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Resumo de Psicopatologia I

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HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA
CECCARELLI: podemos entender essa ciência como a área do conhecimento científico que estuda, avalia e desenvolve estratégias de tratamento para uma pessoa que padece de algo que ele desconhece e o faz sofrer.
Por séculos tentou-se entender a doença mental em diferentes contextos socioambientais. 
ARISTÓTELES: atribuiu os males da mente à paixão, um elemento inerente ao ser humano. O homem deveria saber dosá-las para encontrar equilíbrio entre paixão e razão. Aristóteles não considerava a paixão um mal que leva a agir contra a vontade do indivíduo, mas sim, como uma força que justifica o agir desse indivíduo.
HIPÓCRATES: filósofo grego e considerado o pai da medicina moderna, separou a medicina da religião e da superstição. Esse filósofo defendeu que as doenças mentais tinham causas naturais e deveriam ser tratadas como outras doenças.
Nesse período, foi inaugurada a clínica baseada na descrição das alterações cognitivas, volitivas, emocionais e orgânicas que passam a ser interpretadas como expressões das disfunções hormonais, resultando nos quadros clínicos de mania, melancolia, histeria, entre outros, ou seja, o pensamento dessa época era que o humor implicava nos humores do corpo humano, que por sequência influíam no caráter dos indivíduos, no seu temperamento.
SANTA CLARA: melancolia foi “explicada pela presença de uma quantidade excessiva e fortuita de bile negra no corpo, e entre os religiosos da Idade Média é reconhecida como um adoecimento espiritual”
PLATÃO: concebeu a psique (alma) como sendo constituída por três partes: racional, afetivo-espiritual e apetitiva. Platão considerava que a loucura era proveniente da desarmonia entre as três partes do sistema psíquico, o que provocava o desvio na racionalidade de seguir as leis lógicas.
PINEL: pretendeu abolir ao priorizar o método clínico da psicopatologia; a obra de Pinel constituiu um sistema descritivo, sem ser explicativo, das doenças mentais, ele enumerou quatro grandes classes de manifestações mórbidas: a mania, a melancolia, a demência e o idiotismo.
PINEL: tratou dos distúrbios das faculdades do entendimento, como: sensibilidade ou sensação, percepção, emoções e afecções morais, imaginação, pensamento, julgamento, memória e caráter. 
Esse estudioso construiu uma doutrina baseada numa concepção materialista psicofisiologica.
PINEL: a loucura não era a desrazão que desumaniza, é, apenas, um desequilíbrio na razão ou nos afetos, assim era possível resgatar a identidade humana do alienado, colocando um fim a sua exclusão.
PINEL: defendia que a observação demorada da conduta dos pacientes era o método mais eficiente para diagnosticar, ordenar e catalogar os sintomas e os distúrbios mentais. As correntes foram retiradas e os doentes começaram a ser tratados como seres humanos, não mais de forma desumanizada. Muitos se tornaram calmos e passaram a andar livremente pelo hospital. Alguns que eram considerados “casos perdidos”, se recuperaram.
KRAEPLIN: reduziu a identificação de uma forma patológica aos seus sintomas, nem à sua etiologia, nem à sua terapêutica, ele empreendeu uma cartografia ordenada da psicopatologia de que ainda vive a psiquiatria moderna. 
GRIESINGER: foi um grande expoente da Psiquiatria, suas obras apresentavam as características de um manual prático, dividindo-se didaticamente em: considerações gerais, semiologia, etiopatogenia, formas clínicas, anatomopatologia, prognóstico e terapêutica, tal como até hoje, no século XXI. Teoria do “ego” e de sua metamorfose no delírio.
JASPERS: fez uma crítica ao método empírico tradicional científico e propôs o método fenomenológico. Em 1913, com o intuito de discutir questões relativas às doenças mentais, publicou Psicopatologia Geral. Jaspers compreendia a psicopatologia como ciência cuja função seria observar e descrever os fenômenos psíquicos patológicos, diferentemente da psiquiatria que tem por objetivo diagnosticá-los e tratá-los.
DALGALARRONDO: refletiu com base na conceituação de Jaspers que “não se pode compreender ou explicar tudo o que existe em um homem por meio de conceitos psicopatológicos, ao se diagnosticar Van Gogh e fazer uma análise psicopatológica de sua biografia, não se explicará totalmente a vida e a obra desse artista” e completa “sempre resta algo que transcende à psicopatologia, e, mesmo, à ciência, e que permanece no domínio do mistério”.
FREUD: situou-se na confluência de uma ciência médica preocupada com a classificação e de uma filosofia do tratamento moral da loucura. A psicanálise apareceu como uma teoria e uma nova técnica de tratamento de doenças mentais, a fim de preencher uma lacuna científica no âmbito da psicologia e da psicopatologia, ligando a medicina à filosofia da mente e à epistemologia da neurociência e da psicopatologia.
NORMALIDADE X LOUCURA
1º MOMENTO – A NAU DOS LOUCOS
A mais antiga interpretação popular que se deu a loucura foi a de mágico mística, pois se pensava que o louco era um possuído pelo demônio. Assim é que a mais antiga doença mental levou o nome de epilepsia (epi, o que está em cima); abater. 
Os antigos pensavam que o diabo vinha de cima e abatia o indivíduo, e o atacava de duas maneiras: Total - quando o jogava ao chão e o sacudia chamada “possessão demoníaca total”. Parcial – quando entrava no indivíduo e ficava promovendo desordens nas ideias, nos atos, nos afetos.
No direito Romano antigo, para designar o endemonhado, os termos usados foram: furioso, e mentecapto.
O energúmeno (do Grego energúmenos, possuído por demônio) era posto de lado, era alienado pelas pessoas e colocado em naus dos loucos, retirados para fora dos muros da cidade, e transportados para terras distantes.
Esse primeiro momento vai até meados do século XVI. A loucura não era, para o homem do passado, uma doença médica, a doutrina que imputava ao demônio. A origem da loucura, entretanto, preponderava, e assim foi por cerca de um mil e quinhentos anos da era cristã.
Quando não embarcavam o louco na nau, procediam ao exorcismo, como forma de expulsar do corpo o anjo decaído, muitos acabaram queimados na fogueira, com a Inquisição. Página sombria da história da Igreja católica
Praticamente toda a idade média ficou mergulhada na escuridão, mágico – mística salvo raras exceções de alguns homens de luzes, cujas vozes, entretanto, à época, fez pouco eco. Entre eles um árabe Unhammad, que no séc. IX desenvolveu uma classificação das doenças mentais, e Issac Judaeus, médico judeu egípcio que descreveu a melancolia como sendo uma doença. 
Talvez o maior dessa época tenha sido Ali- Husayn Ibnsina, conhecido como Avicena, que escreveu um volumoso Princípios de medicina com um capítulo sobre mania e melancolia. Nessa mesma linha esteve o espanhol Moses Bem Maimon, conhecido como Maimônides, que escreveu sobre as doenças da alma.
JOHANN WEYER: é o marco divisório desse embate normalidade versus loucura. Meyer é um holandês que aos 19 anos foi estudar medicina em Paris e lá se tornou médico particular do duque Cléves, que padecia de depressão crônica. O duque tinha muitos parentes que haviam ficado insanos e durante a insanidade manifestaram sintomas iguais aos dos feiticeiros, o que despertou a curiosidade de Meyer. 
Meyer procurou investigar todos os casos de feitiçaria, de maneira cuidadosa e sistemática, destruindo as acusações atribuídas ao feitiço com explicações naturalistas. Este foi o primeiro trabalho sistemático que refutava, categoricamente, a crença que admite serem os demônios a causa das enfermidades mentais. Por doze anos continuou sua pesquisa sobre os abusos que envolveram as identificações de feitiçaria. Sua obra mais conhecida foi “Da ilusão dos demônios”
2º MOMENTO - CASA DE INTERNAMENTO
* O que fazer com o louco? 
Iniciou na renascença, pouco antes nasceu na Igreja Católica, o 1º hospício, que significava hospitalidade, hospedagem, hotel, pensão de alienados mentais criado em 1409, em Valência, na Espanha, pelo frei Juan Gilbert Jofré. Com a aprovação do rei Martin. 
NoEgito em 875 existia um sistema asilar embrionário que deu origem aos modelos europeus.
Ao hospício de Valência seguiu-se o de Saragoza, Sevilha e Toledo. As primeiras grandes manifestações dessa nova mentalidade são dadas por Copérnico, por Kepler e por Galileu que revolucionaram a concepção do mundo natural.
Com a renascença, a loucura veio a ser vista como uma forma relativa a razão. Como resultado prático, só existe a loucura porque existe a razão, e quem não há possui, o louco, precisa ser isolado dos normais. Assim foram fundadas as famosas casas de internamento. 
Esse período, marcado pelo nascimento e proliferação das Casas de Internamento, que dão características ao segundo momento da razão X loucura. O louco passa de endemoninhado para degenerado. Este período durou cerca de 200 anos, quando, paulatinamente a loucura foi se medicalizando, virando entidade médica. 
As grandes doutrinas estavam começando a se fomentar, porém é a obra de PHILIPPE PINEL (1745- 1826) que marcaria decisivamente o fim do segundo momento e o início do 3º momento. 
3ºMOMENTO – PHILIPPE PINEL (libertador)
Pinel introduziu a função médica ao libertar os loucos de suas correntes. Sua formação humanística, voltada para a adequação do homem ao seu meio ambiente, levou-o a concepção de que para ser um bom médico era preciso muito auxiliar o doente a adequar-se à natureza e ao meio social do que intervir com drogas pesadas.
Isolou, no mundo cristão, a doença da pobreza e de todas as outras figuras da miséria – demarcação.
Ao libertar os loucos, Pinel introduziu a compreensão. Para Pinel o paciente hospitalizado era uma pessoa que tinha sido arrancada de seu ambiente natural e, portanto, por melhor que fosse tratado, sempre havia o desconforto. Curiosamente Pinel foi medico de Napoleão Bonaparte.
Década de 1790 - a grande reforma psiquiátrica – considerava os aspectos físicos, mentais e sociais como um todo, na maneira de ver o doente mental – fruto da concepção dos ideólogos.
No brasil: Afrânio Peixoto (1875 – 1936) e Francisco Franco da Rocha (1864 – 1933).
4º MOMENTO – OS PSICOFÁRMACOS
O quarto momento começa com a sistematização da clorpromazina por Charpentier, em 1950, e por sua aplicação nas psicoses. A sistematização desse neuroléptico daria início à era da psicofarmacologia, que irá revolucionar toda a terapêutica até então em vigor.
Os psicofármacos atuais, alguns, como os neurolépticos, já estão na quinta geração, e essa velocidade de multiplicação das drogas de 1950 para cá acompanhou, embora não a par e passo, a velocidade de multiplicação dos fatos extraordinários que se relacionam com a vida do homem ocidental. 
Na parte que diz respeito às drogas, a possibilidade de manipulação dos elementos químicos, as máquinas de modificação, de composição e síntese de substâncias orgânicas e inorgânicas, os aparelhos computadorizados de medição e observação macroscópica e microscópica, são alguns fatores, ou melhor, ferramentas que contribuíram para as drogas chegarem aonde chegaram. 
Porém, os resultados práticos dessas novas sínteses medicamentosas não foram suficientes no sentido de curar a doença mental, uma vez que a essência da droga psiquiátrica não é curativa e sim supressiva. Vale dizer, os fármacos psiquiátricos serenam, mas não curam, são, em verdade, camisas de forças químicas: prendem a Psicopatologia dentro do indivíduo ou prendem o indivíduo dentro de sua Psicopatologia. 
 
SÍNDROMES PSICÓTICAS: ESQUIZOFRENIA
Esquizo = divisão
Frenia = pensamento
Sai da norma, do equilíbrio.
A Esquizofrenia é a desorganização dos processos mentais – divisão da mente.
A Esquizofrenia é caracterizada pela alteração no contato com a realidade.
Estes transtornos psíquicos atingem a área do pensamento, da percepção e das emoções. 
É a psicopatologia de maior comprometimento ao longo da vida.
O histórico conceitual da esquizofrenia data no final do século XIX e da descrição da demência precoce por Emil Kraepelin sobre o conceito atual de esquizofrenia foi Eugen Bleuler. Foram os primeiros a conceituar a Esquizofrenia:
1- Emil Kraepelin (1856-1926)
Não tem alteração afetiva – sempre mesmo tom e emoção aos sentimentos (tristeza, etc.).
A doença evolui e deterioriza.
- Alterações de vontade 
- Embotamento afetivo 
- Alterações da atenção e compreensão
- Associações frouxas
- Alucinações auditivas 
- Sonorização do pensamento
- Vivências de influência
- Evolução deteriorante
2- Eugen Bleuler
Dissociação, ambivalência (amo e odeio) + intenso
- Afrouxamento e dissociação de associações
- Ambivalência afetiva
- Autismo – dissociação ideoafetiva
- Evolução muito heterogênea
SINTOMAS
A esquizofrenia afeta primariamente os processos cognitivos (de conhecimento), sendo que seus efeitos repercutem também no comportamento e nas emoções.
Os sintomas variam de indivíduo para indivíduo, podendo aparecer de forma gradual, insidiosa ou manifestar-se deforma instantânea e explosiva.
A esquizofrenia tem dois tipos de sintomas: os positivos e os negativos.
Sintomas Positivos
• delírios
• alucinações
• distúrbios das associações
• sintomas catatônicos
• agitação
• vivências de influência externa e desconfiança
Sintomas Negativos
• redução das expressões emocionais
• diminuição da produtividade do pensamento e da fala
• retraimento social
• diminuição da objetividade
• sintomas desorganizados
• desorganização do pensamento e do comportamento
• comprometimento da atenção
CAUSAS
• Etiologia 
• Múltiplos fatores 
• Estressores ambientais
• Vulnerabilidade Genética 
• Fatores ambientais, psicológicos, físicos 
A esquizofrenia é uma doença de causa multifatorial
O quadro psicológico, o ambiente, o histórico familiar da doença e de outros transtornos mentais podem desencadeado aparecimento de surtos e quadros psicóticos
Estudos mostram que filhos de indivíduos esquizofrênicos possuem chance de aproximadamente 10% de desenvolver a doença, enquanto na população geral o risco é de aproximadamente 1%.
Não existe uma causa única para o desencadear deste transtorno.
Mais recentemente, tem- se admitido a possibilidade de uso de substâncias psicoativas poderem ser responsáveis pelo desencadeamento de surtos e afloração de quadros psicóticos, embora não possamos afirmar que as substâncias psicoativas causem esquizofrenia.
DIAGNÓSTICO
Não existe uma prova de diagnóstico definitiva para a esquizofrenia. 
Para estabelecer o diagnóstico de esquizofrenia, os sintomas devem durar pelo menos 6 meses e estarem associados à deterioração significativa no trabalho, nos estudos ou no convívio social. 
O médico deverá descartar a possibilidade de os sintomas psicóticos do paciente serem causados por um distúrbio afetivo.
As pessoas com esquizofrenia têm anomalias cerebrais que podem ser vistas na tomografia computadorizada (TC) ou na ressonância magnética (RM).
A evolução ou prognóstico da esquizofrenia é tão variável quanto à própria doença.
A curto prazo (1 ano), o prognóstico da esquizofrenia está intimamente relacionado com o grau de fidelidade com que a pessoa cumpre o plano do tratamento medicamentoso. 
Sem tratamento medicamentoso, 70% a 80% das pessoas que têm um episódio de esquizofrenia terão durante os 12 meses seguintes um novo episódio.
A longo prazo, o prognóstico da esquizofrenia varia. 
De um modo geral, um terço dos casos consegue uma melhora significativa e duradoura, outro terço melhora de certo modo com recaídas intermitentes e incapacidade residual e outro terço experimenta uma incapacidade grave e permanente
Um prognóstico bom: ocorre quando há os seguintes fatores: começo súbito da doença, início na idade adulta, bom nível prévio de capacidade intelectual e subtipo paranoide. 
Os fatores associados a um mau prognóstico: incluem um início em idade precoce, um escasso convívio social e profissional prévio, um histórico familiar de esquizofrenia e o subtipo hebefrênico ou negativo
Prevenção: não existe instruções preventivas para a esquizofrenia. A observaçãodo cotidiano pode formar a suspeita da doença.
Embora a farmacoterapia ainda seja a espinha dorsal de tratamento, ela deve sempre vir embutida em procedimentos de tratamento integrados, que incluem todos os níveis de intervenção.
PROBLEMA DA PRIVACIDADE
O esquizofrênico tem grande necessidade de privacidade e reserva;
Isto provém da sua dificuldade para estabelecer uma identidade individual;
O entrevistador pode ajudar o paciente, dizendo “você ainda não se sente à vontade falando sobre isso; talvez possamos falar mais tarde” – aceitando a dificuldade do paciente – alivia sua ansiedade (sente-se culpado pela sua necessidade de reserva);
Respeitar o ritmo do paciente;
Dificuldade de sentir-se à vontade com o entrevistador;
O esquizofrênico tende a afastar-se da socialização normal;
Promover maior intimidade sem provocar ansiedade excessiva.
EXAME FÍSICO
Proporciona a oportunidade de facilitar o envolvimento emocional;
O paciente tem imagens distorcida de ou desvalorizadas do seu próprio corpo, as quais reluta a discutir;
Pode ajudar o paciente a sentir que o médico importa-se com ele como uma personalidade integrada - interessa pelo corpo do paciente e pelos sentimentos deste a respeito.

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