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Maria Beatriz Machado UROLOGIA – AULA 07 – INCONTINÊNCIA URINÁRIA 1. NEUROUROLOGIA No sistema nervoso temos o motoneurônio condutor e o motoneurônio efetuador. Quando queremos urinar, essa informação corre pelo motoneurônio condutor (que sai do cérebro) e vai passar por sinapse para o motoneurônio efetuador na altura do centro da micção (nervo S2). 1.1. BEXIGA NEUROGÊNICA FLÁCIDA Ocorre quando temos uma lesão e o motoneurônio efetuador não funciona mais, assim não haverá mais contração da bexiga. Dentro de uma bexiga flácida cabe mais volume do que em uma bexiga normal (normal seria cerca de 400ml e flácida pode caber até 2,5 litros). Na bexiga flácida: A COMPLACÊNCIA (capacidade de distensibilidade, acomodação) é AUMENTADA. A PRESSÃO é BAIXA Porque não contrai. O VOLUME é constantemente ALTO Porque não contrai para esvaziar. Como o volume é sempre alto, essa bexiga estará sempre “transbordando”, e estará sempre pingando e perdendo urina INCONTINÊNCIA PARADOXAL (perda por transbordamento, bexiga vaza de tão cheia que está). O paciente pode ter: Infecção do trato urinário de repetição: Como sempre há acúmulo de urina nessa bexiga, ela vira meio de cultura para bactérias. Cálculos vesicais de repetição: Pode ocorrer devido a estase urinária na bexiga. A longo prazo, esse paciente que sempre tem infecções do trato urinário e cálculos vesicais pode desenvolver insuficiência renal crônica. OBS: Quando a bexiga está muito cheia, o paciente terá piloereção e dor (disrreflexia autonômica) Mesmo que tenha disfunção motora e disfunção sensitiva. 1.1.1. ETIOLOGIA Traumas raquimedulares abaixo de S2 Diabetes mellitus Causa destruição de nervos periféricos. Esclerose amiotrófica Síndrome de Guillan-Barré 1.1.2. TRATAMENTO Como a musculatura da bexiga não contrai mais e não consegue esvaziar a bexiga, é preciso sondar o paciente. Temos dois tipos de sonda: Sonda de demora (Foley): A bexiga tem músculo detrusor, e como esse músculo não está funcionante, ele vai atrofiar. Quando coloca a sonda de demora, a bexiga estará constantemente vazia, e assim a fibra muscular vai atrofiar. Além disso, a sonda permanente causa mais colonização bacteriana e consequente infecção. Sonda de alívio (cateterismo intermitente limpo): Esse tipo de sonda causa menos infecção. Deve passar essa sonda ao menos 4 vezes ao dia ESCOLHE ESSE PARA A BEXIGA NEUROGÊNICA FLÁCIDA. O próprio paciente faz seu cateterismo, e assim fica sendo mais autossuficiente. Tem a vantagem de não ter uma bolsa sendo carregada o tempo todo (como a sonda de demora). Antibioticoprofilaxia: Todo paciente que utiliza sonda precisa tomar antibiótico profilático (hoje utiliza ¼ da dose). PORTANTO: Cateterismo intermitente limpo (CIL) + antibioticoprofilaxia Ambos o resto da vida. OBS: O paciente que não utiliza sonda precisa usar fralda porque fica perdendo urina o tempo todo, e isso é muito desconfortável para o paciente porque a urina é ácida e tem um cheiro forte. Maria Beatriz Machado 1.2. BEXIGA NEUROGÊNICA HIPERATIVA Quando temos um trauma alto, inicialmente teremos algo chamado de CHOQUE MEDULAR. No choque medular, o motoneurônio efetuador para de trabalhar por aproximadamente 6 meses Fica todo esse tempo como se fosse uma bexiga neurogênica flácida, porque o motoneurônio efetuador não contrai. Depois desse período, o centro da micção (S2) assume a estimulação dos motoneurônios efetuadores, porém sem o comando central, e assim os motoneurônios efetuadores voltam a se contrair, mas se contraem desordenadamente, e se contraem demais BEXIGA NEUROGÊNICA HIPERATIVA. A bexiga se torna hipertrófica porque os motoneurônios efetuadores estão se contraindo sempre e demais. Na bexiga neurogênica hiperativa: O VOLUME é BAIXO Porque a bexiga está hipertrófica. A COMPLACÊNCIA é BAIXA Porque a bexiga está hipertrófica. A PRESSÃO é MUITO ALTA Porque contrai demais. Devemos lembrar que esse paciente também vai perder urina, porque essa bexiga já se contrai com poucas quantidades de urina dentro dela A bexiga neurogênica hiperativa estará constantemente VAZIA. O paciente terá: Dor suprapúbica: Porque a bexiga está o tempo todo se contraindo. Urgência miccional: Quando essa bexiga contrai, ela contrai de uma vez, e não da tempo do paciente chegar ao banheiro. Hidronefrose bilateral: Como a pressão dentro dessa bexiga é muito alta, a urina dos rins e ureteres têm dificuldade de chegar até ela, e as vezes até retorna para cima, causando dilatação de ambos os rins Pode causar insuficiência renal rapidamente. 1.2.1. ETIOLOGIA Tumor cerebral Traumas raquimedulares acima de S2 AVEs Doenças do cérebro (Alzheimer, Parkinson) 1.2.2. TRATAMENTO Anticolinérgicos (parassimpatolíticos): Diminuem a contração do músculo detrusor São todos seletivos de receptores muscarínicos. Com o uso desses anticolinérgicos, muitas vezes o paciente consegue segurar a urina e melhora. Se o paciente continuar tendo pressão alta dentro da bexiga, perda de urina ou urgência miccional: Toxina botulínica: Pode acabar causando o efeito contrário, e assim o paciente fica com bexiga neurogênica flácida, então esse paciente terá que fazer cateterismo intermitente limpo e antibioticoprofilaxia. Outro problema é que o efeito da toxina dura apenas 6 meses. Ampliação vesical (cirurgia): Transforma a bexiga hipertrófica em uma flácida, e assim o paciente terá que fazer cateterismo intermitente limpo + antibioticoprofilaxia 2. UROGINECOLOGIA É muito comum ouvir um termo chamado “bexiga caída”, mas o termo correto é PROLAPSO (CISTOCELE). Temos diversos tipos de prolapsos, sendo eles: De bexiga – CISTOCELE De útero – PROLAPSO UTERINO De reto – RETOCELE Quando examinamos o cistocele, podemos classificá-la em graus, sendo eles: Grau I: A bexiga somente abaula dentro da vagina Maria Beatriz Machado Grau II: A bexiga abaula e vem até o introito vaginal Grau III: A bexiga vem para fora da vagina A mesma classificação serve para retocele (porém em relação ao ânus, não vagina) A mesma classificação serve para prolapso uterino (porém em relação ao colo de útero, não vagina e ânus). OBS: As pessoas têm mania de falar que alguém perde urina porque tem a “bexiga caída”, porém isso é incorreto, porque na pessoa com cistocele, quando a bexiga vai para fora, ela comprime a uretra, e assim não perde urina É normal quando corrige a cistocele (erguendo a bexiga), que a pessoa perca urina. Na verdade o que essas mulheres que perdem urina têm é a incontinência urinária de esforço/esfincteriana/genuína 2.1. INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO/ESFINCTERIANA/GENUÍNA Essas mulheres na verdade não possuem deficiência na bexiga, possuem deficiência na uretra (esfincteriano) A deficiência é na musculatura do assoalho pélvico, causando frouxidão no músculo de sustentação da uretra e de toda a pelve. Isso ocorre em pacientes multíparas, ou idosas, ou que fizeram cirurgias pélvicas anteriores (lesou musculatura). Essas pacientes relatam que perdem urina ao dar risada, ao tossir, espirrar, fazer academia (jump), arrastar peso, tendo relação. Podemos classificar essa incontinência urinaria em LEVE, MODERADA ou GRAVE 2.1.1. TRATAMENTO Se for uma incontinência urinária leve: Reabilitação do assoalho pélvico É a fisioterapia do assoalho pélvico para fortalecimento muscular. Se for uma incontinência moderada/grave: Cirurgia de Sling Coloca uma tela de polipropileno com fios de sustentação ao redor da uretra para angulá-la. O problema é que se puxar pouco osfios, a paciente vai continuar perdendo urina, e se puxar demais, ela pode começar a reter urina. 3. COMO SABER QUAL A CAUSA DA PERDA DE URINA? As vezes é difícil saber qual a causa da perda de urina, porque ela pode ser mista, portanto é feito um exame chamado URODINÂMICA (estudo urodinâmico) para verificar. URODINÂMICA: Estudo eletrofisiológico de bexiga Esse exame verifica a contração do músculo detrusor (pressão). Porém devemos lembrar que a pressão dentro da bexiga não é a mesma que a do músculo detrusor, isso porque na bexiga temos também a pressão do abdômen em cima dela. Portanto, na bexiga temos a chamada PRESSÃO VESICAL (força do músculo detrusor contraindo + a pressão do abdômen em cima). Coloca uma sonda vesical com sensor para verificar a pressão do músculo detrusor, e coloca uma sonda retal para verificar a pressão abdominal, depois soma as duas e vê qual a pressão vesical. Quando coloca essas duas sondas e liga no computador, deve encher a bexiga do paciente para ver como ela se comporta, então podemos ter: Pressão alta: bexiga neurogênica hiperativa (muita contração) Pressão baixa: bexiga neurogênica flácida (nada de contração) Pressão normal: incontinência urinária de esforço (contração normal)
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