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Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Execução civil – 2018.1 Professor Gustavo Belucci 1 A D V E R T Ê N C I A Este roteiro é apenas um esboço para o acompanhamento das aulas. Não é material suficiente para fins de estudo completo, que DEVERÁ SEMPRE ser complementado com a bibliografia indicada e com a leitura dos dispositivos legais. O estudo feito aqui pode eventualmente incluir conceitos de outros professores consagrados, pois é elaborado com fins meramente de orientação dos alunos para acompanhamento das aulas, sem finalidade de divulgação ou cópia das respetivas obras. Aula 3 – SUJEITOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO E COMPETÊNCIA. Reconhecer os sujeitos do processo executivo; compreender a competência para processar a demanda executiva; aplicar o instituto da competência na demanda executiva. 1) Elementos da execução: a) Subjetivos: partes (são as pessoas que pedem ou em face das quais se pede a tutela jurisdicional estatal. Na execução forçada, as partes ativas e passivas são chamadas tradicionalmente de exequente e executado, credor e devedor) e órgão judicial (juiz), como sujeitos principais; e escrivão, oficial de justiça, depositários, avaliadores, peritos, entre outros que atuam como verdadeiros auxiliares no desenvolvimento do processo, como sujeitos secundários. A relação jurídico-processual, portanto, é constituída pelos participantes do processo (titulares dos interesses em conflito), neles incluídos, inclusive, o Estado, através da figura do juiz; b) Objetivos: provas do direito líquido, certo e exigível do credor - título executivo e bens do devedor, passíveis de serem executados (processo de execução). É importante mencionar que, em sendo a execução real, o objeto será, necessariamente, patrimonial. No entanto, há a possibilidade da execução ter por objeto uma pessoa, como no caso de entrega de menores ou incapazes. Exemplo de julgado (que abarca diversos temas estudados ao longo do semestre): “PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. ACORDO HOMOLOGADO JUDICIALMENTE. OBRIGAÇÃO DE FAZER. FIXAÇÃO DE MULTA PELO DESCUMPRIMENTO. PEDIDO DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA, PARA EXECUÇÃO DA MULTA. ALEGAÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DO ACORDO. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. ALEGAÇÃO DE INEXIBILIDADE DO TÍTULO EXECUTIVO. NECESSIDADE DE PROVA SOBRE O DESCUMPRIMENTO DO ACORDO. VIOLAÇÃO DOSARTS. 580, 586 e 618 DO CPC Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Execução civil – 2018.1 Professor Gustavo Belucci 2 CONFIGURADA. 1. A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados como violados impede o conhecimento do recurso especial. Súmula 211/STJ. 2. Inadmissível recurso especial para interpretação de cláusula contratual ou reexame do conjunto fático-probatório. Incidência das Súmulas 5 e 7, ambas do STJ. 3. Deficiência de fundamentação do recurso. Incidência da Súmula284/STF. 4. Os embargos declaratórios têm como objetivo sanear eventual obscuridade, contradição ou omissão existentes na decisão recorrida. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o Tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e precisa sobre a questão posta nos autos, assentando-se em fundamentos suficientes para embasar a decisão, como ocorrido na espécie. 5. O título executivo, como condição da ação de execução, deve preencher os requisitos da certeza, liquidez e exigibilidade. Ausente quaisquer deles, há nulidade absoluta. E, como se tratam de matérias cognoscíveis de ofício pelo juiz, podem ser alegadas em sede de exceção de pré-executividade. 6. Reconhecida a violação dos arts. 580, 586 e 618 do CPC pelo acórdão recorrido. 7. Recurso especial provido. (STJ - REsp: 1235785/RJ, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Data de Julgamento: 21/06/2011, T3 - Terceira Turma, Data de Publicação: DJe 30/06/2011)”. 2) Classificação da execução: a) Quanto à origem: Extrajudicial (artigo 824, do NCPC1) e Judicial (artigo 509, do NCPC2): a execução de título extrajudicial tem como característica a sua autonomia procedimental – ex: a execução do cheque se faz de forma autônoma. A judicial, antes de 1994 era feita em outro processo, também autônomo. Após 1994, com a modificação do artigo 461, do CPC/733, as obrigações de fazer e de não fazer perderam a autonomia e seguiram no mesmo processo. Após 2001, com a introdução do artigo 461-A, do CPC/734, o mesmo passou a se aplicar para a obrigação de entrega de coisa, ou seja, nos mesmos autos. Após 2005, com a introdução do artigo 475-J, do CPC/735, o mesmo passou a se aplicar às obrigações de quantia (dinheiro). Este movimento, de manter a execução no 1 Art. 824. A execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de bens do executado, ressalvadas as execuções especiais. 2 Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor: I - por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação; II - pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo. 3 Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. 4 Art. 461-A. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação. 5Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Execução civil – 2018.1 Professor Gustavo Belucci 3 mesmo processo chama-se SINCRETISMO6. Hoje a regra é o sincretismo e não mais a autonomia. Sincretismo significa permitir a inserção no mesmo processo de diferentes atividades, no caso, o conhecimento e a execução (há algumas exceções pontuais, como é o caso da sentença arbitral, sentença estrangeira e sentença penal condenatória, que continuam autônomas). Hoje também se aplica a TEORIA DOS VASOS COMUNICANTES, que afirma que para toda regra omissa da execução judicial, será aplicada a regra da extrajudicial – não é automática, necessita de chancela jurisprudencial; b) Quanto à natureza: comum e especial: a comum é de três ordens: pagamento de quantia, obrigação de fazer e não fazer e entrega de coisa. A especial depende da pessoa que executa/é executada: alimentos, Fazenda Pública e execução fiscal; c) Quanto às formas de execução: duas ordens: a) Sub-rogação: direta. Age no plano da substituição. O Estado, nesta hipótese age diretamente no patrimônio do devedor, sendo que o Oficial de Justiça faz penhora dos bens – ex: busca e apreensão. Aplicam-se para execuções de quantia e de entrega. Característica principal: tipicidade; b) Coerção: indireta. Age no plano da influência (estímulo). O Estado não tem como substituir a vontade do credor, mas estimula o cumprimento da obrigação – ex: prisão do devedor de alimentos, multa, astreinte. Aplicam-se às obrigações de fazer, não fazer e também entrega. Característica principal: atipicidade – poder geral de efetivação do artigo 536, do NCPC7 e; d) Quanto ao título executivo: judicial e extrajudicial – abaixo são explicitadassuas respectivas características. Título executivo judicial x título executivo extrajudicial: título executivo judicial é o produzido pelo poder judiciário, através de decisão transitada em julgado, ou mesmo aquela obtida em sede de tutela provisória. Título executivo extrajudicial é aquele formado por um ato de vontade entre as partes envolvidas na relação jurídica de direito material, ou por apenas uma delas como é o caso da CDA (certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei), sem que o Estado-Juiz atue na sua produção. A distinção entre títulos executivos judiciais e extrajudiciais é relevante, pois no primeiro caso a execução opera-se por cumprimento de sentença, e na segunda hipótese através de processo de execução autônomo. Confira-se cada um deles, na letra da lei: Títulos executivos judiciais Títulos executivos extrajudiciais 6 Mais informações em: http://www.valedomogi.com.br/Download/atts/ncpc/NCPC%20Processo%20Sincr%C3%A9tico%20no%20NCPC. pdf 7 Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Execução civil – 2018.1 Professor Gustavo Belucci 4 Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa; II - a decisão homologatória de autocomposição judicial; III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza; IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal; V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial; VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado; VII - a sentença arbitral; VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça; Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas; IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal; V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução; VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte; VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio; VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas; XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei; XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. 3) Regra de competência na execução de título judicial (artigo 516, do NCPC8): em princípio o juízo competente para cumprimento de sentença é onde ele se formou (competência absoluta). Trata-se de competência funcional, pois em tese o juízo mais aparelhado para a execução é aquele em que a sentença foi proferida. Ocorre que no Novo CPC existem 3 foros concorrentes (que visam proporcionar a facilitação do processamento da execução): a) o local onde foi proferida a sentença; b) onde se encontram os bens sujeitos à expropriação; ou c) o atual domicílio do executado. Ou seja, a 8 Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: I - os tribunais, nas causas de sua competência originária; II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição; III - o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo. Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Execução civil – 2018.1 Professor Gustavo Belucci 5 competência continua absoluta, mas existem três opções ao exequente. Sobre os procedimentos para que a execução se processe em outro domicílio, ou seja, caso o credor opte por requerer a execução em outro juízo que não aquele onde foi proferida a sentença, os autos do processo deverão ser solicitados ao juízo de origem. O requerimento não será apresentado no juízo de origem, mas naquele no qual se deseja que a execução se processe. Verificando que estão presentes os requisitos para que a execução se processe, seja porque os bens do devedor estão ali situados, seja porque é o devedor que está atualmente ali domiciliado, será solicitada a remessa dos autos a tal juízo9. 4) Títulos executivos extrajudiciais: a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível (artigo 783, do NCPC10). Certeza encontra-se presente quando não há controvérsia quanto à sua existência. Tem a finalidade de identificar os legitimados ativos e passivos na execução, precisar a espécie de obrigação (quantia certa, fazer, não fazer, entrega de coisa) assim como determinar sobre qual bem incidirão os atos executivos. Liquidez corresponde à determinabilidade da fixação do quantum debeatur (“quanto se deve” ou “o que se deve”), sendo que o título executivo deve conter elementos que possibilitem sua fixação, mesmo que necessitar ser atualizado por meros cálculos aritméticos. Exigibilidade é a inexistência de impedimento à eficácia atual da obrigação. A prova da exigibilidade dá-se geralmente pelo simples transcurso da data de vencimento ou da inexistência de termo ou condição. Exemplo de julgado: “PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CONTRATO DE CONFISSÃO DE DÍVIDA. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE REJEITADA. PRESENÇA DOS PRESUPOSTOS DE LIQUIDEZ, CERTEZA E EXIGIBILIDADE DO TÍTULO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. SÚMULA Nº 7 DO STJ. NÃO IMPUGNAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 182 DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO CONHECIDO. 1. As instâncias ordináriasconcluíram que o contrato de confissão de dívida apenas ajustou o que foi estipulado pelas partes nos contratos anteriores, havendo vinculação entre os contratos celebrados, a evidenciar a presença da liquidez, certeza e exigibilidade da dívida. A alteração desse entendimento ensejaria o reexame do conjunto fático-probatório, hipótese não admitida pela jurisprudência do STJ à luz da Súmula nº 7. 2. Nas razões 9 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Novo curso de direito processual civil – execução e processo cautelar. 5ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012. 10 Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Execução civil – 2018.1 Professor Gustavo Belucci 6 do agravo regimental, devem ser expressamente impugnados os fundamentos lançados na decisão hostilizada, a teor da Súmula nº 182 do STJ. 3. Agravo regimental não conhecido”. (AgRg no AREsp 641692 RS) 4.2) Regra de competência na execução de título extrajudicial (artigo 781, do NCPC): a execução dos títulos extrajudiciais se dará em PROCESSO AUTÔNOMO, processado perante o juízo competente, seguindo a regra do artigo 781, do NCPC: “I - a execução poderá ser proposta no foro de domicílio do executado, de eleição constante do título ou, ainda, de situação dos bens a ela sujeitos; II - tendo mais de um domicílio, o executado poderá ser demandado no foro de qualquer deles; III - sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a execução poderá ser proposta no lugar onde for encontrado ou no foro de domicílio do exequente; IV - havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução será proposta no foro de qualquer deles, à escolha do exequente; V - a execução poderá ser proposta no foro do lugar em que se praticou o ato ou em que ocorreu o fato que deu origem ao título, mesmo que nele não mais resida o executado”. 5) Legitimidade: As partes na execução são os sujeitos que figuram nos polos ativo e passivo do processo autônomo ou do cumprimento de sentença. A legitimidade poderá ser de duas ordens: ordinária (artigo 17, do NCPC11) e extraordinária (artigo 18, do NCPC12). Na legitimidade ordinária, o credor visa satisfazer interesse próprio. Poderá ser primária, quando o sujeito legitimado a propor o processo de execução ou a dar início ao cumprimento de sentença estiver indicado como credor no próprio título executivo. Neste caso, exige-se a pertinência subjetiva com a relação jurídica obrigacional subjacente e a figuração no título. Exemplos: são credores ou devedores os que estão descritos no título executivo. Será secundária, quando o sujeito que demanda, apesar de fazê-lo em nome próprio e em defesa de interesse próprio, só ganha legitimação para propor execução ou nela prosseguir por um ato ou fato superveniente ao surgimento do título executivo. Nesta hipótese, não basta o título executivo judicial para conferir ao exequente a sua legitimação, sendo que para isto ele deve juntar à execução a prova de que o ato ou fato que lhe dá legitimidade realmente ocorreu. Exemplos: a) sucessor causa mortis (espólio, herdeiros e sucessores) ou Inter vivos (cessão, sub-rogação), b) o lesado individual, nas ações civis públicas para defesa de interesses individuais homogêneos, e c) a vítima de crime, que queira executar civilmente a sentença penal condenatória transitada em julgado, proferida contra o ofensor. Na legitimidade 11 Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade. 12 Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico. Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como assistente litisconsorcial. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Execução civil – 2018.1 Professor Gustavo Belucci 7 extraordinária, o sujeito litigará em nome próprio na defesa de interesse alheio, como é o caso do Ministério Público nas ações civis públicas (no polo ativo). No polo passivo, figuram o fiador judicial (que presta caução) e o responsável tributário. 4.1) Legitimidade ativa (polo ativo da execução/exequente/credor): a) Credor: forma mais comum de legitimidade ativa na execução, tanto para o processo autônomo quanto para o cumprimento de sentença; b) Sucessores, espólio e herdeiros: legitimação ordinária superveniente em virtude de sucessão causa mortis, atribuindo legitimidade ao espólio, herdeiros e sucessores para iniciar a execução ou assumir o polo ativo (sucessão processual) no lugar do falecido. Os requisitos para esta legitimação diferem em relação ao momento em que se dá a sucessão: a) antes de iniciada a execução, basta a demonstração por provas da legitimidade; b) depois de iniciada a execução, deve ser instaurado processo de habilitação incidente, com a consequente suspensão do processo principal. Atenção: em relação à letra “b”, ressalta-se que na onda sincrética que vem dominando o processo civil, somado ao princípio da instrumentalidade das formas, desde que o pretendente a assumir o polo ativo prove suficientemente sua legitimidade, é possível e adequada a dispensa do processo incidental de habilitação, para que seja evitada uma demora contraproducente na execução; c) Ministério Público: sabe-se que a legitimidade do Ministério Público poderá ser ordinária ou extraordinária. A legitimação ordinária ocorre quando o próprio Ministério Público é credor no título constituído, quando defende em nome próprio um interesse próprio (apesar de não ter personalidade jurídica, tem capacidade de ser parte). Trata-se de hipótese rara. A legitimação extraordinária existe quando o Ministério Público ajuíza demanda em nome próprio defendendo interesse de terceiros. Não era o titular do direito material, mas é o legitimado ativo para exigir o cumprimento de sentença. Poderá também fazer parte do título executivo extrajudicial e ter legitimação extraordinária para executá-lo, como ocorre no exemplo de “termo de ajustamento de conduta” (TAC)13. 13 São exemplos práticos de legitimidade do Ministério Público e que decorrem de expressa previsão legal: a) a legitimidade para executar a sentença condenatória proferida em ação civil pública que tenha como objeto direito difuso ou coletivo (Lei 7,347/85, art. 3º); b) para executar a sentença de ação de improbidade administrativa, em situações de enriquecimento ilícito no exercício do mandato, cargo, emprego ou função na administração pública (Lei 8.429/92, art. 17); c) execução da sentença penal condenatória quando for credor pessoa pobre (CPP, art. 68); d) nas ações coletivas para as quais o Ministério Público tem legitimidade ativa, sua legitimidade para executar não depende de sua participação como autor, pois tem dever funcional de executar a sentença na hipótese do outro autor legitimado não o fizer no prazo legal; e) em caso de ação civil pública fundada em direito individual homogêneo com relevância social somente poderá executar a sentença se no prazo de um ano do trânsito em julgado não se habilitarem interessados a executar a sentença individualmente em número compatível com a gravidade do dano (CDC, art. 100: legitimação extraordinária condicionada a evento futuro e incerto, que é o desinteresse de grande parte dos titulares do direito). f) executar sentença proferida em ação popular, caso o autor ou qualquer outro cidadão não o faça em 60 dias da decisão de segundo grau de jurisdição (Lei 4.717/65,art. 16). Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Execução civil – 2018.1 Professor Gustavo Belucci 8 OBS: lembrando que para execução de honorários sucumbenciais, o advogado tem legitimação autônoma – artigos 23 e 24, da Lei nº 8.906/94: “Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor. Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que os estipular são títulos executivos e constituem crédito privilegiado na falência, concordata, concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial”. E também há julgados nesse sentido: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO AUTONOMA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Os honorários advocatícios caracterizarem-se como crédito acessório ao principal, sendo possível ao advogado executá-los tanto em processo autônomo quanto no pólo ativo da própria execução em litisconsórcio com a parte, na forma do previsto nos artigos 23 e 24 e § 1º da Lei n.º 8.906 /94 - Estatuto da OAB. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70063456776, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Beatriz Iser, Julgado em 24/03/2015)”. 4.2) Legitimidade passiva (polo passivo da execução/executado/devedor): a) Herdeiro, espólio ou sucessor: Trata-se de legitimação ordinária superveniente, encontrando paralelo em relação às observações sobre espólio, herdeiros e sucessores comentado em relação ao polo ativo. Salienta-se que quando o espólio ou herdeiros figurarem no polo passivo, deve-se cuidar para que a execução não ultrapasse as forças da herança; b) Novo devedor: trata-se da assunção de dívidas ou cessão de débito, que consiste na transferência da dívida a um novo sujeito que não o devedor originário e exige concordância expressa do credor (artigo 299, do Código Civil – assunção de dívida14), porque a partir do momento em que se modifica o devedor, automaticamente modifica-se o patrimônio que responderá pela dívida; c) Fiador: fiança é uma garantia prestada por terceiro. Pode ser: 1) convencional: decorre do acordo de vontades; 2) legal: decorre de disposição de lei, a exemplo dos artigos 1.400 e 1.445, do Código Civil15, parágrafo único do Código Civil; 3) judicial: determinada pelo juiz, de ofício ou 14 Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa. 15 Art. 1.400. O usufrutuário, antes de assumir o usufruto, inventariará, à sua custa, os bens que receber, determinando o estado em que se acham, e dará caução, fidejussória ou real, se lha exigir o dono, de velar-lhes pela conservação, e entregá-los findo o usufruto. Parágrafo único. Não é obrigado à caução o doador que se reservar o usufruto da coisa doada. Art. 1.445. O devedor não poderá alienar os animais empenhados sem prévio consentimento, por escrito, do credor. Parágrafo único. Quando o devedor pretende alienar o gado empenhado ou, por negligência, ameace prejudicar o credor, poderá este requerer se depositem os animais sob a guarda de terceiro, ou exigir que se lhe pague a dívida de imediato. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Execução civil – 2018.1 Professor Gustavo Belucci 9 a requerimento das partes, funcionando com caução; d) Responsável tributário: Segundo a lei tributária, a responsabilidade pelo crédito tributário pode ser do contribuinte, que é o sujeito que tem relação pessoal e direta com a situação que constitua o fato gerador (artigo 121, parágrafo único, I, do Código Tributário Nacional) e do responsável tributário, que não é o contribuinte mas que tem responsabilidade patrimonial em decorrência de expressa disposição de lei (inciso II16). OBS: É permitida a formação de litisconsórcio ativo, passivo e misto, tanto na execução extrajudicial como no cumprimento de sentença. Esquematicamente, tem-se: POLO ATIVO Legitimação ordinária Primária, originária ou direta. Ex: credor descrito no título executivo. Secundária, superveniente ou independente. Ex: sucessão causa mortis (espólio, herdeiros e sucessores) ou intervivos (cessão, sub- rogação). Legitimação Extraordinária Ministério Público POLO PASSIVO Legitimação ordinária Primária, originária ou direta. Ex: credor descrito no título executivo. Secundária, superveniente ou independente. Ex: sucessão causa mortis (espólio, herdeiros e sucessores) ou intervivos (cessão de débito ou assunção de dívida) Legitimação Extraordinária Ex.: Fiador judicial, responsável tributário. Complemento da aula: 1) Sites: https://www.novocpcbrasileiro.com.br/ - há alguns artigos sobre os temas referentes ao Novo CPC; https://estudosnovocpc.com.br/ - há todo o NCPC comentado; verificar uma série de artigos no site do Professor Didier: http://www.frediedidier.com.br/artigos/ 3) Informativos do STF: http://www.stf.jus.br/portal/informativo/informativoSTF.asp - sempre consultar os Informativos dos Tribunais superiores. São fontes de questões para a OAB e concursos públicos em geral (se possível, cadastre seu e-mail no serviço push – que lhe enviará os informativos). 4) Idem nos Informativos do STJ: http://www.stj.jus.br/sites/STJ/TV/pt_BR/Sob- medida/Advogado/Servi%C3%A7os/Cadastramento/Sistema-PUSH 16 Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se: I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei.
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