamente, ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo. 
Ela se denomina ação privada, porque seu titular é um particular, em 
contraposição à ação penal pública, em que o titular do ius actionis é um órgão 
estatal. 
Representação do ofendido e requisição do Ministro da 
Justiça são condições de procedibilidade para o 
oferecimento da ação penal. 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
38 
A ação penal de iniciativa privada classifica-se em: privada propriamente dita, 
privada subsidiária e privada personalíssima. 
 
Privada propriamente dita 
São aquelas promovidas mediante queixa do ofendido ou de quem tenha 
qualidade para representá-lo. Em determinadas infrações penais, a lei penal 
preferiu que o início da persecutio criminis ficasse a cargo do particular. 
No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão 
judicial, sendo a ação penal de iniciativa privada propriamente dita, o direito de 
oferecer queixa ou de prosseguir na ação penal passa ao cônjuge, ascendente, 
descendente ou irmão, nos termos do §4º do art. 100 do CP e do art. 31 do 
CPP. 
 
Privada subsidiária da pública 
As ações penais de iniciativa privada 
subsidiárias da pública encontram o respaldo 
não somente na legislação penal (art. 100, 
§3º, do CP e art. 29 do CPP), como também 
no texto da CRFB/88 (art. 5º, LIX). O 
legislador quis permitir ao particular, vítima 
de determinada infração penal, que 
acompanhasse as investigações, bem como 
o trabalho do órgão oficial encarregado da 
persecução penal. 
Em razões desses dispositivos legais, se o Ministério Público, por desídia sua, 
deixar de oferecer denúncia no prazo legal, abre-se a possibilidade de, 
substituindo-o, oferecer sua queixa-crime, dando-se, assim, início à ação penal. 
 
 
Enquanto o particular estiver à frente dessa ação penal, o Ministério Público 
funcionará, obrigatoriamente, como fiscal da lei, assumindo a posição original de 
parte nos casos de negligência 
 
 
 
Temos aqui uma ação pública em essência, formalmente 
travestida de ação privada. 
O prazo do Ministério 
Público para o oferecimento 
da denúncia é de 5 dias se o 
réu estiver preso e de 15 
dias se o réu estiver solto ou 
for afiançado. 
 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
39 
Privada personalíssima 
São aquelas em que somente o ofendido, e mais ninguém, pode propô-las. Em 
virtude da natureza da infração penal praticada, entendeu por bem a lei que tal 
infração atinge a vítima de forma tão pessoal, tão íntima, que somente a ela 
caberá emitir o seu juízo de pertinência a respeito da propositura ou não dessa 
ação penal. 
O único exemplo encontrado no Código Penal está no art. 236, p. único. 
 
PRINCÍPIOS INFORMADORES DA AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA 
Oportunidade – confere ao titular da ação penal o direito de julgar da 
conveniência ou inconveniência quanto à propositura da ação penal. Se quiser 
promovê-la, poderá fazê-lo, se não o quiser, não o fará. 
A queixa-crime não é de oferecimento obrigatório, mesmo que eventual 
investigação tenha carreado aos autos prova da materialidade criminosa e 
indícios de autoria. 
 
 
Disponibilidade – mesmo depois da sua propositura, o particular pode, valendo-
se de determinados institutos jurídicos, dispor da ação penal por ele proposta 
inicialmente, a exemplo do que ocorre com a perempção, na qual o querelante 
poderá deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos, 
fazendo com que a ação penal seja considerada perempta, extinguindo-se, 
assim, a punibilidade. 
 
 
 
Indivisibilidade – se o fato foi cometido por várias pessoas, todas elas devem, 
assim, por ele responder. Não poderá a vítima, por exemplo, escolher a quem 
processar, devendo a sua ação penal ser dirigida a todos os autores da ação 
penal. 
 
CONDIÇÕES DA AÇÃO 
Para que o Estado possa conhecer e julgar a pretensão deduzida em juízo, será 
preciso que aquele que invoca o seu direito subjetivo à tutela jurisdicional 
Na disponibilidade, o ofendido pode decidir pela 
conveniência no oferecimento da queixa-crime, 
igualmente pode desistir da ação já instaurada, ou 
abandoná-la a qualquer tempo! 
Na oportunidade, se confere ao ofendido ou ao seu 
representante legal a discricionariedade. 
 
 
 
RESUMO DIREITO PENAL II | Maria Eduarda Carl Gaboardi 
40 
preencha determinadas condições, sem as quais a ação se reconhecerá 
natimorta, ou seja, embora exercitada, não conseguirá alcançar a sua finalidade, 
pois perecerá logo após o seu exercício. 
Assim, são condições necessárias ao regular exercício do direito de ação de 
natureza penal: 
1- Legitimidade das partes; 
2- Interesse de agir; 
3- Possibilidade jurídica do pedido; 
4- Justa causa. 
 
LEGITIMIDADE DAS PARTES – 
Diz respeito à pertinência subjetiva do direito de agir, ou seja, as partes devem 
ser legitimadas pela lei para pleitearem em juízo aquilo que lhes é devido. 
Ela é expressamente determinada pela lei, que aponta o titular da ação, podendo 
tanto ser o Ministério Público, órgão acusador oficial, ou o particular. 
 
 
 
 
 
No processo penal, há o entendimento majoritário de que pessoa jurídica não 
pode figurar no polo passivo (réu) da relação jurídico-processual. Ou seja, em 
relação à legitimidade passiva, somente pessoa física pode ser réu em processo

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